Edição Especial da Revista "Mundo Contemporâneo"

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Expressões Artísticas Contemporâneas

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Índice Da nça M úsica Teatro C inema F otog ra f ia A r tes Visuais M oda Co mida G ou rm et N ew M edia Literatu ra

4 7 12 16 24 32 36 42 46 49

Fi ch a Técn i ca : Fa ceb o o k : re v ista m u n d o co ntem p o ra n eo2 015 D O C E N T E : M i r i a n Ta va re s | D I R E TO R E D I TO R I A L : D u a r te La g o , a49 8 3 4 @ u a l g . pt | S U B D I R E TO R E D I TO R I A L : J o ã o Ca r m o , a49 573 @ u a l g . pt | D I R E TO R D E A R T E : A n d ré S o us a , a 5 013 0 @ u a l g . pt | CO O R D E N A D O R F OTO G R A F I A : A r ia n a N o b re , a49 613 @ ua l g . pt | CO O R D E N A D O R DA N Ç A : M a fa l d a Vi cente , a49 8 9 9 @ u a l g . pt | CO O R D E N A D O R M Ú S I C A : Cá ti a P i re s , a49 6 0 8 @ u a l g . pt | CO O R D E N A D O R T E AT R O : J o a n a S i l va , a49741@ u a l g . pt | CO O R D E N A D O R C I N E M A : J o ã o G a m a , a 5 0 42 5 @ u a l g . pt | CO O R D E N A D O R A R T E S V I S U A I S : M a fa l d a V i ce nte , a49 8 9 9 @ u a l g . pt | CO O R D E N A D O R M O DA : C l á u d i a G o n ça l ve s , a 5 0 0 2 7@ u a l g . pt | CO O R D E N A D O R N E W M E D I A : A d r i a n a A f o n s o , a49 9 0 6 @ u a l g . pt | CO O R D E N A D O R L I T E R AT U R A : A n d ré G o n ça l ve s , a4939 6 @ u a l g . pt | CO O R D E N A D O R CO M I DA G O U R M E T: R a q u el Ca rd o s o , a49 6 62@ u a l g . pt | D i s t r i b u i çã o : O n l i n e E d i çã o E s p eci a l d ed i ca d a à s a r te s d a re v i s ta M u n d o C o nte m p o râ n eo M o ra d a : U n i ve rs i d a d e d o A l g a r ve E s t ra d a d a P e n h a , Ca m p us d a P e n h a 8 0 0 5 -139 F a ro Portugal E s co l a S u p e r i o r d e E d u ca çã o e C o m u n i ca çã o ht t p : //e s ec . u a l g . pt / h o m e /pt h

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Destaques 16

Wes Anderson

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Hambúrgueres Gourmet

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Os Fotógrafos dos sonhos

A cada filme, o realizador constrói um legado que marca o cinema moderno.

Hamburgarias têm vindo a conquistar cada vez mais seguidores, conheça a Hanburgaria da Baixa, em Faro.

Projecto de dois portimonenses quer dar a conhecer a realidade de quem não pode concretizar os seus sonhos.

We s A nde r s o n

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Dom Maldito

Conheça a história de Jean Michel Basquiat, o jovem menino de rua que passou a artista internacionalmente reconhecido.

Através de histórias com aromas af13 Cont(opias) ricanos, árabes, indianos, orientais e europeus, o contador de histórias e comediante bejense narra lições de esperança, assinalando as comemorações do 25 de abril.

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Coachella

O festival de música que para além de ser um palco para a música é também um palco para a moda internacional.

Je a n M i c h el B a s q u i a t

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Dança Moçambicana Brilha em Evento de Beneficência

F oto : A n a R aq u e l C a b ra l

No passado dia 4 de Abril teve lugar no IPJ de Faro, um evento no âmbito do projeto Corredor da Esperança / Fundo de Emergência. Este é um projeto que foi lançado no dia 2 de Março de 2013, em Lisboa, pela mão organizadora da Juventude Moçambicana (Núcleo de Lisboa), com presença do Embaixador de Moçambique em Portugal, Jeremias Jacob Nyambir e outros membros do Corpo Diplomático. Tem como intuito apelar, motivar e incentivar o desenvolvimento de esforços de beneficência, de todas as associações, sociedade civil e/ou empresários, para com a Comunidade Moçambicana, principalmente de solidariedade para com as vítimas e outros lesados das cheias de 2013 em Moçambique. A representação de Faro da OJM (Núcleo de Lisboa), parte do secretariado, responsável pela mobilização e divulgação, tomou as rédeas da transição do projeto para terras algarvias, cujo responsável pela organização foi o Primeiro Assistente do Secretariado da OJM (Núcleo de Lisboa), Representante no Algarve, Dionísio Mbanze. O evento realizado em Faro teve início às 16h do dia 4 de Abril. A esta hora começaria a receção dos convidados, período ao qual se seguiu a parte solene do evento, das 18h às 20h, que incluiu os discursos e as animações

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planeadas para a apresentação do mesmo acontecimento, que pretendiam mostrar a cultura moçambicana e animar os participantes, com música, dança, desfiles, assim como cumprir o protocolo de agradecimentos e reconhecimentos de todos os envolvidos na execução do evento em questão. Foi durante este espaço que fomos presenteados com o entusiasmo e alegria dos grupos de dança que atenderam à chamada de ajuda moçambicana – as Summer Dancers, grupo composto por Solange Frechaut, Cindy Misete e Miriam Misete, que foram seguidas por um grupo igualmente dinâmico e contagiante de meninas de faixa etária mais baixa que costumam seguir o primeiro grupo. Este é um grupo jovem que participa frequentemente em eventos de carácter africano e que muito trabalham para demonstrar a cultura tradicional do seu país. Não é portanto a primeira vez que colaboram com esta Organização para disponibilizar os seus talentos na área da animação. No entanto, ambos os grupos planeiam seguir um rumo mais independente e atender a outros bookings. Estas raparigas fizeram uma performance que incluiu a utilização de pinturas faciais e trajes tradicionalmente africanos – a caplana, lenço de maior dimensão que pode ser utilizado das mais diversas maneiras, como saia,


Da nça capa ou vestido, e um outro lenço de menores dimensões utilizado na cabeça. Ambos possuem padrões alegres e de cores quentes que fazem lembrar as cores da paisagem africana. A dança centrou-se de igual forma nas danças tipicamente moçambicanas, principalmente na marrabenta. Esta é uma dança que se acredita ter sido desenvolvida em Maputo, na altura Lourenço Marques, durante a época colonial. Caracteriza-se por um ritmo alegre e acelerado, com melodia contagiante e dinâmica que acompanha um estilo de dança sensual e bastante mexido. Atualmente tanto a nível de movimentos como de música sofreu grandes influências no decorrer da sua história, de outros géneros musicais, e por isso, as suas características iniciais acabaram por se moldar aos tempos. É uma dança tradicional bastante negligenciada por as demais áreas geográficas, nomeadamente por Portugal e portanto o trabalho destas raparigas, assim como de outros grupos de influência portuguesa e africana de fazerem um papel de difusoras de cultura mostra-se extremamente relevante e importante. As raparigas que interpretaram esta dança, que é efetivamente uma das maiores bandeiras da cultura do seu país, acabaram por repetir atuações mais tarde durante o jantar que deu início às 20h, com um interessante mix entre a dança tradicional e influências mais contemporâneas, nomeadamente do pop e hiphop.capa ou vestido, e um

outro lenço de menores dimensões utilizado na cabeça. Ambos possuem padrões alegres e de cores quentes que fazem lembrar as cores da paisagem africana. A dança centrou-se de igual forma nas danças tipicamente moçambicanas, principalmente na marrabenta. Esta é uma dança que se acredita ter sido desenvolvida em Maputo, na altura Lourenço Marques, durante a época colonial. Caracteriza-se por um ritmo alegre e acelerado, com melodia contagiante e dinâmica que acompanha um estilo de dança sensual e bastante mexido. Atualmente tanto a nível de movimentos como de música sofreu grandes influências no decorrer da sua história, de outros géneros musicais, e por isso, as suas características iniciais acabaram por se moldar aos tempos. É uma dança tradicional bastante negligenciada por as demais áreas geográficas, nomeadamente por Portugal e portanto o trabalho destas raparigas, assim como de outros grupos de influência portuguesa e africana de fazerem um papel de difusoras de cultura mostra-se extremamente relevante e importante. As raparigas que interpretaram esta dança, que é efetivamente uma das maiores bandeiras da cultura do seu país, acabaram por repetir atuações mais tarde durante o jantar que deu início às 20h, com um interessante mix entre a dança tradicional e influências mais contemporâneas, nomeadamente do pop e hiphop.

F oto : A n a R aq u e l C a b ra l

Artigo: Ana Raquel Cabral | Nádia Baptista Expressões Artísticas Contemporâneas

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Da nça

8ª Convenção Internacional Hip-Hop Dance Algarve Das várias associações que lutam por colocar esta região no mundo da cultura hip-hop, a Academia de Dança do Algarve destacou-se este mês com a sua convenção internacional de hip-hop.. O hip-hop, natural de Bronx, é espalhado por Portugal em diversas convenções, onde são dadas aulas de diferentes estilos e onde os dançarinos se reúnem para conviver entre danças. Ocorreu nos dias 17, 18, 19 no pavilhão municipal da penha, em Faro, e mostrou que, se o Algarve em tempos foi conhecido por ter pouco hip-hop, hoje apresenta ser completamente o contrário. A 8ª Convenção Internacional Hip-Hop Dance Algarve trouxe-nos profissionais de dança portugueses como: Sílvio Ferreira, com popping, Renato Garcia com waacking, Maria Dias com hip-hop, Edgar Carvalho com o house e as suas bases, e João Joaquim, professor na própria academia, com afro-house. A ADA trouxe ainda presenters internacionais como: B-Boy XXL; Camron One Shot, mestre no dancehall; e Ukay. Estes presenters foram os protagonistas de todo o espetáculo que aconteceu durante o fim de semana, no entanto não foram os únicos: todas as crews, dançarinos e o imenso público, tiveram um papel importante nesta convenção. Para além de master classes e workshops, onde os participantes puderam receber formação e adquirir novos conhecimentos, houve também tempo para estes mostrarem os seus próprios moves em campeonatos e diversas battles.

As primeiras batalhas aconteceram sextafeira, em diferentes categorias: hip-hop/ new style 2x2, popping 1x1, b-boying 1x1 e, para tornar o evento mais interessante, crew x crew em all styles. Os jurados escolhidos foram os dançarinos convidados e estes tiveram que tomar difíceis decisões, devido ao nível cada vez mais elevado dos participantes. Depois de 9 horas de masters, no sábado, com atuações e mini-battles pelo meio, ainda os participantes desta convenção se encontravam com ânimo para o campeonato, dividido nas categorias kids, júnior e open, que decorreria nessa noite. Em competição pudemos ver vinte e oito crews e as emoções estiveram ao rubro. Na categoria kids, a equipa da casa, Sparks Kids levou o prémio e na categoria júnior este foi conquistado pela Conviction Crew. O primeiro prémio na categoria open foi pelo terceiro ano consecutivo ganho pela Enygmatic Crew. Para finalizar o fim-de-semana, o domingo foi ocupado com workshops, e a nível de competição dedicado totalmente ao dancehall, com battles e campeonato desse estilo, onde Camron One Shot e Renato Garcia foram jurados. Das onze crews participantes, os Lourder Patois saíram vencedores com 83 pontos. O evento terminou por volta das oito da noite, e das sete e meia da tarde de sextafeira até esta hora de domingo, o Algarve mostrou intensamente a participantes de Portugal, Espanha, Suíça, Alemanha, Bélgica e Reino Unido, do que é feito o nosso hip-hop. Notícia: Ana Beatriz Lopes

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M úsica Histórias em “Sí” Músicos algarvios contam a sua história em que o amor pela música ultrapassa dificuldades. «Como ser um músico bem-sucedido no Algarve?» Esta é a pergunta que alguns dos músicos algarvios fazem a si próprios todos os dias. Para uns, a música é uma profissão, e para outros um hobby, uma distração de modo a passar o tempo. Para todos revela-se uma paixão. Mas qual o objetivo em comum? Deixar de “sobreviver” como músico e passar sim, a viver. «Em três palavras a música para mim é felicidade, energia e paixão» conta-nos Tercio Nanook, professor de música há mais de dez anos. Tercio, começou a interessar-se pela música quando tinha seis anos, mas foi aos dez que a sua paixão pela guitarra o fez tornar-se músico. Para este, ser-se músico em Portugal, é muito difícil, pois, «Não existe qualquer tipo de apoio governamental para músicos. Somos como um “freelancer” sem qualquer tipo de direitos a nível de saúde, despesas e reforma». Sónia Cabrita e Paulo Franco, também músicos profissionais, vão ao encontro do que é dito por Tercio, apesar de se mostrarem mais positivos em relação à dura realidade: «Ser músico no Algarve é desencorajador mas com força de vontade e ao fazer-se o que se ama, tudo se consegue» garante Sónia. Já para Paulo, «ser-se músico no Algarve é muito complicado, existe pouca massa crítica, o circuito é muito pequeno, os bares pagam pouco e às vezes é ingrato para os músicos que perdem muitas horas de ensaio para depois serem mal pagos. Coisa que também é importante, é tocar com vários músicos onde se aprende muito porque todos têm linguagens musicais diferentes e maneiras diferentes de criar música». Contudo não só os profissionais que se queixam sobre a conjuntura atual. Também os que fazem da música hobby se deparam com as dificuldades de se ser músico. David Sabino e João Duarte são apenas dois exemplos na comunidade de músicos do Algarve que por falta de condições políticas e económicas não fazem da música a sua vida. A falta de sindicatos de apoio a músicos e instituições que possam lutar pelos direitos destes fazem com que em Portugal a educação esteja em primeiro lugar em relação à cultura. Noutros países em contraste com Portugal, a cultura prevalece sobre a educação, onde se valoriza o ser-se músico e se forma uma sociedade heterogeneizada pela diversidade de culturas existentes. Assim desde cedo, crianças podem ter acesso ao mundo da música, permitindo a escolha entre querer ou não escolher determinado rumo nesse mundo, graças a apoios financeiros do Estado. Situação utópica que Paulo Franco refere.

Té rci o N a n oo k

«Quem é músico não o é por não saber fazer mais nada, mas sim por ter um talento que outros não têm. Esse talento deveria ser valorizado no nosso país como o é em tantos outros.» Refere Hamrol Pereira, pianista com estudos superiores na área da Música e composição. Possíveis soluções para estas questões seriam como muitos dos músicos referem, a criação de alguma entidade que protegesse os direitos dos músicos e mais importante ainda, existir respeito não só por parte do ouvinte, mas maioritariamente do Estado Português que muito pouco contribui para a criação de novos músicos. Até porque a música transcende horizontes e fronteiras, emoções e estados de alma, uma distração para alguns, uma vida para outros. Onde sons e histórias são delineadas em escala musical. Num quadro de clara crise económica torna-se essencial para músicos, neste caso, algarvios, levarem a mais “alta filosofia” que é a música à sociedade, dando-lhes conforto e sentimento de missão cumprida. Como dizia Friedrich Nietzsche: “Sem a música, a vida seria um erro”. Reportagem: C.Pires I L. Bērziņa I J.Carmo I S. Aço

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Entrevista a Pierre Não me importava de tocar em bares o resto da minha vida N atu ra l d e Fa ro , Ped ro Leote M end es , o u P ier re , é m em bro da direçã o da S o ciedad e R ecreativa A r tística Fa rense , dá a ulas d e m úsica e to ca n o g r u p o “ Les A mis” MC: Como surgiu a alcunha? Pierre: Vivi em França quando era mais jovem. Só vinha cá passar férias. Chamavam-me Francês e eu não gostava nada. Então um dos meus amigos mais velhos, para mostrar a sua autoridade, disse “tu não és nada Francês, tu és um Pierre”, e o meu apelido ficou esse. MC: Isso foi quando? Pierre: Em finais dos anos 70, por aí. Vivi nos arredores de Paris grande parte da minha juventude. MC: Como é que surgiu a paixão pela música? Pierre: É difícil de explicar porque eu toco guitarra desde miúdo. Um dia descobri um instrumento na sala. O meu pai também foi músico mas tocava clarinete, no entanto tinha lá uma guitarra na sala e às vezes tocava. Um dia passei por lá, raspei nas cordas e gostei. MC: Não foi algo imposto então… Pierre: Não, nada mesmo. Surgiu de uma forma perfeitamente natural. MC: Ele é que ensinou tudo? Pierre: Autodidata a cem por cento. Apesar de em 78/79 ter estudado num conservatório, perto de Paris, farteime daquilo, eram pessoas a mais. Não davam a devida atenção aos alunos, não por incompetência dos professores, mas como era muita gente a querer aprender não conseguiam gerir tudo. Fui para uma escola privada mas também não gostei. Metiam-me sozinho numa sala, e então percebi que assim não dava e que tinha de aprender sozinho.

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MC: Quando voltou para Portugal, já vinha formatado em relação à música? Pierre: Sim, tive lá a minha primeira experiência de banda. Aliás, várias. Mas só uma é que se apresentou ao vivo. MC: Como é que se chamava? Pierre: É pá, até tenho vergonha. “Apocalipse”. Entretanto entrei num grupo com músicos mais velhos, mais experientes, um grupo que tocava Rock mas também música de baile. Portanto, a minha primeira experiência foi numa banda que tocava em bailes, para os imigrantes. MC: Como foi a primeira experiência ao vivo? Pierre: Em primeiro lugar havia uma grande dedicação nos dias anteriores, e depois, como sou muito nervoso, na véspera quase que não dormi, só pensava “é pá, vou tocar num palco”, era um palco de baile. Mas foi muito bom. MC: Onde foi? Pierre: Nos arredores de Paris. Em Paris mesmo só toquei duas vezes. Num baile para uma igreja, numa comunidade católica, e numa escola onde eu estudava e onde aprendi a falar português. Os diretores eram padres. Era a única escola portuguesa e era muito católica. Eles decidiram organizar uma festa para os imigrantes. MC: Quantos elementos compunham essa banda? Pierre: Tivemos várias alterações, oscilava entre os três e os seis elementos. MC: Que estilo musical preferiam?


M úsica Pierre: Uns de portuguesa ligeira, eu de “além atlântico”. Gostava muito de celebridades americanas e música britânica, mas não deixava de adorar Carlos Paredes e de o ouvir sempre que vinha a Portugal. Outra coisa que adorava quando vinha cá, e era muito gozado por isso, era o rancho folclórico. É o som da minha terra, até me arrepiava. Ouvir folclore causava um efeito em mim que só quem já viveu fora pode sentir. Quem está cá banaliza-o. MC: Ainda mantém contacto com algum elemento dessa banda? Pierre: Procurei no Facebook mas nunca os encontrei. Mas hei-de encontrar. MC: Só toca guitarra? Pierre: A música é um universo repleto de fenómenos. Toco baixo elétrico, dou uns toques de bateria. Todos os instrumentos pedem uma grande dedicação. MC: Canta? Pierre: Já cantei. Quem toca tem que cantar. MC: Regressado a Portugal, como voltou à área da música? Pierre: Foi por isso que deixei de estudar. Quando vinha passar férias, trazia sempre a guitarra. Em cada saída à noite eu levava a guitarra, tinha-a sempre comigo. No Seu Café, na baixa, na Rua de Sto. António. Sentava-me nas esplanadas e começava a tocar. Se contagiasse as pessoas, toda a gente cantava. Na Praia de Faro também, havia lá um bar, e eu ia com a guitarra. Um dia um amigo disse-me “É pá, estas a tocar bem, não queres vir tocar para uma banda?”. Fizeram-me uma espécie de audição e fui “contratado”. Surgiu uma banda de originais aqui de Faro, bastante conhecida, os “Fundos Perdidos”. Começou em 88. Em 89 um amigo nosso perguntou se queríamos atuar na Semana Académica. Fizemos a primeira parte dos “GNR”. Foi marcante. Para mim e para o projeto, que durou até 94. MC: Não se mantiveram? Pierre: Não. Cada um seguiu o seu percurso, uns para a Universidade, outros para a Escola de Hotelaria. Antes disso tinha havido uma interrupção devido à tropa, o serviço militar era obrigatório. Fiquei na reserva, mas eles não. MC: Dá aulas de música? Pierre: Poucas, em casa, não tenho habilitações para me candidatar ao ensino oficial. Deixei de estudar e arrependo-me. MC: Neste momento, que papel tem na área da música? Pierre: Além das aulas de música, tenho um projeto que se chama “Les Amis”. É um duo. Surgiu há perto de três anos. É de Pop-Rock. Com o Nuno Filhó, que foi baixista dos “Entre Aspas”. Temos mais um baterista, o Paulo Franco, dos “Mundo Pardo”, mas somos mais requisitados como duo, pois é mais barato.

MC: Onde atuam? Pierre: Bares. É um sítio onde tenho mais energia, pois tenho muitas pessoas à frente. Não me importava de tocar em bares o resto da minha vida. Não quer dizer que não toque noutros sítios, porque já toquei em hotéis, casamentos e até em comícios políticos. MC: Como se sobrevive de música em Portugal? Pierre: A música já viveu em Portugal, agora sobrevive. Neste momento, os direitos de autor só fazem sentido, por exemplo, numa multinacional. Um músico grava um disco e tem de registar muita coisa, proteger a edição, pagar a reprodução… Se quiser uma editora a sério tem de persuadir a editora, e não é fácil, somos muitos. MC: Não é compensatório… Pierre: Compensa no sentido artístico, pois é um registo e uma prova para o próprio músico. Mas em termos financeiros não. Em Portugal até os grandes não estão bem, como por exemplo o Rui Veloso. Ele teve um privilégio que muitos não tiveram, promoção, mediatismo, projeção através dos media. Os apoios não existem. Não há Ministério da Cultura. MC: Têm apoio particular? Pierre: Não. A partir do momento em que entramos no campo profissional, ou somos o centro da atenção e temos apoio particular, ou então não. Eu por acaso tenho o apoio de uma marca de guitarras fabricada no Algarve, em Olhão, a JP, e a guitarra elétrica que uso foi feita cá, não precisei de a importar, como às vezes se importam laranjas, quando as temos cá. Mas os apoios não, não existem. As pessoas não têm para apoiar. MC: Têm alguma compensação financeira quando atuam em bares? Pierre: Eu consultei a tabela do Sindicato dos Músicos, na Internet, e segundo ela por vezes recebemos um terço daquilo que deveríamos ganhar. Não se ganha bem, era preciso tocar todos os dias e muitas horas. MC: Para além das aulas e dos concertos, que mais exerce relacionado com a música? Pierre: Como técnico de som. Tenho amigos que por vezes vão atuar e precisam, e lá vou eu. MC: Há algum conselho que queira deixar aos mais jovens que queiram enveredar no mundo da música? Pierre: Não tenho jeito para conselhos. Um dia ouvi um cantor francês dizer num programa de televisão para nunca seguirmos os conselhos dos outros, pois cada pessoa é única. Só posso dar o conselho da persistência e da dedicação. Se quiseres fazer música faz, não oiças os outros. A partir daí tudo é circunstancial e tudo se pode transformar.

Entrevista: Leonor Fiel ! Duarte Lago Expressões Artísticas Contemporâneas

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M úsica

O objetivo principal é ajudar os artistas, fazê-los chegar à cultura do Algarve

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Boxer Studios Situado em São Brás de Alportel, Algarve, o estúdio já produziu trabalhos de vários artistas da região O Boxer Studios, mais conhecido por “Estúdio do Moita” teve início em 2004. Situado numa casa desabitada, após remodelações, o espaço surge da ideia de criar um pequeno retiro de amigos. Pertencendo o espaço a Rui (Moita) Santos, natural de S. Brás de Alportel, o guitarrista dos Retro Nova foi com o passar do tempo construindo um pequeno estúdio, e isolando as suas paredes criando aquilo que viria a ser um estúdio de música definitivo em 2014. Segundo Rui Moita, «O objetivo principal é ajudar os artistas, fazê-los chegar à cultura do Algarve e mais além porque hoje em dia é difícil as bandas deste lado irem mais

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longe dado que não há nenhuma entidade a ajudar». Como o espaço surgiu fruto de um convívio entre músicos, não está em causa fazer do estúdio um negócio, com fins lucrativos, dado que os tempos anteriores em que as editoras iam em busca dos artistas, contrastam com a atualidade – nos dias de hoje os músicos é que procuram quem os queira lançar, ou simplesmente utilizam o marketing digital, como o youtube, plataforma de sucesso para muitos músicos que serve de ajuda para cada artista ser assim livre de criar o seu próprio público.


Equipado com o melhor material possível, o estúdio não tem publicidade visível, e segundo o seu principal impulsionador, «quem precisa, sabe procurar». Idealizado não só por ele, mas sim por todos que o frequentam, no boxer studio podem ser feitas gravações de áudio, vídeos de produção de álbuns, «beber um bom vinho, e enfim pernoitar!», segundo o músico. O seu público-alvo destina-se a pessoas vocacionadas para música, dos 14 aos 82 anos de idade, com qualquer estilo musical. Sem objeções ao tipo de trabalho que se quer fazer, o produtor musical acrescenta: «É um trabalho que obriga a queimar muitas pestanas atrás do computador, mas quando o trabalho compensa esquecese as horas perdidas». Com a colaboração de músicos de estúdio experientes em áreas musicais diversas, entre eles 2 bateristas, 2 guitarristas, 2 baixistas, 2 teclistas/pianistas, 1 orquestrador/ programador o estúdio possuí equipamento de gravação, microfones, isolação de uma sala principal, cabine de som,

e ainda instalações para músicos que venham gravar e possuam necessidade de ficar instalados. Possuem à sua disposição um quarto com quatro camas, cozinha, casa de banho e ainda uma sala de estar. Mais que um Estúdio de Gravação e Produção de Áudio, o trabalho elaborado vocaciona-se para o Marketing digital de projetos musicais, e gestão dos mesmos numa abordagem de mercado atual nas plataformas digitais de divulgação e redes sociais. Um grande exemplo do que pode ser feito neste estúdio é o teaser do mais recente álbum da banda algarvia Iris, denominado «Ao Acaso» ou o vídeo de Inês Graça, fadista algarvia “O que foi que aconteceu” com a música original de Tozé Brito. O site do Estúdio está ainda disponível em www.boxerstudio.com onde se pode encontrar todas as novidades que estão a ser feitas neste. Artigo: C.Pires I L. Bērziņa I J.Carmo I S. Aço

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Teatro M aio , u m bo m m ês pa ra ir a o Teatro

“Um Picasso” e “Tomai lá do que é bom” são as propostas que a cidade de Faro nos traz este mês de maio. A primeira peça sobe ao palco no Teatro Lethes, sendo que a segunda poderá ser vista no Teatro das Figuras. O espetáculo intitulado “Um Picasso” vem até ao Algarve através da Companhia de Teatro de Braga e estará em cena no dia 2 de maio, às 21:30h. Esta obra, criada a partir da obra A Picasso de Jeffrey Hatcher, com encenação de Eduardo Tolentino conta com a interpretação de Ana Bustorff e Rui Madeira. A peça decorre numa altura em que as obras de Picasso são consideradas “degeneradas” e as tropas Nazis querem a todo o custo o seu fim mesmo que através de alguns meios muito pouco lícitos. O espetáculo leva-nos até a um encontro entre Picasso e uma agente nazi disfarçada de agente artística. A Companhia de Teatro de Braga estreou esta peça em Kherson, na

Ucrânia, no XVI Festival Internacional de Teatro Melpomena Tavryy, no qual a CTB participou pelo segundo ano consecutivo. Por outro lado, nos dias 21 e 22 de maio, às 21:30, o Teatro das Figuras irá receber a peça “Tomai lá do que é bom”. Uma peça comico-erótica, baseada em contos medievais europeus, produzida pelo grupo Teatrito, que em cena irá ter um «frade proscrito, um bobo foragido e uma bruxa condenada, que pretendem libertar, pelo riso, o corpo de todos os que assistirem ao espetáculo», como explica o grupo em declarações prestadas ao Correio da Manhã. As histórias que poderemos assistir durante os 60 minutos do espetáculo estão cheias de «humor corrosivo e de malicia» promete o elenco do Te-Atrito. O preço do bilhete das peças “Um Picasso” e “Tomai lá do que é bom” será de 10 e 5 euros, Notícia: Abigail Machado

C u r i osi dad e: Quem é Je f f re y Hatc h e r ? É u m n o t áve l e p r e m i a d o d r a m a t u r g o n o r te -a m e r i c a n o , n a s c i d o e m 195 7. A s s u a s p e ç a s f o r a m r e p r e s e n t a d a s n a B r o a d way, n o c i r c u i to o f f- B r o a d way e e m te a t r o s n a c i o n a i s e e s t r a n g e i r o s . Ve n c e u i n ú m e r o s p r é m i o s , e n t r e e l e s o p r é m i o E d g a r Awa r d p a r a M e l h o r P e ç a c o m a p e ç a D r. J e k y l l a n d M r. H i d e (2 0 0 8). A Picasso foi escrita em 2005 e estreou no Manhat tan Theatre Club, no mesmo a n o f o i e n c e n a d a p o r J o h n T i l l i n g e r.

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Co nt (o pias) Através d e histó rias co m a ro mas a f rica n os , á ra bes , india n os ,

o rientais

e

eu ro p eus , o co ntad o r d e histó rias

e

co m edia nte

bejense na rra liçõ es d e esp era n ça ,

assina la nd o

as co m em o ra çõ es d o 25 d e a bril .

Ouve-se o burburinho vindo dos pequenos mas muitos grupos dispersos pela área. Estão dispersos contudo todos tão próximos entre si. Passa uma jarra com cravos. São cravos rubros, cor de liberdade! Era abril. Era dia 25. Não de 1974 mas 2015. Este poderia ser o cenário de uma qualquer rua lisboeta onde a revolta estava prestes a dar os primeiros passos contudo o espaço é Faro, mais precisamente o Teatro Lethes e fala-se de Cont(opias). Foi neste espaço centenário que,numa data comemorativa, Serafim deu o seu contributo para o espírito de abril através de um espetáculo que chegou ao público num tom mais informal, como já lhe é característico. Após uma sucinta apresentação da ARCA - Associação Recreativa Cultural do Algarve – que disse pretender, com Cont(opias), levar o público a refletir sobre o que é a liberdade, eis que o espetáculo teve início com a entrada do artista em palco. O artista pisa o palco tendo por banda sonora uma calorosa receção adequada à data em celebração, com palmas, assobios e clamores em tom de apupo que eram nada mais do que apoios entusiásticos. O palco apresentava-se simples, desprovido de adornos ou cenários. Somente uma cadeira e uma jarra de onde brotavam inúmeros cravos vermelhos, os cravos que haviam, inicialmente, passado junto aos espectadores que aguardavam impacientemente nos corredores do Lethes. Ao longo de cerca de uma hora, o contador de histórias presenteou a plateia com contos oriundos um pouco

de todos os recantos do globo, pois «esta viagem condensada numa única sessão pretende atravessar o mundo e os seus ouvintes, reaproximando-os em toda a geografia do afeto», segundo mencionado na agenda cultural do espaço cultural em questão. E esta aproximação foi sentida em cada uma das bancadas do Teatro, em cada lugar da plateia, em cada aplauso fervoroso, em cada gargalhada coletiva que se fez ouvir em uníssono. Serafim é mestre na sua arte e deixa qualquer um embevecido. Não se limitou a fazer uso da palavra, entregou-a entre sussurros, suspiros, gritos de alvoroço, melodias e as inevitáveis “alentejanices” de Beja, sua terra natal e cenário de muitos gracejos. Apesar de se tratar de uma sessão contínua, entre contos houve pausas, momentos em que o ambiente foi (ainda) mais descontraído. Nesses intervalos o artista abordou as mais variadas temáticas, presenteando o público com histórias tão caricatas que custava a crer serem verídicas. Assim, desde um primeiro conto repleto de cânticos que deixam até o espectador mais alheio compenetrado na profundidade escondida por detrás de uma letra inexistente até um último conto que, por meio do tom cómico prende a plateia às cadeiras, Serafim conta “histórias que constroem sonhos” e que contêm ensinamentos. Serafim, o mestre dos contos que veio a Faro contar a esperança, contar o sonho que comanda a vida, contar a história de abril. Notícia: Joana Silva

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O Teatro co m o fo rma d e exp ressã o a r tística O teatro é uma arte que surgiu a partir de rituais primitivos. É, e sempre foi, muito importante para a população, desde os primórdios, em que a usavam para captar os espíritos escondidos nos seres e nas coisas, até aos dias de hoje em que o usam como entretenimento mas também como meio de transmissão de ideias. Para além de uma arte, o teatro é também um meio de comunicação. Este meio foi usado tanto no início dos tempos, para demonstrarem, por exemplo, a força dos guerreiros à população, como mais tarde para manifestação de ideias, de frustrações acerca dos partidos políticos, para evidenciar a grandeza dos reis, e até para reproduzir uma história de amor nos tempos mais sentimentalistas. O teatro teve bastantes épocas diferentes. Em cada uma delas podemos ver significativas mudanças de modos de representar, do que era representado, como e onde era representado, a tecnologia usada, a liberdade de representação existente. Atualmente teatro profissional abrange e serve muito desigualmente o diverso território, sendo cada vez menos as Companhias sobreviventes fora dos grandes centros urbanos. No entanto é consolativo ver que o teatro amador, com tantas ou mais dificuldades ainda nos recursos de funcionalidade, vai cumprindo a sua função sociocultural. Se o teatro profissional atinge por vezes níveis admiráveis de qualidade artística, não deixa o teatro amador de nos surpreender de vez em quando, com o desempenho de um intérprete, com uma encenação, ou com a ousadia de um cenário que se vê decididamente que superou a tradicional insuficiência de meios. Um e outro servem a sua arte de eleição consoante as suas disponibilidades de tempo. E como é impressionante saber que alguém,

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depois de umas tantas horas de trabalho, ainda tem ânimo de se entregar a ensaios ou representações teatrais. Contudo tanto o teatro profissional como o amador tem na mesma uma criatividade cultural prestigiante. Karine Garrido aluna do 2º ano de Ciências da Comunicação, na Universidade do Algarve, pratica teatro amador no grupo II Acto, em Vila Real de Santo António. Esta jovem pensa que cada vez mais o conceito de teatro como algo que pode construir opiniões e transmitir ideias está a desaparecer e que as pessoas apenas buscam o entretenimento. MC - Como entrou o teatro na sua vida? Karine Garrido - Eu sempre gostei de teatro, quando era pequena e quando passavam as revistas na televisão deixava sempre ligada nesse canal. Fiz aquelas coisas que todos fazemos na escola, mas eram papéis pequenos. No entanto pensava sempre que gostava de fazer mais, de criar uma personagem, porque acho que é mesmo esse o desfio do teatro, é o criares uma personagem, viveres uma personalidade que não é a tua. Tive outras experiências, já no secundário. Aí foi diferente porque tive de interpretar um homem, gostei imenso dos ensaios onde aprendi várias técnicas, no entanto a peça em si foi algo bastante simples. Pensei que não era algo para mim dado que sou muito tímida. Quando surgiu a oportunidade para fazer um casting para algo mais sério, mas também amador, não tive coragem, guardava os papelinhos dos castings do II Acto, que é o grupo amador da minha terra, mas nunca chegava a ir. Mais tarde conheci algumas pessoas desse grupo e comecei a ver os projetos mas muito de fora. Os meus amigos participavam mas eu apenas assistia a ensaios. Um dia pediram-me para fazer uma substituição na qual tinha


Teatro

O teatro é visto como uma forma de entretenimento e não como uma expressão artística. apenas de fazer uma coreografia com os braços mas senti-me super nervosa, eu apenas mexia os braços mas ficava tão nervosa como se fosse a protagonista. O facto de entrar no palco era assustador. Quando ficaram sem a protagonista e faltavam apenas dois dias para a peça eu apenas estava a assistir ao ensaio e alguém do grupo apontou para mim e disse que era eu que ia fazer o papel, ele não me deu hipóteses para eu recusar e ainda bem que o fez se não provavelmente nunca tinha experimentado. Tive apenas um dia para decorar o texto e não tive ensaio. No dia da estreia correu bem, fui a única que não se enganou no texto, as crianças adoraram e as pessoas nem repararam que eu tinha sido a substituta. A partir daí fico sempre com os papéis de menina, e agora é tentar sempre fazer coisas novas. MC - O que gosta no Teatro? Karine Garrido - Eu acho que o que me alicia no teatro é o facto de conjugar música, dança e não apenas a representação, porque por norma gosto mais do teatro musical. O teatro é tudo. MC - Quais as principais dificuldades que sente na associação onde participa? Karine Garrido - Nós precisamos de público, o teatro precisa de público e não existe. Nós fazemos apresentações para as escolas e quando abrimos ao público apenas conseguimos encher a sala uma vez, as pessoas não se interessam. Nós não conseguimos fazer mais peças, nem fazer mais porque também não existe público, enquanto se fizermos comédia conseguimos fazê-la seis vezes e enchemos sempre a sala porque é o que as pessoas querem ver. Tentamos sempre ter preços acessíveis e que justifique o trabalho, e levar uma produção tem muitos custos. Mas quando é preciso vamos a associações e oferecemos o espetáculo. O nosso objetivo é sempre levar o nosso teatro ao máximo de pessoas possíveis. MC - Como acha que o teatro é visto em Portugal? Karine Garrido - Em Portugal não temos assim tanto teatro profissional, existem muitos grupos, bons grupos mas a maioria são amadores. Existem vantagens no teatro amador: por norma quando o teatro se torna profissional, torna-se mais mecânico; no teatro profissional pode fazer-se cerca de 300 vezes a mesma peça enquanto

no amador se leva seis meses a montar uma peça que pode ser vista apenas 15 vezes; no teatro amador não se faz por dinheiro é pela paixão de se fazer, é diferente tem sempre outro sabor. Penso que o público em geral não dá muito valor ao teatro, e o modelo que é mais visto é a comédia. Os espectadores assumem o teatro como um forma de esvaziar a cabeça, mas o teatro não é isso, o teatro serve para refletir, para ficar inquieto para criar alguma ação. As pessoas assumem o teatro como a televisão, para eles é algo que apenas se tem de assistir, e isso é uma luta constante feita pelos atores e pelos encenadores, é tentar que a peça seja vista, mas que não seja de uma forma “gratuita“, que o público tenha de pensar e interagir. Penso que a cultura não é muito valorizada e principalmente o teatro porque é visto como uma forma de entretenimento e não como uma expressão artística. MC - Tenciona fazer do teatro a sua vida profissional? Karine Garrido - Não sei, acho que não tenho talento suficiente nem a ambição para o fazer, embora goste muito. Porém acho que o teatro serve para tudo, seja para a nossa vida profissional, na área da comunicação para enfrentarmos um público, como para conseguirmos fazer-nos ouvir. Ninguém sabe, ao certo, quando e onde se manifestou, publicamente e pela primeira vez, no Algarve a arte teatral. Suspeita-se que as artes cénicas, herdadas da colonização islâmica nunca se tenham extinguido no Algarve-Andaluz. Desde o séc. XV existem evidentes referências a certas representações de carácter teatral, em honra de visitas reias ou de comitivas militares. Contudo atualmente tanto o teatro profissional como o teatro amador está presente no Algarve. O teatro amador no entanto não só está presente no Algarve como está cada vez mais presente na nossa sociedade. Segundo a Associação Nacional de Teatros Amadores (ANTA), os grupos de teatro de amadores representam sobretudo peças de autores nacionais, prestando assim um importante serviço à cultura portuguesa.os outros. A partir daí tudo é circunstancial e tudo se pode transformar. Entrevista: Nádia Saramago

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W es A nderson e o seu l egad o Wes Anderson, realizador e argumentista estadunidense, nascido e criado em Houston, Texas - na América do Norte. Com apenas 45 anos de idade, já realizou e argumentou mais de nove longas-metragens, elaborou curtas-metragens, vídeos promocionais e outras publicidades. Vários amigos de longa data continuam a participar nas suas obras até ao dia de hoje, como o caso dos irmãos Owen e Luke Wilson. Ainda assim, este sempre aspirou a carreira de escritor e não realizador. As suas obras distinguem-se pelo género de comédia, “Bottle Rocket”, “Rushmore”, “The Royal Tenenbaums” e “Moonrise Kingdom” são algumas das mais aclamadas pelo público. Anderson caracteriza-se especialmente pelo seu visual gráfico único e distinto: como o uso minimalista de uma palete de cores quentes, vistosas e agradáveis; o uso exclusivo de um outfit por personagem durante toda a obra; a intemporalidade da mesma e a utilização de objetos característicos feitos à mão; o uso de determinados movimentos de câmara, como slow motion, a ilusão de espaço dimensional e a obsessão por composições simétricas são algumas das suas características enquanto realizador. Distinguese também pela narrativa utilizada na maioria das suas obras, introduzindo outros fatores como a perda da inocência, o divórcio dos pais e famílias disfuncionais, temas que introduzem a melancolia e a perda/luto, a passagem da adolescência para a fase adulta e relações de amizade improváveis - todos estes conteúdos devem-se à influência e importância do divórcio dos seus pais na sua infância. A nível de banda sonora utiliza em todo o seu percurso música pop, datada entre meados dos anos 50 e 70.

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C inema

Em grande parte da sua obra está também presente uma superficialidade nas sensações, isto é, não são demonstradas as emoções de uma forma típica da indústria cinematográfica norte-americana. Apesar de algumas influências, o cinema de Wes Anderson tem um carácter muito vincado, principalmente pelo cuidado evidente na composição dos planos que se mostram sempre trabalhados até ao ínfimo detalhe. Com o seu mais recente lançamento “The Grand Budapest Hotel” em 2014, pode afirmar-se que todas estas características na sua totalidade tornam Anderson num realizador peculiar com atributos particulares e intrínsecos, criando assim mundos únicos e especiais com as suas obras. Confirma-se a sua máxima importância como artista na atualidade, não só contribuindo com um agradável nível humorístico, mas abordando temas essenciais no crescimento do ser humano enquanto indivíduo. Artigo: Carina Martins

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Capitão Falcão “ Ca pitã o Fa l cã o” é o fil m e q u e la n ça a ca rreira d o rea lizad o r J oã o Leitã o. U ma pa ródia a o Estad o N ovo através d e u m su p er-h erói na cio na lista , co m estreia em mais d e 5 0 sa las d e cin ema , d e n o r te a su l d o país . Originalmente pensada para uma série televisiva, a ideia acabou por ser abandonada, restando apenas um episódio piloto que serviu de rastilho para a longa-metragem rica em referências internacionais sem descurar a “portugalidade” necessária para o sentido e credibilidade do filme. Deste modo, “Capitão Falcão” é um balanço entre o cinema de Hollywood e o cinema português. O realizador de “O Grande Monteleone” e da paródia “fascista”afirmou, em entrevista à agência Lusa, que a ideia sempre foi criar um super-herói português que iria fazer o impensável: “É muito mais hilariante imaginar que ele é a favor do regime. O conceito base foi «vamos fazer tudo ao contrário». O vilão é o herói e o herói é o vilão.” Capitão Falcão e Puto Perdiz fazem uma dupla ao estilo de “Batman &Robin, mas fascistas”, David Chan Cordeiro, no papel de Puto Perdiz é o responsável por todas as coreografias de luta do filme, alusivas a Bruce Lee e JackieChan. Gonçalo Waddington, que interpreta Capitão Falcão, afirma: “A inteligência com que isto é escrito, filmado e feito, está muitos furos acima daquilo que normalmente leio e vejo. Quem não está preparado pode sofrer. No humor nada é intocável, por uma questão de princípios. Não há limites para o humor, há limites para o mau gosto e para a estupidez”. O elenco integra ainda Miguel Guilherme, Luís Vicente, Ricardo Carriço e José Pinto, que merece destaque para a sua interpretação de Salazar,

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que ao reproduzir fielmente a forma de falar do ditador, ajuda o espectador a mergulhar no enredo.A paródia conta ainda com uma banda sonora composta por Pedro Marques, gravada pela Orquestra Sinfónica de Praga. Mas nem tudo é ouro sobre prata, a longa-metragem conta com um grande prolongamento das cenas de luta – chegando mesmo a ser maçador – bem como falta de ritmo, um elemento crucial na comédia. Para além disso, e tal como é típico do cinema português, praticamente todas as cenas da comédia de João Leitão são acompanhadas por longos e complexos diálogos o que faz com que o espectador por vezes se concentre no escrutinar dos mesmo descorando os detalhes do cenário que dão, de certo modo, veracidade à paródia. Em suma, podemos dizer que o objectivo de toda a equipa de João Leitão foi cumprido. “Capitão Falcão” consegue divertir o espectador através de uma longa-metragem leve, de fácil percepção que não deixa de lado o cariz crítico que a comédia, por vezes, tem.

Artigo: João Gama ! Ana Rita Sobral


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A live I nsid e: A Sto r y of M usic a nd M em o r y “Alive Inside” é um documentário dirigido por Michael Rossato-Bennett que acompanha Dan Cohen, assistente social e fundador da organização sem fins lucrativos “Music & Memory ” e mostra a sua luta contra o sistema de saúde, numa tentativa de provar os efeitos positivos que a música pode ter em pessoas com doenças como o alzheimer ou problemas depressivos, a sua capacidade para combater a perda de memória, procurando alcançar memórias profundamente guardadas através da música personalizada (aquela que tem em consideração a história de cada um). Dan pediu a Michael Rossato-Bennett que o filmasse durante um dia, pois queria mostrar às pessoas aquilo que tinha observado e o que acontecia quando dava a idosos e pessoas com alzheimer a música que em tempos fez parte das suas vidas, mas aquilo que o realizador viu comoveu-o de tal maneira, que acabou por acompanhar o assistente social durante três anos. Este documentário retrata experiências inspiradoras e surpreendentes de várias pessoas que vivenciaram a diferença que a música pode fazer e que foram revitalizadas pelo seu poder. Contando ainda com depoimentos de especialistas, mostra-nos a forte ligação que existe entre a música e a alma, relevando

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uma cura que vai além daquilo que medicamentos conseguem tratar. Neste documentário são retratados depoimentos emocionantes de familiares e funcionários de instituições acerca dos efeitos impressionantes que testemunharam através deste método e mostra-nos o antes e o depois das pessoas terem contacto com a música e as mudanças extraordinárias que isso provoca na sua vida, na sua memória e na sua forma de estar. O filme lembra-nos que o Alzheimer e a demência são uma realidade bastante frequente, que afecta milhões de pessoas e que muitos lares não estão preparados para satisfazer plenamente as necessidades destas pessoas e conta ainda com entrevistas a especialistas como Oliver Sacks (neurologista); Bill Thomas (gerontólogo e fundador do Eden Alternative e do Green House Project); Concetta Tomaino (pioneira da Musicoterapia americana e co-fundadora do Institute for Music and Neurologic Function) e o músico Bobby McFerrin. Michael Rossato-Bennett conseguiu o Audience Award no Sundance Music Festival de 2014 com esta que foi a sua primeira longa metragem. Artigo: Raquel Westwood


A M a gia da Disn ey Per m a n ece O s c i nema s vol t a m a ex i bi r o cl á s sico Ci nder el a

Ninguém capta bem a magia como a Disney. Passados todos estes anos, foram produzidas longas-metragens maravilhosas e memoráveis que ainda hoje fazem com que o espectador se agarre cada vez mais aos grandes ecrãs. Inicialmente, no século XVIII, o conto foi difundido pelos Irmãos Grimm, sendo que a Disney adaptou pela primeira vez nos anos 50 numa versão animada. Agora Cinderela volta mais uma vez às salas de cinema, mas desta vez com um filme de imagem real e atores tais como Lily James, Cate Blanchett, Helena Bonham Carter e Richard Madden, que dão vida às personagens intemporais. Foi realizado por Kenneth Branagh, muito conhecido por adaptar obras de Shakespeare ao cinema. Teve uma receita positiva nos Estados Unidos de 67,9 milhões de dólares nos primeiros três dias nas salas de cinema e

aproximou-se dos valores de Maléfica, que teve uma receita de 69, 4 milhões de dólares. Muitos críticos referem que o filme em si continua com toda a sua simplicidade ao filme de animação anterior e que não traz muita novidade ao público, mas que mesmo assim consegue captar a atenção do espectador e fazer com que este se entregue novamente à trama, fazendo recordar os tempos de infância. Assim, esta simplicidade latente acaba por ser o maior trunfo. Há que também salientar o brilhante papel da atriz Cate Blanchett, que interpreta o papel da madrasta Lady Tremaine, que faz com que a personagem tenha motivações humanas para ser a má da história, uma vez que na história ela é uma viúva com duas filhas e sem dinheiro. Da mesma forma surpreendeu Helena Bonham Carter, no papel de fada-madrinha, que se disfarça de mendiga na primeira aparição a Cinderela. O Clássico foi estreado a 19 de Março em Portugal e ainda se encontra em exibição nalgumas salas de cinema de norte a sul. Artigo: Inês Bila

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Cinema no A lga r ve R ea lidad e o u Hoje em dia no Algarve o cinema é uma realidade desconhecida para muita gente. Para dar a conhecer esta realidade aos leitores, três professores da Universidade do Algarve responderam a algumas perguntas. Em primeiro lugar, quiseram mostrar o que é que a sua instituição faz a nível da Sétima Arte. Existem duas unidades orgânicas que estudam o cinema, a Escola Superior de Educação e Comunicação (ESEC) e a Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (FCHS). A última trabalha esta vertente a um nível teórico de uma maneira muito geral, através do curso, Artes Visuais. Existe também um Mestrado e o Doutoramento em Comunicação, Cultura e Artes que contém vários projetos na área do cinema. Já a ESEC têm um subsistema politécnico, ou seja, focam-se mais na prática. Segundo os professores há essencialmente três cursos que estudam e produzem esta área: Ciências da Comunicação, Imagem Animada e Design da Comunicação. Segundo o professor Vítor Reia, Ciências da Comunicação aborda mais o cinema cultural, principalmente através de duas unidades curriculares, Cultura Fílmica onde “Procura-se desenvolver algumas capacidades de conhecimentos gerais” e Linguagens

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ficçã o?

Fílmicas e Guionismo onde ”se desenvolve algumas capacidades mais específicas relacionadas com a própria atividade criativa”. Já Imagem Animada aborda o estilo de produção específico, animação. Por fim, Design “aborda muito perifericamente” o cinema. Atualmente o professor Bruno Silva está a fazer o seu pós-doutoramento na Universidade do Algarve, trabalhando o cinema interativo com o seu filme O Livro dos Mortos. O professor Reia e Mirian Tavares são orientadores de mestrados e doutoramentos na área do cinema, estando fortemente envolvidos no filme. Para além disso, a UAlg ainda participa em projetos internacionais como por exemplo, um projeto que é desenvolvido em parceria com a British Film Institute no campo da literacia fílmica. No entanto, segundo o professor Vítor Reia “Não há uma atividade de produção continuada porque esse não é o objetivo da Universidade”. Mas referem ainda outro instituto no Algarve que trabalha, estuda , promove e apoia a produção cinematográfica que é o CIAC, Centro de Investigação em Artes e Comunicação. Este foi criado em 2008 e maior parte dos seus investigadores são professores


da Universidade com uma base de estudo em cinema. O CIAC trabalha com várias universidades do país, tendo uma sede na Universidade do Algarve. Segundo os professores entrevistados o CIAC apoia vários projetos, incluindo pequenos projetos de realizadores algarvios, projetos de realizadores que vêm do estrangeiro organizando palestras e conferências. Também já agiram diretamente na edição de livros sobre cinema e na produção de um documentário chamado Um Filme Português de vários autores. Para dar a conhecer aos leitores a qualidade do cinema algarvio os professores recomendaram os seguintes filmes: Lúcio de Rui António que segundo a professora Mirian Tavares “é muito interessante” e Ruínas no Interior de José Sá Caetano, recomendado por o professor Vítor Reia, este foi produzido inteiramente no Algarve. Portanto percebe-se que o cinema no Algarve é uma arte muito experimental e explorada a nível académico, fazendo dele uma área a ser explorada e apoiada, porque segundo Mirian Tavares “Há muita gente fazendo muita coisa, o que não há é uma divulgação organizada”. Reportagem: Andrew Brito ! Mónica Miranda

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F otog ra f ia

Vasco Célio A M a nipu la çã o da l uz co m o fo rma d e co nta r histó rias Nasceu em Angola, mais propriamente em Lubango mas foi o Algarve que o viu crescer e desenvolver o fascínio pela luz. Estudou em Lisboa no CENJOR e mais tarde em Faro no Instituto Superior Afonso III. Em 1995 inicia a sua carreira profissional, como freelancer, colaborando com variada imprensa, destacam-se os jornais Público, Expresso e Diário Económico, as revistas Visão e Sábado, a Agência Lusa e a Getty Images. No entanto, Vasco Célio não ficou apenas pelo fotojornalismo, é também o fundador da empresa Stills, em Loulé onde explora a satisfação visual e a estética em áreas como a publicidade e moda. Ao longo dos anos tem desenvolvido trabalho de autor, tanto em projetos artísticos

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individuais como coletivos. Ao longo das diversas exposições que já realizou é possível denotar um cunho pessoal, a construção da imagem, a articulação da linguagem e a forte influência regional são características comuns na maioria dos seus trabalhos. No seu projeto intitulado “Ilhas”, é-nos mostrada a ilha da Culatra, na ria formosa, mas as fotografias que retratam os homens desta terra bem como as suas paisagens conduzem-nos a uma linguagem metafórica, um vasto território, disperso e partido, repleto de identidades. Em 2007, apresenta “quando a estrada acaba”, novamente um trabalho com um sentido metafórico. O fim de uma estrada não traduz unicamente o limite, o fim, é também o final


de uma etapa, de uma encruzilhada ou a vontade que algo novo surja. Enquanto vemos as imagens trazidas por Vasco Célio, para além da sua beleza estética, está sempre presente a abordagem ao desafio, a busca pelo caminho que deve ser seguido. No mesmo ano Vasco Célio apresenta “Murcado da Balburdia” uma série de fotografias tiradas durante o carnaval de Alte, um evento anual que junta gentes daquela terra e é produzido e realizado para dentro, onde se brinca com as figuras mais populares da freguesia louletana. O título e consequente gralha foi retirado de um dos fotogramas. Cerca de 6 anos depois Vasco apresenta “Tochas Floridas”, desta vez realizado em São Brás de Alportel. Tal como em “Murcado da Balburdia” aqui é retratado um evento local, neste caso homens, anónimos, que todos os anos concebem arranjos florais com flores silvestres e competem entre si. Em ambos os trabalhos a influência regional é bastante evidente, a envolvência em festas locais, o transpor da realidade para a fotografia e o alargamento de perspetivas. A nível coletivo, destacam-se os projetos 12.12.12 e Troika. Ambos os trabalhos estão assentes na realidade portuguesa dos últimos anos, a crise económica e financeira mudaram a realidade portuguesa, em 12.12.12, 12 fotógrafos foram convidados a fotografar a crise e o ano de 2012, a fotografia que Vasco selecionou para este projeto demonstra o estado atual do Savannahs, o primeiro aldeamento no sul da Europa concebido para maiores de 55 anos que após o forte impacto da crise financeira na economia europeia ficou sem viabilidade económica. Em 2013, no projeto Troika, Vasco Célio é convidado a fotografar os efeitos da crise na sociedade portuguesa, mostrando as consequências e resultados das intervenções impostas a todos nós. A forte presença da realidade algarvia, bem como dos seus costumes e tradições estão presentes na maioria do seu trabalho de autor, a composição cuidada transmite o detalhe com que constrói as suas fotografias, através do olhar do fotógrafo Vasco Célio os horizontes são estendidos e podemos aprender a observar todas as realidades que nos rodeiam.

Ilhas

12.12.12

Murcado da Balburdia

Opinião: André Sousa Expressões Artísticas Contemporâneas

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F otog ra f ia Peter Lik a a r te da fotog rafia co m o n eg ó cio milio ná rio “Circulou, em dezembro passado, pelos órgãos de comunicação de todo o mundo, a notícia que teria sido batido o recorde de venda da fotografia mais cara de sempre, pelo montante de 6,5 milhões de usd, atribuída a “Phantom” do fotógrafo australiano Peter Lik. Ao que parece, a base desta notícia teria partido de um comunicado de imprensa do próprio artista, e que o comprador anónimo, teria adquirido ainda mais duas obras de Lik: “Illusion” e “Eternal Moods” (por 2,4 e 1,1 milhões de usd, respetivamente). A industrialização da fotografia também significou a democratização das artes visuais, e, as suas técnicas têm sido adotadas pela arte, como um instrumento para a imaginação e manipulação estética. De algum modo, a fotografia torna-se uma forma interessante de expressão para a arte contemporânea. É um meio de expressão artística. Se por um lado fotografia é técnica e o controlo de diversas variáveis, também é por outro, composição e liberdade criativa. Mas, antes de tudo, fotografia é essencialmente luz. Fotografia não é um ato mecânico, o que importa realmente é quem está por trás da câmara, quem clica no botão e transforma a realidade numa representação de símbolos e códigos. Depende muito da nossa capacidade de espera, em alguns casos. “Muitas vezes, fotografia é estar no local certo, na hora certa, e a sorte não é algo que se possa controlar, mas que se procura obter.” (Daniel Camacho, fotógrafo). É isso que Peter Lik faz, viaja pelo mundo inteiro à procura da fotografia perfeita, impulsionado por uma vigorosa determinação para capturar a beleza que vê com o seu profundo respeito pela natureza. Tornouse multimilionário, não só através das 15 galerias de foto-arte que possui, mas também através da comercialização de fotografias, livros, posters, programas de televisão, etc. De origens humildes, filho de imigrantes checos, Peter Lik nasceu em Melbourne, Austrália. No dia em que comemorava o seu oitavo ano de vida, recebeu pela primeira vez uma camara fotográfica, a histórica Kodak Brownie, que o marcaria para vida. Reconhecido pelas mais importantes organizações ligadas à fotografia (BIPP (Bristish Institute Professional Photography), a RPS (The Royal Photographic Society) e a NANPA (North American Nature Photography As-

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sociation). Salvaguardando as devidas diferenças, o trabalho de Peter Lik vai beber grande inspiração no histórico fotógrafo americano Ansel Adams. Também como ele, Lik pretende através das suas extraordinárias e coloridas fotografias de paisagens, preservar os santuários selvagens da natureza com a sua máquina analógica de grande formato panorâmico, a Linhof Techorama 617s III. Aderiu também, como não podia deixar de ser, ao formato digital com a Canon 1Ds Mark II, conseguiu fotos como “Ghost” e Inner Peace” que estão expostas no Smithsonian Museum nos EUA. Utiliza ainda máquinas Mamiya 645, Phase One IQ180 e Seitz digital Panoramic 6x17, que lhe permite obter ângulos até 360º. Dado o avanço tecnológico, através de uma técnica de impressão única e utilização de um papel especial, o Fuji Crystal Archive Pearl Metallic, o trabalho deste fotógrafo ganha uma extrema riqueza de pormenor e impacte visual, dando às suas fotos uma pantone de cores inenarráveis. Fotografia é criatividade e uma forma de expressão. Pode ser concetual, algo abstrato, uma visão poética do que vemos e sentimos, ou uma representação real de um cenário que achamos interessante ou que, pura e simplesmente, queremos registar. “Fotografia, é uma imagem pura de ótica que, através dos nossos olhos, capta o que é visto e, com a ajuda da nossa experiência intelectual, provoca ligações por associação e transforma-a de algum modo em imagem do imaginário. Primeiro, somos forçados a ver a verdade ótica antes de começar a despertar para uma possível atitude subjetiva (László Muholy-Nagy, grande fotógrafo húngaro).” Numa galeria de Peter Lik, somos confrontados por imagens que se afirmam simplesmente pela sua qualidade fotográfica, sem terem de se servir da arte. São imagens sedutoras, dominadas por uma luz iridescente, realçadas por projetores estrategicamente colocados. Fotos de grande dimensão, focam o ato de ver e os modos de perceção. Captam o nosso interesse de observadores em toda a retórica da imagem fotográfica, antes de gradualmente irem revelando a construção interior. Tornamo-nos protagonistas do jogo estético que se descobre perante os nossos olhos. Fazem mudar a maneira de como vemos a natureza. Se gosta de fotografia, visite o site www.lik.com e decida se aquilo que vê é ou não arte. Artigo: Jo Guer

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Os Fotóg r a fos dos So n h os A

e x p o s i ç ã o foto g r á fi c a

“ Sempre Quis Ser…”

é u m pr oj e to d e -

s e n vo l v i d o p o r d o i s j o v e n s p o r t i m o n e n s e s q u e f o r a m d e s c o b r i r o s s o n h o s d o s s e m -a b r i g o l i s b o e ta s

De máquina fotográfica e ardósia nas mãos foi percorrer com o coração a capital portuguesa. Os jovens portimonenses, Catarina Fernandes e João Porfírio, iniciaram o projeto “Sempre Quis Ser…” que ambicionava fotografar pessoas sem-abrigo que vivem debaixo de céu aberto, mas de portas fechadas que impediram de ver concretizados os seus sonhos. Este projeto que começou há um ano é da autoria dos dois jovens estudantes que encontram na arte uma forma de dar voz às diferentes realidades. «Em conversa com um sem-abrigo, ele disse-nos: “eu sempre quis ser professor ”. Fomos para casa a pensar nisso e lembramo-nos de pegar nessa ideia e procurar outras pessoas, para sabermos os sonhos delas», relatou o jovem ao Sul Informação. Apresentam um conjunto de dez fotografias que descobrem os sonhos profissionais e pessoais de dez pessoas que vivem sem teto. «A Catarina fazia a parte comunicativa, o contacto com a pessoa […] e eu era o repórter e consegui estas fotos!”. Houve quem sonhasse ser pedreiro, professora, engenheiro civil, médica e, até, feliz. São estas algumas das ambições destruídas por uma vida que não acompanhou o ritmo da quimera. O berço deste projeto fotográfico conta com a entrega genuína destes jovens a uma vontade de querer retratar aquilo que passa despercebido à maior parte das pessoas que passeiam nas ruas.

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Ambos com vinte anos, João e Catarina estudam em Lisboa, ele que estuda fotografia na ETIC – Escola de Tecnologias Inovação e Criação – realizando, ao mesmo tempo, trabalhos de fotojornalismo para vários órgãos de comunicação social; ela que frequenta o curso de expressão dramática no Chapitô e também o curso de cenografia na mesma instituição. Na conceção destes jovens as fotografias teriam de ser obrigatoriamente a preto e branco porque é este o registo artístico de João mas também porque estas tonalidades conferem a emoção e o dramatismo que se pretende, “Dei muito contraste às fotografias com essa intenção”, como relatou o jovem artista ao jornal OJE. Uma tarefa que não se desenrolou facilmente mas que originou uma exposição fotográfica que já marcou presença em diversos pontos do país, fazendose chegar a vários cantos da Europa e, inclusive, ao Brasil. Cumpriu-se um dos objetivos que era conduzir até ao público uma visão sensibilizadora, levandoo a refletir sobre quem vive na rua, sobre as suas sensibilidades, não permitindo que as mesmas sejam esquecidas, mas sim recordadas na memória imortal de uma fotografia.

Reportagem: Ariana Nobre


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Sebastião Salgado Génesis, em busca de um mundo mais puro e pristino

Perfil

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Nascido a 08 de Fevereiro de 1944, em Aimorés, Minas Gerais, Sebastião Salgado é formado em Economia e começou a sua carreira de fotógrafo em Paris, em 1973, e o seu último grande projeto fotográfico está a ser exibido de 10 de Abril a 2 de Agosto na Cordoaria Nacional, em Lisboa. A exposição, curada por Lélia Wanick Salgado, incluirá 250 imagens de grande formato captadas entre 2004 e 2011 nos lugares mais recônditos e desconhecidos da Terra. Esta exposição foi inaugurada pela primeira vez a Abril de 2013 no The Natural History Museum, em Londres. Neste projeto, pretende mostrar imagens a preto e branco de fauna e flora de lugares pouco explorados pelo Homem e onde encontrou comunidades indígenas do Amazonas e da Nova Guiné. As imagens, captadas em várias áreas geográficas, serão apresentadas nas secções “Sul do Planeta”, “Santuários”, “África”, “Espaços a Norte” e “Amazónia e Pantanal”. Trabalho realizado ao longo de uma década, que contou com mais de 30 viagens pelo mundo entre 2004 a 2011. As fotografias a preto e branco, estilo habitual do artista, que compõem “Génesis”, é uma homenagem à grandiosidade da natureza e ao mesmo tempo sensibiliza a fragilidade da Terra, mostrando lugares quase intocados pela Humanidade com o intuito de as preservar. Em julho de 2014, o seu livro “Da Minha Terra à Terra” foi lançado em Portugal onde conta pela primeira vez a história pessoal e faz revelações das raízes políticas, éticas e existenciais do seu trabalho. Após terminar “Êxodos” (1999), movido pela crueldade e depressão que a sua espécie exercida contra natureza começa a exploração e recuperação ambiental, que teve início na fazenda dos seus pais em Bulcão. Ao plantar mais de 2 milhões de árvores na mata da Atlântica, o autor fortalece a sua ligação com

a natureza, o que permitiu ter uma nova visão do que é mais puro e pristino da mesma, o que influenciou á criação de “Génesis”. Por questões monetárias teve que arranjar uma solução para avançar com o projeto e dinamiza-lo, produzindo histórias. Para tal, o fotógrafo tinha a necessidade de fazer parceria com revistas e jornais, tais como, “Paris Match”, “The Guardian”, “La Reppublica”, entre outros que publicassem essas mesmas histórias. No entanto, foi necessário estipular um prazo fixo para o projeto, pois ninguém aceitaria um projeto com projeção no infinito. Devido á falta de tempo, seria impossível conseguir explorar o planeta, ver e estar as mais puras e virgens paisagens, por isso Sebastião contou com dados da Conservation International, uma organização respeitável baseada em Washington D.C., e deste modo conseguiu concretizar o projeto que outrora demoraria três vezes esse tempo, o que no fundo “Génesis” contém uma boa amostragem, embora pequenina do planeta. A fotografia é uma forma de estar e comunicar na sociedade, e para o autor, o preto e branco é um modo de transmitir uniformemente o que observa, permitindo-lhe captar numa fotografia apenas o que pretende, afirma o autor. Sebastião Salgado salienta que “para fotografar um leão, uma formiga, uma baleia, você tem que aceitar, tem de tentar compreender a dignidade de um animal, a sua personalidade, e respeitar o seu território, tal como acontece ao fotografar as pessoas.” Contemplando o mundo no seu todo, Salgado estabelece que esse mesmo mundo não pertence a ninguém devendo respeitá-lo e conservá-lo com toda a virtude. A única maneira de dizer ao mundo o que ele sente e idealiza é fotografando.

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Perfil: Sara Sousa | Tiago Bentes

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A r tes Visuais

D o m M ald ito Pedro Paixão, em «espécie de amor», escreve: “Ser inteligente, vistas bem as coisas, já é um péssimo negócio, ser um génio, criar mundos que não existem senão no espírito e para o espírito, é o fim do mundo.” Jean Michel Basquiat era um génio e, neste mundo, ser um génio é uma maldição, porque afinal «nobody loves a genius child». Esta «radiante child» possuía a invulgar capacidade de construir mundos e, a partir de portas e janelas encontradas no lixo, transportava-se para o mundo que construíra. Em apenas dois anos, o menino de rua passou a artista internacionalmente conhecido. Mais tarde, veio a comprovar-se consequência de tão brusca mudança. Os que o rodeavam assistiram à sua completa metamorfose – à dele e à da sua arte. Um ser assim, genial, por norma é incompreendido, a não ser que se identifique com alguém que também conheça a outra faceta da arte, aquela que não se vê, mas que se sente intuitivamente. Alguém que já tenha experimentado o sabor amargo e viciante da loucura, que desafia a lógica e a razão. Alguém que também tivesse a ousadia de se entregar ao processo criativo, de forma irracional. Alguém que entendesse o seu modo de viver e que visse o mundo com os mesmos olhos. Alguém como Andy Warholl. Como acontece com a maior parte dos génios, a vida de Basquiat terminou de uma forma inesperada. Depois do destino lhe ter arrancando o seu porto de abrigo, aos singelos 27 anos, deixa um património cultural de fazer inveja a grandes artistas que viveram uma longa vida.

Estas pessoas especiais, os artistas, reis de outros mundos, a partir de uma certa altura, deixam de ser capazes de carregar com o seu génio e o oxigénio que criam, através das obras artísticas, para os outros (os consumidores), torna-se tóxico para eles próprios – uma cruz insuportável de carregar. No entanto, os demais, não tão especiais, os intelectuais por exemplo – aqueles que consomem parte desse oxigénio – têm a necessidade de criar ligações entre as coisas e, numa utopia ciclica que não tem fim, vivem atrás do desejo de encontrar algo em comum, mesmo ao que parece irrecusavelmente dividido e, por sua vez, possuem a irónica destreza de justificar o injustificável. Nessas análises, os críticos despem-se de bom senso e à vista restam preconceitos. Racismo, homofobia, exclusão social, nesta vida tudo vale para desvalorizar até mesmo o que tem valor incalculável. Ainda assim, paradoxalmente, o génio só se torna artista quando o crítico nomeia a sua obra como arte. Selvagem, o rótulo que lhe foram atribuido, mas Basquiat não se importava de passar pelo papel de «black bad-boy». De certo modo, a vida é sempre fracassada, sobretudo a do génio. Fica sempre algo por fazer ou corrigir e Jean Michel levou consigo a incessante necessidade de se afirmar, agradar e ser aprovado pelo pai. Quando a cidade o sufocava, Hawai era o seu refúgio. Basquiat vendeu tudo, mas não vendeu a sua alma. Artigo: Karine Garrido

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Casa d o S a l dina miza Castro Ma rim Espa ço cu ltu ra l o rga niza eventos q u e p ro m ovem a r tistas e a suas cria çõ es Inaugurada a 24 de junho de 2014, a Casa do Sal já recebeu vários artistas e divulgou obras e espetáculos no Município de Castro Marim. O edifício recuperado através de fundos do PROMAR (Programa Operacional de Apoio às Atividades do Mar), pertence ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e tem como objetivo difundir as salinas, aliando a valorização da criação artística. Com os vários eventos, pretende-se “incrementar alma na Casa, com atividades não só ligadas à atividade salícola”, explica Filomena Sintra, vice-presidente da Câmara Municipal de Castro Marim, Até agora, a Casa do Sal já deu lugar a atividades, tais como workshops com crianças; exposições associadas à biodiversidade da reserva, onde é extraído o sal; bem como ações na área da gastronomia e da escultura. Filomena Sintra espera que o espaço multicultural seja “um ponto ótimo de afirmar Castro Marim e criar uma marca positiva em relação ao sal”. O espaço também recebe apresentações de livros, como foi o caso “Viagem ao Algarve” de Diego Mesa, a 17 de abril de 2015, baseado em “Viagem a Portugal”, de José Saramago, que contou com a presença de Pilar del Rio, presidente da Fundação José Saramago. Recentemente, foi iniciado o novo projeto “Artistas de Cá” inserido na Casa, com o objetivo de incentivar a criação artística local e ajudar os artistas a

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A r tes Visuais divulgar os seus trabalhos, ligados ao património e cultura do território. Deste modo, tenciona-se abranger as mais variadas vertentes artísticas, das quais se destacam a pintura, escultura, fotografia, vídeo, desenho, espetáculos, artesanato e dança. Este projeto estreou-se com a exposição “Oniria” de Carla Mourão, pintora e professora da Escola Básica de Castro Marim. As obras expostas são o resultado de “deambulações pelo vasto território do sonho” refere a autora. Para além disso, conta também com 15 desenhos a tinta-da-china, que retratam a maternidade nas suas diferentes fases. Os artistas contemplados neste projeto são selecionados de acordo com “normas de utilização, em que as pessoas vão-se inscrevendo e é organizada uma agenda, de forma a ter uma só exposição ou juntar artistas”, esclarece a Vice-Presidente. Esta exposição terminou a 30 de abril deste ano, no entanto já estão agendados novos eventos para os próximos meses. De entre eles salientam-se uma exposição sobre a arquitetura tradicional do algarve com a apresentação, em simultâneo, de um livro sobre o Algarve rural; exposição de uma coleção particular de guitarra portuguesa associado a workshops de culinária; exposição de 70 cavaquinhos, 70 artistas promovida por Júlio Pereira, expoente máximo do cavaquinho em Portugal; exposição de fotografia aérea, de Guerrant e uma exposição de filatelia. Filomena Sintra aponta ainda que pretende que a Casa do Sal seja “um pequeno centro cultural, nunca esquecendo a essência do sal e a valorização da reserva”. Notícia: Mafalda Vicente | Sofia Elisiário

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M oda Neste mês de Abril, o deserto da Califórnia recebeu mais uma vez o Coachella Valley Music and Arts Festival. O festival teve origem em 1999 mas foi só há poucos anos que ganhou reconhecimento como um festival de luxo, um dos mais caros festivais do mundo e onde, para além da música, a moda é também super importante. Acontece durante dois fins de semana, este ano os dias escolhidos foram 10, 11, 12, 17, 18 e 19 de Abril que, entre outros, contaram com a presença de artistas como AC/DC, Drake, Florence and the Machine e George Ezra. O festival centra-se muito no espírito boho e hippie, visto que acontece no deserto onde as temperaturas são altas, o que faz com que os looks sejam frescos e modernos. No que toca a moda e a tendências é um poço de referências, pois para além de reunir grandes nomes da música norte americana e internacional, reúne também celebridades e fashionistas que desfilam nos seus looks incríveis e se tornam fontes de inspirações para todos os amantes da moda, já que são infinitas as fotografias de looks no festival. Tanto de famosos estilistas que as celebridades mais conhecidas acabam por destacar através dos seus looks, como de fashionistas que combinam outfits de estilos diferentes numa expetativa de lançar as suas próprias peças, visto que os outfits são o mais observado neste festival. Digamos também que acaba por ditar tendências de estilo para quem o acompanha. A música e a moda juntam-se de uma maneira única neste festival, já que as bandas são diferentes, assim como os estilos que por lá se encontram. São os mais emblemáticos artistas que lá atuam que lançam tendências de moda, que hoje em dia têm uma grande influência na sociedade, especialmente nos jovens. O Coachella Valley Music and Arts Festival centra-se tanto na moda que já existem lojas de roupa, como a internacional H&M, que dedicam uma coleção especial para os amantes do festival, meses antes deste acontecer. As roupas são, mais uma vez, leves e frescas mas sem nunca esquecer a moda e as novidades das tendências. São dias em que a Califórnia se torna ainda mais num autêntico palco de moda que acaba também por ditar tendências de estilo para quem acompanha o festival, seja ao vivo ou através das redes sociais. Aliando a música à moda, este é o festival do género mais esperado do ano, seja pelas celebridades como pelos fãs que esperam ansiosamente para ver os looks que se vão usar. As tendências este ano foram ditadas: as tatuagens flash, as rendas, os botins, os chapéus, assim como as sandálias gladiadoras, os calções, a camurça e principalmente peças com franjas, tudo num estilo muito bohémio. Artigo: Inês Santos | Beatriz Lança

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Gi sel e Bü ndc hen d i z adeu s à s pa s ser el es A cél ebr e model o br a sil ei r a Gi sel e Bü ndc hen , a nu nc iou no pa ss ado d ia 1 8 de Ma r ç o q ue se i r ia r et i r a r da s pa s ser el l es p or q ue “o cor p o ped iu”. Cer c a de u m mês dep oi s , a model o q ue out r or a já foi con sider ada a mul her ma i s bon it a do mu ndo, r eal i zou o seu úl t i mo desf il e, pel a ma r c a Col cc i , em S ão Paul o, no B r a sil . Gisele Caroline Bündchen, nasceu a 20 de julho de 1980 (34 anos) em Rio Grande do Sul, no Brasil. Os seus pais são alemães e esta cresceu, juntamente com as suas cinco irmãs, numa cidade maioritariamente povoada por famílias de ascendência alemã. Foi em São Paulo que Gisele foi descoberta pela Elite, e conta que esta seria a primeira vez que alguém a tinha achado bonita. Com apenas treze anos e o seu estrondoso metro e oitenta, entrou imediatamente para o concurso Elite Model Look of The Year em 1994, atingindo o 4º lugar. Este, foi o motivo para o despoletar da sua carreira, que todos sabiam prometedora, mas não imaginavam que mais tarde viria a ser eleita a mulher mais bonita do mundo pela VOGUE e pela Rolling Stone, e considerada pela Forbes, a modelo mais bem paga do mundo. Apenas dois anos depois de ter ganho o concurso, Gisele já se afirmava na Semana da Moda em Nova Iorque e no ano seguinte desfilava para o emblemático Alexandre McQueen, desfile que ficou marcado, pois foi onde batizaram a modelo com o termo “O Corpo”, designação para descreverem que esta possuía o corpo perfeito. Em cerca de quatro anos, a modelo contava já com mais de 500 capas nas mais variadas revistas, era o rosto de grandes marcas como Dolce & Gabbana, Valentino, Versace, Chloé ou Ralph Lauren e assinou o contrato com a Victoria’s Secrets, o qual quebrou recordes: 25 milhões de dólares. Para além disso, a modelo teve também duas experiências no mundo da representação em “Táxi” e “O diabo veste Prada”, embora tenham sido apenas pequenas participações, nada com grande destaque.

Como qualquer figura pública, a sua vida amorosa foi alvo de comentários e boatos. Um deles foi o rumor de que mantinha uma relação com Leonardo DiCaprio, mas que foi facilmente dissipado quando assumiu a relação com Tom Brady. Foi a partir dessa altura que a Gisele adotou uma outra imagem, deixou a imagem de supermodelo, de beleza incomparável e futilidade, a léguas de distância. Mostrando ao público que a seguia e ao mundo da moda que tinha muito mais para dar. Com um casamento, dois filhos, fundações em nome da sua família, marcas de sapatos cujos lucros revertem para reflorestar, um título de embaixadora da Boa Vontade pela ONU e protagonista de diversas doações anuais (para ajudar populações afetadas por catástrofes naturais, para acabar com a desflorestação, para assegurar a sustentabilidade da Amazónia, etc). Gisele muitas vezes questionada pelas ações e doações que faz por parte dos menos solidários, responde com facilidade “Porque eu posso”. Diz também que só desfruta do estatuto de celebridade no que toca a ter uma voz. Apesar do afastamento no que diz respeito às passerelles, iniciou um projeto designado “Fundação Luz”. Este projeto ajuda raparigas com pouca autoestima a darem-se valor, pois defende que o poder do talento, a força da luta e a importância da perseverança quando diz “tudo o que tens de ter é um sonho, depois fá-lo acontecer ”. Devemos então aplaudir ao seu último desfile que ocorreu no mês passado, mas aplaudir ainda mais à pessoa que a Gisele Bündchen se revelou ao longo de toda a sua carreira, assim como, ao grande ícone que é no mundo da moda e que continuará a ser, inspirando jovens modelos. Notícia: Cláudia Gonçalves | Soraia Gonçalves

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N em to da s so m os a nj os Mais uma vez a moda foi motivo de contestação nas redes sociais, desta vez foi a campanha publicitária da mundialmente conhecida marca de lingerie Victoria Secret que esteve em foco. Para promover o seu mais recente soutien, como habitualmente acontece, surgem as suas reconhecidas modelos, conhecidas como angels, em lingerie, inclusivamente a portuguesa Sara Sampaio, mas nesta surge com uma particularidade, o slogan ‘’The Perfect Body ’’ sobreposto à imagem das modelos em roupa interior. Este título é um trocadilho com o nome daquela nova linha de lingerie da marca. No entanto esta campanha foi automaticamente interpretada como o enaltecer do estereótipo de um suposto corpo perfeito da mulher, isto é, a mulher alta e extremamente magra. Nas redes sociais, as reações de oposição a esta campanha foram imediatas, as críticas à ditadura da imagem propagaram-se instantaneamente, tendo sido criada de imediato uma petição contra a marca Norte-Americana, exigindo um pedido de desculpa pelo anúncio e uma reformulação da campanha. Estes motivos levaram a marca a alterar o slogan para ‘’A body for every body ’’, no entanto mantendo a imagem de fundo e transmitindo a ideia de que todos aqueles modelos de lingerie se adequam a qualquer forma feminina. Outras marcas bastante conhecidas também fizeram questão de

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demonstrar a sua indignação face à campanha, como foi o caso da Dove que publicou na sua página de Twitter uma entrada com o título ‘’ Real beauty ’’, que se fez acompanhar de uma fotografia alusiva à sua campanha lançada em 2004, que mostra a mulher real, tal e qual como ‘’somos’’ com formas e corpos diversificados. A polémica ao redor deste tema já fez correr muita tinta, pois, em Outubro do ano passado, também a atriz Jéssica Athayde, foi alvo de bastantes críticas em relação ao seu eventual aumento de peso, após desfilar em bikini na Moda Lisboa. Vamos crer que um dia as mentalidades mudem, que se aprenda a ver beleza na mulher real e que esta seja desacorrentada deste estereótipo que a sociedade criou. Mais recentemente, já com os ânimos apaziguados, foi lançada uma contra companha ao suposto corpo ideal por parte da marca Lane Bryant. Esta conceituada marca de tamanhos grandes teve como intenção mostrar que uma mulher tanto pode ser sexy vestindo um tamanho L como um tamanho S. A intenção da marca foi criar uma corrente feminina contra os preconceito e o cultivo da magreza, para que tal acontecesse foi pedido a todas as mulheres que colocassem fotos sensuais nas redes sociais com a hastag #ImNoAngel. Será que esta polémica ao redor da Victoria Secret nos trará ‘’anjos’’ de diferentes formas e feitios? Artigo: Ana Catarina Sousa | Maria Beatriz


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Co mida G ou rm et

Criada pelo projeto da Câmara Municipal de Faro e AmbiFaro, depois de ter ganho um concurso para ativar a baixa de Faro, a Hamburgueria da Baixa situa-se no coração da cidade e mais recentemente na Penha, apostando num estilo de alimentação mais saudável. Com um leque muito abrangente de escolha, este espaço utiliza produtos frescos trazidos para a mesa numa apresentação moderna. A tradição diz que o hambúrguer deve ser comido à mão, mas se não o quiser fazer, a isso não é obrigado” diz Susana Henriques, responsável pela Hamburgueria. MC: Como surgiu a ideia de abrir um espaço deste género? Susana Henriques: A Câmara Municipal de Faro e a AmbiFaro ganharam um concurso para ativar a baixa e assim surgiu a ideia de criar um espaço que fosse o mais saudável e fresco possível, conciliando a comida que estamos habituados a comer no quotidiano, neste caso os hambúrgueres, com produtos de boa qualidade, criando um tipo de menu mais virado para o gourmet. MC: Têm alguma ligação com a Hamburgueria do Bairro?

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Susana Henriques: Não, não temos qualquer ligação com à Hamburgueria do Bairro. MC: O que vos inspirou para criar este conceito aqui em Faro? Susana Henriques: Quisemos trazer algo que abarcasse um leque maior de pessoas, mas a nossa maior inspiração foi o facto de querermos trazer às pessoas comida saudável de qualidade. Quisemos criar um conceito onde tudo é fresco e tudo é caseiro. Para além disso quisemos que toda a gente pudesse disfrutar de um bom hambúrguer, até mesmo os vegetarianos, pois dispomos de uma variedade de hambúrgueres usando vegetais e ingredientes com base na dieta mediterrânica. MC: Como carateriza o espaço em si? Susana Henriques: Acho que é um espaço moderno, simples e acolhedor. É um sítio onde as pessoas podem encontrar-se para conversar e disfrutar de uma boa refeição, seja dentro do restaurante, como na esplanada. Não possuímos WIFI porque queremos promover o convívio, visto que hoje em dia quando vamos a um restaurante muitas das pessoas estão de olhos colados no ecrã. MC: Os alimentos são de fabrico e criação própria?


Susana Henriques: A nossa confeção é 100% artesanal e os nossos alimentos são todos frescos e confecionados nas nossas instalações pela nossa chef. Todos os dias temos pão feito exclusivamente para nós e prezamos muito pela qualidade da nossa carne. Usamos carne de novilho, porco preto, peito de frango entre outros, não de fabrico próprio, mas garantimos que a nossa carne teve uma vida boa e pacífica nas planícies portuguesas. Possuímos também um leque de peixe e vegetais, o que nos permite ter todos os meses novas opções, para além dos 9 hambúrgueres exclusivos, para incorporar no menu. É de salientar que as batatas e os tomates são cortados por nós e a maionese feita diariamente. Para além de um bom hambúrguer podem também disfrutar de saladas gourmet, sopas e sobremesas. MC: Acha que estes espaços estão a ganhar terreno em relação aos de fast-food? Susana Henriques: Sim, sem dúvida. As pessoas estão cada vez mais a optar por refeições alternativas, rápidas e saudáveis. Assim, juntam o útil ao agradável e comem um bom hambúrguer confecionado com produtos de qualidade e com um excelente sabor, a um preço acessível. MC: O que acha que este espaço tem que o diferencia dos outros?

Susana Henriques: Diria que é um espaço alternativo, visto que preza muito o convívio. Mas as principais características que o diferenciam é que não nos preocupamos apenas em vender, mas sim fornecer os melhores produtos o mais frescos possível, todos os dias. MC: Têm boa adesão por parte das pessoas ou considera ser um conceito ainda por explorar? Susana Henriques: Temos tido uma boa adesão. A Hamburgueria da Baixa tem ganho cada vez mais adeptos amantes de comida mais fresca e saborosa. O nosso menu e a relação qualidadepreço também é bastante favorável para que tenhamos ganho tanta adesão por parte das pessoas nos últimos tempos. Claro que há sempre algo a melhorar, mas creio que vamos no bom caminho. Os espaços de comida alternativa mais saudável parecem, então, estar a ganhar terreno em relação aos de fast-food, abarcando um número cada vez mais alargado de clientes que procuram não só comida de qualidade, mas também espaços de convívio onde possam disfrutar de uma refeição rápida e saborosa a um preço acessível. Entrevista: Raquel Cardoso

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Ex u berânc ia s do A lgar ve Situado na bem conhecida capital do turismo português, Albufeira, O Restaurante Villa Joya tem uma reputação e uma qualidade de invejar qualquer outra entidade da restauração no nosso país, na arte da culinária gourmet. Fazendo parte de um resort spa de praia luxuoso e muito requisitado, é também conhecida por ser a única casa em Portugal com o nome na lista dos 50 melhores Restaurantes do Mundo, lista esta avaliada pelos Chefs mais consagrados da nossa era. O Villa Joya era uma antiga casa de férias que após recuperada por um casal de alemães em 1983, Klaus e Claudia Jung, começara a ganhar bases e fundamentos para ter a requisição e notabilidade dos dias de hoje. No início da reestruturação do edifício, o objetivo seria apenas construir um lugar único de cariz familiar para relaxar junto à acidentada costa atlântica portuguesa. No entanto, e com os filhos dos mesmos já encarregados, o pomposo Spa e o distinto Restaurante vieram complementar este espaço, ganhando assim o título de Resort. O restaurante distingue-se por uma cozinha que deambula entre os estilos mediterrânico e norte-europeu, por culpa benéfica do seu Chef residente, Dieter Koschina. Austríaco, assumiu a consagrada cozinha do Resort há duas décadas, todavia, com o intuito de adquirir experiência consistente e aperfeiçoar as suas valências, experienciou cozinhas

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desde Viena até a Alemanha. As técnicas de Koschina melhoraram exponencialmente aquando da sua vinda para o Algarve. Com uma bagagem culinária completamente virada para ambientes e estilos do norte da Europa, teve a difícil tarefa de moldar as suas características á circunstância existente. Digamos que é esse afeiçoamento que faz jus ao seu nome e ao restaurante a que é fiel. Ao combinar a cultura alimentícia da região algarvia com as evidentes qualidades culinárias do centro e norte europeu, manufaturou um estilo exímio de comida gourmet. Fez-se servir do que o solo mediterrânico oferece para produzir pratos deliciosos, com um sabor indubitável. Contudo a sua especialidade é condimentar pratos com frutos do mar da localidade. Sempre com uma pitada de modernidade culinária em cada empratamento que realiza, a sua cataplana à base de lagosta, berbigão e carne de porco é reconhecida nos quatro cantos do mundo. Esta quase apoteose vale duas estrelas Michelin ao estabelecimento. O Resort Restaurant and Spa Villa Joya tem uma lotação bastante exclusiva, apenas de 50 pessoas, e está aberto de Março a Novembro. Todo este rigor, requinte e exclusividade fazem da instituição uma das mais procuradas do nosso país, ainda que nem todos as carteiras estejam ao alcance de uma noite em banho-maria. Artigo: Tiago Neves


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N ew M edia E S QU EÇ A M O S PRO C E S S A D O R E S O C TA- C O R E ! E S TÃO A C H EG A R O S 10 - C O R E .

A Mediatek tem vindo a reforçar-se tecnologicamente nos últimos meses. A empresa foi uma das primeiras fabricantes de chips a saltar para a era dos 64-bit e temos visto alguns processadores poderosos ultimamente. O MT6752 e MT6732 têm sido particularmente populares entre os fabricantes de smartphones, para não mencionar o high-end MT6795, o verdadeiro octacore de 64 bits Helio X10 chipset. No entanto, agora que o Helio X10 está a ser usado por muitas e emblemáticas marcas de smartphones, como por exemplo o HTC One M9 Plus e LeTV One, a Mediatek decidiu mostrar o seu chip de última geração para alguns clientes específicos. No passado 14 de Abril, um analista chinês informou que a Mediatek apresentou uma nova geração de chips, o chipset Mediatek Helio X20, num evento especial para Xiaomi, Vivo e outros membros potencialmente compradores do chip. O chip, alegadamente, virá com 10 núcleos, sim 10 núcleos, e dizem que vai alcançar pontuações acima de 70.000 pontos no AnTuTu benchmark. Não será surpreendente, dado que Helio X10 MT6795 facilmente obteve pontuações acima de 50.000 pontos com o seu design de oito núcleos. O chip vai entrar em produção em massa até o final do ano. Se assim for, a Qualcomm estará sob pressão, o MT6795 tem recebido elogios pelo seu desempenho, enquanto o Snapdragon 810 tem sido constantemente criticado pelo seu excesso problema de aquecimento, e se tudo continuar assim o Qualcomm Snapdragon 820 deixará de impressionar as massas, e então a Mediatek pode começar a dominar o mercado com o seu 10-core Helio X20 chipset. De qualquer forma, ainda temos mais alguns meses para esperar, e tudo pode acontecer durante esse tempo. Talvez a Qualcomm vá fazer um retorno excelente com sua próxima geração de chips, o Snapdragon 820. Mas vamos esperar e ver o que acontece. Artigo: Joel Gonçalves | Miguel Lelo

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Foi c riado b oné q ue fa z encefa lo g r a ma s sem ser n e c e s s á r i o re cor rer ao s ser v iço s ho spita la re s Uma corporação portuguesa desenvolveu um boné capaz de realizar um exame à atividade elétrica do cérebro: pode ler as ondas cerebrais do usuário sem este ter de se dirigir ao hospital. Sem descartar outras finalidades para que possa ser usado, o boné foi desenvolvido primeiramente a pensar nas pessoas que sofrem da doença epilepsia, fazendo com que estas ao usufruírem do mesmo, consigam controlar e medir, durante o seu dia-a-dia, as suas ondas cerebrais. Pode ser visto como um “boné de prevenção”: no caso de os utentes sofrerem um ataque, as entidades de saúde poderão ser alertadas antes que os danos sejam fatais através do sistema de transmissão do aparelho. Nuno Sousa, docente na Universidade do Minho, revela à agência Lusa que foi na sua universidade que o projeto foi desenvolvido e que o dispositivo que permite realizar este exame, apelidado de eletroencefalograma, recorre ao sistema wireless para poder funcionar sem fios. Este e outros projetos em fase de melhoramento e de avaliação são resultado do projeto Do It- Desenvolvimento e Operacionalização da Investigação de Trasladação, financiado pelo Programa Operacional Fatores de Competitividade (COMPETE) e foram apresentados no ciclo de conferências Inovação em saúde translacional e investigação clínica: da bancada para cabeceira, de Portugal para o mundo, no Auditório da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. É de frisar o objetivo fulcral de todos estes desenvolvimentos: colocar a tecnologia ao dispor da saúde bem como melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.

“Tem-se verificado uma descontinuidade entre a geração de conhecimento e a sua transformação em novos produtos. É precisamente esta a essência do projeto Do IT”, explica Joaquim Cunha, diretor-executivo do Health Cluster Portugal, num comunicado desta associação. O investimento destes projetos ronda os 6,8 milhões de euros, conta com 21 instituições, entre eles hospitais, universidades e empresas, que durante três anos se debruçaram sobre as mais variadas áreas como o cancro, doenças neuro degenerativas e diabetes, cujos resultados serão agora conhecidos. “Tivemos de fazer um enorme desenvolvimento tecnológico”, refere Nuno Sousa acerca do boné que desenvolveu. Ao contrário dos eletroencefalogramas nos hospitais, o boné não necessita que o utilizador ponha gel para a leitura- apenas é necessário pôr uma bateria no aparelho para que fosse portátil e um chip para armazenar a informação. O interesse comercial de várias empresas no protótipo já é significante. Porém, só daqui a 12 a 24 meses é que este poderá ser comercializado. Uma versão mais simplificada do aparelho poderá a vir ser usada durante o trabalho, em situações em que os trabalhadores não podem adormecer, como os camionistas. Nesse caso, o boné pode detetar quando alguém está a começar a adormecer, através da leitura de um certo padrão de ondas cerebrais, e emite alertas. Artigo: Adriana Afonso | Madjane Silva

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N ew M edia No v a b at er i a de a l u m í n io c a r r e g a em

u m m i nut o

Uma equipa de cientistas da Universidade de Stanford, na Califórnia, optou pelo alumínio como seu material de eleição para criar a primeira bateria de alumínio e iões. O seu baixo custo, a baixa percentagem de inflamabilidade e a enorme capacidade de armazenamento de energia são algumas das qualidades que a destacam de todas as outras baterias. Apesar da ideia de usar o alumínio para a construção da bateria não ser totalmente nova, a inovação está na forma como o utilizam: usam o alumínio no ânodo (o elétrodo com carga negativa) e grafite no cátodo (o elétrodo positivo). Uma clássica bateria de alumínio e iões funciona com dois elétrodos. Um ânodo carregado negativamente feito de alumínio e um cátodo carregado positivamente. Na experiência desenvolvida em Stanford, a equipa colocou o ânodo de alumínio e o cátodo de grafite juntamente com um eletrólito à base de líquido iónico, dentro de uma bolsa revestida a polímeros. Segundo a equipa, o eletrólito é uma espécie de sal que fica em estado líquido à temperatura ambiente, o que o torna seguro. Hongjie Dai, professor de Química na universidade, alega que o produto poderá vir a substituir dispositivos de armazenamento, nomeadamente

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as baterias que se encontram em circulação no mercado, denominadas de alcalinas e de iões de lítios, que são prejudiciais para o ambiente e têm alguma facilidade em incendiar. O que faz deste protótipo diferente de todos os outros é a rapidez com que a bateria é carregada: é preciso apenas um minuto para o fazer, enquanto nas baterias de iões e lítio chega a ser preciso várias horas. A equipa sublinha ainda a durabilidade da sua bateria alternativa afirmando que todas as baterias de alumínio criadas até à data acabam por morrer depois de 100 carregamentos. Esta, por sua vez, aumenta os carregamentos para mais de 7500 sem perder a capacidade. Para além de todos os requisitos, ainda dispõe de uma flexibilidade quase inacreditável, o que faz com que seja possível ser dobrada. Esta conjuntura de características fazem do produto excelente candidato a ser utilizado em tablets, telemóveis e outros aparelhos eletrónicos. Esta nova descoberta foi criada quase por acidente, revela o professor, num comunicado feito pela universidade. Artigo: Adriana Afonso | Madjane Silva


Literatu ra

D esíg nio Pa ra l el o Se acabasse o Mundo Se com ele a vida Se perdesse, entre tudo e nada. E não fosse hoje

S o la ris

Mais do que um simples vazio. Levantar o Mundo Numa vontade fétida

Verno, o sol desejado defronte

De quem existe, apenas.

Nasce,

Ah! Sê-lo de alma e coração cheio Útil e de mão fechada. Suportar a escolha que nos sucede Perfilhar a partir daqui um nicho secreto Um fator produtivo de união utópica. Não ser hoje e sempre Cúmplice da injustiça que me toma Me consome e me preside. Não ser eu espetadora de tristeza alheia Segurar o Mundo inteiro E deixá-lo cair. Sem humildade alguma, distribuir os pesadelos E a par deles forçar a reviravolta

E de impulso se ensombra, Como cadáver frio, o céu. Abismos nos reservam Os deuses, E a nós o bom céu é nobre. À nossa cova real, Prostremo-nos, Lívia, Murmurando, brando o peito, O cântico da nossa caveira breve.

Tranquila jaz-nos a consciência, E das estradas brotam-se jardins. São róseos nossos corações ao sol

Que disto a raça humana não sonha, nem sequer sabe existir.

E sendas que escoltamos são inúteis,

Não conhece o Homem outro que não este destino

Como carne que vestimos.

E teima em querer demais e demais carregar O pior de todos os medos

Exalemos, sem tumulto,

Encontrou a paz mas não tem força para a alcançar.

Um raro sossego.

Poema: Marta Gouveia

Poema: André Gonçalves

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Geo rg e R.R. M a rti n U m Aut o r d o Sécu lo X X I

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George Martin nasceu a 20 de Setembro de 1948 na pequena cidade de Bayonne, no estado de Nova Jersey, a uns meros 15 quilómetros da cidade de Nova Iorque. Nascido no seio da classe operária, passou a sua infância em casas construídas pelo estado americano de maneira a alojar famílias de baixo rendimento, maioritariamente emigrantes europeus que tentavam fugir dos seus países devido á guerra. Cedo começou a interessar-se por ficção científica e banda desenhada, assume que desde muito novo se interessou pela obra de J.R.R. Tolkien, o que é evidente ao analisar a sua obra. Conclui, em 1970, um Bacharelato em jornalismo da universidade Northwestern no Illinois, seguido por um mestrado em jornalismo na mesma instituição. Começou pouco depois a escrever histórias de ficção científica, teve um início de carreira atribulado, pois algumas das suas histórias foram rejeitadas inúmeras vezes. No entanto nunca se deixou desmotivar e chegou até a ser nomeado para o Hugo Award e para o Nebula Award, embora nunca tenha ganho. Na década de 1980 começou a fazer trabalhos para a televisão como roteirista na série “The new Twilight Zone” e “Beauty and the Beast”, supervisionou também o desenvolvimento da série “Wild Cards”. Em 1991 começou a escrever a série de fantasia “A Song of Ice and Fire”, o seu maior sucesso até a data cujo quarto livro alcançou, em Novembro de 2005, o posto de livro mais vendido do “The New York Times”. O romance foi, assume o autor, baseado na Guerra das Rosas e depois mergulhado num mundo fictício semelhante á “Terra Média” de J.R.R.Tolkien. O enredo do romance é uma mistura da sociedade

alta Inglesa do séc. XV onde as famílias nobres conspiram de maneira a governar, e um mundo fictício onde dragões voam nos céus e cavaleiros combatem na terra. Em 2007 a cadeia televisiva norte americana HBO comprou os direitos de uma adaptação televisiva da popular série de livros. O primeiro episódio da série intitulada “Game of Thrones” estreou dia 17 de Abril de 2011, e teve cerca de 4 milhões de espectadores. Com a tão popular série ainda inacabada, milhares de leitores e telespectadores recorrem á internet para entrar em contacto com o autor e tentar desvendar os mistérios ainda por vir ou até espalhar rumores acerca do rumo da história. George R.R. Martin tem-se mostrado atento aos comentários dos leitores on-line em plataformas como o Facebook e o Reddit, assegurando os mais preocupados que se encontra bem de saúde e que irá terminar a série ou ameaçando matar as personagens favoritas dos que inventam teorias. A sua dedicação aos leitores assim como a sua constante presença em plataformas online aumentam ainda mais a popularidade da série e ajudam-no a destacar-se como um dos autores mais importantes do início do Século XXI, chegando até a ser indicado pela “Time Magazine” como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo no ano de 2011 (ano de lançamento do quinto livro da série). Se forem fãns da série assim como eu, esperarão que Martin cumpra a sua promessa de finalizar a sua obra, e que por algum capricho não decapite a nossa personagem favorita. Valar Morghulis!

Perfil: Paulo Viana

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