Revista do IHGM, n. 42, setembro de 2012

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Levantando sua mão direita pra cima com o dedo polegar direito empinado, respirou fundo e disse: - Espero que esta conversa não fique muito longa porque todos começarão a dormir. Disse em seguida: - Pessoal querido desta terra equatorial. Como todos sabem, o Maranhão teve e tem uma ligação muito forte com a França através dos padres capuchinhos franceses e dos marinheiros da Bretanha e Normandia, que já faziam comércio com os índios tupinambás, nestas terras que eles consideravam como a França equinocial. É só vocês pararem de ver a novela das oito e começarem a ler todos os livros de História disponíveis ou a escrever a tradição oral para as gerações futuras. Em qualquer cidade maranhense, por mais analfabeto que seja o sertanejo sente que deve haver uma origem além mar para o Maranhão e se orgulha disto. Por mais pobre que alguém seja, você não vê em São Luis, Tutóia, Caxias, Codó, Santa Inês, Pedreiras, Imperatriz, Carolina ou Balsas qualquer pessoa correr atrás de turista. O turista brasileiro ou estrangeiro ou mesmo qualquer trabalhador que para cá vem é bemvindo, mas ninguém bajula ninguém. Queres comprar, compra. Se não queres outros o farão. Queres criticar, critica, pois o papel aceita tudo, mas não comentas erros de sintaxe. Queres visitar, visita; se não o queres: outros dias virão e outras pessoas irão passar por aqui e deliciar-se com a nossa juçara e cochilar em nossas redes lendo Josué Montello. Não querendo te interromper e já te interrompendo, disse Maria Nunes: - Eu acho que tú tens razão e é por isso que todos são poetas ou poetisas no Maranhão e até filósofos. O lavrador mais analfabeto do vale do Mearim tem um linguajar refinado e não aceita nenhum poderio econômico passar por cima da dignidade de um homem ou de uma mulher. É assim mesmo Maria. Pecuapá retoma a conversa: - Lembram-se do Padre Antonio Vieira e dos seus sermões inflamados na Capela ou Igreja de Nosso Senhor dos Navegantes em que defendia os índios e seus direitos a uma vida digna. Este orgulho de ser maranhense e bem falante está no sangue de todos, quer sejam descendentes da mãe África, da mãe Europa ou da terra Brasilis. Bem. Como o projeto da França equinocial foi destruído, começou então o projeto lusitano, em que o Maranhão enquanto capitania foi se transformando aos poucos no Maranhão luso-equinocial. Se vocês forem dormir num casarão colonial de São Luis, vão encontrar os armadores para as redes em que as Sinhazinhas dormiam embaladas pela fresca do mar. Os arquitetos e construtores portugueses foram inteligentes ao adaptarem-se às condições do clima equatorial e a um modelo de cidade banhada pelo mar e por seus rios e baías. Os arquitetos e engenheiros de hoje têm que fazer o mesmo, pois as águas das chuvas devem escoar para uma bacia de tratamento antes de ir para o rio e o Oceano. Os seus conhecimentos de Cálculo devem ser complementados com estudos de História e Geografia para que a cidade não fique alagada com o menor chuvisco. Alguns arquitetos e engenheiros fazem também suas rupturas e o resultado é visto através de ruas alagadas e esburacadas. Provavelmente o material usado não condiz com a força das chuvas; é preciso mais pesquisa para descobrir que material seria adequado para o mar de águas que caem na época das chuvas.


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