Nosso Campus #15 - Outubro/Novembro 2014

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NOSSO

campus

Informativo mensal do Câmpus Salvador Out/Nov 2014 Ano 2 N° 15

Ciência e Tecnologia

no centro das discussões

Descomplicando a

Matemática Projeto de lei prevê ensino médio diferenciado


Com a palavra...

A complexidade do momento atual faz com que discutir política, eleições e voto pareça trazer mais sentimentos de insatisfação e revolta do que a esperança idealista de quem foi adolescente nos anos 1980. Surge uma certa nostalgia ao pensar que, em 1984, o movimento “Diretas Já” emergiu da luta pelo direito ao voto, hoje, muito questionado pela sua obrigatoriedade. Partindo do pressuposto de que as eleições são um dos momentos de exercício da cidadania, e não o único ou o mais importante, enfatizo a necessidade de uma participação política efetiva dos cidadãos, independentemente de efetivar ou anular o voto, já que esta também é uma forma de expressão política. Entretanto, para aqueles que pretendem votar, algumas questões merecem reflexão. Desde a vitória de Fernando Collor à presidência do Brasil, em 1989, nas primeiras eleições diretas no Pós-Ditadura, o financiamento das campanhas vem sendo alvo de graves denúncias de corrupção. Nesse espaço, marqueteiros profissionais e coordenadores financeiros estão muitas vezes envolvidos em ações ilícitas, e escândalos permeiam as campanhas eleitorais. Votar não é ir a um shopping

center. Porém o que se observa nos períodos eleitorais é que, aliado ao poder econômico, o marketing se tornou imprescindível para os partidos e candidatos e, quanto mais dinheiro e experts em propaganda, mais possibilidades de se eleger. Essa forte atuação dos marqueteiros nas campanhas elei-

“É importante entender que participação política não se resume à eleição” torais dificulta uma escolha pautada em questões realmente objetivas por parte dos eleitores. Outra questão que merece discussão é a banalização da expressão “todo político é ladrão”. Essa frase presente no imaginário popular em muitas mesas de bar e fortalecida pela mídia nos impede de buscar diferenças importantes entre os candidatos. A democracia brasileira é representativa, portanto é fundamental pensar se aquele ou aquela, a quem é dado

FOTO: GABRIELA CIRQUEIRA

O marketing e a participação política nas eleições “o poder” de fato, defende bandeiras voltadas para a coletividade e considera importante a qualidade da educação, o acesso à saúde e a melhoria das condições de vida das parcelas menos favorecidas. Salvador é uma cidade com muitos problemas: a insegurança e o transporte público de péssima qualidade são apenas alguns exemplos de uma situação gestada em anos de desigualdades acumuladas, que tornam a vida de todos os cidadãos muito ruim e que refletem os projetos - ou ausência deles - de muitos partidos políticos. Diante desse cenário, vale a pena observar a história dos candidatos e como construíram sua carreira política. Para muitos estudantes do IFBA, esta será a primeira eleição, portanto deve ser encarada com responsabilidade e consciência. É importante entender que participação política não se resume à eleição. É necessário estar atento a outras possibilidades, que começam na atuação do movimento estudantil na escola, no seu bairro, nos partidos e na sua postura frente às questões cotidianas.

Naiaranize Pinheiro Professora de sociologia

Envie o seu artigo, de 30 a 40 linhas, ou sugestão de pauta para comunicacao_ssa@ifba.edu.br, com nome completo, curso ou setor, além de contatos telefônicos. Serão desconsideradas as produções de caráter político-partidário e/ou religioso, bem como conteúdos preconceituosos e depreciativos a grupos e/ou pessoas. Reitor do IFBA Renato da Anunciação Filho, Diretor Geral do Câmpus Salvador Albertino Nascimento, Chefe da Divisão de Comunicação, jornalista responsável e revisora Andréa Costa - DRT-BA 1962, Reportagem Gabriela Cirqueira e Verusa Pinho, Projeto gráfico Gustavo Pontas, Diagramação Lilian Caldas, Apoio administrativo Valdinice Alcântara, Impressão Grasb | Periodicidade Mensal, Tiragem 1.000 exemplares, Circulação Câmpus Salvador e Reitoria | Endereço Rua Emídio dos Santos, s/n, Barbalho - Salvador/BA, CEP: 40301-015 | Telefone (71) 2102-9509 | Facebook IFBA_Salvador_Oficial | Site www.ifba.edu.br | E-mail comunicacao_ssa@ifba.edu.br

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Saberes in Prática

Novos caminhos da matemática

Tecnologias digitais e interatividade são alternativas para o ensino da disciplina Uma jovem inspiração para futuros cientistas é o brasileiro Artur Ávila, 35, que iniciou sua carreira nas olimpíadas de matemática, ainda no ensino fundamental, e, em agosto deste ano, foi o primeiro estudioso do país e da América Latina a ganhar a Medalha Fields. O prêmio, comparado ao Nobel, é o mais prestigiado da área e o maior já conquistado por um cientista brasileiro. Concebida pela União Internacional de Matemática, a premiação de Artur foi justificada pelas profundas contribuições na teoria dos sistemas dinâmicos que tentam compreender qual será o aspecto produzido pela evolução de um determinado processo. Os dados revelam a importância do ensino da disciplina aliado a novas alternativas, que vão além da tradicional e mecanizada “memorização”, na formação de docentes e profissionais da área. No Câmpus Salvador, os professores do ensino técnico e da licenciatura de matemática têm utilizado a prática em laboratório e ferramentas interativas para o ensino dessa ciência de maneira mais dinâmica e atrativa. Com três anos de existência, a licenciatura de matemática do Câmpus Salvador do IFBA é uma das duas únicas oferecidas por instituição pública federal no estado da Bahia. Por conta da sua importância no cenário regional, o Instituto foi escolhido para sediar o XVI Encontro Baiano de Educação Matemática (Ebem), que acontecerá em julho de 2015. A graduação dispõe de três laboratórios: matemática e modelagem computacional, práticas interdisciplinares e o de ensino. De acordo com o coordenador do curso, Ives Lima,com aulas nesses espaços, os futuros docentes ampliam seu repertório no uso de novas tecnologias. “Através do estudo prático e investigativo, da elaboração e aplicação de jogos e softwares, buscamos conexões entre os conteúdos matemáticos e temas transversais do cotidiano.” A licenciatura também oferece oportunidades aos estudantes para socializar - com crianças e jovens de escolas públicas da capital baiana - , experiências ao longo da sua formação, através do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid). Segundo Lima, os bolsistas do Pibid elaboram materiais didáticos, pesquisam novas metodologias e desenvolvem estudos sobre a aplicação de tecnologias da informação e comunicação (TICs) nas salas de aula, tendência educacional que visa criar novas possibilidades para o ensino,

por meio de equipamentos digitais. “No Pibid, temos realizado um trabalho sistemático com oficinas de aprofundamento dos conceitos matemáticos, aplicação de práticas e sequências didáticas, nas quais os estudantes são convidados a percorrerem um caminho de cunho investigativo”, explica. Estudante do 5º semestre da licenciatura e bolsista do programa, a estudante Maiara Brenda Santos afirma que não existe uma metodologia específica e consensual para deixar a matemática mais atrativa. “Acredito que o professor deve utilizar as ferramentas disponíveis para proporcionar o melhor aprendizado aos seus estudantes. Ao participar do Pibid, pensamos em estratégias para tornar o ensino mais dinâmico, através de jogos, quiz matemático, softwares e materiais manipuláveis, como o Tangram [quebra-cabeça chinês que utiliza formas geométricas], sempre buscando alternativas para deixar o aluno interessado e motivado pelo que a matemática tem a lhe oferecer”, destaca.

Experiência recompensadora No mundo da matemática, os estudantes do ensino técnico têm diversas possibilidades, dentre elas, a participação em competições do conhecimento, como a Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) e a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). Além de medalhas, os premiados são incentivados a participar do Programa de Iniciação Científica e Mestrado (Picme) e do Programa de Iniciação Científica Júnior (PIC), que oferece bolsas de estudo; dos Polos Olímpicos de Treinamento Intensivo (Poti); do Programa Oficinas de Formação (Prof) e da Preparação Especial para Competições Internacionais (Peci). Segundo o professor de matemática do ensino técnico integrado Acélio Rodrigues, que há alguns anos treina alunos para OBM e OBMEP, “ao fazer parte de um desses projetos, o estudante, além de chegar a um bom nível de conhecimento matemático, é capaz de se tornar um agente transmissor de saberes e colaborar com o desenvolvimento intelectual dos que vivem ao seu redor”. Os interessadosem estudar a disciplina, por meio de atividades divertidas, encontram ambientes interativos nosClubes de Matemática e no Portal da Matemática, como gincanas evídeos que usam geometria dinâmica. NOSSO

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Capa

Oportunidade para relacionar produção científica com os desafios da sociedade, o tema da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2014 destaca a importância das ciências no desenvolvimento humano. No Câmpus Salvador do IFBA, estudantes e professores do ensino técnico profissionalizante e superior têm realizado pesquisas e criado equipamentos inovadores, a fim de contribuir com a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Umexemploéapropostadoprofessor de física Jancarlos Lapa, que pretende solucionar o problema dos moradores de áreas com frequentes abalos sísmicos, ao desenvolver o protótipo de uma casa, com base nos princípios de funcionamento dos trens-bala, que levitam sobre os trilhos a uma altura de, aproximadamente, 20 cm. A proposta prevê uma habitação que não toca o chão diretamente, e, durante terremotos, mantenha-se intacta, utilizando um sistema de amortecimento por repulsão/atração magnética. O projeto, intitulado “Sistema Magnético de Amortecimento”, foi elaborado em parceria com estudantes e está em fase de pedido de patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).

Física colaborativa Jancarlos também é coordenador da “Comunidade para a Prática do Ensino de Física (Copef)”, desenvolvida desde 2013 por professores e graduandos da licenciatura de física do câmpus, juntamente com docentes e estudantes da educação básica da rede estadual do interior da Bahia, incluindo cidades do sertão, sul e sudoeste baiano, como Lagoa Real, Eunápolis, Caetité e Itapetinga. O projeto consiste na discussão e

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FOTO: ARQUIVO COPEF

Ciência a favor da vida e do desenvolvimento humano

Estudantes de Caetité interagindo na oficina “A física dos brinquedos”

no compartilhamento de materiais de estudo e experiências didáticas, com o objetivo de aprimorar a relação entre o ensino e a pesquisa no campo da física. Para tanto, a Copef conta com encontros presenciais, além de um ambiente virtual próprio. “Espera-se a criação de um acervo de textos, livros, tutoriais, filmes, links, áudios, imagens, bem como o intercâmbio de ideias que favoreçam o ensino e a aprendizagem da física. Até o momento, os resultados do projeto apontam para o potencial de produção colaborativa a favor da melhoria da aprendizagem e da formação inicial e continuada do professor”, explica Jancarlos. Contemplada no edital “Novos Talentos”, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a Copef está sendo realizada por meiodosLaboratóriosdeInovaçõesePráticas Interdisciplinares (Lipi), vinculados ao Grupo de Pesquisa Novas Tecnologias no Ensino de Física.Até junho de 2015, algumas etapas estão previstas. Além do Se-

minário de Formação Docente, que ocorreu de 28 de outubro a 1º de novembro do ano passado, no Câmpus Salvador do IFBA, e contou com a presença de especialistas da área - facilitadores das palestras e oficinas -, bem como de 11 professores das escolas participantes, a Comunidade prevê visitas ao Observatório de Antares e ao Museu de Ciência e Tecnologia da Bahia. “Em cada dia de atividade, após as palestras, foram realizadas oficinas com o objetivo de instrumentalizar os professores e licenciandos em suas ações realizadas nas escolas. A ideia é incentivar a iniciação científica na formação básica, dialogando com experiências, como as olimpíadas de física e as atividades do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid). Dentre os temas apresentados, estiveram astronomia; o uso da plataforma Arduíno como ferramenta na aquisição de dados por computador para demonstração de princípios físicos; interdisciplinaridade, articulando a física


a escola e compartilhar conhecimento”, pontua Fernando.

Química contra diabetes JáaprofessoraManuelaCardoso,integrantedoGrupodePesquisaeInovação em Química (GPIQ), desenvolve, desde 2012, a pesquisa “Identificação das classes de metabólitos secundários e bioatividade de plantas utilizadas pela medicina popularparaotratamentodoDiabetesmellitus”,emparceriacomSamilyFerreira,hoje egressa do curso técnico de química. O estudo tem por finalidade realizar ensaios químicos que, futuramente, facilitarão o biomonitoramento dos trabalhos fitoquímicos na busca de potenciais produtos naturais com atividade antidiabética. De acordo com a docente, Diabetes mellitus está entre as dez principais causas de morte nos países ocidentais. Por ser ainda incurável, o controle dessa doença envolve intervenções medicamentosas que acarretam custos elevados. Manuela enfatiza que a utilização popular de plantas medicinais se destaca como terapia alternativa e de baixo custo no tratamento, mesmo diante do descrédito dos profissionais de saúde quanto ao potencial terapêutico dos vegetais tidos popularmente como ‘hipoglicemiantes’. “Os pacientes persistem na utilização de plantas, muitas vezes associada à medicação tradicional, o que pode resultar em sérios riscos à saúde, pela potencialização de efeitos ou toxidade. Nesse contexto, a pesquisa é primordial para que um recurso natural potencialmente ativo possa ser utilizado na forma de fito-

terápicos padronizados e eficazes”, explica a professora. Até o momento, os ensaios químicos sugerem fortes indícios sobre uma possível ação hipoglicêmica das 14 plantas selecionadas para o estudo, principalmente o cajueiro (Anacardium occidentale), a calêndula (Calendula officinalis), a damiana (Turnera diffusa) e a graviola (Annona muricata L.). “Contudo, é importante ressaltar que, apesar dos resultados encontrados na pesquisa serem promissores, a utilização indiscriminada dessas espécies não pode ser incentivada, uma vez que análises biológicas necessitam ser realizadas para garantir a eficácia dos extratos estudados como medicamento”, recomenda. FOTO: VERUSA PINHO

com outras áreas do conhecimento, e a utilização das tecnologias da informação e comunicação (TICs), em especial nas simulações computacionais”, conclui o docente. Para o estudante da licenciatura de física Fernando Lordelo, a pretensão é levar algumas oficinas trabalhadas no projeto para o Pibid. “Queremos ampliar nosso foco com a Copef. O que é mais interessante na Comunidade é a relação horizontalizada entre professores da educação básica, alunos, licenciandos e pesquisadores, o que permite a captura de vários diálogos, tornando a experiência enriquecedora para a formação docente. A comunicação bilateral dá margens à coleta de informações crucias para a formação continuada. Em cada visita a uma escola, renovamos os objetivos intrínsecos ao projeto e nos inspiramos para levar sempre o melhor material. Na volta da cidade de Caetité, por exemplo, deparei-me com uma dúvida e corri atrás para saná-la. O resultado disso foi que eu aprendi mais, elaborei um vídeo e mais tarde divulguei noambientevirtual.Todosganham,poiso objetivogeralécompartilharinformações, dúvidas e críticas”. Segundoolicenciando,tornaroensino da física mais atrativo e motivador perpassapelocotidianodoaluno.“Buscamos exemplos que se encontram no caminho daescola,dentrodelaeemcasa,alémdas relações com os colegas de classe, atentando para os principais problemas encontrados na cidade,a fim de relacioná-los com os conceitos físicos. O resultado disso são pessoas encorajadas para estudar, solucionar problemas, incentivadas a ir para

Pesquisa facilitará busca de produtos naturais hipoglicêmicos

SNCT no Câmpus No mês de outubro, o Câmpus Salvador sediou diversos eventos dentro da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), dentre eles a “I Mostra de Tecnologia Social do IFBA: convergência entre a formação tecnológica e a inclusão social”, organizada pelo Grupo de Pesquisa em Educação Científica e Tecnológica (GPET), nos dias 16 e 17; o “I Torneio de Robótica do Câmpus Salvador do IFBA (RoboIFBA)”, conduzido pelo Grupo de Pesquisa em Sistema de Automação e Mecatrônica (GSAM) no dia 17, e o evento “Poesia e música: o encontro” , idealizado pelas docentes de língua portuguesa Luciana Castro e Waleska Moura, que ocorreu durante uma semana (de 13 a 17). NOSSO

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Cultural

Além da poesia e da música, um grande encontro... Em sua primeira edição, o evento “Poesia e música: o encontro” reuniu vários artistas, com ampla participação de público em exposições de poemas, quadros e mandalas, ao lado de recitais, apresentação teatral, exibição de vídeo, palestras, voz e violão, sarau e festival de música. Na ocasião, também aconteceu o lançamento da antologia literária “Rabiscos II”, que reúne produções de estudantes e servidores do Câmpus Salvador do IFBA. “Pensamos em entrelaçar as linguagens, reconhecendo a presença da poesia na música e da musicalidade no poema. Há muitos poetas e músicos em nosso Instituto, a intenção foi promover a socialização de experiências artísticas”, explica a professora de língua portuguesa Luciana Castro, idealizadora do evento junto com a docente Waleska Moura. Realizado entre os dias 13 e 17 de outubro, o encontro também rendeu homenagem especial a Waldir Serrão, o Big Ben, precursor do rock na Bahia,

FOTOS: VERUSA PINHO

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FOTO: ANDREA COSTA

A antologia literária Rabiscos II reúne poesias de estudantes e servidores do câmpus

radialista, apresentador de TV e parceiro de Raul Seixas. Acatando o desejo do homenageado de relembrar os velhos tempos como apresentador, a organização do encontro levou o Big Ben novamente aos palcos para conduzir o festival de música, ocorrido no último dia, ao som de muito rock in roll. A figura visionária de Raul Seixas foi lembrada por diversas vezes. “É maravilhoso

estar aqui, estou voltando aos anos 50, quando participei de um festival de rock nessa mesma instituição, com Raul e seu pai, que foi professor da antiga Escola Técnica”, comentou Waldir Serrão. Houve homenagens, ainda, ao professores aposentados do IFBA Jair Araújo (escritor) e Juraci Tavares (poeta, músico e compositor), bem como ao poeta e ex-aluno Tiago Correia. O músico e líder indígena Wakay também marcou presença no encontro, quando falou sobre as singularidades do povo brasileiro e expôs produções de CDs, livros, revistas e acessórios, além das artistas Andressa Cunha Rosa, conhecida por A Rosa, e Eliana Castro. Exemplares do livro de poemas “Rabiscos II” foram distribuídos aos participantes que doaram alimentos não perecíveis e fraldas descartáveis. A arrecadação contemplou a tribo indígena Cariri-Xocó e o Abrigo Dom Pedro II, onde reside Waldir Serrão.


Nacional

Mudanças no ensino médio As múltiplas faces do Projeto de Lei nº 6.840/13

FOTO: GABRIELA CIRQUEIRA

Já pensou em estudar a Constituição Federal no colégio, bem como direitos do consumidor, empreendedorismo e até mesmo a cultura da paz? A proposta está em discussão no Congresso Nacional, através do Projeto de Lei nº 6.840/13, que pretende alterar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), dentre outras mudanças, como a implementação da jornada integral e reorganização dos currículos do ensino médio por áreas de conhecimento, com base na interdisciplinaridade e transversalidade dos conteúdos. Enquanto a ideia dos deputa-

dos é inserir opções formativas no terceiro ano, a fim de orientar os jovens quanto às suas preferências profissionais, facilitando a formação para o mundo do trabalho, o Ministério da Educação (MEC) declara que o projeto contraria o princípio da igualdade de acesso aos bens culturais por tornar obrigatória a escolha de uma opção formativa. Há quem acredite que a mudança estimularia, ainda, a oferta de vagas por meio de parceiras com a iniciativa privada, como o Sistema S. Dentre as alterações propostas pelos deputados, está, também, a proibição - com exceções - de os me-

nores de 18 anos estudarem à noite, como acontece na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA), mesmo diante dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que revelam a realidade dos jovens brasileiros: mais de 30%, de 15 a 17 anos, estão envolvidos direta ou indiretamente com o mundo do trabalho, fato que torna o período noturno mais utilizado para o desenvolvimento das atividades escolares. Diante das polêmicas, a equipe do Nosso Campus ouviu membros da comunidade IFBA a respeito do assunto.

“É preciso ampliar o debate e observar as experiências de sucesso e fracasso na história da educação brasileira. O ensino médio necessita de mudanças, mas nada deve ser imposto, de fora pra dentro e, sim, adaptado ao cotidiano de cada instituição. Eu sou da época da formação científica. Lembro-me de que, no 1º ano, queríamos fazer medicina, engenharias, direito, mas, no decorrer do processo, percebemos que havia outras possibilidades. Em meu caso, no 2º ano, fiquei apaixonado pela química, opção que segui como carreira profissional. Acredito que o ensino médio deve contemplar todas as variáveis, de maneira ampla, possibilitando uma formação integral. Nos nossos cursos integrados, os estudantes conciliam matérias técnicas e humanísticas. Muitas das nossas disciplinas também já trabalham os conteúdos transversais, como sustentabilidade e cidadania. Caso haja uma matéria específica sobre o assunto, corre-se o risco de discutir o tema de modo isolado, comprometendo a integração de saberes. Temos a experiência da Lei nº 11.684/08, que incluiu o ensino de filosofia e sociologia como disciplinas obrigatórias em todas as séries do ensino médio. Porém, antes mesmo da legislação, já oferecíamos as matérias. Com a aprovação da lei, fomos obrigados a distribuir a carga horária por todo o ensino médio de forma imperativa, o que limitou a adoção de outras alternativas, talvez mais eficientes, para os novos cursos.” Albertino Nascimento Diretor geral

Fique por dentro!

Conheça o projeto na íntegra no site da Câmara dos Deputados: http://www.camara.gov.br/ NOSSO

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FOTO: GABRIELA CIRQUEIRA

“O Projeto de Lei visa à criação de novas medidas para o bom desenvolvimento e a profissionalização dos estudantes, mas o que se deve avaliar em sua criação é que a inclusão de novos conteúdos pode causar uma sobrecarga na grade curricular. Um ponto de análise é como o tempo entre as novas disciplinas e as habituaisserá dividido, já que o IFBA já trabalha com os temas propostos de forma prática, através de palestras e projetos, prezando sempre pela inclusão dos alunos nessas atividades. No entanto, o sistema de ensino em diversas instituições ainda carece de melhorias, daí a importância de projetos de lei que insiram novas temáticas e mudanças no atual modelo educacional.”

“Consideramos positiva a implantação deste PL, porque o aluno estará mais presente na escola, ou seja, em sala de aula, sendo, portanto, mais assistido e podendo ter um contato maior com o curso e seus professores. Assim terá possibilidades de abordagens diferenciadas para um aprendizado mais amplo. Além disso, os responsáveis dos estudantes, que muitas vezes se preocupam por não poder assisti-los financeiramente, terão um suporte mais efetivo. Contudo, a obrigatoriedade na escolha da opção formativa é extremamente preocupante. Para alguns, essa decisão é fácil e natural, porém, para outros, há inseguranças, o que motiva a necessidade da permanência de um tipo de formação mais ampla, que dê suporte a qualquer área.”

FOTO: VERUSA PINHO

Maria Aparecida Souza Estudante do curso técnico de saneamento

FOTO: GABRIELA MALAQUIAS

Renilda Fátima Gonçalves Coordenadora do curso técnico integrado de geologia e chefe do departamento

“O maior tempo de permanência dos estudantes no espaço escolar, como propõe o PL, é uma maneira de ampliar as interações necessárias para a formação e o estreitamento de laços pessoais e profissionais, já que a carga horária de 7h poderá atender a uma demanda de atividades práticas para formação no ensino regular. QuantoaoEJA,acreditoquehoráriosespecíficosdevemserimplementados.Naformaçãointegrada,comoexiste a possibilidade de o aluno avançar, no último período, para uma área em que possua afinidade com a escolhida anteriormente,o quesito ‘opções formativas’podetrazer uma ampliação das possibilidades profissionais,minimizando uma lacuna que temos, na atualidade, quanto à integração ensino e profissionalização.”

“O sistema atual de ensino requer melhorias, como qualificação e valorização dos profissionais, além da maior inserção dos estudantes nas atividades educativas. Daí a importância da criação de novas leis voltadas ao ensino. Porém, os problemas do nosso sistema político não são causados pela falta de boas leis, mas, sim, pela falta de efetivação das já existentes. Talvez o maior problema do PL seja a questão do aumento da carga horária, que não condiz com a realidade de muitos jovens brasileiros.” Camila Aragão Estudante do curso técnico de saneamento

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FOTO: VERUSA PINHO

Virgínia Neves Coordenadora do curso técnico de saneamento (Proeja)


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