Revista do IHGM, n. 42, setembro de 2012

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governador (Tomé de Sousa e La Ravardière), e não intendentes (substituído pela figura do prefeito). Não possuíam edis (vereadores), mas conselheiros. Características das cidades iniciais estabelecidas em regiões isoladas e sem vizinhança. São Paulo é a maior metrópole da América do Sul, mas nos seus cinqüenta primeiros anos a população não ultrapassava os trezentos habitantes. E para não ficarmos apenas nos exemplos distantes, lembramos da fundação de Santarém no Pará, onde o marco é uma capela de pindoba sem paredes, e a celebração de uma missa, realizada pelo conhecidíssimo frei e escritor luxemburguês João Phillippe Bettendorf (1625 – 1698). O que dizer da vizinha Icatu, que tem como data de fundação a construção do forte de Santa Maria (1614), feito, às pressas, inicialmente nos mesmos fundamentos primitivos, e que depois ficou abandonado no matagal. A cidade de Icatu, como todos sabem, foi edificada em outro momento e em outro lugar, distante do forte, sendo a construção do mesmo aceita como data de fundação da cidade. Trouxemos todas estas informações à tona por entendermos ser condição sine qua non comparar a fundação de São Luís com as demais fundações de cidades brasileiras da época. E não é só no Brasil que os estabelecimentos se davam desta maneira. No filme Novo Mundo, produção hollyhoodiana estreada em 2005, com direção de Terrence Malick, mostra como se deu a pedra fundamental dos Estados Unidos, sendo as construções, cem por cento delas, em madeira. E os pioneiros desbravadores, como não poderia deixar de ser, passaram para história como heróis, com destaque para a índia Pocahontas e o inglês John Smith. A data de fundação das cidades brasileiras do período colonial quase sempre respeita o evento principal inicial: a construção de um forte, de uma capela, uma igreja, a celebração de uma missa, etc., pois fundar é fazer o básico, o fundamental. É como nascer. Não nascemos indefinidamente, apenas uma única vez, pequenos, frágeis, carentes de cuidado, mas mesmo assim já nascemos, viemos ao mundo. Assim nascem coisas e pessoas. Não vemos atualmente polêmicas criadas pelos brasileiros em razão da fragilidade da fundação da cidade onde moram, ao contrário, como é de se esperar, são orgulhosos ou, no mínimo, encaram com normalidade o evento. A implantação de Câmara e cadeia, plano urbanístico, etc., a exemplo de Salvador, São Paulo, Belém e Rio de Janeiro, não são exigências das mais urgentes para que uma povoação seja reconhecida como cidade. Os requisitos iniciais das primeiras cidades do Brasil são aqueles de caráter urgente – residências, capelas, fortaleza, etc. Ou, no máximo, aqueles mostrados anteriormente no quadripé fundacional. No Maranhão, tornou-se um álibi da contestação o incremento do plano urbanístico de Frias de Mesquita, implementado (aparentemente) de imediato, porém, concluído em um dilatado espaço de tempo. Não existem dúvidas sobre a importância de um plano urbanístico para uma cidade, porém, as primeiras delas foram fundadas sem tais aparatos. O escritor maranhense Domingos Vieira Filho nos dá uma dimensão da importância dos logradouros no período colonial. “As ruas não tinham por então as funções socializadoras de hoje, porque na sociedade colonial, como na medieval, a rua era uma simples linha de comunicação do que de transportes (...) Podiam por isso ser estreitas que por elas não transitavam carros” 73.

73

FILHO, Domingos Vieira. Breve história das ruas e praças de São Luís. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica e Editora Ltda, 1971. P. 10.


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