Em Torno da Interioridade Humana

Page 1

MANUEL REIS

Em Torno Da INTERIORIDADE HUMANA Guimarães | Portugal, 2018

1


CADERNOS DE PESQUISA. A

Em Torno Da INTERIORIDADE HUMANA

N.B.: CUNCTA ARTICULATA SUNT CUM OMNIBUS CELEBRANDO A VOZ E A VEZ ESSENCIAIS DA INTERIORIDADE EM FUNÇÃO DA LIBERTAÇÃO/SALVAÇÃO DA ESPÉCIE /DITA) HUMANA E CONCOMITANTE ORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA FELIZ (A VIA SACRA longa da Modernidade → Pós-Modernidade)

2


*

TEXTOS EM EXERGO PARA ENQUADRAMENTO CULTURAL: Tema de fundo incontornável: A ÉTICA, alicerçada na Axiomática da INTERIORIDADE enquanto fonte de toda a Ética/Moral, própria e distintiva do ‘Homo Sapiens//Sapiens’. ‒A‒ No horizonte dos Gnósticos Judeo-Cristãos primevos (da Escola Superior de Alexandria/do Egipto): INTERIORIDADE//EXTERIORIDADE: Na dinâmica dialéctica entre as duas, o primado ontológico é da 1ª sobre a 2ª; o primado noético é da 2ª sobre a 1ª: Para uma boa e holística Definição do HUMANO. ● Teilhard de Chardin: ‘A união não confunde, diferencia’. ● Evangelho de Tomé (v.22: pp.118-119, in ‘A Biblioteca de Nag Hammadí’, Org. James M. Robinson, Madras, São Paulo, 2006): “Jesus disse a eles: ‘quando fizerdes dois de um, e quando fizerdes de dentro como fora e de fora como dentro, e em cima como em baixo, e quando fizerdes o homem e a mulher um único e o mesmo, para que o homem deixe de ser homem e a mulher deixe de ser mulher, e quando adaptardes os olhos ao lugar de um olho, e as mãos ao lugar de uma mão, e os pés ao lugar de um pé, e as semelhanças ao lugar de uma semelhança: então entrareis no reino’ ”. ● Evangelho de Filipe: (A dialéctica entre o Interior e o Exterior tem o primado sobre o Alto e o Baixo, na escala das hierarquias…): “Aqueles que dizem, ‘Há um homem celestial e há um acima dele’, estão equivocados. ‒ Pois é o primeiro desses dois homens celestiais, aquele que é revelado, que eles chamam de ‘aquele que está em baixo’; e aquele que ao oculto pertence e (supostamente seja) aquele que está acima dele. Seria melhor que eles dissessem: ‘O interior e o exterior, e o que está no externo do externo’ ” (Ibi, p.136).

3


‒ “Aqueles que dizem que o Mestre primeiro morreu e, em seguida, ressuscitou, estão equivocados, pois ele ressuscitou primeiro e, depois, morreu. Se alguém alcançar primeiro a ressurreição, ele não morrerá” (ibi, p.131). ‒ “Aqueles que dizem que morrerão primeiro e, então, se elevarão, estão enganados. Se não receberem primeiro a ressurreição, enquanto estão vivos, quando morrerem eles não receberão nada” (ibi, p.138). ‒B‒ No horizonte da Economia Política: CONTRADIÇÕES ESTRUTURAIS, estúpidas e individualmente lucrativas, próprias dos comportamentos tendencialmente assassinos. ● Como deveria ser sabido, ‘Todas as coisas estão, ontologicamente, ligadas ao TODO’. Eis por que a formação cultural das MENTES dos Indivíduos-Pessoas deveria constituir o Empreendimento mais importante e decisivo do Universo Educativo-Cultural dos Seres Humanos. Enquanto Isto não for feito, não haverá soluções/respostas decentes e adequadas para as Contradições Estruturais das Sociedades Humanas. ‒ No horizonte (globalizado) da Alimentação (Cf. v.g., ‘Manière de Voir’, nº 142: Agosto/Setembro de 2015: ‘Ce Que Manger Veut Dire: Agriculture, Hypermarchés, Gastronomie, Malbouffe…’). Os Indivíduos foram desenraizados dos seus milieux originais (anteriores e tradicionais), em nome da procura de emprego, da hipostasiação substantiva das Empresas (médias e grandes); em nome das Multi-transnacionais e do catecismo capitalista do Lucro d’abord. E, segundo a cartilha hegemónica do Objectivo-Objectualismo, os indivíduos humanos foram reduzidos à categoria de Objectos consumidores. O consumismo (materialista), que tudo está tentando uniformizar/homogeneizar, alastrou, como um Dilúvio por todas as regiões e países da Terra. Os antigos ‘Aprendizes de Feiticeiros’ (envoltos em magias religiosas…) foram, tão só, transformados em novos ‘Apprentis Sorciers’ (absorvidos e manipulados pelas ‘Novas Tecnologias’, mas vítimas, como sempre, de Ideologias perversas e totalitárias…). Que outra saída poderemos encontrar, para os chamados ‘Apprentis Sorciers’ da Modernidade?!... Advirta-se no Tema das Montanhas de Detritos e Desperdícios, no grande Sector da Alimentação, nas Sociedades hodiernas. As fontes da Informação são oficiais: procedem da FAO (da O.N.U., portanto). O Tema é ‘Le grand Gâchis’ (ibi, p.8): “ ● Plus de, 1,5 milliard de tonnes de nourriture sont jetées chaque année dans le monde, ce qui représente un tiers de la production alimentaire globale destinée à la consommation humaine. Le volume total de nourriture perdue a été multipliée par deux depuis 1974. Un quart des aliments produits sont jetés sans même avoir été consommés, 4


alors que près de 14% de la population mondiale est sous-alimentée ‒ dont 526 millions de personnes en Asie. Le coût financier direct de ce gâchis planétaire est évalué à 750 milliards de dollars (environ 660 milliards d’euros) par an. “ ● Au sein de l’Union européenne, on compte près de 90 millions de tonnes de déchets alimentaires para an ‒ soit environ 180 kilos de denrées gaspillées par personne. Selon les estimations, ce volume pourrait s’élever à 120 millions de tonnes en 2020. “ ● En France, la quantité de nourriture jetée chaque année dépasse les 7 millions de tonnes (dont un tiers est encore emballé), soit une moyenne de 100 kilos par habitant. Ce gaspillage est principalement le fait des ménages (environ 70%). La distribution, quant à elle, est responsable de la fuite annuelle de plus de 2 millions de tonnes d’aliments”. Ora, perante esta hecatombe de Desperdícios e Não-Utilização de tantos alimentos produzidos, os organismos da O.N.U. e as Sociedades humanas (e seus Governos) não têm, honestamente, o direito de invocar os Movimentos (artificiais…) dos O.G.E. e da Deflorestação de Terrenos (como a Amazónia!...) para os transformar em terras de cultivo; não têm, honestamente, o direito de argumentar que não podem resolver o problema da Fome e da Pobreza no Mundo, uma vez que ‒ dizem… ‒ são os próprios evangelhos canónicos a sentenciar que ‘pobres sempre os tereis convosco… a Mim é que não’!... As elites societárias, os académicos e os governantes continuam, hipócrita e estupidamente, a acreditar ingenuamente nesse lóguion evangélico para se desculparem… Cegos prepotentes e guias de cegos!... A semântica crítica desse lóguion jesuânico tem uma tonalidade irónica e satírica e significa, portanto, o diametralmente oposto à sua semântica corrente/tradicional. Assim, os Mandantes e os Governantes das Sociedades deveriam ter ‒ isso sim ‒ olhos e mentes para alterarem, de fond en comble, o próprio Sistema Capitalista… que, continuam a assumir como incontornável e insubstituível!... ‒ No horizonte do Vinho e da Produção vitivinícola. (cf. ibi, pp.94-96). A agricultura química alterou radicalmente, desde o fim da IIª G.M. (1945), a gramática ‘natural’ da produção dos vinhos, com todas as suas substâncias, cores e aromas. A partir da necessidade (‘económico/financeira’) de reconverter uma boa parte da monstruosa Indústria do Armamento (só os U.S.A. detêm mais de metade de toda a Indústria mundial das Armas e da Metralha da Guerra…), foi o próprio plano Marshall a promover, em cascata, a agricultura química. Cerca de 99% do vinhedo mundial está, hoje, a funcionar segundo este catecismo. Diz Jonathan Nossiter (no seu art. ‘Oú va le Vin va le Monde’, ibi, p.94) : “Beaucoup de ces liquides devraient être sobrement appelés ‘boissons alcoolisées à base de jus de raisin’. Parce que toute saveur dépend de la capacité des racines à pénétrer le sol et le sous-sol, où elles aspirent les nutriments”. Na janela do artigo, o Autor deixou a questionação assim enunciada : “Le vin est-il un produit agricole ou commercial? En Italie, en France ou en Argentina, des vignerons rétifs aux injonctions de l’agro-in5


dustrie ont tranché depuis longtemps : ils produisent du vin naturel, sans additifs, arômes chimiques ni pesticides. En guerre contre l’homogénéisation du goût, ils se battent également contre la transformation des cépages en marques”. A solução ‘tecnológica’ (no vinho e na vinha), era já bem conhecida e experienciada, no Ocidente, a partir dos anos ’60 do séc. XX: o resultado eram os ‘vinhos artificiais’, ‘vinhos zombies’, homogeneizados e sem aromas específicos. Foi desde há ca. de 30 anos que os chamados vinhos naturais ou ecológicos começaram a tomar corpo, numa sorte de Movimento revolucionário que teve os seus inícios a partir da Sicília e da Região de Nápoles e se estendeu depois à Champagne, à Andaluzia, à Mosela (e também em Portugal). O Movimento Ecológico e a Globalização Alternativa só têm que agradecer a todo este Movimento. Em jeito de um vero programa de acção, correctamente balizado, escreveu Jonathan Nossiter (ibi, p.95): “La véritable révolution devient culturelle et politique. Elle commence avec la recherche d’une vraie sincérité dans chaque lieu: sortir de la monoculture, retrouver une biodiversité entre faune, insectes et règne végétal d’essences multiples. La transmission (ou l’acquisition) d’un savoir paysan ne se limite pas à la sauvegarde d’une expérience, de techniques ancestrales, elle vise tout autant à exprimer l’actualité d’un terroir. Connaitre et comprendre l’essence et les origines des fruits de la terre n’interdit pas d’inventer”. Num esquema de fina ironia, o nosso Autor não se esqueceu de evocar um passo de uma entrevista célebre de Pier Paolo Pasolini, sobre ocorrências dos anos ’60 do séc. XX em Itália: “Há quarenta anos, Pier Paolo Pasolini previa, numa conversa na RAI sobre urbanismo fascista, que a nossa ‘sociedade de consumo à outrance, dita democrática’, tornar-se-ia mil vezes mais eficaz no apagamento da liberdade de pensar e de criar do que todo e qualquer governo totalitário. Para ele, a erosão da cultura italiana dos anos ’60 estava, sobretudo, ligada ao desaparecimento dos camponeses e do tecido social campesino” (ibi, p.96). ‒C‒ No horizonte da Organização político-económica dos Estados/Nações: CONTRADIÇÕES ESTRUTURAIS sem solução à vista (dentro do Horizonte tradicional ou revolucionário estereotipado…) ● É sabido (da História política, na Cultura/Civilização do Ocidente) que os Estados/Nações foram criados segundo a gramática do Tratado de Vestefália, em 1648, o qual pôs termo a trinta anos de guerras entre Estados, por causa dos conflitos religiosos. No que à nossa Obra e ao C.E.H.C. (desde 1995) concerne, sempre denunciámos como estruturalmente contraditória a coabitação e a compatibilidade entre o moderno Sistema capitalista e o Regime democrático dos Estados/Nações modernos. 6


Hoje, uma tal axiomática começa a generalizar-se nos ‘catecismos’ da Opinião pública. Se há quem fale na vitória do ‘capitalismo democrático’ (depois da ‘Queda do Muro de Berlim’, em 1989, e do ‘colapso da URSS’, em 1991), protagonizado pelos U.S.A., há quem reconheça, com alguma coerência, que a situação na China continua e prolonga o ‘capitalismo de Estado’. O que muito pouca gente saberá (porque não leram o Livro de John Kenneth Galbraith, ‘O Novo Estado Industrial’ (década ’60 do séc. XX), é que o modelo instaurado pela Revolução de Outubro, de 1917, e depois seguido por outros Estados ditos ‘socialistas’, não passou de ‘capitalismo monopolista de Estado’. Hodiernamente, podemos ler no ‘Expresso’ (de 25.7.2015, 1º Cad., p.35) um artigo, sensato e crítico, de Garcia Leandro, General reformado, a estabelecer e a argumentar a Tese: ‘Como o grande capital engole Vestefália’!... Está cheio de boas razões: o (des)caminho aberto pelo Neoliberalismo capitalista global, durante as últimas três décadas, não tem feito outra coisa senão forjar a Ideologia do Império, sob as máscaras do financeirismo economicista, amesquinhando os Estados/Nações e reduzindo-os à condição de peões de brega. Escreve, acertadamente, Garcia Leandro (ibidem): “A U.E. está sem rumo e os países estão a lutar isoladamente pelos seus interesses, o que é suicidário. O Estado-nação de Vestefália continua nas constituições, apenas como lembrança. É o capital que domina e os países com menos capacidades irão passar a ser apenas protectorados de uma teia de interesses do grande capital internacional, ficando os poderes nacionais numa difícil situação de dependência quase absoluta”. E, logo a seguir, procedendo ao balanço crítico da situação portuguesa: “Tudo isto pode significar que Portugal pode ser uma das primeiras vítimas definitivas deste ataque do capital contra os Estados, se nada em contrário acontecer no âmbito da U.E. e no comportamento dos nossos governos”. Na mesma linha criticista, escreve o economista Prof. da Univ. Cat. de Lovaina, Paul De Grauwe, no seu art. titulado: ‘Depois do ‘Brexit’, outros ‘exits’?’: “Os alertas de que o euro assenta numa construção periclitante foram postos de lado pelos ‘visionários’ europeus. As falhas de concepção são várias”. (Ibi, Cad. Economia, p.26). “Os Governos da zona euro emitem dívida numa moeda, o euro, sobre a qual não têm controlo. Isso torna-os vulneráveis à especulação financeira” (ibidem). E, concluindo o seu artigo, a voz sombria da velha Cassandra (ibidem): “A conclusão que tiro hoje é a mesma que tirei há 20 anos. Se não houver vontade de passar a uma união política, o euro não tem futuro. Portanto, preparemo-nos para o desfazer da zona euro”. Esta avaliação crítica é convergente com a nossa, desde os tempos de Jacques Delors: Não há outra solução (dentro do Quadro da Democracia), a não ser a da Confederação de Estados/Nações, ‒ o que tem de ser concertado segundo uma Gramática 7


Política, onde a tentação do Economicismo neoliberalista esteja radicalmente eliminada. Isso só acontecerá pela Via da Construção do vero e autêntico Socialismo (que ainda não encontrou lugar na Terra, onde continuam a vegetar, como ‘cabeças de Rebanho’ conduzidas por Pastores as Sociedades humanas). Este tem de brotar de Seres Humanos, capazes de se assumirem como Livres e Responsáveis, onde todas as espécies substantivas de Alienação tenham sido dissolvidas. ‒D‒ No horizonte psico-sócio-antropológico: as falhas estruturais na Formação. ● Em termos educativo-culturais e histórico-civilizacionais, a Espécie humana tem andado pelas ruas da amargura… O modelo que triunfou e tem vindo a ser societariamente promovido é o do ‘Homo Sapiens tout court’, onde há, dum lado das trincheiras, as Autoridades e os Poderes Estabelecidos; do outro lado, os súbditos, as massas/multidões das ‘cabeças de rebanho’ ou ‘carne para canhão’. O modelo que, na bio-antropogénese, foi identificado com o paradigma do ‘Homo Sapiens//Sapiens’ (o que é dotado de uma Consciência que sabe que sabe!), ‒ esse modelo tem sido, historicamente, sempre esquecido, obliterado, ignorado. Os políticos e os pregadores ideológico-religiosos atroam os ares com os pregões da ‘Liberdade’… mas eles próprios não sabem o que isso é e implica. As Instituições societárias e o Grande Aparelho implicado ou pressuposto na sua coerência interna, não postulam outra coisa senão a lei do pêndulo do ‘livre arbítrio’!... Paulo, Agostinho, Lutero, Erasmo, Stuart Mill, etc. ‒ todos os grandes Mestres do Ocidente ‒, toda essa Gente, tão celebrada não falou de outra coisa senão do ‘Livre Arbítrio’. Por que aconteceu configurar-se a Vida da Espécie Humana em Sociedades espartilhadas numa tal Grelha tão reles e minguada?!... Na base da Cultura e do Processo civilizatório está o famigerado Dualismo metafísico-ontológico de Platão e de Paulo, com todos os seus efeitos e consequências, ‒ como tem ensinado o C.E.H.C.. São muito raros os intelectuais, dotados da acribia e do engenho crítico, necessários e suficientes, com a energia e a capacidade para denunciarem toda essa Arquitectura ideológica monstruosa. Noam Chomsky é a excepção mais íntegra que nós conhecemos dos seus Livros numerosos e combativos. Um Amigo nosso enviou-nos um e-mail, com a reprodução das 10 estratégias de manipulação mediática, que nós já conhecíamos; subordinada, indevidamente, ao título: ‘Portal Anarquista’!... Trata-se, no mínimo de uma expressão eufemística; a expressão certa é ‘Liberdade Responsável primacial e primordial’. É claro que o título referenciado constitui já uma vacina, imposta pela cartilha do Establishment. Vamos transcrever (para serem lidas com atenção) as 10 estratégias: “1. A estratégia da distracção. O elemento primordial do controlo social é a estratégia da distracção, a qual consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das 8


mudanças decididas pelas elites políticas e económicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundação de contínuas distracções e de informações insignificantes. A estratégia da distracção é igualmente indispensável para impedir que o público se interesse pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. MANTER a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, presa a temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado ocupado; sem nenhum tempo para pensar; de volta à quinta com outros animais (citação do texto ‘Armas silenciosas para guerras tranquilas’). 2. Criar problemas e depois OFERECER soluções. Esse método também é denominado ‘problema-reacção-solução’. Cria-se um problema, uma ‘situação’ prevista para causar certa reacção no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que desejam que sejam aceites. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja quem pede leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: CRIAR uma crise económica para forçar a aceitação, como um mal menor, do retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos. 3. A estratégia da gradualidade. Para fazer com que uma medida inaceitável passe a ser aceite basta aplicá-la gradualmente, a conta-gotas, por anos consecutivos. Dessa maneira, condições sócio-económicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990. Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que teriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez. 4. A estratégia do diferimento. Outra maneira de forçar a aceitação de uma decisão impopular é a de apresentá-la como ‘dolorosa e desnecessária’, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregue imediatamente. Logo, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que ‘tudo irá melhorar amanhã’ e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isso dá mais tempo ao público para acostumar-se à ideia de mudança e aceitá-la com resignação, quando chegue o momento. 5. Dirigir-se ao público como se fossem menores de idade. A maior parte da PUBLICIDADE, dirigida ao grande público utiliza discursos, argumentos, personagens e entoações particularmente infantis, muitas vezes próximos da debilidade mental, como se o espectador fosse uma pessoa menor de idade ou portador de distúrbios mentais. Quanto mais tentem enganar o espectador, mais tendem a adoptar um tom infantilizante. Por quê? ‘Se alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse 12 anos ou menos, em razão de factores de sugestão, então, provavelmente, ela terá uma resposta ou reacção também desprovida de um sentido crítico’ (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranquilas’). 9


6. UTILIZAR o aspecto emocional mais do que a reflexão. Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional e, finalmente, ao sentido crítico dos indivíduos. Por outro lado, a utilização do registo emocional permite ABRIR a porta de acesso ao inconsciente, para implantar ou enxertar ideias, desejos, medos e temores, compulsões ou induzir comportamentos. 7. Manter o público na ignorância e na mediocridade. Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controlo e sua escravidão. ‘A qualidade da educação dada às classes sociais menos favorecidas deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que planeia entre as classes menos favorecidas e as classes mais favorecidas seja e permaneça impossível de alcançar. (Ver ‘Armas silenciosas para guerras tranquilas’). 8. Estimular o público a ser complacente com a mediocridade. Levar o público a crer que é moda o facto de ser estúpido, vulgar e inculto. 9. Reforçar a autoculpabilidade. Fazer as pessoas acreditarem que são culpadas por sua própria desgraça, devido à pouca inteligência, por falta de capacidade ou de esforços. Assim, em vez de revoltar-se contra o sistema económico, o indivíduo auto-desvaloriza-se e culpabiliza-se, o que gera um estado depressivo, cujo um dos efeitos é a inibição de agir. E sem acção, não há revolução! 10. Conhecer os indivíduos melhor do que eles mesmos se conhecem. No transcurso dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência geraram uma brecha crescente entre os conhecimentos do público e os possuídos e utilizados pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o ‘sistema’ tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto no aspecto físico, quanto no psicológico. O sistema conseguiu conhecer melhor o indivíduo comum do que ele a si mesmo. Isso significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controlo maior e um grande poder sobre os indivíduos, maior do que o dos indivíduos sobre si mesmos”. ‒ Uma Quaestio ad hourinem, implicada ou pressuposta em todo este Painel caracterizador e criticista das Sociedades em que sobrevivemos: Como se forjou toda essa cartilha de balizas e princípios norteadores das Sociedades hodiernas? A Resposta nuclear é simples: A partir das Teologias convencionais das Religiões institucionalizadas, onde o axioma primigénio é o da Divindade extrínseca e transcendente ao Universo e criadora do Cosmos; onde, segundo Paulo aos Romanos (13,1), se funda toda a ‘sacralidade’ da ‘Potestas-Dominação d’abord’. ‒E‒

10


No horizonte filosófico-teológico: Os desvios estruturais desde o Novo Testamento paulino. ● Já o dissémos, aqui (e não nos cansaremos de repeti-lo…): o nó-górdio ideológico, de índole filosófico-teológica, que ainda hoje está latente e sobredeterminou (nas suas perversidades e desviações) toda a evolução da Cultura (e da Civilização) do OCIDENTE, no sentido que deu serventia à instauração do paradigma do ‘Homo Sapiens tout court’ e do modelo civilizatório da Cultura do Poder-Dominação d’abord, ao arrepio das Mensagens fundadoras de SÓCRATES e de JESUS, ‒ esse nó-górdio foi constituído pela teoria-doutrina do Dualismo metafísico-ontológico de Platão e Paulo. Esta nova Hermenêutica criticista do N.T. já foi por nós investigada e posta de manifesto no nosso Livro ‘TRAIÇÃO DE S. PAULO’ de 2007 (Edicon, São Paulo; CEHC, Guimarães). Assim, recuando dois milénios até às fontes neo-testamentárias, é imperioso (como têm feito os Livros e Cadernos editados com a chancela do CEHC) e urgente proclamar e asseverar que o próprio Novo Testamento canónico se encontra estigmatizado (à escala de 75%) pela mundividência ideológica do Dr. Fariseu Paulo/Saulo de Tarso e sua escola: essa mundividência ideológica dá pelo nome de Dualismo metafísico-ontológico. Embora desconexos e dispersos, no N.T. canónico, poderão ainda descobrir-se alguns elementos de índole jesuânica, que aí poderão configurar-se à escala de 25%. Todavia, os ensinamentos de enquadramento substantivo, procedentes da vera e autêntica Mensagem Jesuãnica, terão de ser repescados nos Escritos Gnósticos (recorde-se que os gnósticos foram sempre condenados e malsinados, ao longo de dois milénios, pela Doutrina dogmática da Igreja eclesiástica...), ‒ os quais começaram a ser revelados e dados a conhecer, a partir de 1945, na Biblioteca egípcia de Nag Hammadí. A visão ideológica de Paulo é, deveras, paradoxal (numa 1ª apercepção à superfície), e contraditória, quando percepcionada em profundidade. Uma Advertência propedêutica, importante e decisiva: Enquanto não entendermos, criticamente, que a problemática (metafísica) da Teologia se tem de reconverter, toda ela, ao universo, alargado e crítico, da Antropologia do ‘Homo Sapiens//Sapiens’, não estamos em condições de perceber mais nada… que procure romper o odre da sempiterna Cultura do Poder-Dominação d’abord. Eis por que o artigo do Prof. Pe José Tolentino Mendonça, ‘A Fragilidade de Deus’ (in ‘Expresso’/Rev. 25.7.2015, p.90) nos deixa, afinal, encerrados na redoma da Religião, como os judeus a orar diante do Muro das Lamentações. Nas duas janelas, o texto do escrito inscreveu: ‘A Loucura é um traço dos ímpios; a Fragilidade é vista como um Défice, nunca como um Bem ou Virtude’. ‘Só se pode abraçar a Fragilidade humana, no seu todo, quando aceitarmos a fragilidade de Deus’. Em primeiríssimo lugar, teríamos de perguntar: de que Deus se trata?... Do ‘Deus das duas Cidades’ de Aurélio Agostinho, ou do ‘intimior intimo meo’ do mesmo Agostinho (nas suas ‘Confissões’)?!... Sem responder a esta Questão, J.T.M. deixa os seus leitores ou ouvintes no ‘claro/escuro’ tradicional, ao concluir o artigo como segue 11


(ibidem): “Paulo está também a testemunhar um ardente paradoxo, onde o louco e o frágil são, de facto, signos de uma inédita realidade, que relança a revelação de Deus em novos moldes. Nesse sentido, só o discurso religioso, que aprende a acolher o paradoxo da fragilidade de Deus, aprende a abraçar até ao fim a fragilidade humana”. ‒ Ora esse famigerado discurso religioso, na interpretação do Autor, é obviamente o das Religiões institucionalizadas (e, neste caso, o da Igreja católica romana). Por isso mesmo, não saímos do odre da sempiterna Cultura do Poder-Dominação d’abord. Com efeito, Saulo/Paulo imaginou e julgou ter inaugurado o Novo Testamento (em contraste com o A.T.), mediante a sola fides no Cristo/Messias crucificado (convertido, ipso facto, na 2ª Pessoa da Trindade Santa). Mas, ao longo de 20 séculos de Cristianismo, o Reino da Potestas sacra d’abord prosseguiu, em confronto (= em continuação) com o A.T., de tal sorte que a vera Mensagem Jesuânica dissipou-se, por completo, muito especialmente a partir da ‘constantinização’ da Igreja (313:325), em termos de sociologia política. É sempre no horizonte do Dualismo metafísico-ontológico que Paulo funciona: 1Cor.1,25: ‘quia quod stultum est Dei sapientius est hominibus, et quod infirmum est Dei fortius est hominibus’. É sempre o mesmo Saulo, Judeu, a pedir sinais/milagres a Deus, e não um Grego ou Gentio a demandar mais sabedoria (como fizeram os Gnósticos judeo-cristãos primevos). A pauta doutrinária de Paulo está nos versículos anteriores (22-24), que podem explicar a sentença (dualista) paradoxal a que ele chegou: “Nos autem praedicamus Christum crucifixum, Judaeis quidem scandalum, Gentibus autem stultitiam, ipsis autem vocatis Judaeis atque Graecis Christum Dei virtutem et Dei sapientiam”. (Novum Testamentum Graece et Latine, ed. de Aug. Merk, 1951). É sempre o mesmo Saulo/Paulo que, na sua Carta aos Romanos (13,1) estabeleceu o axioma incontornável, que, afinal, não difere substantivamente da Doutrina jahwística sobre o Poder, no Antigo Testamento: ‘Non est potestas nisi a Deo’. A Bíblia de Jerusalem (1955) procede à tradução dos 3 versículos (1Cor.1, 2225) como segue: “Sim, enquanto os Judeus pedem sinais e os Gregos estão em busca de sabedoria, nós, pela nossa parte, pregamos um Cristo crucificado, escândalo para os Judeus e loucura para os Pagãos; mas, para os que foram chamados, Judeus e Gregos, potência de Deus e sabedoria de Deus. Porquanto, o que é loucura de Deus é mais sábio que os homens e o que é fragilidade de Deus é mais forte que os homens”. Admita-se, provisória e estrategicamente, à superfície da letra do texto, que Paulo abriu (na 1ª Cor.) uma Janela para um Testamento Novo, em contraste com o Antigo; mas logo, na mesma Carta (1ª Cor.15,12-19) se encarregou de a deixar bem fechada!... Em resumo, a doutrina que aí avulta é a seguinte: a fé na Ressurreição de Cristo e a vida cristã vera e real implicam que se creia na ressurreição dos mortos, na outra vida… Desta sorte, estão definitivamente hipotecadas todas as hipóteses de uma Transformação revolucionária, in melius, das Sociedades humanas. ‒ Ora, a vera e autêntica Mensagem jesuânica está nos antípodas de toda esta mundividência ideológica. 12


‒F‒ No horizonte de uma Política de Princípios face à Praxis societária corrente ● Hábitos, rotinas, montanhas de burocracias de que estão pejadas as instituições societárias!... Haverá 5% ou 10% de ‘espaço livre’ no roteiro da vida cotidiana do cidadão(ã) comum?!... O CEHC não se tem cansado de denunciar e condenar a religião laica, que dá pelo nome de Objectivo-Objectualismo… Ela é o sucedâneo moderno da páleo-testamentária situação estereotipada, descrita e enquadrada no Exodus (32,1-6): a Idolatria!... Quando os indivíduos, na organização societária, são, prioritária e maioritariamente, agenciados e comandos, ab extra, nas suas actuações e comportamentos, é exactamente uma situação dessas que ocorre, em maior ou menor escala. É isso mesmo que acontece aos indivíduos moldados segundo o catecismo societário da Teoria do Rebanho ‘humano’. Uma parábola, para ilustrar a situação: Uma experimentação de psicologia social, levada a efeito há alguns anos sob a égide da Univ. de Stanford (USA) (in ‘A Teoria das Janelas Quebradas’, difundida pela Web/25/08/2013). 1º momento: “Foram deixadas duas viaturas idênticas, da mesma marca, modelo e até cor, abandonadas na via pública. Uma na Bronx, zona pobre e conflituosa de Nova York e a outra em Palo Alto, uma zona rica e tranquila da Califórnia. Duas viaturas idênticas abandonadas, dois bairros com populações muito diferentes, e uma equipa de especialistas em psicologia social estudando as condutas das pessoas em cada local” (ibi, p.1). “Resultou que a viatura abandonada na Bronx começou a ser vandalizada em poucas horas. Perdeu as rodas, o motor, os espelhos, o rádio, etc.. Levaram tudo o que fosse aproveitável, e aquilo que não puderam levar, destruíram. Contrariamente, a viatura abandonada em Palo Alto manteve-se intacta” (ibidem). 2º momento: “Quando a viatura abandonada na Bronx já estava desfeita e a de Palo Alto estava há uma semana impecável, os pesquisadores partiram um vidro do automóvel de Palo Alto. O resultado foi que se desencadeou o mesmo processo ocorrido na Bronx, e o roubo, a violência e o vandalismo reduziram o veículo ao mesmo estado que o do bairro pobre. Por que é que o vidro partido na viatura abandonada, num bairro supostamente seguro, é capaz de disparar todo um processo delituoso? Evidentemente, não é devido à pobreza, é algo que tem que ver com a psicologia humana e com as relações sociais” (ibidem). Claro, na sua generalidade, os indivíduos são determinados pelas suas circunstâncias, por imagens e padrões sociais procedentes do exterior; é a cópia, mais do que a imitação, que funciona… a suposta consciência (indiv.-pessoal) reflexiva e crítica 13


não conta para nada, na grande maioria das populações. São zombies, cabeças de rebanho. Se não houver um pastor… o rebanho tresmalha-se. No universo interior de cada Indivíduo, não há convicções propriamente ditas; condutas sociais, pacificadas e supostamente respeitadoras dos outros, são, afinal, o resultado de Próteses societárias, forjadas, a um só tempo, pelos Poderes Estabelecidos e pelas Gendarmarias. O padrão da Espécie que assim vemos actuar e comportar-se não passa das balizas do ‘Homo Sapiens tout court’!... Em virtude do tradicional Princípio bíblico/sacrossanto: ‘Omnis Potestas a Deo’, é, de facto, o Poder Estabelecido a ‘fons et origo’ de todas as iniciativas e actividades, a fonte e origem de todo o Movimento societário!... Assim, as Sociedades clássico-tradicionais não foram, substantivamente, alteradas com o supostamente Novo Testamento paulino!.... Tudo continuou substantivamente na mesma… Como diria o Marquês de Lampedusa: ‘É preciso mudar alguma coisa, para que tudo possa permanecer na mesma’!... 3º momento da parábola (cf. ibi, p.2): “Posteriormente, em 1994, Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York, baseado na Teoria das Janelas Partidas e na experiência do metrô, impulsionou uma política de ‘Tolerância Zero’. A estratégia consistia em criar comunidades limpas e ordenadas, não permitindo transgressões à Lei e às normas de convivência urbana. O resultado prático foi uma enorme redução de todos os índices criminais da cidade de Nova York”. A explicação/argumentação sobre a conduta da mudança é como segue (ibidem): “A expressão ‘Tolerância Zero’ soa a uma espécie de solução autoritária e repressiva, mas o seu conceito principal é muito mais a prevenção e promoção de condições sociais de segurança. Não se trata de linchar o delinquente, pois aos abusos de autoridade da polícia deve, também, aplicar-se a tolerância zero. Não é tolerância zero em relação à pessoa que comete o delito, mas tolerância zero em relação ao próprio delito. Trata-se de criar comunidades limpas, ordenadas, respeitosas da lei e dos códigos da convivência social humana. Essa é uma teoria interessante e pode ser comprovada na nossa prática diária, seja no nosso bairro, ou na rua onde vivemos. A tolerância zero colocou Nova York na lista das cidades seguras. Esta teoria pode também explicar o que acontece, aqui, no Brasil, com corrupção, impunidade, amoralidade, criminalidade, vandalismo, etc.”. Eis como se pode ensinar/educar os indivíduos/cidadãos para actuações e comportamentos responsáveis!... Procedamos, agora, à identificação diagnóstica dos elementos que surgem, correntemente, na Estrutura Ternária das Sociedades tradicionais: A) Indivíduos, puros agentes, às ordens de quem manda; B) ‘Law & Order’, impessoal e neutra; C) Autoridade/Poder Estabelecido, fonte de todo o movimento e iniciativa. Se ainda há uma Arquitectura jurídica, destinada a punir as transgressões, a Arquitectura Moral foi totalmente dissolvida. Ora, esta fenomenologia é oriunda, directamente, 14


do Dualismo metafísico-ontológico de Platão e Paulo e do Mecanicismo cartesiano, na prática das ciências. Além (para lá das Fronteiras…) estão os Outros. Aqui, estou Eu mesmo (armado e desconfiado perante os Outros…). A antítese é expressa, incontornavelmente, no Medo e no Terror, sempre possível. A restauração da Nova Ordem propõe-se converter o Medo e o Terror em simpatia, amizade e amor entre os Indivíduos-Cidadãos, assumidos, agora, de parte inteira, enquanto Livres e Responsáveis!... Porquanto, não há vera e genuína Liberdade, sem a concomitante dimensão da Responsabilidade. Assim, se o Universo todo foi humanizado/societarizado, não se vê como nem por quê se tenha de continuar a funcionar no estafado Esquema triádico do Politically & Socially Correct: positivo//neutro//negativo, em termos ético-morais!... Isso mesmo só acontece, assim, porque continuamos a sobreviver no odre da sempiterna Cultura do Poder-Condomínio (como diria Max Weber, ilustrado com a terminologia do CEHC). Aqui mesmo, pode e deve soar o Toque de Alarme, que nos evocará o regresso à mundividência criticista (perdida…) dos Gnósticos judeo-cristãs primevos da Escola (antiga) de Alexandria, no Egipto. As famigeradas Contradições burguesas (envoltas em Esquizofrenias de toda a espécie…) da Modernidade Ocidental estão, ainda, aí, para nos impedirem o acesso e a estrada e a entrada no Universo societário da Liberdade Responsável, primacial e primordial, dos Indivíduos-Pessoas/Cidadãos. Como é mais que sabido (é experimentado, assiduamente…) são frequentes e institucionalizados, na mundividência Burguesa moderna, os confrontos entre os amores contrariados e as convenções societárias, ao ponto de serem contraídos muitos casamentos, contra a vontade de um ou, mesmo, dos dois cônjuges. Não se julgue que essas são ocorrências da Medievalidade feudal… Por exemplo, da Escritora Cristina Carvalho e sua Obra, escreveu Mário de Carvalho: ‘Há momentos em que a prosa se arrebata e a empatia com as personagens irrompe, carregada de sentimento’. (Cf. ‘JL’, 22.7 – 4-8-2015, p.13). Entretanto, disse o mesmo Mário de Carvalho sobre C.C.: ‘A escritora evita explorar o que poderia ser o confronto desesperado entre os amores contrariados e as convenções do mundo burguês’ (ibidem). Se a Espécie evoluiu em Tecnologias, ela está muito longe de ter evoluído, no concernente à sua conformação onto-psico-sociológica. No fundo, em termos gnóseo-epistemológicos, no próprio Mundo moderno das Sociedades ocidentais, está sempre patente e latente a mundividência do Dualismo metafísico-ontológico de Platão e Paulo, a sobredeterminar tanto o Imaginário como a Racionalidade humana e o seu respectivo ‘Sensorium’. A propósito da re-publicação (meio século volvido) do livro de Poemas de Maria Teresa Horta: ‘Minha Senhora de Mim’ (Ed. Gótica, 2015), escreveu, com sensibilidade e aprumo, o crítico literário António Carlos Cortez (ibi, p.12): “Se é verdade que MTH canta o desejo, o sexo em liberdade de sentimentos puros, ou até aventuras que não se prolongam no tempo, não deixemos de, ao reler este livro, ver na sua poesia a 15


interrogação do próprio amor que, tantas vezes enclausurado, só encontra escape, em contornos que não são os seus. Não é poesia de elogio do sexo pelo sexo, mas sim da cumplicidade amorosa, casando a palavra poética, erótica em si mesma, com a palavra empobrecida do corpo da cidade. A antítese o Eu vs. Os Outros, a transformação do medo em amor e uma simbólica (o anel, a rosa, a água) pejada de significados antropológicos que merecem estudo a fazer, eis alguns tópicos de leitura que, nesta edição dos 50 anos da publicação de Minha Senhora de Mim, podem relativizar a mensagem de Maria Teresa Horta em novos leitores”. É bem conhecido o catecismo do funcionamento do Poder Estabelecido nas Sociedades modernas: Dividir para reinar!... É igualmente conhecida a cartilha cartesiana de funcionamento das modernas ciências positivas e experimentais: Dividir a realidade em tantas parcelas necessárias e imprescindíveis, quanto se possa, para proceder à análise específica e detalhada, com interesse estratégico. Os dois princípios amparam-se e apoiam-se reciprocamente, e têm o mesmo objectivo, em termos metodológicos e estratégicos: Manter, in aeternum, a Cultura do Poder-Condomínio, no 1º andar do Universo humano/societário; no rés-do-chão, manter a incontornável Lei da struggle for life e da sobrevivência do mais forte, na órbita da Natureza!... Sem apelo nem agravo: há uma Natureza… e, separada por abismos, uma Sobrenatureza!... Assim tem falado, ao longo de dois milénios, todos os Cristianismos Paulinos tradicionais ou ‘new wave’!...

16


ÍNDICE

CADERNOS DE PESQUISA SOBRE A INTERIORIDADE HUMANA: A)

● CUNCTA ARTICULATA SUNT CUM OMNIBUS ……………………………. p.1

● Textos em exergo para enquadramento cultural ………………………………p.1 ● A ‒ No horizonte dos Gnósticos: INTERIORIDADE//EXTERIORIDADE …p.1 ● B ‒ No horizonte da Economia Política: CONTRADIÇÕES ………………….p.2 ● C ‒ No horizonte da Organ. político-económica dos Estados: CONTRADIÇÕES …………………………………………………………………………p.5 ● D ‒ No horizonte psico-sócio-antropológico: Falhas Estruturais na Formação …………………………………………………………………………….p.6 ● E ‒ No horizonte filosófico-teológico …………………………………………….p.9 ● F ‒ Para uma Política de Princípios …………………………………………….p.111

Manuel Reis: Presidente do C.E.H.C. Lillian Reis: Secretária do C.E.H.C.

Guimarães, 10 de Julho de 2018.

17


18


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.