NotiFax de 30 de Abril de 2009

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Caracas, Venezuela * Ano IX – Época II * 30 de Abril de 2009 RIF: J301839838

Fernão Lopes: de vilão a cronista real e “Pai da história portuguesa”! Quando é que nasceu Fernão Lopes? Talvez entre 1378 e 1380. Quando é que morreu? Pensa-se que por volta de 1460. Que não se saiba ao certo a sua data de nascimento, fazemos um esforço e entendemos. Quando veio ao mundo era um vilão como muitos outros e ninguém sabia que seria dele no futuro. Mas quando partiu para sempre era nem mais nem menos do que o cronista geral do reino. Não deveria alguém ter anotado em lugar seguro a data do seu passamento? Robert Southey, citado por Audrey Bell, professor inglês bastante conhecedor da literatura portuguesa e espanhola, afirma que foi “o maior cronista de todas as épocas e nações” e não parece ter exagerado. Não resta alguma dúvida de que este vilão, provavelmente nascido em Lisboa – famosa amtre as cidades – historiou de forma impecável e saborosa os reinados de D. Pedro I, D. Fernando e D. João I, neste caso só cobriu duas das três partes do estudo porque foi surpreendido pela morte. Continua a monumental obra Eanes de Zurara. Dos primeiros 40 anos da vida de Fernão Lopes nada se conhece. Nem dele nem da sua família – era vilão, não esqueçamos. Sabemos, porém, que sendo tabelião de profissão, em 1418 já era guardião-mor das escrituras da Torre do Tombo. Chegou à corte pela mão de D. Duarte, quando este era ainda infante. Posteriormente, seria empregado de D. João I e do infante D. Fernando, “em cuja casa ocupou o importante posto de escrivão da verdade”, posição que correspondia, entre a alta nobreza, ao cargo de maior confiança pessoal. Os seus serviços às casa reais foram tantos e tão elevados que recebeu o título de “vassalo do rei”. Fernão Lopes, que pertenceu à geração que se seguiu àquela que viveu o cerco de Lisboa e à da Batalha de Aljubarrota, pôde ainda viver a turbulência dos anos seguintes até ao acabar da guerra com Castela (1411). Desta forma, conheceu pessoalmente figuras como o Condestável e D. João I, assim como a Lisboa que se levantou em armas contra D. Leonor Telles. Teve uma vida longa, que atravessou os reinados de D. João I, D. Duarte, D. Pedro e D. Afonso V, neste caso só parcialmente. “Conheceu muitas alterações sociais. Ao rei eleito e popular, D. João I, viu suceder um rei mais dominado pela aristocracia, D. Duarte; viu crescer o poder feudal dos filhos de D. João I”, assistindo deste modo a recuperação da nobreza, cujo predomínio tinha sido estremecido pela crise da independência. Entre muitos outros eventos marcantes da nossa historia, teve ainda a


oportunidade de testemunhar o começou da epopeia do ultramar e viu o filho, médico do infante D. Fernando, morrer no cativeiro de Marrocos. Uma vida dilatada a atravessar um período particularmente agitado da nossa história. No dizer de Alexandre Herculano, Fernão Lopes “adivinhou os princípios da moderna história” e os especialistas coincidem em afirmar que o fez com um estilo que representa uma “literatura de expressão oral e de raiz popular”. Não estranha. Era um vilão, de família mesteiral, e não tinha formação académica. Era autodidacta. Ele foi a expressão do saber popular, ainda que num tempo onde começava a aparecer o saber de pendor académico e classicizante. Foi um investigador incansável, de “muito cuidado e diligemçia” para que os factos fossem “breve e saãmente contados”. Dizia dos seus textos que não se esperasse encontrar neles “formosura das palavras” mas sim a nudez da verdade. Como escreveu o já referido Audrey Bell num apontamento sobre a sua vida: “A todas estas qualidades deve acrescentar-se aquela sem a qual o bom historiador produzirá apenas obra sem vida: o fervor, o entusiasmo e o sabor pitoresco que sobreviveram a todo o seu trabalho e o acompanharam na velhice.”

* 25 de Abril em Caracas... Dois momentos altos tiveram as celebrações da Revolução dos Cravos em Caracas. No dia 22 foi a Radio Arcoense a lembrar a importância da data com um acto no Centro Cultural Transnocho com uma gala que incluiu intervenções de Isabel Pedroso, Cônsul-Geral de Portugal; Elizabeth de Freitas, fundadora da página Hijos de Portugueses Nacidos en Venezuela e de Milú de Almeida, Conselheira das Comunidades. O encontro terminou com a apresentação do documentário Hacedores de Nostalgia, do realizador Ernesto Pérez Mauri, que nos fala do drama pessoal que é a emigração. Fá-lo nas vozes de vários emigrantes espanhóis, italianos e portugueses, especificamente madeirenses, já regressados aos seus países de origem, após longos anos no estrangeiro. A projecção do filme foi seguida de uma sessão de perguntas e respostas com o director do documentário e João da Costa L., do Instituto Português de Cultura. Dois dias mais tarde, na noite de 24 – quando em Portugal já era 25 – o Salão Nobre do Centro Português de Caracas (CPC) abriu as suas portas para a jornada organizada pelo IPC, a qual arrancou com Grândola, Vila Morena, interpretada pelo Quarteto do IPC e coreada pela assistência. A seguir foi a vez de que a coral do CPC interpretasse A Portuguesa. De registar igualmente a simpática participação de duas crianças do ballet, que desfilaram com um dístico sobre o evento. João da Costa L. pincelou depois o carácter repressivo do Estado Novo e sublinhou a importância do 25 de Abril no campo da cultura. A Coral do CPC voltou ao palco para cantar algumas canções populares portuguesas e finalmente Mário de Bastos, do IPC, que fez de mestre de cerimónias, anunciou a exibição do filme Fados, do espanhol Carlos Saura, que com esta obra completa a trilogia iniciada com Tango e Flamengo. No final da projecção, os assistentes, emocionados com essa visão foránea sobre o fado, aplaudiram o filme de pé, num tributo ao talento do realizador e dos participantes no filme.

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* Lobo Antunes: texto em The New Yorker Na mais recente edição de The New Yorker pode ler-se um extenso texto do crítico Peter Conrad sobre o autor de Esplendor de Portugal, livro onde Lobo Antunes passa revista a um passado glorioso mas não poucas vezes brutal. No seu trabalho, sob o título Doutor e Paciente, Conrad debruçase sobre a obra de Lobo Antunes e também sobre a de José Saramago estabelecendo comparações que, para alguns, poderiam ser motivos para longas discussões sobre as respectivas obras e a sua importância no panorama da literatura portuguesa contemporânea. Vejamos o que aparece em The New Yorker: "Tal como partidos políticos ou equipas desportivas rivais, têm adeptos barulhentos e os que gritam por Lobo Antunes afirmam que ganhou o Nobel o homem errado. O próprio Lobo Antunes, aparentemente, concorda: quando The Times lhe telefonou a pedir um comentário sobre a vitória de Saramago, ele resmungou que o telefone estava avariado e, abruptamente, desligou-o". Peter Conrad chama ainda a atenção para a recorrência de temas como a Guerra Colonial e a psiquiatria em Lobo Antunes, por contraste com a "universalidade" de Saramago. The New Yorker, fundada em 1925, nasceu originalmente como uma revista de orientação conservadora mas é hoje considerada liberal, segundo os padrões estado-unidenses. É uma publicação de referência que conta com mais de um milhão de assinantes. A sua influência estende-se para além de Nova Iorque e circula principalmente entre círculos de intelectuais e leitores interessados em ensaio e ficção. No seu arquivo encontram-se três entradas sobre Lobo Antunes e 26 sobre Saramago. Registe-se igualmente que, John dos Passos, o norte-americano luso-descendente, conta com 45 referências.

* Efemérides... 1851 – Bernardino Machado. Nasce, no Rio de Janeiro, Brasil, a 29 de Abril, filho do conde António Luís Machado Guimarães. Vai para Lisboa ainda menino. Foi lente académico, escritor, deputado, par do reino e presidente da República! 1855 – No dia 23 de Setembro, nasce em Tabuaço. Abel Botelho, que se destacaria como romancista, dramaturgo, cronista e diplomata. Com o livro O Barão de Lavos (1891), Abel Botelho inicia um ciclo a que chamou Patologia Social e onde critica os vícios da sociedade portuguesa. Faleceu em Buenos Aires, a 24 de Abril de 1917, enquanto cumpria funções de embaixador. 1901 – 18 de Abril marca a data de nascimento do matemático, escritor e político Bento de Jesus Caraça. Em 1941 fundou a Biblioteca Cosmos e em 1946 foi expulso do ensino universitário devido à sua oposição à ditadura. 1932 – Nasce, na Covilhã, o poeta, crítico, ensaísta e professor universitário E. M. de Melo e Castro. Engenheiro têxtil de profissão. Actualmente lecciona Letras na Universidade de São Paulo.


* Festival de cinema em Lisboa... A VI edição do festival de cinema IndieLisboa foi ocasião propícia para a apresentação em Portugal de Singularidades de uma Rapariga Loira, a obra mais recente de Manoel de Oliveira. O filme agora estreado na capital portuguesa já tinha sido exibido, em estreia mundial, em Berlim, no passado mês de Fevereiro. A obra é baseada no conto homónimo de Eça de Queirós e foi rodado pelo cineasta portuense, em Dezembro de 2008, na altura em que completava 100 anos. O filme dura pouco mais de uma hora e conta com as interpretações de Ricardo Trepa e Catarina Wallenstein, acompanhados de Diogo Dória, Leonor Silveira e Miguel Guilherme. Singularidades... é o primeiro trabalho de Manoel de Oliveira sobre um texto de Eça e transpõe “de forma elegante e inteligente para a actualidade a história de um jovem contabilista, a trabalhar no escritório de um tio, e que se apaixona por uma jovem que vê na janela do outro lado da rua mas que, por caprichos da vida, se lhe tornará inacessível.”

* 25 de Abril, novo filme sobre a Revolução dos Cravos... Ainda do âmbito do IndieLisboa, festival de cinema independente, foi apresentada na noite de 25 de Abril, com o São Jorge cheio de cravos vermelhos e com presenças ilustres como a do presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, ou do antigo primeiro-ministro António Guterres, a longa-metragem Águas Mil, de Ivo M. Ferreira. “A história, com alguma alusão à revolução de Abril, mostra-nos o percurso de um jovem que parte à procura da resolução do mistério sobre a morte do pai, ocorrida nos meandros mais obscuros da luta armada pósrevolucionária.” Num momento em que alastra sobre Portugal uma onda de branqueamento do que foi a ditadura do Estado Novo e se fazem aqui e acolá homenagens a Salazar obviando o que foram 50 anos de atraso e pobreza, importa que não esquecer que o Portugal de hoje seria outro, infinitamente pior, de não ter havido uma Revolução dos Cravos.

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