BR-364 - Pulsando vidas, sonhos e realizações

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Rio Branco – Acre, DOMINGO, 7, e SEGUNDA-FEIRA, 8 de abril de 2013

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Alexandre Carvalho

Pulsando vidas, sonhos e realizações


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“Sou feliz graças a Deus e à estrada” Uma das mais antigas moradoras da BR comemora o fim da fome e o início da fartura na grande rodovia acreana Texto: Romerito Aquino Fotos: Alexandre Carvalho

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ou uma pessoa muito feliz graças a Deus e à estrada. Hoje, essa rodovia está um paraíso”. É o que diz a trabalhadora rural Valdete Alves da Silva, 40 anos, moradora da rodovia BR-364 em Manoel Urbano. “Saí de Rio Branco de manhã e quando deu meio dia eu já estava aqui em Manuel Urbano. Assim fica fácil demais a vida, não é seu menino?” Emenda o vigia Francisco Teixeira Bezerra, 53 anos, ex-seringueiro, morador de Manuel Ubano. Mais adiante, é a vez do agricultor Davi Dodai de Aguiar, 66 anos, do Pólo Agroflorestal de Feijó atestar: “Essa rodovia impulsionou muito as nossas vendas de verdura na cidade, entre outras benfeitorias que trouxe para o nosso povo”. Em Tarauacá, o produtor rural Manuel Gomes, 56 anos, faz questão de destacar: “Ave Maria, essa estrada caiu do céu para melhorar a vida da gente em todos os sentidos!”. Próximo a Cruzeiro do Sul, o piscicultor Antônio da Silva Cruz, 53 anos, da Vila Santa Luzia, assegura: “a ro-

Rodovia vira passeio para o povo dos vales do Envira, Tarauacá e Juruá

dovia melhorou as condições de trabalho tanto de quem mora na cidade, quanto no meio rural”. Esses são apenas alguns dos comentários feitos diariamente pelas pessoas que habitam as cidades e às margens da maior estrada do Acre, a rodovia federal BR-364. Uma estrada que hoje pulsa vidas,

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sonhos e realizações dos acreanos de todas as idades. Durante cinco dias, eu e o fotógrafo Alexandre Carvalho percorremos os 647 quilômetros da BR-364, que separam Rio Branco de Cruzeiro do Sul, para saber como está a rodovia e o que a perenização de seu tráfego, iniciada no primeiro ano do governo Tião

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1- Entrada da cidade de Sena Madureira 2 - Transporte de mercadorias para o Vale do Juruá 3 - Estrada ganha movimento nas vilas e nas cidades acreanas 4- Belas casas começam a ser erguidas às margens da maior estrada do Acre

Viana, está significando para a vida da população dos vales do Envira, Tarauacá e Juruá. Debaixo de sol e muita chuva, percorremos os 145 km que separam Rio Branco de Sena Madureira, os 86 km entre Sena e Manuel Urbano, os 144 km entre Manuel Urbano e Feijó, os 46 km rumo a Tarauacá e os 231 km até Cru-

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zeiro do Sul, a capital do Juruá. O que vimos e registramos, em entrevistas e fotos, foi uma rodovia em bom estado, no geral, e um povo humilde, simples, trabalhador e muito animado com o “progresso” que o tráfego contínuo da maior estrada acreana trouxe para suas vidas nos últimos dois anos e três meses.


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Em nossa viagem de cinco dias, em caminhonete dirigida pelo experiente motorista Zezinho Amorim, pudemos constatar que, mesmo ainda em construção, a rodovia federal BR-364 apresenta bom tráfego na grande maioria de seus trechos. Em apenas alguns poucos trechos, entre Manuel Urbano e Feijó, há problemas localizados de tráfego, provocados por alguns pontos críticos originados das intensas chuvas e temporais que caem diariamente há meses na região. Naqueles pontos, assim como em alguns outros pontos críticos na saída de Tarauacá para Cruzeiro do Sul, equipes do Deracre tratam de repará-los para permitir a continuidade do tráfego até dos carros pequenos. Nada que impeça, no entanto, os motoristas e passageiros de seguirem viagens para chegarem aos seus destinos. Ao longo de nossa viagem, o que vimos foi uma bela rodovia, grande, puljante, rodeada de muito verde dos campos e da floresta e com intensa movimentação em vários trechos. Principalmente os que ficam próximos das cidades, cujas populações foram agraciadas com a construção de bonitas pontes. Edificações que, de tão modernas e belas, já foram transformadas em cartões postais, registrados tanto pelos moradores das cidades quanto pelos que vêm da floresta e dos baixos e altos rios da região. Entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul, cruza-se com todo o tipo de modelo de transporte. Do caminhão ao ônibus de passageiro; do automóvel à ambulância, da motocicleta à bicicleta, do carro de boi ao cavalo. Muitos simplesmente caminham entre as cidades ou entre os vilarejos da região. A pé, montado ou dirigindo, todos fazem da BR-364 a companheira inseparável do seu dia a dia. Nas pequenas vilas entre as cidades, crianças usam locais próximos da rodovia para brincar. O progresso levado pela rodovia da integração pode ser facilmente observado olhando-se as suas margens até Cruzeiro do Sul. Ao longo da estrada, já se observa muitas escolas, postos de saúde, oficinas mecânicas, borracharias, lanchonetes e até postos de combustível, como ocorre

Estrada pujante no meio do verde dos campos e da floresta

Rodovia atende os mais variados tipos de transporte Aumentam os investimentos em boas residências ao longo da estrada

Devagar para contemplar a beleza da floresta

Esporte e lazer ao longo da bela rodovia

Controle de pesos dos grandes veículos para não danificar a estrada

próximo a Manuel Urbano e na Vila Santa Luzia, nos arredores de Cruzeiro do Sul. Às margens da estrada,

observam-se, também, fazendas de gado com belas casas-sede, além de habitações novas, grandes e bem edificadas

em vales cercados de densas florestas ao fundo. Todos procuram pintar, reformar ou ampliar suas casas e ou-

tras edificações para ficarem à altura do progresso que toda rodovia costuma trazer para as regiões isoladas.


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Progresso e mobilidade para o povo dos rios Envira, Tarauacá e Juruá Ao longo da rodovia federal BR364, entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul, o progresso social e econômico das pessoas que moram nas cidades e no meio rural da região pode ser observado tão logo elas começam a contar as suas histórias. É o caso da produtora rural Valdete Alves da Silva, 40 anos, viúva, que mora com dois filhos, de 16 e 17 anos, numa propriedade de 50 hectares, a 17 quilômetros de Manuel Urbano, às margens do rio Purus, ou a 69 quilômetros depois de Sena Madureira, banhada pelo rio Iaco. Nascida no seringal Terra Alta, a um dia e meio de barco de Manuel Urbano, Valdete explica porque hoje sua vida “está um paraíso” com a pavimentação da estrada. “Meu filho, a gente só andava na estrada no máximo durante quatro meses. Depois disso, era lama no meio das pernas. Para chegar a Manuel Urbano, andava mais

de uma hora para percorrer três quilômetros nos lamaçais e viajava mais de duas horas de barco”, lembra a produtora. Hoje, “o paraíso” de Valdete é traduzido por sua boa produção de alimentos, que ela vende e come com os filhos, que em meia hora de ônibus escolar chegam até Manuel Urbano para estudarem. “Antes da reabertura da nossa rodovia, a gente passava muita fome por aqui”, diz a viúva, que hoje dispõe de energia elétrica garantida o dia e a noite toda pelo programa Luz para Todos, que trouxe conforto e saúde mesmo para quem mora no meio da floresta amazônica, como ocorrem com as populações do Envira, Tarauacá e Juruá. Em breve, o Linhão que será construída entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul pelos governos federal e estadual vai garantir a mesma energia que é consumida hoje no Centro-Sul do país.

Em algumas cidades, o tráfego na BR-364 já é intenso

Ônibus escolares fazem o transporte dos alunos da zona rural

Atualmente, Valdete e os filhos produzem arroz, feijão, milho, banana, peixes e animais domésticos, com a propriedade já dispondo de 21 cabeças de gado de corte e 600 pés de seringueiras plantados. Para ampliar seu “paraíso”, a viúva Valdete diz esperar apenas “nova ajuda” do governo para aumentar seu roçado de alimentos e sua produção de peixes. O ex-seringueiro e ex-diarista Francisco Teixeira Bezerra, hoje vigia do acampamento do Deracre em Manuel Urbano, é outro que fala, com alegria, da diferença entre a estrada do passado e a rodovia do presente. “Ficou bom com a rodovia nova por causa da mercadoria, que a gente pode comprar agora mais barato. E também porque a gente pode ir a Rio Branco bem rapidinho”, diz Francisco, nascido no seringal Escondido, 12 horas subindo o majestoso rio Purus. Ele diz que sua alegria aumentou

ainda mais desde que teve sua Rua Valentino Ferreira pavimentada pelo programa Ruas do Povo, também do governo Tião Viana. Quatorze quilômetros antes de chegar a Manuel Urbano, o empresário Raimundo Taumaturgo Sá, mais conhecido como Vanito, também se entusiasma ao falar do progresso que representou para ele e sua família a perenização do tráfego da rodovia. Dono de um pequeno restaurante que comandava na beira do rio Purus, na época da balsa, Vanito hoje já é proprietário de um moderno posto (Equador) de abastecimento de diesel e gasolina e de um bom restaurante às margens da rodovia. Ele diz que fatura mensalmente mais de R$ 90 mil, três vezes mais do que o faturamento de seu negócio anterior. O litro da gasolina é vendido ali a R$ 3,35, apenas dez centavos a mais do que o preço médio cobrado em Rio Branco.

Valdete Silva diz que fome é coisa do passado

Vigia Francisco Bezerra fala da diferença entre a estrada do passado e a rodovia do presente

Vanito fatura hoje três vezes mais com seu posto e seu restaurante


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Mais produção no campo e preços de produtos menores nas cidades

A produção do açaí vem crescendo muito em Feijó

No Pólo Agroflorestal de Feijó, a 3 km da cidade, a empolgação dos produtores rurais com o tráfego contínuo da BR-364 também é grande. Ali, o produtor David Dodai de Aguiar, 66 anos, casado, 10 filhos, nascido no seringal Califórnia, cinco dias de subida no rio Envira, enumera as vantagens que obteve com a pavimentação da estrada. “A rodovia só nos trouxe benefícios. Além de eu e a família podermos trafegar mais rápido para Feijó e outras cidades da região, a rodovia ajudou a aumentar a nossa produção porque também ajudou a ampliar o consumo de alimentos na cidade”, explica Davi Aguiar. Para ampliar sua produção agroflorestal, o agricultor plantou mucuna em parte de sua área de 4,5 hectares. Com isso, pretende enriquecer o solo para ampliar seus atuais plantios de arroz, feijão, mandioca e frutas regionais, como cupuaçu, araçá-boi, biribá, açaí, laranja, limão, banana, goiaba, manga e abacaxi, entre outras. Reflorestando sua área de antiga fazenda também com mulateiros, aguanos e palheiras, Davi Aguiar tem na piscicultura e horticultura o seu maior rendimento. Ele pede que o governo lhe ajude novamente, aumentando o núme-

ro de açudes para criar mais peixes e garantindo o tráfego permanente de seu ramal. Na cidade de Feijó, o açougueiro Raimundo Costa, 34 anos, solteiro, nascido no seringal São Francisco, no rio Paraná do Ouro, também comemora o tráfego perene da BR-364 pelo que ele contribuiu para ampliar o seu negócio e a qualidade de sua vida. “Agora, os fornecedores de Rio Branco vem até aqui ao meu estabelecimento para oferecerem mercadorias mais baratas”, afirma Raimundo, que já montou uma pequena mercearia no açougue. Ele também teve sua Rua Murmuru, na periferia de Feijó, pavimentada pelo programa Ruas do Povo. Com a sua rua e a rodovia pavimentadas, Raimundo diz que hoje pode vender o litro de óleo de cozinha, por exemplo, a R$ 4,00, pois consegue comprá-lo a R$ 3,60 dos fornecedores de Rio Branco que passam na sua porta. “Sem esses benefícios que tenho hoje, o litro de óleo seria vendido aqui por mais de R$ 5,00”, acrescenta o açougueiro, após lembrar que o tráfego perene da BR-364 também possibilitou aumentos bem menores em todas as mercadorias que oferece. Tanto o açougue quanto a mercearia de Raimundo Costa estão sendo ampliados.

O açougueiro Raimundo vende hoje mais barato por causa da estrada

Ônibus transportam passageiros de uma cidade para outra

Caminhonetes, motos e bicicletas usam diariamente a rodovia

Davi Aguiar produz muitas frutas regionais, entre as quais o cupuaçu


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Negócios crescem até seis vezes mais ao longo da rodovia da integração Antes de chegarmos a Tarauacá, mais precisamente a 12 km da cidade, o produtor agroflorestal e ex-seringueiro Manuel Gomes, 56 anos, casado, um filho, nascido no seringal Jaminawa, nas cabeceiras do rio Tarauacá, é outro acreano muito animado com o asfalto da BR-364. Com uma área de quatro hectares, bastante próspera em produção de frutas regionais, animais domésticos, produtos da horticultura e de peixes tirados de dois açudes, além de seis cabeças de gado de leite e de dois cavalos e uma égua, Manuel também é só elogios para a rodovia. “Além da ajuda do governo, que a gente recebe através da Seaprof, essa rodovia só veio melhorar a vida da gente, ajudando a aumentar a nossa produção e nossas vendas porque o povo da cidade está consumindo mais”, diz Manuel, que reflorestou sua área de 4,5 hectares com cedro e aguano. Contando com a ajuda da mulher Francisca das Chagas, que tem vários cursos profissionais, promovidos pela Seaprof, Senar e Sebrae, entre eles os de empreendedorismo, piscicultura, doces, bordados e corte e costura, Manuel Gomes se diz agradecido com o governo, de quem espera mais ajuda para aumentar sua criação de peixes. “Eu estou com 56 anos de idade e, do meu conhecimento, não entrou um governo que nem esse de bom para todos os problemas”, assinala Manuel. A satisfação de Manuel

Manuel Gomes tem boa produção agroflorestal em sua propriedade

com a pavimentação da BR364 é compartilhada pelo comerciante João Lopes da Silva após a cidade de Tarauacá, mais precisamente no km 70 em direção a Cruzeiro do Sul, na vila que está crescendo muito na ponte sobre o rio Gregório, afluente do rio Juruá. Ali é que se pega barco para se chegar às aldeias dos índios Yawanawá. Encontramos, aliás, com o pajé Yawa, 97 anos, que estava se preparando para subir o rio de canoa motorizada em direção à sua aldeia Nova Esperança. “Txai, a estrada melhorou também nossa vida para chegar até a aldeia e para comprar mercadoria mais barata”, diz o pajé. Ex-seringueiro, 46 anos, casado, quatro filhos e nascido em Ipixuna, às margens do rio Juruá, já no vizinho estado do Amazonas, o comerciante João Lopes só tem o que comemorar com a perenização do tráfego da maior rodovia acreana. Afinal, desde 2006, quando montou seu pequeno comércio por ocasião da conclusão da ponte sobre o rio Gregório, seu faturamento pulou de R$ 5 mil para R$ 30 mil mensais. Um aumento de 600%. Conhecido como Ziro, o comerciante diz também que a estrada evitou maiores aumentos nas mercadorias que vende para os moradores da Vila São Vicente e para os seringueiros, ribeirinhos e índios Yawanawá e Katukina da região. Como exemplo, o comerciante cita o açúcar, que baixou 50% no inverno, deixando de custar R$ 5,00 para custar R$ 2,50.

Abastecimento de gás do Juruá já está sendo feito também pela BR

Comunidade da vila da ponte sobre o rio Gregório, em Tarauacá

João Lopes ampliou muito o seu faturamento com a pavimentação da rodovia João Lopes abraça o pajé Yawa (à dir.), do povo indígena Yawanawá


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Povo Katukina em manifestação recente na rodovia federal

Benefícios para seringueiros, ribeirinhos e índios da região Crianças Katukina brincam nos barrancos ao lado da BR-364

Passada a ponte do rio Liberdade, a 70 km de Cruzeiro do Sul, a rodovia federal BR364 apresenta seu trecho com melhor tráfego desde Rio Branco. É nesse trecho que a rodovia, a 60 km de Cruzeiro do Sul, corta as terras dos índios Katukina, que receberam várias medidas mitigadoras e compensatórias para reduzir os impactos que a estrada traria para as suas vidas. As medidas começam com a implantação de dezenas de grandes quebra-molas na rodovia para evitar acidentes com as crianças, jovens, adultos e idosos indígenas. Passamos na rodovia no mesmo dia em que os indígenas haviam fechado, pela segunda vez, a rodovia para protestarem contra a prisão de quatro deles em Cruzeiro do Sul. Passando as aldeias, logo chegamos ao km 600 da rodovia, onde já existe um moderno posto de abastecimento de combustível e onde está situado o ramal asfaltado que leva à Vila Santa Luzia, sede do antigo projeto de assentamento do Incra em Cruzeiro do Sul. Em Santa Luzia, o agricultor Antônio da Silva Cruz, 53 anos, casado, pai de quatro filhos, também elogia os avanços causados pela pavimentação da rodovia, que ali, como nas terras dos Katukina, é moderna, bem sinalizada, não deixando nada a desejar às belas rodovias dos grandes

estados brasileiros. Ex-seringueiro, Antônio, mais conhecido como “Ceará”, foi um dos primeiros a ser assentado na região, onde mora há 32 anos e produz hoje numa área de 33 hectares, além de arroz, feijão, milho e mandioca, peixes em dois açudes e dois tanques, cria animais domésticos, abelhas sem ferrão e ovelhas. Os tanques de criação de matrinchã, curimatã, tambaku, piau e pirarucu foram feitos com a ajuda da Seaprof. O agricultor quer ajuda para adquirir a ração para peixe e precisa aumentar sua área de agricultura com a mecanização. Na cidade de Cruzeiro do Sul, a dona de casa Iraci Braga também se entusiasma em falar tanto de sua rua pavimentada pelo programa Ruas do Povo quanto da bela ponte da BR-364 sobre o rio Juruá, além da perenização do tráfego da estrada. Moradora da Rua Luis Moreira Rocha,

dona Iraci diz que a vida em Cruzeiro do Sul “Tudo melhorou aqui em Cruzeiro do Sul, a começar dos preços dos produtos que consumimos”, relata dona Iraci. Não é para menos. Antes de ligação terrestre definitiva entre os Vales do Acre e do Juruá, o preço de produtos como tomate, batata e cebola chegava a R$ 8,00 o quilo na época das chuvas. Hoje, o quilo do tomate custa R$ 3,00 e o da batata e da cebola menos ainda. Conforme relatou ao jornalista Flaviano Schneider o presidente da Associação Comercial do Alto Juruá, Marcos Venício de Souza, a abertura da BR-364 também democratizou a concorrência no comércio. Antes os pequenos comerciantes eram reféns dos que possuíam balsa, hoje qualquer um tem a liberdade de encomendar mercadoria pela rodovia, o que também dificulta a formação de cartéis, que padronizam os preços.

Escola estadual de ensino fundamental e médio às margens da estrada

Estrada passa no meio da terra dos índios Katukina, em Cruzeiro do Sul

Antônio da Silva cria ovelhas doadas pela Seaprof na Vila Santa Luzia

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Visão do rio Juruá da bela ponte da BR-364 em Cruzeiro do Sul

Tião Viana: “Este é o dia que nós unimos o Acre” Diretor-presidente do Deracre diz que vai empregar “todas as forças” para concluir a pavimentação da BR este ano Construída a partir de 1960 pelo governo Juscelino Kubitschek, a rodovia federal BR-364 no Acre ficou durante décadas fechada, não passando de uma grande obra inacabada e incompleta pelo furor das chuvas do inverno amazônico. A partir de 1999, no primeiro ano do governo Jorge Viana, a rodovia foi retomada, passando a dar tráfego durante os cinco meses do verão abrindo, enfim, os horizontes de esperança das novas gerações dos Vales do Envira, Tarauacá e Juruá. Uma população que sempre sonhou em se integrar aos conterrâneos do Vale do Acre e Purus. Assim a maior estrada do Acre prosseguiu na gestão do ex-governador Binho Marques, quando o sonho da integração definitiva pela rodovia se ampliou ainda mais, com os novos melhoramentos recebidos em seu leito. Veio, então, o atual governo Tião Viana, quando o tráfego da rodovia foi definitivamente perenizado, permitindo aos cruzeirenses, aos tarauacaenses, aos feijoenses e aos demais habitantes dos Vales do Envira, do Tarauacá e do Juruá a concretização do direito à tão sonhada integração acreana. “Este é o dia em que nós unimos o Acre. É um dos momentos mais importantes da história do estado, quando as duas pontas dessa estrada, que integra os municípios, foi unida e, pela primeira vez, após 43 anos, o inverno não vai impedir o tráfego de veículos e as pessoas vão ter a liberdade de ir e vir”, comemorou o governador Tião Viana no dia 28 de outubro de 2011, quando foram imprimados com pixe os últimos 80 metros da rodovia, na região do rio Jurupari, entre Manuel Urbano e Feijó. O trabalho de perenização do tráfego das rodovia BR-364 e da construção das grandes pontes sobre os rios Purus, em Manuel Urbano; Envira, em Feijó; Tarauacá, na cidade de mesmo nome, e a do Juruá, em Cruzeiro do Sul, foi comandado pelo ex-diretor presidente do Deracre

e hoje prefeito de Rio Branco, Marcus Alexandre Médici Aguiar. Ao falar da situação atual da maior estrada acreana, o atual diretor-presidente do Deracre, Ocírodo Júnior, disse à reportagem que tão logo comece o verão, em maio próximo, o órgão entrará com todas as máquinas e homens necessários para recuperar todos os trechos críticos e defeituosos da rodovia. Sobre a possibilidade da pavimentação da rodovia ser inaugurada ainda este ano, Ocírodo Júnior garantiu que “o Deracre lutará com todas as forças possíveis” para concluir em 2013 o asfaltamento da grande estrada acreana. Segundo Júnior, a garra, a determinação e a coragem dos trabalhadores do Deracre, que há anos dedicam sua vida à preservação desta rodovia, debaixo de chuva e de sol, será a mola propulsora da concretização do que será o grande momento da história da integração do Acre. Para gerar emprego e renda nos municípios abrangidos pela BR-364, o governo Tião Viana vem fazendo investimentos em pequenos negócios, ruas do povo, mecanização agrícola, criação de peixe e plantio de açaí, cupuaçu, coco e outras frutas regionais. Em Tarauacá, está construindo uma fábrica de compensados e em Cruzeiro do Sul está finalizando a construção de um frigorífico de processamento de peixes. O governo está investindo na implantação de parques industriais em Sena Madureira, Feijó, Tarauacá e Cruzeiro do Sul. Também está investindo na construção de galpões marceneiros em Sena Madureira, Feijó, Tarauacá. Investe, ainda, nos complexos industriais florestais de Tarauacá e Cruzeiro do Sul; numa unidade de processamento de açaí em Feijó; em um centro industrial de biscoitos em Cruzeiro do Sul; e em um espaço industrial agrícola de grãos e frutas em Tarauacá. Outro investimento importante é a implantação do pólo naval em Cruzeiro.

Equipes do Deracre consertam os pontos críticos da rodovia

Jornalista Romerito Aquino com o pajé Yawa, da terra Yawanawá

Fotógrafo Alexandre Carvalho registrando tudo na BR-364


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