NotiFax de 15 de Outubro de 2011

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Caracas – Venezuela * Ano X – Época III * 15 de Outubro de 2011 RIF: J301839838

Manuel da Fonseca... do Alentejo para o mundo! Há 100 anos, exactamente a 15 de Outubro de 1911, nascia em Santiago do Cacém, Manuel da Fonseca, um dos vultos mais importante do neo-realismo português. Fez parte do Novo Cancioneiro e toda a sua vida, tanto a de cidadão como a de intelectual, foi de “intervenção social e política (...), retratando o povo, a sua vida, as suas misérias e as suas riquezas, exaltando-o e, mesmo, mitificando-o”. Fê-lo de forma consciente e constante na sua poesia, nos seus contos, nas suas crónicas e nos seus romances. Depois de terminar o ensino básico foi para Lisboa para continuar os seus estudos, tendo frequentado o Liceu Camões, entre outros estabelecimentos de ensino, incluindo a escola de Belas-Artes, o que lhe serviu – aparentemente a partir de um talento herdado do pai, que era ferreiro, mas com muita queda para o desenho – fazer alguns retratos de familiares e amigos de tertúlias, entre eles, um do escritor José Cardoso Pires, que se tornaria famoso. Esta deslocação familiar para Lisboa nunca o afastou do seu Alentejo natal, ao qual regressava cada vez que lhe era possível, e essa é certamente a razão pela qual a vida do Alentejo e das suas gentes atravessa practicamente toda a sua obra literária, que está longe de ser regionalista tendo, isso sim, um alcance universal. De facto, é só a partir do final dos anos 60 do século passado, que a sua ficção começa a ter como pano de fundo a cidade de Lisboa, como se pode verificar com a leitura de Um Anjo no Trapézio. De jovem, Manuel da Fonseca foi um praticante entusiasta de desporto, chegando mesmo a jogar futebol nos iniciados do Sporting Clube de Portugal. Interessou-se igualmente esgrima, ténis, equitação e automobilismo. No boxe – desporto que nunca parece ter sido do agrado dos pais – também muito habilidades, chegando a triunfar num campeonato nacional de médios. Se é certo que os pais, ambos de condição humilde, não o apoiaram no pugilismo, sim que o animaram a fazer-se à vida como homem de letras, o que conseguiu a partir de determinado momento, mas antes de viver profissionalmente como escritor, trabalhou em lojas, fábricas, revistas e agências de publicidade, curiosamente numa delas onde trabalhara antes o Fernando Pessoa.. Em 1940, Manuel da Fonseca, em cuja escrita podemos encontrar evidências da influência de autores como Dostoievsky, Maupassant, Hemingway, Steinbeck, Graciliano Ramos e Jack London, publica Rosa dos Ventos, o seu primeiro livro, que o revela como um poeta de grande sensibilidade. Mas é, contudo, com Cerromaior – clara referência a Santiago do Cacém – que produz uma obra realmente emblemática do neo-realismo português. A este livro voltaremos mais adiante neste apontamento. Outros dos seus livros, entre vários mais, são O Fogo e as Cinzas (1953), Seara do Vento (1958) e Tempo de Solidão (1973).

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Regressemos a Cerromaior. Este romance fala-nos de “uma cidade cercada pelo campo e a realidade alentejana dos anos trinta e quarenta. São focadas todas as classes sociais: a família de latifundiários que dominam toda a cidade (os primos de Adriano, a figura central do romance); o herói Adriano, filho da burguesia local mas com problemas financeiros; o proletariado rural, objecto da exploração económica; o Doninha, figura típica de Cerromaior dominada pela loucura” e a infaltável GNR, sempre aliada dos poderosos donos da terra. É a partir de este texto que o cineasta Luís Filipe Rocha nos oferece, em 1980, um excelente filme com o mesmo nome, que arrecada o grande prémio do festival da Figueira da Foz, o Cólon de Oro do Festival Internacional Ibero-Americano de Huelva e outras distinções. Mas esta não é a única presença de Manuel da Fonseca na sétima-arte. Em 1975 houve uma adaptação de Seara do Vento para a televisão e mais perto, em 2006, João Botelho filma Avé Maria, com base num argumento do autor, que, por outra parte, também trabalharia no cinema no filme O trigo e o joio, realização de Manuel Guimarães, a partir de um romance de Fernando Namora. Como muitos escritores do seu tempo, Manuel da Fonseca passou pelas prisões da PIDE. Em 1965 foi acusado de “actividades contra a segurança do estado”, como represália por ter sido um dos membros do júri que atribuiu o Prémio de Novelística a Luandino Vieira, escritor angolano. Esta decisão da Sociedade Portuguesa de Escritores levou ao encerramento da mesma pelo Estado Novo. Dez anos antes do seu passamento, que se dá em 1993 como consequência de uma queda, Manuel da Fonseca foi condecorado com o grau de Comendador da Ordem de Sant’Iago da Espada. Hoje é uma das figuras centrais do Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, instituição à qual foi confiada parte do seu espólio.

Homenagem a Amália Rodrigues no Centro Português... O Instituto Português de Cultura, com a colaboração do Centro Português, homenageou a grande intérprete do fado com a apresentação do DVD The Art Of Amália, que permitiu a todos os presentes desfrutar do conjunto de algumas das suas canções mais famosas da diva e de trechos de entrevistas correspondente a diferentes épocas da sua vida. Foi uma sessão da que muito desfrutaram os amantes do fado e desta fadista, que levou essa expressão musical portuguesa por todo o mundo e abriu o caminho às intérpretes contemporâneas. A sessão decorreu no sábado, dia 15, no Bar A Nau, do Centro Português, em Macaracuay, Caracas.

Cultureando: a 28 de Outubro... Por cortesia dos nossos amigos de Rádio Arcoense, por estes dias a celebrarem três anos de intensa actividade radiofónica, este mês vamos ter o nosso programa Cultureando: na sexta-feira, 28 de Outubro. Sintonize este programa do Instituto Português de Cultura a partir das 19:30 h. através de Radio Uno. Notícias culturais, música e comentários sobre a cultura portuguesa.

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Itália: João Botelho na Mostra de Cinema Ibero-americano de Roma ... Portugal participa na II Mostra de Cinema Ibero-americano de Roma com a exibição de Filme do Desassossego (2010) de João Botelho, inspirado no livro homónimo de Fernando Pessoa/Bernardo Soares. A projeção da versão original do filme com legendagem em italiano teve lugar quartafeira, 5 de outubro, no Palazzo delle Esposizioni e contou com a presença do realizador. A aprese ntação é uma iniciativa da Embaixada de Portugal em Roma com apoio do Instituto Camões. A programação de SCOPRIR 2011 - II Mostra del Cinema Iberoamericano di Roma é organizada pelo Instituto Cervantes na capital italiana, em colaboração com as embaixadas da Argentina, Chile, Colômbia, Cuba, México, Uruguai, Venezuela, Espanha e Portugal e tem o patrocínio do Instituto Ítalo-Latino-Americano.

Pedro Pedro Rosa Mendes ganha prémio PEN Clube ... O romance "Peregrinação de Enmanuel Jhesus" (Dom Quixote, 2010), do escritor e jornalista Pedro Rosa Mendes, ganhou o prémio PEN Clube na categoria de narrativa. O ensaísta Luiz Fagundes Duarte, que integrou o júri, a par de Maria João Cantinho e do ficcionista Manuel de Queiroz, disse ao PÚBLICO que a escolha foi consensual e unânime. "Concorriam cerca de 50 romances, mas logo no início da reunião começou a ficar claro que o vencedor iria ser o romance de Pedro Rosa Mendes". Considerando que se trata de "uma história muito interessante e muito bem contada", Fagundes Duarte destaca sobretudo "o trabalho de linguagem" do autor, referindo ainda o modo como este romance aborda "a expansão da cultura e língua portuguesas". Na categoria de poesia, o vencedor foi o poeta e dramaturgo Jaime Rocha, com "Necrophilia" (Relógio D"Água, 2010), obra escolhida por Francisco Belard, Liberto Cruz e Manuel Frias Martins.

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Pintura portuguesa de azulejo recriada em Macau.... Os jardins do consulado português em Macau serão cenário da exposição de trabalhos do pintor de azulejos Paulo Valentim, e dos seus alunos da Escola de Artes e Ofício da Casa de Portugal, naquele território chinês. "A exposição que integra as comemorações do centenário da I República chinesa, é o resultado de vários cursos de azulejos ministrados por mim aqui em Macau", disse à Lusa Paulo Valentim, também compositor e guitarrista. "Além dos trabalhos dos alunos do curso de iniciação, serão também apresentados trabalhos do curso avançado nível um que são mais elaborados e com referência ao barroco português", acrescentou. Esta exposição, que foi inaugurada recentemente, é uma iniciativa da Casa de Portugal em Macau, com a colaboração do consulado português que, pela primeira vez, cede os jardins, e estará patente até 12 de novembro.

Nobel! Foi há 13 anos... A 8 de Outubro de 1998, quando estava a ponto de embarcar, uma assistente de bordo comunicou a José Saramago que lhe havia sido atribuído o Prémio Nobel de Literatura. O escritor abandonava Frankfurt após ter assistido a algumas sessões na feira do livro. De bagagem ligeira, como sempre viajou, com a sua pequena mala e a sua gabardina, José Saramago fez o caminho de regresso ao terminal por um corredor deserto. Ali, durante uns minutos, um homem só, sem possibilidade de comunicar com ninguém, fez-se a pergunta que explica quem era e de que matéria esta va feito: “Tenho o Prémio Nobel e quê?”. Nesse corredor do aeroporto de Frankfurt, José Saramago relativizou também o maior galardão que um escritor pode receber. Por isso, cumpridas as suas obrigações de laureado, regressou à escrita com o seu livro mais cruel para com a sociedade que habitamos: A Caverna. E após este, outros dez livros, uma biblioteca redonda, que manifestam a vontade criadora e a força de José Saramago, o homem que alheio ao que se passava ia com a sua pequena mala e a sua gabardina a caminho de casa, quando se lhe cruzou a Academia Sueca com o Prémio Nobel para a imaginação, a compaixão e a ironia. In Fundação José Saramago.

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