Arrocha 41 - Pandemia

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Jornal

DEZEMBRO DE 2020. ANO XI. NÚMERO 41

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA

Arrocha

JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO COMUNICAÇÃO SOCIAL / JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ

Tempo de pandemia Esta edição especial é uma homenagem a todos os que morreram pela Covid-19, aos que atuam na linha de frente de combate à doença e a quem ama os outros seres humanos e respeita as recomendações da ciência

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DANIEL SENA

DANIEL SENA

VIDAS PERDIDAS EM IMPERATRIZ Dados de 15/12/2020


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Arrocha

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Editorial - Pandemia: desafios e vitórias

ANO XI. EDIÇÃO 41 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2020

Charge SORAYA DOS SANTOS LEITE

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020 foi um ano marcante sob muitos aspectos para o Jornal Arrocha. Completamos 10 anos de existência desde a primeira edição, publicada em julho de 2010, com o tema Águas. Fomos escolhidos o melhor jornal-laboratório do Nordeste no Intercom Inter-regiões pela segunda vez em nossa trajetória. O relato de experiência “Jornal Arrocha: olhar humanizado e contextualização” recebeu uma menção honrosa no 19º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo. Tudo isso em meio à maior surpresa de todas: a pandemia da Covid-19, que chegou a paralisar por alguns meses as atividades da UFMA. Retomadas as aulas de forma remota, os professores das disciplinas de Jornalismo Impresso, Fotojornalismo e Planejamento Visual lançaram o desafio, imediatamente aceito pelos estudantes, de prepararmos uma edição especial sobre a pandemia do novo coronavírus. Tudo parecia complexo, no início, como de fato foi. As entrevistas não poderiam ser presenciais, as famo-

sas vivências em vários locais, que tanto marcaram as coberturas históricas do jornal Arrocha, tiveram que ser suspensas. Todos os personagens, inclusive as tradicionais pessoas comuns, foram entrevistados por telefone e redes sociais. Fotografias? Contamos com a colaboração das fontes e alguns repórteres chegaram a dirigi-las a distância, em busca dos melhores ângulos. Valeram também as ilustrações e a digramação foi feita na casa de cada aluno, não contamos com o laboratório Multimídia. Tudo para que chegasse aos seus olhos, leitores, esta edição especial de número 41, que não poderia ter outro tema senão a repercussão impactante da pandemia em Imperatriz e região. Nas próximas páginas você vai encontrar as vozes de tantos que enfrentaram o vírus e suas consequências de várias maneiras, além da homenagem para aqueles que, infelizmente, partiram. Que esta edição sirva de documento histórico. Boa leitura.

MUNDO NÚMERO DE INFECTADOS

Expediente

Casos: 72.847.422

Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da Universidade. Jornal Arrocha. Ano XI. Número 41. Dezembro de 2020. Reitor - Prof. Dr. Natalino Salgado Filho | Diretor do Campus de Imperatriz - Prof. Dr. Daniel Duarte | Coordenador do Curso de Jornalismo - Prof. Dr. Marco Antônio Gehlen. Professores: Dr. Alexandre Maciel (Jornalismo Impresso); Dr. Marco Antônio Gehlen (Programação Visual); Dr. Marcus Tulio Borowiski Lavarda (Fotojornalismo).

Repórteres e fotógrafos: Aline Leite Andréia Cabral André Lima Bia Ibiapino Brenda Lima Deglan Alves Edinei da Silva Iara Leal Igor Aguiar Izabella Sousa João Victor Santos Gustavo Viana Juliana Santana Larissa Pereira Lorena Guimarães Maira Soares Manoel Alencar Maria Eduarda Michaell de Sousa Michelle Sousa Monik Hevely Nathielly Maria Paula Pacheco Soraya dos Santos Valéria Rosa Vanderlene Araújo

Fotógrafos (Ensaio): 1 - Valéria Rosa 2 - Valéria Rosa 3 - Iara Kamila 4 - Loudeglan alves 5 - Iara Kamila 6 - Ana Beatriz Ibiapino 7 - Edinei da Silva 8 - Michelle Sousa 9 - Juliana Santana 10 - Igor Aguiar 11 - Maira soares 12 - Valéria Rosa

Mortes: 1.621.150

BRASIL

13 - Larissa Silva 14 - Monik Hevely 15 - Valéria Rosa 16 - Igor Aguiar 17 - Paula Pacheco 18 - Andréia Cabral 19 - André Lima 20 - Michaell de sousa 21 - João Victor Santos

NÚMERO DE INFECTADOS

Casos: 6.927.145

Programação Visual: Andressa Keley Carmo Rocha Aylla Yohana Coelho de Sousa Araujo Brenda Clarisse Costa Nobre Cristiane Miranda Aguiar Emanoelly Costa Goncalves Felipe Ribeiro Sousa Gideljones Fernandes Sena Iany de Sousa Santos Jakeline Bernardo Vieira Joilson dos Santos Barros Juliana Carvalho Rabelo Pinheiro Lia Eugenia Amaral Silva Lucas da Silva de Sousa Marcos Vinicius dos Santos Prohmann Marcus de Arruda Marinho Maria Caroline Roque da Silva Natalia Paulo da Silva Sara Bandeira de Sa Vanessa Carvalho Placido Vitor Hugo Goncalves da Silva Bandeira

Mortes: 181.835

MARANHÃO NÚMERO DE INFECTADOS

Casos: 197.267 Mortes: 4.386

Revisora: Janaína Amorim

Equipe auxiliar: Ensaio fotográfico: Michaell de Sousa e Valéria Rosa Página 2: Edinei da Silva e Gustavo Viana Capa: professora Yara Medeiros, do Laboratório de Comunicação Visual e Edição Criativa (Love), com a colaboração dos estudantes Deglan Alves e Monik Evely. Agradecimentos ao fotógrafo e ex-aluno Daniel Sena pelo registro.

IMPERATRIZ NÚMERO DE INFECTADOS

Casos: 8.359

Editorias: LINHA DE FRENTE ENTORNO DESEMPREGO ENTREVISTA LAZER TRANSPORTES VISÕES

DESPEDIDA AUXÍLIO EMERGENCIAL EDUCAÇÃO CULTURA COMÉRCIO POLÍTICA ESPORTES

Todas as edições do Arrocha estão disponíveis no site:

www.imperatriznoticias.ufma.br

Mortes: 400

FONTES: COVID.GOV.BR, CORONA.MR.GOV.BR


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LINHA DE FRENTE Exigência de uma carga horária de trabalho dobrada afetou a saúde de médicos e enfermeiros, que são profissionais fundamentais no combate à pandemia do novo coronavírus

A dura rotina e os desafios de heróis da pandemia ARQUIVO/ SHEYRLANI SILVA IGOR AGUIAR

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Paramentação de EPI’s é desconfortável, mas continua obrigatória para o protocolo de proteção

s números no Maranhão demonstram que um total de 4.227 profissionais da saúde foram contaminados pelo novo Coronavírus e um registro de 74 desses casos vieram a óbito, segundo o último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde do Estado. A super jornada de trabalho, que já favorece a exaustão, e o cansaço extremos na rotina comum dos profissionais da saúde, exigiu uma maior carga de empenho e horas a mais nos plantões a partir da chegada da Covid-19. É o que revela a enfermeira Waléria Nascimento, que atua há quatro anos no Hospital Macrorregional de Imperatriz, local de referência no tratamento do vírus. “Durante três meses ficou bem puxado, com hora apenas pra entrar. A carga horária deu uma aumentada, os profissionais foram adoecendo e então a gente teve que ficar mais tempo dentro do hospital, porque se não tivesse funcionário não tinha como funcionar”. Waléria relembra a rotina do início da pandemia e dos cuidados que tinha ao retornar para casa. “Eu tomava banho do lado de fora pra depois entrar em casa. Colocava minha roupa de molho no álcool com vinagre. Eu tinha uma rotina de proteção”. Apesar de todas as medidas de prevenção que tomava, ela destaca o medo que sentiu ao ver que o hospital estava lotado no mês de maio, bem como a angústia dos pacientes e dos colegas. “A gente

ficou pensando: e seu eu adoecer, onde é que eu vou ficar, já que não tem mais lugar pra mais ninguém?”. Contudo, a enfermeira esclarece que, mesmo com medo, a obrigação e a preocupação de cuidados com os doentes falavam mais alto. Cansaço - Com o pouco tempo de descanso que tinha, o técnico de enfermagem Thiago Barbosa, que trabalhou no Hospital de Campanha, diz que não sobravam momentos para si. Apenas chegava em casa, tomava banho, dormia e horas mais tarde voltava ao trabalho. “Era 24 horas. A gente se afasta da família para se dedicar a eles. Estamos na

A gente não podia sair que eles falavam: ‘Vish, é o pessoal do Covid’ e já se afastavam” frente para ajudar a salvar vidas”, confessa. Ele acrescenta que se distanciou da família por pelo menos dois meses para que ninguém fosse infectado. Thiago também destaca o preconceito que ele e muitos colegas sofreram no início da pandemia, por trabalharem diretamente com os contaminados. Ele conta que os comentários em geral eram negativos e irônicos. “Sempre teve esse preconceito. A gente não podia sair que eles falavam: ‘Vish, é o pessoal do Covid’ e já se afastavam”. Ele comenta que se sentiu afeta-

do psicologicamente e bastante triste com toda a situação que via diariamente. “Tinha paciente que pegava na nossa mão e falava: ‘Gente, por favor, não me deixa morrer!’”. Além da demanda extra em plantões, os profissionais da saúde ainda tinham que lidar com o uso um tanto incômodo de alguns Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como parte do protocolo de proteção. Segundo José Fernandes, técnico de Enfermagem que também trabalha no Hospital Macrorregional de Imperatriz, além da demanda extra, era desconfortável em relação à temperatura. “Alguns macacões eram revestidos por plástico por dentro e por fora. A paramentação era completa: óculos de proteção, toucas, às vezes mais de uma, capacete, a máscara N95 e mais outra cirúrgica por baixo, luvas e avental”, comenta. Não houve tanto tempo para um treinamento específico, segundo Fernandes, porque tudo era novo e desconhecido por todos. “A gente tava meio que brigando com algo que a gente não via. Foi de acordo com o passar do tempo e vendo as pesquisas que fomos tendo um maior nível de controle”, menciona. Ele se pronuncia sobre as aglomerações, comuns no pico da pandemia, criticando o desrespeito em relação ao trabalho dos profissionais da saúde. “Senti indignação! Não só pela minha parte. E ao olhar para a sociedade em geral e perceber que há um descaso do cidadão perante a doença e a própria vida, não há outro sentimento além da indignação que descreva isso.”

Covid-19 afeta a saúde mental de trabalhadores MICHAELL DE SOUSA

ciente é fundamental. Sheyrlani explica que esse risco iminente de contágio afeta o psicológico do profissional. “Muitas vededicação máxima aos pacienzes eles só precisavam de um acolhimentes e a rotina exaustiva, tornam to. Não apresentavam sintomas, mas por os profissionais de saúde um ter tido contato com alguém infectado, dos grupos mais vulneráveis às consedesencadeavam traços de ansiedade”. Em quências psicológicas provocadas pela casos mais graves, alguns apresentavam pandemia. A psicóloga Sheyrlani Silva, diagnóstico hipocondríaco. “Eles achaque atuou no ambulatório montado no vam que tinham os sintomas, mesmo Centro de Convenções, relata: “Havia com a saúde perfeita”, reforça. profissionais que estavam num elevado O bem-estar mental é crucial para grau de exaustão, adoecidos, mas sem que trabalhadores dessa área atuem com opção de parar, porque era o trabalho eficiência. A psicóloga sugere formas deles”. Ela ainda afirma que esse desafio simples para amenizar o estresse. “Tirar interfere intensamente na saúde mental um tempo para cuidar de si. Uma pausa, de quem está na linha de frente. mesmo que durante o expediente, pode Com o afastaajudar a manter o mento de profiscorpo e a mente em sionais que fazem ordem”. Assim que parte do grupo de foi confirmada a “Muitas vezes eles risco, restou aos pandemia, a Orgasó precisavam de um demais trabalhaacolhimento, mesmo não nização Mundial de rem dobrado para (OMS) dispoapresentando sintomas” Saúde suprir a demanda nibilizou um manual de pacientes que de cuidados com a chegavam aos saúde mental, deihospitais, resulxando clara a importando em um elevado nível de fadiga tância de se falar sobre o assunto. “Ela [a física e mental.“É muito comum, nesses OMS] sabia que o isolamento e tudo que casos, a gente diagnosticar a Síndrome estava por vir, causariam grande impacto de Burnout, que é o esgotamento pelo na vida das pessoas”, destaca a psicóloga. excesso de trabalho”, explica a psicóloga. Com a volta do crescimento de casos A saída encontrada por diversas e de mortes no Brasil, é importante dizer áreas para amenizar o risco de contágio que a pandemia não chegou ao fim, e, foi o trabalho remoto. Segundo estudo sem previsão de quando uma quantielaborado pela Fundação Instituto de dade segura de pessoas será imunizada Administração (FIA), 46% das empresas no país, os profissionais permanecem brasileiras adotaram o home office como trabalhando com a mesma intensidade solução para esse problema. Entretanno combate ao vírus. “Ainda estamos to, para a área da saúde é um exercício no meio da pandemia. Eles precisam da inviável, pois o contato direto com o panossa atenção, dos nossos cuidados”. MICHAELL DE SOUSA

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Psicóloga Sheyrlani Silva sugere pausas no local de trabalho para manter a mente em ordem: “Hipocondríacos achavam que tinham os sintomas”


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ÚLTIMO ADEUS Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), desde o início do novo coronavírus, em fevereiro de 2020, já foram contabilizadas mais de 1,6 milhão de mortes no mundo, sendo 181 mil no Brasil e 400 em Imperatriz

O drama de quem não conseguiu se despedir IARA KAMILA ALENCAR NATHIELLY MARIA

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o dia 22 de agosto, às 5h55 da madrugada, o pastor Marcos Aurélio de Sousa, de 54 anos, não resistiu e faleceu em consequência da Covid-19. Sua morte se soma às 1,6 milhões registradas em todo o mundo desde dezembro de 2019, sendo 400 em Imperatriz. Marco Aurélio deixou viúva Francinete de Andrade. Ela se recorda que no dia 1° de agosto passou mal e se dirigiu à Unidade de Pronto Atendimento da Bernardo Sayão. Lá, o médico lhe passou uma medicação e a liberou para ir para casa. Mas, no dia 6 do mesmo mês, a família toda sentiu os sintomas e decidiu procurar novamente o atendimento hospitalar. Como na outra ocasião, eles foram medicados, encaminhados e receberam alta novamente. No entanto, o pior ainda estava por vir. Nos dias seguintes, Marcos Aurélio teve grande piora, e no dia 13, por volta das 5h30 da madrugada, foi levado às pressas ao hospital. O médico constatou, então, que Aurélio estava com saturação do pulmão em nível de 89% e tinha que ser urgentemente internado na sala vermelha, reservada exclu-

sivamente para os pacientes com Covid-19. Marcos foi internado sem suas roupas e aliança, pois qualquer objeto pessoal poderia ser um meio de contágio. Logo os médicos o isolaram da esposa e do restante da família. Depois, foi transferido para o Hospital Materno Infantil, onde se diagnosticou que ele estava com 80% do pulmão comprometido, vindo a falecer após 10 dias de internação. Sendo pastor, os familiares o tinham como um homem de fé que persistiu até o fim. “Perdi meu

“Perdi meu grande amor”, desabafa Francinete, esposa de Aurélio havia 28 anos grande amor”, desabafa Francinete, esposa de Aurélio há 28 anos e com o qual teve dois filhos. Dor - O caso de Marcos Aurélio é um exemplo de tantas outras famílias que perderam seus parentes durante a pandemia, em todo o Brasil e não puderam velar o corpo do falecido. O velório é uma prática social que visa dizer o último adeus ao ente querido, manifestando respeito e ameni-

zando a dor. Não poder realizá-lo gera um sofrimento em dobro, uma sensação de adeus sem uma real despedida. Foi o caso da dona de casa Maria da Conceição Sousa, 75 anos, que perdeu o marido e o filho por questões adversas ao coronavírus e, mesmo assim, não pôde velar os corpos em Imperatriz. O comerciante Joaquim da Conceição, 75, esposo de Conceição, faleceu dois dias antes de fazer aniversário, devido a um derrame, no dia 12 de maio deste ano. Pai de quatro filhos, viu Imperatriz crescer, mas foi pego de surpresa pela morte que não marca horário. Ele e dona Maria eram casados há 53 anos. Quando morreu, seu corpo foi para a funerária, onde os funcionários disseram que não poderia ser realizado um velório convencional, uma vez que havia o perigo de gerar aglomeração e risco de contágio. Assim, optaram por velar o corpo dele em Canto Grande, povoado situado em Carolina–MA, em uma capela com poucas pessoas presentes. Como se não bastasse todo o sofrimento de Conceição, após dois meses, seu filho, Ivaldo da Conceição Sousa, teve a vida ceifada pela mulher que convivia em união estável com ele. Também não pode ser velado em sua

IARA LEAL

Névoas da memória que somente ficarão nas mentes dos entes queridos que se foram pela Covid-19

casa, em Imperatriz, e foi enterrado em um túmulo ao lado do pai, em Canto Grande. Conceição diz sentir muito a falta do filho. Quando perguntada a respeito do marido, diz que já está consolada, porém, ainda se observa a

aliança de casamento em sua mão esquerda. Quando vê as roupas e os objetos do esposo e do filho falecidos, ela afirma ainda não saber o que fazer e diz que pretende, por enquanto, deixar os objetos guardados. NATHIELLY MARIA

Perda de forma súbita foi fator mais marcante, avalia psicóloga IARA LEAL

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psicóloga Roberta Castro Campos explica que a mente das pessoas tende a adoecer por causa do isolamento e da perda súbita de um ente querido. “Do dia para a noite, tudo mudou: foi decretada uma quarentena, as ruas ficaram desertas e pessoas estavam esvaziando as prateleiras dos supermercados”. Ela comenta que atendeu uma filha que perdeu a mãe e também uma mulher de 46 anos, cujo marido faleceu por coronavírus. Para a psicóloga, o que ficou mais nítido em relação ao sofrimento narrado pelas pessoas atendidas por ela, foi a perda de forma “súbita”, pois de repente essas pessoas estavam sadias e em poucos dias vieram a óbito. Roberta Campos acrescenta que

a falta do contato físico e do convívio social prejudica a saúde física e mental para qualquer pessoa, pois os relacionamentos são essenciais ao ser humano. Além desses aspectos, a psicóloga analisa que pode ter havido um aumento de ansiedade e doenças mentais devido à mudança da rotina, pois as pessoas não têm mais horário para comer e dormir, além da insônia, problema que muitos passaram a desenvolver. Perguntada sobre a forma da população driblar uma crise tão inesperada, a profissional indica a leitura de livros, assistir séries e fazer atividades físicas. Em casos mais graves é necessário buscar apoio psicológico, que está sendo oferecido a distância, tanto pela rede particular, como pelo Centro de Assistência Psicossocial de Imperatriz – CAPS. IARA LEAL

Falta do velório traz ruptura de um ritual importante na sociedade, em que o principal objetivo é dar o último adeus aos que partiram

Falta de velório pode gerar ferida maior NATHIELLY MARIA

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Psicóloga Roberta explica que a mente tende a ficar doente em condições de isolamento

omo os velórios foram proibidos pela Vigilância Sanitária Municipal durante o período da pandemia, a gerente de funerária L.M.S.costuma colar uma foto impressa em cima do caixão para trazer mais dignidade ao enterro. Quando segue para o cemitério Bom Jesus, – único em Imperatriz em que é permitido o enterro de falecidos por coronavírus – a funerária faz a gentileza de passar, no carro da empresa, com o caixão devidamente lacrado, na rua em que familiares e amigos do falecido estavam se reunindo, a fim de amenizar a dor. A urna fica no bagageiro e, por

alguns minutos, a família tem a chance de se despedir a distância, pois no cemitério não é permitida a entrada no espaço reservado para vítimas do coronavírus.

“A urna fica no bagageiro e, por alguns minutos, a família tem a chance de se despedir a distância” O gerente de outra funerária, Elson Fonseca, comenta que muitas famílias queriam velar os seus parentes, mas a equipe da empresa precisou ser firme, pois se os veló-

rios acontecessem a funerária seria multada pela Vigilância Sanitária. “A dor é em dobro: pela partida da pessoa e por não poder velar”, opina Fonseca. Isso acontece porque a sociedade supervaloriza as relações sociais e cria rituais para mostrar a importância desses vínculos. A antropóloga Emilene Sousa explica que o velório é um exemplo de ritual a partir do qual se manifesta o apreço e afeto que existia com aquele falecido. “Social e culturalmente é tão complicado não poder velar, pois somos uma cultura relacional, que se preocupa com a visibilidade dessas lamentações”, analisa a antropóloga.


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REGIÃO TOCANTINA Hospitais da cidade voltados para o atendimento de pacientes da Covid-19 chegaram a ter 58% dos leitos ocupados por moradores de outros municípios, o que agravou o quadro geral da pandemia

Imperatriz ajuda no atendimento às cidades vizinhas FOTOS DO ARQUIVO PESSOAL DA ENTREVISTADA LORENA GUIMARÃES VALÉRIA ROSA

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evantamento realizado pela Secretaria Municipal de Saúde de Imperatriz aponta que o Hospital de Campanha, Macrorregional e Unimed, unidades de saúde da cidade destinadas ao atendimento dos pacientes com Covid-19, chegaram a ter 58% dos leitos ocupados por pacientes de cidades vizinhas. A superlotação do sistema de saúde em Açailândia motivou a estudante Caroline Moreira, de 21 anos, e seus pais, a buscarem tratamento para a Covid-19 em Imperatriz. “Imperatriz era onde tinha vaga e a gente sabia que teria estrutura”, relata. Entretanto, ao chegar na cidade, os pais da estudante não conseguiram vaga para internação, devido à superlotação na rede particular. Assim, a família teve que se deslocar de Açailândia à Imperatriz durante cinco dias, para receber medicação prescrita para o tratamento. Caroline acompanhou seus pais nessas ocasiões e relata o cenário hospitalar que encontrou: “Sem leitos, sem vagas, mal tendo onde sentar. Se alguém passasse mal, morria ali, porque não tinha realmente o que fazer”. Aspectos que refletem o impacto de uma crise sanitária inesperada no sistema de saúde. A moradora de Açailândia diz ainda que, mesmo com plano de saúde e optando pelo atendimento particular, ela e seus pais tiverem dificuldades para receber o tratamento da doença, não conseguiu“vagas, leitos e nenhum atendimento melhor nas unidades” com o convênio que pagam. Diferentemente de Caroline e sua família, Aldeene da Silva, 33 anos, moradora de Governador Edison

Aldeene da Silva reencontra sua prima após ela receber alta no Macrorregional

Lobão, não teve dificuldades ao vir para Imperatriz, no mês de abril. Ela diz que como a “pandemia estava no começo e ainda tinha leitos”, não teve problemas para conseguir uma vaga.

“Se alguém passasse mal, morria ali, porque não tinha realmente o que fazer” Em sua cidade, Aldeene foi diagnosticada com ansiedade, mas ao perceber que os sintomas persistiam, ela procurou outra unidade de atendimento. “Voltei pra casa, mas

continuei sentindo os mesmos sintomas. Meu primo, vendo a situação, me levou para o Regional, e lá já me isolaram com suspeitas de Covid-19”, relembra Aldeene, que permaneceu internada por quatro dias no Hospital Macrorregional. Apesar da dificuldade de ficar longe da família e o medo por não saber se voltaria para casa, Aldeene conta que teve um ótimo atendimento. “Fui muito bem tratada, devo a minha vida aos médicos e enfermeiras do hospital”. Dificuldades - “Aqui no hospital de João Lisboa eles não oferecem muita

assistência de saúde. Logo depois que passou o pico da pandemia, tinha uma semi-UTI aqui, mas foi depois, não adiantou muita coisa, porque a gente precisava no pico da pandemia”, conta Thiago da Silva

Cruz, 22 anos. Ele teve que lidar com a situação de seus avós terem que se deslocar para Imperatriz, porque em sua cidade os recursos demoraram a chegar. O avô de Thiago, Antonio Nogueira, 86 anos, foi diagnosticado com Covid-19 em João Lisboa, e encaminhado de imediato para uma UPA em Imperatriz. Ficou internado por mais de 24 horas, e recebeu alta em seguida. O neto de Antonio alega que não foi feito o teste para detectar a doença, e que seu avô “recebeu alta e retornou para casa, ainda cansado”. Antonio só conseguiu o teste na sua segunda internação. Deu reagente para a doença, que já estava em estágio avançado. Dessa vez, foi encaminhado para o Hospital Macrorregional, no qual ficou internado por cerca de seis dias. Thiago comenta que o momento mais complicado foi descobrir que a sua avó também estava contaminada. “Aí eram os dois internados no mesmo hospital, só que em lugares diferentes”. Josias Paiva, 80 anos, pai de Iranete Paiva, recebeu o diagnóstico de Covid-19 em Buriticupu, ainda com sintomas leves da doença. Porém, por ser acometido por outras patologias, precisou vir a Imperatriz para fazer uma ressonância, já que sua cidade não possui o aparelho necessário. A filha conta que a transferência do pai não foi pelo novo coronavírus. “Ele teve o tratamento para Covid, só que não saiu da nossa cidade por causa do Covid. Ele saiu por causa do possível AVC”. Iranete e o pai vieram para Imperatriz em busca de um exame, mas não sabiam da possibilidade de internação, o que gerou dificuldade para ambos. “Eu saí daqui com pouco dinheiro... A maior dificuldade que eu tive era a questão de estar saindo de Uber”.

Indígenas do Maranhão são amparados somente com cestas básicas FOTOS DO ARQUIVO DA FUNAI

tituição, em março deste ano, 9.052 famílias estavam em estado de vulnerabilidade, e o auxílio foi no sentido de combater o risco de desnutrição da população. e acordo com dados do site EmerAtualmente, um dos maiores problegência Indígena, 69 mortes foram mas para a Funai é o número de servidoconfirmadas até agora entre os res. A pandemia diminuiu ainda mais a integrantes dos povos indígenas no Maraquantidade de funcionários, devido ao nhão. Dentre os que foram afetados estão fato de muitos pertencerem ao grupo de os Guajajara, Krikati, Kaapor, Kanela risco. “São poucos servidores para muiApanjekrá e Akroá-Gamela. tas atividades”, explica. Após a Organização Mundial da Saúde Esse problema dificultou o trabalho (OMS) declarar estado de pandemia, a de assistência aos indígenas e Wanessa Fundação do Índio de Imperatriz (Fuconta que precisou trabalhar apenas nai) adotou medidas preventivas, sendo com quatro servidores, que foram para a primeira delas o isolamento da terra as aldeias, em todas as terras indígenas indígena, restringindo a entrada. A chefe do Maranhão. “Quatro do Serviço de Direitos servidores para fazer Sociais e Cidadania todas as entregas”. “Não deu para passar da Funai, Wanessa José Amorim Filho Meneses, conta que nem uma semana, foi Guajajara, conhecido “foram suspensos muito pouco” como Damião, é diretor todos os trabalhos, até de escola na aldeia mesmo dos servidores Juçaral, localizada em que precisassem ter Amarante, no Maranhão. Ele diz que contato direto com os indígenas”. Apenas tentou buscar ajuda para o seu povo. “A os serviços emergenciais, desenvolvidos gente fez um documento, mandou para pela Secretaria Especial de Saúde Indígena cada instituição de apoio aos indígenas, (Sesai) não foram suspensos. mas infelizmente não foi atendido o A Coordenação Regional do Maranhão nosso pedido”. está localizada na Funai de Imperatriz. A assistência prestada pelo governo O órgão é responsável pelos 11 povos federal por intermédio da Funai, não foi indígenas do estado. Durante o período da suficiente. “Não deu para passar nem pandemia, a instituição distribuiu 20 mil uma semana, foi muito pouco”, conta cestas básicas, adquiridas com recursos Damião. Segundo ele, as doações contemfederais. plaram apenas “30% a 40%” das famílias. Segundo levantamento feito pela insLORENA GUIMARÃES VALÉRIA ROSA

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Servidores da Funai realizam a entrega de cestas básicas em terras indígenas maranhenses


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ASSISTÊNCIA Benefício emergencial foi criado e executado com o objetivo de amparar os brasileiros em situação de vulnerabilidade econômica durante o enfrentamento da crise ocasionada pela pandemia de Covid-19

Auxílio emergencial traz suporte financeiro MONIK HEVELY

MONIK HEVELY

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e acordo com a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD Covid-19) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o auxílio emergencial beneficiou cerca de 29,4 milhões das residências brasileiras em junho de 2020, sendo 66,5% no Maranhão e 58,9% no Nordeste. Aproximadamente 65 milhões dos habitantes do país receberam o auxílio, conforme aponta o Ministério da Cidadania. O economista Vilmar Segundo, 31 anos, menciona que, além do objetivo de que “as pessoas possam ter o sustento durante esse período, tendo em vista que muitas empresas fecharam e muitos perderam o emprego”, o auxílio também veio para manter a economia dos estados e dos municípios ativa. Embora não tenha modificado a economia de Imperatriz, o benefício serviu para amparar as “pessoas assistidas” e ajudá-las em suas necessidades básicas. Durante os meses de abril a dezembro de 2020, o Governo Federal vem destinando recursos para ajudar financeiramente os autônomos, desempregados, trabalhadores informais e microempreendedores individuais (MEI) na ação que ficou conhecida como auxílio emergencial. Aqueles que solicitaram o benefício passaram a receber parcelas mensais no valor de R$ 600 e, posteriormente, de R$ 300. A excessão fica por conta das mães chefes de família, que nos primeiros meses recebiam R$ 1,2 mil e atualmente recebem R$ 600.

ANDRESSA SANTOS

Solicitação e pagamento do auxílio foram realizados a partir dos aplicativos do Caixa Auxilio Emergencial e Caixa Tem

Pagamento das parcelas aco nteceu nas agências da Caixa Econômica, que durante meses receberam filas de ben eficiados

A dona de casa Nilzete Almeida, 30 anos, conta que o dinheiro foi fundamental para ela e outras seis pessoas da casa, pois sem este recurso teriam passado necessidades. “Não foi o suficiente, pois meu menino sofreu um acidente e eu tive que gastar bastante com ele. Posteriormente ele adoeceu, nós até pensamos que fosse o Corona”, menciona. Em sua concepção, muitas pessoas receberam o dinheiro de forma indevida, número que o Tribunal de Contas da União (TCU) apurou como 620 mil brasileiros. Enquanto milhares de pessoas

recebiam o auxílio inadequadamente, o lavrador Cleones Carvalho, 37 anos, que vive junto aos dois filhos com uma renda

“Agora que estou voltando aos poucos, mas o número de clientes foi reduzido” mensal no valor de R$ 300, não conseguiu o benefício na primeira vez que solicitou. Só veio na

segunda tentativa, quando um conhecido o auxiliou na solicitação, mas o dinheiro só foi liberado dois meses depois. Durante esse tempo, ele precisou comprar alimentos, contando com o auxílio que pensava que sairia logo após ser aprovado. De acordo com Vilmar Segundo, houve “uma redução abrupta de circulação de pessoas e serviços” durante o período da pandemia e o auxílio surgiu para minimizar a diminuição de renda dos trabalhadores informais, autônomos e MEIS, ocasionada pelo fecha-

mento do comércio. A cabelereira Núbia Bandeira, 45 anos, sentiu esse impacto na pele. Trabalhando no ramo há 20 anos, teve que fechar seu salão no mês de março. “Agora que estou voltando aos poucos”, informa. Mas seu número de clientes foi reduzido. Núbia pontua que foi necessário solicitar o auxílio para suprir suas necessidades enquanto teve sua atividade profissional interrompida. Embora nunca tenha recebido ajuda do governo, para ela, o dinheiro do auxílio foi fundamental para o enfrentamento da crise.

Doações contribuem para aumentar a solidariedade durante pandemia VERA LÚCIA COSTA DA SILVA MAIRA SOARES

“E

sse momento que a gente viveu foi muito difícil. Muita gente ficou desempregada e as cestas que deram ajudaram muito”, relata Márcia Sousa, 36 anos, mãe de três filhos, que, como muitas outras famílias, recebeu ajuda para enfrentar o período da pandemia. Dados do Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Covid-19 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que 39 mil pessoas ocupadas e afastadas deixaram de

receber remuneração só em setembro de 2020 no Maranhão. No período da pandemia, não faltaram ações de solidariedade. O casal Janice Joyce Monte Carvalho, 49 anos, e Roberto Neves Carvalho, 52, presidentes do Centro Espírita José Grosso, existente há 38 anos em Imperatriz, relata que, quando as atividades foram suspensas por causa da pandemia, os próprios trabalhadores, frequentadores e simpatizantes do espiritismo se sensibilizaram com a questão. Resolveram, então, tomar a iniciativa de doar cestas básicas ou mesmo dinheiro para adquirir produtos DENNIS ARAÚJO

Projeto Mãos que Cuidam oferece apoio às famílias assistidas durante a pandemia

essenciais que foram distribuídos entre as famílias assistidas. O Centro mantém postos de assistência na Vila Redenção, no bairro Vilinha, no município de João Lisboa e na Cafeteira. Também foram doadas cestas básicas e lanches aos pacientes da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) São José durante os 20 dias críticos da pandemia, além da confecção e distribuição de máscaras. As doações ainda permanecem sendo uma ação contínua do Centro Espírita. Solidariedade - Vera Lúcia Costa da Silva, 41 anos, integrante da Igreja Monte Gerezim, localizada no bairro Parque Alvorada I, conta que foram oferecidas doações de roupas, calçados e materiais escolares para as crianças continuarem estudando, mesmo durante a pandemia. “Tivemos apoio de muitas pessoas, empresários e, até mesmo, donos de padarias que doaram pães para o lanche”, afirma. Para as pessoas que não possuem moradia fixa, foram concedidos abrigos e donativos. As ações sociais aconteceram na quadra poliesportiva do bairro, contando com o apoio voluntário de médicos, dentistas e enfermeiras. “Água mineral, cestas básicas, roupas e calçados não faltaram”, afirma Vera Lúcia sobre as doações. Voluntários também se disponibilizaram para ajudar a

Quando as atividades foram suspensas, criou-se uma rede de solidariedade para ajudar desassistidos

população em situação de vulnerabilidade, como Valterly Barros Costa, 48 anos, que percebeu a necessidade do momento e quis contribuir de alguma forma com a situação. Valterly lembra que jovens se

“Esse momento que a gente viveu foi muito difícil.” ofereceram para fazer compras para idosos que estavam em total isolamento social e um grupo de psicólogos se disponibilizou

para que qualquer pessoa entrasse em contato caso se sentissem solitários. A realização destas ações sociais foi organizada informalmente, permitindo com que mais pessoas recebessem assistência. Dennis Araújo, 22 anos, é voluntário há dois no Projeto Mãos que Cuidam, apoiado pelas doações de empresas e parcerias de instituições e informa que foram produzidas máscaras e implementadas inúmeras ações. “Continuamos a fazer nosso trabalho de levar alimento, cesta básica, doar materiais e oportunidades de cursos”, afirma Dennis.


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ECONOMIA Crise da saúde provocada pela pandemia da Covid-19 gerou muitas incertezas no dia a dia da população de Imperatriz, que depende de um emprego para manter o sustento de suas famílias

População teme o crescimento do desemprego ARQUIVO SINE

Agência do Sine oferece atendimento aos desempregados, principais atingidos pelos efeitos econômicos colaterais provocados pela pandemia ANDRÉ LIMA MANOEL PEREIRA

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m meio ao grande caos na saúde pública causado pelo vírus da Covid-19, a população também é alcançada pelo tão temido desemprego. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até o segundo trimestre, a taxa de desemprego no Maranhão era de 16%. Antônia Dinair Santos Sousa, 38 anos, é um dos nomes da lista de redução da empresa na qual atuava há dois anos no setor administrativo. Como a pandemia gerou muitas despesas e o número de clientes da empresa na qual trabalhava diminuiu, os proprietários resolveram reduzir o quadro de funcionários, formalizando a demissão de Antônia. Ela conta do transtorno que o desemprego causou no seu dia a dia. “Fiz algumas despesas a longo

prazo, esperando pagamentos futuros que não virão”. Em busca de solucionar a situação, Antônia Dinair evita gastos desnecessários, aproveita o seguro-desemprego para quitar algumas dívidas e se motiva para ir atrás de outro trabalho. “É muito difícil o momento que a economia no país está passando. Está cada vez mais complicado arrumar trabalho, ir atrás de outro emprego e se cadastrar nos bancos de empresas pode ser uma boa saída”. Carlos Zanes da Silva, 40 anos, é instrutor de autoescola há um ano, mas, com a paralisação das atividades, deixou de trabalhar por quatro meses. Em agosto, depois da retomada, ele resolveu não voltar a trabalhar devido ao fato de morar com a mãe idosa, de 80 anos, por se tratar de uma pessoa do grupo de risco. “Estou desempregado por opção, resolvi não retornar ao

trabalho, pois sou eu quem cuida de minha mãe, por me preocupar em trazer o vírus para ela”. O patrão ainda chegou a procurá-lo duas vezes, mas Carlos Zanes alegou que está se virando com o auxílio emergencial, programa do governo federal.

“Fiz algumas despesas a longo prazo, esperando pagamentos futuros que não virão”.

Medo - Antônia Sousa da Silva, 41 anos, trabalha há três, como empregada doméstica no condomínio Parque das Mansões. Ela

Baixa produtividade da indústria afeta economia do Maranhão ANDRÉ LIMA

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aixa produtividade da indústria de bens e serviços, pouco investimento em turismo e uma taxa alta de desemprego são alguns dos fatores mais impactantes da pandemia da Covid-19 no Maranhão. A análise é do economista e professor de Ciências Econômicas da faculdade Santa Terezinha (Fest), Claudio Marcos Morais, 47 anos. Ele pondera que a instalação da crise sanitária no Brasil trouxe desordem em todas as esferas e na economia não seria diferente. “Outro fator preponderante é o consumo das famílias”, acrescenta o economista. Com as incertezas econômicas, muitos estão “segurando para não consumir”. A alta da inflação também precisa ser considerada, pois muitos produtos, como o óleo, arroz e carne bovina estão cada vez mais caros, tirando o poder de compra das famílias e, por consequência, diminuindo o valor da moeda brasileira. É importante frisar, segundo o economista, que antes do surgimento

da doença, havia uma tendência de recuperação econômica. No entanto, com a disseminação do vírus houve um grande aumento na recessão, que é a falta de emprego em todo o país e particularmente no Maranhão. Também é preciso levar em conta, segundo Morais, um acréscimo nas desigualdades causado pela pandemia, que vem provocando um ambiente de insegurança. Ele explica que a retração do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 1,5% só no primeiro trimestre de 2020 e esse dado é reflexo direto dos impactos da pandemia na economia. “Esse número representa a pior marca desde o segundo trimestre de 2015, o que indica baixa produtividade da indústria. Tudo isso é obra do momento que o mundo está vivendo, culminando com a demissão de muitos trabalhadores”, detalha.

Futuro - Números nacionais servem para apresentar o panorama econômico de Imperatriz. Pela força de grande atuação nos setores do comércio e prestação de serviços, com segundo lugar na ocu-

pação como centro político, cultural e populacional no Maranhão, segundo maior PIB do estado e 165º do Brasil, a economia da cidade é ultrapassada na região apenas pela da capital, São Luís. Diante de todo esse cenário, o economista projeta uma análise do setor que, em sua visão, puxará o crescimento econômico em Imperatriz. “Analisando o cenário nacional e a cidade de Imperatriz, pode-se dizer que o comércio e a prestação de serviços continuarão com pujança em 2021”. Com a flexibilização recente das atividades, os setores do comércio e serviços voltaram a aquecer a economia da cidade, com tendência de aumento significativo nas vendas. Mesmo assim, a longo prazo o legado da pandemia traz efeitos perturbadores para o crescimento econômico do do Maranhão. “As perspectivas de crescimento econômico para o ano de 2021 no estado maranhense são pessimistas, uma vez que o crescimento do PIB, Produto Interno Bruto, que é a soma de toda a produção de bens e serviços no ano de 2020, é muito baixa”, estima Claudio Morais.

ficou um mês sem trabalhar devido ao fato de alguns membros da família de seus patrões terem contraído o vírus. “Fiquei muito preocupada com minha filha, que é do grupo de risco, pois está enfrentando um tratamento contra o câncer”, explica. Ela acrescenta que a sua filha estava passando esse período em sua casa para receber o suporte da família neste momento de enfermidade e, depois dos 30 dias, retornou às suas atividades. O Sine de Imperatriz informa que, apesar do momento, foram abertas 337 oportunidades de emprego, sendo que, desse total, 225 foram ocupados entre maio e novembro deste ano. “Nossa empresa faz parte dos serviços essenciais”, conta a gerente de recursos humanos Marli Alves, 36 anos, sobre o fluxo de contratações durante a pandemia

que continuou normal, dentro das adaptações necessárias. As seleções aconteciam a partir de horários marcados, mantendo as regras de distanciamento entre o candidato e o entrevistador, com o uso de máscara e álcool em gel. Uma das adaptações foi também usar da tecnologia para o recrutamento por meio de entrevistas por videoconferência. Marli diz que enfrentou algumas dificuldade durantes esses processos, como a desistência de candidatos, por exemplo, que tinham entrevista marcada e não compareciam. Outro impecílio foi ter que diminuir a quantidade e o ritmo de entrevistas para atender às medidas de segurança. “A procura deu uma diminuída devido ao medo que as pessoas ficaram de sair de casa, de se expor. Porém, conseguimos atender a nossas demandas”.

CLAÚDIO MARCOS

Economista Claudio Marcos explica principais problemas econômicos causados pela pandemia


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EDUCAÇÃO Com o advento da Covid-19 a rotina e os hábitos dos imperatrizenses foram alterados e o setor da educação teve que ser repensado para proteger os estudantes e profissionais da disseminação do novo vírus

Dificuldades continuam com o ensino remoto LARISSA PEREIRA

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AROANY SETÚBAL

Coordenador Setúbal em seu ambiente de trabalho, aperfeiçoando os seus conhecimentos

Wemilly Santos estuda pela plataforma Geduc com sua mãe Arlene Silva

Guimarães Gomes, 42 anos, não está sendo tão difícil lidar com a situação. Ela é mãe de Sara, de 15 anos, que está no 1° ano do ensino médio e Samuel, 13 e Marcos Antônio, 10, ambos no nível fundamental. Na sua casa já havia acesso à internet e a dispositivos tecnológicos. A mãe afirma que achou ótima a ideia das aulas on-line, pois assim seus filhos não ficam totalmente parados e sem atividades escolares, além de perceber que eles estão tendo um bom rendimento. Como Nildete trabalha no salão que fica em sua própria casa, quem se encarrega de ajudar os irmãos mais novos é a filha mais velha, mas a mãe sempre auxilia quando pode. “A gente acessou rapidamente a plataforma e foi uma maravilha. Tem dias que não quer abrir, é complicado, porque você está ali acessando e de repente o sistema não está legal. Mas, pra mim foi ótimo, os meus filhos já se adaptaram. Eles também são muito esforçados”, ressalta.

LARISSA PEREIRA

om a suspensão das aulas presenciais na rede municipal e particular de Imperatriz, a partir de 16 de março, estudantes e professores buscaram adaptar-se à nova realidade. Para a secretária Arlene Silva Chaves, 29 anos, mãe de Whemilly Chaves Santos, de 8, não está sendo nada fácil acompanhar o modelo de aula remota. Ela conta que em casa não tem internet e o pacote de dados que usa no celular não é suficiente para ter acesso. No início do período de ensino remoto era utilizado o aplicativo de mensagem Whatsapp. Porém, com a retomada oficial das aulas

não presenciais aos estudantes de 1° a 9° ano de escolas municipais, em 3 de agosto, a nova tecnologia adotada passou a ser a plataforma virtual Geduc. Arlene Silva relata que, no celular, não é possível abrir as imagens e que algumas informações são cortadas. “No meu trabalho entro na plataforma, imprimo as atividades, levo pra casa pra fazer com ela e depois anexo”, comenta Arlene. Com a nova rotina, a mãe diz que a filha não tem evoluído muito, mas tenta ao máximo deixar as atividades em dia. Isso apesar do tempo que também lhe falta, pois trabalha o dia todo e só está em casa à noite. Em meio a tantas dificuldades de alguns pais, para a cabeleireira Nildete

“Tem crianças que não estão cumprindo suas atividades, tanto on-line ou com os blocos impressos, por falta de interesse da própria família”, comenta Setúbal. Entre as dificuldades enfrentadas pelos professores, está o acesso e manuseio das plataformas on-line. “A plataforma é muito complexa, às vezes os professores não conseguem publicar as aulas. Muita das vezes os registros somem, as crianças não conseguem visualizar as tarefas, e as orientações dos técnicos não são o suficiente pra tirar as dúvidas dos professores e do coordenador”, ressalta.

mota, foi preciso planejar a formação dos professores, coordenadores e Professores- As dificuldades tam- gestores, além de mobilizar todas as famílias para bém atingiram que elas pudessem os profissionais se engajar no prode educação. cesso. Francisco RoPara os alunos drigues Setúbal, “Imprimo as atividades, que estavam com 63 anos, que é levo pra casa pra fazer dificuldade de coordenador da com ela e depois anexo” acesso à plataforescola municima, a escola provipal São Francisdenciou blocos de co, relata que, atividades impresno início, todos sas, para serem leda escola foram pegos de surpresa, tendo as aulas vados para casa e atualizassem as suspensas de imediato. Com o re- atividades e devolvessem aos protorno das atividades na forma re- fessores para fazer as correções.

Aulas presenciais são retomadas em escolas particulares, mas com cuidados reunião com os pais, os dirigentes da escola afirmaram que seria disponibilizado álcool em gel, e que a om o retorno das aulas pre- temperatura dos alunos seria medisenciais durante a pandemia da todos os dias na entrada, além em algumas escolas parti- de distribuir copos retráteis para culares, a preocupação dos pais a todos os estudantes. respeito da saúde dos filhos e da “Eu sinto que a escola não se imfamília só aumenta. Alguns adoles- porta muito, porque às vezes os alucentes não demonstram ter um real nos tiram as máscaras, se abraçam cuidado com o distanciamento so- e têm contato segurando as mãos. cial e com o uso de máscara e álcool Tem aluno que não leva material e em gel. acabam dividindo, eu gostaria que A estudante M. S. O., 14 anos, tivesse voltado, mas não queria que que preferiu não se identificar, fosse assim”, comenta M.S.O. afirma ter medo, pois mora com Para a professora Jucileia Sansua avó, que é tos de Carvalho, idosa e do grupo 37 anos, o início de risco, seu irda quarentena foi mão e seus pais, bem estressante, e por isso toma “Eu gostaria que tivesse pois toda a rotina todo o cuidado. voltado, mas não queria de muitos anos que “Na sala de aula era desenvolvida foi que fosse assim”. uso uma máscara quebrada, e ela teve até o horário do que ficar em casa intervalo e outra sem poder fazer depois. Sempre muitas coisas, cheia ando com o meu álcool em gel e de incertezas. Em maio, com a volquando chego em casa higienizo ta das aulas remotas, a professora todos os materiais que levo pra es- passou a comparecer na escola três cola”, comenta. vezes por semana. O material neA estudante conta que ficou fe- cessário para gravar as aulas estava liz com o retorno das aulas presen- todo no ambiente escolar. Os aluciais, diferente dos seus pais, que nos assistiam por meio de um canal não gostaram muito, mas acabaram específico no You Tube criado pela percebendo que era melhor. Em escola e enviavam as atividades pelo JULIANA SANTANA

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SORAYA DOS SANTOS

e-mail. Assim, poderiam receber as correções diárias feitas pela professora. “Quando ia gravar ficava muito nervosa e tive certa dificuldade por ser algo novo. Fiquei insegura, sempre pensando no julgamento dos pais sobre o que eles estavam achando das minhas aulas”. Em setembro, com o apoio da maioria dos pais, a escola decidiu voltar presencialmente, com todas as medidas de proteção, como o distanciamento das cadeiras, o tapete para higienizar os sapatos, o aparelho de medir a temperatura e recipientes com álcool em gel para higienizar as mãos. Mesmo com todos esses cuidados, alguns pais não aceitaram e, nesses casos, a escola optou pelo ensino hibrido, no qual há o revezamento dos grupos que aceitam comparecer às aulas presenciais, enquanto outros assistem em tempo real, nas suas casas. “No início, me sentia muito cansada, pois tinha que gravar três vezes na semana e fazer centenas de correções. Sempre tinha os alunos que atrasavam as correções e enviavam a do mês todo só em um dia. Já hoje, com o ensino hibrido, não me sinto tão cansada, pois as correções são feitas no momento da aula e não levo trabalho pra casa. Assim, fica mais tranquilo”, comenta Jucileia.


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ENTREVISTA: ENFERMEIRO VITOR PACHELLI

“Conseguimos salvar muitas vidas”

DANIEL SENA

Hospitais de campanha atenderam mais de 500 pessoas em Imperatriz e foram fundamentais

raduado em enfermagem pela Universidade Federal do Maranhão – campus Imperatriz, o coordenador do HosG pital Municipal de Campanha da cidade, Vitor Pachelli, de apenas 28 anos, faz um balanço ao Jornal Arrocha sobre os sete meses de funcionamento da unidade e conta sobre como é estar no comando da equipe no enfrentamento à Covid-19, doença que já fez 400 mortes em Imperatriz.

MANOEL PEREIRA ALENCAR ANDRÉ LIMA

O que significa o Hospital Municipal de Campanha para Imperatriz e sua população neste cenário de enfrentamento da pandemia do novo coronavírus? O hospital significa uma nova instituição, na verdade, que foi implementada para atender a todos os pacientes vítimas da Covid-19 em Imperatriz e região. A partir da iniciativa da prefeitura, o hospital foi montado em 20 dias, sendo o primeiro de campanha do Maranhão, atendendo, nesse período, cerca de 500 pessoas. Foi um dos pilares principais nesse combate à pandemia. Após sete meses de funcionamento do Hospital de Campanha, como coordenador da unidade, qual é seu o sentimento agora? O sentimento é de gratidão e, principalmente, de dever cumprido. Foi dada uma missão para a gente e conseguimos desenvolver bem as atividades, toda a equipe profissional. Conseguimos salvar muitas vidas. Qual o balanço que você faz até agora da atuação do HMC? O HMC nesse período foi bastante benéfico, principalmente para uma cidade do porte de Imperatriz, uma vez que a gente tem que dar o suporte necessário para cuidar dessa população que precisava de atendimento hospitalar. Lembrando que esse cuidado é um trabalho em conjunto. Foi o trabalho da Secretaria de Saúde junto com atenção básica e de outros hospitais e das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Em conjunto, conseguimos diminuir gradativamente o número de pessoas contaminadas a partir das atividades de ambulatório e das medicações como prevenção e a sistematização e o cuidado entre as redes de saúde.

Quais foram as maiores dificuldades que o HMC enfrentou ? A maior dificuldade foi ter que lidar com a oposição política do atual governo municipal. Às vezes queriam filmar dentro do hospital e fazer parecer que não estávamos atendendo, que a pandemia não era uma realidade, que toda essa situação foi propositalmente criada para promover o atual prefeito. Lidar com essa negação e tentativas de sabotagem foi complicado. Como você avalia o enfrentamento da rede de saúde do município à Covid-19? Eu acredito que a Secretaria de Saúde conseguiu organizar bem toda a sistematização de atendimento aos pacientes com Covid-19. Desde aquelas pessoas que iriam para a unidade básica e dos ambulatórios, bem como aqueles que precisavam ir para atenção hospitalar ou ser internados. Dentro do possível, tem sido feito um bom trabalho de atendimento, a avaliação é positiva no geral. Apesar da aprovação recente de uma vacina, ainda é incerto o cronograma de vacinação no Maranhão. Especialistas comentam a respeito de uma provável segunda onda de contaminação de Covid-19 no Brasil. Você acredita que Imperatriz esteja preparada para enfrentar mais essa nova onda da pandemia? No momento nós podemos contar apenas com os leitos hospitalares do hospital de campanha e com os leitos do Hospital Macrorregional, mas este teve uma redução de leitos. Então, Imperatriz precisaria reativar mais leitos para que a gente pudesse dar contar de uma possível nova onda. O HMC de Imperatriz foi o primeiro do Maranhão, inaugurado em menos de um mês. Você acredita que essa resposta mais rápida do município fez a diferença no combate? Acredito que sim, uma vez que nós não poderíamos colocar esse paciente com Covid-19 no Hospital Municipal de Imperatriz, senão teríamos uma contaminação em massa.

Dessa forma, o HMC tinha não só a responsabilidade de atender os pacientes infectados pelo vírus, mas também de não deixar uma contaminação maior acontecer. Assumir, aos 28 anos de idade, a direção de uma unidade hospitalar como esta, que desempenha uma função fundamental no enfrentamento da doença na cidade e região foi uma tarefa difícil? Como profissional, qual o grande aprendizado que fica? Foi um grande desafio, principalmente porque tenho apenas três anos de formado. Então esse desafio eu aceitei por acreditar que poderia fazer a diferença. E tudo sempre com o apoio da secretária de Saúde, Mariana Jales, e da prefeitura, para que assim pudéssemos exercer o melhor trabalho possível e, principalmente, desenvolver uma assistência voltada ao paciente com base no princípio da humanização. Para que a gente pudesse dar o conforto e acolhimento para o paciente se sentir bem cuidado. O que deve ficar de aprendizado para Imperatriz? O primeiro é que devemos continuar nos cuidando. A transmissão do vírus acontece de modo muito fácil, então todo cuidado é pouco. E segundo é que, para lidar bem com situações assim de uma crise sanitária, é preciso ter bons gestores no comando da cidade. Imperatriz teve, tanto na prefeitura como na Secretaria de Saúde. Isso evitou que o número de vítimas fatais fosse maior. São mais de 181 mil mortos no Brasil em decorrência da Covid-19. Em Imperatriz são 400 óbitos contabilizados. Mesmo diante deste cenário, muitas pessoas têm relaxado cada vez mais os cuidados para prevenção da doença. Qual alerta você dá para essas pessoas? Que todos continuem se cuidando. Usem máscaras, álcool em gel, evitem aglomerações, mantenham sempre os hábitos de higiene, principalmente com as mãos. A pandemia ainda não acabou.

Enfermeiro Vitor Pachelli, coordenador de equipe no enfrentamento à Covid-19 em Imperatriz-MA


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Era uma vez um mundo Era uma vez um mundo, um mundo de tantos nós Nós que palpitamos Nós que desamarramos Rostos abafados, clamando por ar Esse mesmo mundo agora renasce De todo o medo e fúria que nos fez chorar

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Os dias não passaram E os que passaram levaram sonhos Prece a Deus, ao que nos motiva A cada sonho que se foi, Que se transforme em nova vida Renovamos, reinventamos, construímos A saudade do contado, do poder sentir: fica a lembrança! Era uma vez um mundo, um mundo agora de esperança Igor Aguiar

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CULTURA Eventos como festas juninas e o tradicional Salão do Livro de Imperatriz (Salimp) não puderam ser realizados por conta da pandemia, o que gerou desemprego dos profissionais que dependem dessas atividades DANIEL SENA

Futuro dos eventos culturais é incerto Jovem cadeirante foi um dos destaques da quadrilha junina Flor do Ribeirão, em tempos de pré-pandemia. “Estávamos no meio da construção do espetáculo e de repente fomos pegos de surpresa”, lamenta o presidente da quadrilha, Elandias Bezerra ANA BEATRIZ IBIAPINO BRENDA LIMA

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m Imperatriz, o setor cultural sofreu grande impacto devido à pandemia. Importantes eventos da cidade, como o São João, o Carnaval e o Salão do Livro de Impe­ratriz (Salimp) não puderam ser realizados. De acordo com o presidente da Fundação Cultural de Imperatriz, Olímpio Pereira Marinho Filho, não há como mensurar o impacto, já que, como ele frisa, o cancelamento dos eventos afeta vários segmentos do comércio. São João - Ruas cheias, comidas típicas, fogueiras e apresentações de quadrilhas em celebração ao São João, não puderam acontecer como de costume este ano. O presidente da Junina Flor do Ribeirão, do município de Governador Edson Lobão, Elandias Bezerra, 43 anos, afirma que para os brincantes, a notícia veio carregada de frustração. “Estávamos no meio da construção do espetáculo e de repente fomos pegos de surpresa”.

Essa é a mesma sensação vivida pela população, que aguarda todos os anos ansiosamente para a realização de eventos juninos como o Arraiá da Mira, no qual há diversas apresentações de quadrilhas de ImDANIEL SENA

Bloco da Imprensa agitou o último carnaval

peratriz e cidades vizinhas que não puderam ser realizados por conta do coronavírus. E a não realização das festas juninas na cidade, fez com que profissionais que dependem especificamente da existência destes eventos ficassem sem trabalho. Carnaval - O destino das grandes festas carnavalescas no ano que vem ainda é incerto. Foliões costumam festejar o carnaval nas ruas, com participações de blocos de todas as idades, trios elétricos, os tradicionais desfiles, cantores locais e nacionais. Em Imperatriz, o tradicional Bloco da Imprensa, organizado por jornalistas e comunicadores, contou com a participação de 10 mil foliões em 2020. Janaína Amorim, 33 anos, jornalista e organizadora do bloco, entende que o futuro é incerto. “Não sabemos como vai ficar a questão do bloco devido à pandemia. Provavelmente seguiremos o calendário nacional e estadual, caso tenha o cancelamento em 2021”.

Salimp - O Salimp, um dos eventos culturais mais aguardados pela população imperatrizense, também teve sua programação cancelada pela primeira vez, em 18 anos de existência. A maior feira literária do Maranhão acontece todo ano na cidade, reunindo em média 120 mil pessoas durante os

“O sentimento é de decepção e tristeza, tendo em vista a importância que o evento [o Salimp] representa para a população” nove dias de realização. Além da comercialização de livros, o Salimp costuma realizar diversas atividades culturais como palestras, oficinas e também shows de música e dança popular. O presidente da Academia Imperatrizense de Letras, Raimun-

ACERVO PESSOAL

Sem shows, cantores buscam se reinventar na pandemia ANA BEATRIZ IBIAPINO BRENDA LIMA

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om o isolamento social, a vida de quem depende do público para trabalhar, como é o caso dos músicos, teve grande impacto. O cantor imperatrizense Adão Oliveira, 22 anos, é um dos muitos artistas da região que sofreu com as restrições da pandemia. Músico profissional há sete anos, Adão relata que parar foi muito difícil. Afirma que o isolamento afetou tanto financeira como emocionalmente. “Foi muito complicado! Eu estou acostumado a tocar de segunda a segunda. Eu fiquei dentro de casa 24 horas por dia. A gente não tinha o que fazer. Tinha bastante insônia”. Quem também viveu a angústia do isolamento foi o jovem cantor de 23 anos, Mateus Policarpio, natural de Campestre, no Maranhão, ele trabalha como cantor profissionalmente há dois

anos. Mateus acredita que, com o impacto da pandemia sobre a sua carreira e a de muitos músicos, todos passaram por um momento difícil.“Inclusive, eu até pensei em desistir da música”.

Auxílio - A lei n°14.017/2020, conhecida como “Lei Aldir Blanc”, aprovada pelo Governo Federal, criou o auxílio emergencial para a manutenção de espaços culturais e renda aos trabalhadores da área. Os recursos foram destinados aos estados e municípios de forma proporcional à população. Em Imperatriz, o cadastramento dos artistas é feito por meio da prefeitura, junto com a Fundação Cultural. Sendo aprovado, o artista recebe três parcelas de R$ 600. Segundo o presidente da Fundação Cultural de Imperatriz (FCI), Olímpio Pereira Marinho Filho, a prioridade ficou com a classe musical, pois esta foi a primeira a parar e deve ser a última a voltar. Por meio do edital “A gente faz

cultura em casa”, 110 artistas receberam auxílio, sendo 15 deles cantores. Adão Oliveira soube do auxílio por meio de amigos também cantores. Fez o cadastro pela prefeitura, porém não foi aprovado para receber. Como forma de lidar com a vida fora dos palcos, Mateus Policarpio buscou apoio na família, que o ajudou a não desistir do seu sonho: a música. “Para ocupar um pouco a mente, estava sempre estudando músicas pra compor, até tudo voltar ao normal”. Para outros, as lives também foram uma maneira de continuar o trabalho na área, como no caso de Adão Oliveira, que chegou a fazer algumas apresentações virtuais. “No começo eu não queria. Só que o pessoal foi pedindo, aí eu gravei umas seis lives: quatro em Imperatriz, duas em Açailândia e outra no Itinga-Maranhão”. Com as flexibilizações municipais e a reabertura dos estabelecimentos,

do Trajano Neto, explica que o cancelamento da 18ª edição do Salimp foi uma decisão tomada em conjunto com os organizadores, levando em consideração a pandemia. Para Trajano, o sentimento é de decepção e tristeza, tendo em vista a importância que o evento representa para a população. “Eu sempre falo que o Salimp é o Embaixador Cultural de Imperatriz”, destaca. Era grande o anseio para a edição deste ano. “Tínhamos uma expectativa de ser um grande evento. O Salimp vem crescendo ano a ano, com a própria manifestação popular servindo como incentivo”, explica Trajano Neto. Mas, como uma forma de lidar com as limitações, a internet vem sendo uma grande aliada. A academia fechou 2020 preparando o I Salimp online. Segundo Trajano, a proposta é fazer uma programação menor, integrada à internet. Ele também acredita que os eventos virtuais podem se tornar uma tendência para as próximas edições.

Cantor Mateus Policarpio interage com multidão durante show realizado no carnaval de 2020 muitos músicos da cidade já retornaram aos shows. “Foi a melhor coisa que aconteceu, pois está tudo voltando ao normal aos poucos”, conta o músico Mateus Policarpio. Já Adão explica que voltar ainda é difícil. Sentiu um pouco de medo no início e diz que hoje prefere fazer shows particulares.

Mesmo em meio às dificuldades, os sonhos e expectativas para o futuro são grandes. Policarpio deseja continuar a sua carreira na música e conseguir o reconhecimento do público. Para Oliveira, a esperança é que a pandemia passe e ele consiga cantar sem nenhum impedimento.


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LAZER Rompimento, por decreto municipal, das atividades e serviços não essenciais de estabelecimentos de lazer gerou impactos na vida de empresários, particularmente do ramo dos bares durante a pandemia

Novas formas de lazer em meio à pandemia PHELIPPE DUARTE

PAULA PACHECO

dequar às novas Estabelecimento teve de se rea PAULA PACHECO SORAYA DOS SANTOS

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mpresários e donos de estabelecimentos de lazer sentiram o impacto da pandemia ao terem de fechar as suas portas a partir do decreto municipal de 9 de maio de 2020, que proibiu atividades e serviços não essenciais. “Aluguel e energia atrasados foram os primeiros problemas, porque a fonte de renda é só o bar”, reclama o proprietário do estabelecimento Coco Verde, Antônio Sousa, de 60 anos. A readaptação do novo modo de atender e trabalhar mudou durante a pandemia. Para não ficar sem uma renda mensal, muitos proprietários optaram por vendas on-line, com serviço de entrega (delivery) e retiradas de produto no local. Mas nem todos simpatizam com tal ferramenta. Antônio revela que não aderiu às vendas por entrega por não possuir afinidade com as tecnologias. O fechamento de alguns locais acarretou em prejuízo e desemprego. Ramon Bellotti, 23 anos, gerente do Made in Roça, confessa que o fechamento foi um susto, sendo necessário demi-

normas, colocando, por exempl

o, grades de afastamento

tir alguns funcionários. “Tivemos um impacto muito grande na quantidade de colaboradores. Reduzimos 70% da equipe de trabalho, muitas contas fixas tiveram que ser renegociadas”.

“Aluguel e energia atrasados foram os primeiros problemas, porque a fonte de renda é só o bar”

Reabertura - Considerando a diminuição no número de novos casos de infectados pelo coronavírus, a prefeitura passou a permitir, por meio de decreto nº 108, de 20 de outubro de 2020, o funcionamento de atividades econômicas. Bares e restaurantes e outros serviços não essenciais puderam reabrir, desde que não excedessem 70% da capacidade

Clientes buscam manter o distancia mento, conforme medidas estabelecida s

máxima de ocupação prevista no alvará de proteção e prevenção contra incêndio de cada local. “Muito ruim. Não podia colocar as mesas e o pessoal queria vir pra beber, mas não podia, só pode quatro pessoas por mesa”, lamenta Alvino Santana, 57 anos, dono do Ponto da Gelada, localizado na Beira-Rio. O distanciamento entre mesas e a disponibilização de álcool em gel são alguns dos parâmetros necessários para se adequar ao “novo normal”, o que exige investimento por parte dos proprietários de estabelecimentos, como bares, restaurantes e locais de lazer. “Mesmo fechado, a gente teve que investir para se adequar ao decreto. Tivemos que comprar litros e litros de álcool em gel, o que já era previsto, mas não os disciplinadores, que são aquelas grades de afastamento”, conta o administrador da Choperia Nº 1, Phelippe Duarte, 36 anos. Ele acrescenta que os clientes não ficaram satisfeitos com as medidas. “Mas a gente teve que educar a situação, disciplinar os clientes e mostrar a importância do motivo disso estar acontecendo”, relata.

pelos decretos de isolamento da pref eitura

Academias sofrem com paralisação durante o isolamento social PAULA PACHECO SORAYA DOS SANTOS

P

ara quem já treinava há seis anos em uma rotina de 45 a 60 minutos por dia, foi bastante complicado ficar parado durante a quarentena, como conta o estudante de educação física e atleta Ricardo Mourão, 24 anos. “Foi horrível, lidar com isso foi difícil, pois sou da área da educação física, então ficou inviável trabalhar”. Em decorrência da pandemia, ficou impossível a prática de exercícios nas academias, principais locais para treinos, e que tiveram as suas atividades interrompidas por alguns meses. Os impactos da pandemia são vários, desde a falta de renda para manter despesas como o aluguel, a conta de energia e o salário dos funcionários, conforme comenta o proprietário da academia Hardcore, Francisco da Silva Neto, 39 anos. O personal trainer Enrique Constantine, 39 anos, descreve como foi orientar e lidar com as medidas em um período difícil para a sua profissão. “Foi praticamente um choque. No primeiro mês ainda deu para atender alguns em casa. Mas com uma queda de 70% e depois chegando a 100%, quando as coisas ficaram muito mais difíceis, pois não tinha de onde tirar uma renda”. As academias foram apenas um dos

ramos prejudicados com a chegada da pandemia. Mas, para não ficarem com os exercícios em atraso, mesmo diante de um cenário preocupante e arriscado, algumas pessoas buscaram outras opções de lugares para praticar exercício físico, como por exemplo, a Beira-Rio, um, dentre os principais locais de lazer de Imperatriz. Adelina Barbosa Lima, 78 anos, pratica caminhada há 10, principalmente neste local. Ela confessa não ter tido medo de se exercitar em meio a uma pandemia. “Continuei vindo, mas com máscara, aqui as pessoas ficam distantes uma das outras”, explica. Desde que a flexibilização e novas medidas de segurança foram estabelecidas, os comércios, academias, bares e locais de lazer de Imperatriz têm retomado a rotina de atividades aos poucos com o público. Ainda que muitos não estejam de acordo ou sigam as orientações, como o uso de máscaras e distanciamento, os locais seguem com suas obrigações de manter os ambientes higienizados e seguros para trabalhar e atender de acordo com as normas. “Disponibilizamos lavador de calçados na entrada e local para desinfetar os calçados. Fizemos também o distanciamento de aparelhos e disponibilizamos álcool em gel”, garante Francisco da Silva.

População volta a frequentar locais públicos, mas muitos sem proteção

C

comer aqui, eles se revoltam, porque eles querem ficar e amontoar de todo jeito”, revela a atendente da pizzaria Sonho Doce, Raquel da Silva, 21 anos.

FOTOS: PAULA PACHECO

prevenção necessárias contra o novo coronavírus. “Não tomo nenhum cuidado cabível ao Covid-19 por aminhar, andar de bike, cordesinteresse e por não pôr na cabeça rer, passear com os cachorros, a tamanha importância que isso tem são inúmeras as opções de sobre as medidas de precaução que como cuidar da saúde física e com existem”. proteção. A avenida Pedro Neiva Além da via destinada para de Santana, localizada no bairro exercícios, o local possui uma diverVila Lobão, tem sido um dos ponsidade em pontos gastronômicos. tos principais de lazer da cidade Maiara Almada, 40 anos, atendente para quem quer do lanche Acarajé exercitar-se. Com “Não tomo nenhum do Baiano, relata o fluxo de pessoas que algumas pessoas cuidado cabível bastante intenso tomam cuidado, ao Covid-19, por durante a panenquanto outras desinteresse” demia, algumas já não. “A gente atende não se preocupam muitos clientes sem em tomar certos cuidados no local: máscara. É aquela coisa, a gente não é raro o uso de máscaras e muito pode obrigar, e também não vamos menos o distanciamento. dispensar os clientes”. Ela conta que Emanuella Brito, estudante de observa muita aglomeração, princi15 anos, pratica caminhada todos palmente nos locais do outro lado os dias na avenida nos últimos da avenida, que têm shows ao vivo e três anos, por volta das 18 horas, vendem bebidas alcoólicas. e confessa não seguir medidas de “Se a gente falar que não pode

PAULA PACHECO SORAYA DOS SANTOS

Sem proteção, algumas pessoas mantêm a rotina de exercícios em avenida bastante movimentada

Além da avenida, com as academias fechadas, as pessoas buscam também espaços ao ar livre


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MULHERES Empreendimento feminino em Imperatriz é uma parte importante do empoderamento das mulheres e representa lutar para conquistar o seu lugar no mercado de trabalho, uma batalha por direitos iguais

Empreendedorismo marca os tempos de pandemia DEGLAN ALVES

S

Vânia Santos se orgulha de se tornar uma empresária aos 24 anos

hoje atinge 13,8 milhões de brasileiros, índice 14,4% maior desde 2012, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicícios Contínua Mensal (PNAD). Quando abriu a loja física, diante de todas as restrições de distanciamento social, Vânia precisou organizar um meio que fosse possível e seguro para todos os clientes. “Não fizemos inauguração, nossos atendimentos foram agendados e sempre com a presença de produtos para a higienização. A plataforma on-line foi verificada e reorganizada e assim estamos até hoje”, completa a empresária. Outro exemplo de empreendedorismo feminino e jovem da cidade é o de Bianca Santos dos Reis, 20 anos. Ela transformou o bullying que sofria na escola por conta de seu cabelo pintado, que chegou a 30 variações, em um sonho e decidiu criar a sua própria marca, o B Collors, primeiro salão voltado para cabelos coloridos em Imperatriz. O espaço foi aberto no dia 28 agosto de 2020 e segue com atendimentos agendados por meio do Instagram, sendo uma cliente por vez por conta da pandemia. Bianca conta que ficou desempregada e teve que procurar meios para garantir sua própria renda. “O dinheiro era pouco para iniciar um

salão e tinha toda essa noção que os móveis e os acessórios são bem caros. Mas pensei: tenho que começar de algum lugar, não posso ficar parada”. A empresária Empresária trabalha de segunda à sexta com atendimentos on-line e presenciais juntou todo dinheiro que tinha economizado do primei- pelas redes sociais a medida do pulro trabalho e procurou investir no so da cliente, trabalho com retiraessencial para o salão. “Pelo menos da no local e delivery”. Ela conclui um lavatório e uma cadeira tinha que que para continuar inovando no seu empreendimento, se inspira em ter!”. outras mulheres empreendedoras, On-line - A pandemia do coronavírus mostrando que podem e devem se mudou a nossa forma de comprar inserir no mercado de forma autôe consumir, trazendo um novo con- noma. Grande parte dos empreendiceito para os hábitos diários, pois mentos femininos, muitos estabeleatualmente surgem cimentos só popor alguma necesderiam funcionar “Começou com um sidade, uma delas com o delivery ou sonho que eu tive em é obter uma renda drive-thru, retiraextra. Anna Yslla, juntar dinheiro pra das no local. Isso fez que surgis- gravar minhas músicas 17 anos, teve muito tempo livre durante sem microempreautorais” a fase de isolamensas moldadas ao to social, fazendo novo mecanismo de funcionamento. Camila Ingrid, com que a música fosse o seu foco 14 anos, abriu a sua loja online no principal e para realizar seus projeInstagram com seus produtos fei- tos musicais, decidiu abrir uma loja tos 100% de maneira artesanal. Ela on-line para vender brigadeiros caconta sobre as facilidades do aten- seiros. Com essa renda extra pode dimento virtual e vendas na pan- apostar no seu desejo pessoal de se demia. “Na verdade, foi super tran- tornar cantora. “Começou com um quilo, pois as clientes não precisam sonho que eu tive em juntar dinheiexperimentar os produtos. Como ro pra gravar minhas músicas autosão bijuterias feitas à mão, peço rais”.

ço e da comodidade de passar na porta dos fregueses, que se Vendedores ambulantes tornaram fixos. “As pessoas fatrabalham durante a quaren- lam que já estavam esperando tena em Imperatriz para obter por nós, pois passamos todos renda familiar e levar merca- os dias”. dorias de qualidade para as Com uma cesta na garupa da pessoas em isolamento. bicicleta, a ambulante Maria de Carlos Alves da Silva, 49 Lurdes Saraiva, 57 anos, vende anos, tem como único meio de verduras no bairro Parque Amasustento as vendas de frutas. zonas. Durante toda a semana, Ele conta que teve medo de acorda às 4 da manhã para secontrair o vírus e levá-lo para parar os melhores produtos. o seu lar, mas ressalta que os Como se manteve decidida a ficlientes, ao perceberem que car em casa com a chegada da seu carro não estava nas ruas, Covid-19, os clientes começaram começaram a a ligar ao sentimandar menrem sua falta sagens para “Faça chuva, ou faça nas ruas. Maseu celular. sol, eu sempre estarei ria conta que Mesmo com sempre tomou pedalando minha todas as pretodos os cuibicicleta para levar cauções, Aldados necessáo melhor aos meus ves relata ter rios com o uso ficado doende máscaras e clientes” te, junto com álcool em gel sua esposa e, mesmo com e filhos e, por isso, teve que medo, fez entregas para pessoas passar um tempo sem sair pe- infectadas em isolamento. Com los bairros. “Nesse trabalho o carisma e a força de vontade que fazemos, ficamos muito de trabalhar, ela afirma ter conexpostos a pegar a Covid-19. quistado a confiança dos comFicamos frente a frente com o pradores, além de declarações vírus e muitas pessoas doen- de afeto. “Faça chuva, ou faça tes que encontramos”, alerta. sol, eu sempre estarei pedalanSegundo Carlos da Fruta, do minha bicicleta para levar o como é conhecido, perfis de melhor aos meus clientes”, restodas as idades compram em salta Maria. seu veículo por causa do prePor ser a única renda da

ANDRÉIA CABRAL

família, ela precisa da ajuda do marido e, juntos, eles conseguiram realizar o sonho de ter a casa construída. “Olhe o cheiro verde”, ela anuncia ao passar nas redondezas do quarteirão.

Carlos das Frutas teve que trabalhar todos os dias, mesmo com os perigos da pandemia

ANDRÉIA CABRAL

Ambulantes arriscam suas vidas para garantir o sustento

FOTOS: DEGLAN ALVES

egundo estudo feito em 2019, pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, o Maranhão soma cerca de 281 mil mulheres empreendedoras. Com esse espírito, as mulheres imperatrizenses encontraram uma saída para obter renda extra e realizar seus sonhos antes e durante o auge da primeira onda da pandemia do coronavírus. Mesmo durante o auge da pandemia, no dia 22 junho deste ano, a empresária Vânia Barbosa dos Santos, 24 anos, decidiu que sua loja, a Clotilde 71 Brechó, deveria sair do virtual e ocupar um espaço físico, localizado na rua Ceará. “A dificuldade de abrir um empreendimento é constante e ainda mais no meio de uma pandemia. Todos os cuidados dobram, primeiro pelo medo, o pânico que a doença traz a todos, a angústia de não saber quanto tempo vai durar, se vai acabar e as pessoas que se vão”. Vânia lembra que a decisão de abrir um negócio on-line já tinha se concretizado em abril de 2018. “Após sair do meu antigo trabalho, depois de três anos de carteira assinada, tive novamente mais um

baque com a realidade, problemas financeiros e precisava providenciar algo logo para me manter. Fui trabalhar com meu avô em seu brechó”. A empresária afirma que o empreendimento nasceu por necessidade, por conta do desemprego, que já assolava o país naquela época e que


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TRANSPORTES Relatos dos profissionais do transporte de passageiros público e privado no período de afastamento social durante o pico do coronavírus indicam dura realidade de adaptação na fase prolongada de isolamento

Taxistas enfrentam a pandemia da Covid-19 ALINE LEITE ALINE LEITE IZABELLA SOUSA

“N

ão! Todo mundo era a favor de ficar em casa”. Taxista há 13 anos, Jackson Carvalho Vieira, 59, foi taxativo sobre como os seus passageiros entenderam o isolamento social. Mesmo assim, Jackson não parou de trabalhar e, com ponto na rodoviária de Imperatriz, percebeu que durante o isolamento social a população estava assustada com o novo coronavírus. O medo de contaminar-se com a Covid-19 afeta também aos familiares de quem trabalha no ramo do transporte. “Olha, tu limpa o carro. Tu limpa tudo”, são as recomendações de Domingas Sousa Vieira, 55 anos, esposa do taxista Jackson. Ela desabafa sobre a sua rotina durante o pico do coronavírus. “Menina, era máscara e álcool em gel. Quando ele chegava era tirar a roupa, botava pra lá e lavava separado. Passei uma temporada até me acostumar. A gente ficou uns três meses assim, agoniada demais”. Domingas lembra que ficava com medo do marido viajar, por ele ser diabético. Pontos - Com os transportes intermunicipais parados, restou aos taxistas da rodoviária a missão de garantir a chegada dos passageiros aos seus locais de destino. Os únicos veículos que podiam passar eram os de

Motoristas do ponto de táxi do aeroporto se queixam de queda no movimento de passageiros que, segundo eles, chegou a ser da ordem de 90%

turismo. “Esses ônibus que vêm pelo Tocantins. Quando demos fé, tudo preso. E aí ficava lá o pessoal sem poder ir embora”, recorda-se Jackson. O motorista refere-se à mediação que fez, transportando esses passageiros para o mesmo trajeto, em viagens fretadas. No início da pandemia e com

os decretos de isolamento social da prefeitura, a classe dos taxistas sentiu uma queda de 90% na procura por corridas, segundo eles mesmo relatam. Essa situação afetou drasticamente os trabalhadores do transporte em geral, já que os lucros despencaram. “Essa pandemia foi 100% negativa, mas em nenhum momento

discordei, porque sei que é válido”, afirma o taxista Francisco Wilsomar de Sousa Lima. Leonel, vulgo Brizola, mototaxista, endossa esse sentimento: “Nosso dinheiro diminuiu muito e a despesa aumentou, triplicou. No final do mês não sobra nada”. Osias Chaves, 32 anos, motorista de aplicativo pelo Uber, lembra que

IZABELLA SOUSA

Mototaxistas e motoristas de Uber relatam situações de perigo de contágio e mortes ALINE LEITE IZABELLA SOUSA

A

pandemia da Covid-19 deixou o ano de 2020 marcado para os motoristas de táxi, mototáxi e Uber. Alguns, por terem vivenciado a doença, outros por terem tido parentes ou passageiros acometidos por ela. Os relatos são vários. João de Deus Texeira de Melo, mototaxista, vivenciou o risco de contaminação, já que o seu ponto fica em frente ao Hospital Regional Materno Infantil. “A gente carregou muitas pessoas doentes. Eu levei uma enfermeira. Ela tinha acabado de sair e disse estar com corona. É um medo, mas temos que trabalhar”, conta. O mesmo aconteceu com Silvano Ferreira Lima. “Carreguei uma mulher que disse estar com Covid. Quando ela montou na moto eu

fiquei com muito medo. Quando ela desceu, lavei os capacetes com álcool em gel e fui pra casa. Tomei um banho e troquei de roupa, fiz todo o procedimento e não peguei o vírus”.

“O pessoal está levando as coisas na brincadeira, a pandemia acabou coisa nenhuma” Márcio Dias, mototaxista, e Jaelyson Cirqueira da Silva, motorista Uber, além de terem ficado doentes da Covid, tiveram parentes afetados. Márcio chegou a ver a mãe em estado grave. “Ela ficou uns 40 dias, os primeiros 10 foram terríveis. Ela perdeu a fala de tanta

fraqueza, mas ficou boa”. Joelyson, por sua vez, perdeu “duas tias e um primo para a Covid, e quase [perdeu] um tio”. O taxista Domingos Alves, 64 anos, lembra que enfrentou um período de tristeza e aflição. “Olha, me deu medo porque estava vendo as coisas acontecerem. Vários amigos meus morreram. Taxistas morreram sete e muitos amigos que não são taxistas também”, destaca. Ele alerta sobre a necessidade de manter a higienização de segurança. “O pessoal está levando as coisas na brincadeira, a pandemia acabou coisa nenhuma. Tem umas pessoas que acostumaram e outras estão duvidando, porque não tem noção da gravidade da coisa. Então, tem que ter muito cuidado, porque só vai acabar quando a vacina sair”, reforça Domingos, preocupado. ALINE LEITE

Passageiros em espera dos ônibus: reclamações vão das janelas fechadas a clientes sem máscara

Passageiros reclamam de falta de medidas de proteção nos ônibus ALINE LEITE IZABELLA SOUSA

“E

u fico morrendo de medo”, comenta Danielle de Sousa Viana, 18 anos, moradora do bairro Vila Vitória, sobre a necessidade de usar o transporte público. Segundo pesquisa do Datafolha, 47% da população brasileira ainda manifesta temor de se contaminar com o novo coronavírus. Entretanto, na percepção dos usuários, as empresas de transporte coletivo fizeram pouco em relação à proteção. O ônibus que Danielle precisa utilizar dispõe de ar-condicionado e as janelas sempre estão lacradas, o que gera preocupação. “Porque agora as pessoas estão

Profissionais do transporte arriscam suas vidas em função do trabalho. Muitos não puderam parar e, por isso, enfrentaram situações de perigo de contágio

“alguns não pararam, pois viram que a necessidade era superior ao risco de pegar essa enfermidade”. Segundo ele, as informações eram muito desencontradas e, mesmo assim, uma parcela ficou ativa. Raimundo Fonseca de Azevedo e Alielson Alves de Carvalho, ambos motoristas de táxi com ponto no aeroporto da cidade, contam que ficaram três meses parados. Raimundo lembra que a dinâmica dos vôos mudou. “No aeroporto a queda de passageiros foi grande. Agora só fazem vôos durante o dia e a noite parou, mas estamos reagindo aos poucos”. O taxista afirma que, assim como na rodoviária, o aeroporto também recebeu uma equipe de testagem 24 horas. “Tinha umas enfermeiras com medidor de temperatura para verificar os que chegavam. Caso desse alteração, a pessoa era encaminhada para o hospital”, lembra Raimundo. Sobre ficar em casa, Alielson comenta que estava “de cara pra cima e se estressando”. Mas garante que recebeu apoio dos passageiros nesse período. “Teve cliente que entrou em contato comigo pra saber se eu precisava de algo, alguma ajuda. Mas sempre deixo uma reserva pra essas horas”, destaca. Mesmo assim, o taxista Allison acredita que o transporte, em geral, está melhorando. “Estamos em processo de retomada, deu uma recuperada boa, cerca de 70%”.

andando sem máscara e tem gente que espirra e não tem como sair. O motorista não exige a máscara e deixa o passageiro passar”, denuncia Danielle, aflita. Lindalva Vieira de Sousa, 39 anos, afirma que nem no ônibus e nem no terminal de integração existe qualquer ítem de proteção. “Se quiser, você tem que levar. Apesar da situação, ainda houve a redução da frota durante a pandemia”, acrescenta Lindalva. O cabeleleiro Carlos Vera, 56 anos, faz coro e reitera: “Nunca vi limpeza nesses ônibus. A respeito da pandemia, não se vê nada, nunca teve higienização. Se você não anda com seu álcool na mochila, você está perdido”.


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POLÍTICA Câmara Municipal de Imperatriz reduziu o número de servidores, realizou rodízios de funcionários e votou projetos importantes de forma remota para respeitar o distanciamento social durante a pandemia

Pandemia modifica atividades na Câmara FÁBIO BARBOSA VANDERLENE ARAUJO EDINEI DA SILVA

O

vereador e presidente da Câmara Municipal de Imperatriz durante o período da pandemia, José Carlos Soares Barros, relata que a maior dificuldade de adaptação que sentiu em seu trabalho foi com a solidão. “Por um período fiquei sozinho na Câmara, eu e mais meia dúzia de funcionários. Esse foi o período mais difícil pra mim”. Carlos disse que no começo da crise sanitária as atividades da Câmara precisaram passar por modificações, como a redução no quadro de servidores e “a realização de rodízios entre si”, sendo que as pessoas do grupo de risco executaram suas atividades de forma remota. “Nós perdemos até um servidor pro Covid. Mandamos fazer testes em todos os funcionários, de modo que deu 56 casos positivos, mas todos os demais se recuperaram”. Atividades - Há uma semana antes das eleições, o parlamentar planejava novas votações importantes, como as leis de Planejamento Governamental, que valerão em 2021. Em relação ao atendimento ao público, que também foi suspenso por conta

do José Carlos, “às vezes, por falta de quórum” ou pelo fato de alguns vereadores terem sido contaminados com o novo coronavírus, mas de forma que “o trabalho de legislação da Câmara não ficou prejudicado”. Só ficou mais lento, em sua opinião, devido à crise sanitária. O presidente da Câmara afirmou que a casa participou de todos os projetos que ajudaram a comunidade

“Mandamos fazer testes em todos os funcionários, de modo que deu 56 casos positivos, mas todos se recuperaram”

Atividades da Câmara tiveram que passar por adaptações depois de muitos casos de contaminação, mas solenidades chegaram a ocorrer com distanciamento

da pandemia, o presidente informou que já houve recepção de grupos relativamente numerosos na Câmara, em solenidades como as de entrega

de títulos e honrarias de medalhas. “A gente recebe essas pessoas todas com máscara, obedecendo ao distanciamento. Na hora do coffe break,

é feito um rodízio: as pessoas vão entrando, se servindo e vão embora”. A pandemia também afetou algumas aprovações de projetos. Segun-

nesse momento. “Todos! Por exemplo, a Câmara baixou um decreto autorizando a prefeitura a dar R$ 400 aos agentes de saúde. A administração vetou, nós derrubamos o veto, o pedido foi então mandado e a Câmara aprovou”. Ele complementa que a Casa aprovou “tudo que é para beneficiar a população” e tudo que “a prefeitura precisou, a Câmara esteve ‘rente’.

Covid-19 obrigou candidatos a mudarem as estratégias durante a campanha eleitoral DAYANE DE PAULA VANDERLENE ARAUJO EDINEI DA SILVA

A

crise da Covid-19 acabou roubando a cena do período eleitoral, trazendo mudanças como a suspensão do uso da biometria e um novo jeito de fazer as campanhas. Por conta da pandemia, as eleições de 2020 para prefeito e vereador tiveram o seu calendário alterado, passando de 4 de outubro, para o dia 15 de novembro. A Organização Mundial de Saúde recomendou algumas medidas de distanciamento social para conter o contágio do vírus. Aglomerações, contato físico, conversa sem o uso de máscara não eram permitidos em ambientes públicos. Mas como fazer uma campanha eleitoral sem o contato mais direto com o público? Essa barreira fez com que o processo na busca de votos fosse dificultado, tanto para o

Reunião durante a campanha eleitoral: crise da Covid-19 roubou a cena, mas houve casos de desrespeito

candidato quanto para o eleitor. A eleitora Delcymayra Freitas Soares, 17 anos, votou pela primeira vez esse ano. Ela contou que ficou “bastante frustrada” por não ter participa-

do das festas de campanhas no início da pandemia e que no seu “primeiro ano” teve a “má sorte de não poder estar no meio folia”, dos comícios e das passeatas.

TRE buscou garantir segurança para eleitores e mesários VANDERLENE ARAUJO EDINEI DA SILVA

“N

ão tive medo, tive receio”, relatou o eleitor Thiago Salgado Valadares, 36 anos, durante a votação nas eleições de 2020. Ele explica que manteve “todos os protocolos de segurança” no processo, e relembra o desrespeito de muitos eleitores no cumprimento das medidas nas filas. A eleição, que foi realizada em meio a uma pandemia, no dia 15 de novembro, precisou adotar medidas de segurança para proteger os cidadãos do novo coronavírus. O secretário de informática do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Gualter Gonçalves, explicou que “foi lançado um plano de segurança sanitária para

proteger todos os atores, mas com foco maior em cima do eleitor”. Laila Santos Silva, 24 anos, que foi mesária pela primeira vez, diz que “achou o treinamento muito superficial”, pelo fato de as eleições terem acontecido em uma pandemia. Ela ressaltou que “muitos mesários experientes foram dispensados”, ficando uma quantidade grande de inexperientes, como no caso dela. Laila confessa que a falta de experiência lhe gerou muito medo. “Sem o mesário, a eleição praticamente não ocorreria”, diz Marcos Vinicius Lima, 24 anos, que prestou trabalho novamente para a justiça eleitoral. Presidente de seção, ele afirma que ficou animado para a votação. Para ele, a importância de ser mesário e se expor ao risco está ligada ao “dever cívico e amor à pátria”.

Segundo o secretário do TRE, foram disponibilizados equipamentos de proteção individual em todas as seções, para mesários e eleitores. Outra atitude tomada foi o uso obrigatório de máscara, caneta individual e demarcação nas filas, para evitar o contágio do vírus. Antecipar em uma hora a menos o início da votação foi outra ação para não expor os eleitores mais vulneráveis à doença. Laila diz não ter sentido “tanta segurança” com o treinamento do TRE para mesários, pois, mesmo tendo contraído o vírus, ter tido o contato com tantas pessoas “passa esse receio”. Ela conclui, no entanto, que a experiência foi válida e que o mesário, além de ser “um trabalho voluntário”, é “uma forma de fiscalizar de dentro as falhas do sistema”.

Segurança - No final do período buiu para realização de encontros eleitoral, houve uma flexibilização presenciais. Ele explica que a maior por conta da redução de maior dificuldade de chegar aos casos da Covid-19. Em razão disso, eleitores de forma presencial estaaconteceram eventos políticos, va na preocupação em contraírem inclusive com alguns desrespeitos o vírus. “Quando o ser humano às medidas de segurança. Quesdeu valor à vida dele, ele fechou as tionado sobre a portas para muita responsabilidade coisa, até para de fiscalização, entregar os “O valor do investimento você o secretário do santinhos”. Tribunal Regional nas redes sociais não era Com essa tão acessível” Eleitoral (TREadesão às redes -MA), Gualter sociais, fazer Gonçalves, cocampanha cusmenta que “o protocolo de segutou muito caro e o fundo eleitoral rança sanitária da eleição tem uma fornecido pelos partidos não era área de abrangência restrita”. Logo, tão alto. Edson conta que “o valor a fiscalização das medidas sanitádo investimento nas redes sociais rias “cabe ao governo do Estado”. não era tão acessível” e que sem a Edson Santana tentou fazer liberdade para estar nas ruas, sua reuniões on-line, mas percebeu a campanha só foi para frente “por perda de eleitores, o que contricausa do serviço voluntário”. BRENO THIAGO

Eleitores aguardam na fila para votar em eleição marcada por várias regras de distanciamento


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VISÕES DA PANDEMIA Pandemia da Covid-19 vem fazendo com que o mundo passe por diversas situações extremas que já existiam, mas que foram potencializadas, sendo uma delas as diferentes reações diante do mesmo acontecimento

Várias perspectivas para um mesmo cenário MICHELLE SOUSA MARIA EDUARDA MICHELLE SOUSA

D

esde que o primeiro caso de Covid-19 foi confirmado em Imperatriz, no dia 26 de março de 2020, a quarentena se tornou uma “prova de fogo” para uma parte da população, enquanto, para alguns, lidar com o isolamento social foi mais brando. De acordo com estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), 9,3% de brasileiros são ansiosos, o que equivale a 18,6 milhões de pessoas. Em uma reunião realizada no dia 13 de maio de 2020, a Organização das Nações Unidas (ONU) destacou a necessidade urgente de aumentar investimentos em serviços de saúde mental durante a pandemia. “Eu fiquei muito nervosa quando descobri sobre a pandemia e a necessidade da quarentena. Tive ansiedade e ainda estou fazendo acompanhamento psicológico”, afirma Lindalva Gomes, 62 anos. Dona de casa e moradora de Imperatriz há mais de 40 anos, Lindalva conta que sofreu reações alérgicas por todo o corpo, como falta de ar,

manchas vermelhas sobre a pele e a sensação de angústia, imaginando que ela seria a próxima vítima da doença. “O aumento dos casos em outros países já me deixa em alerta. Vi morrer muitos dos meus vizinhos”, desabafa Lindalva. Francisco Airton Silva, 75 anos, aposentado, relata que passou de maio até setembro sem sair de casa por medo de contrair o vírus, principalmente pelo fato dele ter feito uma cirurgia dias antes do início da quarentena. Com a chegada do fim do ano e sem mudanças significativas no quadro pandêmico, Francisco teme pelo pior. “Estou com medo de entramos no ano novo e continuarmos na mesma situação desse ano.” Gatilho - O psicólogo Wesley Rodrigues Santos explica que o transtorno de ansiedade geralmente está ligado ao estresse, é uma forma de gatilho inicial. Existem diversas causas que, sozinhas ou combinadas, podem vir a desencadear o transtorno de ansiedade, tais como: traumas MICHELLE SOUSA

Reação alérgica causada pela ansiedade marca o corpo da dona de casa Lindalva Gomes

Apesar da quantidade de remédios para tratar a ansiedade, a dona de casa Lindalva disse que não vem sentindo mudanças significativas no seu quadro

do passado e recentes, nível de estresse muito alto, quando o cortisol aumenta e outros hormônios que são considerados da felicidade, sendo eles a endorfina, dopamina, serotonina e ocitocina diminuem, gerando doenças físicas e, por fim, a depressão. Por outro lado, é preciso considerar que as pessoas têm diferentes reações, lidando de maneiras divergentes com os mais diversos episódios da vida, sejam eles individuais ou coletivos. “Eu não me senti tão afetado pela pandemia e a quarentena. Claro que me solidarizo com as milhões de vítimas e com seus familiares e amigos”, menciona o padeiro Carlos Magno, 24 anos. Fabiana Viana de Oliveira, 24 anos, recém-formada em serviço social, ressalta que a quarentena foi uma oportunidade para que as pessoas ficassem mais tempo com

a família. “Elas puderam aproveitar mais os filhos e ver de perto alguma dificuldade relacionada à aprendizagem deles.” Para a antropóloga e professora da UFMA, Emilene Sousa, pessoas que estavam em um

“O aumento dos casos em outros países já me deixa em alerta. Vi morrer muitos dos meus vizinhos.” quadro de estresse, fadiga intensa ou à beira de um colapso nervoso por causa do excesso de trabalho e demanda por produtividade, com a quarentena puderam descansar, sair do trabalho, dormir, cuidar mais de si, se alimentar melhor e passar mais tempo com sua fa-

mília. “Esses indivíduos puderam tocar outras áreas de suas vidas que estavam pendentes e que não era possível colocar em prática por causa da rotina. Elas se reinventaram, ou seja, algumas pessoas lidaram melhor com o isolamento social porque a fonte de toda a ansiedade e estresse residia no cotidiano esgotante.” Por outro lado, com a quarentena, mulheres que já estavam expostas a abusos físicos e psicológicos foram obrigadas a passar mais tempo em casa, ficando ainda mais vulneráveis à violência doméstica. Conforme os dados divulgados pelo Departamento de Feminicídio, órgão ligado à Superintendência de Homicídios e Proteção a Pessoas do Estado do Maranhão (SHPP-MA), foi registrado um aumento de 31% no número de feminicídios em março, no início da quarentena, em relação ao ano passado.

Cloroquiners x quarenteners: polarização na pandemia MARIA EDUARDA MICHELLE SOUSA

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muito divulgado sobre a possibilidade de reinfecção da doença.” A discussão em torno da Covid-19 não criou uma nova polarização, tendo esta sido encaixada em uma já existente, no sentido de que as crenças em torno do vírus e seu tratamento corresponderam às opções de gestão da pandemia por parte das lideranças políticas. “Deus é o médico dos médicos. Apesar de ter sido preciso dar uma pausa no meu trabalho, o recado que eu deixo para as pessoas é seguirem em frente com pensamentos positivos de que tudo vai melhorar, temos que confiar em Deus”, ressalta a manicure Maerce Ferreira, 34 anos. Emilene Sousa considera que a questão não é que todas as pessoas não se importam com o que está acontecendo no mundo. “São formas de escapar, ou seja, as ações que elas escolhem para poder sobreviver, para atravessar esses quadros e tentar superá-los”.

ARQUIVO PESSOAL

s concepções em torno da pandemia da Covid-19 e os cuidados necessários para prevenir a circulação do vírus geraram uma batalha moral na sociedade. “Os governos de extrema direita resolveram primar pela economia e os que fogem desse rótulo, ou seja, os de centro ou esquerda, se encaixaram na concepção ‘quarenteners’”, explica o sociólogo Wellington Conceição. Ele esclarece que as polarizações sempre existiram, porém, ressalta que, nos últimos anos, vivemos de forma mais intensa as divisões políticas em nível mundial e nacional. No entanto, a direita foi identificada com os valores conservadores, assim como a esquerda buscou compactuar com as pautas mais sociais. Nesse contexto, a opção por um desses polos de pensamento deixou de ser algo da racionalidade política

para compor uma escolha moral. “Quando eu vejo alguma pessoa na rua que não está usando máscara, eu vou até ela e falo sobre a importância do uso para prevenir o contágio. Não que me ouvindo ela vai mudar de ideia, mas pelo menos estou fazendo a minha parte”, desabafa a estudante Hellen Morais, 16 anos. Existem casos em que as pessoas pegam a Covid-19 e, por não sofrerem tantos sintomas, agem de forma egoísta e individualista, com um ar de superioridade em relação aos que ainda não foram contaminados pela doença, aos atingidos ou aos que faleceram. Segundo a antropóloga Emilene Sousa, essas pessoas se sustentam no pensamento de que não podem pegar novamente ou transmitir a enfermidade para as outras e por isso, esses indivíduos desrespeitam as ordens sanitárias. “Isso explica os comportamentos de grupos que circulam de forma tranquila. Aliás, não está sendo

Antropóloga e professora da UFMA, Emilene Sousa, discute sobre os pontos de vista e suas funções na polarização


Arrocha

Jornal

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ANO XI. EDIÇÃO 41 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2020

ESPORTES Instituição, que atua inserindo as pessoas com deficiência na sociedade, teve seu planejamento de 2020 para a equipe de basquete em cadeiras de rodas comprometido em razão da crise do coronavírus

Pandemia preocupa os jogadores do Cenapa

MARCELO LACERDA / CBBC

JOÃO VICTOR SANTOS

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equipe da Associação de Pessoas com Deficiência do Centro de Assistência Profissionalizante (Cenapa-MA) foi impossibilitada de competir devido à pandemia. Os atletas representam Imperatriz na 2ª divisão do Campeonato Brasileiro de Basquete em Cadeira de Rodas e em torneios realizados no estado do Pará, já que o Maranhão não possui uma federação para esta modalidade. O atleta Anderson ‘Xuxu’ Neves afirma que a equipe ficou sem treinar por nove meses. “Esse tempo parado não é bom, principalmente para quem participa de competições nacionais”. No início da pandemia, as práticas esportivas de diferentes modalidades foram suspensas, mas após o Decreto nº 60 do dia 26 de maio de 2020, editado pela prefeitura, o calendário esportivo de Imperatriz foi, aos poucos, retomado. No entanto, para o time de basquete em cadeiras de rodas, o que estava previsto teve de ser cancelado. Anderson ‘Xuxu’ pratica o esporte há 13 anos e lamenta: “A gente vinha de um longo período naquele ritmo de treino, amistosos, competições. Os atletas sempre comentam que faz muita falta, porque como essa modalidade não é muito difundida no nosso estado, fica complicado parar de uma vez e não ter nenhuma opção. Os locais que a gente treina foram vetados. Para conseguir se adaptar a essa nova realidade não foi nada fácil”.

co da Covid-19. Mas outros aspectos também tiveram influência enquanto eles estavam de quarentena. Xuxu conta que foi difícil manter o foco nos treinos físicos. “Muitos fazem exercícios em casa, orientados pela professora ou por conta própria, mas são poucos. Até que a gente começou, mas muitos desistiram porque a gente, sinceramente, gosta mais é da prática”. A técnica da equipe, Valéria Andrade, reforça algumas das dificuldades

encontradas nos treinos orientados de casa. “Compromisso não existe de maneira remota, qualquer coisa que te tire a atenção você vai começar a falhar. Fica vago o contato, os exercícios, tudo fica meio que disperso”. Mesmo com os campeonatos cancelados a equipe, após um estudo, decidiu retomar os treinos presenciais em novembro. Durante os treinamentos, uma série de cuidados estão sendo tomados para manter a segurança. “Os atletas serão divididos em grupos,

Com novos protocolos, campeonatos amadores voltam a ocorrer na cidade JOÃO VICTOR SANTOS

Jogador Guilherme Silva mede temperatura para entrar no local onde ocorrem os jogos de basquete

JOÃO VICTOR SANTOS GUSTAVO VIANA

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mbora os torneios de basquete já estivessem acontecendo no restante do estado, em Imperatriz o protocolo de segurança foi colocado em prática apenas em novembro. A etapa Sul do campeonato maranhense de basquete ocorreu entre os dias 20 e 22, com as orientações normatizadas pelo governo do Estado e município. O jogador Guilherme Silva afirma que aprova o retorno das competições e se sente mais aliviado com os protocolos,

mas ressalta: ”Devemos tomar todos os cuidados possíveis, porque não estamos livres da contaminação”. Segundo Rodrigo Goulart, diretor financeiro da Federação Maranhense de Basquete, a instituição tem seguido todas as instruções feitas pelos governos. Uma das principais é retirar das atividades atletas e árbitros que estejam sintomáticos. “Essa é a única maneira que a gente tem. Diferente do futebol, nós não temos recursos para fazer a testagem dos atletas”. Apesar das medidas de segurança adotadas pela Federação, como o uso

de máscaras, álcool em gel e a medição da temperatura nos locais de jogos, Guilherme, que disputou a competição pela categoria sub-19, sugere que seria ótimo se, antes do campeonato, “todos os atletas apresentassem um laudo médico provando que não têm coronavírus, porque basquete, independente de qualquer coisa, tem contato físico”. Guilherme relembra que contraiu a Covid-19 e que isso o atrapalhou bastante no retorno aos treinamentos. “É desanimador. Eu senti dificuldades para correr e para repor o condicionamento físico que tinha”. O atleta de 19 anos revela também que se deparou com obstáculos para poder frequentar os treinos novamente, já que sua família ainda estava receosa com a pandemia. “Houve bastante resistência. No começo da pandemia, toda minha família contraiu o vírus e passamos três meses de quarentena, porque cada pessoa contraiu o vírus em meses diferentes. Mas como diminuiu bastante os casos na minha família, foi liberado a minha saída para os treinos”. Embora no início a família tenha se colocado de maneira adversa, o ala-pivô se manteve firme na decisão de disputar a competição. Mas ele enfatizou a maneira que teria de se comportar no decorrer do campeonato. “Minha segurança vai depender de mim mesmo. O medo sempre tem, mas o amor pelo esporte fala mais alto. Eu quero competir”.

não vou entrar com todos ao mesmo tempo em quadra”, esclarece a técnica de 29 anos. Além disto, é obrigatório o uso de máscara na chegada e na saída e uma bola diferente está sendo disponibilizada para cada atleta, além de álcool em gel. As cadeiras de rodas também estão sendo higienizadas antes e depois dos treinos.

ACERVO PESSOAL

Estratégias - No auge da pandemia, os atletas foram acompanhados de maneira remota pela entidade, já que a maioria se enquadra no grupo de ris-

Anderson “Xuxu” (dir.) disputando, em 2014, o Campeonato Brasileiro de Basquete em Cadeira de Rodas no qual a equipe ficou em terceiro lugar

Anderson ‘Xuxu’ posando com o uniforme da equipe durante campeonato fora do estado

Solidão prejudica judoca em treinos JOÃO VICTOR SANTOS GUSTAVO VIANA

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m busca da vaga olímpica, o judoca imperatrizense Italo Mazzili, 22 anos, considera ser difícil a sua classificação para a competição. “Eu estava bem atrás no ranking internacional do que outros atletas. O ciclo dura quatro anos e eu entrei na metade. Eles já estão bem avançados, veio a pandemia e dificultou bastante a minha briga”. O atleta revela que o seu foco está no próximo ciclo, porque participará de toda a preparação visando as Olimpíadas de 2024. Para manter a dedicação nos treinos, feitos em casa, Mazzili procura pensar no futuro e nos próximos torneios, mas reconhece que é um processo complexo. Ele acredita que todo atleta

precisa de incentivo para treinar, o que é bem mais difícil quando se está sozinho. “Afetou bastante os atletas, não só o judô, mas qualquer tipo de esporte. É muito difícil, mas a gente tem que procurar uma solução pra continuar firme, não desistir dos nossos objetivos”. A maneira que a Confederação Brasileira de Judô encontrou para manter a rotina dos atletas, já que nenhuma competição foi marcada para o ano de 2020, foi por meio de transmissões ao vivo, nas quais os judocas se desafiavam a um treino conjunto. Italo Mazzili foi convidado para estar no “treinão olímpico”, como foram chamadas as transmissões feitas pelo Instagram da confederação. “Participei de uma live com outro atleta da seleção brasileira, foi bem legal. A gente conseguiu manter esse ritmo de treinamento juntos”. GABRIELA SUBAU

Italo Mazzili (de branco) enfrenta o francês Walide Khyar no Grand Prix de Marrakesh, em 2019


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