Jornal do Campus - Edição 432 (out/2014)

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Jornal do Campus Segunda quinzena | outubro 2014

www.jornaldocampus.usp.br

nº 432

ano 32

FEA extingue mesa de doces A decisão foi tomada pelo Conselho Técnico Administrativo (CTA) no dia 1º de outubro e revoltou alunos. Ela se deu após questionamentos da Vigilância Sanitária da Prefeitura do Campus. p. 10

Nova caso de violência sexual contra estudante

OTÁVIO NADALETO

Mesmo tendo autonomia administrativa e financeira, a USP é uma instituição vinculada ao Estado e submetida a essa lei. Entretanto, solicitações para o acesso a diversos dados da Universidade não vêm obtendo resposta por parte da Reitoria. p. 2 e 3

THAÍS MATOS

USP descumpre Lei de Acesso à Informação

p. 7

Mapa de ocorrências: colabore com o JC p. 6 Virada Científica estimula pessoas a conhecer institutos p. 14 O Jornal do Campus apoia a campanha Outubro Rosa pela conscientização e prevenção do Câncer de Mama

Volta da USP tem recorde de inscritos 51ª edição do evento ocorreu no domingo (12) e tinha como objetivo estimular a prática de esportes. Todos os participantes receberam medalhas pela participação. p. 16


OPINIÃO

Lei assegura, mas USP não abre contas Transparência de dados da Universidade é determinação legal, mas pedidos de acesso a informações ficam sem resposta LAI e solicitações Os debates que surgiram, tanto na imprensa quanto dentro da própria Universidade, trouxeram um elemento até então esquecido, a Lei de Acesso à Informação (n° 12.527, de novembro de 2011). Em vigor há três anos, a LAI assegura o direito fundamental de acesso a tais conteúdos em entidades controladas de maneira direta ou indireta pelo Estado. A USP se manifesta como autarquia de regime especial, ou seja, instituição vinculada ao Estado de São Paulo, porém com autonomia administrativa e financeira. Mesmo com essa especificidade, essa categoria se enquadra aos órgãos submetidos à lei, portanto, qualquer cidadão pode conferir documentos com dados sobre a Universidade. A prática, entretanto, mostra-se diferente da legislação. Samuel Godoy, mestrando em Ciência Política na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e co-criador do blog Crise na USP (http://crisenausp.wordpress.com), junto com outros três estudantes da pós-graduação, solicitou em setembro deste ano dados de pagamentos de salários, porém ainda não obteve resposta. “De acordo com a LAI, a instituição tem o prazo de 20 dias para responder à

Expediente – Jornal do Campus Nº 432

JÚLIA PELLIZON

Em seu artigo para o jornal “Folha de S. Paulo” (publicado em 26 de maio deste ano), o atual reitor da Universidade de São Paulo (USP), Marco Antônio Zago, tenta esclarecer a sua postura em prol da transparência burocrático-financeira e do diálogo envolvendo a comunidade uspiana, ambos elementos relevantes defendidos por sua gestão. Coincidência ou não, um dia após a divulgação do texto, iniciou-se a greve nas universidades estaduais, frente à inexistência de reajuste salarial aos funcionários para o ano de 2014. Com mais de 100 dias de paralisação, essa greve foi a maior da história da Universidade e apenas reflete um dos sintomas da crise financeira que adoece a instituição. O reitor Zago afirma, também no artigo, como a gestão anterior de João Grandino Rodas limitava o acesso a questões financeiras a apenas alguns membros da Reitoria. Se esse cenário não pôde ser conferido pelos próprios dirigentes da USP, ainda que existam correntes ideológicas que menosprezam essa versão do reitor, torna-se evidente a falta de clareza na divulgação dos documentos relativos ao funcionamento interno do sistema uspiano.

Conforme determinação da LAI, Universidade deveria manter transparência solicitação, apresentando meios de acesso aos dados solicitados ou justificando a impossibilidade de fornecimento dos mesmos”, conta o estudante. O mesmo aconteceu com o professor-

Tiragem: 10.000 exemplares

Universidade de São Paulo – Reitor: Marco Antonio Zago. Vice-Reitor: Vahan Agopyan. Escola de Comunicações e Artes – Diretora: Margarida Maria Krohling Kunsch. Vice-Diretor: Eduardo Monteiro. Departamento de Jornalismo e Editoração – Chefe: Mayra Rodrigues Gomes. Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho. Responsável: Daniela Osvald Ramos. Redação - Diretor de Redação: Otávio Nadaleto Diretor de Arte: Thiago Quadros. Editor de Imagem: Arthur Aleixo Editor Online: Dimitrius Pulvirenti. Opinião - Editora: Ana Luisa Abdalla. Repórteres: Júlia Pellizon e Rafael Bahia. Entrevista - Editora: Ana Helena Rodrigues. Repórter: Victoria Salemi. Universidade - Editores: Anaís Motta, Maria Beatriz Melero e Thiago Neves. Repórteres: Carolina Shimoda, Pedro Passos, João Paulo Freire, Gabriel Lellis, Thaís Matos, Dimitrius Pulvirenti. Em Pauta - Editora: Ana Carolina Leonardi. Repórteres: Ana Carla Bermúdez e Maria Alice Gregory. Cultura - Editora: Bruna Larotonda. Repórter: Sara Baptista. Esporte - Editora: Bruna Larotonda. Repórter: Breno França. Ciência - Editora: Fabíola Costa. Repórteres: Gabriela Romão e Thaís Freitas. Endereço: Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, bloco A, sala 19, Cidade Universitária, São Paulo, SP, CEP 05508-900. Telefone: (11) 3091-4211. Fax: (11) 3814-1324. Impressão: Gráfica Atlântica. O Jornal do Campus é produzido pelos alunos do 4° semestre do curso de Jornalismo Matutino, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso II.

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-doutor do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP, Jorge Machado: “Em quatro casos, foi necessário acionar à Corregedoria-Geral da Administração do Estado”. Machado ainda aguarda parecer de três pedidos de informações, os quais, em suma, requisitam detalhes sobre o orçamento da instituição, remuneração de docentes e funcionários, patrimônio imobiliário e renda de aluguel de imóveis. Disponibilidade de informação Buscar arquivos e documentos de instituições presentes no cotidiano da população, até agora, é um hábito que não faz parte do comportamento natural do brasileiro. Por isso, explica-se facilmente a dúvida de qual conteúdo integra o interesse das pessoas e, como consequência, onde se encontra o limite que di-


Por que isso acontece? Se a Lei de Acesso à Informação está em vigor desde 2011, o porquê de ainda faltar transparência de dados dentro da USP é questionado. A proposição do atual reitor para uma ampla abertura de dados à comunidade uspiana e à população paulista não se concretiza. Para os criadores do Crise na USP, a falta de cumprimento da LAI se relaciona

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vide relevância pública, invasão e quebra de sigilo. A LAI comunica, de maneira clara, que sob duas instâncias é possível manter a discrição do conteúdo. A primeira, quando a informação é de cunho pessoal do servidor, por exemplo, o endereço residencial; já a outra exceção se emprega em casos de informações que possam causar danos ou oferecer risco à segurança do Estado. Subentende-se, então, que os documentos ligados às finanças e à gerência da Universidade devem ser disponibilizadas por ela. Inclusive, a lei garante que o acesso independe de solicitações, e sim deveriam ser divulgadas pelo órgão. Atualmente existe o Portal da Transparência do Estado de São Paulo, o qual contém uma documentação restrita das instituições vinculadas ao governo estadual. Godoy também já usou desse recurso, porém não obteve sucesso com as informações procuradas: “As únicas fontes acessíveis de dados – no sentido de facilidade determinada pela LAI – são a página de anuários estatísticos, e em menor grau o Portal da Transparência”. Informações básicas, como dados específicos de cada unidade mantida pela USP, também são difíceis de encontrar e, para os membros do Crise na USP, dificultam a reflexão e análise do estado da universidade. Aliás, a falta dessa transparência de dados, de certa forma, estimula a situação corrente: “Há muitos fatores para que a crise da USP tenha chegado ao estado atual [...] a falta de informações e de diálogo com a comunidade uspiana e o baixo nível de acesso à informação estão entre os principais”, descreve o mestrando.

OPINIÃO

A crise atual trouxe a necessidade de aumentar o debate sobre a universidade, mas o espaço ainda é muito restrito e desigual. [...] Os relatórios orçamentários dos últimos anos indicam que a situação financeira estava ficando insustentável e isso não foi apresentado à comunidade ou à sociedade como um todo.

- Samuel Godoy, mestrando em Ciência Política pela FFLCH e co-criador do blog Crise na USP

Se à informação não cabe nenhuma hipótese de sigilo nos termos da LAI, essa informação deve ser pública.

- Jorge Machado docente de Gestão de Políticas Públicas da USP

diretamente com a cultura de transparência das instituições, aspecto que Machado endossa: “a USP não se adequou à LAI pois é necessário criar um setor que acolha e direcione os pedidos, há que capacitar pessoal e, principalmente, há que vencer a cultura do sigilo”. Do ponto de vista do professor, a ausência de clareza de dados ainda é presente na

Universidade, mas poderia ser resolvida, pois “A lei é clara, a USP pode até facilitar disponibilizando de forma pró-ativa essa informação em sua página web. Seria mais fácil fazer isso, do que ficar respondendo a muitos pedidos à mesma informação”. Qualquer cidadão pode solicitar informações de interesse público, em um processo simples que já funciona com outras

instituições, como documentos da Prefeitura da capital paulista, como descreve Godoy: “Os sites do governo federal e da Prefeitura de São Paulo, por exemplo, são bastante completos e possuem ferramentas muito fáceis de consulta e abertura de pedidos de informação”. Se a USP se empenhará para a publicação espontânea desse conteúdo ainda não sabemos, porém existe uma lei que legitima as solicitações de documentos. Inclusive, nesta edição do Jornal do Campus, uma das matérias é sobre o processo movido pela “Folha de S. Paulo” para a divulgação de salários e extras pagos a funcionários e professores da instituição, conquistada judicialmente pela solicitação não atendida do jornal. Por aí, não se pode compreender que a Universidade se abrirá apenas por meio da boa vontade dos seus dirigentes. Buscar e exigir a informação é compromisso tanto da comunidade uspiana quanto da sociedade paulista. Afinal, até o papel que imprime este texto sai do seu bolso.

por Júlia Pellizon

OMBUDSMAN

Jornal vivo Parabéns, galera. Esta quinzena, senti o JC respirar. A edição está mais instigada, chamando o leitor para dentro, com uma boa diversidade de temas e demonstrações de que vocês trabalharam. A capa é forte (apesar do domínio praticamente total de temas internos da universidade). A opinião sobre proibição de festas não foi fundo na discussão de um dos papeis centrais de uma universidade, que é promover encontros, mas informou bem. A entrevista com o Torturra é relevante, apesar de eu achar que havia frases mais poderosas para destacar no título. A matéria sobre segurança

na raia contextualiza melhor do que qualquer coisa que saiu por aí – senti falta só de contar um pouco melhor quais as hipóteses para cada crime. A de racismo no Each é incisiva e bem apurada, embora eu preferisse uma clareza maior a separar fato de versão. Enfim, muita coisa boa. E, como veem, muito espaço para melhorar: sempre há. Mas há também puxões de orelha. Como que não procuramos a Tenatech? Precisávamos ao menos do “não” deles. A matéria do lixo no Crusp atribui à reportagem uma denúncia de outra pessoa – não é “identificamos”, é “um morador afirma ter identificado”. E a ma-

téria sobre eleição não deu o resultado da sondagem e usou como fonte única, sem avisar, uma pessoa que todos sabem ser ligada a um dos partidos políticos. E, minha gente, chega de PUSP-C, SAS, P1, P2, CUASO, CO,IPTV, NAP-FAEPAH e essa siglaiada toda, às vezes nos títulos! Denis Russo Burgierman escreveu para o Jornal do Campus em 1993, como aluno. Hoje é diretor de redação da Superinteressante. denis.burgierman@abril.com.br

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CULTURA Divulgação precária e crise afetam museus da USP Entre as 17 instituições pertencentes à Universidade de São Paulo, nove delas encontram-se fechadas para reformas

SARA BAPTISTA

não está oficialmente fechado, mas devido à ausência de vigia - e à falta de verba para a contratação de um novo - só recebe visitas agendadas. De acordo com a especialista em museologia pelo MAE, Marjorie Medeiros, não há um regulamento que condicione o funcionamento dos museus à presença de um segurança, mas a instituição faz essa escolha quando o acervo tem valor significativo. Situado no Instituto Oceanográfico, o museu exibe a exposição Future Ocean até dia 18 Na lista de museus da USP também consta a serva-os, comunica-os e expõe-nos de Anatomia Veterinária, conta que Casa de Dona Yayá (que fica fora para estudo, educação e prazer”. costumavam ser realizadas iniciatido campus, na rua Major Diogo), vas como palestras e um museu itium prédio histórico onde funExtensão nerante. “Era para tirar essa ideia de ciona um Centro de Preservação Os museus se enquadram no que o museu era só aberto para escoCultural, mas que, de acordo conceito de Extensão, ou seja, las”, diz. Tais atividades de Cultura e com os funcionários, não é con- são uma forma de retribuir para Extensão continuaram mesmo após siderado um museu. De acordo a sociedade o que ela investe na o fechamento do Museu, mas foram com o Conselho Internacional USP, através do pagamento do encerradas em 2010. dos Museus (ICOM, na sigla em ICMS, e fazer com que ela tenha No MAE, o espaço expositivo inglês), “o museu é uma instituição acesso ao conhecimento aqui está fechado desde 2010 e com permanente, sem fins lucrativos, ao produzido. No entanto, nem to- a inauguração prevista para deserviço da sociedade e do seu desen- dos são gratuitos e atualmente zembro deste ano, mas são realivolvimento, aberta ao público e que apenas 6 funcionam aos finais de zados empréstimos de peças para promove pesquisas relativas aos semana. A presença de monitores exposições externas. Além disso, testemunhos materiais do homem capacitados para prover explica- semanalmente são oferecidas atie do seu ambiente, adquire-os, con- ções também não é unânime e, vidades educativas abertas ao púna maior parte dos blico, que em 2013 atraíram cerca casos, ela se restringe de 80.000 participantes. às visitas agendadas O Parque dos Museus, que pelas escolas. abrigaria o Museu de Arqueologia De acordo com e Etnologia e o de Zoologia, é uma a Pró-Reitora de construção que foi planejada para Cultura e Extensão, facilitar o acesso e a visibilidade Maria Arminda do de tais instituições. Contudo, a Nascimento Arruda, “a obra vem sendo idealizada desde USP tem um patrimô- os anos 1990 e até hoje a construnio museológico ines- ção não foi concluída. timável, praticamente Frente a inúmeras dificuldanenhuma universidade des de acesso e de divulgação, do mundo tem igual”. os museus da USP acabam recePorém, o que vemos bendo quase que somente visitas hoje é um aproveita- de escolas. A falta deste canal de mento muito peque- comunicação com a comunidano desse patrimônio de contribui para que o conhecipor parte da socieda- mento permaneça restrito. de. Nilson Sousa, exO Museu de Anatomia Veterinária possui amplo acervo, mas pouca visitação -funcionário do Museu por Sara Baptista

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SARA BAPTISTA

A Universidade de São Paulo possui no total 17 museus, seis deles localizados dentro da Cidade Universitária, segundo o site oficial da USP. Porém, nem todos são conhecidos, especialmente pela comunidade uspiana: enquanto o Museu de Arte Contemporânea (MAC) recebeu cerca de 227.000 visitantes só até agosto deste ano, o Museu de Anatomia Veterinária foi visitado por apenas 7.000 pessoas no ano de 2013 inteiro. Além da pouca divulgação da maioria dos museus, a sinalização dentro da Cidade Universitária também é muito aquém do ideal, sendo difícil encontrar um museu mesmo depois de localizar o Instituto que o abriga. É o caso do Museu da Educação e do Brinquedo, do Museu de Anatomia Veterinária, do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) e do Museu de Geociências, por exemplo. Entre as 17 instituições listadas pela USP, nove estão fechadas devido a reformas, incluindo o Museu Paulista - vulgarmente conhecido como Museu do Ipiranga - o mais tradicional da Universidade. O Museu de Anatomia Humana não está aberto ao público há mais de quatro anos e, devido à crise orçamentária, não tem previsão de abertura ou sequer de início da reforma. Já o Museu de Geociências


UNIVERSIDADE

Grafite é coberto para divulgação de show Arte custou R$50 mil reais à prefeitura e deu lugar à promoção do “Show Medicina”; diretoria do evento já se desculpou Na madrugada de 29 de setembro, um painel de grafite no túnel José Roberto Melhem, que liga a Avenida Paulista, a Avenida Rebouças e a Avenida Dr. Arnaldo, foi apagado para dar lugar à divulgação do “Show Medicina”. O evento, que acontece há mais de 70 anos, cobriu o grafite que havia sido contratado pela prefeitura de São Paulo e estava previsto para ficar exposto por um ano. Em nota divulgada na última quarta-feira (8), a diretoria do evento se retratou pelo acontecido. “Lamentamos profundamente o ocorrido e gostaríamos de nos desculpar junto aos artistas envolvidos, à Coordenadoria da Juventude, à toda Faculdade de Medicina [da USP] e à sociedade paulistana como um todo”. Além disso, admitiram a gravidade da atitute, dizendo sentir muito por sua repercussão, que ocasionou grande exposição da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Diante disso, a diretoria do evento se propôs a arcar com

uma nova intervenção artística no túnel, cujo grafite apagado havia custado R$50 mil à prefeitura. “Oferecemos nossos esforços para que se organize um evento de recuperação do painel, custeado por nossa instituição, reunindo os artistas lesados e os participantes do Show Medicina”. O Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (CAOC) e a Associação Atlética Oswaldo Cruz (AAOC), ambos da FMUSP, não têm ligação com a realização do evento. Violência Além da polêmica que envolveu a discussão sobre a arbitrariedade da divulgação, outros pontos em relação ao teor do evento têm sido levantados. Apesar de ter sido criado como uma forma de irreverência, que conta com a participação de alunos do 1º ao 6º ano de medicina fazendo apresentações humorísticas e de sátiras a docentes da universidade, atitudes tomadas na suposta hierarquia que existe entre

Sacos de lixo no Crusp HELENA RODRIGUES

Desde a última edição do Jornal do Campus, a área do Crusp que estava sendo utilizada para descarte de lixo clandestino tem sido revitalizada. Os resíduos foram

retirados, o local isolado e a terra preparada para a plantação de grama. Só falta a grama! por Helena Rodrigues

veteranos e calouros mostrariam eventuais excessos e opressões. Luís Fernando Tófoli, ex-aluno da FMUSP, é atualmente médico e professor de Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e escreveu à CartaCapital sobre o caráter opressivo que o “Show Medicina” carregava quando ele era aluno da faculdade. Segundo ele, por volta de 1993, “os veteranos recebiam os calouros de sexo masculino (...) para uma sessão de trote pesado”. Além disso, os calouros eram forçados a situações embaraçosas que garantiam o entretenimento dos veteranos na plateia. Na época, o centro acadêmico da faculdade denunciou os “espetáculos” e o show perdeu acesso ao teatro onde normalmente acontecia, medida desfeita anos depois. Outro ponto questiona a ausência de mulheres no evento, justificada por uma suposta tradição da festa. No início, as poucas mulheres presentes no curso de medicina se dedicavam a custo-

mizar o figurino que os homens usariam em suas apresentações. Com o tempo, essa foi se tornando sua função fixa e elas eram impedidas de participar dos ensaios ou das apresentações. A diretoria do show, quando procurada, apenas respondeu à redação com a mesma nota que divulgou à imprensa. Participantes do evento não quiseram se pronunciar sobre o teor opressivo da festa, mas a Associação dos Antigos Alunos da FMUSP reafirmou que é “um show humorístico, que aborda situações típicas dos alunos, da Faculdade e do Hospital. Fazem brincadeiras com os próprios alunos (não trote) e com alguns professores”. A diretoria da FMUSP disse, ainda, que tem se empenhado em aprimorar seus mecanismos de prevenção de todo e qualquer tipo de casos de intolerância e violência na faculdade. por Pedro Passos e Carolina Shimoda

Situação é corrigida no Instituto Butantan Conforme noticiado pela edição 431 do Jornal do Campus, a Fundação Butantan foi notificada pelo Ministério do Trabalho e Emprego por irregularidades trabalhistas em obras nos imóveis do núcleo habitacional dos funcionários da instituição. A construtora Tenatech, contratada pelo Instituto Butantan, já corrigiu a situação dos 24 trabalhadores que estavam sem carteira assinada e com salários atrasados. Segundo determina a legislação brasileira, todos os empregados receberam os direitos trabalhistas, como o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), a multa de 40% sobre o FGTS, o aviso prévio indenizado e férias e 13º salário equivalentes ao período trabalhado.

Tentamos contato com o instituto para saber sobre a situação das obras, mas não obtivemos nenhuma resposta. Falta de licitação Não há, no Diário Oficial da União, registro de contratos firmados entre Fundação ou Instituto Butantan com a Tenatech. Contudo, em fevereiro de 2013, foram considerados irregulares a dispensa de licitação e o contrato celebrado pela Fundação Butantan com a empresa Shott Brasil Ltda., no valor de R$2.300.345,70, para aquisição de material de laboratório. Na ocasião, o relator votou por aplicação de multa ao responsável pela Fundação. por Helena Rodrigues

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UNIVERSIDADE

Crimes aumentam; Guarda apreende USP busca soluções suspeitos de furtos “Chegou um primeiro falando ‘senta, senta, perderam, é assalto!’. A gente sentou, tinham dois armados, os dois maiores. Durou uns cinco minutos”, contou Natália Passos, estudante da Fofito (departamento de fonoaudiologia, fisioterapia e terapia ocupacional), sobre o assalto sofrido no dia 2, na quadra do Hospital Universitário (HU), levando celulares e roupas. “Ele falou: ‘eu quero o celular, só o celular, senão vou te dar um soco na cara’”, relatou Nathalye Kolvef, estudante de Letras, assaltada na Praça do Relógio, às 7h, no dia 9. “Há um aumento que vem se mantendo desde 2010, quando começamos a fazer uma análise comparativa, e que vem acompanhando, infelizmente, o aumento dos roubos nas metrópoles brasileiras”, explicou a professora Ana Lúcia Pastore, superintendente de segurança da Universidade, sobre a escalada de relatos sobre crimes no campus. Até setembro, foram 93 ocorrências, comparadas às 72 de 2013, um aumento de 29,2%. Desafios Por dia, circulam aproximadamente 100 mil pessoas e 90 mil veículos pelo campus do Butantã. “A segurança tem que ser pensada tanto em termos de uma cidade, num sentido mais amplo, quanto

de uma cidade universitária”, afirmou a superintendente, que assumiu a posição em maio desse ano e agora começa a colocar em prática alguns de seus planos. A Superintendência de Segurança está criando um site para a Guarda Universitária, fará cursos de qualificação para os guardas no final do ano, revisará o monitoramento eletrônico no campus e, em outubro, anunciará seminários mensais, abertos ao público. O principal problema depende da anuência da reitoria: a contratação de novos guardas universitários, congeladas no início do ano. “Acho que vai ser inevitável apresentarmos um relatório à reitoria no final do ano em que a necessidade de um novo concurso seja apontada”, indicou Ana Lúcia. O último concurso para a Guarda Universitária ocorreu em 2009. Desde então, aposentadorias, problemas de saúde e o envelhecimento da guarda prejudicaram o serviço. Hoje, a média de idade dos agentes é de 45 anos. Um guarda universitário que não quis se identificar confirmou a situação. “Tem dias que fica sobrecarregado devido ao efetivo, que não é o ideal, mas dentro do que temos, estamos fazendo o nosso melhor”, disse. por Dimitrius Pulvirenti

A Guarda Universitária apreendeu, ontem (14), na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), três suspeitos de furtos em unidades da USP, como a própria FAU, a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), o Instituto de Matemática e Estatística (IME), e a Biblioteca Brasiliana. Imagens de câmeras de vídeos da FEA e do ICB foram coletadas pela Guarda e divulgadas na noite de segunda-feira para as unidades. Às 13h30, receberam um chamado de funcionários da FAU e constataram serem os suspeitos das imagens. Josué Correia, chefe operacional da Guarda Universitária, apontou o trabalho conjunto com a comunidade para o êxito da operação. “Quando chegamos, os alunos avisaram que eram os mesmos da foto que receberam. O sucesso exigiu a participação da comunidade e da Polícia Militar”, afirmou. Ele e a equipe de agentes responsável pela segurança preventiva no campus que participou do trabalho ressaltaram a importância do envolvimento com funcionários e estudantes. “Esse é o caminho da segurança na USP, um trabalho com envolvimento da comunidade”, disse.

Trabalho conjunto O objetivo é combinar a qualificação dos guardas universitários, responsáveis pelas áreas comuns do campus, com vigias e vigilantes que deem conta dos bolsões de estacionamento e das unidades. “O importante é que a guarda seja aquela que está preparada para, quando for necessário, pedir o suporte da polícia”, afirmou. Apesar do convênio assinado em 2011, a Polícia Militar tem uma atuação física limitada dentro do campus: uma base comunitária móvel durante o dia e dois policiais que realizam rondas e, quando necessário, prestam apoio à Guarda. “O que aconteceu foi a pior faceta do convênio que foi a repressora, das blitzes, das abordagens até indevidas ou pelo menos desnecessárias. Mas, isso, de fato, se diluiu por completo”, afirmou Ana Lúcia. Nenhuma das duas vítimas se sente segura no campus. “Não vim andando, pedi carona pro meu namorado, porque não consegui dormir à noite”, disse Nathaly Kolvef. Para Natália Passos, a sensação de insegurança torna a USP foco de novos crimes: “Enquanto a gente se sente inseguro, eles sabem que a gente não está seguro”. por Dimitrius Pulvirenti

INFOGRÁFICO: ARTHUR ALEIXO

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UNIVERSIDADE

Estudante sofre tentativa de estupro na FAU Após bilhetes anônimos com ameaças à sua integridade física, aluna foi abordada no estacionamento da FAU por agressor Uma aluna da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) foi vítima de tentativa de estupro dentro da Cidade Universitária e tornou o caso público com um relato postado nas redes sociais no dia 1ºde outubro. O atentado aconteceu no dia 11 de agosto em frente ao prédio da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo). A vítima não reconheceu o agressor e, por isso, ninguém foi preso. A estudante, que preferiu manter sua identidade em sigilo, conta que bilhetes com elogios eram deixados dentro de sua mochila no intervalo das aulas desde março deste ano. “Eram elogios e declarações de uma admiração bizarra e constrangedora”. Depois de ter decidido andar sempre com a mochila durante os intervalos, ela avisou seus amigos mais próximos sobre o que estava acontecendo, também para que eles pudessem encontrar algum suspeito e oferecer proteção à amiga. Mas os bilhetes não pararam, e se estenderam a um amigo da estudante, que recebeu um recado que dizia “é melhor se afastar dela”. Sem a alternativa da mochila, o agressor passou a deixar os bilhetes no para-brisa do carro da aluna, que começou a estacionar em lugares diferentes, mas sem sucesso. Ela continuava a receber as ameaças “você ainda vai ser minha”, “não pense que te esqueci”. Sobre o bilhete deixado com o amigo da aluna, o agressor a comunicou sobre a ação: “ele já foi avisado”. A estudante decidiu, então, fazer um Boletim de Ocorrência (BO), que para ela, foi apenas um “recurso burocrático”, pois não havia nenhum suspeito. A professora da disciplina durante a qual os recados eram deixados foi avisada e recebeu a notícia com preocupação. Foi proposta a ideia de os representantes dos docentes passassem nas salas para comunicar os alunos de que o departamento do curso em que a aluna estuda já estava ciente do caso. No entanto, na mesma semana, professores e funcionários da Faculdade entraram na greve mais

longa da história da USP, que só seria finalizada em setembro. O combinado de passar nas salas para alertar os alunos, e, talvez, inclusive o agressor, não aconteceu até hoje. A greve, o atentado A greve manteve a aluna distante da FFLCH, até o dia 11 de agosto, quando o atentado aconteceu. Ela havia combinado com dois amigos de se encontrar na USP para acertar detalhes de um trabalho que deveria ser entregue logo em seguida do fim da greve. A aluna chegou um pouco antes do combinado e foi até a FAU para comprar um caderno. Ela desceu do carro, mas lembrou que havia esquecido o celular e precisou voltar. Foi exatamente no momento em que abriu a porta do seu veículo para procurar o celular que foi abordada pelo agressor. “Veio pelas minhas costas me segurando pelo pescoço e forçando a entrada no carro. Sem que me deixasse ver seu rosto, porque me segurava com força e violência pela nuca, falou meu nome e em seguida ‘eu te avisei’, repetidamente. Ele me imobilizou e se deitou em cima de mim. Quando tentou abrir minha calça, consegui acionar a buzina do carro com meu joelho, alta e continuamente”. Assustado, o agressor bateu o rosto da aluna contra a porta do passageiro e fugiu do local. Mobilizada pela dor, ela não conseguiu se virar para identificar o rosto do homem. Um novo BO foi feito eum exame de corpo de delito. Medo e desconfiança Desde a retomada, com o fim da greve, a aluna vive em pânico: “convivo diariamente com o medo e a desconfiança de qualquer olhar mais demorado. Não ando mais sozinha. Não fico mais em paz, em qualquer lugar da universidade, não me concentro, mal consigo assistir às aulas com o mínimo de atenção”, ela relata. No relato publicado nas redes sociais, ela afirma que, apesar de estar profundamente constrangida, tem o objetivo de “prezar mi-

BOLETIM DE OCORRÊNCIA Secretaria de Estado de Segurança Pública Polícia Civil do Estado de São Paulo 14ª D.P. - Pinheiros Comparece a vítima nesta Unidade Policial noticiando que é estudante da Universidade de São Paulo, [censurado] e desde o mês de Março vem recebendo bilhetes de pessoas desconhecidas, de teor de sedução, acreditando a vítima que o autor dos bilhetes possa ser um colega de curso. Informa que na hora e local já descrito, no estacionamento da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP/SP, assim que embarcava em seu veículo, foi abordada por um desconhecido que embarcou pela porta do motorista e imobilizou a vítima, tentando desabotoar sua calça, até que a vítima conseguiu acionar a buzina do carro algumas vezes e o indivíduo evadiu-se, tendo a vítima sofrido lesões no rosto. Destaca que durante o período em que recebeu os bilhetes, seu amigo [censurado] também recebeu um bilhete que foi deixado em sua mochila, com a escrita “É melhor você se afastar dela”. Vítima informa que não consegue descrever fisicamente o indivíduo, sabendo apenas que trata-se de um indivíduo de cor branca. Requisitado IML. Nada mais.

nimamente pela minha segurança, chamar a atenção para um problema sério dentro de nossa sociedade e atentar para o fato de que a USP é cenário de diversos casos de abusos, assédios e estupros, e os episódios são abafados ou ignorados”. Em entrevista ao Jornal do Campus, a estudante relatou que recebeu da polícia a sugestão para fazer algum tipo de emboscada com a ajuda de seus amigos para atrair a atenção do agressor, prendê-lo em flagrante. A sugestão foi imediatamente recusada. Ela ainda revelou que, ao procurar os órgãos responsáveis pela segurança no campus para recuperar imagens de monitoramento que poderiam ajudar nas investigações, foi informada de que nenhuma câmera funciona há um ano. Questionada sobre o caso, a assessoria da imprensa da USP

THIAGO QUADROS

afirmou que “algumas câmeras estão em funcionamento no local indicado pela estudante. Está adiantado o projeto de instalação do sistema de monitoramento eletrônico das áreas comuns (avenidas, bolsões de estacionamento, pontos de ônibus e acessos) do campus”. Por falta de provas, os BO’s feitos foram arquivados. Na opinião da vítima, as condições da segurança na USP são também um pretexto para a terceirização da Guarda Universitária e uma justificativa para a entrada da Polícia Militar no campus. A estudante afirmou que agora trabalha na publicação de uma carta-repúdio com a ajuda de outras mulheres vítimas de violência no campus. O texto deve ficar pronto nas próximas semanas. por João Paulo Freire

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UNIVERSIDADE

Repasse para universidades cairá em 2015 USP, Unesp e Unicamp devem receber R$ 200 mil a menos da verba proveniente do ICMS no ano que vem O repasse anual do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) às universidades estaduais paulistas será 2,5% menor em 2015 em comparação com as previsões para 2014, levando em conta a correção da inflação. A previsão é que USP, Unesp e Unicamp deixem de receber R$ 200 milhões e arrecadem, no total, R$ 9,1 bilhões do Estado no próximo ano. A previsão das fontes da receita também é de queda: de R$ 10,64 bilhões em 2014 para R$ 10,5 bilhões em 2015, como revelou “O Estado de S. Paulo”. O Orçamento Anual foi mandada à Assembleia Legislativa de São Paulo pelo governador Geraldo Alckmin e deve ser votada até 31 de dezembro. Pedido de revisão Uma revisão do repasse do ICMS foi pedida por reitores das universidades ao governador no início do mês passado. A proposta é que as unidades passem a receber 9,90% do Imposto, e não 9,57%, como é feito hoje. A decisão foi tomada em reunião do Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas), depois da queda da arrecadação do Imposto devido ao enfraquecimento da atividade econômica no Estado. Pelo modelo praticado atualmente, o repasse é feito da seguinte maneira: 5,03% para a USP, 2,34% para a Unesp e 2,20% para a Unicamp. A universidade que mais depende do repasse estadual é a Unesp, cuja arrecadação do ICMS rende 89,8% de sua receita. USP e Unicamp arrecadam, respectivamente, 76,2% e 80,5% de seus recursos com o Imposto. Também são fontes de renda outros repasses do governo e parcerias com empresas, ainda que em quantidade drasticamente menor. A Secretaria da Fazenda do Estado prevê arrecadar R$ 92 bihões com o ICMS em todo o ano. R$ 60 bilhões foram arrecadados até junho deste ano,

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dos quais R$4,04 bilhões foram repassados às universidades estaduais. No período, só a USP recebeu R$ 2,12 bilhões, segundo dados fornecidos pela Secretaria. As universidades começaram a receber um repasse definido do ICMS no final da década de 80, com a conquista da autonomia universitária, segundo a qual os conselhos universitários definem suas próprias políticas de gestão financeira . Em entrevista ao Jornal do Campus, César Minto, diretor da Adusp (Associaçao dos Docentes da USP) e um dos coordenadores do Fórum das Seis (organização que reúne docentes e funcionários da USP, Unesp e Unicamp), afirmou que “as três universidades estão vivendo com os 9,57% do ICMS desde 1995. Desde essa data houve uma grande expansão das três universidades, sem recursos adicionais e perenes”. Outras Medidas Para tentar equilibrar as contas, a USP decidiu, no último dia 2, adotar o teto salarial para a remuneração de funcionários e docentes. De acordo com a lei, nenhum servidor público deve ter rendimentos maiores do que o governador do Estado, que hoje ganha R$20.662. A decisão já afeta os salários de setembro. Pela decisão, valores que ultrapassem o teto não serão pagos. A opção de adotar o teto salarial causava polêmicas desde que o TCE (Tribunal de Contas do Estado) identificou, em março deste ano, que funcionários ganham acima dos vencimentos do governador. Foi quando as receitas dos anos de 2008 e 2011 da universidade foram contestadas pelo Tribunal. Os salários de professores e funcionários não eram publicados até então. Porém, após ação movida pelo jornal “Folha de S. Paulo”, a Justiça determinou, no mês passado, a publicação dos vencimentos. No entanto, os dados ainda não foram disponibilizados.

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Uma outra alternativa adotada foi o Plano de Demissão Voluntária (PDV). A USP pretende demitir 2.800 funcionários com mais de 20 anos de carreira e que tenham entre 55 e 67 anos a partir de janeiro do ano que vem. Será oferecido um abono por ano trabalhado, desde que o total não que não ultrapasse R$ 400 mil. As três universidades estão com as receitas quase que integralmente comprometidas

apenas com folha de pagamento. A USP destina 104,22% do orçamento com salários de docentes e funcionários, enquanto a Unicamp e Unesp investem, respectivamente, 96,52% e 94,47% . Uma greve de mais de cem dias foi deflagrada nas universidades depois de os reitores decidirem congelar salários. por João Paulo Freire

COMO É FEITO

O REPASSE DO ICMS? Atualmente, cada Universidade recebe uma fração do valor arrecadado pelo ICMS. USP - 5,03% Unesp - 2,34% Unicamp - 2,2%

Fonte da receita total das Universidades O repasse do ICMS não é a única fonte de receita das instituições. No entanto, é a maior em todas elas.

ICMS Outras fontes

92 bi é o valor que o governo do Estado prevê arrecadar através do ICMS esse ano

76,2%

89,8%

USP

Unesp Unicamp

80,5%

60 bi 2,1 bi é o valor arrecadado até julho deste ano

foi o valor repassado para a USP no mesmo período


UNIVERSIDADE

Justiça obriga reitoria a divulgar salários USP não conseguiu vetar ação movida pelo jornal Folha de S. Paulo que pedia apresentação de dados aos professores No último dia 30 de setembro, a USP perdeu a segunda instância da ação movida pelo jornal Folha de S. Paulo, que pede a divulgação nominal de salários e extras pagos a funcionários e professores da Universidade. O processo foi iniciado em março de 2013, após o jornal ter tentado obter os dados salariais, por meio da Lei de Acesso à Informação. Com a recusa da administração universitária, a Folha resolveu levar o caso para tramitar na justiça, tendo ganho a primeira instância no mês de setembro do ano passado. A lei de acesso à informação entrou em vigor no dia 18 de novembro de 2011, sancionada pela presidenta Dilma. De acordo com Vitor Blotta, doutor em direito pelo Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da USP, “AAimportância dessa lei é a efetivação do direito de acesso à informação da sociedade auxi-

liando no dever de publicidade do atos do Estado”, Ele explicou que “esse direito e seu dever correspondente estão previstos no art. 37 da Constituição Federal de 88, mas antes da lei, não havia regras mais específicas sobre como essa publicidade deveria ser feita”. Para o desembargador Magalhães Coelho, que tomou a decisão contrária à USP, é necessário que se publique nominalmente todos os vencimentos somados a pensões, gratificações e auxilios. Ele também repudiou o que chamou de “mecanismos da burocracia estatal para burlar vergonhosamente a transparência que se exige de órgãos públicos”. Por se tratar de uma lei federal, a USP pode ainda recorrer em última instância ao STJ, ou, caso tenha sido levantada a questão da constitucionalidade da divulgação, a USP tambem poderá recorrer ao STF. De acordo com Blotta, “as alegações mais prováveis para

a defesa são de que a obrigação de divulgação dos salários e dos nomes feriria a privacidade dos indivíduos, não a intimidade, como diz a Folha”, ele completa. “A privacidade envolve o nome, imagem, honra, dignidade pessoal, enquanto que a intimidade são as relações e bens mais íntimos”. Salários acima do teto A Folha de S. Paulo também já havia publicado que, em 2011, o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo rejeitou as a declaração de gastos da USP, pois 167 docentes ganhavam mais que R$18.725, salário do governador e teto do funcionalismo público no Estado de São Paulo. Entre os nomes na lista estão o último reitor, João Grandino Rodas, e o atual, Marco Antonio Zago. De acordo com a assessoria da reitoria, a Emenda Constitucional que estabeleceu o limite do funcionalismo público, criada em dezembro de 2003, teria deixado

dúvidas no âmbito das três universidades estaduais paulistas. “Em novembro de 2010, um acórdão do Supremo Tribunal Federal estabeleceu a forma adequada de cálculo dos vencimentos”, disse a assessoria. “A partir de 2012, a metodologia de cálculo separa gratificação, adicionais de tempo de serviço e outras verbas pessoais incorporadas aos vencimentos dos servidores antes de 2003, pois se tratam de direitos adquiridos antes da mudança constitucional”. Mesmo com a justificativa da administração, entidades estudantis e orgãos externos à USP têm levantado, nos últimos anos questionamentos quanto à legalidade de manter os valores pagos a esses 167 docentes. Para Vitor Blotta, a disputa é complexa, pois apesar de haver o direito constitucional à irredutibilidade de salários, poderia se alegar que a regra do teto foi descumprida. por Pedro Passos

USP estuda vender imóveis subutilizados Reoasse de terrenos adquiridos pela gestão do ex-reitor Rodas podem diminuir metade do déficit mensal da universidade GABRIEL LELLIS

Logo após o fim da greve, buscando uma solução para sanar o déficit mensal de R$90 milhões de reais e colocar a universidade em uma melhor situação financeira, o reitor Marco Antônio Zago divulgou um plano para vender imóveis pertencentes à USP que se encontram fora dos terrenos do Campus. Dentre eles, há um polêmico terreno de 2,4 mil metros quadrados na rua da Consolação, adquiridos pelo ex-reitor João Grandino Rodas para abrigar algumas instâncias administrativas. Na data da compra, a justificativa por parte da reitoria foi a saturação do espaço no campus. Historicamente, a reitoria tem problemas com paralisação dos seus trabalhos em razão de manifestações estudantis e trabalhistas dentro do campus.

Em 3 anos nada foi construído. Isso coincidentemente se alinha com as intenções do ex-reitor em transferir a administração para áreas externas. A previsão é a de arrecadar cerca de R$50 milhões com a venda

de um terreno de 2.500 m² na Rua da Consolação, de um espaço de 2.800 m² no Centro empresarial paulista e, possivelmente, do 17º andar do edifício Louis Pasteur. A aquisição de todos, em 2011, custou cerca de R$35,4 milhões. Segundo o professor Adalberto Américo Fischmann, presidente da Comissão de Orçamento e Patrimônio (COP), o dinheiro dos imóveis, caso a venda realmente ocorra, será injetado nas reservas da USP: “hoje o problema da universidade não é com dívidas propriamente ditas, e sim com um gasto de reservas essenciais que, no atual nível de consumo, não irão durar até 2016”. Ainda segundo o professor, manter esses imóveis sob o controle da USP é irresponsável: “com o ICMS cada vez menor, e com o aumento dos gastos, é

extremamente necessário fazer essa economia. Além disso, a meu ver, não são imóveis que tenham muita relevância para a comunidade universitária”. Para Gabriela Ferro, representante discente no CO, a compra desses imóveis faz parte de um processo de sucateamento das estruturas da USP: “essas compras foram acobertadas por um sistema de tomada de decisões que legitima a falta de transparência e permite que a compra de prédios seja mais interessante para a reitoria do que o investimento em setores completamente precarizados da USP. Não está certo gastar centenas de milhões de reais com o que não é necessário, enquanto tem curso, como a Letras, em que faltam professores”. por Gabriel Lellis

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UNIVERSIDADE

Diretoria da FEA põe fim à “mesa de doces” Apropriação privada do espaço público é o principal motivo alegado; para estudantes, medida só visa “limpar” unidade

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THAÍS MATOS

Quem passar pelo corredor “F” no FEA-1, prédio principal da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, vai estranhar o local: está vazio. A tradicional mesa de doces e salgados feana foi removida pela diretoria da unidade, representada por Adalberto Fischmann, nesta segunda-feira (13). A decisão foi tomada durante uma reunião do Conselho Técnico Administrativo (CTA), realizada no dia primeiro de outubro, após um questionamento feito pela vigilância sanitária da Prefeitura do Campus USP da Capital. Somadas aos pontos levantados pela vigilância, a diretoria elencou outras questões e formulou uma lista para justificar a extinção da mesinha, como é chamada. Segundo ela, o comércio em espaço público somente é permitido mediante licitação e a mesa ocupa, sem autorização prévia, espaço destinado à circulação de pessoas. Além disso, a presença da bancada causa sujeira indevida e os alimentos de fabricação caseira ou artesanal são comercializados sem identificação apropriada, data de produção e data de validade, inviabilizando o monitoramento da produção e da qualidade dos produtos. De acordo com Rodrigo Toneto, diretor de graduação e representante da congregação do CAVC (Centro Acadêmico Visconde de Cairu), além dos motivos listados acima, a diretoria considera que a mesinha seja mal vista pelos visitantes externos à faculdade e, por isso, prejudicial à imagem da FEA. “Então, de maneira pouco democrática, foi votado o fim da mesinha, sendo o voto da representação discente o único contrário a essa medida”, argumenta o feano. Para contornar os problemas levantados pelo CTA, o CAVC entrou em contato com o responsável pela vigilância sanitária e enumerou uma série de medidas para implementar as mudanças requeridas pela entidade. Entre elas, estão a regulamentação do

comércio, cadastro dos usuários, garantia de limpeza e salubridade dos alimentos vendidos por meio da contratação de um serviço de limpeza duas vezes por semana, identificação de prazos de validade e ingredientes e, finalmente, a responsabilização do centro acadêmico pela organização e manutenção da mesinha. Público x privado Apesar da tentativa dos alunos de reverter a situação de higiene, existe ainda um fato intransponível: o uso privado de um espaço público. Para a direção da unidade, o comércio proporciona o beneficiamento, aos vendedores, de um espaço de ocupação gratuita sem que haja nenhuma contrapartida ou licitação. Os alunos propuseram a concessão de uso do espaço para comercialização ao centro acadêmico e os vendedores concordaram em repassar parte do valor arrecadado (cerca de R$ 500,00 mensais) para o Amefea, uma associação que oferece bolsas a estudantes sem condições financeiras. Essa foi a maneira encontrada pelo CAVC para contornar o que a diretoria classificou como “lucros exorbitantes” que alguns alunos poderiam receber. “Não existe lucro exorbitante, porque os preços são bem abaixo do mercado, e às vezes dá até prejuízo. Mas é uma alternativa interessante”, explica Toneto. Vendedores Victor Pelizaro estuda administração e é um dos vendedores da mesa de doces. Segundo ele, ela garante a continuidade da graduação para os alunos que comercializam seus produtos. Ademais, o modo como ela é constituída é um dos principais atrativos, uma vez que os vendedores deixam seus produtos nas mesas, ao lado de cofres, e não existe fiscalização. “É importante lembrar que, em uma faculdade de negócios, a mesinha era um espaço onde os alunos poderiam aplicar diversos conceitos aprendidos

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“Mesinha de doces” oferecia variedade de lanches rápidos a preços atraentes durante as aulas e representava um incentivo ao empreendedorismo”, destaca Pelizaro. Essa proibição acontece num momento delicado para as manifestações estudantis dentro do campus. Recentemente, em setembro, a reitoria proibiu as festas na dependência da universidade, que são a maior fonte de renda das entidades. Para o feano, “aceitar a retirada da mesinha é submeter o movimento estudantil aos interesses e à burocracia das instituições que enxergam o bem-estar de suas faculdades sem sequer considerar a opinião dos estudantes”. Pressa Segundo Toneto, o atual diretor da FEA tem histórico de dialogar e negociar com os alunos,

mas dessa vez não foi assim. Por 6 votos a 1, o conselho determinou fim da mesinha, quando na pauta constava somente o debate das questões sanitárias. Para o CAVC, a pressa se deve realização de um evento internacional no dia 25. “A diretoria acha que a mesa poderia manchar a imagem da faculdade nesse evento”, acredita Toneto. A direção se mostrou proposta a voltar a debater o assunto em nova reunião e os alunos decidiram por criar um abaixo-assinado contra a decisão da diretoria para levá-lo nesse próximo encontro. Apoiados pelo CAVC, eles também têm preparado assembleias e tentado organizar uma mesa colaborativa como protesto à deliberação. por Thaís Matos


EM PAUTA

Urna eletrônica é vulnerável a fraudes A automatização das eleições trouxe ares de confiabilidade ao processo, mas a segurança do sistema não é garantida

Sistema inseguro Um estudo feito em 2012 por um grupo de pesquisadores da Universidade de Brasília aponta o sistema atual de votação como falho e incapaz de garantir a segurança ao eleitor. Os resultados revelam ainda o potencial de violação da contagem dos votos. Segundo o relatório, em teoria, os votos deveriam ser arma-

zenados na urna eletrônica e misturados aleatoriamente por um software programado para seguir um determinado algoritmo, assegurando o sigilo de voto de cada eleitor. No entanto, durante um experimento, os pesquisadores conseguiram colocar em ordem os 950 registros usados no teste, apenas reordenando os votos com base nos horários em que cada eleitor realizou seu voto. Uma vez que os resultados foram apresentados à área de tecnologia da informação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o órgão deveria se comprometer a corrigir as falhas a tempo para as eleições seguintes, o que não

MARIA ALICE GREGORY

Em tempos de eleição, não se poupam esforços para expressar opiniões quando o assunto é o futuro do país. Ainda assim, em meio ao clima de “festa da democracia”, que leva tantos a acreditarem que têm um papel crucial nas decisões políticas do país, o questionamento do próprio processo eleitoral e suas falhas acabam passando quase despercebidas pela população. Só no primeiro turno das eleições de 2014, um grande número de eleitores relatou impedimento de voto, bocas de urna e irregularidades no funcionamento das urnas eletrônicas. Vários depoimentos desse tipo, publicados nas redes sociais, foram compilados em um blog no Tumblr chamado “Fraude nas eleições” (fraudenaseleicoes.tumblr.com). Eles contam desde casos de eleitores que foram impedidos de exercer seu direito de votar ao serem informados que outra pessoa já havia realizado essa ação em seu lugar, até o mau funcionamento de teclas (números) específicas em determinadas etapas do processo de votação. Existe ainda um questionamento intrínseco ao próprio uso das urnas eletrônicas no processo de votação. Utilizada no Brasil desde 1996, durante muito tempo acreditou-se que a urna eletrônica era muito mais confiável que o processo anterior, no qual as cédulas eram de papel, com votos manuscritos que passavam por uma contagem manual. Dezoito anos depois, após uma série de estudos e investigações, percebe-se que o sigilo de voto e a contagem incólume não são tão garantidos quanto se imaginava.

aconteceu. Para as eleições deste ano o tribunal não realizou nenhum tipo de teste público nas urnas eletrônicas. Informou, porém, que para a próxima votação seria criado um grupo de trabalho cuja função se centraria no estudo e na proposição de soluções aos problemas referentes à segurança do sistema automatizado de votação adotado no país. Ainda que as irregularidades encontradas não configurem um potencial escândalo, contemplam questões de suma importância para o debate político: estariam os nossos votos realmente escolhendo os representantes políticos que determinarão o futuro do país?

Como podemos saber se o processo eleitoral é de fato legítimo e eficaz ou se há alguma fraude? Fiscalização coletiva A fim de buscar saber mais sobre essas irregularidades e promover a fiscalização do processo eleitoral, o professor Diego Aranha, do Instituto de Computação da Unicamp, iniciou o projeto Você Fiscal, no formato de um aplicativo para Android. “O Você Fiscal avalia a etapa final da eleição, em um processo chamado totalização, que envolve a soma dos resultados parciais produzidos por urnas eletrônicas em todo o país”, explica Aranha. Utilizando o aplicativo, o eleitor pode capturar fotos do Boletim de Urna (BU), recibo produzido por cada urna com o total dos votos em cada local de votação. No caso de fraude durante a transmissão dos dados emitidos pela urna para a central do TSE, seria possível a detecção apenas analisando esses boletins em suas versões físicas (impressos) e digitais, publicados no site do TSE. Por meio das informações contidas nas fotos, a equipe do projeto realiza a comparação entre os BU’s e facilita a conclusão sobre suspeitas de fraude. Aranha conta que a ideia surgiu após o TSE decidir que não realizaria testes de segurança da urna eletrônica em 2014. “Nos vimos no dever de fazer algum tipo de fiscalização. Como a urna eletrônica não é diretamente auditável pela sociedade, já que no sistema brasileiro não é possível para o eleitor determinar se seu voto foi registrado corretamente, decidimos fiscalizar pelo menos a transmissão dos resultados, ainda que por amostragem”, pontua. O projeto rompe a ilusão de segurança da votação automatizada, mas nem por isso se opõe ao uso da tecnologia nas eleições, estimulando a ação coletiva em direção ao aperfeiçoamento do processo eleitoral. por Maria Alice Gregory

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EM PAUTA

Quando opinião se torna discurso de ódio Uso da liberdade de expressão para justificar posições intolerantes perpetua a conivência com o preconceito Em qualquer debate saudável, todos têm o direito de argumentar e expressar suas opiniões. Na Constituição de 1988, o princípio da liberdade de expressão é citado em mais de um artigo, dentre eles o 3º e o 5º - sendo assim, portanto, um direito de qualquer cidadão, além de ser um requisito para a consolidação de uma sociedade democrática. A partir da perspectiva de que todos têm o direito a ter uma opinião, por vezes a liberdade de expressão é usada em defesa de posicionamentos preconceituosos e discriminatórios. Em meio a essa encruzilhada, um grupo em especial sofre com o cerceamento de seus direitos: são eles as lésbicas, gays, bissexuais e pessoas trans*, representados pela sigla LGBT*.

O casamento entre pessoas do mesmo sexo, a criminalização da homofobia e a alteração de nome de pessoas trans* figuram entre as muitas reivindicações desse grupo, que até hoje não foram atendidas ou receberam apenas medidas paliativas, que não contemplam ao todo as necessidades existentes. A negação desses direitos resulta na marginalização dos LGBT*, que é mantida pela disseminação de ideias preconceituosas. “A liberdade de expressão acaba quando o discurso passa a pregar uma mensagem de superioridade de um grupo social ou quando ele nega a dignidade de outro grupo”, afirma Thales Coimbra, advogado especialista em direitos LGBT*. “Assim, entende-se que a liberdade de expressão no Brasil abarca debates científicos, políticos e culturais, mas não aqueles que contenham uma ideia intolerante, que pode ter ou não um tom panfletário”, complementa. Criminalização Como não existe censura prévia no Brasil, aqueles que se sentem agredidos ou oprimidos por um discurso de ódio devem buscar reparação ju-

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dicial a posteriori, tanto na esfera criminal como na esfera cível. No caso específico da homofobia, há um projeto de lei do ano de 2006 que prevê a sua criminalização, incluindo-a na lei contra o preconceito. Popularmente conhecido por PL 122, ele ainda passa por embates ideológicos e burocráticos: grupos fundamentalistas alegam que, com essa inclusão, o princípio da liberdade de expressão não seria respeitado. No entanto, Marco Aurélio Mello, ministro do Supremo Tribunal Federal, afirma que o projeto de lei é constitucional e não fere tal princípio, já que nos próprios artigos 3º e 5º da Constituição é esclarecido que discriminação e preconceito devem ser combatidos através da lei. Para Coimbra, “a ausência de um marco legal contra a homofobia, diferentemente do que ocorre com o racismo e a violência doméstica, permitiu que se formasse um sentimento generalizado entre as pessoas de que é aceitável a discriminação contra a comunidade LGBT*”. São comuns relatos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais que não são acolhidos em delegacias de polícia, sendo muitas vezes ainda culpabilizados pela violência que sofreram. “Se [a pessoa] foi alvo de xingamentos, é porque provavelmente provocou o ofensor, ou então é porque estava exibindo afeto em público”, exemplifica o advogado. A criminalização da homofobia ainda deslegitimaria as relativizações morais feitas por certos juízes, que hoje nem sempre condenam atos de discriminação. No entanto, é importante ressaltar que, mesmo com uma possível aprovação do PL 122, as mudanças não acontecerão de forma automática. “Se nem a tomada de consciência de direitos por parte dos LGBT* é instintiva, o que dizer então da consciência de deveres, por parte dos agentes públicos?”, questiona Coimbra.

Atitudes inicialmente vistas como inofensivas, mas que por trás da névoa da liberdade de expressão apresentam uma carga extremamente preconceituosa também auxiliam a perpetuar a discriminação. Não faltam exemplos de casos como o do dia 11 deste mês, onde em uma partida entre Palmeiras e Grêmio os torcedores palmeirenses retrucaram as provocações da torcida adversária com gritos de “racista, viado”, em alusão ao episódio da torcedora gremista Patricia Moreira e do goleiro Aranha. Por que é “aceitável” responder ao racismo com homofobia? Em janeiro deste ano, trabalhadores de um shopping na Bahia tentaram impedir que uma funcionária transexual de uma lanchonete utilizasse os sanitários femininos do local, alegando ser constrangedor encontrá-la dentro do banheiro. Ao não respeitar a identidade de gênero da funcionária, o grupo acaba compactuando com o discurso de ódio transfóbico. Toda opinião apresenta consequências, que podem ser ignoradas por vontade ou por desconhecimento. Isso não exime, no entanto, a gravidade do fato e a responsabilidade de quem proferiu o discurso. A livre expressão deve servir à liberdade. por Ana Carla Bermúdez

Por que trans*? O termo trans expressa diferentes identidades, como transexual, transgênero e travesti. Para evitar classificações excludentes, adiciona-se um asterisco ao final da palavra, transformando-a em um “termo guarda-chuva”. Ele também pode incluir pessoas trans* que se identificam dentro e/ou fora da ideia binária de masculino e feminino.


ENTREVISTA

“Homofobia é um dialeto do machismo” Para vice-coordenador do USP Diversidade, Ferdinando Martins, ambiente universitário reflete preconceitos da sociedade

ARQUIVO PESSOAL

Formado em Ciências Sociais pela USP, o professor Ferdinando Martins luta pelos direitos humanos desde a graduação. “Minha militância é anterior à minha entrada como professor na Universidade”, diz ele. Hoje professor doutor de disciplinas ligadas à cultura e à arte na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, ele, além de lecionar, é diretor do Teatro da USP (TUSP) e vice-coordenador do programa USP Diversidade. “Comecei como coordenador, mas virei diretor do Teatro e não ia conseguir dar conta. Porém continuo como vice para dar prosseguimento a alguns projetos”. Em funcionamento desde agosto de 2012, o USP Diversidade é uma iniciativa da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) voltada à questão da diversidade, não só sexual, mas abrangendo também ações de combate ao racismo, ao sexismo e à violência contra as mulheres. Em entrevista ao Jornal do Campus, o professor Ferdinando Martins falou um pouco sobre a questão do preconceito e dos direitos humanos na USP e na sociedade brasileira em geral.

Ferdinando está no USP Diversidade desde sua criação, em 2011

Por que o senhor decidiu defender os direitos humanos? Sempre achei injusto ser inferiorizado por algo que não depende da escolha ou da vontade própria. Ninguém escolhe ser gay ou negro ou mulher, por que então ser tratado diferente? Acho que toda militância parte de questões particulares, subjetivas, da história de cada um, mas com o desejo de que a justiça seja feita para todos, que os direitos sejam garantidos e que não haja discriminação por nada que esteja além da nossa vontade. Quais os trabalhos do programa USP Diversidade? O USP Diversidade tem ações voltadas para a questão da diversidade sexual e do sexismo, da violência contra a mulher e para os casos de estupro que há na USP. Ele atende os casos que merecem alguma intervenção, como os recentes estupros na Faculdade de Medicina (FMUSP). O número de casos dentro da USP é elevado e não podemos tapar o sol com a peneira. Existe uma tentativa de acobertar esses casos, sobretudo quando se está lidando com cursos mais tradicionais, como Medicina e Engenharia. Temos uma cultura machista que sempre vai considerar a violência contra a mulher como um problema menor, que foi a mulher que provocou, ou, ainda, que, se você conhecia a pessoa que te estuprou, então foi consensual. Não, o fato de você conhecer a pessoa não muda nada. Sem consentimento é violência. Nós somos chamados em alguns casos para caracterizar que, de fato, houve uma agressão. A gente tem esses casos mais graves, mas tem outros casos que são, digamos, menos agressivos. Por exemplo, em Piracicaba, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), uma aluna colocou silicone, como é direito dela. Ela começou a ser chamada de “x peito” e sofreu tanta perseguição que abandonou o curso. A pessoa entra num

curso que é bastante concorrido e é constrangida de tal maneira que abandona o curso por conta de uma decisão que foi pessoal dela. Cada um faz do seu corpo o que bem entender. Você tem casos no Conjunto Residencial da USP (Crusp) do interior, de fichas da assistência social solicitando a moradia, em que homens escrevem que não querem dividir o quarto com gays. Com mulheres, é muito comum encontrar fichas dizendo “não quero dividir com gorda”. Num primeiro momento, tentamos dar conta desses casos, só que sempre esbarramos na questão do “ah, isso não existe”. Por conta disso, a professora Heloísa Buarque de Almeida, coordenadora do USP Diversidade, junto com o professor Gustavo Venturi, da Sociologia, está montando uma pesquisa que vai ser a primeira a tratar de homofobia, de violência contra a mulher e de racismo na USP. É uma pesquisa bastante grande porque queremos ter dados para mostrar que, de fato, é um problema. Inicialmente, ela vai servir para ter dimensão dessa forma de violência.

É o caso dos evangélicos que falam que vão defender a família. Ok, vão defender a família, mas isso não quer dizer excluir o membro da família que é homossexual, porque ele também vem de família e constitui família.

No senso comum, diz-se muito que o Brasil é o país da diversidade, mas, na prática, sabe-se que não é isso o que acontece. Para o senhor, por que ainda existe tanto preconceito? O que acontece é que você tem bolhas diferentes dentro da sociedade brasileira. É possível ver isso dentro da própria USP. Por exemplo, a questão da homossexualidade é muito tranquila na ECA, mas atravessa a rua e vai pra FEA pra ver se ela é tão tranquila assim. Não é. Caminha mais um pouco e vai pra Poli, ela se torna um problema. A USP é um reflexo do que acontece fora dos seus muros. Há grupos em que a homossexualidade é uma questão tranquila de ser tratada e, em outros, bastante resistente. Infelizmente, vivemos uma onda conservadora que tem posições bastante contraditórias.

Para o senhor, quais foram suas conquistas em prol dos direitos humanos até hoje? E o que pretende para o futuro? É tanta coisa que ainda precisa ser feita, que às vezes parece que a gente está fazendo um trabalho de formiguinha, mas acho que só o fato de a USP ter institucionalizado um programa de diversidade sexual já é uma grande conquista. Pro futuro, pretendemos ampliá-lo e ter, cada vez mais, pessoas comprometidas dentro da Universidade. Um ambiente que respeita a diversidade e a mulher acaba sendo mais produtivo, onde as pessoas se sentem melhor e em que os conflitos são resolvidos mais tranquilamente.

Em maio deste ano houve um caso de racismo na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Em casos como este, o USP Diversidade intervém de alguma forma? Ainda não, mas queremos intervir. Dentro da USP tem o Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre o Negro Brasileiro (Neinb-USP), que é um grupo de pesquisa sobre questões relacionadas ao racismo, mas a ideia é que o USP Diversidade, aos poucos, vá ampliando a sua atuação. O que a gente fez em relação a racismo ainda foi muito pouco. Atualmente, o foco é mais na diversidade sexual e na questão de gênero, da violência contra a mulher e estupro, que são questões que andam juntas. Quem respeita a mulher respeita o gay, costuma ser assim. A homofobia é um dialeto do machismo.

Confira a íntegra no site do JC: www.jornaldocampus.usp.br por Victoria Salemi

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CIÊNCIA

Virada Científica visa aproximar USP e cidadãos Evento proporcionou conhecimentos sobre pesquisas e projetos uspianos, além da abertura das unidades à população GABRIELA ROMÃO

Por essa fusão de espaços, Wilton julgou a Virada importante para ampliar seus horizontes a respeito da própria Universidade. “O conhecimento que adquiri hoje foi uma coisa incrível. A USP é mais do que a Cidade, é mais do que a gente imagina. Talvez, esteja faltando essa interação com o público lá de fora, divulgar as maravilhas que existem aqui”, ponderou.

Transarquitetônica, de Henrique Oliveira, foi uma das exposições incluídas pelo MAC na programação da Virada Centenas de pessoas visitaram a Universidade no último fim de semana (11 e 12 de setembro) para participar da I Virada Científica da cidade de São Paulo. O evento, organizado pela USP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico (CNPq/MCTI) contou com mais de 80 atividades, a maioria delas sediada na Cidade Universitária. Além de promover o conhecimento científico, o evento teve por objetivo aproximar a sociedade de um espaço público ainda pouco explorado por quem o mantém em funcionamento. A oficina de jogos de tabuleiro, conduzida por alunos de especialização do curso Ciências da Computação, no Instituto de Matemática e Estatística (IME), já foi aplicada em programas de auxílio a crianças carentes e teve a participação de jovens e famílias durante a Virada. Luiz Carlos Vieira, doutorando que monitorou a atividade, ressaltou o evento como estímulo ao acesso da população à USP. “De certa forma, existe uma visão... Não sei se elitista é a palavra certa, mas a visão de que [a Universidade] é um lugar sagrado,

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inacessível. As pessoas têm que saber que elas podem vir aqui, podem participar [do que é desenvolvido na USP]”, opinou. Vieira também vê no evento uma oportunidade de a comunidade entrar em contato com algo que pertence a ela. “[A Virada] É a divulgação do que a gente faz aqui, para que as pessoas conheçam o que é produzido com o dinheiro que estão empreendendo”, concluiu, se referindo aos impostos pagos pela população para manter a USP. A Escola Politécnica (Poli) registrou uma estimativa de 120 visitantes, enquanto o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) recebeu 70 pessoas em seus laboratórios. Já o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) alcançou a marca de 1500 visitas em seu circuito “Ciências da Terra e do Universo”, que continha atividades interativas de explicação de terremotos, emissão de poluentes e observação de planetas na virada da noite de sábado para domingo. No Instituto Oceanográfico, o conjunto de exposições “Oceano Sustentável” e uma esfera de multiprojeção de vídeos representan-

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do fenômenos da Terra receberam bom público, ainda não divulgado, incluindo excursões escolares que participaram da virada em diversos institutos. José Wilton, aluno de licenciatura da Faculdade Anhanguera que visitava o local, se mostrou surpreso pela liberdade com que as pessoas circulavam pela Cidade Universitária. Ele ressaltou que mesmo morando perto nunca havia visitado o campus. “Para mim, era só um local onde as pessoas vinham estudar e iam embora, ou onde moravam. Apesar de ser um espaço público, nós não tínhamos essa ideia [de que era um espaço aberto]”, explicou. O estudante contou também que não tinha ciência da abertura desses locais para a comunidade, nem de que havia outros fora do campus do Butantã. A Virada Científica teve a participação de vários deles em sua programação, incluindo o Museu Paulista, no Ipiranga, e o de Arte Contemporânea, no Ibirapuera, vinculados à USP (sendo a entrada sempre gratuita no último), que colocaram suas exposições como parte integrantes do evento científico.

Pode melhorar A organização da I Virada Científica de São Paulo foi iniciada em maio desse ano e contou com a participação de cerca de 25 unidades vínculadas à Universidade e mais de 300 monitores, entre docentes e alunos. Segundo Mikiya Muramatsu, professor do Instituto de Física e um dos organizadores do evento, a promoção da ciência e da tecnologia em uma linguagem mais acessível à sociedade é de fundamental importância para aproximá-la não só da USP, mas das atividades nela desenvolvidas. “A população não se vê no direito de frequentar o campus, ela se autoexclui porque acha que não vai entender [o evento]. Isso não é verdade. Temos que apresentar de modo que uma parcela mais ampla do público consiga entender”, disse. Para Muramatsu, a divulgação realizada junto à grande mídia ajudou a trazer um público culturalmente diversificado e de várias faixas etárias, mas tanto ela quanto a organização em si podem melhorar nos próximos anos. O uso de linguagem mais simples e a realização de pesquisas junto à comunidade, para descobrir temas de seu interesse, seriam caminhos para alavancar os resultados da Virada. “A linguagem terá que ser mais direta. Além disso, teremos de escolher temas, não só na parte de ciência e tecnologia, mas também na área de ciências humanas, de políticas públicas, trazer a população para esse debate. Trata-se de uma demanda, temas como moradia, transporte… A Universidade se preocupa com isso”, resumiu. por Gabriela Romão


CIÊNCIA

Jogo de tabuleiro ensina sobre alimentação Idealizado por aluna do curso de nutrição, o jogo mostra às crianças os alimentos necessários para uma dieta balanceada Um jogo da memória interativo, desenvolvido pela estudante de Nutrição da USP Gabriela Bizari, altera a forma de ensinar as crianças sobre alimentação. Com peças coloridas e diferentes, imagens e linguagem atrativas, o game torna a alimentação saudável uma brincadeira, e não uma obrigação. Seu noivo Adriano Furtado, estudante da Faculdade de Arquitetura (FAU), teve papel importante na elaboração. “O design era a ferramenta que faltava para tornar os guias alimentares mais acessíveis”, aponta a estudante. A criação foi motivada pela utilização falha da pirâmide alimentar, forma comum de ensinar crianças sobre alimentação. “A primeira reação das crianças é olhar para o topo. Embora lá estejam os alimentos que devem ser consumidos em menor quantidade, as crianças interpretam como os alimentos mais gostosos”, comenta Gabriela. A interação com o lúdico foi um tema central no projeto. Houve um estudo sobre quais cores e formatos utilizar, para que a criança interpretasse como um jogo e por isso se envolvesse mais. O fato de as peças terem cores e formas diferentes torna a

partida mais interessante. Muitos encaram como desafio, e não como obrigação ter que comer determinados alimentos. Um exemplo do resultado é que o consumo de água, apesar de sua importância, não aparece na pirâmide alimentar. No game, porém, é uma peça que fica no centro do tabuleiro. Quando elas compreendem que têm que beber dois litros por dia, isso vira um desafio, e elas têm a iniciativa de tomar vários copos sem que alguém precise lembrá-las que é necessário fazer isso. Em cada peça há uma ilustração do alimento, o nome e o que seria uma porção dele. Há também uma indicação quanto ao nível de processamento do alimento: em cada peça há de uma a três bolinhas. Uma bolinha significa que o alimento é natural; duas bolinhas, que é um ingrediente e três quando é processado ou ultra-processado. O primeiro teste ocorreu em uma escola particular em Cotia, com cerca de 30 alunos acima de sete anos. Esse foi o momento em que o projeto ganhou impulso, devido à reação dos alunos. Gabriela conta que rapidamente eles conseguiram depreender conceitos como o que é uma alimentação balanceada, a importância do lanche e seus substitutos. Em abril de 2014 eles lançaram um site do projeto “meu dia alimen-

tar”, tendo enorme repercussão. As pessoas que se interessaram eram médicos, nutricionistas, mães e professores, sempre com uma resposta positiva à ideia. Diante disso, eles resolveram dar sequência à proposta através do financiamento coletivo, na ferramenta Catarse, produzindo um vídeo de divulgação sobre o projeto. Levantaram 115% do necessário para que uma empresa de brinquedos produzisse o jogo para vendas. Quanto à prática, Gabriela ressalta que trata-se de um trabalho contínuo. Jogando uma vez, a criança adquire uma ideia geral sobre o que é uma alimentação saudável. Porém, é importante que ela pratique ao longo dos dias para por em prática os novos hábitos. Na brincadeira, não é necessário o auxilio de um profissional. Entretanto, o incentivo dos pais é fundamental para dar continuidade ao que o jogo ensina, ou seja, proporcionar às crianças os alimentos necessários para um cardápio bem regulado. Problemas da alimentação Gabriela aponta que o que mais se verifica na alimentação infantil é o baixo consumo de frutas, legumes e verduras. Considerando que a criança nasce com o paladar neutro, o estímulo à inserção de alimentos

saudáveis deve acontecer desde a infância, dentro de casa. Outro agravante é o elevado consumo de comidas ultraprocessadas, que possuem uma densidade energética maior, ou seja, em uma quantidade menor de alimentos há muito mais calorias. Esses alimentos em geral são hiperpalatáveis, o que faz com que possuam altos níveis de açúcar, e por isso se tornam tão saborosos. Exemplos comuns desse tipo alimentar são os chocolates, os salgadinhos e as bolachas recheadas. Ela comenta ainda que o brasileiro costumava comer arroz, feijão, carne e salada em todas as refeições. Hoje, porém, o consumo de arroz e feijão diminuiu muito, sendo substituídos principalmente por refeições prontas. Essa mudança é acompanhada pelo problemático fato de que não existe mais um momento em que todos se sentam à mesa para a refeição, o que é ainda mais grave para as crianças, já que é nesse contexto que se formam os hábitos de alimentação que vão perdurar ao longo de toda sua vida. por Thais Freitas

ADRIANO FURTADO

O jogo mostra que a porção ideal de feijão é uma concha com caldo e a de farofa é meia colher. O feijão é natural e a farofa processada ou ultra-processada

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ESPORTES

Volta da USP reúne atletas no domingo Já em sua 51ª edição, o evento ampliou participação entre os integrantes da comunidade USP e quebrou recorde

Noronha consagra-se bicampeão

Corrida começou às 8h30 no domingo

Paulo impediu o corredor de baixar sua marca do ano passado. Com o tempo de 31min40s, Vagner superou os 32min25s estabelecidos em 2013 e venceu novamente seus adversários com boa margem. “Eu comecei a treinar faz dois anos e há três meses me tornei profissional. Só vivo disso. Ano passado, eu ganhei a Volta da USP, mas como era uma

edição especial de 50 anos, não teve premiação. Eu queria muito o trófeu, então voltei esse ano pra conquistá-lo. Agora, com a meta de 2014 cumprida, vou continuar trabalhando pra no ano que vem voltar e buscar o tricampeonato”, revelou. por Breno França INFOGRÁFICO: ARTHUR ALEIXO

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BRENO FRANÇA

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de Albuquerque, afirma que a subida da Rua do Matão funciona como um desafio aos corredores. “A prefeitura da USP, com muito bom senso, limitou os espaços da corrida que davam muito impacto, mas manteve essa subida. Assim, a Volta da USP acaba privilegiando esse desafio de ter um aclive no percurso e se diferenciar das demais corridas, que são inteiras no plano”, contou Bezerra, ressaltando a importância do evento no calendário do pedestranismo paulistano. A largada foi dada na Rua da Raia, pontualmente às 08h30, e a chegada estava montada pelo segundo ano consecutivo dentro da pista de atletismo reinaugurada ano passado, para a quinquagésima edição da Volta. Bastou apenas 18min8s para que Ronaldo Soares dos Santos, o primeiro colocado dos cinco quilômetros, ultrapassasse a linha de chegada. Débora Pereira Coutinho da Silva, professora da Escola Politécnica (Poli) da USP, foi a primeira entre as mulheres a finalizar a prova, com 21min16s. Já no percurso dos 10 quilômetros, a primeira mulher foi Mariana Takeishi, com o tempo de 41min31s. O grande destaque, no entanto, ficou para Vagner da Silva Noronha, bicampeão dos 10 quilômetros da Volta da USP. Nem mesmo o dia mais quente do ano (até então) em São

OTÁVIO NADALETO

Os frequentadores da USP nos finais de semana já sabem que as ruas da Cidade Universitária Armando Salles de Oliveira (CUASO) costumam ser ocupadas por corredores e ciclistas, que buscam a calmaria e a largura das vias do campus para praticar seus exercícios e atividades físicas. Porém, no último final de semana, um único trajeto foi responsável por reunir mais de 2500 atletas em função da 51ª edição da Volta da USP. O evento - organizado pelo Centro de Práticas Esportivas (CEPE) da USP com o apoio da Prefeitura do Campus USP da Capital (PUSP-C), da Guarda Universitária e da empresa Iguana Sports - reuniu corredores e caminhantes nos trajetos de 5 e 10 quilômetros estabelecidos pela organização. Neste ano, o número de participantes de dentro da comunidade USP bateu recorde e animou os organizadores. Segundo a professora do CEPE e apoiadora da Volta, Patrícia Sakai, “a Volta começou com participação de 500 a 700 pessoas da nossa comunidade. Hoje, são mais de 1300 pessoas de dentro da USP participando. Nós privilegiamos os uspianos com uma inscrição diferenciada, tanto em período quanto em taxa de inscrição, pra estimular a prática de uma atividade como essa ao longo de todo o ano”, afirmou. A professora conta ainda que a Volta da USP acontece estrategicamente no mês de outubro, porque serve como meta para aqueles que começam a treinar nos primeiros meses do ano e colocam como objetivo participar da corrida. “Alguém que começa a correr um quilômetro lá no comecinho do ano pode ter como meta chegar em outubro e correr os dez quilômetros. Esses quase dez meses são super importantes para alguém começar a treinar e conseguir completar a corrida, inclusive com a subida [da Rua] do Matão e tudo”, incentivou Patrícia. O coordenador do evento, professor Carlos Bezerra


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