Jornal Arrocha 03 - Música

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Arrocha

Ano I. Número 3 iMPERATRIZ, DEZEMBRO de 2010

evolução A primeira banda de Imperatriz de que se tem notícia, a Porém Rogai, surgiu no final dos anos 1980, mas o espaço só foi consolidado no início do século XXI

Cenário de rock de Imperatriz tem história ANDRÉ WALLYSON

Banda Pilantropia representa bem a atual geração do rock em Imperatriz, aliando a sobrevivência econômica dos seus integrantes com apresentações de músicas cover em bares badalados com a produção paralela de um som mais pesado e autoral Jairo Moraes

O cenário do rock em Imperatriz cresceu e se consolidou em meados de 2001, quando foram formadas bandas com variados estilos. A primeira banda da cidade, segundo os precursores, foi a Porém Rogai, tendo sua formação no final dos anos 1980. “Naquela época, era muito doido. A gente tocava rock and roll mermo, no Fly Back (antiga danceteria localizada na Beira-Rio) e outros clubes que não existem mais. Todo mundo pirava!”, lembra o empolgadíssimo Nane Viei-

ra, vocalista da antiga banda, que depois seguiu carreira solo. O início do ano de 2001 foi fundamental para o rock na cidade, pois nessa época um bar, próximo à praça da Cultura, chamado TNT Cocktails, abria seu espaço para as várias bandas em ascensão. Nessa período surgiriam, então, a barulhenta Noise Verm, com seu som rápido e cheio de protestos, capturando a essência de bandas como a Ameaça Moral, que tinha como estilo o anarco-punk e incrementando elementos do metal pesado. Também nasceu nesse contex-

to a Mortos, com seu death-metal. Vale ressaltar, aqui, a peculiar formação só de mulheres chamada Code, tocando um metal agressivo. Todas essas bandas costumavam reunir-se para se apresentar na praça da Cultura. Mais tarde, um importante dinossauro do rock local, chamado Samuel Souza, que já produzia nos anos 1990 rasgava o ar com um metal extremo, liderando bandas como a Mystc e, hoje, a pesada Unborn. Em meio a tantos barulhos emergentes, perambulava, solitário, a figura mais folclórica do rock local com suas correntes,

coturnos e moicano vermelho: o eterno punk Gilsão.

Cenário - O TNT foi um divisor de águas no quadro do rock em Imperatriz, pois abraçava todos esses renegados com material a mostrar. Mas, não durou muito. Entrou em falência e fechou. Muitas dessas bandas acabaram por falta de apoio. Hoje, o cenário do rock na cidade é diferente. Não existem mais as apresentações nas praças, nem um espaço específico. O que se encontra são bandas fazendo covers de baladas em bares elitizados, que é o caso da Freedom e da Pilantropia.

Apesar de tocar músicas de parâmetros acessíveis, esta última produz, paralelamente, seu som pesado e autoral. Os problemas são constantes quando se trata de um estilo marginalizado. Um deles é a falta de estúdios para ensaiar e gravar um material próprio. “A gente não tem apoio de nada. Às vezes a gente tem que tirar do nosso próprio bolso pra fazer acontecer algo aqui. Local pra ensaiar tem que se virar pra encontrar. Uma vez, roubaram parte do nosso equipamento por não ter local seguro pra ensaiar”, lamenta Bruno Aguiar, baterista da Mortos.

Reaggae, som que estimula a paz, busca superar preconceitos na cidade Zé Luís Costa

Entre os ritmos que balançam o povo imperatrizense está o reggae. Mas, sua imagem é carregada de preconceito no centro da cidade. O lugar em que está mais presente é mesmo na periferia, oposto do que ocorre em São Luís, capital do Maranhão. O reggae é tocado, sobretudo, nos bares de elite da “Ilha”, como é percebido por todos que visitam a capital, por conta disso apelidada de “Jamaica brasileira”. Nas festas que acontecem no centro de Imperatriz, nas universidades, bares e praças pouco se ouve o ritmo jamaicano, apenas quando é um bar específico para o gênero. “As brigas que acontecem em festas de reggae nos bairros de Imperatriz são normais e podem ocorrer em qualquer outro evento, quando o dono da festa não se preocupa muito com a segurança”, argumenta o DJ e cantor do estilo, “Masco Reggae”, morador do bairro Vila Redenção, periferia de Imperatriz. Raimundo Nonato Inácio da Silva, 55 anos, o famoso “Papagaio” é um dos poucos empresários do reggae na cidade resistindo ao preconceito.

Quando o assunto é a violência nas festas ele tem uma opinião clara. “Um segurança de um dos bares de elite da cidade foi morto no exercício de seu trabalho. Mas a mídia nunca disse que foi por causa do tipo de música que tocava no local.”

Reggae é paz! - Com essa pequena frase, Odair José Gomes da Silva, o “DJ Odair”, como é conhecido no mundo do reggae, inicia nossa conversa. É um Disc Jockey ou para muitos, um animador de festas, profissão que exerce há 20 anos e há 11 com a equipe de som “Land Mix”, propriedade do Papagaio. DJ Odair, uma pessoa humilde e simpático, que sempre morou em bairros pobres da cidade disse, em tom de brincadeira, que tudo que ele tem deve ao reggae: uma mulher, quatro filhos e uma moto. Ele argumenta sobre os preconceitos que um regueiro sofre em uma cidade grande como Imperatriz. “Muita gente não conhece o reggae e por isso discrimina quem gosta. Porque a maioria dos que gostam vivem nos lugares mais pobres”. Adepto do “Reggae Eletrônico”, uma das subdivisões que existem no

gênero musical, o DJ classifica o estilo. “Carrega como aspecto principal a transformação de letras de músicas internacionais mixadas com arranjos eletrônicos, com batidas e o compasso de um para dois”. Entre as subdivisões ainda existe o “reggae roots”, mais presente em São Luís. Segundo Odair, esse apresenta uma batida mais cadenciada, com presença maior dos instrumentos de percussão, do baixo, guitarra e a voz chorosa. E por último, o “reggae roots nacional”, sempre com letras questionadoras às injustiças sociais. Como o reggae veio da Jamaica, é muito próximo da religião rastafari. As letras são sempre louvores a Jah, como é chamado Deus. “Se tocar um reggae roots nas festas de Imperatriz o público vai embora. Poucos gostam”, complementa o DJ. Apesar das diferenças na formação do ritmo desde os anos de 1960, quando foi criado por Bob Marley, o preconceito social está presente e forte. Entretanto, a mística de dançar só ou agarradinho e de olhos fechados é mais forte.

DIEGO LEONARDO

DJ e cantor Masco Reggae defende que brigas eventuais ocorrem em eventos de qualquer tipo


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