Revista Cooperação Técnica RIB

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que a incorporação do ensino regular à proposta se deu porque na época da implantação do Mepes, nos anos 1960 e 1970, a maioria dos jovens era analfabeta, e os alunos começaram a reconhecer que, sozinha, a técnica agrícola não os ajudaria a se desenvolverem. Em 2004 o Estado do Espírito Santo reconheceu os resultados da “boa prática” equiparando as Escolas Famílias Agrícolas do Mepes às Escolas Públicas, através de lei estadual. Fábio Lopes Daldom, de 31 anos, foi aluno da EFA de Campinho, formou-se em Ciências Sociais e especializou-se em Meio Ambiente e Geografia. Hoje, atua como agente de Desenvolvimento Rural em Sociologia no Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural, onde aplica a essência da Pedagogia da Alternância. Fábio vê a relação entre a rede e o Mepes como uma via de mão dupla, com benefícios para ambos os lados. “O Mepes tem um trabalho que dá visibilidade à rede, e esta ampliou o trabalho que o Mepes vinha fazendo. Essas iniciativas coletivas potencializaram as Escolas Famílias Agrícolas, que já tinham uma tradição. Se hoje existe uma união nacional, deve-se a esse trabalho do Mepes, que tem ligação com a Arcafar/ Sul. O conjunto de entidades abre espaço para mostrar que a juventude existe e tem sua demanda de políticas públicas, ou seja, mostra que tem valor, mas que precisa de apoio”.

“Se hoje existe uma união nacional, deve-se a esse trabalho do Mepes, que tem ligação com a Arcafar/Sul. O conjunto de entidades abre espaço para mostrar que a juventude existe e tem sua demanda de políticas públicas, ou seja, mostra que tem valor, mas que precisa de apoio” Fábio Lopes Daldom.

Do interior capixaba para o sertão de Pernambuco A educação é o tear que tece os fios desta rede. As pedagogias utilizadas pelas instituições reunidas redimensionam-se a partir das novas experiências por ela proporcionadas. Foi o que aconteceu quando o Serviço de Tecnologia Alternativa (Serta), que há 17 anos trabalha com metodologia própria – a Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável (Peads) –, deparou-se com a Pedagogia da Alternância das EFAs, na Rede Jovem Rural. Abdalaziz de Moura, fundador do Serta, reconhece a inspiração da pedagogia difundida pelo Mepes como a principal influência da rede nos programas do Serta: “A alternância na Educação do Campo firmou-se em quase todos os estados do Brasil, porém em Pernambuco duas tentativas foram frustradas. Quando estendeu sua atuação de formação profissional para o sertão pernambucano, o Serta encontrou a dificuldade de transporte para os jovens. Só dava para atender àqueles dos municípios ao redor da sede. Com a articulação da rede e o contato mais próximo com as experiências de alternância, o Serta inspirou-se”. Formado em Filosofia e Teologia e mestre em Educação, Abdalaziz não precisou pensar duas vezes para reconhecer a Pedagogia da Alternância como um complemento importante ao seu trabalho. “Nossa ideia foi adaptá-la às condições do estado, que não tinha tradição nesse sentido”, esclarece. Moura acrescenta que o tempo do curso profissional é maior do que o usual devido ao peso que se dá à relação familiar. O jovem passa a ser avaliado por sua capacidade de mobilizar a família na adoção dos aprendizados, o que requer um tempo maior em família — de inverno a verão. “A valorização recíproca das pessoas da casa modifica-se muito. Os filhos, por exemplo, passam a valorizar muito mais a sabedoria dos pais”, sublinha o educador. Ele explica que a tendência é que os jovens escolarizados menosprezem as capacidades dos pais, e que os pais, por outro lado, distanciemse dos filhos por não conseguir acompanhá-los. O curso, segundo Moura, “oferece oportunidade de reconstrução dessas relações”.

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