CLB - Euclides da Cunha

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do mineral para o zoomórfico, assemelharia as manobras do exército, mais de uma vez, aos cambaleios de uma massa líquida e à oscilação das marés.

Os meandros da história ...Il était le point mathématique, le centre de une circonference infinie, c’est à dire, rien! Jules Verne, Cinq semaines en ballon*

Por aquilo que podemos chamar de uma coincidência da História, os três escritores foram participantes e, até certo ponto, membros ativos do imperialismo finissecular, que vigorou até a Primeira Grande Guerra, pela qual é responsável. Os casos de Lawrence e de Conrad ressaltam com clareza devido a serem ambos ingleses, um por nascimento e o outro por adoção, operando fora de seu país, em quadrantes remotos e cheios de exotismo, que tão bem souberam captar em seus livros. No entanto, nos três escritores impressiona a acuidade com que apanharam as rupturas resultantes do contato de civilizações e do advento do “terror da História”, nos termos de Mircea Eliade. O caso de Euclides mostra-se um pouco divergente por pertencer ao Brasil. Mais que de um imperialismo muito mediado, ele foi testemunha do colonialismo, se for permitido abusar dessa noção, estendendo-a a episódios da modernização capitalista ocorridos dentro de um mesmo país, não só no nosso, mas por toda a parte na América Latina desde a Independência. Nesses casos, os desígnios do poder central, implementados pelas Forças Armadas, são impostos à plebe rural da hinterlândia remota, que nem sequer concebe as razões da catástrofe que sobre ela se precipita e que acaba resultando em seu extermínio80. Afora sua participação na Guerra de Canudos, em que uma tal modernização levou de roldão *

“...Ele era o ponto matemático, o centro de uma circunferência infinita, ou seja, nada!” (Jules Verne, Cinco semanas em balão)

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