Edição 462

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ANO 34 - Nº 462 SEGUNDA QUINZENA | SETEMBRO 2016 Produzido por alunos de Jornalismo da ECA-USP

RANKINGS

prioridades, altos e baixos da usp Sobe ou cai? Entrevista debate critérios na criação de ranqueamentos

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Catracas

FOTO: ANDRÉ CALDEROLI

1

Capivaras

Crescimento populacional

gera castração

Aumentam as barreiras pelo Campus

Paralisações atrapalham o cotidiano de instituto

FOTO: VICTOR MATIOLI

3 Obras

no poder 4 Mulheres Número de mulheres em cargos

de diretoria ainda é baixo

5 Eleições Debate com candidatos na USP é barrado às vésperas das eleições

Estudantil 6 Movimento Apatia frente ao cenário nacional

FOTO: LIZ DÓREA


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DIÁLOGOS

SEGUNDA QUINZENA | SETEMBRO 2016 JORNAL DO CAMPUS

EDITORIAL

O que perdura OMBUDSMAN

Diversidade em pauta MATHEUS PICHONELLI*

ESPAÇO DO LEITOR O Jornal do Campus também é feito por você. Participe do JC pela #JornaldoCampus, no Instagram. Para sugerir pautas, entre em contato pelo email jornaldocampus@gmail.

CLOSE DA EACH, POR @JHOWALENCAR

O MAIS FAMOSO RELÓGIO DA USP NUM DIA AZUL, POR @DAYANEARENA

Excelente a iniciativa de dar espaço, logo na página 3, para a estudante transexual narrar as violências relacionadas ao (não) respeito do nome social. Ela toca na ferida ao dizer que a universidade usa o argumento de autonomia para ser transfóbica. Mas senti a falta de uma introdução para o texto, que já começa com uma pergunta – só sabemos quem é a estudante com a ajuda da legenda. O material de apoio era necessário, mas o título me parece inadequado: pelos exemplos, não temos a impressão de que a universidade “garante” o uso do nome social. E já que falamos de diversidade e inclusão, um alerta: a abordagem sobre os esportes paralímpicos às vésperas da Paralimpíada veio em boa hora (muito bacana saber do projeto de natação inclusiva, por exemplo), mas usar a expressão “deficientes” no título soa como uma pisada na bola. Posso estar enganado, mas uma das premissas do movimento People First é que a pessoa esteja sempre em primeiro plano, e não seja nominada a partir da deficiência. Na matéria sobre o Plano de Classificação de Funções, faltou uma estimativa de quantos funcionários devem ser impactados com as mudanças. Ficamos sem saber também desde quando o MAC foi transferido para o Ibirapuera e deixou o antigo espaço em situação de “irresolução” (palavra estranha, aliás). São detalhes, mas que ajudam a dimensionar as questões. Na editoria ciência, achei confusa a abordagem da reportagem principal: como assim nem só de combate ao desmatamento sobrevivem as florestas? Qual o sujeito da frase? O tema é excelente, mas fiquei sem entender a diferença entre desmatamento e ação de madeireiras, por exemplo. (Desmatamento, aliás, não é ação humana?). Para encerrar, seria muito bom se toda edição tivesse um perfil como o da Ray Lopes, costureira do CAC. “Converso com o personagem invisível e tenho que fazê-lo existir”. Grande personagem, grande entrevista.

Ah, gosto amargo na boca. Seja de ansiedade, ou talvez algo que questione o tempo necessário para a produção dos novos exemplares. Maldita lógica do impresso. Pior ainda um periódico quinzenal. Vontade de trucidar os valores-notícia. Nessas últimas semanas, tivemos ônibus pegando fogo, outros parando de circular, a faculdade de Direito sendo evacuada… E a equipe do JC acordou, tomou um susto, correu,e se entregou. Mas nada disso vai entrar aqui; ficou na cobertura online. O que decidimos tatuar com tinta em páginas (meio) brancas é o que tem relevância para perdurar. Impeachment é uma delas. Pois quer queira quer não, é um tema que ficará Em Pauta por um bom tempo. E o escopo nos movimentos estudantis da USP é essencial para que as pessoas se situem e compreendam um pouco do ambiente em que estão inseridas. E se uma mulher sai no Planalto, o JC levanta como é a situação das que tomam as decisões aqui na Universidade, a editoria cheia de contrastes. Por um lado há um discurso de investir para aumentar a segurança por meio de aplicativos e catracas na USP, mas falta verba para cursos que precisam viajar e para terminar reformas estagnadas. Apesar disso tudo, a Universidade sobe nos rankings internacionais. Como os critérios podem parecer vagos, e até mesmo um pouco aleatórios, a equipe do JC decidiu elucidar como os rankings universitários funcionam em Entrevista. Em Ciência, descobrimos porque nossas amigas capivaras serão castradas, e conversamos sobre a campanha Setembro Amarelo e o combate ao suicídio na USP. Para ninguém ficar parado, Esportes traz o inter dos nossos interioranos - o CaipirUSP - e a Copa dos funcionários. E embora as Paralimpíadas tenham terminado, aprendemos a valorizar mais o Paraesporte, e apresentamos o futebol para pessoas com deficiência. Para fechar a edição, Cultura tem premiações de sobra com o programa Nascente. Na terceira edição deste semestre, 462, tivemos que escolher o que deixar de fora. São os critérios de noticiabilidade. Escolha difícil, mas necessária. Decidimos, na esperança de passar aos leitores experiências e informações que eles levem consigo; da tinta das páginas para a tinta nas almas. Que signifique. Que perdure.

*Matheus Pichonelli mantém uma coluna de cultura e comportamento na CartaCapital e escreve sobre política no Yahoo Brasil

Errata: Na página 9 da edição 461 (Falta de verba atrasa projetos e antiga sede do MAC segue inutilizada), no olho está escrita a seguinte frase: “É o melhor presente de 50 anos que a ECA poderia ter”. O jornal atribuiu a citação à Margarida Kunsch, diretora da Escola de Comunicações e Artes (ECA). Porém, a frase foi dita pelo Marcelo Denny, chefe do Departamento de Artes Cênicas (CAC).

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JORNAL DO CAMPUS - Nº 462 TIRAGEM: 8 MIL Universidade de São Paulo - Reitor: Marco Antonio Zago. Vice-Reitor: Vahan Agopyan. Escola de Comunicações e Artes - Diretora: Margarida Maria Krohling Kunsch. Vice-Diretor: Eduardo Monteiro. Departamento de Jornalismo e Editoração - Chefe: Dennis de Oliveira. Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho. Responsáveis: Alexandre Barbosa, Luciano Guimarães e Wagner Souza e Silva. Estagiária PAE: Marcelle Souza. Redação - Secretário de Redação: Alexandre de Amaral. Editora de Arte: Aline Naomi. Editora de Fotografia: Victória Ferreira Del Pintor. Ilustração: Natalie Majolo (Tuxa). Editoria Online: - Editora: Bianca Kirklewski. Repórter: Juliana Brocanelli. Entrevista - Editor: Leonardo Mastelini. Repórter: Bruna Martins. Universidade - Editores: Victória de Santi, Luíza Missi, Liz Dórea. Repórteres: Rafael Oliveira, Ethel Rudnitzki, Victor Matioli, Felipe Saturnino, Larissa Lopes, Giovanna Wolf. Em Pauta - Editora: Lidia Capitani. Repórter: Bianka Vieira. Cultura - Editora: Carolina Tiemi. Repórteres: Flávio Ismerim, Carolina Ingizza. Editoria de Esportes - Editor: Vitor Andrade. Repórteres: Luiza Queiroz, Helena Mega. Ciência - Editor: André Calderolli. Repórteres: Marina Morais Caporrino, Carla Monteiro. Opinião - Editora: Isabella Schreen. Repórter: Natalie Majolo. Fotógrafa: Maria José Campo. Endereço: Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 433, bloco A, sala 19, Cidade Universitária, São Paulo, SP, CEP 05508-900. Telefone: (11) 3091-4211. Fax: (11) 3814-1324. Impressão: Gráfica Atlântica. O Jornal do Campus é produzido pelos alunos do 4° semestre do curso de Jornalismo Matutino, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso II.


EM PAUTA

JORNAL DO CAMPUS SEGUNDA QUINZENA | SETEMBRO 2016

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Divergências marcam movimento estudantil Após impeachment, grupos pedem saída do atual presidente, mas não dialogam entre si BIANKA VIEIRA

Vinte dias após o impeachment de Dilma Rousseff, alguns movimentos estudantis (MEs) da USP já se mobilizam pelo Fora Temer através da promoção de debates e da presença nos atos que ocuparam as ruas da capital paulistana nos últimos dias. No entanto, aquele que seria um cenário de aglutinamento por uma pauta comum traz à tona dissidências anteriores ao afastamento, as quais têm questionado, mais uma vez, o poder de unidade dos estudantes diante do momento político.

LIZ DÓREA

Misturas heterogêneas Para entender os rumos da repercussão do impeachment, o JC procurou as três chapas mais votadas nas eleições para o Diretório Central dos Estudantes (DCE-Livre) da USP “Alexandre Van­ nuc­ chi Leme” deste ano: Primavera, a chapa eleita; USPinova, que ficou em segundo lugar; e Todas as Mãos, a terceira colocada. Para aqueles que integravam a Todas as Mãos, a queda da presidenta representa um golpe parlamentar, jurídico e midiático. “Não há outra palavra pra descrever a retirada de uma presidenta democraticamente eleita sem que ela tenha cometido crime de responsabilidade”, afirmam. Composta por estudantes independentes e do Balaio — Núcleo de estudantes petistas da USP, a leitura da chapa é de que, com a consolidação de Michel Temer na presidência, “o projeto de governo que foi derrotado por quatro vezes nas urnas será aplicado sem qualquer diálogo com a sociedade”. Citando perdas de direitos sociais e trabalhistas como a flexibilização da CLT e o congelamento dos gastos com saúde e educação, o Balaio acredita que o desenvolvimento e combate à desigualdade no país estão comprometidos — por isso defende o Fora Temer, embora não tenha um consenso caso ele venha a cair. “A descrença profunda da ação dos agentes políticos e o discurso de criminalização do PT serão, a curto, médio e longo prazo, uma perda para todo o Brasil e não só para um partido ou figura pública”, afirmam.

Já a USPinova faz uma análise divergente. “Não há dúvidas de que o processo seguiu seu trâmite legal e de que houve a conduta que materializou o crime”, defendem. Para eles, o uso do termo “golpe” qualifica o processo político ocorrido no Brasil em 1964, mas não os imbróglios atuais. “Não parece coerente o discurso de golpe quando as bases do governo PT e PMDB são as mesmas”. Questionados sobre seu apoio ao movimento que pede pela saída de Michel Temer, os integrantes dizem apoiar a cassação da chapa, caso seja comprovado crime de corrupção. Apesar de não declararem apoio a nenhum movimento político, a USPinova diz contar com membros de um amplo espectro ideológico, mas que no geral defendem políticas econômicas liberais e visões progressistas para a sociedade. Nesse sentido, eles, que foram favoráveis ao impeachment desde o princípio, acreditam que o afastamento e operações como a Lava Jato têm sua importância num processo para retomar os rumos de uma política de progresso nacional. “Com uma varredura política indistinta de partidos e medidas de reajuste orçamentário, respeitando direitos de base e que traga transparência de gestão, são pontos que, se concretizados, podem trazer um otimismo para um próximo governo”, reforçam em nota ao JC. Mesmo caminhando em direções opostas em suas interpretações sobre a conjuntura política nacional, tanto o movimento liberal, quanto o petista, mostram-se insatisfeitos com a atuação dos MEs. “Preso a interesses de grupos parciais, o movimento estudantil da USP tem perdido a representatividade perante o conjunto dos estudantes, o que resulta numa baixa capacidade de mobilização estudantil”, afirma o Balaio. “Num cenário polarizado e grave como o atual, essa situação tem se revelado perversa. Atualmente, o movimento estudantil da USP não tem sido capaz de dar respostas com a energia que o momento exige”, completa. A USPinova também acredita que pautas acadêmicas estejam sendo minimizadas em prol de interesses particulares, mas fazem um outro tipo de análise. “Vemos muitos movimentos estudantis brigando entre si para ver ‘quem é mais de esquer-

da’, puxando greves e paralisações contra o suposto golpe e se esquecendo de que existem alunos que precisam de representação”, apontam. Até o fechamento desta edição, a chapa Primavera, que comanda o DCE, não encaminhou suas respostas para o Jornal do Campus, mas afirmou defender o Fora Temer e ter sido contra o impeachment desde o princípio. Após realizar seu primeiro evento em protesto ao governo atual no dia 8 de setembro, o DCE interrompe um hiato marcado pela ausência de debates sobre o impeachment, como pode ser visto em sua página do Facebook: a não ser por uma aula pública marcada para o dia 31 de maio — e que foi cancelada por motivos de agenda de um dos palestrantes — todos os outros eventos promovidos pelo Diretório, até então, foram dedicados às questões internas. Primeiramente, Fora Collor O movimento estudantil na USP é, historicamente, marcado pelo alinhamento ao desdobramento de pautas que afetam o Brasil como um todo. Nesse contexto, o ME foi uma das principais vozes pelo fim do regime militar, assim como em movimentos pela Diretas Já! e pelo Fora Collor. “A gente viveu intensamente aqueles tempos, tinha uma forte militância na USP e no Brasil. Com a primeira eleição para presidente da República e partidos comunistas saindo da ilegalidade, havia todo um crescente de manifestações de rua. O Fora Collor veio nessa esteira”, afirma a jornalista Lúcia Rodrigues, que entrou para o curso de Ciências Sociais da FFLCH em 1989. Se hoje a participação dos estudantes perante o impeachment de Dilma Rousseff revela-se apática e dividida em comparação ao movimento de 1992, para ela esse é um reflexo da incapacidade dos movimentos de passarem por cima de suas diferenças em nome de uma questão maior. “Em 92, já existiam divergências internas, até porque as pessoas têm ideias diferentes, o que é normal e saudável. Mas, em relação à questão do Fora Collor, não tinha nenhuma força de esquerda ou de direita

“Talvez o sectarismo e a miopia política de alguns grupos dentro do movimento estudantil não os faça perceber a gravidade do que a gente está vivendo” — Lúcia Rodrigues, jornalista e ex-aluna da FFLCH

dentro da USP que se colocasse contra a outra, muito pelo contrário”, relembra Lúcia, que também integrou o Centro Acadêmico e o DCE. “A gente tende a achar que na nossa época era melhor”, brinca, “mas talvez o sectarismo e a miopia política de alguns grupos dentro do movimento estudantil não os faça perceber a gravidade do que a gente está vivendo”, argumenta. A jornalista se recorda de ter passado em diversos institutos, como a Física e a FAU, realizando uma convocação para os atos. “Quando chegamos na Avenida Paulista, lembro que tomamos um susto: as duas faixas no sentido Paraíso e no sentido Consolação estavam absolutamente cheias de gente!”. Ao relembrar a mobilização dos uspianos que foram às ruas com as caras-pintadas, Lúcia faz uma ressalva à mobilização mais recente dentro da Universidade. “Ainda bem que estão se unindo pelo Fora Temer, mas acredito que eles deveriam ter se unido antes. A Dilma ainda poderia estar lá e nós poderíamos ter feito pressão para que governasse mais à esquerda, já que ela se elegeu com um programa e no dia seguinte passou a governar com outro”. Para Everaldo de Oliveira Andrade, professor do Departamento de História que também foi cara-pintada em 1992, as entidades estudantis, à sua época, possuíam autoridade política e capacidade de organização, o que permitia a existência da unidade evocada por Lúcia. “Era uma situação de pós-ditadura, de crescimento da articulação dos movimentos sociais, greves gerais, tinha uma mobilização muito intensa. Também havia um espaço comum de articulação e pensamento sobre as grandes questões em defesa da universidade”, afirma o professor. Ao relembrar das assembleias estudantis que contavam com a presença de centenas de estudantes, além da hegemonia existente entre DCE, Sintusp e Adusp em torno do Partido dos Trabalhadores (PT), Everaldo critica. “Eu me questiono até que ponto eles [os MEs] estão fazendo um trabalho complementar ao pouco de unidade que foi construída pelo movimento sindical e popular”. A despeito dos impasses políticos e de todas as divergências que estagnam os movimentos, Everaldo ainda acredita no poder de mobilização da juventude. “Ela pode incentivar um movimento mais amplo da sociedade a se mobilizar. Nas próximas semanas e meses, a juventude é protagonista para que a história do Brasil tenha um rumo positivo”, diz.


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UNIVERSIDADE

SEGUNDA QUINZENA | SETEMBRO 2016 JORNAL DO CAMPUS

Só um terço dos diretores da USP são mulheres Número de mulheres em cargos de diretoria de ensino cresce, mas continua desequilibrado GIOVANNA WOLF TADINI

As unidades de ensino dos campi da Universidade de São Paulo somam 48 cargos de diretoria. Desses, apenas 16 são ocupados por mulheres. Nove mulheres estão nos campus Butantã, cinco em Ribeirão Preto, uma em Bauru, uma em Piracicaba, nenhuma em São Carlos, nenhuma em Lorena, nenhuma em Pirassununga e nenhuma em São Sebastião. Quanto à vice­diretoria, apenas 12 dos 48 cargos são ocupados por mulheres. Os dados foram levantados a partir dos sites oficiais vinculados à Universidade. A análise do histórico das unidades de ensino mais tradicionais na USP aponta uma diferença muito desequilibrada na quantidade de mulheres e homens exercendo posição de direção. A Faculdade de Medicina de São Paulo já teve 29 diretores, todos homens, assim como a Poli já teve 25, e nenhuma mulher. A Faculdade de Direito do Largo São Francisco, a FFLCH, a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e a Escola de Engenharia de São Carlos já tiveram uma mulher na diretoria ao longo da história. Nesses últimos casos, todas elas só estiveram na direção nos últimos cinco anos. Apenas na Faculdade de Direito foi um pouco mais cedo, com a Professora Ivette Ferreira que assumiu a diretoria em 1998. A FEA já foi dirigida por 20 pessoas, sendo duas mulheres: uma assumiu em 1954 e outra em 2002. Maria Ângela Faggin, diretora da FAU, entende o fato de poucas mulheres ocuparem cargos de poder na Universidade como um problema histórico. “Tem que levar em conta que para chegar em um cargo de direção você tem que ter um tempo de carreira, e até hoje as mulheres fizeram a carreira junto com os homens em maior número.” Ela explica que, como o número de professoras é menor que o de professores, na hora de disputar um cargo de diretoria, em geral, há menos candidatas mulheres. Ela tem graduação pelo Instituto de Biociências e, na sua turma de 150 ingressantes, havia 146 mulheres e 4 homens. Apesar da grande maioria da sala ser composta mulheres, a desigualdade de gênero não estava restrita a números e proporções: “Nós éramos tratadas pelos professores de maneira pouco respeitosa, eles achavam que a gente estava ali empacando espaço de outros homens que poderiam estar no nosso lugar.” Felizmente, Faggin disse não perceber essa discriminação na vida profissional. “Isso não aconteceu comigo, mas acredito que acon-

A Poli só teve a PRIMEIRA mulher professora titular na

DÉCADA DE 90

teça, porque eu acho que existe”, conclui. Maria Cristina Motta de Toledo, atual diretora da EACH, enxerga essa situação como um reflexo da sociedade: “É tudo meio assim, tanto nas empresas, como no setor público, na política, no legislativo”, diz. Ela é formada em geologia e, quando entrou na USP, na sua turma de 50 pessoas, havia 48 homens e 2 mulheres. Sobre a sua atual condição­ de ser mulher e diretora ­Toledo afirma que já houve casos que evidenciaram a diferença de gênero. “Já presenciei comportamentos inadequados ou então de maior gentileza, por ser chefe, geóloga, pesquisadora, mulher”. E completa: “é uma cultura.” Ela conta que não é completamente explícito, mas percebe situações que mostram o machismo. “Comentários como ‘deixa que eu faço isso porque você é mais frágil, ou você não sabe, ou não tem capacidade”, diz. Além disso, ela afirma que às vezes, em reuniões, a proporção é de uma ou duas mulheres para oito a dez homens. Na opinião da atual vice­diretora da Escola Politécnica, Liedi Bernucci, “quem diz que nunca passou por preconceito, é porque nunca notou.” Ela foi a segunda professora titular da Engenharia Civil, a primeira do Departamento Engenharia de Transportes e a primeira vice-diretora. Em sua carreira como mulher e engenheira, a professora conta que “à primeira manifestação inconveniente, respondia de forma assertiva, seja na época de estudante, ou já como profissional. É preciso se impor, que seja até com doçura, mas sem medo de confronto.” No ano de 1977, em que Bernucci entrou na Poli, 5% dos alunos eram mulheres, segundo informações fornecidas pela vice­ diretora. Depois de 35 anos, 20% do

A Faculdade de Medicina de SP e a Escola Politécnica

NUNCA tiveram diretoras mulheres

dos 48 cargos de diretoria dos campi da USP, apenas

16 são ocupados por mulheres total de alunos eram mulheres. “As mudanças são lentas, mas acontecem”, comenta. Nos últimos cinco anos, principalmente, houve um aumento na entrada das mulheres em posições de diretoria. Todas as entrevistadas disseram perceber que o número de mulheres na área acadêmica e em posição de direção está aumentando e que tende a se equilibrar no futuro. De acordo com o Censo da Educação Superior, em 2014, as mulheres eram as estudantes mais frequentes nos cursos de graduação, independentemente da modalidade de ensino; em 2013, nos 10 maiores cursos de graduação, 55,5% dos matriculados nas instituições e 59,2% dos alunos concluintes eram mulheres. Faggin diz que uma situa-

Em todo o país, nos dez maiores cursos de graduação, dos estudantes são mulheres ção que mostra explicitamente que as mulheres estão fazendo mais carreira é a proporção dos banheiros da FAU, porque, na fundação da faculdade, em 1969, os banheiros masculinos eram muito maiores ­já que as turmas eram compostas predominante por homens ­e hoje é o inverso, as turmas são predominantemente femininas e o banheiro das mulheres precisa ser maior. Dados da FAU em 2015 informam que dos docentes, 63 são homens e 61 mulheres, e na instância técnico­administrativa, 85 funcionários são homens e 78 mulheres. Quanto aos docentes da Escola Politécnica, a primeira mulher a ocupar o cargo de professora titular foi somente na década de 90, quando a Escola tinha 100 anos, e, atualmente, 12% são mulheres. “A tendência é aumentar, há várias docentes jovens”, diz a vice­diretora da Poli.


UNIVERSIDADE

JORNAL DO CAMPUS SEGUNDA QUINZENA | SETEMBRO 2016

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Aplicativos facilitam vida universitária Nova ferramenta da USP foca em segurança, mas app extraoficial ainda é o mais baixado

As Superintendências de Tecnologia de Informação e de Segurança lançaram no dia 13 de setembro o aplicativo Campus USP, ferramenta que ajudará a monitorar e a agilizar o registro de ocorrências dentro dos campi da capital e do interior. O aplicativo permite que o usuário fotografe, grave áudios e escreva o relato de atividades suspeitas, furtos, roubos, sequestros, vandalismo, problemas com animais ou buracos nas ruas, iluminação, vazamento de água e trânsito. A ferramenta também possui recursos como o alerta para a Guarda Universitária, que pode ser acionado ao agitar o celular, e um mapa de segurança da Universidade, que localiza ocorrências registradas nas unidades. Em apenas uma semana o aplicativo já possui mais de mil downloads no Google Play. Melhorias na rede de internet da USP ainda são necessárias para o uso dos aplicativos em quaisquer locais do campus. A USP Net está sendo ampliada não apenas para atender os aplicativos móveis, mas também outras demandas de conectividade, tais como o acesso aos Sistemas Corporativos, videoconferências e demais aplicações computacionais da USP diz o superintendente de Tecnologia de Informação e professor do Departamento de Computação do IME, João Eduardo Ferreira. Aplicativos extraoficiais O aplicativo Campus USP é uma iniciativa digital inédita para a segurança da Universidade, no entanto, outros aplicativos feitos pela instituição enfrentam forte

LIZ DÓREA

LARISSA LOPES

concorrência com ferramentas semelhantes e não oficiais nas lojas virtuais do Google e da Apple. Criado por Douglas Iacovelli, estudante de Sistemas de Informação da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH­USP), o USP é o aplicativo referente à Universidade mais baixado no Google Play, com mais de 10 mil downloads ­enquanto os apps mais populares programados pela Superintendência de Tecnologia de Informação (o Cardápio USP, Eventos USP e Bibliotecas USP) estão no patamar de 5 mil downloads. Para Iacovelli, o sucesso do USP se deve ao design organizado e a rapidez do aplicativo. Mas nem sempre ele teve esse público. Quando criou o app em 2014, ele tinha apenas o mapa da Cidade Universitária com o itinerário dos circulares e, contrariando as expectativasdo programador, que esperava cerca de mil downloads nos primeiros dias após o lançamento, teve apenas 100 em um mês. A ideia surgiu quando a USP Leste teve seu terreno contaminado interditado e as aulas da unidade foram transferidas para o Campus Butantã. “Ele é muito grande e eu nunca sabia qual ônibus deveria pegar e onde descer”, comenta Douglas. “Daí foi quase que natural juntar a vontade de aprender a fazer apps com a vontade de solucionar esse problema”. Após constatar o potencial do projeto, Iacovelli começou a adicionar outras ferramentas no aplicativo e a ambição se tornou transformar o USP no “único app da USP que os estudantes precisassem ter no celular e que ele mostrasse tudo que o estudante precisa saber”. Hoje, além do mapa original,

o aplicativo conta com mecanismos para cadastrar disciplinas e controlar o número de faltas em cada uma delas; consultar horários de funcionamento dos portões da Cidade Universitária, cardápios da maioria dos bandejões dos campi e o saldo do cartão USP; além de manter um calendário de festas promovidas pelas entidades da Universidade. “Gostaria de incluir a venda de produtos de atléticas no app, como camisetas, blusas, canecas e, se der, colocar a venda de festas também”, diz Iacovelli, mas a falta de parceiros, patrocinadores e apoio institucional da Universidade dificultam a viabilidade desse tipo de atualização. Segundo o estudante, entre as melhorias mais pedidas no app estão a atualização semanal de cardápios dos restaurantes universitários dos campi do interior e a inclusão dos mapasdeles.

ARTE: ALINE NAOMI

Integração universitária Ao perceber a necessidade de aproximar a comunidade estudantil da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA­ USP), o Centro Acadêmico Visconde de Cairu lançou, no final do ano passado, o aplicativo CAVC. “A grande vantagem do app era criar um espaço alternativo e organizado com as informações que são cotidianamente disponibilizadas no face”, explica Guilherme Ribeiro, presidente do centro acadêmico. O aplicativo possui agenda de eventos feanos, cardápio dos restaurantes universitários da Cidade Universitária, rotas de circulares e uma aba para notícias, notas e comunicados relevantes da entidade. Ainda sim, não conseguiu reunir usuários fiéis. Como estas informações já estão reunidas na página do facebook do centro acadêmico

e em outros aplicativos, como o de Iacovelli, os estudantes da FEA não se acostumaram a utilizar a ferramenta. “No começo, até que tivemos algum alcance, mas com o tempo foi­se perdendo o hábito de utilizá­ lo, tanto de nossa parte quanto dos estudantes em geral”, diz Ribeiro. “A maior dificuldade é criar a cultura de usar o app”. Aplicativos oficiais Entre outros aplicativos destacados, encontram­ se os programados pela Superintendência de Tecnologia de Informação. A estratégia usada pela instituição é diferente da dos aplicativos feitos pelos estudantes. Por enquanto, não há um aplicativo unificado, cada função compõe uma ferramenta independente, que pode ser acessada com login e senha dos Sistemas USP por alunos, docentes e funcionários. “A estratégia de lançar os aplicativos em partes teve como primeiro objetivo a consolidação de serviços para cada público­alvo”, esclarece o superintendente do STI, João Eduardo Ferreira. “Após a consolidação e a ampla familiarização dos usuários, uniremos todos num único aplicativo USP”. Os aplicativos da STI possuem opções de utilidade ao cotidiano universitário. O app Bibliotecas USP permite que você procure por obras, organize reservas e faça listas de livros desejados, sugeridos, além de outras referências. O Jornal USP mostra notícias e reportagens da redação do Jornal da USP, que deixou de possuir versão impressa em abril deste ano, e sintoniza nas rádios USP de São Paulo e Ribeirão Preto. O Eventos USP e o Cardápios USP mantém um calendário atualizado das suas respectivas funções.


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UNIVERSIDADE

SEGUNDA QUINZENA | SETEMBRO 2016 JORNAL DO CAMPUS

Continuam os debates sobre catracas Barreiras físicas e invisíveis estimulam a discussão sobre os limites entre público e privado ETHEL RUDNITZKI

Instaladas em cerca de 10 institutos da USP, as catracas são responsáveis por controlar a entrada e saída dos frequentadores dos espaços mediante apresentação da carteirinha da USP ou, em alguns casos, de cadastro de documento com os funcionários da segurança. Outros lugares nos campi não são controlados por catracas, mas exigem a identificação antes da entrada de pessoas. Seja de uma forma ou de outra, o controle de entrada na universidade pública não é consenso. A polêmica fica em torno da exigência de segurança em uma universidade que já registrou diversas ocorrências policiais e do comprometimento do caráter público da USP. Por um lado, por controlar o fluxo de pessoas, as catracas podem garantir certa segurança nos ambientes, por outro e pelo mesmo motivo, ela restringe os frequentadores dos espaços e até os afasta.

Raia Olímpica na Cidade Universitária também têm controle de acesso em suas entradas e saídas. Ambos têm catracas que são liberadas ao encostar a carteirinha USP, para os que não a possuem é preciso fazer cadastro no sistema. Espaço Público? Os críticos às catracas na USP costumam argumentar que o controle de acesso contradiz o caráter público da universidade. No dicionário, a palavra público significa 1. algo “que se refere ao povo em geral”; 2. “Relativo ao governo de um país; 3. “Manifesto, conhecido por todos”; 4. “A que todas as pessoas podem comparecer”. A universidade, com catracas ou não, corresponde às definições 2 e 3, mas a 1 e 4 ficam comprometidas quando o acesso aos espaços ficam restritos à apresentação de carteirinha USP. Marina Sadala, estudante da FAU, não concorda com as catracas da USP, “Porque é uma universidade pública, e muitas pessoas, mesmo que não estudem necessariamente na universidade, frequentam esse espaço, com diferentes objetivos.” Para ela, “bloquear o acesso por meio de catracas restringe a universidade e compromete seu caráter público.” O professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e pesquisador na área de mecanismos de controle social, Marcos Cesar Alvarez, conversou com a reportagem do JC sobre como as catracas podem afrontar ou não o espaço público. “A USP não pode ser tratada nem como um parque aberto indiscriminadamente ao público, nem como uma empresa privada em que só entram pessoas autorizadas. O desafio da comunidade universitária consiste em criar regras de uso do espaço, quando necessárias, e os mecanismos necessários para sua vigência.” Para ele, “em espaços como bibliotecas e laboratórios, o uso de catracas parece razoável, pois existem materiais e equipamentos que precisam ser preservados. Também não são lugares de circulação livre. Já imagino que em prédios, inclusive com valor histórico, como da Faculdade de Direito no Largo São Francisco, o uso de catracas poderia impedir o público te ter acesso ao interior do prédio, um espaço de interesse para visitas, além de local onde ocorrem debates diversos.” Segurança? A USP tem sofrido diversas ocorrências policiais nos últimos anos. Apenas em 2014, foram registrados 94 roubos, 6 sequestros e 214 prisões em flagrante só na Cidade

“A USP não pode ser tratada nem como um parque aberto indiscriminadamente ao público, nem como uma empresa privada em que só entram pessoas autorizadas.” — Marco César Alvarez, professor da FFLCH

Universitária. A quantidade de ocorrências como essas têm assustado os frequentadores do campus, por isso, muitas pessoas costumam defender a instalação de catracas na universidade. Para Guilherme Guerra, ex-estudante da USP, os torniquetes proporcionam “maior controle de quem está dentro do prédio e isso garante um certo conforto e segurança. Lembrando que as catracas não servem para barrar, e sim para saber quem está dentro do prédio e em qual momento”. Porém, para os contrários às catracas, a segurança não pode ser argumento para restrição dos espaços. Renato Herdeiro admite se sentir mais seguro em um ambiente com catracas, mas ainda tem ressalvas. “O problema é não confundir essa sensação de segurança com uma que associe ameaças a pessoas exógenas ao ambiente que você frequenta. Certamente as catracas na FEA não impedirão, por exemplo, a ocorrência de furtos dentro da instituição.” Para o professor Alvarez, a segurança nos campi exige uma solução mais complexa do que a simples instalação de catracas. “A violência sem dúvida é um problema e em espaços sociais como a USP, de uso bastante diferenciado (...), os desafios são ainda maiores e as soluções, complexas. Em espaços como empresas privadas, a simples colocação de catracas é uma saída frequente. Em nossas faculdades, seria preciso discutir caso a caso, tendo em vista os usos múltiplos, a segurança do patrimônio e também das pessoas, mas sem prejudicar o caráter público da instituição.” ARTE: ALINE NAOMI

FEA O caso mais recente de instalação de catracas nos campi é na Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis. Desde 2011, quando um aluno foi assaltado e morto no estacionamento da unidade, a questão é discutida, mas nunca se chegou a um consenso. Furtos e roubos dentro dos prédios da faculdade também são motivos para pautar a instalação de catracas no espaço. “O controle de acesso contribui para a segurança das pessoas e do patrimônio”, afirmou a diretoria em resposta ao Jornal do Campus. Para o funcionário da segurança, Evandro, a instalação de catracas é positiva. “Eu acho bom. Entra muita gente esquisita aqui à noite e assim vai dar para controlar.” Outros integrantes da comunidade da FEA pensam de outra maneira. Para Renato Herdeiro, estudante de Economia, a instalação das catracas não leva em consideração as manifestações dos alunos. “Não concordo com a forma com a qual todo o processo de articulação da pauta vem sendo conduzido, permeado por ausência de diálogo por parte da diretoria com os alunos, que já se mostraram contrários à iniciativa diversas vezes, seja por meio de plebiscitos ou de manifestações”. Em 2012, ocorreu uma votação na FEA na qual a instalação de catracas passou não em números absolutos, mas sim pela aprovação majoritária de professores e funcionários, enquanto os alunos foram contrários. Esse ano, a polêmica voltou à tona em uma assembleia sobre as contas da unidade. Neste evento, alunos opinaram que a colocação de ca-

tracas, que já custou R$ 83 mil à faculdade, não deveria ser prioridade no orçamento. Renato também não concorda “com a falta de transparência com a qual a compra das catracas foi efetuada, ainda mais em meio ao cenário de crise orçamentária”. Hoje, as catracas na FEA estão em fase de instalação. Na entrada principal, pela Av. Prof. Luciano Gualberto, seis delas foram colocadas em 2015, sob protesto dos alunos e sem aviso prévio, mas ainda estão fora de funcionamento. O projeto ainda prevê que sejam colocadas catracas nos fundos da faculdade, na entrada próxima ao prédio FEA3, e que a entrada pelo prédio FEA 5 (a mais próxima da vivência dos alunos) permanecerá fechada. Contudo, a diretoria da faculdade informa que não há previsão para a conclusão das instalações: “A USP ainda está estudando o desenvolvimento de software para a identificação dos usuários.” Outros espaços Diversos institutos da USP também foram locais de polêmica acerca de catracas. Em 2013, após tentativa de estupro em um banheiro da Escola Politécnica, a unidade pensou em ter mais rigor no controle de acesso. Hoje, para entrar nos prédios de engenharia na Cidade Universitária é preciso identificar-se com apresentação de carteirinha da USP ou RG (para visitantes). No Instituto de Geociências, catracas foram instaladas no ano passado com uma série de outras medidas de restrição de acesso ao espaço, como o fechamento do vão do prédio com vidro. Os alunos do IGc responderam negativamente à essa medida, criando páginas no Facebook e eventos no instituto. Além dos prédios de salas de aula, outras unidades de ensino da universidade também têm o acesso restrito. As bibliotecas do campus têm procedimento padrão de entrada por catracas: algumas exigem a apresentação da carteirinha, outras apenas contabilizam o número de pessoas que acessam o local. Da mesma forma, laboratórios de informática e ciência dos campi costumam ter controle de acesso, para proteção dos equipamentos. Para alguns alunos, esse tipo de controle afasta a ciência daqueles que não fazem parte da universidade. Filipe D’Elia, estudante da ECA, acredita que “a USP já é um ambiente super restrito e inacessível, acho que ela deveria ser mais aberta como forma de trazer mais retorno para a sociedade.” Os centros de práticas esportivas, como o CEPE-USP e a


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JORNAL DO CAMPUS SEGUNDA QUINZENA | SETEMBRO 2016

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Obras na Fofito já duram três anos Cotidiano de membros da comunidade do instituto é prejudicado por prorrogações de prazo VICTOR MATIOLI

medicado por causa do pó, coisa que não acontecia há anos”. Segundo Raquel Casarotto, professores e funcionários estão sendo muito prejudicados pela duração da reforma: “A secretária da copiadora toma antialérgico todos os dias para conseguir trabalhar. É gravíssimo estarmos todos submetidos a esta condição de insalubridade durante todos estes anos”. O Jornal do Campus tentou falar com os engenheiros da SEF pessoalmente e através da assessoria de comunicação, mas não obteve resposta. Além das obras no CDP, um anfiteatro começou a ser construído em 2014 ao lado do Prédio Pedagógico, mas foi cancelado no mesmo ano por não ser prioritário. Segundo a chefe de departamento, “a reitoria optou

“É gravíssimo estarmos todos submetidos a esta condição de insalubridade durante todos estes anos.” — Raquel Casarotto, atual chefe de departamento

VICTOR MATIOLI

A atual sede da Fofito (escola de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional) vem passando por reformas desde 2013. Um ano antes delas começarem, o Prédio Didático da unidade foi entregue e as aulas começaram a ser ministradas normalmente. Em 2013, o CDP (prédio que abriga a administração da Fofito e salas de professores e pesquisadores) começou a receber reformas estruturais básicas: construção de três banheiros, elevadores e reparos em algumas salas. A previsão de entrega era meados de 2014, mas a obra continua em curso. Segundo a professora Raquel Casarotto, atual chefe de departamento, ajustes precisaram ser feitos no projeto inicial e alguns aditivos foram estabelecidos, o que obrigou o prazo a ser prorrogado para 2015. Raquel indica que a empresa contratada diminuiu o ritmo das reformas até pararem quase completamente. “Em determinado momento, somente dois funcionários da empresa estavam trabalhando na obra”, relata. Ela afirma ainda que o ritmo só foi retomado após a cobrança da chefia do departamento perante a SEF (Superintendência do Espaço Físico) da USP. “O último prazo fornecido pela SEF foi novembro de 2016,

mas outra prorrogação já está sendo solicitada pelos engenheiros responsáveis, para entregá-la em abril de 2017”, aponta a chefe de departamento. Enquanto as reformas prosseguem, o CDP opera entre tapumes, ferramentas e muito pó. José Eduardo Pompeu, professor e pesquisador da Fofito, relata que desde sua admissão as condições de trabalho estão bastante precárias. “Infelizmente, desde que ingressei na USP em 2014, não tenho sala nem laboratório. Muitas vezes agendo reuniões na lanchonete com meus alunos de pós-graduação ou até mesmo com professores de outras instituições”, aponta. Pompeu afirma que o atraso é vergonhoso e a qualidade das obras é péssima. “Estou com crise asmática sendo

O cenário das reformas já faz parte do cotidiano dos alunos, funcionários e professores da Fofito

por finalizar as obras que ‘tinham pessoas dentro’, ou seja, que estavam em funcionamento”. Raquel alerta ainda que a obra foi embargada por conta de problemas estruturais e deve ser demolida em breve. Larissa de Aragão Pires, estudante de Terapia Ocupacional desde 2011, acredita que a verba para o anfiteatro poderia ter recebido outro destino. “Claro que ele é importante, mas se pudéssemos decidir, escolheríamos uma biblioteca”. Ela afirma ainda que, durante o surto de dengue no início do ano, os mosquitos se proliferaram nos escombros. “Por conta da obra parada, tínhamos muitos pernilongos por aqui”, revela. Já Mariana Moreira, aluna do segundo ano de Fonoaudiologia, acredita que o anfiteatro seria importante para a realização de algumas atividades. “Seria muito bom que a obra tivesse sido finalizada. Eventos grandes quase nunca acontecem aqui, nós precisamos ir até a Faculdade de Medicina”, comenta. Para o auxiliar contábil e responsável pelo Prédio Didático César Alvino, a conclusão da obra significaria uma grande facilidade na organização das aulas. “Na semana que vem, teremos uma aula que precisa de 60 cadeiras. Seria mais fácil se fizéssemos num anfiteatro”, afirma.

ECA monta telhado vivo sustentável Fruto de um projeto final da disciplina de Educomunicação socioambiental, no dia 20 de setembro foi construído o telhado vivo da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP) em uma oficina aberta à comunidade da USP. “A proposta do projeto é construir um espaço para que as pessoas se encontrem e percebam que existe, aqui na Universidade, um local onde elas possam trocar ideias”, explica a professora responsável pela disciplina, Carmen Gattás. Para o estudante de biologia Pedro Coelho, criador do projeto, “os espaços falam. Quando você transforma fisicamente um espaço, você transforma a satisfação das pessoas que o frequentam, o costume delas, a forma como elas interagem”. Localizado acima da casa de máquinas da Unidade, ou da “caixa d’agua”, como o local é mais conhecido, o telhado está a uma altura visível a todos e promete melhorar a qualidade do ar e da temperatura local.

Mudança necessária Há dois anos consecutivos, a Cidade Universitária tem sido apontada pelas estações de monitoramento da qualidade do ar como o lugar mais poluído da região metropolitana de São Paulo. Em 2015, 26 dias extrapolaram a quantidade adequada de ozônio, A explicação é a de que os ventos levam a poluição produzida ao redor da Universidade para dentro dela. Dentro deste cenário, o projeto foi apoiado pela diretoria da unidade e está inserido na programação da comemoração dos 50 anos da Escola. Gattás e Coelho apostam que ele seja um importante passo para que as iniciativas socioambientais se tornem cada vez mais frequentes dentro do campus e transformem espaços ociosos da Universidade em ambientes de convivência. Outros espaços verdes, como o do Instituto de Oceanografia (IO), do Instituto de Biociências (IB) e a horta do Crusp, já foram construídos por coletivos sustentáveis, que articulam a Rede de Agroecologia da USP, da qual Coelho faz parte.

LARISSA LOPES

LARISSA LOPES

No telhado vivo, foram plantadas espécies de plantas com raízes pequenas, como boldo, onze-horas, flor de maio e língua-de-vaca. Um diferencial do projeto é que a palha foi usada no lugar da terra, que seria mais pesada e aumentaria as chances de infiltração da casa de máquinas sobre a qual o telhado foi instalado. A palha foi conseguida a partir da grama cortada no campus. Coelho conseguiu o contato de alguns jardineiros que o avisavam quando fariam a poda para que o estudante pudesse recolher e utilizar a grama seca. A palha é um excelente material para compostagem e cobertura de solos de hortas e jardins. Sustentabilidade freireana A partir da visão de educação horizontal, Coelho acredita que os espaços são educadores e que o aprendizado só é construído quando se tem, junto com a teoria, a experiência. “Às vezes nós vivemos na universidade com muita informação e o excesso

dela tira o lugar da experiência”, repara. “A educação é uma questão de textura, não só de informação. Você tem que pegar, tem que sentir o cheiro. Você tem que fazer com as próprias mãos”. Ao final da oficina, Coelho e os participantes construíram uma roda de conversa para refletir novas formas de recriar os espaços da Universidade. “Isto é um pequeno exercício para que as pessoas se despertem para a importância dessa prática, mas a coisa não para aí”, afirma. “Esse tipo de ação tem um impacto muito maior do que uma aula teórica”.

“Quando você transforma fisicamente um espaço, você transforma a forma como as pessoas interagem.” — Pedro Coelho, criador do projeto do telhado vivo da ECA


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SEGUNDA QUINZENA | SEMTEMBRO 2016 JORNAL DO CAMPUS

Probição de debates políticos gera insatisfação Segundo a Procuradoria Geral, discussões não abrangeriam todos os lados; alunos discordam FELIPE SATURNINO

Uma interpretação da Procuradoria Geral da Universidade de São Paulo (PG-USP) sobre o artigo 73 da Lei Eleitoral, a 9.504/1997, tem impedido a realização de debates políticos no interior do campus da Cidade Universitária. O parecer negativo emitido pelo órgão com relação a essas atividades considera que elas só podem ser admitidas “quando o evento for promovido em caráter institucional e desde que garantida a observância aos princípios da impessoalidade e moralidade administrativa”. “Não é a situação tratada nos presentes autos, uma vez que a organizaçäo do evento é pretendida por associação de natureza privada, não sendo possível garantir a igualdade de tratamento e oportunidade entre todos os candidatos ao cargo de vereador”, diz o documento, referindo-se a um debate que o Centro Acadêmico Visconde Cairu (CAVC), da Faculdade de Economia e Administração (FEA), pretendia realizar. O evento era previsto para ocorrer no dia 1º de setembro no auditório FEA-5 e possuía, entre os debatedores convidados, o ex-secretário municipal de cultura,

“Se um só [candidato] ficar de fora (de ser no mínimo convidado), vai se dizer que o debate beneficiou os demais.” — Luiz Carlos Santos Gonçalves, Procurador Regional Eleitoral (SP)

Nabil Bonduki (PT), além de Mario Covas Neto (PSDB), Marina Helou (REDE), Ricardo Nunes (PMDB) e Sâmia Bomfim (PSOL). O CAVC afirma que não é a primeira vez que surge um obstáculo à realização de debates do tipo na FEA. Nas eleições municipais passadas, em 2012, houve as mesmas discussões. “Nos dois casos, naquele ano e neste, os esforços do CAVC em mostrar que o evento não pretendia privilegiar nenhum grupo, mas expor as grandes forças e pautas das eleições municipais, foram em vão”, observa. O centro acadêmico ainda pretende realizar o evento, agora em 22 de setembro, dizendo-se comprometido com questões relevantes do cenário político fora da Universidade. Em nota de repúdio publicada em 24 de agosto denominada “Um peso e duas medidas?”, a organização cunhou a diretoria da FEA como “parcial” por ter feito um evento com João Doria, hoje candidato a prefeito pelo PSDB em São Paulo, e, ao mesmo tempo, ter acatado o parecer negativo da PG que vetava o debate com candidatos ao cargo de vereador. O diretor da unidade, Adalberto Fischmann, pontua que à época em que o evento foi feito, em 4 de maio, Doria não era oficialmente candidato pela sigla tuca-

na, embora já houvesse vencido a prévia peessedebista batendo Andrea Matarazzo em segundo turno. Fischmann disse também que a temática do encontro, cujo nome era “Conjuntura Política e Econômica da Cidade de São Paulo”, visava discutir questões empresariais da alçada profissional do postulante à Prefeitura paulistana, e que “a FIA (Fundação Instituto de Administração) fez o convite, tendo a FEA hospedado o evento”. Segundo Luiz Carlos Santos Gonçalves, Procurador Regional Eleitoral de São Paulo, o debate que propunha o centro acadêmico feano é uma “questão controvertida”, já que, para a realização de encontro envolvendo candidatos a vereador, todos os competidores — no caso, seriam 1315 — haveriam de ser, no mínimo, convidados a fim de que não fosse afetado o nível de exposição dos concorrentes na disputa eleitoral. “Se um só ficar de fora (de ser no mínimo convidado), vai se dizer que o debate beneficiou os demais, fazendo incidir a vedação do artigo 73, com graves consequências para o administrador público e para os candidatos beneficiados”, aponta ele. Isto corresponde uma limitação imposta estritamente em

tempos eleitorais, “destinada a assegurar a igualdade de candidatos” quando se diz respeito ao uso de bens públicos e comuns, caso do espaço uspiano. Justificando o parecer, a PG afirma que “a questão, de acordo com a lei, é que todos os candidatos devem ser convidados para a sabatina ou debate”, e deu como exemplo a jornada eleitoral da Superintendência de Comunicação Social (SCS) com todos os candidatos a prefeito de São Paulo. “Alguns não compareceram, mas todos foram convidados”, diz. Também outro debate, que ocorreria na Faculdade de Educação (FE) e era promovido pelo Centro Acadêmico Professor Paulo Freire (CAPPF), foi cancelado em virtude do mesmo parecer que obstruiu o evento do CAVC. Segundo disse o CAPPF, o texto é tão idêntico ao repassado à organização estudantil da FEA que a Procuradoria Geral da USP não se deu “nem ao trabalho de ao menos alterar o nome do centro acadêmico”. O debate teria lugar na própria FE, às 18h do dia 20 de setembro, e contaria com o ex-senador Eduardo Suplicy (PT), o militante do Movimento Brasil Livre (MBL), Fernando Holiday (DEM), e Diana Assunção (PSOL).

Ciclistas enfrentam dificuldades no campus Na Cidade Universitária, ciclovias não terminadas e desrespeito dos motoristas persistem ETHEL RUDNITZKI FELIPE SATURNINO

ETHEL RUDNITZKI

A Universidade de São Paulo possui apenas 10% das ciclofaixas estruturais previstas para estarem prontas até este ano. O número de vias especiais destinadas a ciclistas é esperado em 35 km, somando 26,2 km de ciclofaixas em avenidas principais do campus e 9,3km de caminhos para bicicletas em áreas de pedestres. A Universidade instalou apenas 2,6 km desse número. Todo esse trecho cicloviário já finalizado na Universidade foi entregue no ano passado, durante o mês de fevereiro.

O projeto ainda prevê a instalação de 36 estações de empréstimo de bicicletas, com 10 veículos cada, para alunos, funcionários e professores da USP. A iniciativa, chamada PedalUSP, foi testada em 2011, com grande aceitação do público, e deveria ser retomada até o fim deste ano, junto com a construção das vias para ciclistas. Até agora, nenhuma das estações de empréstimo de bicicletas foi instalada. A Reitoria não havia se pronunciado até o fechamento desta reportagem quanto ao andamento do projeto. A Prefeitura do Campus estimou, em fevereiro de 2015, que aproximadamente 40 mil veículos circulavam pela Cidade Universitária e confiava que a implementação de trechos para ciclistas diminuiria o tráfego costumeiro na Universidade. Segundo Heron Cazón, professor de Ensino à Distância que frequenta a ciclofaixa da USP, a locomoção dentro do campus, que possui 7 mil metros quadrados, é facilitada através da bicicleta. Por outro lado, ele afirma que, embora o espaço delimitado crie segurança para aquele que pedalar pelo campus, a disputa com motoris-

tas que andam pela Universidade ainda é um problema. “A ciclofaixa dá uma certa segurança porque tem um espaço próprio pra você ali na rua”, diz o professor. “Mas, em relação ao respeito entre o ciclista e o motorista do veículo, isso tem que ser ainda muito bem trabalhado na Cidade Universitária”, contesta. Entre os problemas centrais relacionados à relação motorista-ciclista, Cazón observa que constantemente carros não seguem a prioridade de ciclistas atravessarem as ciclofaixas. “É muito comum, quando estou em ciclovia e vejo um carro, esperar para que ele passe por cima da ciclofaixa, muito embora o ciclista tenha prioridade de cruzar a via”, diz. A ordem de prioridade, na prática, é toda invertida. Primeiro, o carro; depois, o ciclista e o pedestre. Marcio Vilela, que anda de bicicleta pelo campus mas não frequenta as ciclovias aponta alguns problemas fundamentais das faixas especiais a ciclistas no campus. Segundo ele, seria necessário realizar um mapeamento de origens e destinos das pessoas que se locomovem nesse

espaço a fim de criar rotas e os percursos corretamente. “O que você tem aqui é uma coisa absolutamente sem planejamento, de ter deixado a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) vir aqui pra dentro e pintar essas faixas”, afirma ele. “Eu mesmo já tive acidente por causa de traçado mal feito, já fui fechado algumas vezes por ônibus que não respeitam a ciclofaixa e já fui agredido por ciclistas de velocidade, que acham que a Cidade Universitária é deles.” Em janeiro deste ano, o então prefeito do campus da Cidade Universitária, José Antonio Visintin, afirmou que a USP não era “lugar público, de todo mundo” para que ciclistas de velocidade frequentassem a toda hora e todo momento. Na ocasião, Visintin sustentou que definiria um lugar exclusivo no qual esses ciclistas pudessem transitar. “Quem está andando de bicicleta aqui está, provavelmente, na visão dos ciclistas de velocidade, disputando espaço com eles”, opina Vilela. “Enquanto nós estamos usando bicicleta para locomoção, eles estão usando para diversão.”


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JORNAL DO CAMPUS SEGUNDA QUINZENA | SETEMBRO 2016

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Viagens de campo passam por incertezas Alunos culpam burocracia pelos constantes atrasos e cortes que prejudicam o aprendizado RAFAEL OLIVEIRA

Em diversos cursos da USP, a experiência da graduação não se limita à sala de aula. Para aprofundar os conhecimentos e testá-los na prática, é comum que professores insiram viagens didáticas e atividades de campo dentro do planejamento de suas disciplinas, sejam elas obrigatórias ou optativas. Além disso, é comum que graduandos passem algum tempo nas bases da USP espalhadas pelo estado para realizar pesquisas ou trabalhos de conclusão de curso. A Universidade, por intermédio da Pró-Reitoria de Graduação (PRG), fornece recursos para os institutos bancarem as atividades de campo dos graduandos. Para conseguir a verba, os docentes devem “apresentar uma solicitação específica de recursos, acompanhada de justificativa e informações pertinentes, em formulário próprio”, segundo informações da secretaria geral da USP. Os institutos, porém, têm situações heterogêneas. O JC conversou com estudantes de cinco faculdades da USP para entender qual a situação das viagens de campo na Universidade. Turismo (ECA) Nos seis primeiros semestres do curso de Turismo – oferecido pelo Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo (CRP) da ECA – há disciplinas em que o termo “trabalho de campo” aparece já no nome. Com pelo menos três viagens de campo previstas por semestre – considerando apenas as matérias obrigatórias –, o departamento enfrenta dificuldades para captar os recursos com a PRG. De acordo com as informações disponibilizadas no Portal de Transparência da USP, a ECA é quem menos recebeu verba de apoio às viagens didáticas e atividades de campo dentre os cinco institutos em que Jornal do Campus apurou. Para os mais de 100 alunos do curso de turismo, foram destinados pouco mais de 33 mil reais entre despesas com locomoção e serviços de terceiros. Nos dados disponíveis na internet, não foram relatados gastos com diárias ou com auxílios financeiros aos estudantes, comuns em outros institutos. “No meu ano de caloura íamos com quase tudo pago, só algumas refeições eram pagas por nós mesmos”, explica Bruna Hara, que cursa Turismo desde 2014. Segundo a graduanda, a partir do ano seguinte o quadro começou a se complicar gradualmente. “Este ano eu não fui na viagem, mas até onde eu sei eles tiveram que pagar quase tudo. [...] Talvez

alguém até tenha ficado de fora por causa do valor”, relata. Segundo Ananda Ielo, que cursa o quarto semestre, a burocracia que o curso enfrenta para conseguir as verbas é o grande empecilho. “Em turismo é preciso fazer cinco cotações para mandar para o pregão, que é realizado super em cima da hora e pode ser que nem aconteça. Semestre passado a gente não pôde viajar porque toda a verba do departamento foi para a viagem dos veteranos”, explica. Geociências (IGc) Dentre os institutos pesquisados pela reportagem do Jornal do Campus, o de Geociências tem a situação mais confortável quando o assunto são as verbas para as viagens de campo. O IGc recebeu mais de 545 mil reais durante o ano de 2015 para bancar as constantes atividades de campo. Segundo Beatriz Pontes Araújo, formada em geologia e cursando o segundo semestre da licenciatura em geociências e educação ambiental, houve um temor de que pudessem acontecer cortes nas verbas do IGc, especialmente durante a greve. Apesar dos rumores, a graduanda afirma que o instituto recebeu toda a verba necessária. “Se não aconteceu algum campo no semestre passado foi porque os alunos estavam em greve e os professores responsáveis ou cancelaram o trabalho de campo, ou deixaram pra remarcar quando possível”. Ciências Biológicas (IB) No Instituto de Biociências, a palavra que melhor define a questão das verbas para viagens de campo é incerteza. Apesar de estar entre as faculdades da USP com o maior recebimento

de aportes para esse tipo de atividade – em 2015 foram 318,5 mil reais para o único curso ministrado –, os alunos reclamam dos cortes e da burocracia. Segundo Ana Serva, que cursa o sexto semestre de Ciências Biológicas, os professores têm encontrado maiores dificuldades para confirmar se suas disciplinas realizarão ou não as viagens, já que a confirmação da verba tem acontecido tardiamente. “Algumas viagens de campo, que antes eram dadas como uma certeza no curso, agora estão esperando a resposta final da liberação de verba para saber se vai ter o campo ou não”, explica a graduanda. Ingressante no IB em 2014, Mila Pamplona explica que desde o seu ano de caloura a situação no instituto começou a se complicar. “No geral, o IB anda cancelando muitas viagens de campo ou reduzindo dias das viagens. [...] Algumas optativas funcionam totalmente com base na viagem de campo e muitas delas só tiveram confirmação da viagem de última hora, por causa da questão financeira”, aponta. Ambas as estudantes citam a disciplina obrigatória Ecologia II como exemplo de matéria que deixou de ter viagem dentro de seu programa em decorrência de cortes orçamentários. Oceanografia (IO) O Instituto Oceanográfico tem uma situação heterogênea dentre as demais faculdades. Com duas bases no litoral paulista – em Ubatuba e em Cananéia – os alunos de Oceanografia têm viagens de campo em todos os semestres. O montante destinado para o IO ao apoio às viagens didáticas e atividades de campo foi de pouco mais de 47 mil reais em 2015.

O Jornal do Campus conversou com duas estudantes do Instituto e ambas afirmaram que as viagens das disciplinas obrigatórias e optativas estão sendo integralmente bancadas pela verba destinada. Segundo Eduarda Laurentino, que cursa o quarto semestre de Oceanografia, apenas os alunos de outros institutos que participem de disciplinas do IO são cobrados pela estadia e pela a alimentação nas bases. A grande modificação dos últimos anos refere-se aos alunos que desejem realizar pesquisas ou trabalhos não vinculados às disciplinas: se anteriormente os alunos do IO tinham isenção total de gastos independente do tempo de estadia, atualmente esse período fica limitado a cinco dias por mês. Para Giovana Assis Garcia, que entrou no IO em 2014, essa cobrança não se justifica. “Entendo a crise financeira da universidade mas, pessoalmente, eu acho um tanto quanto errado cobrar de nós. Independente do valor, se estamos lá para fazer pesquisa ou extensão estamos cumprindo com o objetivo da universidade em si”, opina. Geografia (FFLCH) No curso de Geografia da FFLCH também há reclamações de estudantes em relação às viagens de campo. A despeito do montante destinado às atividades em 2015 – o segundo maior entre os institutos ouvidos pela reportagem, com cerca de 325 mil reais –, os relatos também apontam para uma situação em deterioração. “[Atualmente] quase todos os campos são de um único dia, então fica uma correria. Saímos sete ou oito da manhã da USP para retornar às 22 e vamos parando em

várias cidades para estudar. [Isso] torna muito cansativo e maçante seja para o professor, seja para o aluno”, relata Fernanda Almeida, do sexto semestre da Geografia. Segundo ela, o curso enfrenta duas situações paralelamente: em boa parte das disciplinas os campos foram reduzidos a um dia, tornando-os menos proveitosos; ao mesmo tempo, algumas matérias sequer tiveram as viagens realizadas, como Climatologia e Regionalização do Espaço Brasileiro – que costumava ter campos de longa distância na década passada. Apesar da quantidade de viagens ainda ser relativamente alta, Fernanda aponta que elas têm enfrentado maior burocracia. “Quando os professores vão pedir verbas para Reitoria é [um processo] muito burocrático e chega a demorar meses para uma resposta. Aí acumulam todos os campos em 1 mês e o aluno sai perdendo”, finaliza. PRG O JC solicitou à Pró-Reitoria de Graduação informações sobre a verba repassada para as viagens didáticas e atividades de campo nos últimos oito semestres, discriminadas por instituto. A informação, que não está disponível no Portal de Transparência – o site traz apenas os dados de 2015 –, também não foi apresentada pela PRG. O órgão informou que em 2016 a verba destinada “foi de R$ 4.076.996,12 para 31 Unidades de Ensino e Pesquisa que solicitaram o recurso”. O JC contatou os chefes de departamento do CRP e da Geografia, além do departamento financeiro do IB, mas não conseguiu efetivar o contato até o fechamento desta edição.

(em reais)

230.692

884.100

2.316

12.404

46.601

139.825

20.800

28.730

8.751

1.307.561

247.545

183.084

21.370

1.218

263.150

103.900

379.900

65.135

2.735.035 33.774

25.319

325.226

47.337

33.000

318.502

545.530


10 CIÊNCIA

SEGUNDA QUINZENA | SETEMBRO 2016 JORNAL DO CAMPUS

Setembro amarelo: o suicído em pauta Buscando quebrar tabu, tema sai das redes sociais e gera debates dentro da universidade MARINA M. CAPORRINO

Associada ao calor e à alegria, a cor amarela foi escolhida para representar figurativamente a luta contra o suicídio, que é proposta da campanha Setembro Amarelo. O movimento, que ocorre todo nono mês do ano pelo mundo inteiro e desde 2013 no Brasil, busca não apenas alertar a sociedade sobre o suicídio, como também quebrar os tabus que circundam esse tema. De acordo com o Centro de Valorização da Vida (CVV), atualmente, o Brasil registra 32 duas mortes por dia, o que representa 1 suicídio a cada 45 minutos, além do triplo de tentativas diárias de acabar com a própria vida. Além disso, entre 2002 e 2012, o número de suicídios e tentativas de tirar a própria vida entre jovens dos 15 aos 29 anos cresceu 20%. Visando não apenas os profissionais da saúde, mas também os jovens, alunos da graduação e que se tornarão futuros profissionais da saúde, o Sim-

Iluminar A cor amarela, além de representar a alegria, também representa a luz. Iluminar e tornar claro para a sociedade o que leva uma pessoa a tirar a própria vida também é uma forma de preveni-lo. Segundo Adriana Rizzo, voluntária do CVV, “há desconhecimento pela maior parte da população sobre o que leva uma pessoa a pensar em se matar, quais os sinais que ela dá e como oferecer e pedir ajuda”. Muitos casos poderiam ser evitados diariamente se as pessoas em volta soubessem mais sobre o suicídio e como lidar com ele. E é nesse cenário que campanhas como o Setembro Amarelo desempenham um papel essencial, como conta Adriana. “Notamos que houve grande aumento na adesão espontânea da sociedade ao Setembro Amarelo. Neste ano, por exemplo, diversas empresas e organizações civis e

pósio “Precisamos falar sobre suicídio!” trouxe para a Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) uma série de mesas redondas e debates sobre o tema. Com painéis como “O suicídio na população LGBT” e “A esperança por um fio: suicídio e solidão”, o Simpósio contou com a participação de profissionais da área para o debate essencialmente sobre o suicídio. Dentro dos campi da USP, existem algumas iniciativas para alertar e prevenir o suicídio, além de algumas para auxílio contra a depressão. Na Faculdade de Medicina (FMUSP), por exemplo, há projetos como o GRAPAL (Grupo de Assistência Psicológica ao Aluno da FMUSP) e o NAEE (Núcleo de Acolhimento e Escuta ao Estudante), que oferecem assistência aos alunos da FMUSP.

sociais estão pedindo palestras sobre o assunto e divulgando a causa internamente, e mais pontos importantes foram iluminados, como o Monumento às Bandeiras, a estátua do Borba Gato e a estação Sumaré do Metrô, esses três em São Paulo”. Além disso, lutar contra o suicídio é, também, lutar pela saúde mental e emocional da população. “Pelo menos 90% dos casos de suicídio têm alguma relação a transtornos mentais e emocionais, especialmente a depressão, nem sempre diagnosticada previamente”, explica Adriana. Entretanto, o suicídio é muito mais complexo e envolve muito mais questões além da depressão. Adriana explica que o pensamento suicida pode, inclusive, ocorrer à qualquer pessoa, pois envolve um histórico de acontecimentos impactantes, como a perda do emprego, separação, diagnóstico de uma doença grave. “Os principais fatores que levam à ideia suicida são relacionadas à dificuldade em lidar com as situações do dia a dia”, completa.

ANDRÉ CALDEROLLI

Medida preventiva propõe castração de capivaras no campus das capivaras e, após essa etapa, que a Universidade contrate uma empresa para realizar o trabalho de castração. Em entrevista à repórter Marina M. Caporrino, o professor da FMVZ, Marcelo Labruna, afirmou acompanhar de perto o caso e que as medidas visam apenas o controle da população das capivaras no campus. “Hoje podemos afirmar com segurança que no caso da raia olímpica da Cidade Universitária, nem as capivaras e nem seus carrapatos estão contaminados com a bactéria da febre maculosa. O procedimento de controle reprodutivo delas visa exclusivamente impedir que elas continuem se reproduzindo, pois se continuarem nesse ritmo, daqui a pouco vão se espalhar para outras áreas de nosso campus, vindo a causar problemas. Será

CARLA MONTEIRO

ressaltou a preocupação da SGA com o convívio e a interação humano-fauna. Essa preocupação da assessora se deve ao fato de que as capivaras são as principais hospedeiras do carrapato-estrela, transmissor da febre maculosa. “É importante, na questão da administração, tomar o cuidado com o contato das pessoas com esses animais, pois pode ocorrer a transmissão de doenças”, esclarece Roberta Kronka. O Jornal do Campus apurou que as capivaras não serão retiradas do campus, mas serão castradas. A medida busca o controle populacional desses animais, pois nos dois últimos anos sua população aumentou cinco vezes. Há também a preocupação com risco de transmissão da febre maculosa. A previsão é que este ano comece o diagnóstico

FEBRE MACULOSA

As capivaras, junto a outros mamíferos, podem carregar muitos carrapatos-estrela (Amblyomma cajennense)

ANDRÉ CALDEROLLI

Frequentar os arredores da raia olímpica da USP sempre pode trazer surpresas: encontrar capivaras, por exemplo. Mas esses eventuais encontros podem ficar cada vez mais raros. Isso porque a Universidade estuda métodos que visam o controle da população das capivaras no campus da capital. Segundo estimativas da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), no início de 2014, seis animais viviam na raia, hoje o número de indivíduos chega a 30. Segundo a profª Roberta Kronka, assessora da Superintendência de Gestão Ambiental (SGA), existe a preocupação com a rapidez do ciclo reprodutivo das capivaras, já que ocorreu um aumento “exponencial” no número de capivaras no campus. Além disso, Kronka também

uma medida puramente preventiva”, ressalta o professor Labruna. Recentemente, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), localizada no campus da USP de Piracicaba, registrou casos de febre maculosa e constatou, no campus, a contaminação de carrapatos e capivaras com a bactéria Rickettsia rickettsii, causadora da doença. As capivaras chegaram até o campus da capital por meio de uma conexão com o córrego Pirajussara, afluente do rio Pinheiros. Ali, na Raia, elas encontraram ambiente com melhores condições de sobrevivência, pois tanto o rio Pinheiros quando o próprio córrego Pirajussara são locais poluídos e hostis para sobrevivência de qualquer animal, principalmente aqueles que possuem hábitos aquáticos.

Os carrapatos, por sua vez, estão entre os principais hospedeiros da Rickettsia rickettsii, e podem contaminar tanto capivaras quanto seres humanos Quando infectado pela bactéria, o ser humano pode apresentar febre, dores de cabeça e musculares, náuseas, vômitos e erupções cutâneas. Não há vacina, mas há tratamento.


ENTREVISTA

JORNAL DO CAMPUS SEGUNDA QUINZENA | SETEMBRO 2016

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Rankings querem banalizar a universidade Para pesquisador do IRI, criação de listas não resolve problemas das instituições de ensino

Em 2016, a Universidade de São Paulo vive um constante sobe-e-desce de posições em rankings nacionais e internacionais de avaliação de instituições de ensino. Após ganhar 23 posições no QS (Quacquarelli Symonds) World University, mas também ter caído drasticamente no Times Higher Education e, até mesmo, ter perdido a liderança do Ranking Universitário Folha (RUF) pela primeira vez desde que ele foi criado, fica difícil compreender o que exatamente é avaliado por essas ferramentas. Afinal, elas refletem a realidade da Universidade de São Paulo? O Jornal do Campus conversou com Justin Axel-Berg, pesquisador da USP que estuda a eficácia destes rankings, para entender melhor como eles funcionam na prática. Jornal do Campus — Na sua opinião, qual a importância dos rankings de avaliação? Os rankings são muito importantes num certo “jogo de prestígio”, pois um bom posicionamento neles pode ajudar a universidade a captar mais recursos internacionais, ou atrair alunos e professores mais talentosos. Além disso, eles são uma forma de demonstrar o valor das universidades para o público, já que é muito difícil pra quem não está dentro da academia entender o valor do que a ela faz. Então essa é uma forma pela qual a USP pode mostrar para a sociedade que vale a pena investir na educação pública. Mas, ainda assim, os rankings não são as melhores formas de avaliação de desempenho de uma universidade. Quais são os principais problemas relativos à forma de avaliação que é feita pelos rankings? Eles são bastante limitados. Em qualquer ranking que é construído é necessário excluir um monte de fatores que fazem parte de um organismo dinâmico como uma universidade. Se você conversar com 15 pessoas sobre o que é uma universidade perfeita você terá 15 respostas diferentes. Ela “deveria diminuir a desigualdade social”, “deveria preparar pessoas pro mercado de trabalho”, “deveria produzir ciência voltada à sociedade”. A universidade não é uma coisa que pode ser reduzida a uma lista de métricas com um número lá no fim que define se ela é boa ou ruim. Os rankings querem reduzir as universidades a uma coisa muito banal, que é uma fábrica de ciência e de excelência, e isso não é o que uma universidade deve ser. A USP tem uma dupla função, de projetar o Brasil no mundo mas também de gerar

conhecimento para fazer do Brasil um país mais desenvolvido. Nem toda universidade tem essa função. As elites americanas, por exemplo, não têm a responsabilidade social que a USP tem. A gente ainda precisa achar o nosso modelo ideal, mas isso não vai ser feito através de um ranking.

CAROLINA TIEMI

BRUNA MARTINS

O que costuma diferenciar os diversos rankings de avaliação existentes hoje? Os que são mais populares, como o QS e o Times Higher, são uma espécie de guias de estudo para alunos prospectivos de graduação e pós. Esses são os menos confiáveis, apesar de populares. Depois, existem os mais objetivos, que são baseados em informações bibliométricas, como o Shanghai. Há também o Webometrics, o Leiden Ranking, mas esses, na verdade, são mais acadêmicos. Além desses, também tem outros que estão se tornando mais populares agora e que são formulados através de benchmarking, ou seja, eles não fornecem um ranking universal, mas te possibilitam definir quais são as métricas de desempenho que prefere aplicar. Por que os mais populares são menos confiáveis? Principalmente porque eles tendem a depender muito de notas dadas por reputação, e isso é uma coisa altamente subjetiva, até mesmo porque a maioria dos acadêmicos não têm extremo conhecimento das universidades ao redor do mundo. Conhece uma, duas ou três no máximo. Sem esse conhecimento íntimo fica bem complicado de se fazer uma avaliação justa. Você acredita que a avaliação que é feita da USP, por esses rankings, reflete a realidade dela? De uma certa forma sim, porque mesmo que haja uma grande variação de posição entre anos e rankings diferentes, há uma visão que é de fato verdade em qualquer métrica: a USP produz muita pesquisa, porém de baixo impacto. Esse fato, se comparado com seus pares internacionais, é o atual maior problema nas universidades brasileiras. É algo que está melhorando aos poucos, mas que não se compara à melhora de universidades chinesas, indianas ou russas, por exemplo, nos últimos anos. E por que isso acontece? É falta de incentivo. As agências federais que temos no Brasil, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), incentivam muito a quantidade de produção e pouquíssimo a qualidade, então isso criou uma cultura de que é mais

premiado publicar 10 artigos razoáveis num ano do que um que seja realmente bom. Penso que a USP tem tudo pra ter sucesso, mas todos os incentivos financeiros estão indo pra direção errada.

“Os rankings querem reduzir as universidades a uma coisa muito banal, que é uma fábrica de ciência e de excelência, e isso não é o que uma universidade deve ser.” — Justin Axel-Berg, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais (IRI)

Quais foram os principais fatores que determinaram a colocação da USP nos rankings de 2016? É muito difícil responder isso porque todos esses rankings não publicam suas métricas, seus dados brutos. É um segredo da empresa. A maioria deles existe para gerar dinheiro a quem os publica, ao invés de ser realmente um instrumento de comparação e aprendizado entre universidades do mundo inteiro. O Shanghai, excepcionalmente, surgiu com este intuito, e por isso ele é muito mais objetivo, muito mais transparente. Mas os mais populares não são assim, buscam por lucro. De qualquer forma, acho que a USP não melhorou o que se esperava. Nada mudou muito em termos de produção, em termos de impacto. No Times Higher deste ano, por exemplo, a USP teve uma queda bem expressiva, principalmente no quesito de reputação, porque houve algumas mudanças na composição do ranking, relativas a um grande aumento de correspondentes da Ásia, região que não possui muitos vínculos com a USP, e uma diminuição de correspondentes da América do Norte, local de estreita relação com a Universidade. Após isso, de repente, todas as instituições asiáticas subiram muito rápido e todo o resto, das outras áreas do mundo, caiu abruptamente.

Mas, além disso, existe também algo que é característico destes rankings que são variações estatisticamente insignificantes mas que se tornam variações de posição enormes. Então é bem possível que alguma pequena variação estatística de repente se transforme em uma mudança de 30 ou 40 posições, por exemplo. Por que a USP ainda se mantém à frente de todas as outras universidades brasileiras, mesmo com sua atual crise? Por seu tamanho, por sua história, a USP é capaz de atrair os melhores talentos. Isso acabou levando a USP a uma certa inércia nos últimos anos, uma acomodação, porque não é necessário, a ela, se esforçar para ser a melhor no seu ambiente. A crise orçamentária da USP talvez irá afetá-la, com relação aos rankings, daqui a dois ou três anos. Por isso a Universidade precisa começar a pensar num uso mais inteligente de recursos. Mas o prejuízo que a USP sofrerá provavelmente não será tão grande quanto aquele que sofrerão as universidades de fora de São Paulo. Outros estados não possuem um sistema rígido como o paulista. As outras instituições dependem muito de investimento federal, através de órgãos como o Capes ou o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que são afetados pela crise econômica do Brasil. Então vemos que essa realidade só vai aumentar ainda mais a desigualdade entre o estado de São Paulo e o resto do país.


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ESPORTES

SEGUNDA QUINZENA | SETEMBRO 2016 JORNAL DO CAMPUS

Futebol inclui pessoas com deficiência Projeto de professores da EEFE-USP ensina esportes para deficientes intelectuais no Cepeusp LUIZA QUEIROZ HELENA MEGA

Um projeto do Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp) tem como objetivo oferecer aulas de futebol para pessoas com deficiência intelectual. O grupo se reúne na Universidade há mais de 15 anos, nos encontros que em alguns momentos chegaram perto de acabar. Em 2011, porém, o professor Luiz Dantas assumiu a coordenação da iniciativa em conjunto com sua orientanda, Érica Joaquim. “O projeto está baseado na ideia de ensinar jogos coletivos como futebol, basquete, vôlei, esse jogos que têm uma estratégia básica que você precisa conhecer para jogar”, explica Dantas. Entretanto, apesar do termo “ensino”, o professor conta que atua mais como um supervisor, pois a iniciativa está baseada na ideia de dar autonomia para que os alunos consigam desenvolver, sozinhos, as jogadas. “Tradicionalmente, quando se ensina esse tipo de atividade para deficientes

intelectuais, às vezes o técnico ou professor fica muito centrado no resultado em si. E quando ele tem essa expectativa, ele acaba assumindo a decisão pelos jogadores”, afirma o professor. Em artigo publicado sobre o projeto na Revista Brasileira de Educação Especial, Dantas e Joaquim descrevem que “o estudo procurou romper com antigos paradigmas adotando o princípio da autonomia, respeitando a idade cronológica dos indivíduos”. Assim, a metodologia de ensino buscou estimular a capacidade individual de tomada de decisões dos jogadores, cujas idades variam entre 28 a 40 anos. O método incluiu a elaboração de um esquema gráfico para auxiliá-los nas diferentes situações do jogo e na classificação de ações em positivas e negativas. As ações positivas são aquelas que contribuem para que o jogo se desenvolvesse melhor (como progredir com a bola, finalizar a jogada, driblar), enquanto as negativas são as que prejudicam o desenvolvimento da partida,

implicando em um jogo de ritmo mais lento (como não realizar o ataque, não finalizar a jogada, ou não fazer marcação). No artigo, os professores concluem que “os jogadores passaram a se comunicar mais de forma gestual e verbal, fato que incidiu positivamente sobre a autonomia desses alunos no contexto do jogo”. Sobre os pontos positivos que o futebol traz para uma pessoa com deficiência intelectual, Dantas afirma que o jogo proporciona os mesmos benefícios que proporcionaria a alguém que não apresenta deficiência. “Ajuda, como uma atividade física ajuda qualquer pessoa. Acho que não tem nada diferente de uma pessoa típica”. Os alunos matriculados são, geralmente, integrantes da comunidade ao redor da USP e alguns são filhos de professores. Mas a dimensão do projeto ainda é pequena: “Um problema que a gente tem é atrair mais pessoas”, diz Dantas. A questão da mobilidade também influencia: o coordenador comenta que

uma das razões para a dificuldade em atrair mais alunos é o fato de que alguns dependem de outra pessoa para levá-los aos jogos. “Não é só eles terem disponibilidade, precisa que mais alguém tenha disponibilidade para trazê-los”, continua. Fábio de Souza Santos começou a frequentar a raia olímpica quando soube pelo rádio que um time de caiaque para pessoas com deficiência intelectual estava sendo montado na Universidade. Depois fez remo e, então, entrou para o time de futebol. Hoje, não está mais matriculado, mas aparece nos treinos para poder manter contato com a turma que o acompanha desde o início. “As pessoas sentem pena e algo até pior: preconceito”, diz o atleta em relação aos olhares que recebe nas ruas. No jogo em si, felizmente, a amizade ganha do preconceito. Enquanto Fábio senta no banco e observa os amigos, Rafael Turra atravessa a quadra com a bola no pé até chegar próximo o suficiente para chutar no gol.

Os gritos da treinadora Laís pedindo para que ele passe a bola são feitos em vão; ele continua até concluir a jogada. Rafael frequenta as aulas junto com o seu irmão, outro Fábio da turma. Os dois Fábios, aliás, são conhecidos de longa data, tendo estudado juntos na escola. Com a camiseta do jogador argentino Messi, Rafael conta que, em casa, assiste a jogos de futebol todos os dias na televisão. No treino, contudo, o jogo só começa após o pega-pega, ou outra atividade de aquecimento. Depois, uma pausa para tomar suco. Eles cansam fácil, mas o entusiasmo que carregam em si não parece ter hora para acabar.

“As pessoas sentem pena a algo até pior: preconceito” — Fábio, ex-atleta do grupo

Copa Cepeusp resiste à verba reduzida Apesar da falta de incentivo, torneio de docentes e funcionários chega à 6ª edição neste ano

A Copa Cepeusp de Docentes e Funcionários chega neste ano à sua sexta edição, porém conta com menos jogadores e menores investimentos. O motivo é a inclusão do pagamento de uma taxa de 50 reais por cada participante no regulamento do campeonato desse ano, já que o orçamento do projeto (e do Cepeusp em geral) vem sendo reduzido. Em 2016, o Centro de Práticas Esportivas recebeu o orçamento básico mais baixo dos últimos 5 anos: o atual é de R$91.380, ou seja, 22.845 reais a menos do que no ano de 2015. Segundo declarações de participantes, porém, a organização do evento manteve a qualidade, mesmo com os cortes orçamentários. José Carlos Astrauskas, coordenador do projeto, explica que nesse ano foi necessário cobrar a taxa individual dos jogadores para bancar despesas do campeonato, como arbitragem (que é terceirizada) e premiação. “O Cepeusp conseguiu ter verba para manter [o campeonato] durante 5 anos, e foi nesse ano que, em virtude da situação em que está o país, nós tivemos que cobrar uma taxa simbólica de 50 reais de cada jogador”. O campeonato de docentes e funcionários da Universidade acontece desde os anos 80, e passou a

ser coordenado pelo Cepeusp em 2010. Antes disso, o evento era organizado pelos próprios funcionários através da Liga Atlética dos Funcionários da USP (LAFUSP). “Eu acho que [o campeonato] ficou muito melhor, mais organizado, e com melhor arbitragem”, declara Márcio Campos, funcionário do Hospital Universitário, que participa há sete anos do evento. O torneio, no entanto, conta com menos jogadores nesse ano. “Na verdade nós estávamos acostumados a disputar com quase 20 times aqui, e hoje nós estamos jogando com 10”, afirma Humberto Bonifácio, da Escola de Enfermagem.“Pelo fato de terem que tirar dinheiro do próprio bolso, muitos deixaram de participar”. Devido ao menor número de participantes esse ano, jogadores de unidades diferentes tiveram de se unir em um mesmo time. Equipes como a do Quadrilátero Branco, por exemplo, contam com funcionários de quatro diferentes unidades (Saúde, Escola de Enfermagem, Medicina e Farmácia) para atingir o número necessário de jogadores. Para Leonardo Gimenez, jogador do time da Química, a Copa Cepeusp oferece uma boa infraestrutura, mas a qualidade do campeonato tem sido afetada nos últimos anos. “A mudança que eu notei é que

as pessoas estão deixando de jogar bola, você vê que tem menos times. E o que eu percebi no Cepeusp foi em relação aos campos, que no passado eram um pouco melhores. Em vias do que a gente já viu, vem piorando, mas nada que impeça”, declara. Os jogos da Copa acontecem aos sábados, das 9h às 13h, e têm como objetivos principais a integração dos funcionários e docentes, além do estímulo da prática esportiva. “A Copa traz a atividade física, a disputa, o entretenimento e a junção de todas as unidades, e também traz mais contatos pessoais e profissionais”, diz Michel Alves da Cruz, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas. No campeonato, os 10 times são divididos igualmente entre duas chaves, dentro da qual competem entre si. A divisão é feita com base nos vencedores dos anos anteriores, para que as chaves fiquem equilibradas. São classificados os quatro melhores times por chave durante a fase classificatória, que posteriormente competirão nas quartas de finais. O último jogo da fase classificatória ocorreu no dia 10 de setembro, com a liderança do time conjunto da EEFE (Escola de Educação Física e Esporte) e do próprio Cepeusp na chave A, e com a liderança do time da reitoria na chave B.

LUIZA QUEIROZ

LUIZA QUEIROZ

“A Copa traz a atividade física, a disputa, o entretenimento e a junção de todas as unidades, e também traz mais contatos pessoais e profissionais” - Michel Alves da Cruz, FCF - USP


JORNAL DO CAMPUS SEGUNDA QUINZENA | SETEMBRO 2016

ESPORTES

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CaipirUSP abre inters do 2º semestre Criado para reunir faculdades do interior, campeonato vencido pela CAASO existe há 10 anos FACEBOOK ATLÉTICA CAASO

HELENA MEGA

Com a participação de oito faculdades dos campi do interior, o CaipirUSP chegou à décima primeira edição em 2016. Sediado na cidade de Brodowski, interior de São Paulo, o inter reuniu em torno de 2000 pessoas no final de semana de 3 e 4 de setembro. Campeã pela oitava vez, a Atlética CAASO, da USP São Carlos, competiu ao lado das atléticas da EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades), EEL (Escola de Engenharia de Lorena), Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, de Piracicaba), FZEA (Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, de Pirassununga), FEA-RP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto), e dos cursos de Direito e Fisioterapia, também vindos de Ribeirão Preto. Principal rival do CAASO, a EEL ficou em segundo lugar. As chuvas não permitiram que a final do tênis de campo acontecesse no dia marcado, então as demais classificações ainda estavam pendentes até o fechamento desta edição. O terceiro lugar deve ficar com a EACH ou com FEA-RP. “O resultado geral não foi o que esperávamos, temos total capacidade para continuarmos sendo campeões gerais”, diz a presidente da atlética de Lorena, Ayla Dominato, escola que conquistou o tricampeonato no CaipirUSP de 2015. “Tivemos modalidades que se mantiveram campeãs, foram alguns deslizes que fizeram a diferença na pontuação geral”, Origem Localizada em Pirassununga, a FZEA só fazia competições internas até que o

CaipirUSP foi criado em 2006. “Ficávamos bastante chateados por não poder participar do InterUSP, então começamos a pensar em um torneio com as faculdades vizinhas”, explica Gisele Lemos, que fazia parte da atlética na época e participou da criação do inter. Também formada pela FZEA, Tais Katu Bertini compareceu ao primeiro CaipirUSP junto com a amiga Gisele. “Foi como uma retaliação aos jogos que só o campus da capital participava, a exemplo do Engenharíadas”, reforça Tais. No abadá confeccionado pela atlética, lia-se “zootecnia de alimentos”, uma brincadeira com os dois únicos cursos que existiam no campus. A primeira edição foi articulada entre os campi da USP de Pirassununga, Ribeirão Preto, Piracicaba e São Carlos, cidade que sediou os jogos do I CaipirUSP. Da FZEA saiu o maior número de participantes, recorde que se repetiu no ano seguinte. Hoje, da capital, há apenas a EACH, convidada em 2008 para integrar o inter. A presença da EACH no XI CaipirUSP, no entanto, foi complicada devido a problemas financeiros graves que surgiam no ano anterior, explica o presidente da Atlética, Yuri Bodenmüller. Por esta falta de verba, inclusive, a USP Leste deixou de ir ao Integramix, outro campeonato do qual costuma participar. A Esalq, por sua vez, é a única das faculdades do CaipirUSP que, atualmente, também compete no InterUSP. “A CO do InterUSP tem compromissos na escolha das praças esportivas com algumas pré-definições que o CaipirUSP não tem, o que acaba elevando o nível da competição”,

explica a estudante Laila Fett, da AAALQ, atlética de Píracicaba. E se por um lado o ano de 2016 trouxe a presença inédita da Fisioterapia no CaipirUSP, por outro, não contou com a participação da Farmácia. Segundo a Gestão Inova da Atlética, altas taxas de inscrição e baixa adesão entre os estudantes do curso levaram a última a não se engajar no inter deste ano. Além disso, a Farmácia alega que o repasse referente à venda de pacotes de balada do CaipirUSP 2015 teria acontecido com atraso. Segundo Pedro Elias, representante da EEL na Comissão Organizadora de 2016, o erro já teria sido resolvido. O repasse é feito pela CO após o fim do campeonato, quando as pendências financeiras são resolvidas. A desistência, contudo, permitiu que a Fisioterapia entrasse no inter. Incidentes Mesmo com história recente, alguns incidentes marcam o passado do CaipirUSP. Na edição de 2009, em Franca, o então estudante de agronomia da Esalq Thiago Teruo Kuratani, a caminho de um ginásio esportivo, atropelou seis pessoas, causando quatro mortes. Thiago teria cochilado ao volante e admitiu ter ingerido bebidas alcoólicas antes, naquele dia. Ele foi condenado em 2012 a três anos de prestação de serviços comunitários e a pagar indenizações às famílias das vítimas. Já em 2014, a atleta da EACH Bruna Santana participava da disputa pelas quartas de final do handebol feminino contra o time do CAASO, quando ouviu a palavra “macaca” sendo dirigida a ela. Exaltada com o xingamento racista, ela agrediu o estudan-

te do CAASO, responsável pela ofensa, com um soco. Logo, foi contida pelos seguranças e, na confusão, o homem sumiu do local. A atleta foi expulsa do jogo e, no dia seguinte, impedida de disputar a prova de atletismo, esporte do qual também iria participar. “Resumindo: eu fui punida pela comissão organizadora do inter e não pude competir. E os caras? Nada”, relata a aluna da EACH. Na época, em nota de esclarecimento, a atlética do CAASO lamentou o ocorrido. No inter, há dois representantes por jogo para anotar qualquer tipo de problemas que venham a ocorrer na partida. “Se eles são capacitados para isso? Varia com perfil de cada curso e com a história de cada atlética”, aponta o presidente da atlética da EACH. Para Bruna, o caso de 2014 mostra uma total despreparação para lidar com incidentes deste tipo.

Outros inters movimentam o interior Durante a semana da pátria, outras faculdades da USP entraram em quadra. Entre os dias 3 e 7 de setembro aconteceu a 31ª edição do Interodonto. O evento agrega as três faculdades de Odontologia da Universidade — de São Paulo, Ribeirão Preto e Bauru —, além de outras instituições. A representante uspiana da capital ficou em primeiro lugar pela 24ª vez. Os cursos do campus Butantã e de Ribeirão levaram o dobro de participantes da excursão de 90 pessoas que saiu de Bauru, no entanto, isso não impediu que a faculdade bauruense tenha ficado na terceira colocação, seguida por Ribeirão, em quarto. Já o Interfau, que agrupa cursos de arquitetura e urbanismo de diversas faculdades, se estendeu por dez dias da semana e trouxe a Mackenzie como campeã, principal adversária da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP). Também tradicional, o Intracampus começou no dia 12 de setembro. A competição, criada em 1974, reúne oito cursos de Ribeirão e inclui a participação de professores e funcionários. Uma novidade será a participação da Laurp (Liga das Atléticas da USP Ribeirão Preto) no Tusca (Taça Universitária de São Carlos) 2016.


14 CULTURA

SEGUNDA QUINZENA | SETEMBRO 2016 JORNAL DO CAMPUS

Fazer artístico é fomentado pelo Nascente Programa chega à sua 24ª edição, com mais de 600 obras inscritas e 12 artistas premiados FLÁVIO ISMERIM

Apresentações A semana que antecedeu a festa de premiação foi marcada por exposições das obras finalistas com entrada gratuita. A primeira categoria a expor foi Artes Cênicas, que levou ao TUSP público suficiente para esgotar os ingressos nas sessões das peças “(.dentro)”, “Voar - um musiclown” e “Aos que vieram antes de nós”, do dia 09. O Centro Universitário Maria Antônia, no dia 12, foi palco para o vernissage da Visualidade Nascente 2016 e reuniu os finalistas de Audiovisual, Design e Artes Visuais. Com direito a bons quitutes, o público que prestigiou o evento ainda pôde ter contato com exemplos da produção artística dos alunos da USP. As obras expostas mostram a qualidade desse trabalho. As premiadas das Artes Visuais, “Janela” (Alan Oju, ECA) e “Desenho - Vazão - Mostruário São Paulo” (Renato Pera, ECA), atraíram olhares dos que prestigiaram o vernissage e propuseram debates importantes dentro daquilo que se propunham. As finalistas de Design surpreendem pela diversidade, passeiam por terrenos mais lúdicos, como os jogos infantis, e chegam até a propôr novas soluções para estruturas mais rígidas, como a identidade visual da própria Universidade. Os vencedores foram os projetos “Entre Ruas” (Agnes Arakaki Svilenov, Kaori Ankaru e Nadia Naomi Sato; FAU) e “Elorgân” (Erika Tracy Huang, Marcus Vinicius Morgado, Michelle Nakazato Mikaro e Rafael Jun Abe; FAU). Foram estes

Noite de Premiação A Festa aconteceu no CDI e contou com as apresentações das categorias de Música Erudita e Música Popular. Também no CDI, mas no dia anterior, as 33 obras de Texto selecionadas (que abrangem contos, crônicas, poesias, biografias e reportagens) foram expostas em forma de Sarau. Impressionando pelo alto grau técnico e pela diversidade de influências, as apresentações de Música Erudita foram desde o Tango até a musicalização dos espectros luminosos. A definição dos vencedores dessa categoria causou impasse nos integrantes da comissão julgadora, tamanho o equilíbrio, uma vez que a escolha foi feita durante a divulgação dos premiados das outras categorias. Podendo premiar somente duas obras, Carmen Aranha, João Luiz Musa e Vitor Mizael se viram divididos entre três belas performances e optaram por premiar as interpretações instrumentais de Carlos Vogt, no piano, e da cubana Patricia Pérez Brito, no clarinete. A categoria de Música Popular envolveu o público e mostrou belos arranjos, que impressionaram também os julgadores. A obra vencedora da categoria, “A Alma Feminina em Chico Buarque” (Vinicius Faina Alves e Camila Mendes Montefusco, ECA), um estudo da presença da mulher na música de Chico, fez com que a plateia cantasse junto. No discurso de agradecimento, Camila citou a conexão da plateia como fator preponderante para sua performance. “Há uma predominância de alunos de unidades afins, mas não é regra geral. Este ano tivemos grandes destaques vindo da engenharia e da matemática, por exemplo. Inclusive um dos finalistas de música que se apresentou na festa de premiação é aluno do IME. Além disso há inscritos de unidades de Humanas, mas não dos cursos ligados às áreas, como História e Pedagogia”, declarou o Pró-Reitor quando perguntado sobre a prevalência de inscritos vindos de faculdades ligadas às categorias do Programa. Comissão Julgadora Em contraste com o declarado por Romero, todos os vencedores do prêmio estavam inseridos no

eixo ECA-FAU-FFLCH, de onde vêm os professores que julgam as sete categorias do Programa. Segundo ele, as comissões julgadoras são montadas pelos diretores de órgãos artístico-culturais da PRCEU (Tusp, Osusp, CoralUSP, CPC, CEUMA e Cinusp) que formam a comissão acadêmica do Nascente e são compostas por três integrantes: dois professores da USP e um especialista externo convidado. Isso pode colocar os alunos de cursos diretamente relacionados ao tema à frente dos outros por já conhecerem o perfil dos professores que integram a comissão julgadora e o que eles esperam encontrar nas obras inscritas. “Sabendo que os próprios juízes fazem parte desse eixo e têm alunos que se inscrevem no programa, naturalmente os finalistas serão aqueles que possuem um contato mais direto com as preferências estéticas dos julgadores. Por exemplo, um dos jurados é professor no Centro de Artes Plásticas. Admiro muito seu trabalho e minha experiência em fotografia foi majoritariamente guiada por ele”, aponta Luiza Beraldo, aluna da ECA e finalista em Artes Visuais com uma peça fotográfica.

A mostra da Visualidade Nascente 2016, que reúne os finalistas de Audiovisual, Design e Artes Visuais, vai até o dia 17 de outubro e é gratuita. Centro Universitário Maria Antonia Rua Maria Antonia, 258 e 294 Vila Buarque - São Paulo - SP (11) 3123 5200

CAROLINA INGIZZA

Na noite do 15 de setembro, no Centro de Difusão Internacional (CDI), foram conhecidos os vencedores de mais uma edição do Nascente, iniciativa da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão que busca revelar novos talentos e incentivar o fazer artístico na Universidade. O Programa Nascente, que recebeu mais de 600 inscrições, premiou 12 vencedores e concedeu 41 menções honrosas a alunos graduandos e pós-graduandos da Universidade. “Esperamos continuar conseguindo esse aumento nas próximas edições, para que o engajamento dos alunos seja ainda mais amplo e, para isso, seguiremos investindo em estratégias de comunicação que tornem o programa mais conhecido, como fizemos este ano”, declarou Marcelo de Andrade Romero, Pró-Reitor de Cultura e Extensão da USP.

que mais se preocuparam com a apresentação de um produto completo e entregaram um ciclo autossuficiente de produtos orgânicos e um projeto editorial de uma revista sobre esportes urbanos.

Som e luz dialogaram na composição de música “Lux Spectrum”

Orquestra da USP se Performances acontecem no Auditório CAROLINA INGIZZA

A Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo (OSUSP) faz uma série de apresentações importantes durante o mês de setembro. Com convidados renomados como Fábio Zanon, Jesus Medina e Miguel Ángel Villanueva, a orquestra se apresenta gratuitamente no Centro de Difusão Internacional (CDI) da USP e também na Sala São Paulo, com ingressos de vinte a setenta reais.

“O programa estimula que os alunos desenvolvam produções artísticas de forma mais ampla e aberta” — Marcelo de Andrade Romero, Pró-Reitor de Cultura e Extensão

Apresentações No dia 2 de setembro, no CDI, a OSUSP fez um ensaio aberto com o brasileiro Fábio Zanon, que se apresentou como regente e violonista. Antes de cada peça executada, o músico falava um pouco sobre a sinfonia, o que ajudou na compreensão para o público não-especializado. O concerto teve obras como o Concerto nº4, “À Brasileira” de Radamés Gnattali. Com um público diverso - composto por crianças, idosos, alunos e funcionários - a apresentação faz parte de um projeto recente da OSUSP para tentar engajar mais a comunidade uspiana. Os horários de apresentação (sexta-feira às 12h30) foram estabelecidos com base em uma pesquisa feita pelo campus, como informou a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU). Comunidade externa Eduardo Monteiro, pianista e diretor da OSUSP, afirma que ampliar o público para fora da USP e divulgar ao máximo a música sinfônica e de câmara


CULTURA

JORNAL DO CAMPUS SEGUNDA QUINZENA | SETEMBRO 2016

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MAE e Sesc mostram o Brasil Indígena CAROLINA INGIZZA

Arte contemporânea e artefatos indígenas compõem a exposição que segue aberta até janeiro

CAROLINA INGIZZA

Em parceria com o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, o Sesc Pinheiros realiza a mostra “Adornos do Brasil Indígena: resistências contemporâneas”. Composta por peças do acervo do museu e por obras de arte contemporânea selecionadas sob a curadoria de Moacir dos Anjos, a exposição é gratuita e fica no segundo andar do Sesc até o dia 8 de Janeiro. Desde a fachada da unidade, feita pelo artista Nunca, até o espaço expositivo, a mostra

se estende por aproximadamente 700 metros quadrados. O enfoque sobre o adorno na cultura indígena possibilitou a seleção de 201 itens do acervo do MAE. Dentre eles, artefatos de diferentes etnias e arquivos multimídia, que foram pensados para ocupar as paredes cinzas da exposição. Já as paredes brancas, por sua vez, foram preenchidas com obras de arte contemporânea de onze artistas diferentes. Séries feitas por grandes nomes que pensam a questão indígena brasileira, como a fotojornalista Claudia

apresenta no campus do CDI com convidados renomados

Andujar e a artista plástica Lygia Pape, foram articuladas ao redor das peças do MAE. Temática Como o Sesc Pinheiros e a USP são próximos, ambos entenderam que somente trazer as peças do MAE não seria interessante. Suellen Barbosa, responsável pela programação de artes visuais do Sesc, explica que por isso foi proposta “a curadoria conjunta para formular uma articulação do acervo do MAE com obras de arte contemporânea, com Moacir dos Anjos como responsável por fazer essa seleção.”

O recorte para adornos indígenas foi feito de modo que os aspectos da resistência sociocultural dos povos pudesse ser explicitado e problematizado através das peças. “O que nos impulsionou para a escolha do adorno como eixo central deste projeto expositivo foi a perspectiva de que é um elemento cultural que pode permitir as interlocuções e as pontes entre as sociedades indígenas e as não indígenas”, conta Cristina Bruno, diretora do MAE na USP. Destrinchando ainda mais a temática, a exposição se subdivide em três enfoques sobre resistência: os testemunhos da própria resistência, o corpo como suporte e as celebrações indígenas. Nos artefatos indígenas, esses enfoques estão presentes tanto nas várias sociedades do passado quanto nas atuais. Já entre as obras de arte contemporânea, foram selecionadas aquelas que expressam a preocupação dos artistas com as pautas e questões indígenas. Toda a narrativa da mostra pertence aos curadores, mas o Sesc aproveita a temática para dar visibilidade a um tema que eles consideram importante. “A gente espera que essa exposição se desdobre em várias atividades paralelas aqui na unidade, tra-

Ensaio aberto no Auditório do CDI - dia 30 de setembro, às 12h30, com a participação do Maestro mexicano Jesús Medina e de seu compatriota, o grande flautista Miguel Ángel Villanueva. Concerto na Sala São Paulo com Jesus Medina e Miguel Ángel Villanueva - dia 01 de outubro, 21h

A OSUSP é um dos órgãos que compõem a PRCEU, o que faz da Pró-Reitoria a responsável pela administração, pelas diretrizes de atuação e pelas atividades de apoio administrativo dentro da Orquestra. No entanto, o órgão ainda mantém certa liberdade, por possuir uma estrutura de funcionamento com diretoria e conselho deliberativo. “A OSUSP recebe todo o apoio PRCEU e tem total autonomia para realizar suas atividades e projetos, tal como definidos em sua missão”, diz Monteiro. E para ser capaz de organizar e definir seus projetos, a Orquestra programa sua temporada com um ano de antecedência. O diretor da entidade explica que isso é necessário pois cada apresentação requer regentes e solistas convidados, que são indispensáveis para os concertos. Ele também comenta as parcerias antigas que a OSUSP firmou, como a da Fundação OSESP, que permite uma série anual de concertos na Sala São Paulo e no Festival de Campos do Jordão. “No ano que vem, por exemplo, realizaremos uma série com música de câmara no SESC Santo André.”

Concerto no campus Pirassununga - dia 14 de outubro

Parceria A exposição é o primeiro fruto de uma parceria selada entre a USP e o Sesc. Com a duração de um ano, ela tem como objetivo principal a realização de exposições. “A parceria é voltada para a divulgação dos acervos da USP, que são riquíssimos. Ela foi pensada de maneira ao Sesc dar visibilidade a essas obras, mas buscando construir algo novo, como é o caso dessa mostra”, aponta Suellen. Para os museus da USP, a colaboração pode ser muito benéfica para expandir o público de seu acervo e aumentar o número de itens expostos. “Lamentavelmente e apesar de todos nossos esforços, o MAE ainda não conta com um espaço museológico adequado e compatível para a importância do acervo que está sob sua responsabilidade e, por isso, em nossos planejamentos, priorizamos as experiências externas”, explica Cristina. A diretora acredita que a união com o Sesc seja significativa para a USP e para o MAE, por “agregar valor no que tange ao compartilhamento sobre a necessidade de valorizarmos a resistência no Brasil Indígena.”

“O conhecimento, a apreciação e a análise sobre as variáveis culturais do Brasil Indígena exigem, de imediato, a consideração sobre a importância da resistência das sociedades indígenas na contemporaneidade.” — Cristina Bruno, Diretora do MAE CAROLINA TIEMI

são objetivos da Orquestra. Por isso, eles desenvolvem um projeto de formação de novos públicos através de concertos didáticos realizados na Sala São Paulo e voltados para crianças de escolas municipais e estaduais. “Pretendemos levar também, ainda esse ano, esse mesmo espetáculo para o Circo Escola da Comunidade São Remo”.

zendo, por exemplo, brincadeiras guaranis para a praça”, complementa Suellen.

A regência de Fábio Zanon na apresentação da Osusp no prédio do Centro de Difusão Internacional


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OPINIÃO

SEGUNDA QUINZENA | SETEMBRO 2016 JORNAL DO CAMPUS

NATALIE MAJOLO

Até pouco tempo, reinava Cunha no Congresso. Base forte, homem influente. Quem tem medo do lobo mau? Imagino, hoje, todos aqueles ex-irmãos perguntando diante de seu antigo rei. Antes, muitos de lá eram unha e carne; agora, só restam para ele os 450 tiros políticos. Digo que mereciam todos aqueles 10 closes errados. Mas você já pensou o quanto isso reflete o nosso dia a dia? Não apenas no campo da política gourmet, mas da política da rua, aquela que nós vivemos. Quantas amizades e amores você já “perdeu” pois não vinham mais a calhar? Se distanciou pois a pessoa não acrescentava mais nada? Nestes tempos nebulosos, temos cultivado relações que são convenientes. Não que façamos isso por mal. Mas é que tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Às vezes, precisamos escolher entre um rolê e outro. Entre almoçar com a família ou ir no churras com os amigos. Entre terminar um relacionamento ou tentar mais uma vez. Entre cassar (e ficar bem na fita) ou honrar o antigo compromisso com o aliado derrotado. Nossas relações são políticas, e pequenas escolhas impactam diretamente o modo como vivemos. Talvez não sejam apenas os tempos nebulosos: nós estamos nebulosos. “Não dá pra confiar em mais ninguém”, gritaria o tio no almoço de domingo. Me pergunto o quanto ele confia nas pessoas. O quanto confiam nele. Quão considerada é a palavra dele. Quão honrados são os compromissos dele. Assim como aquele outro rolê que você disse que iria, mas não foi. Como a Marta que fez propaganda pró

Haddad, e agora concorre com ele à prefeitura de São Paulo. Como a Dilma disse que não iria vender o pré-sal, mas vendeu. Como aquele nude que você espalhou por aí, mas que prometeu guardar. Tentativa falha de demonstrar ao mundo que está tudo bem, que “sou uma pessoa legal”, que fala “me chama, que eu vou” ou “confia na mãe” – mas cujo caráter real não é aquele demonstrado. Pelo menos, não aquele como o do Facebook. No Instagram, somos todos felizes. No Twitter, todos contra a corrupção. Somos hipócritas, essa é a verdade. É aquele chokito que você roubou, mas que condenou o adolescente por roubar seu celular. É discursar contra o crime das pedaladas, mas ser réu por improbidade administrativa ao não cumprimento do piso. Talvez sejamos apenas autosabotadores de nós mesmos como o clássico “faça o que eu digo, não o que eu faço”. A grama do vizinho, assim, sempre será mais verde. Fingimos o tempo inteiro e não conseguimos sair da mesmice. A inércia do discurso inflama, enquanto a ação fica inerte. Ativistas de sofá. É difícil sair da zona de conforto. É difícil nos dedicarmos a algo. É difícil. Os likes são contados, e os egos, inflados. É muito mais fácil o plano imaterial da internet do que o real das nossas vidas. Lembre-se: nunca leia os comentários. O extremismo visto nas redes se perpetua do âmbito da vida pessoal para a vida coletiva.

Nestes tempos incertos, impor as próprias concepções é mais fácil do que tentar compreender as dos outros – os “outros”, tão diferentes do “eu”. A vida pessoal é inseparável da vida política e coletiva. Teoricamente, deveríamos saber separar melhor. Deveríamos saber nos colocar mais no lugar dos outros. Primeiro dia de aula, Empatia I: escutando o outro. De “Escola sem partido” para “Escola com ouvido”. Se informar, para, então, entender. Não é proibindo o posicionamento político que se resolve problemas e divergências políticas (tão naturais à democracia): a falta de diálogo apenas distancia o eu do outro. Distanciamento não apenas político, mas afetivo. Tenho achado muito engraçado (ou trágico?) como nossas relações amorosas se desenvolvem na internet - e como tem se modificado a partir do uso dela. “Miga, ele visualizou e não me respondeu”; “Se eu mandar mensagem agora, ela vai achar que tô afim demais”. Talvez ele não podia responder na hora, e esqueceu. Talvez ela não ia achar nada, e tudo bem, também. As pessoas estão com medo de se entregar, de mostrar quem elas realmente são. Do plano amoroso para o mundo. Não demonstramos quem somos, não conseguimos confiar nos outros pois não sabemos quem eles são. Estamos com dificuldade para manter relações duradouras, daquelas face a face. Das relações que mantemos, o fazemos enquanto é conve-

niente. Vide Dilma, vide Cunha. Uma, injustiçada; outro, justiçado. E ambos traídos por seus aliados. Para além de Brasília: quando os gênios não baterem mais, block and delete – e espero que nunca tenhamos tecnologia suficiente para bloquear pessoas ao estilo da série Black Mirror. Bloqueamos, então, pois não nos sobra paciência… e nos falta tempo. Afinal, tem muita coisa acontecendo. E precisamos ser mais. Muito mais, sempre. Veja só as revistas. Grandes histórias de sucesso, de vidas ideais. Dinheiro, fama, tranquilidade. É difícil entender que essa não é a vida real. Vida real, que é dura, e machuca. Queremos ser como os outros, e então nos enchemos de coisas – das quais não temos sequer tempo para nos aprofundarmos. Afinal, quando é que aos 23 anos não estamos milionários? É, não estamos. E tá tudo bem, a vida é muito mais do que dinheiro ou fama. É felicidade, é amor, é confiança. Precisamos nos entregar, e viver intensamente o momento. Cultivar relações, convidar para um café, e aprender que amizade é muito mais do que um like da pessoa. Para tudo isso, é necessário tempo. Tempo para conversar, para se encontrar. Tempo, inclusive, para não fazer nada. Olhar para o teto, para o céu. Refletir sobre a vida, sobre nossas ações. Olhar no olho, e não apenas no celular. Olhar até onde chegamos, e ter pelo menos duas certezas: a primeira, é que o Temer tem que cair; a segunda, é o quanto ainda podemos fazer para sermos felizes. Previsão do tempo: os dias melhores que virão começam agora mesmo.


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