Offroad riding techniques with NeDuro

Page 1

ADVANDED RIDING TECHNIQUES

o” ur al ed ug “N Port in

ISSUE 06 | MAY 2011

PERSONAL MOTOGRAPHIC

2011Neduro

MotoXplorers


Issue #06—Personal Motographic Series “Alice in Lands of Wonder” Advanced Riding Techniques, by MotoXplorers

UNSTOPPABLE

R 1200 GS Adventure


e

BMW Motorrad

R 1200 GS Adventure

The Ultimate Riding Machine

Há um ano, Alice não existia. Nem em mim se sentia a necessidade de conduzi-la. Nessa altura certo grupo de irrequietos despertou em mim um bichinho poeirento, lamacento e tremelicante. Convenceram-me mesmo que o ideal para mim seria uma GSAdventure. Que se chamaria Alice e por mim aguardava em Inglaterra. Fui ter com ela e comigo a trouxe. Alice nunca foi à escola. O que sabe de fora-deestrada ensinei-lhe “em casa”; aprendeu a cair e eu a levantá-la. Queremos ambos ir mais longe, no sentido literal e figurativo. E assim aqui estamos os dois, reunidos com os “culpados” do costume. Procuramos tirar melhor partido da relação, conhecer os limites, voltar a ligar-nos com a terra e o pó.

Foto: Daniel Almeida


SĂŁo muitas as GSA na estrada; jĂĄ fora dela, nem tantas assim.


Depois do Martins, mais um Mestre para offroad. Desta vez, na minha cabeça as recomendações serão em inglês. A vinda do Ned Suesse (“Neduro”) a Portugal parece daqueles momentos imperdíveis. A MotoXplorers convidou-o para uma aventura que passa por participar no Raid de l’Amitié em Marrocos até dar-nos este curso. No Colorado, EUA, o Advanced Riding Techniques tem ganho adeptos mesmo entre clientes menos prováveis ou insuspeitos, conforme descobrimos numa conversa com Ned mais à frente. No caminho para aventuras de moto, a aprendizagem da condução fora-de-estrada é um objectivo meu declarado. Este é mais um passo nessa direcção. São muitas as GSA na estrada; nem tantas assim fora dela. Não me devia surpreender, afinal encontramos muitos jipes que não conhecem o cheiro da terra, que nunca se engasgaram com um pirulito na travessia de um riacho. Mas para não sair da estrada faria sentido ter escolhido a Alice? Do alto do meu 1.70m encontraria facilmente alternativas à minha altura. O desafio foi aceite, por mim e por ela.


ESQUERDA TOPO ”Que bem que se está no campo, Adelaide” (foto: Personal Motographic) ESQUERDA BASE Como nas tabelas de vendas, a BMW à frente da KTM (foto: Personal Motographic) CENTRO Bota abaixo (foto: Personal Motographic) DIREITA Alice ao rubro nas subidas da pedreira (foto: mXp—Enrique Diaz)

Na preparação para a nossa primeira viagem a Marrocos de moto autonomamente, Daniel e eu inscrevemo-nos no curso mal havia sido anunciado. O entusiasmo era grande e os dias pareciam arrastar-se até lá.

Escafoideu-se O problema de planear demasiado à frente é que a vida continua e esta está cheia de imprevistos. E assim, em Março numa estreia pelo snowboard, uma fractura do escafóide irrompe sem ser convidada. Uns míseros milímetros num osso de nome estranho alteram-nos os planos. Primeiro adiamos a viagem para Junho e agora já vai em Setembro. E é com um nó na gar-

6

ganta que imagino o telefonema do Daniel para cancelar a sua participação neste curso.

E eu com isso? perguntam. Pessoalmente, tenho a tendência para me deixar intimidar pela ansiedade das viagens. Embarcar nestes projectos com mais alguém retrai-me nos ímpetos para cancelar tudo, talvez por vergonha de assumir os receios ou por me deixar contagiar pelo entusiasmo alheio. O que tem a ver comigo é que a minha primeira tentação foi cancelar também. Convenci-me mesmo que o faria por solidariedade, apesar de saber que não o era: era mesmo cobardia, daquela pura e dura, que se

insinua, pérfida e lentamente, nas nossas vidas. Que nos leva a adiar planos e a evitar desafios. Mesmo que não tenha sido pelos melhores motivos, acabei por não cancelar. E daí até ao curso, a ansiedade anichou-se alimentando-se em cada dia que passou. É neste estado de alma que a noite da véspera chega. Procuro escondê-lo no lufa-lufa da corrida do costume: preparar a trouxa, desaparafusar as “porcelanas” que se iriam apenas partir, colocar a câmara de vídeo (ver mais à frente a aventura filmada). A participação do Daniel parecia ser limitada à armadura, capacete offroad e óculos emprestados.


Começando pelos óculos no queixo, há muita coisa a melhorar nesta técnica. Mas até ficou gira a foto...


ESQUERDA Final de passeio do primeiro dia, na descida da rocha, palco da foto de grupo. (foto: Personal Motographic) DIREITA CENTRO Aprender a rastejar, devagar, devagarinho, parado (foto: Daniel Almeida)

São 6 da manhã e não me apetece ir. Toca a despertador. Enquanto esfrego os olhos, sentado na cama, tento encontrar a melhor desculpa, aquela que me facilitaria a vida. Desisto; não consigo encontrar nenhuma suficientemente boa.

Master your thrust control as it will save you from trouble

DIREITA TOPO Uma sala de aulas de fazer inveja (foto: mXp—Enrique Diaz) DIREITA BASE Nem tudo se aprende em cima da moto (foto: mXp— Enrique Diaz)


A

inda atordoado e já estou na estrada a caminho do Alentejo. E, como sempre me acontece quando saio bem cedo, impressiono-me: o ar fresco na cara, o Sol tímido nas costas. Persigo as sombras até à Herdade do Monte Redondo, por terras de Arraiolos, Pavia, Avis.

[Alice] planeia fazer uma tatuagem: quer escrever o seu nome, talvez no pescoço ou no peito

Ao chegarmos ao centro de treinos na Herdade, Alice encontra as suas colegas de carteira. Há muitas como ela. Partilham o sobrolho direito levantado, o nariz protuberante e o farto peito. Como quando visitamos um povo cujas feições nos parecem iguais, é nos pormenores que, esforçandonos, encontramos as diferenças. Apesar de todas calçarem knobbies, umas vestem amarelo, outras branco. Nos acessórios também se distinguem, entre suportes de GPS, tomadas eléctricas ou traquitana da

Touratech. Alice traz duas pochettes. Prefere a protecção de motor e a extensão do descanso lateral. Mas pouco mais. Planeia fazer uma tatuagem: quer escrever o seu nome, talvez no pescoço ou no peito; ainda não decidiu. Como uma ginasta que prende o prende o cabelo, abandona o que é acessório. Luzes, pára-brisa, malas: tudo fica para trás.

Falando com Ned percebo que também nos EUA as BMW 1200 GS são “mais que as mães”. Explica-me que no total de vendas anual de “big bikes”, representam metade a nível mundial. (pausa para reflectir) Quer dizer que como a Alice há muitas? Errado! Alice há só uma. E está prestes a aprender porque a fizeram assim.

9



Go Pro, diz a câmara. Mas daí a conseguir ser um Pro, vai uma certa distância.

Esta foi a minha estreia com filmagens a bordo. Não é fácil ser inovador na captura de imagens, quando há um trilião de máquinas por aí em outros tantos malucos. Mas consegue-se. Com apenas uma semana de comprada, procurei ensaiar quais seriam os melhores pontos para amarrá-la. Na Alice, sendo uma GS Adventure, opções não faltam: quadro tubular, armações de protecção, guiador, suportes de malas (laterais e top-case). Se a isso juntarmos colada ao capacete, o ramalhete é impressionante. Mas como este é emprestado, colar suportes não me pareceu uma opção. O suporte de rollbar permitiu-me morder o guiador numa posição frontal, a única que não interfere com a condução. Vantagens: está alí mesmo à mão. Ligar e desligar é rápido. Desvantagens: Os manómetros da moto não permitem avaliar muito bem os caminhos por onde andamos. Além disso, para soltar a máquina para uma foto ocasional, tenho de desapertar um parafuso... com luvas calçadas.


Será que ficou gravado?

Já editaste vídeo HD?

A GoPro esteve atenta; apesar do sucesso de vendas, havia uma queixa unânime. Não era fácil perceber quando estava efectivamente a gravar. E chegar a casa carregado de adrenalina e descobrir que afinal não ficou nada registado, podia ser enfurecedor. Pois bem: agora tem LCD e dá para ver o que grava. Hurrah!

Sempre que falo da câmera a quem já tem, desenha-se um sorriso e segue-se a pergunta: “Mas já experimentaste editar vídeo HD?”.

Sim, isto são arbustos e à direita é o caminho. Mas a moto é todo-o-terreno, certo?

Cheira a eucalipto. Porque será?

Seguindo o líder do dia, Carlos Azevedo

Quaisquer míseros minutos, são Gigabytes. E qualquer Gigabyte é um inferno para trabalhar. E não melhora, se a isso juntarmos que o melhor computador a que tenho acesso é um portátil, concebido para outras aventuras. Mas, lá diz o povo: “entre mortos e feridos, alguns se hão de safar”. E ainda nem falámos da banda sonora... (suspiro)


Depois da carga de água, o céu limpa-se e saímos para a pista de treinos no 1º dia.

A erva alta ainda resiste verde. Nela esconde-se de tudo: rochas, troncos e pisos de toda a espécie.

A pedreira é local de treino de subidas e descidas íngremes, e travagens de emergência. Hoje é ponto de passagem.

Os pontos de reunião servem para lançar os desafios da etapa.


Não tentar isto em casa. Ainda bem que não levei o vidro. Na areia o jogo é diferente. Vamos lá ver se dá para fazer de pé.

Gosto especialmente das caras do Luís e do Gonçalo. Err... OK. Vamos ter de tentar algo diferente.

Toca a dar uma voltinha à moto para ver se está tudo no sítio. OK. Estamos a progredir. E agora, banhinho.

Apesar da posição de captura não ser a ideal, dá para ganhar uma boa ideia do que foram alguns dos momentos altos. E alguns dos altos, foram baixos, deitados mesmo.

14

cheiro Ah, não há nada como o do nariz dos eucaliptos dentro


pé, ento rápido a Um reconhecim itado de evita acabar

Mesmo sem a emoção de nos vermos voar pela frente da moto, aterrar na erva fofa, ou passagens a vau, as imagens conseguem ser engraçadas, entre terra, areia, erva, lama, ribeiras e ribanceiras. No primeiro dia procurámos recordar as bases do último curso. No meu caso, já foi há um ano e desde então apenas 4 saídas fora-de-estrada, mais ou menos longas. Por isso, vi com bons olhos ter oportunidade de desenferrujar antes de passarmos para as mãos do Ned, no Domingo.

A descer to dos os Sant os ajudam, desde o Sant o André ao São Carlos.

15


- ÂŤOlha, e esta, hem


Na linguagem gestual do Carlos, lê-se: - «Cortem que isto vai dar luta».

ESQUERDA Atascanço monumental da Alice (foto: Vasco Pinto)

Já a minha dirá algo como: ? Uma moto tão levezinha e faz-me isto. Francamente!»

DIREITA Desatascanço (foto: Vasco Pinto)

«Olha, e esta, hem? Uma moto tão levezinha e faz-me isto. Francamente!»

Uma dieta equilibrada é sempre uma boa ideia. Alice prova sabores do Alentejo com um toque da Ribeira de Seda. A lama não tem vida fácil; Convenhamos: ninguém gosta assim muito dela. Mas tem boas coisas. Quem é fã de SPAs sabe-o. E para nós é uma oportunidade de lidar com adversidades e a perceber o valor da entreajuda. E quem diz que as motos não se aguentam sozinhas de pé? Oh descrentes, contemplai!

17


[.. ah es À conversa com Ned percebe-se que se deixou impressionar com Portugal. O olhar calmo e a forma pausada como fala, transmitem calma e ponderação. Em cima da KTM tudo flui e lhe sai natural, sem esforço. Explica-nos que a gestão da energia é fundamental. E conservá-la enquanto rolamos resulta natural se não nos embrenharmos em lutas corpo-a-corpo com a moto. Quanto mais não seja porque entre os 260kg da moto e os nossos 70kg (para alguns), normalmente sai a ganhar o primeiro. Lembra-nos também que, como em outras coisas na vida, a harmonia entre dois corpos está no jogo de ancas. Na dança ao longo da moto, chegar mais à frente ou atrás é fundamental na gestão de energia, muito para lá do equilíbrio de massas e ganhos de tracção.

The guy with a plan Convida-nos a estudar os campeões de Rallyes, os Marc Coma, os Hélder Rodrigues. Tudo lhes parece fácil, mas a diferença não é tanto na técnica. É no plano que desenham, nas rotas que antecipam e nas opções que ganham ao segui-las. Se o plano que em cada 300m constroem for bom, lutam menos, poupam energia e ganham mais.

Cansaço Talvez por isso o cansaço se apodere de mim, de todos nós, talvez. O primeiro dia, deixou-nos exaustos, fracos. Ensinam-nos também que não vale a pena esticar para lá deste ponto. E cada um tem de aprender a reconhecer esse ponto. Para lá dele, tudo corre mal: as trajectórias não são ideiais, as opções esfumam-se, e os erros acontecem. Deixa-se de aprender, preocupados em sobreviver. Esta tem sido uma preocupação nos ajustes ao plano para a viagem a Marrocos deste ano. Quanto conseguiremos progredir em cada dia? E no dia seguinte, teremos as mesmas energias para gastar? Todos os dias faço 100km de moto e não me cansam mesmo nada. Creio que será por, na estrada, tudo me sair natural, fluído e sem esforço. Construo o tal plano em cada 20 carros à minha frente. E rolar assim descontrai-me, diverte-me e convida-me todos os dias a querer mais. É isto que quero e procuro para fora-de-estrada, também.


..] como em outras coisas na vida, harmonia entre dois corpos stá no jogo de ancas.

Nas ruínas do preconceito Imaginava um curso com derrapagens frenéticas, acelerações em slide, com entradas em curva em contrabrecagem. Imaginava mal. Isso virá quando a dinâmica na moto for natural, quando o jogo de forças e o equilíbrio for intuitivo. E, assim, percebo os exercícios de travagens controladas, descidas lentas e subidas quase paradas; das curvas apertadas em círculos minguantes ou das danças com a moto.

CENTRO Em cima da KTM que levou ao Raid de l’Amitié, Ned prega aos infiéis (foto: mXp—Enrique Diaz) DIREITA TOPO E ao 7º dia, os mestres descansam enquanto admiram a sua criação (foto: mXp—Enrique Diaz) DIREITA BASE No circo da GNR (foto: mXp—Enrique Diaz)

E quando saímos para a pista, tudo se conjuga. Sintome solto, compreendo o que passa em cada momento com a roda traseira, ou a saída da curva na inclinação da moto, do peso no sítio certo. Procuro olhar em frente, decidir para onde vou. Doemme as mãos, porque não as descontraio. Forço-me a lembrar de as soltar nas rectas. Obrigo-me a curvar os braços, como numa imagem aguerrida de quem está disposto a trincar tudo à sua frente.

19


Ver para crer e para aprender.


Em cada turma o nível de proficiência fora-deestrada de cada aluno varia. Para que começa, como eu, ter a oportunidade de ver outros mais experientes a lidar com obstáculos é uma óptima oportunidade. Para aprender e ganhar confiança. Conseguir ver como tanto o Ned, o Martins ou o Carlos Azevedo realizam os exercícios ou como rolam nas estradas permite interiorizar melhor as técnicas.

ESQUERDA Na sua HP2 Martins ilumina o caminho (foto: mXp—Enrique Diaz) DIREITA TOPO À sombra de uma azinheira os olhar atento da turma (foto: mXp—Enrique Diaz) DIREITA BASE Nas cores da Red Bull até a KTM do Luís Deus fica com bom aspecto. (foto: mXp—Enrique Diaz)

21


lmeida

You’re now in leve How many to go, still? What?! 5

O regresso a casa é diferente para cada par, aluno e mota.

No percurso de regresso, é tempo de rescaldos. E o balanço é positivo. No próprio dia apenas o consigo pressentir: faltam-m as forças para pensar.

Foto: Daniel Alm eida

Foto: Daniel A


el II. 50?

o me

Nenhuma aula existe sem um Mestre. Com uma boa disposição à prova de bala e uma calma excepcional, flui nos exercícios e paciente nas explicações do mais pequeno pormenor, desde que relevante.

O mestre do Nível 1 aproveita para aprender e lima as arestas. Nas funções de anfitrião ainda tem oportunidade de testar as dicas de Ned.

Para refrescar os conceitos do primeiro curso, seguimo-lo por entre eucaliptais, ribeiras e outras armadilhas. Um dia bem preenchido e bastante cansativo.

Fotos, águas e jipes: não há limites para a versatilidade do galego de serviço. De um modo geral, estamos agradecidos que não o tenham posto em cima de uma moto. :)

Não há rotação ao penúltimo sem o último. Teve o privilégio de ver as asneiradas de todos desde trás. E tem muito bom gosto nas motos, incluindo a cor.

O principal ausente com uma mão ao peito e a outra na máquina fotográfica. Fica para o próximo, seguramente. Aí, invertemos os papéis. Pode ser que então as fotos saiam alguma coisa de jeito?

E claro que faltam aqui todos os alunos, companheiros desta aventura. Obrigado, também a eles.


by Personal Motographic


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.