O "Big Brother" novamente em ascensão?!

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Centro de Estudos do Humanismo Crítico Portugal & América Latina

Grupo de Debates Noética

MANUEL REIS

O ‘BIG BROTHER’ NOVAMENTE EM ASCENSÃO?! OU: DEIXEM, DE VEZ, O ‘BIG BROTHER’ (de G.O.)

* Reflexão Em Torno Das Alterações Climáticas

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* N.B. Não dissémos ‘The New Big Brother’, reutilizando o enunciado de G.O.: porque o de G.O. e o de hoje são da mesma índole, embora sejam, à partida, de natureza diferente. Mas ambos são destilados e configurados pelo mesmo Sistema Capitalista. O de G.O. polarizava-se nas grandes massas/multidões uniformizadas, despersonalizadas, escravizadas. O de hoje refere-se a toda a parafernália técnico-tecnológica, que serviliza/ /escraviza e exerce uma absurda hipervigilância sobre todos os Indivíduos que habitam no Planeta!... Mas, nos dois casos, é sempre o padrão do ‘Homo Sapiens tout court’ que vige e é hegemónico.

G.O. / George Orwell

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Manuel Reis e Lillian Reis

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O ‘BIG BROTHER’ NOVAMENTE EM ASCENSÃO?! OU: DEIXEM, DE VEZ, O ‘BIG BROTHER’ (de G.O.)

NOTAS DE ENQUADRAMENTO ● A Revista norte-americana (internacionalizada) ‘National Geographic’ traz na capa exterior do nº de Fev. de 2018, o título ostentatório: ‘The New BIG BROTHER’. O capítulo que mais se aproxima da semântica original da bem conhecida expressão dá pelo título: ‘They are watching you’ (pp.30 e ss.). Mas a matéria nuclear que justifica o título da Revista é o Fenómeno hodierno da Hiper-Vigilância exercida sobre a Humanidade (Sociedades, Territórios, Indivíduos localizados, por toda essa parafernália de aparelhos e artefactos que giram e sulcam os céus planetários: satélites, estações de comunicação societária, câmaras fotográficas, drones, articulações/redes de telefones e tudo o mais que Vocês queiram imaginar!... Só de pensar nisso, o delírio tremens assaltanos. Até porque, em definitivo, ainda não estamos, sócio-historicamente, num estádio pacífico da Espécie humana, na sua Evolução cultural/civilizacional, constituído pelo padrão do ‘Homo Sapiens//Sapiens’. A fórmula do ‘Big Brother’ foi cunhada por George Orwell (1903-1950) no seu famoso Livro satírico (e profético) ‘Nineteen-eighty four’ (1984), editado em 1949. Desde então, quanta água correu debaixo das pontes, que não eram vigiadas… O que aconteceu foi o aumento deslumbrado e o encarniçamento dos meios e situações e performances artificiais/tecnológicas, até ao paroxismo. O Autor referia-se, principalmente, ao ‘ordenamento’ ditatorial/férreo das Sociedades balizadas e orientadas pelo marxismo-leninismo… Como se, nas chamadas ‘Sociedades Livres’, o ‘Big Brother’ não imperasse e triunfasse. G.O. morreu, antes de J.K. Galbraith, assessor de John Kennedy para a Economia, ter provado e argumentado, em 1962, no seu Livro ‘O Novo Estado 5


Industrial’ que o Socialismo/padrão da U.R.S.S. não era nenhuma alternativa válida ao Sistema Capitalista tradicional. Não passava mesmo da sua outra face: ‘Capitalismo monopolista de Estado’, ao lado do ‘Capitalismo liberal’!!!... Neste rol de enganos, emergiu e transcorreu a chamada ‘Guerra Fria’, que durou até Agosto de 1991. Esta Humanidade de que fazemos parte, tem sido, sócio-historicamente, nas suas tipologias e comportamentos, sempre a mesma… Sempre guiada e orientada sob a bandeira do ‘Homo Sapiens tout court’!... Em todos os países, nações e rincões do Planeta. Estamos ainda, evolutivamente, à espera da emergência surpreendente do novo padrão/paradigma da hominização que dá pelo nome (aprendido nos manuais científicos das ciências e da Arqueologia em especial, de ‘HOMO SAPIENS//SAPIENS’, que se conhece, historicamente, desde há ca. de 70.000 anos, depois do completo desaparecimento do ‘Homo’ de Neanderthal! Eis por que, em tal horizonte histórico, quanto mais nos empenhamos em cumprir a palavra d’ordem da uniformidade (materialista/tecnológica), mais esquecemos e perdemos a bio-diversidade natural e a noção de que, embora iguais por condição de espécie biogenética, somos, culturalmente, todos diferentes uns dos outros em todos os quadrantes e latitudes, em suma, mais continuamos a sobreviver sob o signo do ‘Big Brother Orwelliano’. A civilização (guerreira) tecno-materialista, por que optámos sócio-historicamente, obrigou-nos a esquecer e a pôr de parte todo o mundo do Espírito e da Consciência, tudo, afinal, que estava dentro da Imaginação dos Humanos. Neste horizonte, tudo tem sido concebido e edificado de cima para baixo, não de baixo para cima, como nos havia imposto a gramática da Evolução psico-sócio-antropogenésica. É o mais que vem do menos, ‒ não o contrário: eis a Lex Evolutionis e seu princípio fontal/vital! E, entretanto, em termos funcionais, o Homo Sapiens//Sapiens é composto por 3/10 de Sensibilidade, 3/10 de Racionalidade e 4/10 de Imaginação. Tudo acaba por funcionar segundo a sacrossanta cartilha do Objectivo-Objectualismo, tanto no horizonte das ciências como no horizonte das religiões institucionalizadas. Esta cartilha bastarda e errada foi imposta às Sociedades humanas pelas Divindades uranianas, ficcionadas pelos Chefes das Tribos e pelos Condottieri das Sociedades. Desta sorte, os humanos foram ensinados e domesticados (sobretudo…) no sentido de que todos os Poderes societários procediam de cima para baixo, do céu para a terra: Não era assim que perorava o ‘Traidor’ (de Jesus) Paulo (o fariseu) de Tarso: ‘Non est potestas nisi a Deo’!... Curiosa e tristemente, só a partir dos Tempos Modernos se começou a pensar os Poderes de modo diferente: o 1º que avulta é o jesuíta Francisco Suarez (séc. XVI/XVII) com o seu axioma: ‘omnis potestas a Deo per homines’ ou ‘per populum’ e, depois, os chamados ‘modernos’, entre os quais avulta J.-J. Rousseau (séc. XVIII), que inverteu todo o processus de constituição das sociedades huma-nas, a partir do ‘Bom Selvagem’ e da ideia de Democracia. Não obstante, lemos, ainda hoje (vd. ‘Expresso’ de 23.12.2017) (Revista, p.106), um texto de Pedro Mexia, que nos deixa espantados. Título: ‘Natal Visto da Páscoa’!... Objectivo: Boa parte das cenas de nascimento e adoração de Jesus são muitíssimo ‘humanas’; espantam-nos com a sua naturalidade, fazendo-nos até esquecer o próprio conceito de ‘Incarnação’. Agora, o texto do Autor: “Imagino que essa diferença 6


tenha a ver com as questões da representação do corpo e os seus problemas, gerais (o corpo infante, o corpo morto) ou específicos (o corpo ‘incarnado’, o corpo ressuscitado, o corpo ascensional, o corpo ‘glorioso’). O arco da vida de Jesus compreende um começo e um fim sobrenaturais, a incarnação e a ressurreição, mas esta é mais representável do que aquela, na medida em que tem em si mesma a sua explicação. Quero dizer com isto que boa parte das cenas de nascimento e adoração são muitíssimo ‘humanas’, espantam-nos com a sua naturalidade, fazendo-nos até esquecer o próprio conceito de ‘incarnação’; ao passo que as imagens de Jesus ressuscitado, mesmo aquelas mais ‘naturais’, onde está por exemplo a comer com os discípulos de Emaús, essas afiguram-se-me inconcebíveis, espantosas, imagens que traduzem as palavras de Paulo: ‘(…) se não há ressurreição de mortos, também Cristo não foi ressuscitado. E se Cristo não foi ressuscitado, logo é vã a nossa pregação e também é vã a vossa fé’. [O Autor está a fazer referência fiel aos versículos 14-19 do cap. 15 da 1ª Carta aos Coríntios, onde Paulo argumenta o facto da ressurreição de Cristo por analogia com a fé no ‘facto’ da ressurreição geral dos mortos!...].

● Estas não são, apenas, questões controversas… são, também, falaciosas, do ponto de vista de uma hermenêutica crítica sobre doutrina dogmática das religiões institucionalizadas. Sensivelmente da mesma data, no ‘Expresso’ (Revista, pp.22-23), há um artigo curioso dos jornalistas António Marujo e Tiago Miranda em torno de um texto célebre de Pierre Bühler sobre o tema: ‘Foi o Papa e não Lutero quem provocou a ruptura’ (entre católicos e protestantes). P.B. é prof. emérito de Teologia na Univ. de Zurique e um especialista de renome em estudos luteranos. O encontro com os ditos jornalistas teve lugar em Lisboa, em 2017, na celebração do meio milénio da Reforma Protestante. Como nos ensinara Aristóteles, em tudo há sempre uma vertente passiva e outra activa!... Tudo se passa, a partir do ‘negócio’ das Indulgências, sancionado e divulgado pela Santa Sé. Lutero achou ‒ com razão ‒ todo esse processus indecoroso e afixou na Porta da Catedral de Wittenberg, as célebres 95 Teses, que refutavam a decisão do Papa. Escrevem os jornalistas (ibi), no incipit do art.: “ ‛Para Lutero, a liberdade é, antes de mais, ser libertado, para ser livre’, diz Pierre Bühler. O iniciador da Reforma só queria uma Igreja renovada, mas a excomunhão decretada pelo Papa levou-o a imaginar uma nova Igreja. Nesse sentido, foi a autoridade católica que provocou a ruptura, não os reformadores’ ”. Com toda a razão, insiste e releva o teólogo de Zurique: quem exerceu, no processus, o papel passivo e quem o activo. A questão é, em si mesma, insofismável. Tudo decorreu, activamente, da vontade dogmática e despótica do Papa romano em exercício. De resto, foi justamente por causa do seu vezo autoritário e dogmatista da Igreja (dita) católica de Roma que, no séc. VII, depois do arianismo condenado no Concílio de Éfeso/325, que, historicamente, veio a Maomé a vontade de criar uma nova religião: o Islamismo!... Por outro lado, deve saber-se que nem Paulo, nem Lutero, nem Agostinho, nem o grande Erasmo de Roterdão (sem esquecer os filósofos modernos…) tiveram uma noção 7


justa e acertada da Liberdade (humana) do ‘Homo Sapiens//Sapiens’. Contentaram-se com o simples ‘livre arbítrio’, ou seja, o ‘pêndulo de Foucault’. Ainda no quadro da concepção tradicionalista, os dois jornalistas limitaram-se a escrever (ibi, p.22): “Para Lutero, a liberdade é, antes de mais, ser libertado, para ser livre. É a palavra que vem libertar, sabendo que Deus me aceita e me reconhece tal como sou e que é isso que me torna livre. Não é uma qualidade já adquirida, é algo que se deve receber sempre de novo. A Liberdade, como Lutero a concebe, é uma grande confiança em Deus: mesmo quando o mundo vai mal e se há muitas crises, há um Deus que toma tudo isso nas suas mãos. Nesse sentido, ele combateu a ideia de um medo do fim do mundo. Esta confiança, apesar das ameaças, significa que vale a pena viver ainda hoje e fazer o seu trabalho. Creio que é muito forte em Lutero a ideia de que o medo nos paralisa, enquanto a confiança nos mantém em movimento e no esforço de ajudar”. O teólogo suíço, no entanto, conhece muito bem as dificuldades reais, ao firmar em conclusão: “É a primeira vez que temos um centenário da Reforma celebrado em conjunto. Mas, em ambos os lados, há movimentos integristas, que vivem ainda na oposição entre católicos e protestantes” (ibi, p.23). ‒ “As obras são uma consequência da fé, e não uma condição da fé”, tentou esclarecer o teólogo de Zurique… Mas esta mesma posição acaba por ser gorada, perante a afirmação peremptória do Apóstolo Tiago (‘the Brother of Jesus’), na sua Carta: 2,17: ‘fides sine operibus mortua est in semetipsa’!... Tiago era de uma honestidade e rectidão a toda a prova. Era ebionita, o chefe/ /leader dos ebionitas, i.e., os que adoptavam uma conduta de vida sistemicamente vegetariana, justamente por respeito à Vida sensível. Se conhecermos bem a mentali-dade e a índole de Aurélio Agostinho, bispo de Hipona, no confronto com o seu contemporâneo e adversário, monge inglês Pelágio, Tiago encontra-se muito mais próximo do segundo que do primeiro. E se tivermos em conta o Dilema encalacrante de Jean-Paul Sartre: ‘ou Deus ou a Liberdade’, ele escolheria, por certo, a segunda opção, porque não apreciava o ícone ‘pêndulo de relógio’. Jesus também não: ‘Ai de vós fari-seus, hipócritas’!... (Cf. Mc. cap.2; Lc. cap. 5; Mt. cap. 15). Nesta, como em tantas outras querelas, bíblicas ou não, convém não esquecer um rol de princípios hermenêuticos e estratégicos que, simultaneamente, nos aproximam da verdade e da justiça e nos dão conta da marcha ou Evolução da Humanidade e suas sociedades. É o que, por outras palavras, podemos chamar, a principiologia da Acumulação criticista, no concernente tanto aos Conhecimentos como às práticas, os hábitos adquiridos mediante a gramática dos costumes. Por que acontecem todas aquelas querelas ou controvérsias estruturais, que as histórias, (nos seus compêndios), registam, tão abundantemente?!... Por causa da gramática estrutural/estruturante do que, nós, no C.E.H.C. temos chamado DUALISMO METAFÍSICO-ONTOLÓGICO de PLATÃO E PAULO.

● Duas Revoluções decisivas foram completamente malogradas e atraiçoadas, na História do Ocidente e do Mundo, ao longo de dois milénios e meio: a Revolução socrática (da formação dos conceitos em diálogo, da emergência da Linguagem e da Praxis Dialógica, por forma a fundar a Verdade em ambiente de Paz e não de conflito e 8


guerra); e a Revolução jesuânica (da conformação social da Justiça, mediante o bom senso e o correcto esclarecimento de todos; eliminando toda a sorte de imposição dogmatica, autoritária, imperialista). Esta foi a quint’essência de toda a nossa 1ª mensagem no CEHC, designadamente no livro ‘SÓCRATES E JESUS’ (2001) (edição da EDICON, São Paulo, Brasil); e ‘TRAIÇÃO DE SÃO PAULO’ (2007) (edição da Edicon, em São Paulo, Br., e, no mesmo ano, edição em Portugal, pela Editora Ideal). Estas duas Obras constituem os dois pilares do C.E.H.C., e retomam, positivamente, sempre de acordo com balizas científico-críticas, o Socratismo (desde logo, na sua base filosófica) e o Jesuanismo (no que tange a questionação das Religiões Institucionalizadas). No concernente à Revolução socrática, o processo sócio-histórico-político é de um conhecimento mais universal e elementar. No atinente à Revolução Jesuânica, a problemática é muito mais densa e complexa, e, até ao presente, não tem sido suficientemente conhecida, muito menos em termos criticistas. É que se trata, afinal, de duas Revoluções gémeas, ‒ que é imperioso reconhecer como duas Revoluções geminadas. Quanto à segunda, há que reconhecer que se trata de um Processo sócio-histórico, baseado numa Estrutura semanticamente oposta à semântica própria do chamado ‘Suicida virtuoso’ (expressão adoptada, pela 1ª vez, pelo padre/filósofo-poeta inglês do séc. XVII, John Donne). Daqui mesmo, poderíamos induzir que Jeoshua foi, na verdade, um ‘suicida virtuoso’, capaz de, voluntariamente sacrificar a própria vida, no sentido de refundar a nova Humanidade segundo o vero e autêntico estatuto da Espécie do Homo Sapiens//Sapiens. Até no que toca este dado elementar de base, a Mensagem revolucionária de Jesus, do Jesus histórico, foi completamente atraiçoada. Como começou a ser soterrado e atraiçoado o Jesuanismo, até se transformar, através de Saulo/Paulo no N.T., na jóia cristã da coroa do Imperador Constantino-oGrande, a partir do ano 213 da era cristã, logo a seguir ao Edicto de Milão de 212. O antigo Mitraísmo persa do antigo Império Romano fora retirado da sua sédia gestatória e deu lugar ao Cristianismo paulino. Nos andores dos Poderes estabelecidos, o que agora se admirava e respeitava era o Cristianismo de Paulo. É aqui de anotar que foi o próprio Constantino Imperador (ainda não baptizado…) que presidiu, ao lado de Atanásio, bispo de Alexandria, ao Concílio de Éfeso (325: 1º Conc. Ecuménico), para, entre outras teses/dogmas, condenar, sem ambiguidades, a heresia do arianismo, que era, afinal, o modo corrente de pensar dos Gnósticos judeo-cristãos primevos. Que foi avultando, entretanto, sem consequências revolucionárias?!... A vida difícil dos cristãos das catacumbas, os mártires que se deixaram fazer em nome da ‘imitatio Christi crucifixi’. A submissão e o enfeudamento aos Poderes soberanos do Império Romano começaram a tomar corpo como facto consumado. Ao longo de 10 séculos, até ao início das Cruzadas, que vieram logo a seguir, os chamados ‘Padres da Igreja’ (que constituíam a norma da doutrina), submeteram-se, todos, doutrinalmente, ao Dualismo metafísicoontológico de Platão e de Paulo, ‒ aprendido, de resto, nas posições doutrinárias de Paulo e do Novo Testamento. É caso para dizer e concluir que a palavra Novo (associada a Testamento) perdeu toda a sua semântica e sentido… A própria linguagem e a práxis eram do Antigo Testamento!...

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● Depois da Teoria da Separação dos dois Mundos (o temporal/material dos Governos e o espiritual/eterno das Igrejas e Religiões), operada no séc. XVII por Thomas Hobbes, no seu célebre Leviathan (vd. ed. de 1946), as nossas mundividências (ocidentais…) foram definitivamente alteradas. Acabaram por vingar e imperar, absolutamente, três axiomas incontornáveis: A) Na origem, a psico-social Doutrina do Dualismo metafísico-ontológico de Platão e Paulo e das religiões em geral; B) a Doutrina do Monismo Epistemológico de natureza objectual e materialista/mecanicista: o Universo é uma Grande Engenharia, onde tudo ocorre e acontece segundo princípios e regras infalíveis; C) o axioma invicto do que o C.E.H.C. tem chamado a gramática do Objectivo-Objectualismo: tudo é visto e considerado sub specie objectivo-objectual; não há, nem pode haver outro ponto de vista diferente, outra espécie de abordagem, (por ex. para as ‘res spirituales’!...). É em suma, o horizonte geométrico do Mecanicismo cartesiano, para tudo e mais umas botas. É, deveras, sintomático que a Psicologia experimental, que emergiu no último quartel do séc. XIX tenha sido logo instalada nos laboratórios da Fisiologia dos seres vivos (Física fisiológica). A Divindade extrínseca e transcendente, criadora do Universo, que pairava soberana no imaginário dos ocidentais, formatados pelo Cristianismo de Paulo, ‒ tudo isso, nos tempos hodiernos, por satélites, estações espaciais, toda a sorte de aparelhagem tecnológica, que exerce uma supervigilância sobre todas as criaturas, a começar pelos ‘rebanhos’ humanos, ditos eufemisticamente, também, ‘sociedades humanas’. Não é exagero chamar a toda esta ‘Geringonza’ o Retorno orwelliano do Big Brother (sob outras espécies ou formas novas, porque a expressão de G.O. procurava sobretudo atingir a emergência desse falso Socialismo, carreado pelo Bolchevismo, na revolução de Outubro de 1917, no que veio a designar-se por U.R.S.S.. ‘In our surveillance society, satellites, cameras, and phones are tracking us more than we ever imagined’ (motto expresso na capa do nº de Fev. de 2018, da revista norte-americana ‘National Geographic’. Aquilo com que hoje deparamos nos céus não é o ‘Socialismo leninista/estaliniano’. É, outrossim, o resultado de dois factores conjugados: A) O universo novo dos Aparelhos, mega-aparelhos técnico-tecnológicos, que, além de passarem por ‘fazer as coisas por nós’, cumprem a sagrada missão de nos hiper-vigiar, em ponto miúdo… E tudo isso é operacionalizado sem que a maior parte, os maiores sectores das ‘sociedades humanas’ tenham consciência disso, ‒ o que, de resto, acontece segundo o princípio sacrossanto dessa religião laica que é o OBJECTIVO-OBJECTUALISMO. B) Os indivíduos humanos, nestas condições, não passam de simples ‘macacos de imitação’, ‒ o que, de resto, eles têm sido sempre, enquanto formatados dentro dos moldes da Espécie do ‘Homo Sapiens tout court’ (como nós lhe chamamos no CEHC, para o separar e distinguir do ‘Homo Sapiens//Sapiens’). A Biogénese, na espécie ‘Anthropos’, trouxe-nos, 1º, o ‘Homem de Neanderthal’ (há ca. de 170.000 anos…); e, 2º, o ‘Homem de Cro-Magnon’, que é o padrão de toda a actual Espécie humana (desde há ca. de 60.000 anos, visto que a 1ª versão se havia extinto completamente). Os Humanos da espécie biogenésica, que restaram desde então (após uma curta ‘convivência’ de 10.000 ou 20.000 anos) são todos, os ‘Sapiens//Sapiens’ (‘sabem que sabem’; têm uma consciência assumida de si… não carecem de ser mandados por outros 10


agentes superiores). Resulta de tudo isto que a emergência do ‘Homem de Neanderthal’ foi uma experiência evolucionária frustrada. Ora, o que nós vemos, hoje, no Planeta da ‘Espécie humana’ é todo um trend tecnológico artificial, onde a 2ª versão humana da Evolução (psico-sócio-antropológica) está a deixar, definitivamente, de cumprir o seu estatuto próprio e específico, para se volver a specimena com as características dos seus falecidos ancestrais. Um sintoma só: não continuam eles a praticar rituais religiosos e a adorar/cultuar divindades?!... Não continuam eles a actuar, dividdos em senhores e escravos?!... No plano do Vulgo e da Vulgaridade foi-se instalando (depois da II G.M.) uma certa confusão/aproximação entre a Inteligência Natural e a chamada ‘Inteligência Artificial’ associada aos computadores e aos Aparelhos da Robótica e da Cibernética. A partir do seu étimo no Grego clássico (kybenētikē: arte de governar os humanos…), a Cibernética enquanto ciência e técnica, trata dos sistemas, cujos mecanismos funcionam dentro de esquemas automatizados, seja nas máquinas, seja nos próprios organismos vivos. As diferenças, porém, entre a I. Natural e a ‘I. Artificial’ são de abismos. Quem melhor pôs essas diferenças a nú foi o sábio Isaac Azimov, ao estabelecer as suas famosas três leis, que vamos referenciar de memória: a) por sua própria norma, os robôs ou computadores (quando estão aptos a funcionar normalmente) obedecem incondicionalmente às ordens ou actos dos agentes humanos; b) eles não podem prejudicar ou substituir os seres humanos; c) ordens, que eventualmente são impossíveis de cumprir, os robôs ou computadores não as executam. O que a Cibernética (e a Robótica) pode apresentar de mais negativo, em termos humanísticos, é que a sua hegemonia é exercida sobre esse mar vasto da Informação. A Formação, propriamente dita, passa-lhe ao lado… e percebe-se bem: tutor, preceptor, mestre ou professor, a Educação, enquanto fenómeno completo e global requer sempre um partner, um educador!... Como quer que seja, I. Azimov, com as suas célebres três leis, ajudou-nos a esclarecer, sans ambages, as distinções nítidas entre o que se chama ‘Homo Sapiens tout court’, e ‘Homo Sapiens//Sapiens’. Por tudo isso, Sócrates e Jesus ‒ enquanto paradigmas supremos do ‘Homo Sapiens//Sapiens’ ‒, não devem morrer nem ser esquecidos!!!

● A Fundação Calouste Gulbenkian (‘a maior instituição filantrópica nacional’) decidiu, por unanimidade, negociar e vender a sua empresa petrolífera. Coerência perfeita com os ‘Sinais dos Tempos’ ‒ diz-nos a presidente da Instituição Isabel Mota. (Cf. art. de Viriato Soromenho-Marques, sob o título ‘F.C. G. A Coragem de Mudar’, in ‘JL’, 14-27 de Fev. de 2018, pp.27-28). O texto de V.S.-M. é sumamente inteligente e marcante, até em termos de ciência da Economia Política. Por isso, decidimos transcrever um excepto. “Outra afirmação que cai com um simples sopro, é a ideia surpreendente para uma mente economicamente sagaz, de que, ao contrário da volatilidade do mercado financeiro, o negócio do petróleo seria uma reserva de estabilidade. Todos sabem como as bolsas de valores podem cair súbita e brutalmente, mas na actual economia de mercado não existem postos de abrigo ou santuários acima de quaisquer riscos, como o com11


provam a baixa bruta, brutal, dos preços do barril de crude, desde 2014, e todos os sofrimentos de países altamente dependentes desse preço, como é o caso de Angola. “A tonalidade dominante com que a mudança operada pela FCG foi noticiada em alguma da nossa imprensa económica, levantando as eventuais dificuldades legais e até alegados conflitos latentes entre a família Gulbenkian e a administração da Fundação, foi caracterizada por diferentes matizes de cepticismo. As razões dessa atitude talvez sejam mais profundas do que se poderia pensar. Na verdade, elas têm mais relação com o espírito do que com a letra das análises económicas concretas. Por analogia, recordei-me de uma ideia interessante, proposta em 1789, por Friedrich Schiller, numa aula inaugural sobre as razões do estudo da história universal. Nessa lição, Schiller estabeleceu uma oposição radical entre duas atitudes perante as ciências: de um lado, aqueles que procuram estabelecer conexões entre os vários domínios de conhecimento, sempre cientes da imperfeição das nossas representações do mundo, e por isso sempre insatisfeitos com o estado actual das coisas, sempre críticos em relação ao valor das teo-rias e da validade dos conceitos, estando dispostos ao trabalho do seu permanente re-exame e aperfeiçoamento. Do outro lado, aparecem aqueles que Schiller considera estarem sobretudo preocupados em garantir a autonomia epistémica e profissional da sua área de investigação, em vez de procurarem deslindar a complexa ligação entre os saberes, única forma de o pensamento humano se aproximar melhor da realidade objectiva. “Infelizmente, esta segunda atitude tem sido hegemónica na interpretação económica da decisão da FCG. Numa economia de mercado, em que o Estado e a sua regulação praticamente desapareceram, ou apenas aparecem para apagar os incêndios da indisciplina dos mercados (como demonstra a triste saga da Zona Euro), são os actores privados, onde se destacam as fundações, que têm sido capazes, através de decisões transformadoras e arriscadas como aquela que a Gulbenkian está agora a protagonizar, de romper com a inércia das regras estabelecidas, abrindo o caminho para a aposta na experimentação e na inovação. Mas para perceber que só a coragem de mudar permitirá sair da presente situação da rota abissal em que a globalização se encontra embarcada, será necessário perceber, como escreveu Robert Heilbroner em 1953, que a autêntica ciência económica é uma verdadeira ‘filosofia do mundo’, e não um mesquinho exercício de contabilidade”, em que o Neoliberalismo capitalista a converteu. [O itálico é meu]. Amigo de Goethe, Friedrich Schiller foi um grande Poeta e Historiador, que, tal como nós, sempre travou o bom combate contra toda a sorte de tiranias sociais, em que tão facilmente se deixam enredar os Regimes (ditos) democráticos. Na sua já longa odisseia histórica, a Humanidade e as Sociedades ditas humanas têm prosseguido sem rumo nem norte, presas e vítimas da Srª do Engano!... Como já é sabido, chamaram Socialismo ‘marxista’ ao regime implantado na U.R.S.S., pela Revolução bolchevique de Outubro de 1917. Como ensinou J.K. Galbraith, tal solução não passou de Capitalismo monopolista de Estado, i.e., a outra face da mesma medalha, que tinha lugar no que, em contraponto, era chamado ‘mundo livre’!... Agora (desde 1991 ‒ colapso da U.R.S.S.) o chamado ‘mundo livre’ ergueu a bandeira do Neoliberalismo capitalista!... Sempre o capitalista e o seu Egoísmo indivi12


dualista como motor e pano de fundo. Sempre e tão-só o ‘Homo Sapiens tout court’, sob o pálio das suas divindades protectoras!... De uma vez por todas, as teorias liberais/istas não assumem outro programa senão o da ‘liberdade de iniciativa’ egocêntrica e egoísta. Os interesses e os programas verdadeiramente comuns e de toda a larga Society, ‒ isso não lhes diz respeito. Como todos, em tal Society, os capitalistas funcionam segundo a lei do pêndulo e de acordo com a cartilha do ‘Homo Sapiens tout court’. Estão do lado dos Poderes e das Autoridades… não do lado dos Trabalhadores, que pensam e actuam e são chamados para fazer tudo o que é preciso. Marx tinha todas as razões estratégias em dividir e identificar as duas classes sociais, contrapostas uma à outra: capitalistas//trabalhadores. O que hodiernamente pretendem levar a cabo os neoliberalistas é a completa e acabada dissolução das duas classes sociais. Tendo, agora, ainda de seu lado, a robótica e a cibernética, toda a sorte de Aparelhos tecnológicos, que ‒ presumem eles ‒ substituem, com vantagem, a marxiana ‘força-de-trabalho’. E opiniões diferentes e, até, opostas não são respeitadas. Tudo prossegue, sócio-historicamente, como se o Progresso Tecnológico fora a suprema Divindade que tem de ser respeitada e obedecida por todos.

● Nos 5 séculos da Modernidade (ocidental… e protagonista do Processo Mundial), as chamadas Revoluções Sociais têm sido (quase) todas malogradas, dissolvidas, combatidas. Toda a Fé e toda a Confiança foram postas nas revoluções tecnológicas (as 5 que já estão em actividade e outras, que lhes seguirão!... A natureza humana… essa pouco ou nada evoluiu!... Não se alterou, em nada de substantivo, o estatuto e o catecismo do ‘Homo Sapiens tout court’. Duas perguntas ad hominem: A) Por que razão todas as revoluções sociais têm abortado, por norma e princípio?!... B) Por que razão todas as revoluções tecnológicas, uma vez postas em marcha, têm sobrevivido e triunfado?!... Porque, a bem dizer, a própria natureza humana e os padrões dos comportamentos sociais e étnicos pouco ou nada têm evoluído. Estas são as grandes Lições da História da Humanidade e das Sociedades humanas. Esta falha gravíssima é o resultado de uma Hegemonia absoluta, em que, de resto, ninguém pensará nisso: é aquilo que nós chamamos, no C.E.H.C., a Potestas-Dominação d’abord. Ora, como toda a gente é formatada nesta Cultura, o resultado é sempre o mesmo. Há os que mandam e os que se habituaram a obedecer e a respeitar as normas e as regras. Vendo bem, são infinitas as hierarquias societárias!... Vejamos, agora, mais de perto, como se articulam os dois tipos (principais) de revoluções. São o que nós chamamos as Lições subjacentes da História. ‒ 1ª Lição: Na resposta ao Enigma/Crux da História, ter-se-á de concluir que as revoluções tecnológicas vingam e levam a melhor, porque, em regra, as Revoluções Sociais fracassam. ‒ 2ª Lição (encadeada com a 1ª): A solução aristotélica da Técnica e das Tecnologias, enquanto meio e processus da Emancipação/Libertação dos indivíduos humanos, (que constitui, como tal, o único processo efectivo), regra geral aborta ou não chega a institucionalizar-se… 13


‒ 3ª Lição: Neste contexto histórico dado, temos de pressupor e concluir que os Indivíduos e a Humanidade, em geral, não chegaram a sair do seu molde originário, que é a sua Religião, constituída na base de uma Divindade transcendente e extrínseca, criadora do Universo. Em tal horizonte, os indivíduos vêem a domesticação e a utilização instrumental dos dados ou meios da Natureza como agentes taumaturgos/taumatúrgicos!. ‒ 4ª Lição: Prossegue impávido e sereno, com toda a sua carga dogmática o que, no C.E.H.C., chamamos o Dualismo metafísico-ontológico de Platão e Paulo. ‒ 5ª Lição: Continua, eternamente, o que nós designamos por Cultura do PoderDominação d’abord. Este universo mental é constituído por uma sorte de Fita de Moebius: esse é o seu enigma, a chave que dá a volta inteira e o deixa fechado: De Platão passa (aparentemente…) para Aristóteles; e, realmente, passa logo de Aristóteles (mundo real!...) para Platão, porque o seu habitat está no hiperurâneo platónico!...

●GLOBALIZAÇÃO. Questionar, hodiernamente, todo esse Processus Mundial, a que, com muita euforia, petulância e muita ignorância pelo meio, se tem dado o nome errado e fraudulento, de GLOBALIZAÇÃO, constitui, hoje, uma temática absoluta e indeclinável. A Grande Fraude começa logo nos contextos e no motor de orientação: o Neoliberalismo capitalista global!... Essa é a bandeira que guia a Procissão dos ‘senhores dos Paços’ reais!... O próprio Liberalismo, não passou, na Modernidade ocidental, de uma farsa e um embuste bem armadilhados. Uma 2ª Questão-princeps é esta: Que fazer com os Estados e seus Governos?!... Será mesmo que estão a passar de moda?... Uma 3ª Quaestio/Princeps consistirá em saber: se cada Indivíduo-Pessoa/ /Cidadão cresce ou não em Dignidade e Autonomia; em Liberdade Responsável, atirando borda fora a ‘lei do pêndulo’ do livre arbítrio. Esta é mesmo a Questão crucial da Espécie humana, qua tal. A quarta Questão há-de consistir em saber, se o Processo actual de Globalização vai trazer consigo, ou não, alguma Revolução social, de que os Cidadãos e as próprias Nações tanto carecem. Todas elas são Questões difíceis; mas há que enfrentá-las e resolvê-las sem delongas. Convirá lembrar, sempre, em qualquer situação, que informar não é formar: são, necessariamente, fenómenos distintos. Isto mesmo já era ensinado pela 1ª Cibernética. Que nos leva e empurra ao avanço, indisciplinado, desta ‘revolução tecnológica’, dita de Informação e Comunicação?! A) O aumento crescente e exponencial de toda a sorte de tecnologias, umas adequadas, outras, menos, e outras desadequadas e até prejudiciais… B) O aumento exponencial das tecnologias é ainda promovido pela constante necessidade de segurança dos indivíduos e das instituições societárias, porque há falta recíproca de confiança e respeito e os indivíduos sentem-se cada vez mais ameaçados!... A própria luta societária ‒ ocorrida ainda no séc. XX ‒ (antes do boom tecnológico) ‒, entre as duas vias sociais em confronto (dum lado, o Capitalismo liberalista, do 14


outro lado o chamado ‘Socialismo de Estado’, tinha o seu enquadramento reconhecido e uma cartilha protocolar de regras, que a balizavam. Hoje sabemos, entretanto, (desde a década de ’60 do séc. XX), com J.K. Galbraith, que o malfadado ‘Socialismo’ bolchevista não passava de um embuste e nunca poderia constituir alternativa ao malsinado Sistema Capitalista, visto que, afinal, era a outra face da mesma medalha ou rosto da Economia política. Em toda esta querela, como se deixaram enganar os próprios criadores do chamado ‘socialismo científico’ (K. Marx e F. Engels, eles mesmos!...). ‘O Homem Novo’, que se esperava, não emergiu; e não restou outra realidade, a Leste (!...) senão o que J.K. Galbraith chamou, com acerto e propriedade, ‘Capitalismo monopolista de Estado!... Como tudo, neste Mundo, se articula, scientibus/inscientibus’, o que historicamente veio a seguir foi o Neoliberalismo capitalista, uma vez que o Estado (sendo ele o Grande Vilão no ‘Socialismo bolchevista’) era para destroçar e atirar para o ferro velho. Só que, do outro lado do Mundo, também existia Estado e Governance. E, a partir de 1991 (com o colapso da U.R.S.S.), os Estados começaram a sentir a necessidade de se juntarem e unirem, engrinaldando-se com um Projecto, ‒ o da Globalização económico-financeira, com o intuito, na Vulgata corrente, de merecerem algum respeito. Jacques Delors e outros, como nós, ainda nos batemos, no concernente à U.E., pela constituição de uma vera e digna Confederação de Estados autónomos. Mas a maioria, nas últimas 3 décadas, entendeu sempre que o mais importante era a ‘Economia política’, ou seja, o simples catecismo da Contabilidade. Neste contexto, a cartilha, porém, não podia ser outra senão a do Neoliberalismo. Capital d’abord!!!... Uma vez inventado, o Capital nunca morre, porque os Vícios egoístas do Lucro superam todas as Virtudes. Nós, na verdade, entendíamos, que o mais importante e decisivo era a salvaguarda do paradigma do ‘Homo Sapiens//Sapiens’ e, com ele, uma vera e digna Humanitas! Nós, que estávamos na oposição política, fomos votados ao ostracismo. E, afinal, as características essenciais dos Humanos desse paradigma eram sobejamente conhecidas: o carácter e a personalidade dos indivíduos, consciência pessoal, singularidade e união/unidade, com as diferenças naturais, mas sem confusões. Ora, a marcha por tal Caminho resultou malograda. No horizonte do Neoliberalismo, o que se pôs em marcha, além da submissão e subordinação dos Estados, foi a revolução tecnológica em todos os azimutes: ‘Mais de 1.700 satélites sulcam os céus, propriedade de Governos, Instituições académicas de ponta e entidades privadas; eles estão rodando em órbita sobre todos nós [observando-nos, exercendo vigilância…]. Juntam e acumulam imagens e outros dados, registam informação e monitorizam deslocações e comunicações’ (cf. ‘National Geographic’, nº de Fev. de 2018, p.1). Animais selvagens são amaestrados, domesticados, em ambientes ditos humanos. Aparentemente, até parece que se está diluindo a diferença entre a vida civilizada e a vida selvagem… como se estivessem a cumprir as profecias de Isaías!... (Cf. ibi, pp.30 e ss.). Em suma, torna-se difícil saber onde começa e acaba a vida selvagem!... (Cf. pp. 66…). E, não obstante, esses Seres especiais, que Humanos são chamados, parece que ainda não descobriram a vera e autêntica Liberdade… e deixam permanecer ao relento e eternamente esquecidos os pobres/pedintes/desamparados, os sem-tecto: os pobres, enfim, cujos specimena são identificados na gramática da Igualdade Social Humana e 15


que, por isso, fazem parte da mesma Espécie evolutiva, que dá pelo nome de psico-sócio-antropológica. Quem sabe onde reina a vida selvagem? (Cf. ibi, pp.66…). Presumem alguns que ela encontrou refúgio nas Falkland Islands. Quando é que os Indivíduos humanos hão-de aprender e admirar essa bela diversidade de todos os tipos humanos, ‒ o que é sinal da prática efectiva do genuíno respeito pela real Igualdade Social da Espécie?!... Entretanto, o ‘Homem de Neanderthal’ foi extinto da face da Terra há ca. de 60 ou 50.000 anos; e suplantado pelo chamado ‘Homem de Cro-Magnon’, anatómica e fisiologicamente distinto do anterior e dotado de uma Sensibilidade/Inteligência superior. Desta sorte, ficou só a actuar o tronco/paradigma da Espécie humana que é o ‘Homem de Cro-Magnon’, cujos primeiros avatares foram arqueologicamente identificados no Sul de França, nos inícios do séc. XX. Os Seres Humanos modernos constituem os Seres mais volúveis (no sentido positivo) do Universo. As coisas, os eventos e os próprios fenómenos naturais podem sempre correr pelo melhor. Com as suas disposições psíquicas próprias, eles podem, em tudo, contribuir para isso. Haverá Desígnios positivos para uma sobrevivência futura da Humanidade? Sim, mas sob condições específicas: “If we don’t change our ways, this is what will happen to our cities ‒ they’ll become unlivable”. Marshall says (no seu livro ‘Ecotopia 2121’): “It’s scary, but it’s not written in stone”. (Cf. ibi, p.16). Há, aí, duas ordens de pânico: A) A possível má fortuna da gravíssima problemática das Alterações Climáticas em curso; B) A possibilidade de as Sociedades e as Nações e os respectivos Estados não evoluírem, i.e., não se entenderem sobre temas fulcrais por natureza, não evoluírem para o seu paradigma próprio: o da Espécie ‘Sapiens//Sapiens’. O que Thomas More, no séc. XVI, preconizava, no seu Livro UTOPIA, para que as coisas corressem pelo melhor, era precisamente a Imaginação e a Inteligência! Para se re-humanizar, a Humanidade tem de elevar-se de estatuto, ela mesma.

● Ciência e Ideologias… Recordam-se do Sacro Império Romano-Germânico, fundado por Otão I, polarizado na Prússia e que, além das Itálias, abarcava toda a Germânia, e que perdurou até 1806. O Império Alemão que foi estabelecido em 1871, no encalço da desforra da Comuna de Paris/1870, e prosseguiu até à criação das duas Repúblicas alemãs em 1949. Recordam-se dos famosos e poderosos imperadores alemães Hollenzoern… Ora, hoje em dia, na Europa Central, o Imperialismo Alemão continua impávido e sereno, praticando, com as suas conhecidas multinacionais, as chamadas ‘deslocalizações de proximidade’. Sintomaticamente, o ‘Le M.D.’ de Fevereiro de 2018 traz um art. bem argumentado, subordinado ao título: ‘Le Saint Empire économique allemand’ (p.13), de Pierre Rimbert. As multinacionais alemãs não dormem em serviço: ‘les entreprises des pays d’Europe centrale et orientale se trouvent intégrées dans des chaînes de production contrôlées principalement par des sociétés allemands’ (ibi). Na janela do art. pode ler-se : « A fractura entre o ocidente e o leste da União europeia não se reduz à oposição entre as democracias liberais e os governos autoritários. Ela reflecte uma dominação económica das grandes potências sobre os países do antigo bloco de Leste, utilizados como reservatórios de mão-de-obra de baixo custo. 16


Desde os anos 1990, os industriais alemães deslocalizam na Polónia, na Rep.Checa, na Eslováquia, na Hungria e na Roménia” (ibi). O neocolonialismo não morreu… como é sabido através dos colonatos israelenses em Gaza e na Cisjordânia; mas, também, em modos mais subtis e flexíveis, como nesta Europa central. O neoliberalismo brutal, usurário e de preços baixos e trabalho precário, não faleceu mesmo na Europa cidadã e dos supostos valores de Civilização. Nos países satélites, os trabalhadores recebem metade ou um terço dos salários dos cidadãos autóctones da parte ocidental. “A sombra que projecta a potência da Alemanha sobre o mapa do Continente desenha um Santo Império industrial, cujo centro compra o trabalho mais ou menos qualificado das suas províncias. No noroeste, os Países-Baixos (principal plataforma logística da indústria renana), a Bélgica e a Dinamarca têm este grande vizinho por 1º partner comercial; mas as suas indústrias, de forte valor acrescentado, e os seus Estados desenvolvidos garantem-lhes uma autonomia relativa. Como acontece com a Áustria, ao sul, também ela integrada nas cadeias produtivas e nos interesses alemães, possuindo embora os seus próprios florões, designadamente nos serviços e nos seguros. Mas, a Leste, em posição subalterna, se não colonial, as indústrias polaca, checa, eslovaca, húngara, romena e até búlgara, dependem do seu cliente principal e primeiro que fica em Berlim” (idem, ibidem). As leis da flexibilização do emprego e dos salários são uma constante. Marcel Fratzscher, do Financial Times, constata que, em 2017, “para pessoas fracamente qualificadas, a taxa horária passou de 12 euros para 9 euros, desde o fim dos anos 1990” (ibi). Mesmo na G.A. unificada, os alemães do Leste, ainda hoje, não usufruem, em regra, dos mesmos salários, para os mesmos trabalhos, como acontece aos trabalhadores ocidentais. Face, porém, às desigualdades de tratamento, a hegemonia começa a ser contestada. “Em todos os aspectos, a disponibilidade de uma segunda fileira económica, constituiu um bom negócio para os industriais alemães. Porquanto, uma parte significativa dos fundos europeus, destinados aos novos países membros, recaiu, como por magia, sobre Berlim. ‘A Alemanha foi, de longe, a maior beneficiária dos investimentos realizados nos países do grupo de Visegrád, a título da política de coesão da União, explica o economista polaco Konrad Poplawski. Estas somas engendraram exportações suplementares nestes países no montante de 30 mil milhões de euros, no período 20042015. O benefício foi não somente directo ‒ os contratos assinados ‒, mas também indirecto: uma parte importante dos fundos foi destinada às infraestruturas, o que facilitou o encaminhamento das mercadorias entre a Alemanha e a Europa central e oriental. Um ponto decisivo para as empresas automóveis alemãs, que tinham necessidade de boas redes de transporte, a fim de construir instalações modernas junto dos seus vizinhos orientais’ ” (ibi). Há uma alienação subtil, que os trabalhadores precários e mal pagos começam a experimentar. “Essa alienação transpareceu em Junho de 2017, quando foi desencadeada uma greve, pela 1ª vez, desde 1992, numa fábrica gigante da Volkswagen em Bratislava. O governo eslovaco defendeu, então, a reivindicação de uma alta dos salá-rios de 16%. ‘Por que é que uma empresa, que fabrica uma das viaturas mais luxuosas e da mais alta qualidade, com uma produtividade de trabalho elevada, deveria pagar aos seus trabalhadores eslovacos metade ou um terço do montante, que ela paga aos mesmos 17


trabalhadores da Europa ocidental?’ ‒ interrogava-se o Primeiro ministro Robert Fico, um social-democrata que governa com os nacionalistas. Um mês antes, o seu homólogo checo Bohuslav Sobotka punha em guarda os investimentos estrangeiros quase nos mesmos termos” (ibi). Se a Economia política (tanto na sua parte pública/estatal como na privada) se rege (consabidamente) por leis e um bom catálogo de regras, chamar-se-á a tais excepções à lei verdadeiras prevaricações, justificadas apenas pelo Lucro capitalista (egoisticamente) semper majus. Estas situações são criadas por uma organização societária hipocriticamente dupla: há a política, dum lado, e a economia, do outro. Mas, então, por que, a tais regimes, se dá o nome abusivo de ‘democracia liberal’? Isto só quer dizer que o adjectivo liberal só figura no léxico para alimentar o Lucro egoísta. Isto já não é ciência… é pura Ideologia!... Se o regime era (ou é…) chamado de ‘democracia popular’ (como, ontem, se chamava, abusivamente, nos países satélites da U.R.S.S. ou casos análogos, o adjectivo adicionado não passava de uma fantochada, para iludir um criminoso regime ditatorial, que estava muito longe de ter a sanção do Povo. São, ambas, situações, que já foram referenciadas antes, quando eram identificadas as duas faces do mesmo Sistema capitalista: capitalismo liberal ou capitalismo monopolista de Estado. Curiosamente, nem numa versão nem na outra, há vera Ciência de Economia política. O que, aí, há é pura Ideologia. Por quê e como se distingue a Ciência, qua tal, e a Ideologia?! Produzida por Sujeitos Humanos bem informados, pensantes e criticamente conscientes, eles sabem, ipso facto, que estão a inventar ou processar um empreendimento objectivo e comum (que interessa a todos os cidadãos). Não é objectivo-objectualista, como se passa com todos os produtos ideológicos. Deve, aqui, advertir-se, para um bom e completo esclarecimento, que a Ideologia, qua tal, é filha directa e predilecta da sempiterna Cultura do Poder-Dominação d’abord, que se intromete (ou sistémica ou recorrentemente), nos trabalhos (profissionais) dos cientistas e, muito especialmente, nos cientistas que se aplicam à Investigação (em vertente individual, ou de grupo escolar). De regra, a Ideologia e o trabalho ideológico estão sempre em consonância com os Poderes Estabelecidos. Por seu turno, as práticas científicas genuínas, resultam de cientistas tão sérios e honestos, criticamente conscientes de Si e do Mundo panenvolvente, que, scientes/inscientes, eles estão a fundar ou a colaborar na nóvel Cultura da Liberdade Responsável (para todos) primacial e primordial. Os horizontes de uns e de outros são diametralmente opostos. Os primeiros pertencem ao Grupo-multidão do ‘Homo Sapiens tout court’; os segundos estão congregados na Turma do ‘Homo Sapiens//Sapiens’. ‒ Ciência política versus Globalização. A vera Ciência política está contra todo este processo materialista/mecanicista da Globalização conhecida e em marcha… Os cidadãos, qua tais, e os indivíduos-pessoas são subestimados e menosprezados. Só contam como clientes gulosos das últimas novidades!... Casos e situações: sabe-se, organicamente, muito mais sobre Sexo e Sexualidade. Designadamente, os grupos inscritos no acrónimo: LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros). (Cf. v.g., o excelente livro de Ana Zanatti: ‘O Sexo Inútil’, Sextante Editora (Porto Editora, 2015/2016). 18


Mas a maior parte dos jovens e adultos continuam a flutuar num mar de ignorância sobre quase tudo o que envolvem e implicam o Sexo e a Sexualidade. Veja-se, por exemplo, o bom artigo de Michel Bozon in ‘Le M.D.’ cit., pp.14-15, subordinado ao título: ‘Transformations de la sexualité, permanence du sexisme’. Na janela do art. pode ler-se: “Liberta, a palavra das mulheres tem permitido tomar consciência da amplitude das violências e das chateações/sequestros, assédios, de que elas são vítimas diariamente. Como explicar tal proliferação de comportamentos sexistas, uma vez que as práticas sexuais têm evoluído para mais igualdade entre os parceiros, ao longo destes últimos decénios?”. A Quaestio do Autor justifica-se plenamente, porque o Sexismo societário, qua tal, continua imperialmente!... Como continua o racismo, o neoliberalismo, o neocolonialismo e toda a gama das bem conhecidas barbaridades sociais!... Escreve o Autor, logo no 1º parágrafo do seu texto (p.14): “A brutalidade dos comportamentos denunciados, no outono de 2017, nas pesquisas da imprensa, sobre o produtor Harvey Weinsteir, depois as revelações e mobilizações das mulheres, principalmente nas redes sociais, que deram visibilidade a muitos actos de assédio sexual, agressão e violência sexuais, convidam-nos a analisar o sexismo como um sistema. Isso implica a ideia de uma hierarquia sistemática entre os sexos, que permite a um dos dois impor a sua dominação, ou seja, a captura das suas preferências, com exclusividade, dos seus interesses. O sexismo não é um estereotipo ou um desarranjo eventual em alguns homens, e que seria suficiente desmontar intelectualmente ou curar. É um sistema, cujas manifestações, num domínio da vida social, se reforçam pelas desigualdades em outras esferas, o que lhes dá uma inelutável coerência e os torna difíceis de erradicar: a desigualdade dos salários, a sobrecarga de trabalho doméstico das mulheres, a sua maior precariedade profissional, a sua fraca presença na política, na cultura e no desporto, o seu difícil acesso aos espaços públicos, o uso sexista da língua e da linguagem, o assédio e sequestro sexuais, e muitas outras assimetrias estão ligadas”. (O sublinhado é nosso). As Sociedades (ditas) humanas estão de tal modo reduzidas a frangalhos, que, sem um Programa universal (procedente da O.N.U.) universalizado mesmo, bem conhecido e estudado e assumido, expressamente, pelos Governos nacionais, não acontecerá nada de válido e fecundo. Dois dados que, nesta questionação, importa não esquecer: A) Eliminar, em todos os estádios e escalões societários, o useiro e vezeiro Aparelho gnóseoepistemológico, balizado pelo Monismo Epistémico, por sua vez oriundo do Dualismo platónico e paulino, e que só educa e formata os jovens (e os adultos) para o uniformismo → ‘macacos de imitação’. É o que são, de facto, a cáfila dos ‘indivíduos humanos’!... B) De uma vez por todas, tomar consciência crítica de que a Civilização tradicional em que sobrevivemos, apesar da globalização tão incensada, continua a ser uma Civilização patriarcal-patriarcalista/machista, que nos advém, historicamente, desde há cinco milénios e meio, quando se pôs termo à Era da Gilania e se formataram e estruturaram as Divindades uranianas. Assim, não é de estranhar que os neoliberalismos hodiernos constituem as modalidades soft do Conhecido Fascismo hard. Amigo, queres mesmo Democracia a sério? Então pega na Gramática da Ciência política… Estuda-a até tomares consciência de que Democracia e Capitalismo são, por 19


natureza, incompatíveis: isso acontece tanto nos regimes da ‘democracia popular’, como nos regimes das ‘democracias liberais’. Incompatibilidade absoluta. Que cidadãos estamos nós formando, por exemplo, nos U.S.A., no Estado/Nação mais poderoso e protagonista de civilização no Mundo?!... Alguns dados fornecidos pela Investigação Estatística dizem-nos coisas de arrepiar, como esta: nos últimos 5 anos, foram contabilizados 300 tiroteios nas Escolas norte-americanas. Que Presidente será capaz de eliminar da Constituição a 2ª Emenda (que já remonta a 1791)?!... Que Presidente será capaz de propor no Congresso e no Senado e admitir e estabelecer a abolição cerce da legislação sobre o ‘sagrado’ direito de uso e porte de arma, atribuído a qualquer Fabiano?!... Mas a vera Ciência política não pode ficar por aí: No Processo da actual Globalização tecnológica, deve saber-se que o Neo-colonialismo (explícito ou disfarçado) não pode prosseguir impunemente. Seja aqui recordado: v.g., sem os minérios especiais, procedentes de países tão pobres e desmunidos como o Congo, em África, as Multinacionais não poderiam confeccionar os telemóveis e os smartphones que enxameiam hoje o Mundo como as areias das praias. E, na Europa, quanto ao empóreo alemão, que actua como um grande Império, que se cuide! Isso, por exemplo, de usufruir da ‘deslocalizações’ do trabalho assalariado, com vista a produzir o mesmo tipo de trabalho, com salários muito mais baixos nos seus países satélites!... Isso não é digno nem permitido, em boa Ética política. Dir-se-ia que é o Novo Império Alemão, que se estendeu e está em curso nos países satélites.

● Ouvir e Aprender com o Papa Francisco (ex-Cardeal Bergoglio). Se a Igreja de Roma e as Cristandades paulinas a ela ligadas estão, apesar de tudo, a ganhar Consideração e Respeito (filial) (fraternal) é ao Papa Francisco que o devem! As doutrinas dogmáticas têm destruído e laminado, lentamente, as igrejas cristãs, sobremaneira a que detém a hegemonia da sucessão petrina, segundo as Escrituras canónicas oficiais. O Papa, que veio da Diocese de Buenos Ayres (Argentina) é muito diferente, na sua índole e nas suas práticas pastorais, perante a catena dos papas anteriores, muito especialmente, na Idade Moderna. Nem o Autor da Encíclica (que, para a Igreja, abriu os ‘Tempos Modernos’, com a edição da Encíclica ‘Rerum Novatum’, que veio a constituir o Pórtico do Edifício, que dá pelo nome de ‘Doutrina Social da Igreja’. Já nem falamos dos ‘pecados’ graves da Igreja romana, auto-denominada de católica (desde Ireneu de Lyon): as Cruzadas e o espírito de Conquista e Dominação (onde algumas das ‘missões’ também se podem incluir); a habitual Censura eclesiástica (de que nós também fomos vítimas…); o ‘Sanctum Officium’ ou Tribunal eclesiástico, que não tinha pejo de expor à morte na Fogueira as suas vítimas e condenados. Cultora da sempiterna Cultura da Potestas/Dominação d’abord, a Igreja Romana sempre atribuiu o primado absoluto à Dogmática, a norma da Doutrina Dogmática, em lugar de o atribuir às pessoas vivas, respeitando-as e ouvindo-as, em vez de as julgar sem apelo nem agravo. No que tange o Papa Francisco (por alguma razão ele escolheu o apodo do santo simples e bendito de Assis (1182-1226), (na Itália), tudo parece passar-se num outro ho20


rizonte: ele atribui, expressamente, o primado absoluto aos Indivíduos-Pessoas, e não às supostas verdades ou enunciados dogmáticos. Entre dogmas e pessoas, ele escolheu a opção certa e verdadeira, e, até em termos estratégicos, a mais eficaz e fecunda. ‘Quem sou eu para julgar as pessoas?!... Tem o Papa Francisco dito e repetido. Já o dissémos e disso estamos convencidos: Se, desde os seus inícios nas catacumbas romanas, a Ekklesía não fosse tão amiga do vezo dogmático, o Islão não teria sequer emergido, historicamente, nos sécs. VII/VIII. Tornou-se quase um slogan pessoal escutar o Papa Francisco a dizer em resposta a pessoas em apuros ou em situações menos certas e delicados: ‘Quem sou eu para julgar as pessoas’!... Implica e significa isto que o Papa Francisco atribui o primado às pessoas vivas e não aos dogmas, quando é esse o problema em causa. Para resumir tudo, ouçamos este belo Poema do Papa Francisco: ‘Os rios não bebem sua própria água; as árvores não comem os seus próprios frutos. O Sol não brilha para si mesmo; e as flores não espalham sua fragrância para si. Viver para os outros é uma regra da natureza. (…) A vida é boa quando Você está feliz; mas a vida é muito melhor, quando os outros estão felizes por sua causa’. (Divulgado na Internet) ‒ Onde encontramos tanta sabedoria, tanta Filosofia natural em torno da Natureza evoluída/criadora?! ‒ E, no concernente às Sociedades Humanas e aos Indivíduos/Pessoas/Cidadãos que as constituem, onde vemos espelhada, com este Brilho a Verdade, a vero e autêntica Dimensão horizontal das Vidas e das Sociedades, em contraponto com a fatídica e perigosa dimensão vertical/hierárquica?! Decisivamente, no coração e no pensamento do Papa, a Dimensão Fraterna e a Igualdade dos filhos de Deus levaram a melhor sobre a Hierarquia, a Dominação e o Paternalismo. Que assim continue, ‒ são os votos do C.E.H.C.. A Mensagem do Papa Francisco é tersa e clara: aos bispos e cardeais dos U.S.A., ele dizia, com singeleza e simplicidade (em 23.11.2015: transmissão televisiva da CBN): “There is no place for harsh & divisive Rhetoric”. Ele sabe que, no Velho Mundo: na Europa e nos USA, há correntes de opinião que divergem perante as suas propostas. O que de negativo e deletério tem feito, historicamente, o Cristianismo de Paulo, que 21


soterrou o vero e autêntico JESUANISMO (defendido pelo C.E.H.C.), e converteu o Cristianismo paulino numa Religião institucionalizada e dominadora!... Uma vez banida a Inwardness, a Interioridade dos Seres humanos, como fonte e origem da vida e da acção, as veras e eficazes Revoluções sociais tornam-se impossíveis: é que elas só actuam e produzem os seus efeitos positivos a partir da INTERIORIDADE dos Seres humanos qua tais: uma Interioridade que é sempre primacial e primordial e manda a gramática pessoal que seja atribuída integralmente a Sujeitos conscientes, livres e responsáveis. Na visita, que fez à O.N.U., no dia 24.9.2015, o Papa Francisco fez um pedido solene, no fórum da Assembleia-Geral das Nações Unidas, no sentido da Abolição da Pena de Morte, em todos os Estados/Nações, que fazem parte da Civilização Humana, na Terra. Fez, igualmente, um Apelo veemente no sentido de, perante o crescendo maligno das Alterações Climáticas, que são o resultado negativo, dos desvios da Civilização humana, promover toda a sorte de acções e estruturas institucionais, para as esconjurar e debelar, quanto antes. Fez, igualmente, um Apelo sentido a todas as religiões institucionalizadas, recomendando prudência, contenção e respeito por todos os outros, em nome da Paz no Mundo. No concernente à boa Educação a ministrar nas Escolas, o Papa Francisco ergueu a bandeira da invectiva e do combate a toda a sorte de tiranias (cf. ‘J.L.’, 22.7 – 4.8 de 2015, p.27). O que, de resto, noutra vertente, também foi relevado no ‘Le M.D.’ (de Agosto de 2015, p.3), onde era enaltecida a ÉTICA, justamente baseada na axiomática, já referenciada, da INTERIORIDADE, enquanto fonte e origem de toda a conduta ético-moral autónoma, própria do ‘Homo Sapiens//Sapiens’. Há off limits, para todos os comportamentos decentes, saudáveis e dignos! Nesse nº do ‘Le M.D.’, conta-se o caso do 1º Ministro helénico Alexis Tsipras, que estabeleceu, entre a U.E. e a Grécia 10 Acordos, perante os quais, afirmou, peremptoriamente, no fim: ‘Não concordo, mas cumpro’!... Um catecismo de muito grande Dignidade. Houve, aí, coerência identitária entre a convicção e a decisão, com vista a acções colectivas, que eram impostas. Se, do lado da U.E. (que não há maneira de se reformar adequadamente, como pretendiam Jacques Delors e o C.E.H.C.), se continua a cultivar a sempiterna Cultura do Poder-Dominação d’abord, o Primeiro Ministro da Grécia, nesta ocorrência, deu o exemplo de uma outra Cultura Alternativa: a Cultura da Liber-dade Responsável primacial e primordial.

● INWARDNESS (a Interioridade humana, o Íntimo dos Sujeitos humanos livres e responsáveis). A Descoberta da Interioridade humana dos Seres Humanos, enquanto Sujeitos livres e responsáveis já nos advém, desde Tempos Antigos. Nos últimos 2 milénios da História, a sua grande fons et origo do seu reconhecimento e ensinança foram, sem dúvida, os Gnósticos judeo-cristãos (aos quais também pertenceu Jesus), e cuja doutrina se encontra compendiada nos famosos escritos de NAG Hammadi, descobertos em 1947, nas proximidades do Mar morto. Por que admitia K. Popper que a vera verdade científica se poderia encontrar no facto da falsificação das ‘verdades’ das ciências positivas e experimentais? Porque ele 22


mesmo não ignorava a sabedoria dos Gnósticos judeo-cristãos primevos. Esse princípio axiomático de K. Popper constitui mesmo uma propriedade da vera verdade. Aristóteles, ao argumentar que toda a realidade é constituída de matéria (hylé) e forma (morphé ou psykhé), também prossegue viagem no mesmo Navio. Agostinho (Aurélio Agostinho, bispo de Hipona) também segue na mesma Nau: a) em virtude da descoberta do vero Deus no ‘intimior intimo meo’; b) e em virtude de se ter apercebido da genuína noção de Tempo: escreveu ele nas suas ‘Confissões’: ‘Si aliquis a me quaerit de tempore, nescio’; ‘si quis a me non quaerit, scio’. O que assoma, ou é possível identificar, no fundo ou base de todas estas posições, é o fenómeno incontornável da Consciência do Sujeito individual humano livre e responsável. Nessa questionação, é sempre a Consciência Humana do ‘Homo Sapiens//Sapiens’, que está na base. As duas pessoas ou consciências, que necessariamente se defrontam, não são directa e frontalmente observáveis, na sua relação recíproca. Mas elas sabem que estão lá!... Na Alvorada da Idade Moderna Ocidental: o Moderno e a Modernidade ‒ é importante que se atente bem nesta Tese fulcral ‒ nascem, nos inícios da Cultura Moderna do Ocidente, sob o estro e a bandeira de uma Ruptura abissal… A Razão sumária disto é que a Modernidade Ocidental ignorou e pôs de parte (no Processo civilizatório e na reconstrução do Mundo) a antiga Descoberta Antropológica da Interioridade e dos Sujeitos conscientes, livres e responsáveis. Foi assim, e por essa Razão omissiva, que se deu, fatalmente, na Modernidade Ocidental, essa Ruptura abissal. Desta sorte, nos Tempos Modernos, os Sujeitos humanos foram ensinados e moldados, tão só, pelo paradigma ancestral de ‘Homo Sapiens tout court’, com a Liberdade e o Poder/Autoridade, separados por abismos, e tudo sob o horizonte tradicional (que vinha dos inícios da Era do Patriarcado) do Dualismo metafísico-ontológico de Platão e Paulo. (Para capturar bem toda esta complexa problemática, nada melhor que ler e meditar o pequeno Livro de Miguel Baptista Pereira: ‘Modernidade e Tempo ‒ para uma leitura de Discurso Moderno’ (maiêutica/2; Livraria Minerva, Coimbra, 1990). Entre um velho Armazém de realidades/noções antigas e medievais e um novo Bazar chinês, onde ainda pouco ou nada se identificava positivamente, os humanos ‒ mesmo os cientistas e peritos mais dotados ‒ sentiam-se como ‘o tolo no meio da ponte’. Uma vez feito o balanço, deu-se conta, depois do pioneirismo dos Descobrimentos Oceânicos (começados, ao que se sabe, pelos Almirantes chineses nos seus Juncos em 1420 e, depois, prosseguidos (a partir de 1500) pelos povos ibéricos, onde os protagonistas foram sem dúvida os lusitanos; ‒ o que restava no seu lugar eram os povos e seus territórios natais; na frente do Processus, além da promoção dos negócios e do comércio em todos os azimutes, postaram-se os cientistas e os peritos nas Artes de Navegação. Depois das catedrais românicas e góticas e dos desenvolvimentos apreciáveis na escultura e na pintura, na arquitectura e na música, na Mundividência nova do Ocidente, o que tinha mesmo pés para andar, para além do Occamismo, era o Mecanicismo cartesiano na Filosofia e nas Engenharias; era a espiritualidade e a mística de Mestre Eckhart, de João da Cruz e de Teresa d’Ávila, na Teologia. De resto, o Mecanicismo cartesiano (que René Descartes de algum modo veio a abjurar no fim da vida, com o seu 23


revelado interesse pela Psicologia humana…), como farol e método de trabalho, era a doutrina mais perversa e deletéria, que se poderia ter achado!... O grande paradoxo de René Descartes (1596-1650), que o levou à concepção do Edifício Mecanicista do Mundo partiu de uma muleta, que ele ideara, como segue: ‘Cogito… ergo sum’. Pensar era ser!... No entanto, nem todos os seres vivos pensam… os da Botânica, os da pura Animalidade!... Mas quem pensa é sempre um indivíduo sozinho e isolado!... A não ser que pense em voz alta, dirigindo-se a uma audiência!... Tudo isto pensado num universo colectivo (colectivizado) por força do, everywhere espalhado, Dualismo metafísico-ontológico de Platão e Paulo. Não se esqueça que o paradoxo do Descartes tem a sua origem directa neste ‘parti-pris’ diabólico, que é a base de todo o pensamento e mundividência societários das Cristandades tradicionais institucionalizadas. A Idade Moderna havia entrado a funcionar segundo uma gramática, onde o seu princípio absoluto era o conjunto misturado de coisas, pessoas e experimentações em busca do Novo! ‒ Diria Francis Bacon (1561-1626). Neste contexto, era inevitável que o Desafio/Conflito, por regra, surgisse, permanentemente, entre as coisas/realidade, as pessoas e as experimentações; do outro lado, em lugar da tradicional dimensão colectiva das Sociedades, cavava-se e aprofundava-se o individualismo pessoal, que acabava por atingir a Humanidade no seu conjunto. Nesse Desafio/Conflito moderno, tem cabimento a pergunta: Quem serão os culpados responsáveis maiores deste estado das coisas?! Os especialistas, os peritos e os técnicos de cada especialidade ou sector? Por outro lado, os especialistas e os peritos em ‘Humanidades’, ‒ a sua maior parte havia-se mantido calada, em toda esta conjuntura. O caso de Galileus Galilei (1564-1642), que, chamado a Tribunal eclesiástico, pelo cardeal Bellarmino, teve todo um processo judicial em forma, que o deixou largos anos em prisão domiciliária com as filhas, constituiu o toque a rebate da situação criada na Cultura Ocidental. Na última década do séc. XX, o Papa João Paulo II pedira perdão publicamente da afronta, tentando sanar o caso. Mas o mal estava feito… A Autoridade eclesiástica sentia-se ferida por estar ainda na suposição de que também era detentora de Autoridade na Ordem das Matemáticas e das Ciências. O pensamento laico/laicista hávia começado o seu caminho, sem precisar de pedir licença à Igreja. Tivera os seus inícios uma nova Idade, onde iriam ter lugar revoluções científicas e técnicas, acompanhadas, igualmente, de revoluções sociais. Como seria de esperar, a nova contextura de litígio aberto, criou a oportunidade da emergência da evolução (desarmada) de uma Mundividência Laicista, Agnóstica e inclusive Ateia. Primeiro, a Física e a Astronomia; depois, a Botânica; por último, a Sociologia e a Psicologia, com todas as novas ciências em torno da Evolução da Vida e das Sociedades humanas, (no séc. XIX), com os seus oficiantes principais que foram Lamarck e Darwin, Karl Marx e Friedrich Engels. Encadeamentos a referenciar: Curiosamente, a Disciplina da Psicologia nasceu e instalou-se, desde os inícios, nos anteriores Laboratórios da Fisiologia, (no último quartel do séc. XIX, sob o signo do Monismo epistémico e nas atmosferas do Mecanicismo cartesiano). Não foi, pois, sem razão, que a própria Psicologia logo se foi dividindo em duas: a metafísica e a experimental. A Sociologia ‒ essa emergiu na 1ª metade do séc. 24


XX, no período entre as duas G.G. mundiais. Ela conta, até para sua própria defesa epistémica, com o instituto do método estatístico, como seu principal instrumento de trabalho. A partir dos anos ’60-’70 do séc. XX, começou a generalizar-se, nas classificativas ordenadoras das Disciplinas académicas, o uso do enunciado/epígrafe ‘ciências sociais e humanas’ (aqui, o C.E.H.C. diz: e/ou), no intuito de ajuntar as chamadas ciências positivas do hemisfério das ciências humanas às disciplinas das Letras, que anteriormente se designavam de Humanidades. A partir da última década do séc. XX, o C.E.H.C. chegou à sua 1ª conclusão correctora: ‘ciências psico-sociais e/ou humanas’. A nossa intenção é afastar, definitivamente, os dois grandes escolhos/obstáculos tradicionais: o Mecanicismo cartesiano e o Dualismo metafísico-ontológico de Platão e Paulo. A partir deste nosso patamar, é todo um Novo Universo gnóseo-epistemológico e de Mundividência crítica/criticista que é desenhado e edificado: A) Dualismo Epistémico: há dois hemisférios das Ciências, contra o tradicional Monismo Epistemológico, que tem actuado tradicionalmente, associado, paradoxalmente, ao Dualismo metafísico-ontológico de Platão e Paulo. B) Recuperação, em todas as escalas ônticas, sem apelo nem agravo, do Hilemorfismo aristotélico. C) Desconstrução (à Jacques Derrida) de toda a Metafísica tradicional, sempre baseada no tradicional Dualismo metafísico-ontológico de Platão e Paulo. D) Abaixo… para todas as religiões institucionalizadas, fundadas nesse Dualismo, muito especialmente as três grandes religiões de ‘O Livro’: hebraísmo, cristianismo, islamismo. E) Demolição sistémica de toda a religião (de substituição…) laica do chamado Objectivo-Objectualismo (que tem alimentado o espírito dos cientistas…). Não esquecer que é nesse horizonte que os cientistas, qua tais, têm argumentado e sustentado (teórica e praticamente…) as Mono-Arquias e, bem assim, todas as Hierarquias religiosas nas Sociedades humanas. F) Reivindicação da Democracia (em todos os azimutes) e sua gramática política, como constitutiva do único Regime político, digno dos Sujeitos humanos, qua tais, i.e., pertencentes ao padrão específico do ‘Homo Sapiens//Sapiens’. G) Reivindicação dos Sujeitos Individuais-Pessoais, na base de: a) o seu vero estatuto da Espécie em causa: o ‘Homo Sapiens//Sapiens’. b) eles são, por definição e estatuto, Seres dotados de Consciência; portanto de índole triádica: Sujeito//Objecto//Consciência. H) Há, por isso, uma Nova Cultura a instaurar: a Cultura da Liberdade Responsável primacial e primordial, contra a histórico-tradicional Cultura do Poder-Dominação d’abord. I) É, de facto, a Divisão das Religiões Institucionalizadas, que se encontra nas origens: a) da estrutura societária dos humanos, reduzidos à condição de ‘cabeças de Rebanho’, dotados apenas, de uma liberdade esdrúxula, reduzida ao estatuto desclassificado de ‘livre arbítrio’. (Ainda que este tenha sido proposto e encomiado por personagens, tais como Paulo, Agostinho, Lutero, Erasmo…). b) Da impossibilidade psico-só25


cio-histórica da construção da vera e autêntica Democracia. c) Da História confinada, apenas, ao Esquema bastardo e falacioso do ‘eterno retorno’ nietzscheano. Até na Alimentação, há reacções de indignação a tal estado de coisas: são os grevistas do ‘fast food’, que não se encontram a reagir contra a gestão das coisas, mas contra as tecnologias panabsorventes. (Cf. ‘Manière de Voir’, Julho-Agosto de 2015, p.52, sob a referência ao título: ‘Slow Food’, p.74). Sobre a irrupção do Moderno, escreveu atiladamente M. Baptista Pereira (op. cit., p.56): “No nosso multi-milenário ‘Reverso do Espelho’ (K. Lorenz), uma diferença estonteante da curva exponencial do tempo opõe os últimos 300 anos da cultura europeia ao ritmo lento do Homo Sapiens, velho pelo menos de cem mil anos [o autor ainda não se actualizara, nem nas datas, nem nos dois Sapientes] e criador da primeira grande cultura com tradição escrita há 6.000 anos, apesar de haver instrumentos fabricados pelo homem com dois milhões de anos, obras de arte com 30.000 anos e agricultura e criação de gado com 10.000. Comparado com estes números, o ritmo acelerado do tempo entre o séc. XVII e o séc. XX marcou um tal crescimento da nossa civilização, que o homem planetário se vê hoje, pela 1ª vez, confrontado com a possibilidade real do seu próprio holocausto. O ritmo desta mudança espelha-se nas variações de sentido do termo ‘Modernidade’, que tem sido objecto de acurada análise de especialistas. A irrupção da consciência deste salto histórico de 300 anos, mas de consequências então imprevisíveis, foi já assinalado no séc. XVII na conhecida polémica ‘Querelle des Anciens et des Modernes’ acendida em 1687 numa sessão da Academia Francesa e que se prolongou por mais de 20 anos. Rompia a consciência de um tempo presente, novo e transitório, que se não pautava pelo carácter paradigmático da Antiguidade e ostentava, em relação a esta, um sentimento de superioridade, alicerçado na convicção de que o primado do presente, no ponto de vista das ciências de Descartes e Copérnico, arrastaria naturalmente uma maior perfeição das artes dos modernos. Diferentes dos antigos e dos medievais, os modernos não se estribavam numa concepção cíclica do tempo, nem numa visão teológica da história, mas perseguiam o modelo do progresso histórico, que, na actualidade do séc. XVII, atingiria a fase da maturidade e da consumação, se comparado com o tempo juvenil da Antiguidade e a meia idade da Renascença. Ao modelo do progresso e da perfectibilidade dos modernos, resistiram os cultores da Antiguidade, ao defenderem que a arte devia ser julgada segundo o gosto do seu próprio tempo, e que o progresso das Ciências da Natureza não implicava, paralelamente, uma diferença qualitativa entre a arte antiga e a do século XVII”. ‒ Quando as iludências aparudem!... Nem o Homem Novo do paradigma ‘Sapiens//Sapiens’ veio até hoje… e na 2ª metade do séc. XIX é o próprio F. Nietzsche, que retoma, categoricamente, o carácter cíclico da História, com o seu ‘eterno retorno’!... E essa híbrida noção de progresso, que coisa é?! No seu ‘Novum Organon’, escrevia assim Francis Bacon (cf. ibi, pp.11-12): “Ao comparar a Europa com a América bárbara, concluía Bacon que o homem era deus para o homem: ‘non solum propter auxilium et beneficium, sed etiam per status comparationem’. Da constante comparação resultou a convicção de que povos, estados, partes da terra, ciências ou classes precediam outras, que ultrapassaram, dada a aceleração do seu ritmo histórico, como se pensou desde o séc. XVIII. Neste conhecimento do não-simultâneo, que aconteceu no mesmo Tempo 26


cronológico, assentou a experiência fundamental do progresso”. ‒ Ora esta noção de progresso é híbrida, por definição ‒, com a sua carga natural de relatividade, nas relações de comparação entre duas entidades ou mais, não só prova demasiado, como, no reverso da medalha, pode provar o postulado de que não se podem comparar civilizações, sociedades, culturas, etnias, a não ser que se tenha em conta um padrão criticista, afinado globalmente, no espaço-tempo, de ordem psico-sócio-antropológica. Da Igualdade social não fala F. Bacon. O mais importante que resulta de toda esta reflexão é a constatação de que os Seres humanos são livres e responsáveis, para construir o Futuro, seu e das Sociedades em que estão integrados. Seja, aqui, reconhecido que a Quaestio é demasiado complexa e o seu desenvolvimento variado dependerá dos respectivos pontos de vista. V.g., Charles Perrault, in ‘Paralèles des Anciens et des Modernes’, a partir de uma sequência de biografias, nas quais o Autor tentava estabelecer a preeminência dos Modernos sobre os Antigos, nos grandes géneros literários, não quis adicionar mais nada. Ora isto desencadeou, na Academia e nas práticas sócio-culturais, uma querela literária, onde Boileau, Racine e La Bruyère defenderam os Antigos. A polémica foi pacificada, graças à intervenção do Grand Arnauld, mas ela retornou, depois, em 1714, entre Houdat de la Motte e Mme. Dacier. ● Questionar é uma virtude! O Fenómeno da Consciência, nos Seres humanos e nas contraditórias ‘Sociedades de Rebanho’, em que, proh dolor!, ainda sobrevivemos, é, tão só, evocado e invocado, em função das culpas e omissões, das penas, em suma, com vista à acusação e ao julgamento (disciplinar, na instituição ou em tribunal propriamente dito). Para tudo isso, existem, nas Instituições escolares, os Chefes/Mestres e os encarregados da disciplina e da correcção. À escala societária, estão aí os Tribunais. Assumir a pessoa ou o cidadão a sua responsabilidade própria, na circunstância oportuna, nem sempre ocorre; e não é tarefa fácil!... Exige Atenção permanente. Em tal horizonte, as Instituições sociais, tais como a Família, a Escola e os Tribunais servem, sem dúvida, muitos objectivos; mas, acima de tudo, elas exercem as suas funções, também para castigar e punir… Não são elas, por acaso, instituições destinadas a educar e ‘domesticar’, e controlar (as derivas selvagens!...), as crianças, os jovens, os adultos em formação. Ora tudo isso acontece e é de regra no horizonte sistémico e pseudoantropológico do ‘Homo Sapiens tout court’ e da sempiterna Cultura do PoderDominação d’abord, em que ainda vamos sobrevivendo. O que deu a químio-fisicalização de produtos oriundos de organismos vivos: animais ou vegetais?!... V.g., o Vinho (cf. ‘Manière de Voir’, Agosto/Setembro de 2015, p.94)? Em ‘Manière de Voir’ de Agosto/Setembro de 2016, p.77, encontra-se um artigo de Ignacio Ramonet (ex-director do ‘Le M.D.’), subordinado ao título: ‘Le progrès à l’envers’. Na janela do art. está a substância condensada do texto, onde se pode ler, a propósito de ‘Le Meilleur des mondes’ de Aldous Huxley: ‘Conter l’avenir est périlleux, car le futur se charge souvent de démentir. Le roman d’anticipation d’Aldous Huxley, qui 27


développe les conséquences potentielles d’un usage de la science au profit de l’ordre et de la rentabilité, a su, lui, garder sa puissance de cauchemar’. ● Em torno do Sujeito Humano, livre e responsável. Após algumas andanças e derivas, na questionação intelectual, encontrámos o nosso Centro polar e polarizador. Três Livros principais deixaram o seu sinete na História plasmada da minha Vida. Tudo se começou a passar entre os 15 e 18 anos, em Coimbra (Seminário Maior e logo a seguir, em Roma, no Colégio Português e na Universidade Gregoriana (dos Jesuítas), bem como em outras Universidades, por mim frequentadas, como o Ateneo Angelico (dos Dominicanos), a Universidade Alfonsiana (dos Salesianos), o Instituto Romano ‘Justiça e Paz’ (sito nela Via della Conciliazione, onde fizemos duas teses em italiano ‒ uma em cada ano, num Curso sobre as ACLI (Azzione Cattolica dei Lavoratori Italiani), e a nova Universidade, criada pela UNESCO, junto da Estação ferroviária central da Urbe, a que deram o nome ‘Pro Deo’ com as 1as Licenciaturas em 3 anos, decididas pela O.N.U. e Plano Marshall, com vista à recuperação e reconstrução da Europa, que ficara completamente arruinada pela 2ª Grande Guerra mundial. A descoberta crítica do Sujeito Humano, como Centro polar/polarizador, foi para nós uma sorte de ‘tiro e queda’. O meu despertar crítico intelectual teve o seu início aos 15-16 anos, durante o bacharelato em Filosofia: Tratava-se do Livro de Gordon Childe (arqueólogo e evolucionista): ‘Man makes himself’, que eu li logo em inglês, com o intuito de me adentrar, especializadamente, nas doutrinas e teorias da EVOLUÇÃO, a começar por Charles Darwin. No fim dos 3 anos do bacharelato em Filosofia, o Autor preparou uma Tese (ainda escrita à mão), sob a orientação do Pe botânico e biologista Póvoa dos Reis, ‒ uma Tese de 200 pp., que foi apreciada pelo Júri final e aprovada com distinção. No Natal do meu 2º Ano da Vida de Estudante em Roma, (1957), eu próprio apresentei essa Tese ao especialista em Arqueologia e Evolução, Vittorio Marcozzi, que leu com muito interesse o livro manuscrito e me pediu, encarecidamente, que publicasse a obra, visto que ela tinha muito interesse. Só lhe fazia falta a referência (com um estudo sumá-rio) ao recém editado evolucionista norte-americano (já com uma ed. em italiano, de 1954) George Gaylord Simpson: ‘Il significato dell’Evoluzione’, edição da famosa Editora Bompiani. Como havíamos instaurado (desde 1995) o C.E.H.C., que se foi difundindo pelo Mundo, a partir das obras e séries publicadas por muitos militantes/Autores, e trabalho não faltava (!...), essa Tese (titulada: ‘Evolucionismo ou Fixismo?!’) só veio a ser refundida e editada, pela EDICON de São Paulo (Brasil), na 2ª década do séc. XXI. O 2º Livro, que deixou chancela na Vida intelectual do Autor, foi ‘Le Surnaturel’ do Pe jesuíta Henri de Lubac (que, mais tarde, foi feito cardeal). O meu horizonte e rumo básicos foram, sem dúvida, na linha do inglês; mas foi a obra do francês (que eu li por volta dos 25 anos, já prof. de Filosofia em Coimbra) que me encheu o ‘Armazém’ de dúvidas e recusas, obrigando-me a repensar, criticamente, toda a Mundividência Cultural do Ocidente, joeirando tudo o que tivesse cheiro e sabor ao Dualismo metafísico-ontológico de Platão e Paulo. 28


É, igualmente, óbvio que a Bíblia começou a ser por mim re-interpretada de modo crítico-criticista. Em 3º lugar, saíram a público os textos do Qumran, em 1947, e os textos da Biblioteca de Nag Hammadí, em 1945. A chancela final residia aí. Esta última/3ª fase, constituiu o ouro sobre o azul! As minhas principais descobertas estavam concluídas. E tudo se achava numa esplêndida coerência harmoniosa. ● A Questionação do Moderno e da Modernidade tinham, em tal galáxia, de retomar outros planos, projectos e faróis. O que estava dito, escrito e ensinado nas Academias, tinha de ser transformado de fond en comble, para encontrar outros caminhos, dignos da Humanidade, ‒ caminhos de salvação (certamente, não messiânica!...), não caminhos de perdição (nem de apocalipse religioso, nem de apocalipse físico-natural, desencadeado pelas Alterações Climáticas, oriundas do Antropoceno, como nova era geológica, adicionada às anteriores). A ruptura, que, no séc. XVII, era suposta ser a marca específica do Moderno e da Modernidade, era uma solução fruste e falaciosa. A valorização máxima do Tempo presente, em confronto com a Antiguidade e a Medievalidade, mesmo entendida em termos de rotura, não constituía a solução adequada, tanto para a Espécie humana, qua tal, como para o bom funcionamento das Sociedades humanas. Do ponto de vista semântico, moderno, na sua raiz etimológica, é formado a partir do Latim modus modus (v.g., o modo como a pessoa se apresenta ou reage…), que por sua vez está referenciado ao substantivo mos, moris: costume e no plural mores = os costumes ou usanças do povo. Passa-se uma operação simétrica no Grego: aí, moda dizse έøos,ous, que tem o mesmo significado: costumes e usos. Há, pois, um certo paradoxo (para não dizer contradição) entre os significados da Moda, Modo/Moderno. Os dois vectores semânticos cruzam-se em X = continuidade e rotura!... Assim, é o próprio hibridismo da linguagem que nos impõe a decisão, a opção individual-pessoal. Não somos, por isso, joguetes nas mãos do destino. Esta ideia semântica do Moderno e da Modernidade veio a ser investigada e aprofundada pelo filósofo argelino Jacques Derrida (o fundador da Escola filosófica da Desconstrução) sob a categoria lexicográfica e filosófica do Presente. É, pois, um substantivo que faz a referência original/originante ao Tempo. Tal categorema assume uma importância decisiva, porquanto a própria História, que envolve as três dimensões temporais (passado, presente e futuro) é sempre elaborada ou reelaborada no Tempo presente, ou seja, por Sujeitos humanos vivos, dotados, por suposto, de Consciência reflexiva e crítica. Nesta terceira fase da Progressão (psico-sócio-histórica) é, por conseguinte, a Consciência, enquanto realidade ternária, que tem de assumir o centro do palco, vir para 1º plano: ela constitui, mesmo, o núcleo dos núcleos do C.E.H.C., e sua mensagem e programa de Investigação: Sujeito/Objecto/Consciência como testemunha/testamento, da operação-transacção entre o Sujeito do Conhecimento e o Objecto conhecido. Deus, enquanto Divindade extrínseca e transcendente ao Universo, acaba, assim, por redundar num non-sens. Por quê? Porque o nosso paradigma ou padrão da Espécie humana é o ‘Homo Sapiens//Sapiens’, não o ‘Homo Sapiens tout court’. 29


● Tendente a acertar cartas com o Futuro, em termos honestos e decisivos, o chamado ‘Clube de Roma’ foi organizado, fundado e constituído, em Abril de 1968, por iniciativa (primeira) do Economista italiano Aurelio Peccei, com o objectivo de estudar o futuro da Humanidade (em todos os azimutes), o qual se encontrava gravemente ameaçado, por um Crescimento económico imoderado, e enleado numa catá-trofe ecológica sem precedentes. Por essa razão, houve uma razão muito séria para, a partir de 1953, dados os efeitos e consequências que os Humanos e as Sociedades humanas desencadearam sobre o Planeta Terra, darem o nome de ‘Antropoceno’ à última era geológica, esta mesma em que ainda sobrevivemos. O Clube considerava-se aberto a toda a gente interessada: homens ou mulheres de negócios, universitários, académicos de todos os sectores de pesquisa e investigação, empenhados, por uma razão ou outra, na problemática em causa: a saga ‘civilizatória’, do Carbono e dos efeitos de estufa; e o aquecimento global (crescente desde meados do séc. XVIII, desde os inícios da chamada ‘revolução industrial’), que já está ostentando consequências graves nas inundações das faixas habituais nos litorais dos territórios. O Clube produziu, logo desde os inícios, relatórios científicos, recomendações sócio-políticas, bem como um Livro especial, que agregava os estudos e as análises críticas principais ou de maior interesse. Não se esqueceu de arrolar todo um conjunto de boas e grandes orientações para o Futuro, imediato e a médio prazo. Em síntese, o Livro (que se chamava ‘Limites ao Crescimento’ e foi editado em 1972), chegava a propor e a recomendar o chamado ‘crescimento zero’ ou ‘crescimento nulo’, ‒ em contraponto ao crescimento (económico…) exponencial, que tem sido a regra desde os inícios da ‘era industrial’. O crescimento ‘zero’ não é uma noção para se entender à letra, sem mais. Há sempre uma dinâmica, a da própria vida, que não se pode recusar. Os pais têm filhos e netos, habitualmente. Há, pois, um imperativo categórico moral e social, que leva os anciãos a acompanharem e promoverem as sucessivas gerações. O que se pretende significar com esse princípio é o maldito princípio do Capitalismo, que as pessoas se entreguem à acumulação e a pressupor (erradamente) que todas as riquezas da terra são pertença e propriedade de cada geração vivente!... Ora, é bem sabido de todos (quando disso se toma consciência) que, nesta ordem de seguimento das coisas, o equilíbrio ecológico não é respeitado, nem, igualmente, há capacidade de preservar as ‘reservas naturais’ (em todos sectores), de que vão precisar as futuras gerações. Dir-se-ia que o Planeta está a saque… e as actuais sociedades já são mais selvagens que civilizadas!... A cartilha que impera é a religião (laica) do Objectivo-Objectualismo mais estrito e estúpido, o qual descura e despreza, totalmente, os objectivos e os justos e bons interesses da órbita dos Sujeitos Humanos qua tais, por forma a satisfazer as suas necessidades vitais e carências essenciais. Por que foi o Ocidente pioneiro e protagonista (principal e hegemónico) da Civilização que marcou (para o bem e para o mal…) as Sociedades Humanas?! Para se poder dar uma resposta cabal a esta Quaestio, é necessário ler e meditar o texto do Prof. Pierre Musso, titulado ‘A Indústria Nasceu nos Mosteiros! (Na Cultura do Ocidente)’, (que surgiu in ‘Le M.D.’ de Julho de 2017, p.3). Esse texto, não sem uns certos laivos de cinismo, foi por nós apropriado e traduzido e comentado, na medida em 30


que é um texto padrão, que obriga, sobre ele, a tomar posição crítica. Fizémos isto in ‘Mudar de Deus’, Edicon, 2018, São Paulo (Br.), pp.129-135. Em jeito de resumo, escrevíamos nós a começar (p.129): “Fazer da Empresa o coração das sociedades: este projecto esclarecido por M. Émmanuel Macron) é ordinariamente identificado ao neoliberalismo contemporâneo. Ele marca, na realidade, o acabamento de uma longa história. A da racionalização do trabalho e do tempo, que começa nos mosteiros do séc. XIII. Bem como a da edificação de uma crença comum na salvação, mediante o processo industrial”. No nosso último parágrafo, que é de P.M., pode ler-se: “Numa sorte de moto contínuo, M. Macron adopta a lógica da empresa para tentar regenerar a política, enquanto Zuckerberg explorta a sua visão industrialista, a fim de orientar a sociedade mundial. Um dos gurus da Silicon Valley, co-fundador da Singularity University, financiada pela Google, M. Peter Diamandis, esclareceu esta troca de hegemonia: ‘Eu creio muito mais no poder dos empresários do que no dos homens políticos, e mesmo da política tout court’. O ‘Siliconismo’ incarna, assim, a última variante liberalo-libertária da absorção do político pela indústria”. Ambos os hibridismos estão saturados de obstáculos e perversidades. Estas questões são demasiado complexas, para serem simplesmente argumentadas e resolvidas às escalas macro!... Nunca como hoje, o Indivíduo-Pessoa/Cidadão esteve tão manipulado e reduzido a zero, quando, afinal, é por Ele que deve começar, ter a sua origem, uma Sociedade e um Mundo humanizados. O texto de Pierre Musso, a que acima se faz referência, não se esqueça que ele está, historicamente, configurado na órbita de todos os Cristianismos paulinos, segundo a gramática do Objectivo-Objectualismo, a Cultura do Poder-Dominação d’abord, em suma, o almanaque do ‘Homo Sapiens tout court’. O próprio Progresso revolucionário, ‒ a própria Revolução Francesa mostrou-se inepta e muito longe de adoptar a cartilha adequada para superar e resolver as contradições societárias e os problemas sócio-históricos, que encontrou no seu caminho de 10 anos.

● Os robôs, plenamente autómatos (também chamados ‘andróides’) e a necessária adaptação dos Trabalhadores às novas máquinas. Factos (no horizonte do Sistema Capitalista): ‒ As novas desigualdades sócio-profissionais, que surgem; ‒ Os despedimentos em massa dos operários não qualificados para o efeito; ‒ As Desigualdades socialmente reforçadas em virtude da falta de adequação entre os trabalhadores humanos e os ‘andróides’; ‒ Não falemos de ‘Inteligência Artificial’, porque essa é uma falácia, uma noção errada e falsa. Em primeiro lugar, duas questões ético-sociais, que precisam ser resolvidas com urgência: a) Os novos trabalhadores em causa carecem de ser preparados para a boa adaptação aos robôs: Isso é feito nas Escolas Superiores Politécnicas ou, como solução eventual de remedeio, numa Oficina/Escola criada na própria Fábrica; b) tem de haver, a nível nacional, um salário mínimo garantido, para obstar a que os trabalhadores des31


pedidos fiquem, sem qualquer salário ou fonte de rendimento. Desde os inícios da Robótica, esse é um princípio sócio-económico inquestionável! Agora: a co-habitação homem-máquina robótica tem de ser preparada com adequação, por forma a não continuar a desumanizar a humanidade, como se fazia nos tempos da escravatura e da servidão. ‘Humanizar a máquina implica a desumanização da humanidade’ é uma metáfora do florilégio verbal, que nada resolve e deixa tudo na mesma!... É a linguagem típica do Sistema capitalista e seu horizonte ideológico. A teoria de que os robôs viriam a substituir, apenas, os profissionais indiferen-ciados e menos qualificados é uma pura ingenuidade… De resto, há que contar com as barreiras à digitalização. Os operários não são objectos/máquinas!... Um estudo da CB Insights ‒ escreve Cátia Mateus (in ‘Exp./Eco.’, 24.2.2018, p.30) ‒ “garante que a automação e a robótica, decorrentes dos avanços da inteligência artificial, empurrarão para o desemprego mais de 10 milhões de profissionais, nos próximos 5 a 10 anos; a tecnológica Dell vem agora afirmar que o futuro do emprego passa, afinal, por uma cooperação homem-máquina e não, necessariamente, por uma substituição. […] A empresa garante que, em 5 anos, o conceito de ‘humanos virtuais’, capazes de trabalhar lado a lado com os profissionais, não será pura ficção científica”. Perante as numerosas desigualdades sócio-profissionais criadas, tem de saber-se que as novas capacitações profissionais têm de ser preparadas à la longue, nas Escolas e Universidades e Politécnicos. É que se chega, no processo tecnológico inovativo, a um estádio operativo, onde as desigualdades já não residem entre qualificados e não qualificados, mas nas próprias competências, que uns dominam e outros não. Por outras palavras, os que detêm competência para tecnologias mais avançadas são mais procurados pelos empresários ‘de ponta’, em confronto com os outros. A concorrência entre os próprios trabalhadores é extremamente potenciada. Escreve, aí, Cátia Mateus (ibidem): “Na análise do impacto da revolução tecnológica actual, face às anteriores, e da chegada da ‘inteligência artificial’ (IA) ao mundo do trabalho, nem todos os especialistas partilham da mesma visão. Os mais optimistas argumentam que o papel dos robôs não é diferente do desempenhado pelas tecnologias, que os antecederam, e que os receios de substituição do homem pela máquina são infundados. Outros reconhecem aos robôs maiores riscos, já que podem substituir tarefas cognitivas e não apenas mecânicas”. Logo a seguir vamos delirar com as confusões emergentes, nas situações criadas. C.M. cita o economista Jason Furman (da Harvard Kennedy School e do Peterson Institute for International Economics) a defender a tese de que ‘mesmo que a inteligência artificial seja similar às anteriores vagas de automação, isso não deve servir de conforto, já que os avanços tecnológicos recentes trouxeram inúmeros benefícios, mas também contribuíram para uma desigualdade crescente e uma quebra da força de trabalho’. E C.M. continua o seu texto, agora com mais sensatez do que antes: “Os humanos continuam a apresentar vantagens em relação às formas de ‘inteligência artificial’, sobretudo em tarefas que envolvem a inteligência emocional e social ou a criatividade, detenham ou não os profissionais qualificações superiores. Mas os últimos anos têm demonstrado um declínio acentuado dos salários para os profissionais” (ibidem). ‒ O que não deveria acontecer. 32


Ora, a diminuição recente dos salários, nestas situações, é a expressão de um Capitalismo ainda mais desregulado do que ele já é por natureza… Além disso, a produtividade, que já é marcada apela actual e crescente quebra da força de trabalho, não é medida, propriamente e só, pela tecnologia supostamente superior. Não falava já K. Marx, (in ‘Das Kapital’) da chamada ‘Baixa tendencial, progressiva, da Taxa de Lucro’?!... Esta é uma problemática tão delicada, que deveria impor uma cartilha de avaliação nova e diferente: a) os operários devem, antecipadamente, adequar-se às máquinas, consoante o seu estádio de automação: em Economia política, a produtividade define-se como segue: “relação entre a quantidade ou valor produzido e a quantidade ou o valor dos factores de produção aplicados à produção” (Dic. Houaiss da Língua Portuguesa). Eliminar operários, nestas circunstâncias, é inverter totalmente o processo económico: é fazer discriminação esclavagista; b) não devem os empresários pôr um grupo de trabalhadores contra outro grupo (que logo acabam por despedir…), por causa das novas máquinas que chegaram. c) É justamente, por causa destas situações/padrão, que os actuais Governos têm a obrigação ética elementar de estabelecer um decente Salário mínimo nacional, com vista a não deixarem no desemprego milhares de trabalhadores. Eis também por que o Sistema Capitalista deverá ser superado, uma vez que, também ele, se está a revelar incapaz de resolver os problemas das Alterações Climáticas.

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EM TORNO DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

N.B.: Três Lições estruturantes em que é preciso e urgente meditar. A) Já dizia Alessandro Manzoni (1785-1870), o célebre Autor de ‘Os Noivos’, que o ‘bom senso’ não se deve confundir com o ‘senso comum’ (o ‘common sense’, que em inglês até pode encerrar os dois sentidos…). B) Inspirado em Primo Levi (1919-1987), o famoso Autor do ‘Se Isto é um Homem!...’: sobrevivente do Lager de Auschwitz, (quando este foi encerrado em Janeiro de 1945), no seu segundo Livro da trilogia (o último que ele compôs, 1986, um ano antes do suicídio), ‘Os que Sucumbem e Os que se Salvam’ (editado em italiano pela Einaudi, em 1986, e em 2018 pela D. Quixote), nas pp.31-32, deixou-nos uma Lectio, que nós podemos resumir desta forma: É absolutamente necessário manter bem distintas, na Consciência e na Linguagem, a ‘boa fé’ e a ‘má fé’. A Honestidade humana pode muito bem ser definida desta forma. E de quanta honestidade têm necessidade, sobretudo, os políticos e os cientistas!... A maior desgraça que ocorreu à Modernidade Ocidental e a estigmatizou foi a crença absolutizada do pensamento objectivo e neutro. Foi a cartilha da religião laica do Objectivo-Objectualismo, que ela seguiu… Isso destilou a sua índole: de acordo com os seus interesses (pessoais ou profissionais…), ora se põe e actua de ‘boa fé’, ora de ‘má fé’. C) Os Humanos são estruturalmente constituídos por três partes (falamos do ‘Homo Sapiens//Sapiens’, não do ‘Homo Sapiens tout court’: 1. O ‘Sensorium’, que preenche 3/10 da esfera; 2. A Racionalidade/Inteligência que ocupa 3/10 da esfera (e que já o próprio Aristóteles considerava a dimensão essencial, ao definir o homem como ‘animal racional’); 3. A Imaginação, que preenche 4/10 da esfera, e é assessorada pela faculdade nobilíssima da Memória. É a Memória, associada à Imaginação, que fundam e constituem a INTERIORIDADE dos Seres Humanos, qua tais.

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● De nosso conhecimento, o melhor Livro, até hoje escrito, sobre a vastíssima e dificílima Problemática das 'Alterações Climáticas’(foi este o título atribuído a esta Problemática, pela própria Conferência Mundial sobre as Mudanças Climáticas, realizada em Paris, em Dez. de 2015) é, sem dúvida, o da Profª canadiana NAOMI KLEIN, com o título ‘Tudo Pode Mudar’; em subtítulo expressivo: ‘Capitalismo vs. Clima’. Por algumas razões sérias, o Livro traz na capa e na contracapa os elogios, que lhe foram feitos: ‘Bestseller’ ‒ escreveu o New York Times; ‘Livro do Ano’ (no Observer); a Time escreveu: ‘Este é talvez o livro mais importante alguma vez escrito sobre as alterações climáticas’. Novamente The Observer: ‘uma escritora corajosa e empenhada, que merece ser lida’; The Financial Times: ‘Naomi Klein é uma destacada defensora do ambiente. Uma autora talentosa, que descreve esta problemática na perfeição’; Guardian: ‘Um dos livros do ano. As Alterações climáticas, tudo o que delas resulta, e ainda a crescente toxicidade do planeta não podem ser negadas’; The New Yorker: ‘uma abordagem cativante às alterações climáticas, exigindo reformas radicais e imediatas’. O Editor tem um texto de avaliação mais longo, mas que interessa, igualmente, referir: “A ciência aponta o ser humano como o principal causador das alterações climáticas. Os governos dos países, e em particular o sistema económico, não têm considerado o clima como uma prioridade. Mas será que está nas nossas mãos inverter a situação? Se cada um de nós desenvolver o sentido crítico, se estiver a par dos dados científicos, se se mantiver informado, poderá quebrar o ciclo da destruição. E é precisamente isto que Naomi Klein, conhecida escritora e jornalista, nos apresenta em Tudo Pode Mudar, bestseller do New York Times: uma mudança profunda de paradigma civilizatório, para que ainda seja possível recuperar o planeta”. (O sublinhado é nosso em boa parte). Em 2006, o ex-Vice-Presidente Al Gore escreveu, também, um Livro sobre a Problemática das Alterações Climáticas: deu-lhe este título fruste… e, para nós, que o lemos e conservamos na nossa enorme Biblioteca, frustrante: ‘Uma Verdade Inconveniente’. Não foi capaz, criticamente, de chamar o Sistema Capitalista a terreiro, quanto mais não fosse para facultar conteúdo sério à noção de era geológica nova, à noção – categoremática de ‘Antropoceno’ (que já vem de 1953). De resto, nesta matéria, sobre Al Gore, também não é muito lisonjeira a opinião da nossa inteligente Autora. (Cf., no livro, p.59). Eis por que o nosso Trabalho, nesta Parte deste nosso Livro, irá consistir nos respigos essenciais e mais importantes e decisivos, a partir da Obra de NAOMI KLEIN, que nunca será de mais lembrar e enaltecer. Nesta grande área, há, entretanto, um Livro (de 871 pp.) que, em termos históricos, não se pode ignorar. É do historiador britânico (docente em várias Universidades dos U.S.A., cuja leitura nos ilustra magnificamente sobre as matérias. Tem por título o enunciado: ‘GLOBAL CRISIS: War, Climate Change & Catastrophe in the Seventeenth Century’ (ed. da Yale University Press, New Haven and London, 1914). Trata-se de uma espécie de Apocalipse, ocorrido em meados do séc. XVII, com factos, reflexões e apontamentos, supremamente úteis e fecundos, para encarar, séria e honestamente, o nosso presente (trágico…) e o novo ‘apocalipse’ das actuais e crescentes Alterações Climáticas. 35


Nessa Catástrofe do séc. XVII, morreu cerca de 1/3 das populações humanas… Chamaram-lhe, na época, ‘General Crisis’, que vitimou muita gente com a fome endémica, e já então se colocava, claramente, o problema do aquecimento da atmosfera e das realidades físico-biológicas do Planeta, exactamente como resultado das transformações, que o Trabalho humano e as indústrias exerciam sobre a Terra. Também houve motivos para rotular essa época de ‘Little Ice Age’. Tudo isso, como é sabido, ocorrido muito antes de o Sistema Capitalista ter entrado, formalmente, no 1º palco da História das Sociedades humanas (o que veio a ocorrer, tão só, na 2ª metade do séc. XVIII).

* ● Será que humanizar a Máquina (o Robô…) significa ou implica desumanizar a Humanidade?!... De modo algum. Cada qual no seu sítio e função. Pressupor o contrário é igual a funcionar segundo a cartilha do uniformismo e de acordo com o padrão (ainda vigente… infelizmente, do ‘Homo Sapiens tout court’). Em termos psico-sócio-históricos, Julia Ort está prenhe de razões: ‘Slaves: The Capital that made the Capitalism’. Na verdade é isso mesmo. As Sociedades capitalistas forjam, estruturalmente, toda a sorte de Desigualdades sociais. É o Lucro (egoísta) d’abord, que lhes interessa… As pessoas são tratados como coisas. As Sociedades socialistas (a haver… porque as passadas não o eram!), autenticamente socialistas consideram a Igualdade social dos cidadãos como o seu estatuto ou condição principal; e o que promovem é a Igualdade, não a Desigualdade. E até são capazes de justificar, perfeitamente, o axioma: ‘O que é diferente deve ser tratado de modo diferente’. São sobejamente conhecidas as ligações entre a Escravatura (histórica… e presente) e as leis do Abolicionismo, na 1ª metade do séc. XIX, que emergiram na Velha Albion (o Império maior e mais potente de então), em tempos de atmosfera social liberalista, dum lado, e do outro, o Sistema capitalista e as chamadas Alterações Climáticas em curso. Por que é que, na História moderna recente (séc. XX), em termos sócio-económicos, o Mundo foi dividido segundo as quatro categorias conhecidas: ‘Primeiro Mundo’, ‘Segundo Mundo’, ‘Terceiro Mundo’, e, ainda um ‘Quarto Mundo’?!... As próprias leis do Abolicionismo foram dribladas pelas Grandes Potências, e o que emergiu, a seguir, até hoje, foi o Neo-colonialismo, o Neoliberalismo e, no caso concreto israelense, a grande série dos ‘colonatos’. O Imperialismo das Grandes Potências, esse prossegue, sem que a O.N.U. lhe ponha cobro! Escreve, com acerto, Naomi Klein (ibi, p.18): “A escravatura não era uma crise para as elites britânica e americana, até que o abolicionismo a transformou numa. A discriminação racial não era uma crise, até o movimento dos direitos civis a ter transformado numa. O apartheid não era uma crise, até o movimento antiapartheid o ter transformado numa. “Do mesmo modo, se um número suficiente de nós deixar de fazer vista grossa e decidir que as alterações climáticas são uma crise digna de níveis de resposta ao jeito do Plano Marshall, então estas tornar-se-ão uma e a classe política terá 36


de reagir, quer disponibilizando recursos, quer contornando as regras do mercado livre, que se revela-ram tão flexíveis, quando os interesses das classes dominantes e das elites estão em perigo”. O Povo esclarecido está em estado de choque!... E o fenómeno do Poder está sob a ameaça da dispersão!... “Muitos de nós estamos a ficar muito melhores no que respeita a fazer frente a quem, cinicamente, explora as crises para roubar a esfera pública” (eadem, ibi, p.22). “Estou convencida de que as alterações climáticas constituem uma oportunidade histórica numa escala ainda maior. Como parte do projecto de redução das nossas emissões para os níveis que muitos cientistas recomendam, temos uma vez mais a oportunidade de propor políticas, que melhoram drasticamente vidas, diminuem o fosso entre ricos e pobres, criam números elevados de bons empregos e reforçam a democracia a partir do zero. Em vez de ser a expressão máxima da doutrina do choque ‒ um frenesim de apoderamento de novos recursos e repressão ‒ , as alterações climáticas podem ser o Choque do Povo, em golpe vindo de baixo. Podem dispersar o poder [operar a descentralização, própria dos regimes democráticos] para as mãos de muitos, em vez de o consolidar nas mãos de uns quantos, e expandir radicalmente os recursos comuns, em vez de os leiloar aos pedaços. E onde os doutores do Choque da Direita exploram as emergências (quer reais quer fabricadas) a fim de aprovar políticas, que nos tornam ainda mais propensos às crises, as transformações discutidas nestas páginas fariam precisamente o contrário: iriam ao cerne da razão pela qual enfrentamos crises em série, e deixar-nos-iam, simultaneamente, com um clima mais habitável do que aquele para o qual nos encaminhamos e uma economia muito mais justa do que aquela que temos presentemente” (eadem, ibi, pp.22-23). As alterações climáticas acabam por destruir, no Planeta, muitas espécies vivas; e vão tornar-se numa crise existencial e destrutiva da própria Espécie humana. “Em 2011, a habitualmente calma Agência Internacional de Energia (AIE) publicou um relatório onde dizia que, na realidade, estamos a caminhar para os 6º C de aquecimento. E, nas palavras do economista-chefe da AIE: ‘Toda a gente sabe, incluindo as crianças do ensino básico, que tal terá implicações catastróficas para todos nós’. (As evidências indicam que 6º C de aquecimento provavelmente irão desencadear vários grandes pontos de ruptura ‒ não só aqueles mais lentos, como a já referida desagregação do manto de gelo da Antártida Ocidental, mas possivelmente mais abruptos como libertações maciças de metano do gelo perpétuo do Árctico.) O gigante de consultoria Pricewaterhouse Coopers publicou, igualmente, um relatório a avisar as empresas de que nos encaminhamos para ‘4º C, ou mesmo 6º C’, de aquecimento” (eadem, ibi, p.28).

● A situação actual, mundial, do Neoliberalismo capitalista e a Comunicação Social (que lhe faz eco...) impedem que a Problemática em causa comece a ser abordada honestamente e com a necessária seriedade científica. “Julgo que a resposta é muito mais simples do que muita gente nos levou a crer: não fizémos as coisas que são necessárias para baixar as emissões, porque essas coisas 37


entram fundamentalmente em conflito com o capitalismo desregulado, a ideologia dominante em todo o tempo, durante o qual nos temos esforçado por encontrar uma saída desta crise. Estamos encalhados porque as acções, que nos iriam dar a melhor hipótese de evitar uma catástrofe ‒ e que iriam beneficiar a vasta maioria ‒ são extremamente ameaçadoras para uma elite minoritária, que tem o domínio sobre a nossa economia, o nosso processo político e a maior parte dos nossos principais meios de comunicação” (eadem, ibi, p.32). Com efeito, “os três pilares da política desta nova era são-nos familiares a todos: privatização da esfera pública, desregulação do sector empresarial e tributação mais baixa das empresas, paga através dos cortes na despesa pública” (eadem, ibi, p.33). ‒ O C.E.H.C. acrescentaria um 4º pilar: ao abrigo da gramática do ‘Homo Sapiens//Sapiens’, a ignorância absoluta da Liberdade Responsável, que nunca deve ser confundida com o ‘livre arbítrio’ da (ideológica) mundividência liberal. E este é um asserto científico e da Evolução da Antropogénese, de que nem os próprios cientistas falam nos seus trabalhos e nos compêndios das respectivas Disciplinas. Falar destes problemas em tempos de ‘mercado livre e desregulado’ é uma heresia política. “O problema fulcral ‒ escreve a Autora (ibi, p.34) ‒ era o facto de o domínio que a lógica de mercado exercia sobre a vida pública durante este período fazer parecer uma heresia política as respostas climáticas mais directas e óbvias. Como, por exemplo, é que as sociedades podiam investir maciçamente em serviços e infraestruturas públicos com teor zero de carbono, numa altura em que a esfera pública estava a ser sistematicamente desmantelada e privatizada?” Os factos indiscutíveis são estes: “O nosso sistema económico e o nosso sistema planetário estão actualmente em guerra. Ou, mais precisamente, a nossa economia está em guerra com muitas formas de vida na Terra, incluindo a Vida humana. Aquilo que o clima precisa para evitar o colapso é uma contracção no uso dos recursos por parte da humanidade; aquilo que o nosso modelo económico exige para evitar o colapso é expansão sem limites. Apenas um destes conjuntos de regras pode ser alterado, e não é, de certeza, o conjunto das leis da natureza” (eadem, ibi, pp.35-36). Temos de mudar as formas do Poder e as próprias Energias utilizadas: em vez das fósseis do carbono e do gás, as energias renováveis do Sol e dos Ventos e das Ondas, e alguma energia térmica não-poluente. Citando, a propósito, Robert J. Brulle, escreve a nossa Autora: “Se alguma vez quisermos fazer face às alterações climáticas de forma fundamental, é nas soluções radicais do lado social que temos de nos concentrar. A eficiência relativa da próxima geração de células solares é, comparativamente, o que menos importa” (ibi, p.39). “Este livro é sobre essas mudanças radicais do lado social, bem como do lado político, económico e cultural. O que me preocupa não é tanto a mecânica da transição ‒ a mudança da energia suja para a energia verde, de automóveis com um único passageiro para os transportes públicos, de cidades-domitório dispersas para cidades densas e onde se pode caminhar ‒ mas sim as barreiras de poder e ideológicas, que até ao momento impediram que qualquer destas soluções, há muito entendidas, fosse implementada numa escala próxima da que é exigida” (eadem, ibi, pp.39-40). 38


“Durante a pesquisa para este livro ‒ escreve N.K. ‒ fiquei igualmente a perceber que a mudança vai exigir que repensemos a própria natureza do poder da humanidade ‒ o nosso direito de extrair cada vez mais sem enfrentar as consequências, a nossa capacidade de moldar sistemas naturais complexos de acordo com a nossa vontade. Trata-se de uma mudança que contesta não só o capitalismo, como também os alicerces do materialismo, que precedeu o capitalismo moderno, uma mentalidade que algumas pessoas designam por ‘extractivismo’ ” (eadem ibi, p.40). “Assim, este livro propõe uma estratégia diferente: pensar em grande, ir ao fundo da questão e afastar o pólo ideológico para longe do asfixiante fundamentalismo de mercado, que se tornou o maior inimigo da saúde planetária. Se conseguirmos mudar o contexto cultural, nem que seja um bocadinho, teremos alguma margem de manobra para essas políticas reformistas sensíveis, as quais, pelo menos, colocarão os números relativos ao carbono atmosférico no bom caminho” (N.K., ibi, p.41).

● Iniciando a I Parte (das 3 Partes da sua Obra), N.K. inscreveu em epígrafe titular: MAU TIMING, querendo explicitar que as atmosferas ideológicas não constituem ventos fagueiros, para o que se possa e deseje fazer no sentido de alterar in melius as condições climatéricas e a fraca saúde ou mesmo doença da Terra, que leva o timbre do ‘Antropoceno’, como nova era geológica. De base, deixou registado, com cuidado, o estado da Investigação sobre a matéria, na Univ. de Yale. “Os investigadores de Yale explicam que pessoas com visões do mundo fortemente ‘igualitárias’ e ‘comunitárias’ (caracterizadas por uma inclinação para a acção colectiva e para a justiça social, preocupação com a desigualdade e desconfiança do poder empresarial) aceitam esmagadoramente o consenso político no domínio das alterações climáticas. Em contrapartida, aqueles que possuem visões do mundo fortemente ‘hierarquizadas’ e ‘individualistas’ (caracterizadas pela oposição à ajuda do Estado aos pobres e às minorias, forte apoio à indústria e uma crença de que temos o que merecemos) rejeitam esmagadoramente o consenso científico” (ibi, p.53). Segundo as suas próprias declarações (ainda recentemente…), há gente como o presidente norte-americano, Donald Trump, que não acredita nas ‘Alterações Climáticas’!... São, afinal, os que se habituaram a enriquecer à custa do aquecimento do Mundo, as doenças da Natureza!... Escreve N.K. (ibi, p.65): “Uma das conclusões mais interessantes dos muitos estudos recentes sobre as percepções climáticas é a relação inequívoca entre uma recusa em aceitar a ciência das alterações climáticas e os privilégios sociais e económicos. Na esmagadora maioria, os negacionistas não são apenas conservadores, mas também brancos e do sexo masculino, um grupo com rendimentos superiores à média”. As Sociedades humanas estão a tornar-se cada vez mais brutais e bárbaras, atendendo sobremaneira aos seus próceres e dirigentes. Escreve a Autora: “É muito possível que façamos o mesmo à escala planetária, implementando soluções tecnológicas em temperaturas globais mais baixas, que irão comportar riscos muito maiores para quem vive nos trópicos do que para quem vive no Norte Global. Em vez de reconhecer que 39


estamos em dívida para com os migrantes, que foram forçados a fugir das suas terras, em virtude das nossas acções (e inacções), os nossos governos irão construir fortalezas cada vez mais high-tech e adoptar leis anti-imigração ainda mais severas” (ibi, p.69). “Durante muito tempo, os ambientalistas falaram das alterações climáticas como um grande equalizador, a única questão que afectava toda a gente, ricos ou pobres. Era suposto juntar-nos. No entanto, tudo indica que estamos precisamente a fazer o oposto, estratificando-nos ainda mais numa sociedade de pessoas com dinheiro e sem dinheiro, dividida entre aqueles cuja riqueza lhes proporciona uma medida não insignificante de protecção contra condições climáticas extremas, pelo menos por agora, e aqueles deixados à mercê de Estados cada vez mais disfuncionais" (eadem, ibi, p.72). Escreve N.K., com muita sensatez (ibi, p.83): “A cultura que triunfou na nossa era empresarial lança-nos contra o mundo natural, o que pode facilmente dar azo a desespero. Mas se há razão para os movimentos sociais existirem é não aceitar os valores dominantes como fixos e imutáveis, mas sim apresentar outros modos de vida ‒ lutar e vencer um combate de visões culturais do mundo. Isso implica esboçar uma visão do mundo, que compita directamente com a que está aflitivamente em exibição na conferência Heartland e em tantas outras partes da nossa cultura e que encontre eco na maioria das pessoas do planeta por ser verdade: que não somos independentes da natureza, mas sim parte dela. Que agir colectivamente por um bem maior não é suspeito e que os projectos comuns de ajuda mútua são responsáveis pelos maiores feitos da nossa espécie. Que a ganância tem de ser disciplinada e contrabalançada pela lei e pelo exemplo. Que a pobreza no meio da abundância é inadmissível” ‒ A não ser que se trate de casos virtuosos à La Boétie.

● É o próprio fundamentalismo do mercado livre, que está contribuindo para o sobreaquecimento global, directa ou indirectamente. É sempre indispensável a esfera pública de um bom Governo a comandar as operações. O abatimento ou a retirada das alfândegas constituíram um dado positivo, na medida em que proporcionaram a livre circulação de pessoas e mercadorias. Mas, por outro lado, o necessário controlo, que era feito anteriormente deixou de cumprir funções indispensáveis. Escreve N.K. (ibi, p.87): “Durante as guerras da globalização no final da década de 1990, início da década de 2000, eu costumava acompanhar de muito perto as leis comerciais internacionais. Mas admito que, quando mergulhei na ciência e na política das alterações climáticas, deixei de prestar atenção ao comércio. Disse para mim mesma que havia limites para o jargão abstracto e burocrático, que uma pessoa poderia absorver e a minha quota estava cheia de metas de mitigação das emissões, tarifas de aquisição e a sopa de letras das Nações Unidas em matéria de Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Alteração do Clima e Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas”. ‒ A ilusão tornou-se, em tal contexto, patente e monstruosa. (A Autora revelar--nosá, speciatim, tudo isto na II Parte do seu Livro). 40


Veremos, agora, como o apoio público da governação nacional e a dimensão local dos produtos não podem ser obliterados no processus da globalização: As razões estavam do lado do Japão e dos USA. A OMC divulgava a informação de que era imperioso manter a meta acordada dos 2º C. Ora, “uma das principais disposições em quase todos os acordos de comércio livre envolve algo chamado ‘tratamento nacional’, que exige que os governos não façam qualquer distinção entre bens produzidos por empre-sas locais e bens produzidos por empresas estrangeiras além-fronteiras. De facto, favorecer a indústria local constitui ‘discriminação’ ilegal. Isto foi um foco de conflito nas guerras do comércio livre na década de 1990, precisamente porque estas restrições impedem efectivamente os governos de fazer o que o Ontário estava a tentar fazer: criar emprego impondo a origem local dos produtos como uma condição para o apoio público. Esta foi apenas uma das muitas batalhas fatídicas, que os progressistas perderam nesses anos” (eadem, ibi, p.93). Que nos dizem as religiões populares/arcaicas? N.K. inspira-se no ensaio de Santon, para concluir: “Em muitas sociedades pagãs, a Terra era considerada uma mãe, uma dadora fértil da vida. A natureza ‒ o solo, a floresta, o mar ‒ era dotada de divindade e os mortais estavam subordinados a ela. A tradição judaico-cristã introduziu um conceito radicalmente diferente. A Terra era a criação de um Deus monoteísta [paradigma do patriarcado, iniciado em ca. de 3.500 a.E.c.] que, depois de lhe dar forma, ordenou aos seus habitantes, nas palavras do Génesis: ‘Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra, subjugai-a e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves do céu e sobre todos os seres vivos que se deslocam sobre a Terra’. A ideia de domínio podia ser interpretada como um convite para usar a natureza como uma conveniência” (ibi, p.99). Mas há, afinal, quem faça uma justa crítica ao ‘comércio livre’. Ouçamos N.K., na sua pertinente citação: “ ‘Uma das razões pelas quais estamos no meio de uma crise climática é este modelo de globalização’, afirma Margrete Strand Rangers, vice-presidente executiva do Public Citizen, um instituto político sediado em Washington, que tem estado na vanguarda da luta contra o comércio livre. E isso, afirma, é um problema que exige ‘uma reformulação fundamental da nossa economia, se quisermos fazer coisas como deve ser’ ” (ibi, p.106). Acentuando esta mesma perspectiva, N.K. traz à liça outra senhora, que assevera: “Segundo Llana Solomon, analista comercial do Sierra Club, esta não é uma luta que o movimento climático possa evitar. ‘Com vista a combater as alterações climáticas, há uma necessidade real de tornar locais as nossas economias outra vez, e pensar sobre como estamos e o que estamos a adquirir e como é produzido. E a regra mais básica da actual lei do comércio é que não podemos privilegiar o que é nacional em detrimento do que vem de fora. Então como é que abordamos a ideia de ser necessário incentivar as economias locais, aliando políticas de empregos verdes locais com políticas de energias limpas, quando tal é interdito na política comercial?... Se não reflectirmos sobre a forma como a economia está estruturada, então nunca iremos à verdadeira raiz do problema’ ” (ibi, p.113).

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● É preciso planeamento político: pôr de parte a superstição da ‘mão invisível’ schmidtiana; em suma, assumir os movimentos do Mundo em plena Liberdade Responsável. A Autora titulou este cap. 4 da I Parte, como segue: ‘Planeamento e Proibição’, e em subtítulo: ‘Uma palmada na mão invisível, construir um movimento’. E, no 1º parágrafo em exergo, ela escreveu: “O pós-modernismo cortou o presente de todos os futuros. As notícias diárias contribuem para isso cortando o passado. O que significa que a opinião crítica muitas vezes está órfã no presente”. ‒ É uma espécie de círculo quadrado!... N.K. começa, aqui, o seu texto como segue: “Para perceber em que medida a ideologia do mercado livre continua a sufocar o potencial para a acção climática, é conveniente passar em revista o momento mais recente, quando a necessária alteração transformadora do seu âmbito parecia ser uma possibilidade real, mesmo nos Estados Unidos. Esse momento foi 2009, o pico da crise financeira mundial e o 1º ano da presidência Obama” (cf. ibi, p.153). A Autora está empenhada em estabelecer o real status quaestionis, ainda que a posteriori. “Este foi um momento em que a história se desenrolou em passo rápido, quando quase tudo parecia possível, para o melhor e para o pior. Uma grande parte do que fazia que os cenários melhores pareciam possíveis foi o mandato democrático decisivo que Obama acabara de ganhar. Ele fora eleito com base numa plataforma que prometia reconstruir a economia ‘do povo’ e tratar as alterações climáticas como, nas palavras dele, ‘uma oportunidade, porque se criarmos uma nova economia energética, podemos criar cinco milhões de novos empregos […]. Pode ser um motor que nos conduz ao futuro da mesma maneira que o computador foi o motor do crescimento económico nas últimas décadas’. Quer as companhias de combustíveis fósseis, quer o movimento ambiental, tomaram como dado adquirido que o novo presidente iria apresentar uma lei climatica arrojada no início da sua presidência” (eadem, ibi, pp.153-154). Continua N.K. (ibi, p.159): “Obama, obviamente, não partilha esta visão extremada: como a sua política de cuidados de saúde e outras políticas sociais sugerem, ele considera que o governo deve empurrar os negócios na direcção certa. Ainda assim, continua a ser um produto da sua era antiplaneamento, pois que, quando teve os bancos, os fabricantes de automóveis e o estímulo nas mãos, viu-os como fardos dos quais tinha de se ver livre o mais depressa possível, em vez de uma oportunidade rara para construir um futuro empolgante”. “Mas antes que isso possa acontecer, é evidente que uma batalha de ideias tem de ser travada sobre o direito dos cidadãos de determinar democraticamente o tipo de economia de que necessitam. Políticas que simplesmente procurem utilizar o poder do mercado ‒ tributando ou nivelando o carbono pelo mínimo e afastando-se em seguida ‒ não serão suficientes. Se quisermos estar à altura de um desafio que implica alterar os alicerces da nossa economia, iremos precisar de todos os instrumentos políticos que existem no arsenal democrático” (eadem, ibi, pp.159-160). Planear para criar empregos seria o objectivo real, a funcionar como cavalo de Tróia! “O que sabemos é isto: os sindicatos protegerão sempre ferozmente os postos de trabalho, mesmo que sujos, se estes forem os únicos postos de trabalho oferecidos. Por 42


outro lado, quando a trabalhadores em sectores sujos são oferecidos bons empregos em sectores limpos (como os antigos trabalhadores do ramo automóvel na fábrica Silfab, em Toronto), e são recrutados como participantes activos numa transição verde, então o processo pode acontecer à velocidade da luz” (eadem, ibi, p.160). Segundo o que nos referem as Agências Científicas, o caso é extremamente sério. “Como vimos, os alertas científicos de que estamos a ficar sem tempo para evitar o desastre climático vêm de uma galáxia de organizações científicas credíveis e agências internacionais ligadas ao poder estabelecido ‒ desde a Associação Americana para o Avanço da Ciência à NASA, da Royal Society, da Grã-Bretanha, ao Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas, da Academia Nacional de Ciências dos USA ao Banco Mundial e à Agência Internacional de Energia” (eadem, ibi, p.191). Todos esses alertas ainda não foram tomados em conta… A boa resolução da ‘Questão’ tem o seu prazo indeclinável!... Escreve N.K.: “Al Gore chamou às alterações climáticas ‘uma verdade inconveniente’, que ele definiu como um facto inevitável, que preferíamos ignorar. Todavia, a verdade sobre as alterações climáticas é inconveniente, apenas se estivermos satisfeitos com o status quo, com excepção do pequeno pormenor das temperaturas a aquecer. Se, no entanto, percebermos a necessidade de transformação independentemente das tais temperaturas a subir [ou a descer], então o facto de o nosso rumo actual se encaminhar para um precipício é, de uma forma estranha, conveniente ‒ porque nos diz que era melhor começarmos a fazer essa inversão radical de marcha, e depressa. “Não admira que as pessoas que mais bem compreendem isto sejam aquelas que o nosso modelo económico sempre esteve disposto a sacrificar. O movimento de justiça ambiental, a rede independente de grupos que trabalham com comunidades nas linhas da frente tóxicas das indústrias extractivas ‒ próximo de refinarias, por exemplo, ou a jusante de minas ‒, argumentam sempre que uma resposta robusta à redução das emissões poderia constituir a base de um projecto económico transformador. Na realidade, o slogan há muito adoptado por este movimento foi ‘Alteração do sistema, não alterações climáticas’ ‒ um reconhecimento de que estas são as duas escolhas que enfrenta-mos” (eadem, ibi, p.195). Aqui está, expressamente, a razão de ser do subtítulo do Livro da Autora. A suposta ‘mudança de sistema’ já veio, para a apreciação de alguns, com os ‘socialismos’… Mas todos eles constituíram Sistemas falaciosos e falsos (como os denunciou muito bem J.K. Galbraith, no seu Livro da década de 1960, ‘O Novo Estado Industrial’!... No cap. ‘Para além do Extractivismo’, a nossa Autora procura proceder ao balanço crítico do ‘negacionismo climático’ que há em nós. Escreve, citando Rodrigo Castro e colegas: “O nosso problema é que vivemos num mundo finito e, no entanto, comportamo-nos como se fosse infinito. Crescimento material exponencial contínuo sem limites ao consumo de recursos e população é o modelo conceptual dominante usado pelos decisores dos dias de hoje. Isso é uma abordagem da realidade, que já não se aplica e que começou a colapsar” (ibi, p.201). Medite-se, aqui, nesta sensata e pertinente reflexão de N.K. (p.220): “Karl Marx, por exemplo, reconheceu o ‘fosso irreparável’ entre o capitalismo e as ‘leis naturais da própria vida’, enquanto as académicas feministas há muito reconheciam que a guerra 43


dupla do patriarcado contra os corpos das mulheres e contra o corpo da Terra estavam ligadas a essa separação essencial e corrosiva entre mente e corpo ‒ e entre corpo e Terra ‒ da qual nasceu a Revolução Científica e a Revolução Industrial”.

● Carecemos urgentemente de uma Economia Ecológica! A partir de 1967-8, começou a reunir em Roma, um Grupo de sábios, ‒ a maior parte eram economistas… visto que era mesmo de Economia política que se tratava; e o que os inquietava era um crescimento supostamente infinito num mundo consabidamente finito. A partir das discussões havidas nas reuniões do Clube, chegou-se a um Livro marcante e duradouro, que foi marcando positivamente as gerações até à década de 1990, quando começou a emergir em força o Neoliberalismo capitalista global, na sua ambição… O Livro chamava-se: ‘Os Limites do Crescimento’, e saiu a público, em 1972. É um Livro que está na nossa Biblioteca desde a década de 1980. Tese central do livro, avaliada por N.K. (ibidem): “Se os sistemas naturais continuassem a ser explorados e esgotados à velocidade actual, a humanidade ultrapassaria a capacidade de o planeta sustentar as suas necessidades em meados do séc. XXI”. A derradeira verdade é que “os seres humanos detêm, em última análise, o controlo da Terra , e não o contrário” (ibi, p.231). E a nossa Autora prossegue, numa reflexão muito adequada (ibidem): “Esta é a mesma narrativa que nos garante que, por muito más que as coisas fiquem, vamos ser salvos no último minuto ‒ seja pelo mercado ‒ seja por multimilionários filantrópicos ou por magos tecnológicos, ou, o que é ainda melhor, pelos três ao mesmo tempo” (ibidem). ‒ Ainda não saímos do ôdre psico-sócio-histórico do ‘Homo Sapiens tout court’, para quem o ‘livre arbítrio’ (que não é Liberdade!) é a sua ‘lei do pêndulo’ de Foucault. O que este pensa é: ‘não há limites para o crescimento’!... ‘O que interessa é a lei do Lucro sempre d’abord’!... Ora, “só quando renunciarmos a estas formas de pensamento mágico [N.K. dedica 3 caps., na II Parte do Livro: 6,7,8, justamente ao pensamento mágico] é que estaremos prontos para pôr o extractivismo para trás das costas e construir as sociedades que precisamos dentro dos limites que temos ‒ um mundo sem zonas de sacrifício, um mundo que não seja uma nova Nauru” (eadem, ibidem). No cap. 6, titulado ‘Frutos em vez de Raízes’, a Autora fala-nos da ‘fusão [confusão] desastrosa entre as grandes empresas e os grandes grupos verdes’ (p.235). Vejam só o contrasenso, o absurdo!... No cap. 7, o tema é: ‘Não há messias: não são os multimilionários verdes que nos vão salvar’ (pp.282 e ss.). No cap. 8, o tema é: ‘Obscurecer o Sol: a solução para a poluição é… mais poluição?’ (pp.313 e ss.). Escreve N.K. (ibi, p.240): “Portanto, ponhamos as aves de lado por um instante. Mesmo que algumas tivessem sobrevivido, e mesmo que algumas regressassem no futuro, o facto é que a Nature-Conservancy está no negócio do petróleo e do gás há década e meia. Isto ter acontecido na era das alterações climáticas indica uma dolorosa realidade por trás do falhanço catastrófico do movimento ambiental de combater efecti-vamente os interesses económicos subjacentes à subida em flecha das emissões: grande parte do movimento não está realmente a lutar contra esses interesses ‒ fundiu-se com eles”. 44


Esses falsos ‘grupos verdes’ venderam a alma ao diabo!... Leiamos a paralaxe paradoxal, que nos enquadrou a nossa Autora (ibi, p.259): “Não questiono a vontade de parte destes autodenominados pragmatistas de proteger a Terra do aquecimento catastrófico. Mas, entre os elementos do Instituto Heartland, que reconhecem que as alterações climáticas são uma profunda ameaça aos nossos sistemas económico e social, e, por conseguinte, negam a sua realidade científica, e aqueles que afirmam que as alterações climáticas exigem apenas ligeiros ajustes à actividade normal e, portanto, permitem-se acreditar na sua realidade, não é evidente quem é que está mais enganado” (eadem, ibi, p.259). “Para além de não contribuírem muito para reduzir efectivamente as emissões, estas várias abordagens também serviam para reforçar os valores ‘extrínsecos’ que sabemos serem os maiores obstáculos psicológicos à acção climática ‒ desde a adoração da riqueza e da fama por si mesmas à ideia de que a mudança é algo que é transmitido de cima para baixo pelos nossos ‘superiores’, e não algo que exigimos para nós próprios. Podem, inclusivamente, ter enfraquecido a crença pública na realidade das alterações climáticas causadas pelo Homem” (eadem, ibi, pp.260-261). ‒Daí a emergência da noção de ‘Antropoceno’, enquanto a última era geológica, já a partir de 1953. A nossa Autora não se esquece de verberar a pouca sensatez e a frivolidade com que ae trata toda esta problemática, no livro de Al Gore, ‘Uma Verdade Inconveniente’. Diz ela (ibi, p.261): “Afinal, se as alterações climáticas fossem realmente tão terríveis como Al Gore afirmava em Uma Verdade Inconveniente, o movimento ambiental não deveria pedir ao público que fizesse mais do que mudar de marcas de detergente, ir ocasionalmente a pé para o trabalho e contribuir com dinheiro? Não estariam, antes, a tentar encerrar as empresas de combustíveis fósseis?” Sob o título: ‘O fracking e a ponte em chamas’ (ibi, p.262), escreve N.K.: “Foi a própria indústria do gás que, no início da década de 1980, inventou a expressão que podia ser uma ‘ponte’ para um futuro de energia limpa. Então, em 1988, com a consciência para as alterações climáticas a generalizar-se, a Associação Americana de Gás começou explicitamente a enquadrar o seu produto como uma resposta ao ‘efeito estufa’”. Continua N.K. (ibi, 262-263): “Sabemos agora que o gás natural fracturado pode vazar metano suficiente para que o seu impacto em termos de aquecimento, sobretudo a curto prazo, seja comparável ao do carvão. Anthony Ingraffea, que foi co-autor do estudo inovador de Cornell sobre fugas de metano e que se apresenta como ‘um engenheiro petrolífero e de gás de longa data que ajudou a desenvolver técnicas de fracking de xisto para o Departamento de Energia’, escreveu no New York Times: “O gás extraído de depósitos de xisto não é uma ‘ponte’ para um futuro de energias renováveis ‒ é uma prancha de embarque para mais aquecimento e que nos distancia de investimentos em energia limpa” ”. Sobre a luta dos verdes e o comércio das emissões de gases de estufa. Escreve N.K. (ibi, p.280): “Têm-se escrito muitas análises post mortem sobre o que os verdes fizeram de mal na luta da limitação e comércio de emissões, mas o golpe mais duro veio de um relatório mordaz da socióloga da Univ. de Harvard Theda Skocpol. Ela concluiu que um grande obstáculo ao sucesso foi a ausência de um movimento de massas que exercesse pressão a partir de baixo. ‘Para contrariar a feroz oposição política, os refor45


madores terão de construir redes organizacionais pelo país e terão de orquestrar esforços políticos contínuos, que se estendam muito além dos gabinetes amigos no Congresso, salas de reuniões confortáveis de conselhos de administração e retiros chiques’. Como iremos ver, apareceu agora um movimento climático de base renascido, que está precisamente a fazer isso ‒ e, consequentemente, está a ter uma série de vitórias espantosas contra o sector dos combustíveis fósseis”.

● Ainda acreditas que há Messias?!... E que, por certo, haverá multimilionários verdes, que nos irão salvar?!... Sabias que os messias são próprios do paradigma antropogenésico do ‘Homo Sapiens tout court’?!... O celebrado autor de ‘Uma Verdade Inconveniente’ foi fazer uma visita ao excêntrico fundador do Grupo Virgin, Richard Branson. Converteu-se o multimilionário?!... Ouçamos as suas confidências: “Foi uma experiência e tanto ter um comunicador brilhante como Al Gore a fazer-me uma apresentação particular em Power Point”, escreve Branson sobre o encontro. “Não só foi uma das melhores apresentações a que alguma vez assisti na vida, como foi profundamente perturbador tomar consciência de que estamos potencialmente perante o fim do mundo como o conhecemos […]. Enquanto escutava Gore, percebi que estávamos perante o Armagedão”. (Eadem, ibi, p.282). Que resultou desse encontro entre Gore e Branson? Para o segundo, logo que instaurou uma nova abordagem da Virgin aos negócios, nasceu o Capitalismo de Gaia, ‘em honra de James Lovelock e da sua visão científica revolucionária’ (= ‘a Terra é um único e imenso organismo vivo’, à maneira dos Antigos Gregos). “O Capitalismo de Gaia iria não só ‘ajudar a Virgin a fazer uma verdadeira diferença na década seguinte e, ao mesmo tempo, não ter vergonha de ganhar dinheiro’, como Branson acreditava que tinha o potencial de se tornar ‘uma nova maneira de fazer negócios ao nível global’ ” (eadem, ibi, p.283). Os Himalaias de confusões e ilusões que sulcam esta problemática das Alterações Climáticas!... Escreve N.K. (ibi, pp.204-205): “E a melhor parte, disse [Branson], é que, se estes génios concorrentes decifrarem o código do carbono, ‘ ‘o cenário da desgraça’ desaparece. Podemos continuar a viver as nossas vidas de uma forma bastante normal ‒ podemos conduzir os nossos carros, podemos voar nos nossos aviões, a vida pode prosseguir como habitualmente’. Com efeito, a ideia de que podemos resolver a crise climática sem termos de mudar de alguma maneira os nossos modos de vida ‒ por certo, não viajando menos na Virgin ‒ parecia ser o pressuposto subjacente a todas as diversas iniciativas climática de Branson”. Este é o panorama das crenças estúpidas e erradas de que as tecnologias nos vão resolver tudo e nos vão salvar!... Ora, a geoengenharia, nestas matérias, é o cúmulo das ilusões, da hipocrisia e do mais petrificado obscurantismo. “A geoengenharia encerra a promessa de resolver as preocupações com o aquecimento global por apenas uns quantos milhares de milhões de dólares por ano” (ibi, p.313). Que tremenda Ilusão!... “Este é o estranho paradoxo da geoengenharia. Sim, é exponencialmente mais ambiciosa e mais perigosa do que qualquer projecto de engenharia, que os seres huma46


nos jamais tentaram. Mas é, igualmente, muito familiar, quase um cliché, como se os últimos 500 anos de história humana nos tivessem conduzido, inevitavelmente, a precisamente onde estamos. Ao contrário de reduzirmos as nossas emissões em conformidade com o consenso científico, sucumbir à lógica da geoengenharia não exige qualquer mudança da nossa parte; exige apenas que continuemos a fazer o que fazemos há séculos, só que em muito maior grau” (eadem, ibi, p.325). Nas pp.326-327, do seu Livro, N.K. cita Sallie Chrisholm, uma especialista de craveira mundial em micróbios marinhos no MIT, que diz o seguinte: “Os defensores de investigação na área da geoengenharia pura e simplesmente continuam a ignorar o facto de que a biosfera participa (não reagindo apenas) em tudo o que fazemos e que a sua trajectória não é passível de prever. ‘É um conjunto vivo de organismos (sobretudo microrganismos) que evoluem a todo o instante ‒ um sistema auto-organizatório, complexo, adaptativo’ (no termo estrito). Este tipo de sistemas têm propriedades emergentes, que simplesmente não podem ser previstas. Todos sabemos isso! Contudo, os defensores da investigação em geoengenharia deixam esta questão fora de debate”. “Com efeito, no tempo que passei entre os aspirantes a geoengenheiros, fiquei repetidamente impressionada pela forma como as lições duramente aprendidas sobre húmildade perante a natureza, que remodelaram a ciência moderna, nomeadamente as áreas do caos e da teoria da complexidade, parecem não ter penetrado nesta bolha específica. Pelo contrário, a Geoclique está repleta de homens arrogantes com tendência para se elogiarem uns aos outros pela sua tremenda inteligência”. ‒ Medite-se, v.g., o caso francês de Madame Curie. A própria História é Lição e aviso (ibi, pp.331 e ss.). A American Enterprise Institute (AEI) tem recebido milhões de dólares em donativos. O Projecto de Geoengenharia “realizou diversas conferências, publicou múltiplos relatórios e enviou especialistas, para testemunharem perante audiências do Congresso ‒ tudo com a mensagem repetida de que a geoengenharia não é um Plano B, caso a redução das emissões falhe, mas sim um Plano A. Lee Lane, que durante vários anos foi o principal porta-voz da AEI na matéria, explicou, em 2010: ‘Para aqueles de nós que acreditam que as alterações climáticas poderão, a dada altura, representar uma ameaça séria ‒ e que a contenção das emissões é simultaneamente dispendiosa e politicamente impraticável ‒, a engenharia climática começa a parecer a última e melhor esperança’ ” (cf. ibi, p.344). N.K. cita-nos o autor ambiental Kenneth Brower a proclamar (cf. ibi, p.352): “A noção de que a ciência irá salvar-nos é a quimera que permite à actual geração consumir todos os recursos que quer, como se não houvesse gerações a seguir. É o sedativo que permite à civilização marchar com tanta firmeza para a catástrofe ambiental. Evita a solução real, que reside no trabalho duro, e não técnico, de mudar o comportamento humano”. E, o pior de tudo, diz-nos que, ‘caso a solução falhe, temos para onde ir’ ”. ‒ Ora, esta é uma solução desesperadamente religiosa da pior espécie (superstição pura!...).

● No início da Parte Três (COMEÇAR NA MESMA) da sua Obra, N.K. cita dois parágrafos de texto de Arundhati Roy in ‘The Trickledown Revolution’ (de 2010): 47


Para muitos, é mesmo uma Revolução de lágrimas, porque estamos, efectivamente, perante uma ameaça letal do Sistema Capitalista, tal como a História o conhece!... “No dia em que o capitalismo for obrigado a tolerar sociedades não capitalistas no seu seio e a admitir a existência de limites na sua busca de dominação, no dia em que for obrigado a reconhecer que a sua reserva de matéria-prima não será infinita, será nesse dia que haverá uma mudança. Se houver qualquer réstia de esperança para o mundo, ela não reside em salas de conferências sobre alterações climáticas nem em cidades com arranhacéus. Ela encontra-se junto ao chão, com os braços à volta das pessoas, que todos os dias saem à rua para proteger as suas florestas, as suas montanhas e os seus rios, porque sabem que as florestas, as montanhas e os rios as protegem. O primeiro passo para reimaginar um mundo, que correu tremendamente mal, seria acabar com a aniquilação daqueles que têm uma imaginação diferente ‒ uma imaginação exterior ao capitalismo e ao comunismo. Uma imaginação que possui uma compreensão totalmente diferente daquilo que é a felicidade e a realização. Para conquistar este espaço filosófico, é necessário conceder algum espaço físico para a sobrevivência daqueles que podem parecer ser os guardiães do nosso passado, mas que, na verdade, podem ser os guias para o nosso futuro”. A Autora chama-lhe guerreiros do clima, e está cheia de razões. Sintomaticamente, o título deste cap. 9 é BLOCKADIA (ibi, p.357). Em exergo, ela inscreveu a Declaração da O.N.U. do Rio de Janeiro sobre Ambiente e Desenvolvimento (1992): “Onde houver ameaças de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica total não será usada como uma razão para adiar medidas economicamente eficazes de evitar a degradação ambiental”. ‒ Este é o Almanaque que deverá presidir a todas as discussões e resoluções sobre a Problemática complexa das Alterações Climáticas. O que é e onde se situa BLOKÁDIA?! “O que acontece é que aquela zona já não é um local de veraneio grego, embora os turistas ainda se amontoem nas estâncias turísticas, caiadas de branco, e em tabernas viradas para o mar, com as suas toalhas de mesa de axadrezado azul e chãos pegajosos de ouzo. É um posto avançado de um território que alguns passaram a chamar ‘Blockadia’. Blockádia não é uma localidade específica num mapa, mas sim uma zona de conflito transnacional itinerante que está a surgir cada vez com mais frequência e intensidade, onde quer que os projectos extractivos estejam a tentar escavar e perfurar, quer se-ja para minas a céu aberto ou fracking de gás, quer seja para oleodutos de areias betuminosas” (eadem, ibi, p.359). Tudo se passa numa zona de sacrifício, que se poderá chamar, apropriadamente, de ‘neo-colonialismo’!... “Embora haja certamente riscos novos e ampliados, associados à nossa era de energia extrema (areias betuminosas, fracking de petróleo e gás, perfuração em águas profundas, mineração de carvão com remoção de cumes das montanhas), é importante lembrar que estas indústrias nunca foram seguras nem de baixo risco. Gerir uma economia com base em fontes de energia, que libertam venenos, como uma parte inevitável da sua extracção e refinação, sempre exigiu zonas de sacrifício ‒ subgrupos inteiros da humanidade classificados como não sendo totalmente humanos, o que tornava o seu envenenamento, em nome do progresso, de alguma forma aceitável” (eadem, ibi, p.377). 48


Em Blockádia, praticava-se, por princípio, a virtude da precaução! Mas, em nome do princípio alienígena, de que é às indústrias que cabe a responsabilidade da prova de que os seus métodos são seguros, a situação alterou-se. Escreve N.K. (ibi, p.406): “Porém, em Blockadia, a avaliação de riscos foi abandonada na beira da estrada barricada, substituída por um ressurgimento do princípio da precaução ‒ que diz que, quando a saúde humana e o ambiente estão substancialmente em risco, não é necessária certeza científica absoluta antes de se agir. Mais, o ónus de provar que uma prática é segura não deve ser imputado àqueles que ela poderá prejudicar”. Nas comunidades que conhecem de perto toda esta perversidade do fracking “cada vez mais estas comunidades se limitam a dizer rotundamente: ‘Não’. Não ao óleoduto. Não à perfuração no Árctico. Não aos comboios de carvão e petróleo. Não às cargas pesadas. Não ao terminal de exploração. Não ao fracking. E não somente: ‘Não à minha porta’ (Nimby), mas, como dizem os activistas franceses anti-fracking: ‘Ni ici, ni ailleurs’ ‒ nem aqui nem em lado nenhum. Por outras palavras: chega de novas fronteiras do carbono” (eadem, ibi, pp.406-407). ‒ Nas traseiras ideológicas de todo este processus, está a crença, generalizada nas nossas Sociedades, no paradigma da Espécie, que, segundo o C.E.H.C., dá pelo nome de ‘Homo Sapiens tout court’!...

● No cap. 10 do seu Livro N.K. inscreveu o título: ‘É o Amor que vai salvar este lugar’; e no subtítulo: ‘Democracia, Desinvestimento e o que conquistámos até agora’! Em exergo, uma citação pertinente de Rachel Carson: ‘Julgo que, quanto mais claramente conseguirmos centrar a nossa atenção nas maravilhas e realidades do universo que nos rodeia, menos apetência teremos pela destruição’ (ibi, pp.406-407). Largaremos de vez os vícios carreados pelo ‘Homo Sapiens tout court’. É-nos sócio-eticamente imperioso aprender com os nossos ancestrais, com os indígenas que vemos. Escreve N.K. (ibi, p.414): “Nenhuma promessa de segurança as irá acalmar (essas populações); nenhum suborno será suficientemente grande. E embora este tipo de ligação a um lugar seja certamente mais forte nas comunidades indígenas, onde os laços com a terra remontam a milhares de anos, na realidade é a característica que define Blockádia”. A Archeology Coal, os indígenas do lugar desprezam-na. “E é isso que, no final, irá salvar o lugar. Não será o ódio às empresas de carvão, nem a raiva, mas sim o amor que irá salvar este lugar” (eadem, ibi, p.415, citando uma entrevista com Alexis Bonogofsky). O movimento de Desinvestimento ‒ que até parece ecoar a palavra d’ordem do ‘crescimento zero’ do Clube de Roma (1972) ‒ pretende-se livre de combustíveis fósseis (ibi, p.426). Escreve N.K. (ibi, p.427): “A campanha de desinvestimento baseia-se na ideia ‒ tão convincentemente descrita por Bill McKibben ‒ de que qualquer pessoa que perceba minimamente de aritmética pode olhar para a quantidade de carbono, que as empresas de combustíveis fósseis têm nas suas reservas, subtrair a quantidade de carbono, que os cientistas nos dizem que podemos emitir, e ainda assim manter o aqueci-mento 49


global abaixo de 2º C, e concluir que as empresas de combustíveis fósseis tem-cionam levar o planeta além do ponto de ebulição”. Os regimes democráticos encontram-se drasticamente ameaçados com esta situação, levada a cabo, sobretudo, pelas multinacionais do carbono e do gás. A Democracia está, de facto, em crise … e não apenas a liberal, mas a autêntica que é própria do paradigma do ‘Homo Sapiens//Sapiens’ (a dos Humanos duplamente sapientes, ‒ que sabem e saben que saben). Escreve a nossa Autora (ibi, p.433): “À medida que as forças anticombustíveis fósseis ganham força, as empresas extractivas estão a começar a ripostar usando um instrumento familiar: as disposições em matéria de protecção dos investidores constantes dos acordos de comércio livre. Como referi anteriormente, depois de a província do Quebeque ter sido bem-sucedida na proibição do fracking, a empresa de petróleo e gás Lone Pine Resources anunciou planos para processar o Canadá no valor de pelo me-nos 230 milhões de dólares nos termos das regras do Acordo do Comércio Livre da América do Norte em matéria de expropriação e ‘tratamento justo e equitativo’ ”. ‒ O Governo do Canadá, eleito democraticamente, resolveu o problema a contento do Povo. Mas N.K. adverte a seguir (ibi, p.435): “Por outras palavras, o verdadeiro problema não é os acordos de comércio permitirem às empresas de combustíveis fósseis desafiarem os governos, é o facto de os governos não estarem a reagir contra esses desafios empresariais. E isso está muito menos relacionado com qualquer acordo de comércio específico do que com o estado profundamente corrompido dos nossos sistemas políticos”. ‒ O que é gravíssimo, porquanto, na contenda em causa, e outras situações similares, são os próprios Regimes democráticos que se estão a afundar e auto-destruir… À espera do Armagedão do Apocalipse?!... “Ter a capacidade de defender a fonte de água da nossa comunidade do perigo [de contaminações…] afigura-se, para muitas pessoas, como a própria essência da autodeterminação. O que é a democracia se não engloba a capacidade de decidir, colectivamente, proteger algo sem a qual ninguém pode viver? “A insistência neste direito de ter uma palavra a dizer em decisões críticas relacionadas com água, terra e ar é o fio condutor que atravessa Blockadia. É um sentimento que Helen Slottje, ex-advogada empresarial que ajudou cerca de 170 povoações do estado de Nova Iorque a adoptar disposições anti-fracking, sintetizou bem: ‘Estão a brincar comigo? Pensam que podem vir à minha cidade e dizer-me que vão fazer o que bem entenderem, onde bem entenderem, quando entenderem, e que eu vou ficar calada? Quem julgam que são?’ ” (eadem, ibi, p.436). N.K. cita, agora, “o cientista político venezuelano Edgardo Lander que diz mui-to bem: ‘O fracasso total das negociações climáticas põe em evidência como vivemos actualmente numa sociedade pós-democrática. Os interesses do capital financeiro e da indústria petrolífera são muito mais importantes do que a vontade democrática das pessoas de todo o mundo. Na sociedade neoliberal global, o lucro é mais importante que a vida’ ” (ibi, 439). Quando os governantes não respeitam a palavra dada e outrora escrita, sem qualquer respeito pelos direitos indígenas!... ‘Nunca há paz na Virgínia Ocidental porque nunca há justiça’ (Mary Harris ‘Mãe’ Jones, sindicalista, 1925: (ibi, p.443). “Nunca 50


pensei que alguma vez chegasse o dia em que nos uniríamos. As relações estão a mudar, os estereótipos estão a desaparecer, há mais respeito de uns pelos outros. Se nada mais fez, o Northern Gateway da Enbridge unificou a Colúmbia Britânica” (Geraldine Thomas Flurer, Coordenadora da Aliança Yinka Dene, uma coligação das Primeiras Nações que é contra o oleoduto/2013: eadem, ibidem). N.K. (ibi, p.444): “Foi por isso que começou a corresponder-se com a Standard & Poor’s, que por sistema abençoa o Canadá com uma notação de risco de AAA, um indicador muito cobiçado para os investidores de que o país é um lugar seguro onde enfiarem o seu dinheiro. Em cartas à Agência, Manuel argumentara que o Canadá não merecia esta notação tão elevada, porque não comunicara um passivo muito importante: uma avultada dívida não paga, que assume a forma de toda a riqueza, que foi extraída de território indígena não cedido, sem autorização ‒ desde 1846. Explicou os diversos casos do Supremo Tribunal, que tinham confirmado que os Direitos dos Aborígenes e consagrados no tratado ainda continuavam bem vivos”. A Constituição e a Carta de Direitos e Liberdades do Canadá reconhecem os ‘direitos aborígenes’… mas sempre houve atritos e conflitos, que os próprios não-nativos reconhecem, em ca. de 80% da Colúmbia Britânica. Mas a cidadã canadiana N.K. faz, actualmente, o ponto da situação com equilíbrio e adequação: “Através dessas vitórias, muitos não-nativos estão a começar a perceber que esses direitos representam alguns dos instrumentos mais robustos disponíveis, para evitar a crise ecológica. O que é ainda mais importante, muitos não-nativos estão também a começar a ver que os modos de vida, que os grupos indígenas estão a proteger, têm muito a ensinar no que diz respeito à forma como nos relacionamos com a terra de maneiras que não sejam pura-mente extractivas. Isto representa uma vera mudança radical ao longo de um período de tempo muito curto. O meu próprio país permite um vislumbre da velocidade desta mu-dança” (op. cit., p.447). “O Tratado 6, por exemplo ‒ refere N.K., ibi, pp.448-449 ‒, que abrange grandes partes da região de areias betuminosas de Alberta, declara em linguagem clara que ‘os índios terão o direito de se dedicar aos seus hábitos de caça e pesca ao longo do trecho cedido’ ‒ por outras palavras, cederam apenas os seus exclusivos direitos ao território e acordaram em que a terra seria usada por ambas as partes, com os colonos e os povos indígenas a dedicar-se aos seus interesses em paralelo”. A este respeito, o Documento mais importante é, sem dúvida, a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos indígenas, adoptada pela Assembleia Geral da O.N.U., em set. de 2007: aprovada por 143 membros; 4 membros resistiram (USA, Canadá, Austrália e Nova Zelândia) mas, sob pressão interna, acabaram por aderir (cf. ibi, p.454). Ficou, aí, asseverado que “os povos indígenas têm direito à conservação e protecção do ambiente e da capacidade produtiva das suas terras ou territórios e recursos”. E ainda que têm ‘direito à reparação’ pelas terras que ‘tenham sido confiscadas, tomadas, ocupadas, utilizadas ou danificadas sem o seu consentimento livre, prévio e informado”. (Op.cit., pp.454-455).

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● N.K. titula, assim, o cap.12 (penúltimo do Livro): PARTILHAR O CÉU: Os recursos atmosféricos comuns e a capacidade de pagarmos as nossas dívidas (pp. 467 e ss.). Em exergo, duas citações prenhes de significado: ‒ “A floresta já está ‘desenvolvida’, a floresta é vida” (Franco Viteri, líder Sarayaku, Equador). (p.467). ‒ “Como é que, no Norte, algo deste género alguma vez seria possível? Como, dada a loucura que acometeu os países ricos, em que os ideólogos e as elites lançaram uma mitologia de ‘crise da dívida’ e ‘remédio amargo’ e ‘austeridade’ sobre todas as reivindicações à comunidade, é que o Norte pôde aceitar a necessidade de investimentos financeiros e tecnológicos em larga escala numa mobilização pelo clima, incluindo apoio em massa ao Sul? […] Como, dado o medo que o Norte tem da Ásia em ascensão, e a sua teimosia em insistir que o Sul não está disposto e não é capaz de refrear as suas próprias emissões, é que o Norte alguma vez irá perceber a implacabilidade da lógica ‒ o medo de um futuro hipotecado ‒ que anima profundamente os negociadores do Sul? E como, dado que a cegueira do Norte nestas matérias é uma desculpa quase perfeita e pronta pelo seu próprio parasitismo continuado, é que pode haver algum caminho para a ambição global cujo aumento foi rápido que não comece no Norte?” (Sivan Kartha, Tom Athanasiou e Paul Baer, investigadores climáticos, 2012) (ibidem). ‒ Pela nossa parte, o C.E.H.C. dá esta ‘resposta’ explicativa: a) O que tem que ser… tem muita força! (Como diz o nosso Povo!); b) Quem mais culpas tem, em toda esta Problemática das Alterações Climáticas, é, sem dúvida, o Norte, porque actuou, historicamente, com hegemonia e dominação, implantou o Sistema capitalista e o colonialismo ‒ ambos supremamente predadores!... Será do Desespero que advirá a Esperança?!... ʘ Energias fósseis//Energias Renováveis ‒ eis o Dilema crucial… que nos obrigará a Mudar de Mundo!... “As Energias Renováveis são, na realidade, muito mais fiáveis do que a energia assente na extracção, uma vez que esses modelos de energia requerem continuamente novos contributos, para evitar uma falha, ao passo que, depois de feito o investimento inicial nas infraestruturas de energias renováveis, a natureza fornece as matérias-primas de graça”. (N.K., op. cit., p.475, nota de rodapé). Os cépticos, oportunistas e conservadores, têm outras posições, já suficientemente denunciadas e reprovadas, tanto pela Ciência como pela história da Civilização humana. Escreve N.K. (ibidem): “Portanto, agora estamos de volta ao ponto de partida, em diálogo com a natureza. Os partidários da energia fóssil e da nuclear não se cansam de nos dizer que as energias renováveis não são ‘fiáveis’, querendo com isso dizer que exigem que ponderemos bem sobre onde vivemos, que prestemos atenção a coisas como quando é que o sol brilha e o vento sopra, onde e quando os rios são fortes e onde são fracos. E é verdade: as energias renováveis, pelo menos da forma como Henry Red Cloud as vê, exige-nos que desaprendamos o mito de que somos os senhores da natureza ‒ a ‘Espécie Divina’ ‒ e reconheçamos que temos uma relação com o resto do mundo natural. Mas o nosso é um novo nível de relacionamento, baseado numa compreensão da natureza, que ultrapassa de longe tudo o que os nossos antepassados pré-combustíveis 52


fósseis podiam ter imaginado. Sabemos o suficiente para nos darmos conta do que nunca saberemos, porém o suficiente para arranjar maneiras engenhosas de ampliar os sistemas fornecidos pela natureza, naquilo que a historiadora feminista Carolyn Merchant descreveu como uma ‘ética de parceria’”. É, neste hemistíquio do parágrafo, que nós pusemos em itálico, que a nossa Autora, sciens//insciens mostra ter em conta a necessária ascensão dos Humanos ao seu paradigma específico: o do Homo Sapiens//Sapiens. É, de facto, um Ser integrado na ‘Mãe-Natureza’, com um dispositivo de colaborar, activa e passivamente com ela, dotado de uma cosmovisão centrada no ‘trabalhar em sintonia e sinergia’ com a Terra, em vez de simplesmente a usar como um qualquer objecto descartável! De facto, como não podia deixar de ser, Naomi Klein demonstra pensar segundo a gramática psico-sócio-antropológica do C.E.H.C.. N.K. teve a mesma intuição de Henri Poincaré, no seu célebre Livro ‘La Science et l’hypothèse’, em busca da problemática da simultaneidade no tempo, ‒ Obra que muito influenciou, depois, as Grandes descobertas de Albert Einstein e Pablo Picasso. Nesta circunstância mental, como se dá conta, a operação implica uma dupla reflexão: a intuitio directa e a reflexão original/causativa/crítica: o Sujeito sabe que sabe! Na p.478 da sua Obra, N.K. evoca 2 exemplos, que ilustram bem esta nova direcção das energias renováveis: “O que esta região do mundo demonstrou [Montana] claramente é que não há arma mais potente na batalha contra os combustíveis fósseis do que a criação de alternativas concretas. O mero vislumbre de outro tipo de economia pode ser suficiente para estimular a luta contra a anterior. Existem igualmente precedentes fortes para isso: em dois dos países mais empenhados em energias renováveis descentralizadas e controladas pelas comunidades ‒ a Dinamarca e a Alemanha ‒, essas vitórias energéticas têm raízes no movimento antinuclear. Em ambos os países, as comunidades opunham-se vivamente aos riscos associados às centrais de energia nuclear, mas sabiam que para vencer precisavam de uma alternativa”. Mudança, sim… mas com todos os sentidos postos numa nova Ordem de Justiça (social/natural). “Este ponto tem de ser salientado, porque há demasiados projectos de energias renováveis, em grande escala, que estão a ser impostos em terras nativas, sem a devida consulta nem o devido consentimento, reproduzindo velhos padrões coloniais em que os lucros (e as competências e os postos de trabalho) vão para pessoas de fora. A mudança de um sistema energético para outro tem de ser mais do que carregar meramente num interruptor, para passar da energia subterrânea para a de superfície. Tem de ser acompanhada por um ajuste de poder, em que as injustiças antigas, que as-solam as nossas sociedades, são corrigidas de uma vez por todas. É assim que se forma um exército de guerreiros solares” (eadem, ibi, p.480). Desta sorte, “estão, por conseguinte, também a criar economias de cariz comunitário, que proporcionam segurança económica, dão poder à democracia local e no local de trabalho e evitam a fuga de postos de trabalho. Mas este é um sector que, de um modo geral, está faminto de capital. A expansão dos recursos para fomentar este sector o mais depressa possível deveria ser uma prioridade para os desinvestidores” (eadem, ibi, p.484). 53


Os membros deste Movimento, que dá pelo nome de ‘Blockadia’ estão plenamente conscientes de que pretendem ‘matar dois coelhos’ com uma só cajadada: a mudança na Energia e na Organização da Sociedade (democrática e organizada de baixo para cima, a partir das comunidades locais ‒, o contrário do que ainda está estabelecido actualmente…). Escreve a nossa Autora (ibi, p.487): “Os habitantes de Blockádia estão vivos e sabem disso. Razão pela qual o movimento deles não é nem um movimento de negação (não aos mineiros/perfuradores/assentadores de tubos/veículos de transporte de cargas pesadas), nem exclusivamente de protecção (defendendo formas de vida estimadas, porém estáticas). É, cada vez mais, também um movimento construtivo, construindo activamente uma economia alternativa, alicerçada em princípios e valores muito diferentes”. A tal ponto que ‒ diz a própria Autora ‒ “O princípio primordial deverá ser resolver as duas crises gémeas da desigualdade e das alterações climáticas em simultâneo” (ibi, p.488). ʘ Problemas decorrentes da operacionalização das mudanças: Escreve N.K. (ibi, p.491): “Como explicou Esperanza Martinez, presidente da Accion Ecologica, a ‘proposta abre um precedente, na medida em que defende que os países devem ser recompensados por não explorarem o seu petróleo […]. Os fundos reunidos seriam usados para a transição para as energias [renováveis] e podiam ser considerados pagamentos pela dívida ecológica do Norte para com o Sul, e deviam ser distribuídos democraticamente aos níveis local e global’. Além disso, escreve ela, com certeza que ‘a maneira mais directa de reduzir as emissões de dióxido de carbono era deixar os combustíveis fósseis no solo’”. Esclarecendo a Problemática até ao fim: “Não se trata de caridade, por outras palavras: se os países ricos não querem que os países mais pobres saiam da pobreza da mesma maneira poluente que nós, o ónus recai sobre os governos do Norte no sentido de ajudarem a pagar a fatura” (eadem, ibidem). A situação actual da poluição é catastrófica!... Escreve N.K. (ibi, p.492): “Os países desenvolvidos, que representam menos de 20% da população mundial, emitiram quase 70% de toda a poluição por gases com efeito de estufa, que está agora a desestabilizar o clima. (Só os USA, que é constituído por menos de 5% da população global, contribui actualmente com cerca de 14% de todas as emissões de carbono.)”. “À semelhança dos direitos indígenas à terra, se os governos não estiverem dispostos a assumir as suas responsabilidades internacionais (e internas), então, os movimentos de pessoas têm de ocupar esse vazio de liderança e arranjar maneiras de mudar a equação do poder. “A direita, como de costume, percebe isso melhor do que a esquerda, razão pela qual o grupo negacionista das alterações climáticas afirma constantemente que o aquecimento global é uma conspiração socialista para redistribuir a riqueza (Chris Horner, Competitive Enterprise Institute, gosta de dizer que os países ricos estão a ser ‘extorquidos’ pelos pobres)” (eadem, ibi, p.494). Do que se trata, é, tão-só, disto: Escreve N.K., citando Sunita Narain: A solução “É os países em desenvolvimento ‘desenvolverem-se de maneira diferente. Não queremos poluir primeiro e depois limpar. Por isso, precisamos de dinheiro, precisamos de 54


tecnologia, para sermos capazes de fazer as coisas de outra maneira’. E isso significa que o mundo rico tem de pagar as suas dívidas climáticas” (ibi, p.497). O resultado de todo este processus crítico é que se torna indispensável e urgente dar a devida importância e relevo à cooperação e à solidariedade internacionais. Escreve N.K. (ibi, pp.497-498): “Sunita Narain ouve muitas vezes estas objecções: ‘Estão sempre a dizer-me ‒ sobretudo os meus amigos da América ‒ que […] não devemos falar sobre questões de responsabilidade histórica. O que os meus antepassados fizeram não é da minha responsabilidade.’ Mas, disse ela numa entrevista, isso é ignorar o facto de que essas acções passada s têm uma influência directa na razão pela qual alguns países são ricos e outros pobres. ‘A sua riqueza actual está relacionada com a forma como a sociedade usou e abusou da natureza. Isso tem de ser pago. São essas as questões de responsabilidade histórica que temos de enfrentar’ ”. A pouco e pouco, vem à tona a problemática da escravatura transatlântica. “Depois de regredirem durante mais de uma década após a conferência de Durban, estas reivindicações voltaram a ser notícia em 2013, quando 14 nações das Caraíbas se juntaram para apresentar um pedido formal de reparações à Grã-Bretanha, França, Países Baixos e outros países europeus, que participaram no comércio de escravos” (eadem, ibi, p.498). Continua a nossa Autora (ibi, p.499): “O projecto de investigação debruçava-se sobre o facto de o parlamento britânico, quando tinha decretado a abolição da escravatura nas suas colónias, em 1833, se comprometera a compensar os proprietários de escravos britânicos, pela perda da sua propriedade humana ‒ uma forma retrógrada de reparações para os perpetradores de escravatura, não para as suas vítimas. Isto levou a pagamentos no montante de 20 milhões de libras ‒ um valor que, segundo o Independent, ‘representava uns assombrosos 40% do orçamento anual do erário público e, em valores actuais, calculados como valores salariais, ronda os 16,5 mil milhões de libras’. Muito desse dinheiro foi directamente para a infraestrutura alimentada a carvão da agora trepidante Revolução Industrial ‒ das fábricas às vias-férreas e aos barcos a vapor. Estes, por sua vez, foram os instrumentos que elevaram o colonialismo a uma fase acentuadamente mais voraz, cujas cicatrizes ainda são visíveis nos dias de hoje”. “E agora verifica-se que o roubo não acabou, quando a escravatura foi abolida, ou quando o projecto colonial falhou. Na realidade, ainda está em curso, porque as emissões desses primeiros navios a vapor e fábricas fumegantes foram o início da acumulação de carbono atmosférico excessivo. Portanto, outra maneira de pensar sobre esta história é que, desde há dois sécs. a esta parte, o carvão ajudou as nações ocidentais a apropriaremse deliberadamente das vidas e terras de outra pessoas; e como as emissões desse carvão (e mais tarde do petróleo e do gás) se foram continuamente acumulando na atmosfera, deu a essas mesmas nações os meios para também se apropriarem, inadvertidamente, do céu dos seus descendentes, devorando a maior parte da capacidade da nos-sa atmosfera partilhada de absorver carbono em segurança” (eadem, ibi, p.500). Foram séculos sucessivos, em todas as escalas, de roubos em série, praticados pelos países ricos e colonizadores sobre os países pobres e colonizados/defraudados. Estes são crimes sócio-históricos, que persistem gritando por reparação!... Continua N.K. (ibidem): “A diferença entre estes pedidos de reparação e os mais antigos não reside no 55


facto de a argumentação ser mais forte. Reside no facto de não se basear exclusivamente em questões éticas e morais; os países ricos não têm apenas de ajudar o Sul Global a seguir um rumo económico baixo em emissões, porque é a coisa certa a fazer. Temos de o fazer porque a nossa sobrevivência colectiva depende disso. “Ao mesmo tempo, precisamos de concluir de comum acordo que o facto de já ter sido lesado não dá direito a um país de repetir o mesmo crime numa escala ainda maior” (eadem, ibidem). A Justiça sócio-histórica impõe-nos que se reconheçam as Culpas, as maiores e as menores… Escreve N.K. (ibi, p.501): “O quadro designado ‘Direitos de Desenvolvimento e Efeito de Estufa [do Inst. do Ambiente de Estocolmo] é uma tentativa de reflectir melhor as novas realidades da movimentação da riqueza e da poluição por carbono para o mundo em desenvolvimento, ao mesmo tempo que protege firmemente o direito a um desenvolvimento sustentável e reconhece a maior responsabilidade do Ocidente pelas emissões cumulativas. Eles consideram que tal abordagem é precisamente aquilo que é necessário para quebrar o impasse climático, uma vez que resolve ‘as vastas disparidades encontradas não só entre países como também no seio dos países’ ”. “Numa altura em que os países se dizem pobres e cortam nos serviços sociais para o seu próprio povo, pedir aos governos que assumam esses compromissos internacionais pode parecer impossível. Quase já nem prestamos a ajuda de antigamente, quanto mais uma nova abordagem ambiciosa baseada na justiça” (eadem, ibi, p.502).

● ‘O DIREITO À REGENERAÇÃO’//‛Da extracção à renovação’. (É o cap.13 e último do Livro: título e subtítulo). Precisamos, urgentemente, de reaprender as Lições esquecidas da Era da História humana que precedeu o Patriarcado; chamou-se Matriarcado e perdurou desde 7.500 anos a.E.c. até 3.500 a.E.c.: 4 milénios! Começamos por Katsi Cook, parteira Mohawk (2007, no Museu Nacional do Índio Americano). “O facto de a mulher ser o primeiro meio ambiente é um ensinamento primordial. Durante a gravidez, os nossos corpos sustentam vida […]. No peito das mulheres, as gerações são alimentadas. Dos corpos das mulheres flui a relação dessas gerações com a sociedade e o mundo natural. A Terra é a nossa mãe desta forma, dizem-nos os mais velhos. Desta forma, nós, enquanto mulheres, somos a Terra” (N.K.: op. cit., p. 503). “Em espécie atrás de espécie, as alterações climáticas estão a criar pressões, que estão a privar as formas de vida do seu instrumento de sobrevivência mais essencial: a capacidade de criar nova vida e continuar as suas linhagens genéticas. Em vez disso, a centelha de vida está a ser extinta, apagada nos primeiros e mais frágeis dias: no óvulo, no embrião, no ninho, na toca” (eadem, ibi, p.520). Sobre a renovação do ciclo da Vida, a nossa Autora cita o agricultor e filósofo Wendel Berry a dizer-nos (ibi, p.526): “A manutenção deste ciclo tem de ser o ponto central da relação da humanidade com a natureza. ‘O problema da sustentabilidade é fácil de perceber’, diz ele. ‘Requer que o ciclo da fertilidade de nascimento, crescimento, 56


maturidade, morte e decomposição […] se alterne, de modo que a lei do retorno seja mantida e nada se desperdice’. Muito simples: respeite a fertilidade, deixe que ela cumpra o sua função”. “Mas quando os humanos começaram a plantar monoculturas, que tinham de ser replantadas ano após ano, teve início o problema da perda de fertilidade” (eadem, ibidem). Voltar a valorizar a Vida, ‒ eis o nosso Princípio categórico, que é o dossel da boa e adequada resolução da Problemática das Alterações Climáticas. Perante os danos e prejuízos, que nos trouxeram as escavadoras do colonialismo e da globalização empresarial, hoje tornados patentes nas multi-transnacionais, precisamos de reaprender as Lições da mundivisão indígena, que mantiveram e defenderam a forma alternativa de ver e edificar o Mundo! Escreve N.K. (ibi, p.531): “Acabámos por ter uma conversa longa e alargada sobre a diferença entre uma mentalidade extractivista (que Simpson descreve sem rodeios como ‘roubar’ e tirar coisas ‘de uma relação’) e uma mentalidade regenerativa. Caracterizou o sistema Anishinaabe como ‘uma forma de viver destinada a gerar vida, não simplesmente vida humana, mas também a vida de todas as coisas vivas’. Trata-se de um conceito de equilíbrio, de harmonia, comum a muitas culturas indígenas e que é frequentemente traduzida como ‘boa vida’”. Na base desse princípio de Regeneração, “países como a Bolívia e o Equador ‒ com grandes populações indígenas ‒ consagraram na lei os ‘direitos da Mãe-Terra’, criando novos instrumentos jurídicos poderosos, que garantem o direito dos ecossistemas não só de existir como de se ‘regenerar’ […]. Quer optemos por ver a terra como mãe, pai ou uma força sem género da criação, o que importa é estarmos a reconhecer que não somos nós que mandamos, fazemos sim parte de um vasto sistema vivo do qual dependemos” (eadem, ibi, p.532). Os Seres humanos, muitos deles, são ‘unicórnios’, não vêem senão a sua ‘máscara’… e só no espelho!... “Com efeito, foi somente quando os seres humanos inventaram o conceito da Terra como uma máquina inerte/mecânica e o Homem o seu engenheiro, que algumas pessoas começaram a esquecer o dever de proteger e promover os ciclos naturais da regeneração dos quais todos dependemos” (eadem, ibi, p.533). Em vez dos destrutivos processos extractivo-mecânicos, temos de acolher e promover os processos vitais regenerativos. “Mesmo práticas tradicionalmente destrutivas como o abate de florestas podem ser exercidas de forma responsável, assim como a exploração mineira em pequena escala, nomeadamente quando as actividades são controladas, pelas pessoas que vivem onde a extracção acontece e que são parte interessada na saúde e na produtividade permanentes da terra” (eadem, ibi, p.536). Martin Luther King, in ‘Beyond Vietnam/1967, fez esta feliz Declaração (cit. ibi, p.539): “Nós, enquanto nação, temos de passar por uma revolução radical de valores. Temos rapidamente de começar a mudança de uma ‘sociedade orientada para as coisas’ para uma ‘sociedade orientada para as pessoas’. “Quando as máquinas e os computadores, os fins lucrativos e os direitos de propriedade são considerados mais importantes do que as pessoas, os trigémeos gigantescos do racismo, materialismo extremo e militarismo são incapazes de serem dominados”. 57


Perante as dificuldades extremas em resolver a Problemática das Alterações Climáticas, há dois movimentos psico-sócio-históricos, em que é preciso reflectir e aprender as lições: a libertação da Escravatura e a libertação do Colonialismo. Escreveu N.K. (ibi, p.546): “Houve, no entanto, movimentos sociais que conseguiram desafiar a riqueza enraizada, de maneiras que são comparáveis àquilo que os movimentos de hoje têm de provocar, se quisermos evitar a catástrofe climática. São eles os movimentos a favor da abolição da escravatura e da independência do terceiro mundo das potências coloniais. Estes dois movimentos transformadores obrigaram as elites governantes a abdicar de práticas que ainda eram extraordinariamente lucrativas, à semelhança do que acontece actualmente com a extracção de combustíveis fósseis”. N.K. enquadra, de modo admirável, a quaestio pendente da Libertação, nos dois parágrafos seguintes (ibi, p.549-550): “De certa forma, a incapacidade de muitos grandes movimentos sociais de concretizar plenamente essas partes das suas visões, que envolvem os custos financeiros mais elevados, pode ser vista como motivo de inércia ou mesmo de desespero. Se falhassem nos seus planos para iniciar um sistema económico mais equitativo, como é que o movimento climático poderá ter esperança de obter sucesso? “Há, no entanto, outra maneira de olhar para este historial: estas exigências económicas ‒ de serviços públicos básicos que funcionem, de habitação digna, de redistribuição da terra ‒ representam nada menos do que a questão pendente dos movimentos de libertação mais poderosos dos últimos dois séculos, dos direitos civis ao feminismo e à soberania indígena. Os investimentos globais maciços necessários para responder à ameaça climática ‒ para nos adaptarmos humana e equitativamente ao mau tempo, que já bloqueámos, e fugir ao aquecimento verdadeiramente catastrófico, que ainda podemos evitar ‒ são uma oportunidade para mudar tudo isso; e, desta vez, fazê-lo de forma correcta. Podia produzir a redistribuição equitativa das terras agrícolas, que era suposto acompanhar a independência do regime colonial e da ditadura; podia criar os empregos e casas com que Martin Luther King sonhara; podia criar empregos e água limpa para as comunidades nativas; podia finalmente acender a luz e a água canalizada em todos os bairros dos subúrbios sul-africanos. Essa é a promessa de um Plano Marshall para a Terra”. ‒ Não se trata de plano A e plano B, desconjuntados ou de opção alternativa; mas das duas faces da mesma Cara!... Citando Frantz Fanon, escreve N.K. (ibi, pp.550-551): “ ‘O confronto básico que parecia ser o colonialismo versus o anticolonialismo, na verdade, o capitalismo versus o socialismo, já está a perder a sua importância’, ‒ escreveu Frantz Fanon na sua obra-prima de 1961, Os Condenados da Terra. ‘O que importa hoje, a questão que obscurece o horizonte, é a necessidade de uma redistribuição da riqueza. A humanidade terá de responder a esta questão, por muito devastadoras que as consequências possam ser’. As Alterações Climáticas são a nossa oportunidade para corrigir finalmente esses males purulentos ‒ a questão pendente da libertação”. O Grande Adamastor, em toda esta Problemática, é sempre a ‘ideologia estafada’ do chamado ‘mercado livre’, ‒ que não faz outra coisa senão seguir os cânones sagrados do ‘livre arbítrio’, ou seja, a lei do ‘pêndulo de Foucault’!... Foram todos educados segundo esta malfadada cartilha!... Todos, ou quase… todos os governantes, 58


por esse mundo fora. Eis por que há tantos impasses e hesitações, para encontrar a solução adequada e segui-la sem temor. Quase em jeito de conclusão final, escreve N.K., no seu Livro admirável (p. 551): “O que nos traz de volta ao ponto onde começámos: as alterações climáticas e o mau timing. Há que lembrar sempre que o maior obstáculo à humanidade se levantar para enfrentar a crise climática não é o facto de ser demasiado tarde ou de não sabermos o que fazer. Há tempo q.b., e nós estamos assoberbados de tecnologia verde e planos verdes. E, no entanto, a razão pela qual tantos de nós estão inclinados a responder à pergunta provocadora de Brad Werner de forma afirmativa, é termos medo ‒ com razão ‒ que a nossa classe política seja completamente incapaz de pegar nesses instrumentos e implementar esses planos, uma vez que fazê-lo implica desaprender os princípios fundamentais da sufocante ideologia do mercado livre, que regeram todas as etapas da sua ascensão ao poder”. É preciso e urgente sanear a nossa Mente dos hábitos, usos e costumes, errados, que nos inculcaram desde a infância. O nosso último Livro, editado pela Edicon (São Paulo, 2018) levou este título significativo, e que pode constituir o Almanaque do C.E.H.C.: ‘A Humanidade precisa, urgentemente, de Outro Deus’. Isto é afirmado, assim, para exprimir a escala e o alcance das Mudanças que temos pela frente!... É sensivelmente no mesmo horizonte que escreve N.K. (ibi, p.552): “Tudo isto é a razão pela qual qualquer tentativa de enfrentar as alterações climáticas será infrutífera, a menos que seja entendida como parte de uma batalha, muito mais alargada, de cosmovisões, um processo de reconstrução e reinvenção da ideia do que é colectivo, do que é comunitário, do que são recursos comuns, do que é civilizado e do que é cívico, após tantas décadas de ataque e abandono. Porque o que as alterações climáticas têm de impressionante é o facto de exigirem que se quebrem tantas regras de uma só vez ‒ regras consagradas em leis nacionais e acordos de comércio, bem como poderosas regras tácitas, que nos dizem que nenhum governo pode aumentar os impostos e manter-se no poder, ou dizer não a grandes investimentos por muito prejudiciais que sejam, ou planear construir gradualmente os sectores das nossas economias, que nos colocam a todos em perigo”. As Alterações Climáticas e a sua justa e adequada Solutio já não são ‘Quaestiones’ a resolver segundo a cartilha ideológica do ‘Homo Sapiens tout court’; elas têm, necessariamente, de encontrar a Solução segundo e dentro da gramática científica do ‘Homo Sapiens//Sapiens’. Escreve a nossa Autora, com acerto e senso crítico (ibi, pp.552-553): “E, todavia, cada uma dessas regras surgiu da mesma visão coesa do mundo. Se essa cosmovisão for deslegitimada, então, todas as regras no seu seio se tornam muito mais fracas e vulneráveis. Esta é outra lição da história do movimento social transversal ao espectro político: quando as mudanças fundamentais realmente acontecem, geralmente não é a conta-gotas legislativas, distribuídas uniformemente ao longo de décadas. Acontecem em espasmos de legislação rápida, com avanço atrás de avanço. A direita chama a isso ‘terapia de choque’; a esquerda, ‘democratização’, porque exige muito apoio e mobilização populares para ocorrer. (Veja-se a arquitectura reguladora, que surgiu no período do New Deal ou, ainda, a legislação ambiental das décadas de 1960 e 1970.)”. 59


Neste horizonte complexo e híbrido, é óbvio que as desejadas Alterações societárias têm de proceder de baixo, nos escalões da Society. Escreve N.K. (ibi, p.558): “o mundo [de hoje] não se parece muito com o que era em finais da década de 1980. As alterações climáticas, como vimos, entraram na agenda pública no auge do triunfalismo do mercado livre, o que foi realmente um péssimo timing. Contudo, o seu momento ‘fazer ou morrer’ chega-nos numa conjuntura histórica muito diferente. Muitos dos obstá-culos que paralisaram uma resposta séria à crise, actualmente, estão significativamente esbatidos. A ideologia do mercado livre foi desacreditada por décadas de intensificação da desigualdade e da corrupção, despojando-a de grande parte da sua capacidade de persuasão (embora ainda não do seu poder político e económico). E as diversas formas de pensamento mágico que desviaram energia preciosa ‒ desde a fé cega nos milagres tecnológicos à adoração de multimilionários benevolentes ‒ também estão rapidamente a perder a força. Muitos de nós estão lentamente a aperceber-se de que ninguém vai intervir e resolver esta crise; que, a haver mudança, isso será apenas porque a liderança irrompeu de baixo”.

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SINOPSE BREVE DO LIVRO DE N.K. Comprovando a Novidade que ele patenteou: o entrosamento crítico dos dois Problemas (em busca da Solução Adequada): a Problemática das Alterações Climáticas e a das contradições estruturais do Sistema Capitalista. N.B.: ‘Mutatis mutandis’, os dois Problemas articulam-se, pela negativa, como as Men-sagens geminadas de Sócrates e de Jesus se articulam, pela positiva (vd, o nosso Livro, que é o frontispício do C.E.H.C., ‘SÓCRATES E JESUS’/’As duas Revoluções gé-meas’ (Edicon, São Paulo, 2001). N.B.: Biologia (biogénese)//Antropologia (antropogénese)//História (das culturas e das Civilizações Humanas): Nessas três esferas ou escalas, os Determinismos (as leis do Determinismo) não são os mesmos… São todos de índole ou natureza diferente. Já não estamos a falar da esfera da Física, que se acha na base necessária da nossa cosmovisão/ /mundividência: aqui, é onde o Determinismo é mais forte e denso; onde ele é mais dé-bil e subtil é na esfera do que o C.E.H.C. designa por Psico-Sócio-Ânthropos, constituído segundo a gramática do ‘Homo Sapiens//Sapiens’, não segundo a cartilha ideológica/historicista do ‘Homo Sapiens tout court’, ‒ para o qual, todos os determinismos são (quase) da mesma natureza.

‒ O Amor pela Mãe-Terra e o Regime veramente Democrático constituem-se como duas realidades geminadas e inseparáveis (os aborígenes de todo o Mundo têm, justamente, esta mundividência!...). (Vd. N.K., op. cit., pp.408 e ss.). Nesta óptica, as gerações futuras dos Humanos nunca são esquecidas (vd. ibi, pp.413 e ss.). 60


‒ É preciso e urgente promover o desinvestimento em energias fósseis (vd. ibi, pp.427 e ss,). Nesta perspectiva, a Lição do Clube de Roma (1968-1972) continua vi-va e válida. O movimento de desinvestimento, no processo de depredação dos recursos inumeráveis da Terra tem de continuar desimpedido e livre, e sem hipocrisias nas práticas e busca de combustíveis fósseis (vd. ibi, pp.426 e ss.). O Clube de Roma chegou a chamar a esse Movimento de ‘crescimento zero’!... Ora, hoje em dia, o que está na moda (até com o intuito de resolver os problemas do Clima…), é o que designam por ‘fracking’, ou seja, a exploração de gás e petróleo a partir do xisto, das areias betuminosas, que, em alguns lugares, se encontram à superfície da terra. Não carece, pois, do esforço da mineração. ‒ A democracia (liberal…) está, por toda a parte, numa grave e profunda crise (vd. ibi, pp.433,425…). E, em 1º lugar, as democracias fossilizadas (ibi, p.439…). Como era fácil de perscrutar (desde os inícios históricos do Colonialismo capitalista), os direitos dos Indígenas não são respeitados (ibi, p.443, p.447, pp.448-449). ‒ A hipocrisia e a dominação do ‘Norte’ sobre o ‘Sul’, dos dominadores sobre os dominados, ‒ é prática corrente, a partir das Ideologias da Potestas d’abord e das hierarquias societariamente estruturadas (vd. ibi, pp.467 e ss.). Neste contexto contemporâneo, os países ricos do ‘Norte’ têm a obrigação de ajudar a pagar a factura dos Povos do ‘Sul’ (vd. ibi, pp.490-491, p.494). ‒ Mas os países, pobres e colonizados, começam a despertar do obscurantismo a que, historicamente, foram submetidos. A História registou a reacção viva e forte de 14 países das Caraíbas, exactamente contra o comércio de escravos (ibi, pp.498-499). ‒ É super-óbvio que o ‘direito a um Desenvolvimento Sustentável’ é estruturalmente contraditório com o chamado ‘Efeito de Estufa’, gerado pela civilização industrial/capitalista do Carbono (ibi, pp.501 e ss.). Quanto às Mulheres ‒ que detinham direitos iguais aos dos Homens, na civilização do Matriarcado: 7,5 milénios a 3,5 milénios a.E.c.) ‒ elas são, por sua natureza, o paradigma do Direito à Renovação-Regeneração, em vez dos ‘direitos de extracção’, próprios do Industrialismo capitalista (ibi, pp.503 e ss.). Mas a pletora do Aquecimento global já está a prejudicar a própria criação dos bébés. ‒ O próprio problema da sustentabilidade (no processus do Desenvolvimento) é largamente prejudicado pela monomania (tudo em função do Lucro semper majus!...) capitalista das monoculturas (ibi, pp.528 e ss.). Ora, proteger a Biodiversidade é condição sine qua non para promover as próprias condições de Regeneração da Terra (ibi, pp.531 e ss.). ‒ O modelo sócio-político, preconizado pela nossa Autora, para o seu Canadá (ibi, pp.539 e ss.) é, sensivelmente, também o nosso para Portugal, ‒ um país que foi capaz de descolonizar, mas ainda não encontrou o seu modelo próprio de Autonomia no quadro da União Europeia, de feição federalista!... Em lugar de uma Confederação. ‒ O que é, actualmente, preciso acelerar é a Abolição de todas as espécies de escravidão, servidão, ‘trabalho precário’ e desemprego. É, igualmente, imperioso promover a independência do 3º Mundo das potências coloniais (ibi, pp.546 e ss.). Esta é uma via (estrada real…) para obter sucesso na resolução da Problemática das Alterações Climáticas. Não se pode esquecer que, na praxis, aquilo de que a Humanidade mais carece 61


é de actuações políticas correctas. Não a defesa dos interesses de grupos, mas a prática do primado dos direitos e das exigências de toda a colectividade (ibi, pp.549 e ss.). ‒ Prega-se e é enaltecido o Socialismo, como a melhor solução para a organização sócio-económica e política das Sociedades humanas; mas não se tem uma noção exacta e exigente do que é isso… como a própria ‘Teoria do Valor’, no sistema capitalista, que o próprio Marx desistiu de identificar, em definitivo e com precisão!... Por quê? Porque o valor (mesmo o económico…) é de ordem mais subjectiva do que objectiva. Por exemplo, o dito ‘Socialismo’, leninista/bolchevista, não passa de ‘capitalismo monopolista de Estado’!... Isto mesmo foi ensinado por um dos mais sérios eco-nomistas do séc. XX (assessor de John Kennedy para o sector da Economia) John Kenneth Galbraith, nos inícios da década de 1960, no seu Livro ‘O Novo Estado Industrial’. ‒ A nossa Autora, nas suas reflexões criticistas, vai no caminho certo para a edificação do vero e autêntico Socialismo, quando luta contra a ideologia sufocante do famigerado ‘mercado livre’, tão enaltecido pelos próceres do Sistema capitalista!... Esse ‘mercado livre’ é propriedade e bandeira exclusivas apenas de alguns poucos, os possidentes e os acumuladores de capital. N.K. sabe que é absolutamente necessário, nas sociedades contemporâneas, começar pela defesa de um movimento social transversal, capaz de reivindicar e assegurar, antes de tudo, um rendimento mínimo garantido a todos os cidadãos adultos (ibi, p.553). ‒ Ela sabe e várias vezes o repete, ao longo do Livro, que o ‘timing’ actual para a boa e adequada resolução dos problemas das Alterações Climáticas é mau, diremos, até, que é péssimo, se tivermos em conta a panenvolvente atmosfera ideológica do Neoliberalismo capitalista global (cf. ibi, pp.558-559). ● A ‘fons et origo’ do Capitalismo é precisamente a Teoria do Dualismo metafísico-ontológico de Platão e Paulo e de todas as Religiões Institucionalizadas, que foram configuradas na era histórica do Patriarcado (cujo início costuma fixar-se três milénios e meio a.E.c.). A partir de então, foram compostas e entrosadas duas Ideologias gémeas: A) a dos Senhores, Proprietários, mandantes, detentores dos Poderes e das Autoridades; B) a dos escravos e servos, dos submissos e mandados, dos subalternos que são forçados a trabalhar para viver… É o trabalho assalariado, que o capitalista procura, para produzir as suas mercadorias e, assim, acumular capital. De algum modo, poder-seá dizer que o trabalho assalariado veio a substituir a antiga escravatura!...É, de facto, o trabalho, na sua condição de alienado, que produz o capital!... O salário (hoje ‘precário’… para muitos trabalhadores) constitui a forma moderna da antiga escravatura. O que, por conseguinte, interessa ao dono da fábrica, ao capitalista (ou aos accionistas das empresas…), não é o trabalhador como pessoa; é, tão-só, o seu traba-lho, que vai contribuir para a produção da mercadoria. O Mercado é, assim, uma espécie de nova Religião dogmática (e bem hierarquizada…), onde, afinal, nada de essencial se discute: aí, é tão só o ‘locus/situs’ da compra e da venda!... É tudo. Marx brandia o slogan de que as religiões são o ópio do povo. Não… o ópio do Povo são mesmo as Religiões Institucionalizadas!... Por que estava (como é indiciado no ‘Êxo-dus’) Aarão ‒ o sumo sacerdote hebreu ‒ às ordens do Chefe Moisés, seu irmão?!... 62


A crítica e a identificação criticista do Sistema capitalista começa nos ‘Manuscritos marxianos de Paris, nos consagrados ‘Manuscritos Económico-Filosóficos’ de 1844. Aí são identificados os três conceitos estruturantes e fundamentais de todo o sistema: capital, trabalho, alienação (do trabalhador). Outros escritos (‘menores’, só no tamanho…) vieram depois, até que, passados 23 anos, surgiu ‘O Capital’ (em três livros, visto que o 4º foi já trabalho maioritário do seu fiel companheiro F. Engels). Nesses ‘Manuscritos’, “Marx descobriu que é a Economia que produz o trabalho, pois é a relação social que estabelece o lugar do trabalho” (relação social bem hierarquizada): (cf. Francisco Louçã no trabalho esplêndido e admirável, publicado no ‘Exp./Rev.’ de 10.3.2018, p.29. O painel do título reza assim: ‘O DETECTIVE QUE QUERIA DECIFRAR A SUPREMA INTRIGA: Karl Marx foi um filósofo subversivo, um economista que desenvolveu a ‘crítica da economia política’ ou um historiador fascinado por possibilidades desconhecidas? Duzentos anos após o seu nascimento, o fascínio pelo homem e pela obra continua vivo’. Antes de produzir um dado produto material, o trabalho do trabalhador, face ao processo de acumulação (dinâmica) do capital, para o capitalista, ‒ o trabalho é uma ‘relação social’!... Paradoxal?!... Não: é que se trata, antes de tudo, de uma relação social hierarquizada, aceite e praticada pelas duas partes: patrão//empregado; capitalista//operário (proletário ou não). Ao mesmo tempo, K. Marx descobriu, logo, que um tal trabalho estava, inexoravelmente, estigmatizado pela alienação. Esta noção é tão óbvia que não carece de mais explicações!... No seu enquadramento geral, F.L. escreve (ibidem): “O trabalho é o enigma da modernidade, assim pensavam os filósofos e economistas, que procuravam perceber a tempestuosa emergência do capitalismo: olhamos para ele, sabemos dele, mas é tão difícil decifrá-lo. Em todo o caso, ao longo do séc. XIX, enquanto a Revolução Industrial se estendia e os Estados se definiam nos escombros das revoluções, das guerras e dos impérios, poucos desdenhariam do amplo consenso que atribuía ao trabalho ‒ mas não ao trabalhador, já lá se chegará ‒ o papel de guia na transformação do nosso mundo. Em contrapartida, como é que o trabalho produz valor, essa interrogação não tinha uma resposta única e, no entanto, era essencial. Marx dedicou-se a responder a tal questão e esse foi o caminho que escolheu para a sua obra conclusiva, ‘O Capital’. A alienação constitui, no moderno Sistema societário, a forma moderna do trabalho. Ora, se o trabalho, qua tal, acrescenta valor, ‒ e isso mesmo é do interesse máximo do Capital, este mesmo “não pode ser compreendido sem a alienação, que suporta o seu poder” (idem, ibi, pp.30-31). É logo nos ‘Manuscritos’ de Paris, que K. M., não só identifica o conceito de ‘fetichismo da mercadoria, como procede à conotação desse conceito com a noção de Alienação do Trabalho. Escreve (ibidem) F.L.: “O conceito de ‘fetichismo’ é inseparável da resposta para a pergunta: em que circunstâncias é que os trabalhadores aceitam o processo que os explora e que coisifica a sua actividade? Essa explicação é a alienação do trabalho e constitui, portanto, a essência da crítica do capitalismo como sistema económico e social. Esse trabalho preparatório de ‘O Capital’ começou em Paris, com a crítica da subjugação do trabalho”. “Em ‘Os Manuscritos de Paris’ explica a alienação como uma característica da produção generalizada de mercadorias. Como o processo produtivo gera o poder e a 63


acumulação de capital leva à perda de controlo do trabalhador sobre a produção e sobre o produto do seu próprio trabalho. Nesse sentido, a perda de autonomia do trabalhador, no processo produtivo, corresponde a uma socialização intensa, mas sob a forma de captura pelo capital. “Marx perguntava e respondia nos ‘Manuscritos’: ‘No que consiste, então a alienação do trabalho? Primeiro, no facto de que o trabalho é exterior ao trabalhador, isto é, não pertence à sua natureza, que não se realiza no seu trabalho, que se nega nele, que não se sente à vontade, antes se sente infeliz, que não desenvolve nenhuma energia física ou mental que seja livre, mas antes que se mortifica e arruína o seu espírito. O trabalhador, assim, só é ele próprio quando não trabalha, e no seu trabalho sente-se fora de si próprio. O seu trabalho, por isso, não é voluntário, mas forçado. Não é a satisfação de uma necessidade, mas somente uma forma de gratificar a necessidade de outrem’. Então, a alienação resulta da forma da produção mercantil sob o capitalismo, em que o trabalhador ‘se sente fora de si próprio’. “Para esta análise da alienação, Marx inspirava-se no livro recente de um filósofo alemão, Ludwig Feuerbach, 14 anos mais velho, ‘A Essência do Cristianismo’ (1841). Afinal, as suas leituras de filosofia inspiraram sempre a sua economia [Ele era da linhagem mental de Sócrates e Jesus]. Este livro argumentava que a ideia de Deus se tinha assenhoreado das características dos seres humanos. Essa apropriação de especi-dades humanas, que passavam a ser representadas num ente mítico, define a substância da perda, essa perda é a alienação. Marx estendeu esta ideia ao capitalismo moderno: do mesmo modo que a transposição das qualidades humanas num ser mítico gera a imagem de Deus, também o capitalismo oculta a contradição entre a produção social, pelo trabalho, e a apropriação privada da mercadoria, pelo capital, criando um mito conformista que submete e aliena a sociedade. A mercadoria, que parece valer por si própria, seria então a divindade moderna, confiscando as características humanas. O trabalho produz coisas que se opõem e que dominam os seus produtores e o mito reforça essa perda: a naturalização e até a personificação dos mercados financeiros, conjugados nos seus humores, apresentados como a força prometeica de um criador supremo, não é a evidência contemporânea dessa alienação?” Assim, o trabalho que produz para o mercado (venda e compra no Mercado) é o trabalho social alienado. Desta sorte, são os indivíduos e a própria sociedade que resultam, automaticamente, alienados!... Mas há, ainda, 2 parágrafos, a seguir (ibi, p.31), que vamos transcrever, para aclarar: “Assim, a alienação é a negação da individualidade, escreve Marx: ‘Suponhamos que produzimos como seres humanos [não alienados]. Cada um de nós ter-se-ia afirmado de duas formas: (1) na minha produção teria objectivado a minha individualidade, o seu carácter específico, e portanto apreciado não somente a manifestação individual da minha vida na actividade, mas também ao contemplar o objecto teria o prazer individual de reconhecer que a minha personalidade é objectiva, visível para os sentidos e, portanto, um poder acima de dúvida; (2) no seu uso do meu produto teria um prazer directo pelo facto de estar consciente de ter satisfeito uma necessidade humana com o meu trabalho, ou seja, de ter objectivado a natureza essencial do ser humano (…) Os 64


nossos produtos seriam outros tantos espelhos em que se reflectiria a nossa natureza essencial’. Ora, é precisamente o que a produção capitalista recusa, ao submeter o trabalho à máquina de valorização do capital. A alienação que define o trabalho é a perda da ‘natureza essencial’ do trabalhador. O trabalhador destrói-se pelo trabalho explorado: trabalhamos mais para sermos mais subordinados, a lógica divina do capital é essa. A alienação, portanto, é a condição da submissão do trabalho. “Marx discutiu ainda outras consequências da alienação, e algumas têm uma importância crucial para os debates de hoje, como a percepção de que o trabalho submetido à produção de mercadorias, para rentabilizar o capital, é destruidor da Natureza e impõe uma relação instrumental e predatória dos seres humanos com o seu ambiente. E conclui que o estado da civilização se mede pelas relações entre o homem e a mulher, descobrindo outra forma de alienação mais antiga”. Francisco Louçã conclui o seu Artigo (Maior!), como segue: “A vida daquele escritor, o detective que queria decifrar um supremo enigma, o do trabalho e do seu valor, o do capital e do seu poder, e que imaginou que um dia poderíamos produzir e viver como seres humanos não alienados, é a história dessa viragem dos tempos” (ibi, p.35). ‒ Afinal o regime da Era ancestral da ‘Gilania’, ou Matriarcado, (entre 7.500 anos a 3.500 a.E.c.), de que falara Riane Eisler in ‘O Cálice e a Espada’! Aí, não havia Hierarquia nem subordinações… O regime de Trabalho era a Cooperação e a troca, em cooperativa, dos produtos ou bens de uso e úteis. Eis por que, no mesmo horizonte, K. M. não se cansa de falar na dualidade dos dois tipos de Trabalho: a) o que assume o carácter (inerente) de valor de uso; b) o que assume ou lhe é atribuído (por outrem) um simples valor de troca. Perceberam, agora, todo esse conjunto de Razões e Argumentos, que levaram o C.E.H.C., recentemente, a editar, no Brasil (Edicon/São Paulo) o Livro titulado: ‘A Humanidade precisa, urgentemente, de Outro Deus!...’ (2018). Nem o do Patriarcado (fonte de toda a Alienação…), nem o do Matriarcado. A História da Civilização humana evolui, tal como toda a Vida e o Cosmos inteiro!... E essa nova Divindade, onde se encontra? Ela habita na Trindade da Consciência Humana como Testemunha do verdadeiro e do falso, do justo e do injusto. Eis por que, para edificar o vero e autêntico Socialismo, são requeridas três condições fundamentais e essenciais: A) Seres Humanos, que se assumam como Indivíduos-Pessoas/Cidadãos, plenamente personalizados, onde não tem lugar qualquer espécie de alienação, ‒ a qual, de resto, não tem, aí, funções a desempenhar. B) E os Poderes como são configurados e construídos? ‒ Segundo a Gramática da Igualdade Social, sempre de ‘baixo’ para ‘cima’, em todos os escalões: como prescreve e comanda a vera e autêntica DEMOCRACIA. C) Esta 3ª condição é panenvolvente: Trata-se de veros(as) Cidadãos(ãs), capazes de cumprir e praticar a Gramática Práxica/teórica do ‘Homo Sapiens//Sapiens’. *

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Guimarães/Portugal, 10 de Abril de 2018. Autoria: Manuel Reis (Presidente do C.E.H.C.) Digitalização: Lillian Reis (Secretária do C.E.H.C.).

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ÍNDICE ‒ Nota Bene ………………………………………………………………… ● NOTAS DE ENQUADRAMENTO …………………………………….. ‒ A ruptura do Protestantismo, perante o Cristianismo católico foi obra do Papa de Roma, não de Lutero et alii ………………………………… ‒ As duas maiores Revoluções da Humanidade foram atraiçoadas …….. O C.E.H.C. é, foncièrement, marcado pelo Socratismo e pelo Jesuanismo ……………………………………………………………………… ‒ As implicações e consequências do Cristianismo Dualista, ao longo de dois milénios …………………………………………………………….. ‒ Modernamente, estamos a comprovar que as Sociedades humanas têm vindo a trilhar vias erradas ………………………………………… ‒ O abortamento geral das Revoluções sociais e as Lições da História … ● UMA GLOBALIZAÇÃO MAL ESTRUTURADA E MAL ORIENTADA …………………………………………………………………….. ‒ Ciência e Ideologias: realidades inteiramente diferentes ……………….. ‒ Ouvir e aprender com o Papa Francisco (ex-Cardeal Bergoglio) …… ‒ A Mensagem do Papa Francisco ………………………………………… ● INWARDNE$SS ‒ Evocação sempre necessária e pertinente da INTERIORIDADE humana ……………………………………………… ● QUESTIONAR É UMA VIRTUDE!................................................... ……. ● Em torno do Sujeito Humano, livre e responsável ……………………. ● Questionação do Moderno e da Modernidade ………………………… ●É preciso e urgente repensar o próprio Crescimento económico ………… ● Da Robótica e da necessária adaptação dos Trabalhadores às novas máquinas ……………………………………………………………

p. 2 p. 5 p. 7 p. 9 p. 9 p. 10 p. 12 p.14 p.15 p.17 p.21 p.23 p.24 p.29 p.30 p.31 p.32 p.34

* EM TORNO DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS ……….. ● A situação actual,, mundial, do Neoliberalismo capitalista e a Comunicação Social (que lhe faz eco…) impedem que a Problemática em causa comece a ser abordada honestamente e com a necessária seriedade científica …………………………………………………………….

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● O contexto é mau, para identificar e avançar com as soluções adequadas, para a Problemática das Alterações Climáticas …………….. ● É o próprio fundamentalismo do mercado livre, que está contribuindo para o sobreaquecimento global, directa ou indirectamente …… ● É preciso planeamento político: pôr de parte a superstição da ‘mão invisível’ schmidtiana; em suma, assumir os movimentos do Mundo em plena Liberdade Responsável ………………………………………… ● Carecemos urgentemente de uma Economia Ecológica! ………………. ● Constitui, sempre, má solução dar crédito aos messianismos de turno … ● Esperança ou Desespero?! ………………………………………………… ● DEMOCRACIA e Desenvolvimento Sustentado ……………………….. ● Eliminar todos os pressupostos das Desigualdades Estruturais entre os Humanos ………………………………………………………………. ● ‘O DIREITO À REGENERAÇÂO’//’Da extracção à renovação’ ……. ● SINOPSE BREVE DO LIVRO DE N.K.: Comprovando a Novidade que ele patenteou ………………………………………………………….

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p.46 p.48 p.50 p.52 p.54 p.55 p.62 p.67

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