A vergonha de uma mulher

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A Vergonha de uma Mulher

Vila Nova de Gaia, 2013


Patrícia Marques escreveu o seu primeiro livro em 2011, Plexo de um [Poe-ma], publicado pela CorposEditora. Mais tarde, decidiu escrever: «Sim-Amor – Lágrimas, Sangue e Suor», apoiado pela mesma editora; decidiu porém não publicar o mesmo. Escreve então seu terceiro livro de Poesia:

«A Vergonha de uma Mulher».

Agradeço – te! Se hoje estou aqui, é por ti. Rever-me nessa branquidão interior, que regozijo! Quanto amor, quanta beleza, quanto esplendor proferido da tua boca e do teu coração. Simplesmente permiti-me chegar a uma etapa que segura a beleza do teu olhar, sem demora, num doce sentimento de te ver, sentir e amar. Teu olhar camuflado na paisagem do coração, meu olhar envergonhado perpetuado em Ti! Agradeço a meus pais, irmãos e amigos que permitiram que a escrita deste livro fosse possível!


Um verdadeiro gesto entorna a beleza natura De um poema ligeiro, de um sorriso de paz, De um verde que vai rodopiando por entre A mente de quem sabe o que é a dor, Mas insiste no cultivo assíduo do amor, Na delicadeza, em virtude da luz, Na esperança, no aceno perfeito ao que uns chamam De Bem e outros de satisfação no mundo.

Este espelho não é de terror, é de amor, vida e paz a correrem nos pontos sanguíneos que nos falam redondamente da fragilidade. Um ser tranquilo vem soprar um arraso, e eu pensei só na neve. A brevidade do elogio é o aceno perfeito à minha consciência e à pergunta que me interroga todos os dias. Ficam restos de humanidade. Artigos arrojados no branco, como um circulo de estímulos que me bate à porta e pede: - Uns rabiscos por favor!

Dou por mim a namorar o papel, quando o sopro do espírito da paz assenta. Vejo um livro, outro e outro e pareço procurar qualquer coisa que me direcione à arvore a que quero chegar mas ainda não consegui. Obrigada.


Hoje estou pior; mas detenho a certeza das mesmas coisas, das mesmas palavras, imagens, beijos e situações.

 Detenho as desilusões na massa cinzenta, E na boca trago o sol que alarga meu pensamento Até às mais lindas palavras que gostaria de saber dizer. Revejo-me no espelho do inconsciente E reparo no pouco de mulher que ainda trago em mim: Um pouco de borra no olhar e a meada de um conversar. Busco meu olhar novamente no espelhar Reparo que meu corpo se enternece no espaço Reparo que minhas mãos são o atalho que sustém A água cristalina e a leva até ao rosto iluminado, Admitindo este acordar espontâneo para a figura humana. Vejo-me dançar um arabesco em solo térreo; O sentido de retirada, o posicionamento incerto de meu corpo na imensidão de um mundo-foco.


 Levantem essa flor que vos agarra E entorpece o tato de uma mão fechada Em jeito de um caracol abandonado no verde ainda fresco. Um atirar de sonhos nos rostos de cores, Emancipando a opinião de quem enternece o mundo com as palavras da natureza esquecida, Onde é o sol, o espelho mais genuíno que amanta os Corações. E parece que já nem escrevo; as palavras saem da boca Sem o sentido saborear aquilo que realmente queria escrever. E o que seria? Talvez coisas mais importantes que um simples Esgueirar sobre as novas tecnologias e contar ao papel o que de Melhor e de pior tenho neste meu retrato. Uma história – retrato físico e retrato psicológico, Apreensão do espaço que nos rodeia, atitude conformista, Ou nepotista, ou inconformada por si só. Pensamentos, opiniões e verdades que sondam os mais sérios E confinados modos gestuais da solitude de uns versos Que nem eu nem tu queremos ler. Uma carta a dizer saudade, Um rosto a dizer um beijo E o olhar que ainda solicita à porta Que te deixe entrar sem perturbar o espaço Que te encarece o polo mais bonito Que terei oportunidade de ver.


Que vergonha! Que vergonha! Rabisco ontens de mim e meu esforço É conseguir um momento de situações padrão Das quais já não me devo lembrar. Que vergonha! Uma retirada no adiante Vislumbrando a porta como meio de salvação Aos que colocam seu dedo no ar e não querem senão As qualidades mais incansáveis do sentimento Paz. Que vergonha! O vislumbre dos diálogos mais bonitos E das fontes de alegria contagiantes e um sem querer interromper Aquela felicidade vislumbrada por alguém Que chama a vez, de uma vez em quando. Meus traços já os conheces: o rosto feliz, O cabelo chegado até ao chão e o amanhecer nobre De um corpo que se deita e acorda no mesmo levantar. Coloquei a paixão nobre de algum verso que se justifica E fui por aí entendendo a palestra gratuita desse amor Reverenciado e contemplativo. É o plexo de um ser que soletra meu canto acetinado, E esgueira-se para a frente perguntando: «Mas o que é que tens haver com isso?», ou então «Posso contar-te um segredo?».


Estes versos…que trégua entre mim e o espaço Gostariam de escutar o que de mais limpo existe Em nós? 

As luzes incidem e vestimos as maravilhas De um pó soprado contra o regaço, um futuro de mangas arregaçadas, Um estafar do corpo que pretende promover a consciência e A consistência espiritual. A vida é porto seguro; uma relíquia Destas que Deus vai pintando no painel espelhado no sol, Por entre o brio dos raios e quebras solarengas. Este é o espelho deste tempo. A Auto consciencialização Da experiencia em demandada vai dizendo que a expetativa existe Para a solução se pronunciar o sabor de uma tal conquista. «Que vergonha!» Essa lembrança de querer as coisas na mansidão De um espaço que sem ser meu, é do mundo inteiro, Essa questão maior de quem é quem.


 Recordo-te da complexidade poética, orquídeas florescendo-te dos lábios e um estado doce servindo-me de lição. Por esse Não, vou caminhando vezes sem fim e o meu coração já reclama se espera demais ou se o mundo e a gente vêm ao nosso encontro. Não esmurro a saudade, é o esmalte perfeito de estátuas que pedem para serem erguidas. Ai a verdade. Seja álcool, diálogo, conversa, parece vencer tudo no meu corpo que só retorna a uma nova vitória quando amanhece a cada dia. O café ainda me serve mais um livro aqui outro acolá e o caminho que ao ver os saltos altos, vem dizer a vergonha de uma mulher. Desculpa. Minha redenção fora tua também. Venho por estes versos dizer que o amor Ainda continua por aí, caminhando por entre Os milagres que se completam numa união de caminhares Por entre pétalas de rosas. Por estes versos venho ver-te de olhos abertos, A doçura e o aconchego de uma linguagem física Acerca da poesia e pouco mais.


Faz sentido? Claro que faz. Foi o momento daquela mentira Onde eu chegava de perto para te contemplar E já adivinhavam que eu viria de longe apenas Para saber da tua voz e da tua lonjura interior. Onde estavam os livros afinal? Uma estante de rompante Para me lembrar de uma expetativa ilusória, A de te ver sorrir para sempre, a de te ver falar para sempre, Numa noite em que eu esquecida de mim Te admirava entre os feitos importantes E as pessoas mais bonitas das redondezas. Tudo se fazia simpático. Hoje, revejo a luz daquele momento, em todo o meu rosto. E tantas vezes li debicar, e tantas vezes ouvi meu respirar de orgulho, Por saber e sentir a profundidade de te saber feliz. Entediados pela minha música, Já chegávamos onde devíamos de chegar, Parávamos onde devíamos de parar e nos víamos assim, Um pouco mais pessoas, naquele ar entrecortado pela brisa do mar. As preces também fazem parte da poesia. Tantas vezes me vi na dor de ver a água a cair, Outras vezes me vi na esperança de ver árvores, Folhas, baloiçando e perguntando-me: ‘Quem amas tu? Fragilidade imensa nesse teu rosto fugaz; Quem amas tu? A leveza da conquista da vácua existência, Onde só Deus te soube segurar.’


A essência do espírito me dizia: ‘Acredita no amor que hei sentido, Na felicidade que em meu caminho se há-de pronunciar, Serei mais um no desmazelo deste deixa andar, E tu, tu não sei, mas uma coisa precisas de saber, Já amei, já amei muito, quase até demais, Na guarda de um Portugal País, onde o espírito construtivo E o espírito destrutivo estão intimamente ligados pelos laços De uma vida em comum’. 

Aprendo da tua presença, a fulgurar de um semblante bonito, Onde a água é uma vida e tudo se torna transitório Até chegarmos à conclusão do que um bom treino faz Até ao conhecimento do conteúdo. Desde meus momentos mais impulsivos Passando pelos momentos emotivos, deslumbrativos, Me renuncio a um amor de escuta. Ah que bela a imagem de uma voz de Lisboa Segurando-me o olhar e dizendo-me ao espírito: ‘Não vás por aí. Fala. Diz. Só por hoje. Escuta. Quem sou Eu? Quem és Tu? De onde parte o teu sentimento? De onde parte o teu momento? Não. O descuido não é caminho. Caminho é força. Caminho é caminhar, Onde o conforto do coração se entende e te pergunta:


‘O que esperas? Por quem esperas? Não se atinge a felicidade, Não se finge a felicidade, A felicidade vive-se’. 

Se te sinto comovo-me; E entre o espelho e eu tem de existir a maior sinceridade. Mas deixa-me ser sincera, Se eu parti de todos aqueles momentos, Agradáveis, brilhantes e estrelados Talvez os tenha de viver novamente, Num outro lugar, em outro contexto; Será? Se te sinto comovo-me; E na mesma sinceridade te digo, Que ao perceber onde tinha ficado E o que fez parte do meu entendido, Não achei a possibilidade das situações, Nem a ilação dos sentimentos Que em mim se mantinham como uma negação. E é neste sentido que dirijo minhas preces: ‘Deus, energia superior emanada a todos os homens, Vigor e Esperança de um Amor Completo e positivo, Que a verdade seja a verdade, ou falando como meu amigo Joaquim, que o sim seja o sim e o não seja o não.


Deus Pai, energia, vida, superação, Gratidão! Gratidão! No discernimento do bem e do mal, Da boa conduta, do bom amor, Da boa escolha, do bom sentido. Proteção Divina, Senhor, Meu Deus, Coração Divino, Minha Eterna Gratidão por: «Um pouco mais de luz, Um pouco mais de paz, Um pouco mais de fé, Um pouco mais de Amor».

Sai de ti a Poesia meu Amor, Onde o trabalho transforma a emotividade da ocasião Com a verdade escrita da razão, Do conhecimento escrito, pelas diretrizes da atualidade Que fazes questão de assumir no consumismo e idolatria. Meu bem, Meu Amor, Te esqueço no meu retrato, Onde ainda não me sentia parte de uma doença. Que vergonha! Que vergonha!


Se de um coração o trago é de paz, De outro é de amor, e do outro cumplicidade… E é disto que o coração de luz se vai alimentando – Um tipo de luz que vai sobrevoando os nossos problemas, Como se os isolassem e pluf! – alguém os extinguia num sopro só. E tu! Um relaxar apropriado às nossas consciências deleitadas, O chão capaz de devorar as interpretações mais congénitas Arrancando uma a uma todas as limitações que nos seguram ao apego. Mas isto aqui, meu coração de luz, isto não é limite ou condição imposta, Isto é o bafejo que ninguém notou ou o gesto com que te fiz sobressair Porque tu, ainda que numa banheira de água aquecida, Ainda que no conforto de uma flor de lótus, vais preferindo Rasurar esta medida do tempo com os poetas do ano de 1985. E se eu fecho os olhos vejo-te. E se eu fico em mim e comigo, comovo-me. E se eu te vejo a pensar isto e aquilo de mim, Preciso que pares. Um pouco. Até olhares para mim. Até eu olhar para ti. Ser infinito. Ser Magnífico. Teus olhos são percentagem do céu que um dia vi, E que sem pensar em nada, lhe agradeci toda a imensidão que todos os dias Me faz olhar, e pensar, e adorar. 

Perseverança, atitude, persistência – amor. Perseverança, atitude, persistência – amor. Perseverança, atitude, persistência – amor.


De que falam família? O que temem? É preciso abraçarmo-nos e contemplarmo-nos, É urgente nos perdoarmos e vivermos uma vida comum. O regaço do vosso colo é tão misericordioso, Olhai para dentro, que tendes aí? Sim, no vosso templo interior, Não é só ansiedade, ou pensamentos sobre o futuro próximo, Não é só isso nem é só qualquer coisa, É a preocupação, é a felicidade, é o amor, é a vida Que recorre a vós para vos deliciar num paradigma de longevidade com sentido. Família, segura numa taça de champagne, Porque francês ou não, o estilo de pensamento Conta-se um a um, qual bola de sabão que sendo a mesma, Se supera, superioriza, ora desce, ora se enobrece num espelho, Num espaço, por momentos esquecido, por momentos com presença.  Ultrapasso o espelho, Como quem diz: «Vejo-me, e sem me reconhecer, Sinto-me»; olho mais uma vez, E de acordo com as leis da figuração do rosto humano, Vou percebendo meu olhar, minha boca, minha face Rasurando uma onda motivada de mim, Do meu corpo deleitado em perdoares enigmáticos Que o favor da consciência me fez questão de dizer. Moralidades? A esta hora? No teu corpo? Rapariga, trata de ver a tua vida com olhos de ver, De sentir-te com olhos de ser, e acordar no princípio do tudo.


Ocasião onde sorris, e a terra já te sente Um palpitar sobre um lugar novo. Que sombra do mundo tu vês para Ires à procura das tuas palavras Que arranham toda a natureza da sua origem? Um pouco de amanhecer e em ti Escorre já o nevoeiro frio, Um cheiro térreo aproxima-se E dos teus cabelos saem, simplesmente, Faúlhas do dia de ontem. Que vergonha! Falas com as árvores, E vês-te beijar os pés mais cansados Que algum dia viste caminhar. Mas que valor podes tu dar, Essa tua vaidade inebria-te e deixa-te esquecer Do que ainda careces de aprender. De uma coisa tu sabes, Está no Céu, no entalar das estrelas, No decair do nevoeiro cerrado, No repousar deste frio no teu rosto, A resposta ao teu coração. 


Maravilhas de uma madrugada ensinada, Deus afinal lembrou-se de ti, E tu, o que tens para lhe dar, O que tens para lhe dizer? O que tens para lhe ensinar? Emudeces e esqueces de que te encontras Por entre as suas maravilhas, Sorrisos entoados de um completo E sublime estado de amor. Hã…que vergonha! E quando te pediram um poema, Nada saiu senão gotas, pequeninas gotas De estados de sentir que há muito Havias de querer ver retiradas do coração. Não à inveja, mas amor; Não ao rancor, mas amor… E vais por aí mostrando-te esse papel Que para ti é o perdão de dizeres sim: Eu escrevo! Vai, veste tuas calças que te deixam iludida Nessa tua obesidade apressada em querer desaparecer… Veste essa camisola que não se esquece Por entre as vigas mais leves da vida, Veste esse sentido de paixão, Esse sentido de ilusão que te vai espreitando Para no fim te dizer num abraço: ‘Adeus’.


Quantos abraços perdidos tiveste, Quantos beijos ganhaste e de quantas manias te desfizeste? E amizades? Quanta bondade vais encontrando por esse mundo afora, Para que num instante, algum olhar te buscasse, E uma voz te servisse a primazia da pura essência do Amor! Que vergonha a minha, A vergonha de uma mulher!


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