Pastoral Familiar - Fevereiro 2012

Page 1

CNBB – REGIONAL SUL II – BOLETIM ON LINE – FEVEREIRO DE 2012

EDITORIAL Estimados irmãos em Cristo Coordenadores e Assessores da Pastoral Familiar do Regional Sul II Irmãos no episcopado, saudações! Saúde! – A Campanha da Fraternidade de 2012 volta ao tema que foi tratado em 1981, com o lema “Saúde para todos”, desta vez pedindo “que a saúde se difunda sobre a Terra”. A saúde esteve presente em outras Campanhas, em temas ligados à defesa da vida, do planeta, da água, da alimentação e muitos outros. Isso porque a saúde é desses bens tão fundamentais que acabam por estar na base de todos os outros bens. É um dom de Deus, mas é também conquista da ciência, da cidadania, da consciência de uma vida equilibrada e saudável. Saúde, em latim é “salus”, a mesma palavra que significa “salvação”. É evidente, na ação evangelizadora de Jesus, a importância da cura, que nosso Mestre conduz ao sentido mais profundo e completo, incluindo a cura do pecado, a vida plena, a salvação eterna. Muitos progressos – Nas últimas três décadas, desde a última Campanha que pedia “Saúde para Todos”, o que mudou no campo da Saúde? Muita coisa. A mortalidade infantil diminuiu, a expectativa de vida aumentou. A preocupação com a prevenção, e com os hábitos de vida saudáveis, melhorou a qualidade de vida, os números as estatísticas da miséria e da fome baixaram. O que mais quer a CF? Quer que estejamos atentos, pois, comemorando sucessos, corremos o risco de não ver claramente as contradições, que vêm

junto, na nossa condição humana contraditória: a medicina progride, mas não é para todos; a ciência descobre caminhos, mas também produz morte, os bons hábitos de saúde vêm marcados por um culto idolátrico do corpo, a saúde pública gratuita quer ser universal, mas a produção de medicamentos e saúde privada ainda é um “grande negócio” muito lucrativo e muitas vezes desumano. Um povo sem saúde pública adequada é fatalmente vítima desse comércio abusivo, e até de espertos comerciantes de “milagres”, fantasiados de igrejas. E a família? – Falando em saúde, não podemos deixar de lado o nosso foco principal que é a Família. Destroçada pela cultura do laicismo de Estado, de lascívia da mídia, de vale-tudo moral; feita e desfeita pelos amores passageiros e inconsequentes, só pode ser causa e origem de muitas doenças de hoje, como a depressão, o vício, a obesidade mórbida, o desrespeito à vida, do embrião ao ancião. Minha pergunta: nossos grupos organizados de Pastoral Familiar saberão enfrentar, junto com esse esforço de toda a Igreja, na Campanha da Fraternidade, esses imensos desafios? Espero que cada coordenação, cada atividade da nossa querida Pastoral Familiar, de mãos dadas com as outras forças da comunidade eclesial, possa conquistar muitos frutos de Vida para todos. Que Deus nos abençoe nesse propósito!

Paz e Bem! Dom João Bosco, O.F.M. Bispo de União da Vitória


Pastoral Familiar – CNBB – Regional Sul II

2

FEVEREIRO DE 2012

A difícil arte de relacionar-se Maria Regina Canhos Vicentin*

Cada dia vem se tornando mais difícil relacionarmo-nos com as pessoas, principalmente as próximas, aquelas que se sentem no direito, e também na obrigação, de darem seus palpites em relação à nossa vida. Ouvir, às vezes, já é suficientemente duro. Colocar em prática tais conselhos, humanamente impossível em muitas circunstâncias, pois as pessoas são diferentes, e o que é bom para mim pode não ser para você. Mesmo assim, falta respeito pelo posicionamento do outro, falta aceitação. Algumas pessoas vivem querendo impor seu ponto de vista e, sinceramente não se importam se magoam alguém. Isso ocorre muito entre pais e filhos, cônjuges, namorados, amigos íntimos... Um julga estar sempre certo e tenta impor seu modo de pensar e estilo de vida ao outro, por vezes, diminuindo-o, humilhando-o, como se somente a sua forma de pensar fosse correta. Em contrapartida, há os que resistem ao diálogo e assistem comodamente o desenrolar dos acontecimentos escondidos sob seu silêncio indiferente. Importa apenas o seu mundo interior, seus próprios pensamentos e seu conforto emocional. Ambos os lados da mesma moeda refletem formas de relacionar-se erroneamente. De um lado aquele que somente quer impor, de outro lado aquele que, em seu silêncio indiferente, manipula a situação relacional como bem entende. As pessoas passam a ser joguetes e seus sentimentos são pisoteados como se não existissem. Quem atravessa a situação de existir e não ser notado sabe bem do que estou falando, assim como aqueles que não têm um minuto sequer de sossego, porque seu capataz volta e meia vem verificar se tudo está como ele queria. É gente, relacionamento humano não é fácil. Relacionar-se é uma arte e devemos aprender a ceder na medida certa. Se abaixamos demais mostramos os fundilhos. Se teimamos em não abrir mão dos nossos posicionamentos precipitamos a derrocada, pois ninguém cede eternamente. O que precisamos saber é que cansa muito ser ignorado ou monitorado constantemente. Ambas as situações vão, pouco a pouco, acabando com

qualquer sentimento gostoso que a gente queira alimentar. Um casamento, uma amizade, um namoro, uma família bem estruturada não podem ser conseguidos somente com a boa intenção de uma pessoa. Já diz o ditado: “Uma andorinha não faz verão”. O próprio Jesus falou: “Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou no meio deles” (Mt 18, 20). Ora, deu pra entender? Um só não segura casamento, namoro, amizade, família... Chega uma hora que cansa. Recebi um texto muito interessante de uma amiga esses dias. A pessoa segurava um copo com água e perguntava à plateia se isso era algo difícil. Aparentemente, a resposta é simples, pois é bem fácil segurar um copo d‟água. Mas, exatamente aí, a pessoa completa: depende do tempo que o tivermos de segurar. Nossas situações relacionais esbarram na mesma explicação. Se tivermos de “segurar as pontas” de uma relação por alguns dias, meses, anos talvez... Mas, à medida que esse tempo vai se acumulando nossas mãos vão enfraquecendo, e o que era apenas um copo d‟água assume a proporção de um iceberg. Vamos pedir a Deus que isso sinceramente não aconteça conosco. (*) Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora. Acesse e divulgue o site da autora: www.mariaregina.com.br

Boletim ON LINE da Pastoral Familiar do Regional Sul II - CNBB Rua Saldanha Marinho, 1266 – 80430-160 Curitiba – PR – Tel.:(41) 3224-7512 Dom João Bosco Barbosa de Sousa Bispo de União da Vitória-PR Representante Episcopal E-mail: dombosco@dioceseunivitoria.org.br Diác. Juares Celso Krum Assessor Regional E-mail: jckrum@yahoo.com.br


Pastoral Familiar – CNBB – Regional Sul II

3

FEVEREIRO DE 2012

OS DESAFIOS ATUAIS PARA A FAMÍLIA A PARTIR DA “FAMILIARIS CONSORTIO” Dom Filippo Santoro

graça, dada pela presença de Cristo. O Batista, apoiado ao muro que divide os dois grupos de pessoas admira a cena, mesmo pertencendo ao Antigo Testamento. Nossa Senhora tem um livro apoiado no seu colo e representa a Igreja que oferece à humanidade a Palavra e é totalmente voltada para o Filho de Deus.

Durante os 30 anos que nos separam da publicação da Exortação Apostólica Familiaris Consortio do Bem-aventurado João Paulo II aconteceram profundas mudanças no panorama contemporâneo sobre a visão e a vivencia da família na sociedade contemporânea. Contudo, a Familiaris Consortio (FC) traça um quadro que, nos seus elementos fundamentais, bem descreve a família também no nosso presente. Nessa nossa contribuição partiremos da descrição dos desafio à família feita pela FC para depois traçar um cenário com os problemas atuais mais urgentes e a sua provocação para a antropologia cristã. A FC trata por explícito esta temática indicando luzes e sombras da vivência da família: “A situação em que se encontra a família apresenta aspectos positivos e aspectos negativos: sinal, naqueles, da salvação de Cristo operante no mundo; sinal, nestes, da recusa que o homem faz ao amor de Deus” (FC 6). Plasticamente a pintura de Michelangelo A Sagrada Família (Tondo Doni – Uffizi Firenze). Representa a diferença entre o amor pagão e o amor cristão. Enquanto o primeiro é composto de corpos nus separados e divididos entre eles, o amor cristão efeito de uma unidade circular na qual as atenções de Maria e de José são captadas pela presença do filho de Deus. Trata-se da circularidade do amor e da comunhão, fruto da

A FC entra a especificar a natureza dos desafios que a família enfrenta indicando antes os aspectos positivos: “Por um lado, de fato, existe uma consciência mais viva da liberdade pessoal e uma maior atenção à qualidade das relações interpessoais no matrimonio, à promoção da dignidade da mulher, à procriação responsável, à educação dos filhos; há, além disso, a consciência da necessidade de que se desenvolvam relações entre as famílias por uma ajuda recíproca espiritual e material, a descoberta de novo da missão eclesial própria da família e da sua responsabilidade na construção de uma sociedade mais justa”. E depois passa a observar os aspectos negativos que caracterizam a família: “Por outro lado, contudo, não faltam sinais de degradação preocupante de alguns valores fundamentais: uma errada concepção teórica e prática da independência dos cônjuges entre si; as graves ambigüidades acerca da relação de autoridade entre pais e filhos; as dificuldades concretas, que a família muitas vezes experimenta na transmissão dos valores; o número crescente dos divórcios; a praga do aborto; o recurso cada vez mais freqüente à esterilização; a instauração de uma verdadeira e própria mentalidade contraceptiva” (FC 6). A Exortação identifica de forma precisa as causas destes fenômenos negativos: “Na raiz destes fenômenos negativos está muitas vezes uma corrupção da idéia e da experiência de liberdade concebida não como capacidade de realizar a verdade do projeto de Deus sobre o matrimônio e a família, mas como força autônoma de afirmação, não raramente contra os outros, para o próprio bem-estar egoístico” (FC 6).


Pastoral Familiar – CNBB – Regional Sul II

4

FEVEREIRO DE 2012

Não falta uma atenta referência às condições de extrema pobreza de muitas famílias do Terceiro Mundo, que bem conhecemos presentes entre nós no Brasil. “Merece também a nossa atenção o fato de que, nos países do assim chamado Terceiro Mundo, faltem muitas vezes às famílias quer os meios fundamentais para a sobrevivência, como o alimento, o trabalho, a habitação, os medicamentos, quer as mais elementares liberdades” (FC 6). Do outro lado preocupa também a situação da família nos países mais ricos, afetados por outra série de problemas. “Nos países mais ricos, pelo contrário, o bemestar excessivo e a mentalidade consumística, paradoxalmente unida a uma certa angústia e incerteza sobre o futuro, roubam aos esposos a generosidade e a coragem de suscitarem novas vidas humanas: assim a vida é muitas vezes entendida não como uma bênção, mas como um perigo de que é preciso defender-se” (FC 6). E disso tudo a Exortação tira uma conclusão que convida a pensar. “Isto revela que a história não é simplesmente um progresso necessário para o melhor, mas antes um acontecimento de liberdade, e ainda um combate entre liberdades que se opõem entre si; segundo a conhecida expressão de Santo Agostinho, um conflito entre dois amores: o amor de Deus impelido até ao desprezo de si, e o amor de si impelido até ao desprezo de Deus”. Na temática da família entra em jogo o grande tema da liberdade e da consciência que será aplicado de forma muito aguda a todo o desenvolvimento humano por Bento XVI no capitulo VI da encíclica “Caritas in Veritate”.

união por parte dos mesmos fiéis; a aceitação do matrimônio meramente civil, em contradição com a vocação dos batizados «a casarem-se no Senhor»; a celebração do sacramento do matrimônio sem uma fé viva, mas por outros motivos; a recusa das normas morais que guiam e promovem o exercício humano e cristão da sexualidade no matrimônio” (FC 7).

Para transformar esta situação é necessária a evangelização da cultura emergente para que possa nascer um “novo humanismo”. “Na construção de tal humanismo, a ciência e as suas aplicações técnicas oferecem novas e imensas possibilidades. Todavia, a ciência, em conseqüência de posições políticas que decidem a direção de investigações e aplicações, é muitas vezes usada contra o seu significado originário, a promoção da pessoa humana. Torna-se, portanto, necessário recuperar por par te de todos a consciência do primado dos valores morais, que são os valores da pessoa humana como tal. A nova compreensão do A conseqüência disso é que é necessária uma sentido último da vida e dos seus valores educação da pessoa humana para o justo exercí- fundamentais é a grande tarefa que se impõe cio da liberdade em todas as atividades humana, hoje para a renovação da sociedade” (FC 8). incluindo a atividade econômica e a experiência Neste sentido a Exortação faz apelo à necessidada família. “Segue-se que só a educação para o de de uma Sabedoria que ilumina a consciência amor, radicada na fé, pode levar a adquirir a e permite descobrir os valores que ajudam a capacidade de interpretar «os sinais dos realizar plenamente a vida da pessoa, da família tempos», que são a expressão histórica deste e da sociedade. “Só a consciência do primado duplo amor” (FC 6). destes valores consente um uso das imensas Assistimos, portanto a um influxo muito grande possibilidades colocadas nas mãos do homem particularmente dos meios de comunicação pela ciência, que vise verdadeiramente a sobre a família entre estes a FC destaca: “Os promoção da pessoa humana na sua verdade Padres Sinodais sublinharam, em particular, o integral, na sua liberdade e dignidade. A ciência difundir-se do divórcio e do recurso a uma nova é chamada a juntar-se à sabedoria” (FC 8). “A


Pastoral Familiar – CNBB – Regional Sul II

5

FEVEREIRO DE 2012

aliança do nosso mundo com a sabedoria divina que deve ser mais profundamente reconstituída na cultura moderna. De tal Sabedoria cada homem foi feito participante pelo mesmo gesto criador de Deus. E é só na fidelidade a esta aliança que as famílias de hoje estarão em grau de influenciar positivamente na construção de um mundo mais justo e fraterno” (FC 8). Novos Desafios Entre os novos desafios lembramos a discussão sobre a diferença sexual (ou de gênero) como base da construção da família. Trata-se das teorias dos “gender studies” que constituem o corpo ideológico utilizado pelas lobbies homossexuais para defender suas reivindicações em particular o “matrimônio homossexual”. Com efeito, fala-se de “opção sexual” ignorando o fato que a diferença biológica é um dado estrutural e originário do ser humano. Acentuase o dado psicológico cultural e se tende a eliminar o dado biológico que é a origem da diferença que é o motor das relações em vista de uma verdadeira igualdade entre os seres humanos.

te pelo mesmo sexo são merecedoras de respeito e consideração. Repudiamos todo tipo de discriminação e de violência . (...) [Porém] equiparar as uniões entre pessoas do mesmo sexo à família descaracteriza a sua identidade e ameaça a estabilidade da mesma”. Uma coisa é o respeito, a não discriminação, outra coisa é a riqueza da vida familiar, da identidade sexual que dá origem ao matrimônio, que dá origem à família. A família segundo o plano de Deus que tem o direito de ser protegida pelo Estado. “É atribuição do Congresso Nacional propor e votar leis, cabendo ao governo garanti-las. Preocupa-nos ver os poderes constituídos ultrapassarem os limites de sua competência, como aconteceu com a recente decisão do Supremo Tribunal Federal. Isso compromete a ética na política”.

Essa ideologia é sempre apresentada como “batalha contra as discriminações” para ser mais facilmente acolhida e transformada em leis que consideram a união homossexual como “entidade familiar”. È exatamente o que está acontecendo no Brasil depois do pronunciamento do STF sobre as uniões de pessoas do mesmo sexo. Na Assembléia Geral da CNBB deste ano de 2011 saiu uma nota sobre este tema que afirma: “A diferença sexual é originária e não mero produto de uma opção cultural. O matrimônio natural entre o homem e a mulher bem como a família monogâmica constituem um princípio fundamental do Direito Natural. (...) A família é o âmbito adequado para a plena realização humana, o desenvolvimento das diversas gerações e constitui o maior bem das pessoas”. Esses são os pontos de referência para um juízo correto sobre a questão atualmente debatida.

A motivação usada pelos juízes nesse caso – daqueles que sustentam a união estável e a reconheceram e equiparando-a a uma entidade familiar – é que nós vivemos em uma sociedade fragmentada. Existem tantos fragmentos e um desses fragmentos é a Igreja Católica. O Supremo Tribunal decide quando um fragmento Continua a Nota da CNBB: “As pessoas que quer prevalecer sobre o outro e intervém para sentem atração sexual exclusiva ou predominan- colocar ordem. O Supremo Tribunal tem a


Pastoral Familiar – CNBB – Regional Sul II

6

FEVEREIRO DE 2012

presunção de representar o uso da razão quando os direitos de um fragmento são invadidos pelo outro ou não são respeitados. Onze pessoas representam a razão num clima de fragmentação total, de confusão do eu; e aí que domina o poder. Não pode ser um grupo de pessoas que decide o que é justo e o que não é justo quando se trata de definir o que é segundo a razão. E se não é um grupo de pessoas quem é? È somente algo que está na natureza humana, que a razão reconhece, e que se chama lei natural. Existe uma lei natural que junta todos os fragmentos, todas as pessoas.

está diante de uma sociedade patriarcal, mas pretensamente liberal e manifesta um outro ponto de vista radicalmente diferente. Pensemos como eram tratadas as mulheres, sem falar dos escravos. O Cristianismo revolucionou tudo isso. E nós através do testemunho de uma beleza extraordinária encontrada, podemos comunicar como é positivo para todos defender o bem da família, defender o bem da vida, a partir não de uma teoria, mas da experiência.

A diferença entre o masculino e o feminino carrega uma riqueza de sentido e um valor humanizante que não é um limite, mas uma A fé católica, escuta a voz da razão, e nós somos fonte de significado. os primeiros a defender esse laço que une todos Como resposta a este desafio temos a possibilios fragmentos da sociedade que sem um funda- dade de valorizar a diferença não como algo mento comum seriam incomunicáveis. Diz São puramente imposto pela tradição, mas como Tomás de Aquino: “A lei natural não é outra coi- expressão de liberdade na realização plena e sa que a luz da inteligência infundida por Deus em diferenciada do ser humano. nós. Graças a ela conhecemos o que se deve cumprir e o que se deve evitar. Esta luz e esta lei Deus Outro elemento atual que a concedeu na criação”,(Collationes in decem questiona a visão da família praeceptis, 1); cit. in: João Paulo II, Veritatis Splendor, 40). Que a sociedade seja fragmentada É uma concepção do amor e do afeto como algo é um fato, mas que não haja um fundamento que não pode ser governado pela pessoa, feita de comum é toda uma outra questão. Se não tivesse razão e vontade e, portanto capaz de liberdade. comunicação entre um fragmento e outro não Não se procura a verdade da relação, mas apenas poderia existir encontro entre as pessoas, não o espaço de uma própria gratificação individual poderia existir comunicação, não poderia existir onde o critério é a pura emoção. Sobre esta base diálogo. O fundamento comum, que é a lei é impossível algo de estável e construir relações natural, deve ser reconhecido e respeitado. sérias e consistentes. Estamos diante de eternos Nesse caso em que onze pessoas têm todo poder adolescentes. de decidir o que é justo e segundo a razão se manifesta uma prevaricação do poder. Nenhuma Não que os afetos devem ser vistos com lei humana pode-se substituir às leis não escritas suspeita, mas é importante que sejam vividos que se encontram na natureza humana, como já como diz a palavra do latim “affectus” “ser dizia Sófocles na Antígona. E São Paulo afirma tocado”, como adesão e relação com o outro. “A lei está escrita em seus corações” (Rom 2, 15). Em cada relação afetiva é necessário um A nossa posição é a defesa da racionalidade, é a cuidado, um trabalho consigo mesmo e com o outro. Sem isso depois da primeira séria dificuldefesa da unidade, é a defesa da natureza. dade a relação se interrompe. Nós fazemos uma batalha positiva, que nos permite encontrar qualquer pessoa, ter contato Lembramos também o desafio da “bioengenhacom qualquer um, porque dialogamos com a ria”. Depois da crise das grandes utopias humanidade das pessoas, não de uma forma continua um certo messianismo associado à reduzida, mas com uma atenção profunda. possibilidades oferecidas pela bioengenharia Como fizeram os Apóstolos e os primeiros numa incessante batalha contra os limites da cristãos. Naquele tempo estas coisas, no mundo condição humana. Assim a função mais típica da da Grécia eram aceitas, mas não era a forma família, que é aquela de procriar, pode ser humana mais digna. São Paulo em Corinto não dispensada pelo uso de laboratórios de fecunda-


Pastoral Familiar – CNBB – Regional Sul II

7

FEVEREIRO DE 2012

ção assistida, sem necessidade de relação sexual Trata-se da antropologia desenvolvida pelo entre o homem e a mulher. Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos Deste cenário nasce a figura de um indivíduo sobre o matrimônio e a família. instável, de convicções voláteis e de compromissos fluidos. Um adolescente, fortemente individualista que nas suas escolhas é flutuante, conduzido pelo instinto imediato e pela opinião dominante. É este o produto final de uma certa ideologia do mercado e do poder.

Essa antropologia, desenvolvida, sobretudo a partir das catequeses do Bem-aventurado papa João Paulo II nas quartas feiras entre o ano 1978 e 1985, “tem como ponto e partida o ser humano criado a imagem e semelhança de Deus e destinado a encontrar sua realização na comunhão interpessoal” (João Paulo II. Homem e mulher o Uma grande oportunidade. criou, Catequeses sobre o amor humano, Bauru: Esta situação que destrói o peso da tradição e EDUSC, 2005, p. 170). coloca tudo nas mãos da decisão do individuo Entre todas as criaturas o ser humano é único representa não apenas uma ameaça à realidade porque é imagem de Deus, enquanto pessoa da família, mas também uma grande oportuni- racional e livre e portadores daquela qualidade dade. Várias possibilidades estão nas mãos do divina que é a comunhão. A comunhão interpessujeito que, como pode ser destruído, pode soal da SS. Trindade é o fundamento da relação também afirmar-se na sua liberdade. A liberdade esponsal e da comunhão entre o homem e a não como simples possibilidade de escolha, mas mulher. como reconhecimento de uma exigência de plenitude do próprio ser humano e como adesão A Conferência de Aparecida retoma esta afirmação: “O amor conjugal é doação recíproca entre a algo que o pode realizar. A pessoa diante da um homem e uma mulher, os esposos: é fiel, escravidão do efêmero pode se revoltar quando exclusivo até a morte e fecundo, aberto à vida e à despertada por algo que leva a serio o desejo de educação dos filhos, assemelhando-se ao amor um cumprimento pleno e estável. fecundo da Santíssima Trindade” (DAp 117). A liberdade de não ser escravo, mas protagonista do próprio destino. Isso comporta a adesão a algo que liberta e que se torna a pérola preciosa da vida. A liberdade que se realiza mesmo quando tem que se enfrentar o sacrifício. A liberdade que assume a característica da adesão a um outro como significado de si e que se realiza numa luta que exige também o sacrifício. Liberdade e dom de si que têm o seu fundamento não numa decisão arbitrária ou voluntarista do sujeito, mas na própria natureza humana que é aberta ao infinito e estruturalmente feita para realizar-se no encontro com o mistério e com os outros. Isso é particularmente evidente na experiência da família que é feita pela continua decisão da liberdade que se realiza no encontro e no dom de si. Uma nova antropologia Para isso é necessária uma nova antropologia que valoriza o corpo e tem como elemento fundamental a diferença sexual, pressuposto para a reciprocidade e a plena doação de si.

Estamos diante de uma visão positiva do ser humano e da união conjugal entre um homem e uma mulher. Não olhamos com saudade à família do passado, mas temos consciência do “patrimônio que a família é para a humanidade” como afirmou Bento XVI no Discurso de abertura da Conferência de Aparecida em 2007.

Conclusão O que era fruto de uma tradição agora se torna opção da liberdade da pessoa, que no dom de si e no amor encontra sua realização. Não estamos numa batalha de retaguarda, mas num caminho de liberdade onde o arbítrio é superado e a exigência de felicidade se realiza vivendo o dom total de si. A liberdade e o amor se abrem ao mistério de Cristo que, com sua presença vitoriosa sobre o pecado e a morte, vem ao encontro do homem e da mulher que procuram ser felizes na oferta de si e no dom total da vida.


Pastoral Familiar – CNBB – Regional Sul II

8

FEVEREIRO DE 2012

Juares Celso Krum*

O Encontro em Preparação ao Matrimônio, mais conhecido nos meios eclesiais como “Curso de Noivos” faz parte do Setor Pré-Matrimonial da Pastoral Familiar e já existe há pelo menos quatro décadas, pois foi em 1973 que eu e a Maria Lucia participamos lá em Ponta Grossa do nosso “Curso de Noivos”, em dois dias.

Familiar e sugere um ótimo esquema de organização dessa pastoral, capacitando-os melhor na árdua e importante missão de preparar os jovens para a vida conjugal, familiar e Em levantamentos nas diversas paróquias para as responsabilide nosso Brasil, o Encontro em Preparação dades do seu futuro. ao matrimônio é destaque, pois existe e é Ainda naquele ano, a realizado na grande maioria dessas paró- CNBB lança na série Verde – Estudos da quias. Há casos em que, quando se fala em CNBB, o nº 65 - Pastoral Familiar no Pastoral Familiar, imediatamente vêm à Brasil em que se destaca a importância da lembrança O Curso de Noivos, que é uma Preparação ao Matrimônio nas suas três das poucas, senão única atividade dessa etapas: a) Preparação Remota; b) PreparaPastoral. ção Próxima e c) Preparação Imediata. É a Para não virar uma Preparação Próxima que “comporta basisessão nostalgia, camente a realização do encontro ou curso gostaria de destacar de noivos, já tradicional em nossas dioceses alguns eventos, da- e paróquias. Os candidatos ao matrimônio tas e publicações, a deveriam realizá-lo ao menos com seis mepartir da década de ses de antecedência para que, eventualmente, pudessem colocar intenções e pro90 do séc. XX. pósitos mais sólidos possíveis para sua viEm 1993 – após am- da cristã ao abraçarem o matrimônio” pla consulta pelo (p. 33) Brasil sobre “os EnEm 1994 – o seguncontros ou Cursos de do livro da Coleção Noivos” o Setor FaSubsídios de Pastoral mília da CNBB lança pela Editora Vozes o Familiar, também livro “Casamento: Ternura & Desafio”. pela Editora Vozes Considerado o Primeiro volume da coleção intitulado: “CasaSubsídios de Pastoral Familiar do Setor Famento e Família mília da CNBB, o livro com 232 páginas foi no mundo de hoje elaborado por casais integrantes da Comis– textos seletos do são Nacional de Pastoral Familiar e a elaboMagistério Eclesiração final por Frei Almir Ribeiro Guimaal” com 120 páginas rães, OFM – assessor do Setor Família da foi editado com a fiCNBB com o objetivo de traçar diretrizes e nalidade de destacar conteúdos para cursos ou encontros de noitrechos fundamentais de alguns pronuncivos. O livro orienta os agentes da Pastoral


Pastoral Familiar – CNBB – Regional Sul II

9

FEVEREIRO DE 2012

amentos do Magistério da Igreja nos últi- O subsídio é bastante claro a esse respeito. mos quarenta anos, a respeito do casamento Não quer “engessar” a equipe de trabalho e da família. dos Encontros em Preparação ao MatrimôApós nova pesquisa, nio. Apenas sugere, de forma simples e surge em 2000 o objetiva um caminho, uma opção, uma for“Guia de Prepara- ma de trabalhar para alcançar os objetivos: ção para a Vida “Algumas Comissões Regionais da Pastoral Familiar pediram uma revisão, uma versão Matrimonial” com mais sintética e uma atualização do livro reflexões sobre temas ‘Casamento: Ternura & Desafio’. Outras peessenciais que desti- diram uma nova metodologia para os antinam-se ao casal que gos ‘Cursos de Noivos’. Houve também Codeseja receber o Sa- missões que não queriam um ‘curso pronto’, cramento do Matri- em um formato rígido, mas apenas diretrizes mônio. O Guia está ou sugestões para a realização dos ‘Cursos de dividido em três par- Noivos’... Nosso enfoque é exclusivamente tes. Na segunda parte são apresentados oito pastoral.”(GPVM, p. 7) temas essenciais e onze temas opcionais, salientando-se que podem ser abordados de Sem esquecer o que o papa João Paulo II, na Exortação Apostólica diversas maneiras, além de palestras, po- lembrava Familiaris Consortio sobre essas dem ser usadas dinâmicas de grupo, converquestões: “ a preparação dos jovens para o sa a dois. A ordem de apresentação também pode ser adaptada conforme as especifici- matrimônio e a vida familiar é necessária dades e necessidades de cada paróquia. Po- hoje mais do que nunca” (FC, nº 66). rém, é fundamental que não se omita ne- É recomendável que aquelas paróquias que nhum tema sugerido. ainda não se atualizaram, o façam o mais Na terceira parte, no item metodologia, breve possível, aproveitando os subsídios destaca-se novamente a importância da que estão aí para isso mesmo e que, apesar apresentação dos temas essenciais, que da resistência à mudança em alguns casos, pode ser feita num Encontro de dois dias ou haja um esforço concentrado e se defina no “Encontro Personalizado” com oito en- qual a melhor metodologia a ser aplicada contros de uma hora cada. nos Encontros em Preparação ao MatrimôInfelizmente, ainda se insiste na realização nio: Personalizado com oito encontros de do Encontro em Preparação ao Matrimônio uma hora ou o Encontro Tradicional (de em apenas um dia em muitas paróquias, dois dias), com a dinâmica que melhor se deixando-se de lado alguns temas essenciais adapte à sua realidade paroquial e pastoral, procurando sempre abordar os temas esdestacados no Guia senciais descritos no Guia de Preparação de Preparação para a para o Matrimônio. Vida Matrimonial. O que se quer não é a uniformidade, mas a unidade em torno de temas que são de fato fundamentais para a reflexão dos casais que pretendem celebrar o Sacramento do Matrimônio.

Tudo isso com a aprovação dos bispos de cada diocese, em conformidade com os planos pastorais diocesanos, com o auxílio dos párocos e demais presbíteros e diáconos, e o envolvimento e engajamento dos leigos e leigas. *Juares Celso Krum é Diácono Permanente, incardinado na Diocese de União da Vitória, bacharel e mestrando em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, e Assessor Eclesiástico da Pastoral Familiar do Regional Sul II da CNBB.


Pastoral Familiar – CNBB – Regional Sul II

10

FEVEREIRO DE 2012

Formação & Espiritualidade -22. NASCIMENTO DA IGREJA

“Depois subiu à montanha, e chamou a si os Quando, em que momento a Igreja foi fundada? que ele queria, e eles foram até ele. E constituiu 1 Existem duas teses. A primeira chamada Tradi- Doze , para que ficassem com ele, para enviálos a pregar.” cional e a outra chamada Moderna. 4ª Dúvida – Toda a vida pública de Jesus se resume nesta frase: “Pregar o Reino”. Jamais se falou em fundar uma Igreja. Diante destes argumentos, a Tradicional não se sustenta mais. Mas, então quando a Igreja foi fundada? Tese Moderna Diz que a Igreja foi fundada no momento Pascal. Isto é, no momento em que Jesus morreu na cruz (Jo 19,34). Sangue e água – dois símbolos, que se transformam em sacramentos. Sangue – Eucaristia e Água – Batismo. Dos sete sacramentos estes dois são os mais im1ª Dúvida – Os evangelhos foram escritos deportantes. Todos os demais sacramentos podem pois da ressurreição de Jesus. Ou seja, quando ser considerados apenas coadjuvantes a estes Jesus morreu na cruz, não havia nada escrito. E dois. durante a sua vida pública Jesus também não Mas não é só isso. Vamos ver o que diz o texto deixou nada escrito. O que existe foi escrito dede Jo 20,21-22: “21Ele lhes disse de novo: “A paz pois da ressurreição de Jesus. E aí pergunta-se: esteja convosco! Como o Pai me enviou, também eu O tu és Pedro, teria saído da boca de Jesus? vos envio”. 22Dizendo isso, soprou sobre eles2 e lhes 2ª Dúvida – Nos sinóticos a palavra Igreja só disse: “Recebei o Espírito Santo.” Para João tudo aparece por três vezes em dois textos: Mt 16,18: isso é um momento só. Para João, a morte, o “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre es- derramamento do Espírito Santo e a ressurreição ta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do é um momento só . Isso se chama na linguagem Inferno nunca prevalecerão contra ela.” Neste teológica joanina Glorificação e Exaltação. texto o enfoque é de uma Igreja no sentido uni- Por que é um momento só? Há duas teologias versal, para todos; Mt 18,17: “Caso não lhes der sobre Pentecostes. Uma joanina e outra lucana. ouvido, dize-o à Igreja. Se nem mesmo à Igreja João entende e escreve como um momento só. der ouvido, trata-o como o gentio ou o publica- Já Lucas faz e escreve como se fossem diversas no.” Neste caso o enfoque é de uma Igreja como 1 O número dos novos chefes do povo eleito deve ser doze, que foi oucomunidade local. Tese Tradicional Vem desde a época da escolástica (Séc XII), neo-escolástica, passa pelo Concílio de Trento, Concílio Vaticano I e até os limiares do Concílio Vaticano II. É toda uma história. A tese diz o seguinte: Jesus Cristo durante a sua vida pública fundou a Igreja junto com os apóstolos. O fundamento desta tese está em Mt 16,13-20. Os teólogos afirmam que Jesus, durante a vida pública fundou a Igreja com base neste texto. Atualmente, porém, começa-se a questionar este texto. Há quatro dúvidas sobre ele.

3ª Dúvida – Jesus ao escolher o grupos dos doze apóstolos o faz com uma finalidade: enviá-los a pregar, a evangelizar. Conforme Mc 3,13-14:

trora o número das tribos de Israel. Esse número será restabelecido depois da deser-ção de Judas (At 1,26), para ser conservado eternamente no céu (Mt 19,28p; Ap 21,12-14+). 2 O sopro de Jesus simboliza o Espírito (em hebraico, sopro, vento) que ele en-via, princípio da nova criação (Gn 1,2; 2,7; Ez 37,9; Sb 15,11). Ver Jo 1,33 +; 14,26 +; 19,30 + e Mt 3,16 +.


Pastoral Familiar – CNBB – Regional Sul II

11

FEVEREIRO DE 2012

etapas: Jesus morre, ressuscita, aparece 40 dias e Cristo já presente em mistério, cresce visivelenfim acontece o Pentecostes. Vamos ver o que mente no mundo pelo poder de Deus. Princípio e diz At 2,1ss: incremento significados pelo sangue e pela água “1Tendo-se completado o dia de Pentecostes, esta- que manaram do lado aberto de Jesus crucificavam todos reunidos no mesmo lugar. 2De repente, do (cf. Jo 19,34) e anunciados pelas palavras do veio do céu um ruído como o agitar-se de um venda- Senhor ao falar da sua própria morte na cruz: “E val impetuoso, que encheu toda a casa onde se en- eu quando for levantado da terra atrairei todos a contravam. 3Apareceram-lhes, então, línguas como mim” (Jo 12,32 gr.). Sempre que no altar é celede fogo, que se repartiam e que pousaram sobre cabrado o sacrifício da cruz, no qual Cristo, nossa da um deles. 4E todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, con- páscoa, foi imolado (1Cor 5,7), atua-se a obra da nossa redenção. E juntamente com o sacramento forme o Espírito lhes concedia se exprimissem.” do pão eucarístico é representada e realizada a Lucas, na verdade recapitula Gn 11,5-9: unidade dos fiéis, que constituem um só corpo “5Ora, Iaweh desceu para ver a cidade e a torre que em Cristo (cf. 1Cor 10,17). Todos os homens os homens tinham construído. 6E Iaweh disse: Eis são chamados a esta união com Cristo, que é a que todos constituem um só povo e fala uma só língua. Isso é o começo de suas iniciativas! Agora, ne- luz do mundo, do qual procedemos, pelo qual nhum desígnio será irrealizável para eles. 7Vinde! vivemos e para o qual tendemos” (LG, 3). Desçamos! Confundamos a sua linguagem para que não mais se entendam uns aos outros.” 8Iaweh os dispersou dali por toda a face da terra, e eles cessaram de construir a cidade. 9Deu-se-lhe por isso o nome de Babel, pois foi lá que Iaweh confundiu a linguagem de todos os habitantes da terra e foi lá que ele os dispersou sobre toda a face da terra”.

- dando-lhe significado contrário ao da torre de Babel. Portanto, parece melhor entender que a teologia joanina é a mais coerente com a fundação da Igreja. Esta tese é confirmada por 3 testemunhos: 1º) Santo Agostinho – “Quando o Senhor dormia na cruz, a lança atravessou o seu lado e dele brotaram os sacramentos com os quais a Igreja foi criada (fundada).” 2º) São Tomás de Aquino – “Através dos sacramentos brotados do lado de Cristo que pendia da cruz foi construída a Igreja.” 3º) Concílio Vaticano II, mais especificamente na Constituição Dogmática Lumen Gentium (LG) no número 3 repete a idéia de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino: “Veio pois o Filho, enviado pelo Pai, que ainda antes da criação do mundo nos escolheu nele e nele nos predestinou à filiação adotiva, porque lhe aprouve encabeçar em Cristo todas as coisas (cf. Ef 1,4-5 e 10). E Cristo, para cumprir a vontade do Pai, inaugurou na terra o reino dos céus, cujo mistério nos revelou; e pela sua obediência, operou a redenção. A Igreja, isto é, o reino de

O Concilio Vaticano II, reafirma a doutrina ou teologia desses dois teólogos. Quando se faz a pergunta, por que Pedro como o primeiro papa? Se verificarmos o Livro dos Atos dos Apóstolos, do capítulo 1 ao 12 a figura em destaque é Pedro. Depois do capítulo 13 passa a ser Paulo. Mas, a Igreja foi preparada. Essa preparação pode ser considerada em três etapas: 1) Jesus prega o Reino; 2) Jesus escolhe os Doze e 3) A missão dos Doze 1) Jesus prega o Reino Lendo os evangelhos sinóticos (Mt, Mc e Lc), encontramos três versículos que sintetizam a pregação do Reino por Jesus. Mt 4,17.23: 17

A partir desse momento, começou Jesus a pregar e a dizer: “Arrependei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus” 23Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda e qualquer doença ou enfermidade do povo.


Pastoral Familiar – CNBB – Regional Sul II

12

FEVEREIRO DE 2012

O que isso quer dizer. Quer dizer que o Reino de 12Naqueles dias, ele foi à montanha para orar e pas13 Deus está próximo. Agora eu vou começar a sou a noite inteira em oração a Deus. Depois que amanheceu, chamou os discípulos e dentre eles escopregar. Mc 1,15: 15 “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho”.

Mt 11,2-6: 2

João, ouvindo falar, na prisão, a respeito das obras de Cristo, enviou a ele alguns dos seus discípulos para lhe perguntarem: 3“És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?” 4Jesus respondeulhes: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: 5os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvemn, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. 6 E bem-aventurado aquele que não ficar escandalizado por causa de mim!”

Lc 4,18-19:

lheu doze, aos quais deu o nome de apóstolos: 14 Simão, a quem impôs o nome de Pedro, seu irmão André, Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, 15Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Simão, chamado Zelota, 16 \Judas Iscariot, que se tornou um traidor.

Estar com ele é igual a fazer a experiência. Os apóstolos começam a pregar quando Jesus ainda estava vivo. Mas depois que Jesus ressuscita eles são enviados novamente. O monte (montanha) tem um sentido teológico. É o lugar, segundo o Antigo Testamento, onde Deus está. Isto quer dizer, que é um chamado divino. E depois vão desempenhar a missão que também é divina. Não se faz a experiência de Deus no barulho, no corre-corre.

18

A quarta característica. A iniciativa é de Jesus. É divina. E aqui foge todo esquema rabínico, onde os discípulos é quem escolhem o mestre. O aluno escolhia o mestre. Nesta iniciativa de Jesus não se leva em consideração as capacidades destes doze escolhidos. Judas toma atitudes que são humanamente compreensíveis. Ele pensava 2) Jesus escolhe os Doze. assim: Se Jesus é o Messias resolverá o probleMt 10,1-4: 1 Chamou os doze discípulos e deu-lhes autoridade ma da Palestina. Se não, vamos cair fora e prode expulsar os espíritos imundos e de curar toda a curar o Messias. Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos 19e para proclamar um ano de graça do Senhor.

sorte de males e enfermidades.2Estes são os nomes dos doze apóstolos: primeiro, Simão, também chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; 3Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, o filho de Alfeu, e Tadeu; 4Simão, o Zelota, e Judas Iscariotes, aquele que o traiu.

Outro detalhe: Jesus escolhe doze. Doze tem um significado. Para os judeus doze queria dizer comunidade. E ainda mais, os doze que Jesus escolhe lembram os 12 filhos de Jacó (do AT) que vão formar as 12 tribos de Israel e que vai formar o povo de Israel. Por sua vez, os doze Mc 3,13-19. Antes de serem enviados em mis- apóstolos formam o novo povo de Deus. são estão sendo preparados. Tinham que fazer a Recordando: estar, pregar, montanha, Jesus, doexperiência de Deus para depois saírem, serem ze e rezar. enviados em missão: Vamos ver o texto de Lc 11,1-4 (Pai nosso): 13

Depois subiu à montanha, e chamou a si os que ele queria, e eles foram até ele. 14E constituiu Doze, para que ficassem com ele, para enviá-los a pregar, 15e terem autoridade para expulsar os demônios. 16Ele constituiu, pois, os Doze, e impôs a Simão o nome de Pedro; 17a Tiago, o filho de Zebedeu, e a João, o irmão de Tiago, impôs o nome de Boanerges, isto é, filhos do trovão, 18depois André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, tiago, o filho de Alfeu, Tadeu, Simão o zelota, 19e Judas Iscariot, aquele que o traiu.

Lc 6,12-16:

1

Estando num certo lugar, orando, ao terminar, um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou a seus discípulos”. 2 Respondeu-lhes: “Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu Nome; venha o teu Reino; 3o pão nosso cotidiano dá-nos a cada dia; 4perdoa-nos os nosso pecados, pois também nós perdoamos aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação”.

Mateus e Marcos na cruz escrevem sobre Jesus:


13

Pastoral Familiar – CNBB – Regional Sul II FEVEREIRO DE 2012

“Lá pela hora nona, Jesus deu um grande gri- pregavam que todos se arrependessem. 13 E expulsato¨Eli, Eli, lemá sabachtáni?‟, isto é: “Deus vam muitos demônios, e curavam muitos enfermos, meu, Deus meu, porque me abandonaste?‟” (Mt ungindo-os com óleo. (Mc 6,7-13) 1 Convocando os Doze, deu-lhes poder e autoridade 27,46) “E, à hora nona, Jesus deu grande grito, dizendo: „Eloi, Eloi, lemá sabachtháni‟ que, traduzido, significa: „Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?‟”. (Mc 15,34) Enquanto Lucas diz de modo diverso: “E Jesus deu um grande grito: „Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito‟. Dizendo isso, expirou” (Lc 23,46)

sobre todos os demônios, bem como para curar doenças, 2e enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar. 3E disse-lhes: “Não leveis para a viagem, nem bastão, nem alforje, nem pão, nem dinheiro; tampouco tenhais duas túnicas. 4Em qualquer casa em que entrardes, permanecei ali até vos retirardes do lugar. 5Quanto àqueles que não vos acolherem, ao sairdes da cidade sacudi a poeira de vossos pés em testemunho contra eles”. 6Eles então partiram, indo de povoado em povoado, anunciando a Boa Nova e operando curas por toda a parte. (Lc 9,1-6)

3) A missão dos Doze Mateus e Marcos querem mostrar que a missão Vamos ver os textos de Mateus, Marcos e Lu- de Jesus continua. Há dois momentos: Jesus que cas: prega e os discípulos que continuam. 9 Não leveis ouro, nem prata, nem cobre nos vosso Estas três questões desembocam na fundação da cintos, 10nem alforje para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado, pois o operário é Igreja. digno do seu sustento. 11Quando entrardes numa ci- A primeira tese de Mt 16,13-20 e a outra de dade ou num povoado, procurai saber de alguém João, a partir do Vaticano II são duas maneiras que seja digno e permanecei ali até vos retirardes do de ver o mesmo acontecimento. lugar. 12Ao entrardes na casa, saudai-a. 13E se for digna, desça a vossa paz sobre ela. Se não for digna, volte a vós a vossa paz. 14Mas se alguém não vos recebe e não dá ouvidos às vossas palavras, saí daquela casa ou daquela cidade e sacudi o pó de vossos pés. (Mt 10,9-14)

Agenda

16

Os onze discípulos caminharam para a Galiléia, à montanha que Jesus lhes determinara. 17Ao vê-lo, prostraram-se diante dele. Alguns, porém, duvidaram. 18Jesus, aproximando-se deles, falou: “Toda a autoridade sobre o céu e sobre a terra me foi entregue. 19Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo 20e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!”

(Mt 28,16-20)

2012 Data

7

Chamou a si os Doze e começou a enviá-los dois a dois. E deu-lhes autoridade sobre os espíritos impuros. 8recomendou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser um cajado apenas; nem pão, nem alforje, nem dinheiro no cinto.9Mas que andassem calçados com sandálias e não levassem duas túnicas. 10 E dizia-lhes: “Onde quer que entreis numa casa, nela permanecei até vos retirardes do lugar. 11E se algum lugar não vos receber nem vos quiser ouvir, ao partirdes de lá, sacudi o pó de debaixo dos vossos pés em testemunho contra eles”. 12Partindo, eles

22/02 25 e 26/02 28/04 29/04

Evento

Local

Abertura da Campanha da Fraternidade Reunião de Coordenação da CRPF 2º Simpósio Nacional da Família 4ª Peregrinação Nacional da Família

Paróquias e Dioceses Curitiba-PR Aparecida SP Aparecida SP


Pastoral Familiar – CNBB – Regional Sul II

14

FEVEREIRO DE 2012

“Fraternidade e a Saúde Pública” Toda a ação eclesial brota de Jesus Cristo e se volta para Ele e para o Reino do Pai. Esta perspectiva norteia as novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora. Ela é condição para que, na Igreja, aconteça uma conversão pastoral que a coloque em estado permanente de missão, com o advento de inúmeros discípulos missionários, enraizados em critérios sólidos para ver, julgar e agir no enfrentamento dos problemas concretos e urgentes da vida de nosso povo. A CF 2012 visa a saúde integral. Há muito tempo, ela vem sendo considerada a principal preocupação e pauta reivindicatória da população brasileira, no campo das políticas públicas. Apresentação

Introdução

A quaresma é o caminho que nos leva ao encontro do Crucificado-ressuscitado. Caminho, porque processo existencial, mudança de vida, transformação da pessoa que recebeu a graça de ser discípulo-missionário. A oração, o jejum e a esmola indicam o processo de abertura necessária para sermos tocados pela grandeza da vida nova que nasce da cruz e da ressurreição.

O SUS (Sistema Único de Saúde), inspirado em belos princípios como o da universalidade, cuja proposta é atender a todos, indiscriminadamente, deveria ser modelo para o mundo. No entanto, ele ainda não conseguiu ser implantado em sua totalidade e ainda não atende a contento, sobretudo os mais necessitados destes serviços.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promove a Campanha da Fraternidade, desde o ano de 1964, como itinerário evangelizador para viver intensamente o tempo da quaresma.

Refletir sobre a realidade da saúde no Brasil em vista de uma vida saudável, suscitando o espírito fraterno e comunitário das pessoas na atenção aos enfermos e mobilizar por melhoria no sistema público de saúde.

Objetivo Geral

A Igreja deseja sensibilizar a todos sobre a dura Objetivos Específicos realidade de irmãos e irmãs que não têm acesso à assistência de Saúde Pública condizente com a. Disseminar o conceito de bem viver e sensibilizar para a prática de hábitos de vida suas necessidades e dignidade. A conversão saudável; pede que as estruturas de morte sejam transformadas.


Pastoral Familiar – CNBB – Regional Sul II

15

FEVEREIRO DE 2012

b. Sensibilizar as pessoas para o serviço aos enfermos, o suprimento de suas necessidades e a integração na comunidade

INDICAÇÕES PARA A AÇÃO TRANSFORMADORA NO MUNDO DA SAÚDE

c. Alertar para a importância da organização da pastoral da Saúde nas comunidades: criar onde não existe, fortalecer onde está incipiente e dinamizá-la onde ela já existe;

Introdução

As ações de Jesus para com os doentes inspiraram a Igreja no exercício da caridade fraterna. É importante salientar que muitos religiosos e relid. Difundir dados sobre a realidade da saúde giosas vivem sua consagração a Deus e se inno Brasil e seus desafios, como sua estreita corporam na missão da Igreja por meio do servirelação com os aspectos socioculturais de ço aos doentes e àqueles que sofrem. “O discípulo missionário abre seu coração para todas nossa sociedade; as formas de vida ameaçada desde o seu início e. Despertar nas comunidades a discussão até a morte natural”. DGAE 2011 - 2015, n. 67. sobre a realidade da saúde pública, visando à defesa do SUS e a reivindicação do seu Pastoral da Saúde justo financiamento; • A Pastoral da Saúde representa a atividade desempenhada pela Igreja no setor da saúde, é expressão de sua missão e manifesta a ternura de Deus para com a humanidade que sofre.

f. Qualificar a comunidade para acompanhar as ações da gestão pública e exigir a aplicação dos recursos públicos com transparência, especialmente na saúde. O cartaz Atualiza o encontro do Bom Samaritano com o doente que necessita de cuidado Lc 10,29-37. A mão do profissional da saúde segurando as mãos do doente afasta cultura da morte e viabiliza a acolhida entre irmãos (o próximo). A Igreja como mãe, na sua samaritanidade, aproximase e cuida dos doentes, de todos que se encontram à margem do caminho. O profissional de pé, o enfermo sentado, olhos nos olhos, lembram a acolhida e o compromisso do profissional de saúde, gera relação de confiança. A cruz que sustenta e ilumina o sentido do cartaz recorda a salvação que Jesus Cristo nos conquistou. A alegria do encontro recorda aos profissionais da saúde que foram escolhidos para atualizarem a atitude do Bom Samaritano em relação aos enfermos.

A Igreja, ao meditar a parábola do bom samaritano (cf. Lc 10,25-37), entende que não é lícito delegar o alívio do sofrimento apenas à medicina, mas é necessário ampliar o significado desta atividade humana. •

Seu objetivo geral é promover, educar, prevenir, cuidar, recuperar, defender e celebrar a vida ou promover ações em prol da vida saudável e plena de todo o povo de Deus, tornando presente, no mundo de hoje, a ação libertadora de Cristo na área da saúde. Sua atuação é em âmbito nacional e de referência internacional. •

Esse trabalho evangelizador atua em três dimensões, sempre em consonância com as Diretrizes de Ação da CNBB. São elas: solidária, comunitária, político-institucional.


Pastoral Familiar – CNBB – Regional Sul II

16

FEVEREIRO DE 2012

A dignidade de viver e morrer •

Precisamos de sabedoria e ética samaritana para cuidar das pessoas que estão se aproximando do final de suas existências. O desafio ético é considerar a questão da dignidade no adeus à vida.

Antes de existir um direito à morte humana, há que ressaltar o direito de que a vida possa ter condições de ser conservada, preservada e desabrochada plenamente.

É chocante e até irônico constatar situações em que a mesma sociedade que nega o pão para o ser humano viver, lhe oferece a mais alta tecnologia para „bem morrer!‟ •

É um desafio difícil aprender a amar o paciente terminal sem exigir retorno, com a gratuidade com que se ama um bebê, num contexto social em que tudo é medido pelo mérito! O sofrimento humano somente é intolerável se ninninguém cuida. Como fomos cuidados para nascer, precisamos também ser cuidados para morrer. Cuidar fundamentalmente é sermos solidários com os que hoje passam pelo „vale das sombras da morte‟. Amanhã seremos nós.

Não podemos passivamente a- Os Agentes da Pastoral da ceitar a Saúde morte que é consequên- • Os agentes da pastoral da saúde são os discípulos missionários de Jesus Cristo e de cia do dessua Igreja, envolvidos em sua missão de caso pela cura e de salvação. vida, causada por vio- • São eles: o bispo, os presbíteros, os lência, acicapelães, os diáconos, os religiosos e as dentes e pobreza. religiosas, e todos os leigos e leigas. Podemos ser curados de uma doença classi- • os profissionais de saúde cristãos, católicos ficada como mortal, mas não de nossa mor(médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, talidade. Quando esquecemos isso, acabaassistentes sociais,...) são os agentes mos caindo, pura e simplesmente, na tecnonaturais da pastoral da saúde. Deveriam ser latria e na absolutização da vida biológica. convidados a assumir evangelicamente sua profissão. É a obstinação terapêutica (distanásia) adiando o inevitável, que acrescenta mais “a) defender e promover a dignidade da sofrimento e vida quantitativa que qualidade vida humana em todas as etapas da existênde vida. cia, desde a fecundação até a morte natuquando a morte se anuncia iminente e ral; b) tratar o ser humano como fim e não inevitável, pode-se em consciência renuncicomo meio, respeitando-o em tudo que lhe é ar a tratamentos que dariam somente um próprio: corpo, espírito e liberdade; c) traprolongamento precário e penoso da vida, tar todo ser humano sem preconceito nem sem, contudo interromper os cuidados discriminação, acolhendo, perdoando, renormais devidos ao doente em caso semecuperando a vida e a liberdade de cada lhantes. (...) A renúncia a meios extraordinários ou desproporcionais não equivale ao pessoa, tendo presente as condições matesuicídio ou à eutanásia; exprime, antes, a riais e o contexto histórico, social, cultural aceitação da condição humana diante da em que cada pessoa vive” (DGAE n. 150). morte (Papa João Paulo II, EV n. 65).


Pastoral Familiar – CNBB – Regional Sul II

17

FEVEREIRO DE 2012

cendo e as redes especializadas de atenção à saúde.

Proposta de ação - Igreja •

trabalhar, datas ligadas à saúde, e mostrar a importância de um estilo de vida saudável;

promover a formação política e participação cidadã cada vez mais responsável dos cristãos;

Trabalho de evangelização com os agentes da área de saúde.

articular a participação efetiva de membros das comunidades nas instâncias colegiadas do SUS (Conselhos municipais e Conferências de Saúde).

criar observatórios locais da saúde, que se tornem referências para a população;

denunciar situações de irregularidade na condução da coisa pública.

dar continuidade à CF 2011 (Fraternidade e Vida no Planeta) e reforçar ações de equilíbrio na relação entre ser humano e o meio ambiente.

Como as famílias podem colaborar incentivar o cuidado pleno aos extremos de vida (criança e idosos); garantir que a prevenção avance através de ações educativas abrangentes e outras como manter o cartão de vacinas atualizado. Colaborar na prevenção ao uso de drogas; Aderir à coleta seletiva e à reciclagem, a práticas que resultem na sustentabilidade. Propostas para a ação em relação a temas específicos Quanto ao acesso no atendimento dos doentes na rede de saúde pública Quanto à gestão do sistema de saúde pública. Quanto à problemática do financiamento Quanto aos fatores externos (Conferir texto base, nº 257-260). Propostas gerais para o SUS •

Priorizar a atenção básica em relação aos outros níveis de atenção à saúde, fortale-

estudar uma forma de coparticipação ou contribuição à saúde pública dos setores empresariais que usufruem ou estimulam hábitos inadequados à saúde.

criação, no Poder Judiciário, da „Vara da Saúde‟, para atendimento especializado e eficaz neste segmento.

estimular a „quarentena política‟ (proibição de se candidatar, durante certo período, a cargos) aos gestores técnicos que deixarem o cargo, no governo.

Conclusão Ao longo dos últimos anos, houve mudança no conceito de saúde: de „caridade‟ para „direito‟. Hoje em dia, no entanto, esse direito está sendo transformado em „negócio‟, num mercado livre sem coração! Há necessidade de empoderamento dos pobres, em termos de reivindicação (cidadania) e para fazer algo concreto e forçar o direito básico à saúde. É preciso aprofundar e colocar em prática a chamada „bioética dos 4 Ps‟: promoção da saúde; prevenção de doenças; proteção das vulneráveis presas fáceis de manipulação; precaução frente a possíveis riscos de danos moralmente inaceitáveis, quer sejam uma ameaça à saúde, ou à vida humana, ameaças de danos graves e irreversíveis, injustos com as gerações presentes e futuras.


Pastoral Familiar – CNBB – Regional Sul II FEVEREIRO DE 2012

VEM AÍ! PREPARE-SE! PARTICIPE! FALTAM SETE MESES!

18


Pastoral Familiar – CNBB – Regional Sul II

19

FEVEREIRO DE 2012

Padre Zezinho: Missa não é opereta rio. Na semana que vem haverá outra exibição… Isto, nos cultos em que o altar vira palco e o celebrante que poderia, sim, ser alegre, comunicativo, acolhedor, resolve se o ator principal com alguns coadjuvantes chamados banda católica. Nos outros cultos chamados de eucaristia e tratados como eucaristia a coisa é bem outra! Tem decoro, tem lógica, obedece-se ao conteúdo e aos textos daquele dia, as canções são verdadeiramente litúrgicas, os leitores sabem ler e não engasgam, os microfones não estouram, ninguém toca nem fala para ensurdecer, músicos não entram em competição, nenhum solista canta demais, cantores apenas lideram o povo, ninguém fica dedilhando cançõezinhas durante a consagração, como fundo para Jesus que faz o seu debut, as canções são ensaiadas e escolhidas de acordo com o tema da missa daquele dia, não se canta na hora da saudação de paz porque ninguém diz bom dia, ou como vai cantando… Tais coisas só acontecem nas operetas…

Opera é um teatro todo cantado. Opereta, um teatro declamado, falado e cantado. Pode haver danças no meio. É mais ou menos isso! Os detalhes eu deixo para os especialistas em artes cênicas. Missa é culto católico, com séculos de história, que não depende de lugar para acontecer, mas, em geral, acontece num templo. Não é nem nunca foi ópera ou opereta. Quem dela participa não é ator e nem o presidente da assembléia nem Nas missas sérias e com unção ninguém fica os cantores podem ser sua principal atração. passando à frente ou atrás do altar, ministro não Mas são! E o são por conta de um fato: a maio- fica mexendo no altar enquanto o padre prega, ria não estudou ou não respeita as orientações padre não exagera nas vestes, não berra, não gridos especialistas de uma ciência chamada “litur- ta, não dá show de presença, tudo é feito com gia”. Liturgia deve ser o que impede que o altar muita seriedade e decoro. O padre até se destaca vire palco, e o lado direito ou esquerdo dele vire pela seriedade. Celebra-se, dentro das nuances coxia! Regula o culto de maneira que transpare- permitidas, o mesmo ato teológico com implicaça a catequese e a teologia daquele momento. ções sociais que se celebra no mundo inteiro. Na hora em que o presidente daquele culto, o- Todos aparecem e ninguém se destaca. fuscado pelas luzes e pela fama local ou nacioMas receio ser inútil escrever sobre estas coisas, nal, e algum cantor ou cantora deslumbrado com porque pouquíssimas bandas e pouquíssimos saa sua chance de mostrar seu talento roubam a cerdotes admitem que isso acontece com eles… cena, temos mais uma exibição de opereta, num E ai de quem disser que acontece! Mandam contemplo católico. Gestos, corridinhas, roupas linsultar o ibope sobre as novas missas transformadas, música que estoura os ouvidos, o padre onidas em operetas, nas quais se privilegia mais presente, inserções aqui e ali no script do que canção do que os textos do dia. Perguntem se, tratam como peça de arte, vinte músicas para depois daquele “somzão” e daquelas inserções uma missa, as canções duram 50 minutos e as com exorcismo, oração em línguas e outros apalavras da missa 12 ou 15, o sermão do padre dendos não aumentou a freqüência aos templos! 25… E o povo que não pagou para assistir, é É! Pois é! convidado a deixar sua contribuição no ofertóFonte: www.padrezezinhoscj.com


Pastoral Familiar – CNBB – Regional Sul II

20

FEVEREIRO DE 2012

Exposição revela os Arquivos Secretos do Vaticano Museus Capitolinos abrem exposição "Lux in Arcana" em 1º de março

ROMA, quinta-feira, 12 de janeiro de 2012 (ZENIT.org) - Um evento único na história da Igreja: a partir de 1º de março até 9 de setembro, ficará aberta para visitação a mostra Lux in Arcana: O Arquivo Secreto do Vaticano se revela. Uma centena de códigos, pergaminhos, arquivos, registros e manuscritos serão temporariamente transferidos do Arquivo Secreto Vaticano para os Museus Capitolinos, em Roma. Os documentos cobrem a história desde o século VIII até o XX. Esta será a primeira vez, e talvez a única, que esses documentos secretos vão cruzar as fronteiras do Vaticano. A exposição Lux in arcana, organizada por ocasião do quarto centenário da fundação do Arquivo Secreto Vaticano, tem como objetivo explicar e dizer o que é e como funciona o Arquivo dos Papas, ao mesmo tempo em que "torna visível o invisível" e abre acesso a algumas das maravilhas que até o momento estavam custodiadas em cerca de 85 km lineares de estantes. Entre os documentos de época que poderão ser vistos, está o manuscrito em que Galileu Galilei abjurou das suas teorias, aceitando a condenação da Igreja (1633); o Privilegium Ottonianum, com que o Imperador Otto I da Saxônia se comprometeu a defender o pontífice de

eventuais ataques e agressões (962); a excomunhão de Martinho Lutero (1520); a carta em que o papa Celestino V fez a "grande recusa", renunciando ao papado (1294); o dogma da Imaculada Conceição, assinado por Pio IX (1854), entre outros muitos. O olhar do visitante passará através dos tempos, encontrando figuras históricas tão diversas como Wolfgang Amadeus Mozart (de quem está exposta a decoração pontifícia), Abraham Lincoln (com o discurso que encerrou a escravidão nos Estados Unidos) e Napoleão Bonaparte (será exposto o Tratado de Tolentino, que obrigou o papa Pio VII a entregar manuscritos valiosos e importantes obras de arte). A Lux in arcana é realizada em colaboração com organismos como o Departamento de Assuntos Culturais e do Centro Histórico e a Superintendência do Patrimônio Cultural de Roma. A exposição estará aberta todos os dias, exceto às segundas-feiras, das 9h às 20h. O ingresso integrado Museu + Exposição custará 12 euros na versão inteira, mas há descontos e gratuidades previstas. A gratificação é concedida, por exemplo, a crianças menores de 6 anos, a grupos de escolas de ensino fundamental e médio, a portadores de necessidades especiais e ao seu respectivo acompanhante, além dos usuários de passes como o RomaPass e o Roma&Più Pass. Mais informações e reservas no site www.luxinarcana.org


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.