Nepal Overland

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Uma edição

Nepal Overland


A vista dos Himalaias desde Dhampus


1 ano antes do terramoto, o Nepal apaixonava-me. Quase 1 ano depois enchi-me de vontade e decidi finalmente fazer o álbum da viagem ao Nepal. Por essa altura, um amigo percorria as ruas de Kathmandu e presenteava os amigos com as fotografias que apenas o talento permite. Estava quase terminado o álbum quando o chão tremeu no Nepal. Foi no dia da liberdade em Portugal que os nepaleses se viram num dos seus piores pesadelos recentes, vítimas do mais violento terramoto em 700 anos: 7.9 na escala de Richter. Praticamente tudo quanto vira e adorara então, há 1 ano atrás, estava agora em ruínas, reduzido a um monte de tijolos indistintos e sob uma nuvem omnipresente de poeira que sufoca a cidade, sem água nem luz. Transformou-se este álbum num tributo, quando começara como uma celebração de vida e exotismo. As imagens que o constroem não existem mais. O Nepal voltará a erguer-se, cambaleante. Encontrará a força dos Gurkhas e olhará para cima para encontrar ânimo, deixando as oferendas nos poucos templos que sobreviveram.

Namaste Capa: Mikhail Bravo

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Freespirit Adventure

Beni 0 0 3 0 0 kms

Dhampus 0 0 3 7 0 kms

O nome deixa a promessa. Peter Francon é o zelador dessa promessa que antecipa o ar fresco dos Himalaias, o bater ritmado da Royal Enfield e os sorrisos das gentes no Nepal. Inglês de origem, vive no Nepal há quase 20 anos,

seduzido pelo lado feminino deste país. A sua empresa Free Spirit Adventure organiza com sucesso viagens no Nepal, Tibete e Índia usando a sua frota de motos. Ram Pradham, nascido em Macau e criado em Kathmandu, é o seu braço direito

e o esquerdo também, sempre que é chamado a intervir para trazer a engenharia indiana de volta à normalidade. Ambos falam a língua e estreitam a relação que vamos todos construindo com os locais, nas histórias que ouvimos.

Pokhara 0 0 4 0 0 kms

Bandipur 0 0 1 5 0 kms

Tansen 0 0 5 5 0 kms

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Kathmandu 09.MAI.2014 0 0 0 0 0 kms

Nagarkot 0 0 9 5 0 kms

Bakhtapur Bajrabarahi 0 0 8 5 0 kms

Lalitpur “Patan”

Hetauda

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Overland


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Ram oferece-se para tirar a foto à chegada a Dhampus, sacrificando-se à imortalidade. Da esquerda para a direita, de cima para baixo: Peter Francon (tour leader), Tom Miles, eu, Caryl Jones, Pad Tyson (Overland Magazine), Jim McBride, Richard Muchmore, David Pickering and Mikhail Bravo.

A pandilha O grupo foi reunido pela Overland Magazine e a Freespirit Adventure para a viagem ao Nepal Central.

Uma imagem que retive sintetiza bem o que é o Nepal. Paro junto a uma aldeia, e do outro lado da estrada, uma menina dos seus 8 anos espera o autocarro, decrépito e sem cintos de segurança ou controlo de emissões poluentes, que a levará à escola. Deverá ser das poucas que têm a sorte de poder ir à escola, especialmente sendo rapariga. Veste o uniforme do colégio, composto pela saia e gravata azul-escuras e uma camisa azul clara. As duas tranças caem-lhe sobre os ombros, com grande aprumo. O sorriso parece genuíno e não passa

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despercebido. Ali, naquele momento, é a imagem de tudo o que é o Nepal: simpatia, hospitalidade, beleza, simplicidade. Composto este quadro angélico, eis que a rapariga faz um som gutural, arranha a garganta e, indiferente, cospe com vontade para o chão. O Nepal tem um lado rude e original, em bruto. Como os diamantes.


PT

MB

Peter

MB

Tom

Peter decidiu adoptar Kathmandu e o Nepal como a sua cidade, onde casou e tem uma filha. Isso não o impede de viajar pelo mundo de moto, desde África à vizinha Índia, com o ocasional regresso às origens, em Inglaterra.

Advogado reformado, Tom optou por dedicar muito do seu tempo a viajar pelo mundo de moto. Opta por este formato invariavelmente, escolhendo um promotor de viagens organizadas em destinos que procurava desde há muito.

A sua descontracção é contagiante e ajuda todos quantos o envolvem a disfrutar da viagem. O seu à-vontade com o nepalês abre portas e evoca os antigos exploradores britânicos.

É o mais reservado dos elementos do grupo. Apenas o ouvimos para tecer comentários oportunos e de alguma forma todos paramos para o ouvir. A ideia e algum peso excessivo anteciparia maiores dificuldades em suportar a dureza de alguns dos dias, mas o itinerário é bastante simples e as etapas curtas. Tom foi a “vítima” de um travão de tambor traseiro da sua Royal Enfield boloquear, deixando uma longa derrapagem marcada em plena curva cega numa estrada de montanha.

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Caryl Caryl decidira juntar-se à pendura, não resistindo aos desafios de Paddy e Peter. Acabou por viajar com vários do grupo, desde Ram a Paddy. A sua natureza reservada e pouco faladora não se impõe numa conversa. Começou a ganhar a descontracção suficiente para a levar a tirar fotografias em andamento.


MB

MB

Paddy Paddy e Peter haviam já viajado juntos. Eu conhecera Paddy à distância, depois de propor uma colaboração cruzada entre as nossas revistas de viagens de moto. Paddy partilhou com a TREVL uma viagem pela Guatemala, num texto que revela a sua forte inspiração contestatária pelos movimentos de ordem social. A sua Overland Magazine viajara com a Freespirit Adventure até ao Tibete no ano anterior, onde sofrera bastante com a altitude e ainda mais com a frustração de sentir a tirania chinesa no território.

Jim De Jim lembramo-nos facilmente de 3 coisas: Uma alegria e extroversão como se vê na imagem escolhida acima; a quantidade de cervejas e as alturas do dia mais inusitadas para as beber, nomeadamente ao pequenoalmoço; e o facto de ter encurtado a viagem a dois dias do final com a trágica notícia da morte do seu irmão mais novo. Fiquei com a sensação que a sua procura da cerveja seria uma forma de “afogar” a preocupação constante com o débil estado de saúde anunciado do irmão.

Cresceu com as motos, partilhando passados com Dan Walsh ou Chris Scott enquanto estafetas em Londres. Esteve a viagem toda incansável a tentar encontrar os pontos de vista para a fotografia certa, acelerando até lá à frente, apenas para o descobrirmos pendurado de uma árvore ou escondido entre rochas.

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Richard Quando me juntei a Richard no Hotel em Thamel, na capital, acabava de regressar de um passeio de BTT pelas encostas coladas à cidade. Revela-me então que a altura mais aventureira havia sido a travessia da cidade, por entre o caos de trânsito que rapidamente se revelaria a todos nós. Nos últimos dias, apenas Richard sucumbira à tentação de visitar as cidades imperiais envolventes de Kathmandu. Atleta confesso, rapidamente embarcou em chegar comigo a Patan a pé, atalhando caminho por entre a cidade.


PT

David

Mikhail

Ram

As histórias de David, relatadas em final de dia ou nas pausas para comer algo à beira da estrada, foram uma constante. O seu passado de militar levara-o a viajar por todo o mundo, com um historial de viajantes na família a fornecer material inesgotável para as conversas.

Michael foi com quem desenvolvi uma relação mais próxima, em boa parte por partilharmos os quartos duplos ao longo da viagem, pelos quais foi deixando pequenas matrioskas como prenda. Para além de Ram, seríamos também os únicos do grupo não britânicos. O seu nome revela a nacionalidade russa e origem judaica com ancestrais ibéricos, curiosamente. O seu conhecimento parece infinito, sempre capaz de nos surpreender com detalhes oportunos sobre o que nos envolve ao longo da viagem, desde a intrincada linhagem divina hindu à técnica de fotografia. As suas fotografias seriam publicadas em ambas as revistas, tendo desafiado-o a preparar um artigo para a TREVL sobre uma das suas paixões: as técnicas de sobrevivência em contextos adversos, sendo um dos membros de um grupo de Resgate e Salvação em São Petersburgo. Sem dúvida, um amigo que ficou para além do Nepal.

Nascido em Macau, Ram é o braço direito de Peter, coordenando a equipa de assistência mecânica e de toda a logística de dormidas e refeições.

David prepara a sua grande viagem de moto numa Honda CRF250L a quem chama de “Petit Rouge”. Investiu alguma energia em adaptá-la à dureza do projecto de viagem pela Europa de Leste, Ásia Central, Rússia e China.

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A sua simpatia e boa disposição é indiscutível. Em Kathmandu, empresta-me a sua Pulsar para conhecer as cidades imperiais envolventes.


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Autonomia O depósito tem o tamanho certo e para ligações mais longas um pequeno jericã resolve.

154.000

Rs

Carga Com uma estrutura metálica as duas malas laterais de 35L mais o saco de depósito chegam e sobram. O banco do pendura, quando vago permite atravessar muita tralha. E quanto mais peso mais estável a Bullet fica.

Conforto O conjunto é pesado o suficiente para amortecer os buracos da estrada e dá estabilidade. Não há protecção do vento mas as velocidades que convida a fazer são baixas.

~€ 2.000

Pendura Confortável pecando apenas por não ter pegas laterais. A posição é ergonómica, pasme-se.

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royal Bullet 500 EFI

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enfield


A montada Porque na selva não se anda de fraque. Pelas estradas do Nepal vai saltitando de buraco em buraco, curvando apenas porque as velocidades são as que o terreno permite, ou recomenda. As imagens que os espelhos retrovisores devolvem fazem lembrar a última grande bebedeira e tudo sai a dobrar, tamanha a vibração. O som é gutural, próximo de uma bobber. O rodar do punho solta rugidos mas sempre grandes entusiasmos ou repelões.

Tecnologia indiana Não há controlo de tração, ABS, cruise control. Que raio, nem conta-rotações. Arrancar com o descanso lateral armado é possível pois essa tecnologia continua a escapar aos engenheiros indianos.

Peso = conforto O peso do conjunto dá-lhe a estabilidade que o desenho lhe negou. Resulta que se viaja em conforto mesmo quando a estrada desaparece. É uma moto que se precisar de se desviar de um camião e subir pela berma de lama e terra, fá-lo em segurança.

Peça que passa Estas Bullet lentamente vão passando os desafios que a falta de manutenção para as estradas nepalesas lança. A frente foi alterada e contamos com uma roda de 21’’ que ajuda a passar pedras maiores.

O modelo que conduzimos no Nepal de injecção electrónica (EFI) e travão de disco à frente é o mais avançado que se consegue da fábrica indiana neste subcontinente. Ao primeiro contacto a direcção parece vaga, demasiado. Solavancos mais fortes acompanhamse de um baque forte na mesa de direcção. Rolamentos gripados. Ainda antes de arrancar, salta o selector de mudanças (que funciona com duplo braço: à frente sobe, atrás desce), resolvido abrindo a caixa, com a ajuda do martelo, ferramenta oficial da marca. Mais à frente a vibração e ressaltos trazem o aroma da gasolina, pois o tubo do combustível salta também. Lá atrás a roda bloqueia-se quando o travão de tambor traseiro cede. Ligamos as luzes e o motor calase: um fusível apenas, mas o problema que o causou aind apor lá anda. São muitas as avarias e peças que vão falhar numa viagem com esta moto.

Escolha sensata Fará sentido escolhê-la para uma viagem no Nepal, India ou mesmo Tibete? Claro que sim. Porque em cada esquina há um mecânico que sabe onde “martelar” e as peças de substituição desencantam-se facilmente. E o carisma também conta: a sensação é de viajar no tempo como se estívessemos aos comandos de algo que o Tintin conduziria na aventura pelo Tibete

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Apanhamos as motos já bem perto de Bandipur, seguindo numa carrinha até lá.

Bandipur 0 0 1 5 0 kms

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O encontro do grupo foi na capital em Kathmandu, na zona de Thamel.

Prithvi Highway

A uns escassos 50 kms de Kathmandu esperavam-nos as nossas Royal Enfield para as próximas semanas. Para percorrer uma distância de 100km são precisas 2 a 3 horas. A natureza acidentada da paisagem e terrenos do Nepal não facilitam a vida quando se pretende criar novas estradas ou mesmo mantê-las. Os primeiros carros no vale de Kathmandu foram transportados às peças à força de carregadores, curiosamente numa altura onde não havia sequer combustível. Como então, a preciosa gasolina escasseia no Nepal. Ao longo da viagem os tanques das bombas de combustível por todo o Nepal começam a ficar vazios e são raros os que ainda conseguem ter algumas gotas. O circuito de abastecimento desde a Índia é atribulado e os desvios são frequentes, a juntar ao facto da empresa petrolífera Nepalesa ter enormes dívidas com os fornecedores indianos. As filas nas poucas bombas de combustível que ainda têm algo são frequentes e longas

Kathmandu 0 0 0 0 0 kms

bandipur wonderful

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Bandipur O caminho até Bandipur é feito em curvas por entre a floresta, numa estrada de montanha.

A aldeia, essa faz-se a pé e tudo o que tenha motor fica lá fora. É uma terra fora de série em todo o Nepal. No alto do monte cimeiro da aldeia um templo promete um nascer do Sol com vistas sobre o acidentado vale que envolve Bandipur. Lá em baixo as crianças brincam no pátio da escola; treinam em conjunto os movimentos aprendidos do karaté, e o que começara em grande disciplina de arte marcial acaba em regabofe enquanto se filmam com as nossas câmaras. Em vez dos hotéis, as famílias recebem os visitantes em suas casas. Abremlhes as portas e oferecem a comida, servida à luz de 2 velas numa cozinha que é a sala de estar da família. Bindra, uma jovem nepalesa de 16 anos, é a nossa anfitriã. A mãe cozinha, incapaz de conversar connosco por não falar inglês e o nosso nepalês ser ainda pior. Preparou-nos Dal Bhat, o mais nepalês de todos os pratos, porventura: servido numa bandeja, o arroz branco e o caldo de lentilhas são acompanhados de

legumes salteados e um caril, todos em pequenas malgas metálicas. Termina com iogurte, a única porção comida com talheres. Quando a electricidade regressa, Bindra liga a luz, apenas para a voltar a desligar a nosso pedido, preferindo o ambiente acolhedor e envolvente que a ténue luz da vela nos dá. As últimas horas da noite ainda são de trabalho para as costureiras da aldeia. As portas abertas de par em par constroem um quadro onde a figura central, iluminada pela vela, se debruça sobre a máquina de costura. O seu bater ritmado é o único som que ousa perturbar o silêncio da aldeia. Na manhã seguinte, juntam-se para abençoar a viagem. Mães e filhas desenhadas na pureza das feições asiáticas, vestem-se de cores alegres e sorrisos contagiantes. Por baixo do capacete, levamos connosco a marca na testa e uma pequena flor presa no saco de depósito

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Mesmo quando a luz do dia se apaga, e enquao a eletricidade ainda brota das tomadas, a costureira aproveita.

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Na escola da Bandipur, entrego a câmara para as mãos do miúdo na última foto, que se entreteve a filmar os amigos durante uma aula de artes marciais.

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A estrada até Bandipur é ladeado de árvores, sempre a subir até bem lá em cima.

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Prithvi Highway

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Bandipur 0 0 1 5 0 kms


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O fim da estrada Uma cidade no final da estrada

A estrada desde Baglung até Beni é feita em final de dia, debaixo dos únicos pingos de chuva da viagem. O piso esburacado desafia a pesada Royal Enfield que se comporta à altura, não sem antes revelar que os rolamentos da direcção haviam desistido. Uma “thukpa” (sopa) de lentilhas serve de almoço junto à estrada, sempre demorado ao ritmo possível que um bico de fogão permite para cerca de uma dezena de bocas. Beni é uma cidade cinzenta e desinteressante no final da estrada. Decido percorrê-la a pé acabando por encontrar uma festa na rua. Os músicos procuram a sombra, sentando-se nos pequenos poiais junto ao passeio. De quando em quando, erguem-se e começam a tocar. Olho em volta para tentar descobrir o que se irá passar. Entretanto termina a música e regressam aos seus assentos. A rotina repete-se várias vezes, sempre

sem revelar nenhum acontecimento especial. Talvez por isso apenas me tenha apercebido do noivo que sai do edíficio em frente e entra num carro enfeitado com cordôes de flores. Depois de alguma agitação, a banda segue o carro pela rua principal de Beni, enquanto os convidados e familiares dispersam tomando autocarros. Deixamos Beni pela mesma estrada do dia anterior. Como é possível que seja tão diferente? Apenas mudou a hora do dia e o sentido em que a fazemos. As paisagens ao longo do rio revelaram-se entusiasmantes. Reencontro os convidados espalhados pela estrada com ar impotente de quem apenas resta esperar. A fila de carros ao longo da estreita estrada começa onde terminara a resistência mecânica do eixo traseiro da camião que bloqueia todas as ligações a Beni

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Estrada esburacada entre Beni e Baglung

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CerimĂłnia de casamento eminente nas ruas de Beni

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A nossa anfitriã no hotel em Beni

Música para anunciar os noivos.

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A festa terĂĄ de esperar pelos convidados

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Kathmandu 0 0 0 0 0 kms

dhampus peaceful

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Dhampus A lua cheia ilumina Annapurna que nos entra pela janela do quarto e embala.

O caminho para chegar a Dhampus é difícil e conquista-se de faca nos dentes. E ainda bem. Talvez por isso se preserve esta aldeia Gurung e nos permita sentir toda a sua força, graças à sua reclusão. Nos relvados enquanto esperamos pelo jantar demorado na cozinha de Tara encontramos sanguessugas depois da tempestade que nos deixa ser electricidade o resto da noite. Enxotadas as nuvens revelam-se os cumes dos Himalaias: Annapurna e “Fishtail”, reflectindo a luz da grande lua cheia. Para convidar a ficar mais um pouco lá fora, acende-se uma lareira debaixo de um pequeno telheiro circular no amplo terraço sobranceiro à cordilheira nevada.

Na manhã seguinte, Ram acorda-nos bem cedo às 5 para que não deixemos escapar o nascer do sol sobre a montanha. Acordar cedo deu-nos a manhã para percorrer ao ritmo de cada um as estreitas ruas empedradas de Dhampus, que ali estava apenas para nós. O ocasional avião sobrevoa em direcção às montanhas. Mais nada parece perturbar a calma e interromper a introspecção que aquela combinação convida. Partimos com a benção local. Ato o lenço vermelho oferecido no guiador e apenas o tiraria no final da viagem, para guardar na mala e trazer comigo para Portugal

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Vista matinal desde a aldeia de Dhampus

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Um passeio bem cedo pelas ruas de Dhampus

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Pokhara Em honra de Brahma, Shiva e Vishnu

Tomamos o mesmo caminho de volta ao vale do Rio que nos levará à Pritihivi Highway, nome pomposo para um estrada onde um autocarro se raspa num camião sempre que se cruzam. Na moto prendi com dois nós o lenço da benção que nos deram em Dhampus. O seu vermelho vivo acompanhar-me-ia nos demais dias, ao vento como as bandeiras de oração budistas.

No cimo do monte de Baglung são os hindus que aí rezam, nos templos de Brahma (o “Criador”), Shiva (o “Destruidor”) e Vishnu encarregue de preservar a criação. Não são apenas 3 os deuses hindus e ninguém arrisca dizer quantos são no total. Os símbolos budistas vêem-se também em algumas decorações dos templos hindus e em vários aspectos, como a reencarnação, as duas religiões aproximam-se.

A caminho de Pokhara decidimos parar num campo de refugiados tibetanos, onde uma comunidade budista vive como não pode no seu país vizinho, agora região autónoma chinesa com fortes restrições religiosas e de liberdade de expressão. Tudo isso parece passar ao lado das crianças que rodopiam com o enorme cilindro de oração, na pequena casa junto ao templo. As risadas e o sino vão e regressam em cada volta, com as crianças penduradas. Não parecem orações mas tem ar de serem boas para a alma.

Pokhara chega rápido para revelar uma cidade desenhada a pensar no caminhante cansado que tem saudades dos confortos ocidentais mas é demasiado orgulhoso para o admitir. Todos os agentes de viagem têm uma loja aqui e os serviços multiplicam-se desde as mais habituais descidas de rio (“White water rafting”) às mais bizarras como “ParaHawking”, uma espécie de parapente com falcões (?!) à mistura. Alugamos uma canoa movida a remo para atravessar o lago e subir o monte encimado pelo World Peace Pagoda

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Templo budista Jangchub Choeling Gompa

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Vista do lago Phewa Tal na caminhada até ao World Peace Stupa.

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Siddhartha Highway

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Beni 0 0 3 0 0 kms

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Pokhara 0 0 4 0 0 kms

Bandipur 0 0 1 5 0 kms

Tansen (Palpa) 0 0 5 5 0 kms

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Butwal

Mahendra Highway

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Sauraha Majestosa, a elefante de cara pintada em traços azuis, espreita-me no desenho cuidado que lhe percorre a enorme cabeça.

Sauraha chega como tantas outras aldeias no Nepal, circulando pela estrada de terra ladeada de pequenas casas térreas, com a ocasional venda de garrafas de água e bebidas. Mas aqui há algo diferente nas ruas; algo que de tão grande cobre o Sol; algo que se move com a majestade que todos respeitam e reconhecem. Transporte de eleição de Reis e Marajás em procissões de opulência e poder, hoje estão aqui ao meu lado. E o Tempo no Nepal parece voltar a deformar-se. Eu apresso-me a parar a Royal Enfield, tirar a máquina, preparar a fotografia. Enquanto isso, em pano de fundo, o magnífico animal cinzento move-se em câmara lenta, como se eu tivesse usado um controlo remoto para que tenha tempo de ver

tudo. De ver que tem a cabeça pintada a traço azul. De ver que apenas traz um pequeno homem em cima dele, escondido nas orelhas de Dumbo que abana para enxotar as moscas e o calor dos 43°C. A foto lá sai, atabalhoada e trapalhona. Mas o momento ficou e acabo por desistir de aprisionar a imagem. Prefiro ficar a olhar, hipnotizado em cada passo majéstico deste gigante dócil. Rinocerontes brancos, tigres e veados vistos desde cima de um elefante asiático é algo que não se encontra todos os dias. A não ser que se viva no Parque de Chitwan; aí os esforços para preservar a vida selvagem da face negra dos caçadores furtivos estão agora a começar a dar frutos

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Entrada para o nosso hotel em Sauraha, Jungle Nepal Resort.

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Os dois rinocerontes indianos, mĂŁe e filho, pastam indiferentes aos elefantes que a seu lado nos carregam.

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O passeio em cima do elefante ($15) ĂŠ uma das poucas formas de entrar na reserva natural de Chitwan e porventura a melhor de ver os rinocerontes.

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Na maternidade de elefantes presenciamos a uma visita de um elefante selvagem (“bull”) que não é impedido e leva sua avante com as fêmeas receptivas... é assim uma espécie de “bullying”.

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O banho com os elefantes ($1) ĂŠ algo imperdĂ­vel, mesmo sendo obrigados a usar um colete salva-vidas.

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Durante o passeio da tarde combinámos com Sham para uma sessão de fotografia junto ao rio no final de dia. Não apareceu e improvisámos com os que por lá estavam.

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Bajrabarahi 0 0 8 5 0 kms

Mahendra Highway

Hetauda

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camping


Na fogueira À volta da fogueira as raparigas e rapazes órfãos nepaleses juntam-se para nos receber. Come-se e canta-se e, por momentos, esquece-se a condição.

À chegada durante a tarde à aldeia enche-se de gente vinda de todas as povoações e ajuntamentos envolventes. Apenas as motos conseguem circular na estrada. Abandonamo-las na berma e descemos o talude para descobrir o que a poeira esconde. Dança-se, canta-se e vende-se de tudo um pouco. Os espectáculos são fáceis de dar por eles: uma roda gigante de gente, procura ouvir as histórias contadas por um velhote que as rugas da cara engoliram os olhos, enterrados nos anos que as palavras recuperam. Mais à frente alguém encena uma pequena peça coreografada. Entre elas, estenden-se mantas e lençóis sobre os quais se espalham de alguidares a artesanato, cassetes e CDs de música, incenso e colares. As mais novas experimentam-nos entre risos enquanto os mais velhos compram

tabaco, vendido à unidade ou em molhos. Acampamos no centro cristão. Espera-nos uma mão-cheia de caras sorridentes e acolhedoras, numa pequena comunidade de orfãos e filhos nepaleses de zonas carentes. Recebemnos com galinha assada, Dahl Bat e banana frita. Muita. Demasiada, aliás. A noite chega muito fria e no interior das tendas adormecemos. Na manhã seguinte, Jim deixa-nos. Recebera uma notícia devastadora: o seu irmão mais novo morrera em Inglaterra. Ram acompanha-o para um regresso prematuro a Kathmandu e apanhar o primeiro voo para casa

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Dhampus 0 0 3 7 0 kms

Pokhara 0 0 4 0 0 kms

Bandipur 0 0 1 5 0 kms

Tansen 0 0 5 5 0 kms

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Nagarkot 0 0 9 5 0 kms

Kathmandu 0 0 0 0 0 kms

Bajrabarahi 0 0 8 5 0 kms

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Dhampus 0 0 3 7 0 kms

Pokhara 0 0 4 0 0 kms

Bandipur 0 0 1 5 0 kms

Tansen 0 0 5 5 0 kms

Sauraha 0 0 7 2 5 kms

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Bodnath Nagarkot 0 0 9 5 0 kms

Kathmandu 20.MAI.2014 0 1 0 0 0 kms

Bakhtapur Bajrabarahi 0 0 8 5 0 kms

Lalitpur “Patan”

Hetauda

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Kathmandu A cidade tem demasiada gente e isso sente-se em cada esquina, em cada fôlego que se respira.

Quando se aterra no pequeno aeroporto internacional de Tribhuvan, percebe-se que 2071 não é no futuro. Os pequenos Suzuki Maruti brancos substituíram os antigos e algo decrépitos Toyota Corollas depois de largas décadas a servir de táxis. Estes são mais ágeis a aproveitar o pouco espaço que sobra nas congestionadas ruas de Kathmandu. Esgueiram-se entre as buzinadelas de um enxame de pequenas motas, chinesas e indianas. Das 110cc às 250cc são muitas as opções. São o produto de fábricas que começaram com as marcas que reconhecemos na Europa mas que, com o tempo, os indianos e chineses tomaram para si e são agora autónomos. Kathmandu não foge ao estereótipo da megalópole que cresceu depressa demais: 2.5 milhões encaixados num vale que não respira e se esconde debaixo de uma constante nuvem de poeiras e poluição. Quem cá

vive defende-se o melhor que pode, escondendo-se por detrás de máscaras para a boca e nariz. Vemo-las à venda em qualquer loja, perdendo apenas o top de vendas para as garrafas de água que tentam lavar a garganta. Longe vai a monção e com ela a água dos rios, sem a qual a sujidade e falta de infraestruturas torna o seu leito um depósito fétido de tudo aquilo que a cidade já não quer. Sobem-se as longas e íngremes escadarias do “Monkey Temple” (ou “Swayambhunath”) para encontrar a cidade que se revela grande, maior. A silhueta é indistinta, sem grandes monumentos em “bicos-dos-pés”; apenas muitas casas, cinzentas e a perder de vista. O contraste do branco exposto com as cores vivas das bandeiras penduradas sobressai assim mais. O templo é envolvido pelos devotos que circundam a sua base redonda. Passam a mão pelas das rodas de oração que termina no tinir do sino.

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O templo budista de Swayambhunath é um dos mais sagrados e património da UNESCO. Dali de cima abrem-se as melhores vistas da capital, desde que a poluição o permita.

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Os templos em Kathmandu estão por toda a parte e são parte integrante do quotidiano. Em redor deles vivem as famílias, deambulam as vacas, ladram os cães, consomem-se as chamas. Muitos deles são pequenos e quase passam despercebidos no movimento caótico das ruas. O riquexó que se demora, o Táxi que buzina para afastar a pequena mulher debaixo do gigantesco cesto de fruta. São muitos templos para ainda mais deuses. A maioria dos Nepaleses são Hindus

como a vizinha Índia, seguidos dos Budistas. O Nepal desde sempre foi um local de encontros de rotas, povos, comércios. Talvez por isso saibam receber tão bem, e tenham uma tolerância à diversidade fora do comum. A noite chega cedo à cidade. Às 10 já nenhuma loja está aberta, enquanto os condutores dos riquexós se preparam para passar a noite aninhados no pequeno banco onde durante o dia

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se sentam os clientes. Calam-se os geradores a gasóleo até às 6 da manhã, altura em que a rede eléctrica se desliga. As ruas começam a ficar desertas e deixam-se de ouvir as buzinas


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Autonomia O depósito é pequeno, mas a sede deste bicharoco é ainda menor. Quando se muda para a reserva ainda tem 100kms para dar... ah pois... 50kms por litro dá uma autonomia de 750kms.

Conforto Pensei como teria sido a viagem de 2 semanas usando esta moto e não me vejo a ficar dorido nela.

Rps

Carga Das inventivas barras de protecção pendura-se de tudo. Não parece haver limite para o que se equilibra em cima das Pulsar.

67.000

~€850

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Pendura No subcontinente indiano os bancos de pendura são mágicos: levam 2, 3 ou mesmo 4. O que não quer dizer que seja confortável para nenhum dos 5.


pulsar Bajaj 150

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Mais uma na colmeia Para onde quer que se olhe na cidade, há umas dezenas de Pulsar. A missão era clara: três dias à volta de Kathmandu para visitar outros tantos locais património mundial da UNESCO, para além de Durbar Square da cidade: Bodnath, Bakthapur e Patan. Durante 2 semanas a Royal Enfield havia sido o meu corcel para percorrer as estradas do vale de Kathmandu, mas cidades asiáticas de 3 milhões são outro habitat. O trânsito é dominado por uma espécie mais pequena e barulhenta. Não pelo motor; esse nem o ouvimos e muitas vezes somos enganados a pensar que se foi abaixo. Barulhenta sim, porque vem equipada com um acessório vital: a buzina. Se este avaria, mais vale encostar a moto e tentar outro dia. 150cc chegam até porque se quer algo leve e que caiba nas ruelas e que delas

consigamos sair quando terminam num beco sem saída. Porque uma moto pequena consegue passar entre os riquexós, pessoas, camiões e autocarros. Feita na Índia na fábrica da Bajaj, esta pequena Pulsar é uma grande mudança. O selector das velocidades pode ser accionado com a ponta do pé ou o calcanhar. O primeiro sobe uma mudança a cada toque para baixo, e o segundo ao contrário. Vemo-las aos milhares em todo o lado, como veículo familiar também. Gasta perto de nada o que dá especial jeito num País onde a falta de gasolina é frequente. Ninguém dispensa as protecções de ferro (que mais parecem um arado) e nas quais penduram-se os sacos de compras, coisas e loisas

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Patan A antiga cidade-estado de Lalitpur é uma das concentrações de templos mais impressionantes do Nepal

Andar pelas ruas e sentir-se envolvido neste ambiente torna-se uma aberração quando somos forçados a usar um colar com um folha cor-derosa pendurada que diz em grandes letras: “Tourist”. É assim Patan, a cidade onde andar custa 500, entrar em qualquer sítios outros tantos, e fazer o quer que seja mais ainda.

Das 3 religiões dominantes no Nepal, os templos do Hinduísmo, Budismo são ofuscados pelo Turismo. A envolvência, por muito excepcional que possa ser, rapidamente se torna execrável e a minha vontade foi sair dali o mais depressa possível. Que a dimensão deste texto seja um reflexo desse desagrado

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Bhaktapur No regresso de Nagarkot, passamos em Bhaktapur, uma das 3 antigas cidades-estado. Nesse dia o grupo decide ver a antiga cidade-estado. Eu adio para o dia seguinte, por preferir o meu ritmo e achar que Bhaktapur merece melhor atenção e as pausas contemplativas que e quando me derem na gana. Na moto emprestada de Ram venço o trânsito matinal de Kathmandu para lá chegar. Sobre o depósito da pequena Bajaj levo o porta-mapas apenas com o telefone a fazer de GPS. Estaciono junto à escadaria que cresce até uma das principais portas da cidade. Mal se entra abre-se uma praça onde o mercado se instala. É ainda bem cedo e os pátios e ruas são dos locais e dos que escolheram ajuizadamente dormir aqui. É precisamente no final e inícios de dia que Bhaktapur é mais genuína, onde se fazem as orações e se despacham as compras nos vendedores de rua. Pelas ruas anda-se livremente, pelo meio das mulheres que batem o trigo contra a pedra gasta, enquanto sustemos a respiração para evitar

os pós do cereal. Espalham-no pelos pátios frescos. O ar aqui é bem mais limpo que na capital. Se nos mantivermos a uma distância respeitável do rio partilhado com Kathmandu, é mesmo respirável. Também aqui a cidade volta as costas ao curso de água, fétida, suja e carregada de lixo. É para onde tudo o que já não se quer, e o rio responde agressivo de volta como uma criança que “prende o burro” enquanto diz “Pois eu também não gosto de vocês”. Bem junto ao rio Hanumante, sentome nos jardins da escola de música da universidade onde se ouvem os instrumentos numa distonia estranhamente agradável. Demoro-me pelos templos, sentado à sombra entre as crianças e velhos, sempre aos pares. Dão as mãos como um sinal de amizade e deixamnas ficar. E dali se cima, sopra um vento limpo e fresco. É assim a surpreendente Bhaktapur: imperdível

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Bodnath A maior stupa de toda a Ásia está ali, a alguns kms de distância. Monto-me na pequena Bajaj, bem cedo, e ponho-me a caminho. Na enorme cúpula branca desenhamse arcos amarelos, debaixo do olhar atento de Buda a partir da torre alta que serve de centro. Em volta dele perdem-se no tempo os círculos descritos pelos crentes e curiosos. Sempre no sentido dos ponteiros do relógio, como se foramos uma das muitas rodas de oração, incansáveis e polidas pelos dedos da humanidade. Dou por mim a imaginar se um dos vendedores das lojas envolventes precisar de algo do vizinho à sua direita, será que tem completar uma volta completa para honrar o ritual ou arriscará desafiar os ensinamentos? Eu sei que hesitei entrar num pequeno templo e quando quis voltar uns passos atrás, detive-me e dei mesmo a volta completa. Afinal, com o kharma não se brinca.

Este é dos poucos locais onde o Budismo Tibetano é praticado livremente. As lojas em volta reflectem isso mesmo, oferecendo manteiga de iaque, trompas ceremoniais, tímbales e farinha de trigo, componentes essenciais da vida e ritual budista tibetana. No tempo da velha senhora, este era um entreposto na rota de comércio entre Lhasa e Kathmandu, onde aqui se faziam as orações para pedir uma viagem segura nas travessias dos Himalaias, para si e para as caravanas de iaques. Hoje serve de refúgio para os monges budistas tibetanos fugidos da China

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Vista nocurna dos Himalaias desde Dhampus

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Nepal Overland

Uma edição


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