Idiot Mag MAI

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CULTURA // TENDÊNCIAS URBANAS #03 MAI.2012 www.IDIOTMAG.com

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 1


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editorial

A pressa das pessoas que hoje vivem à pressa

Idiot Mag @Viana

16 Cavan Huang entrevista

índice

roteiro Porto

design

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photo report

Idiot Art

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actualidade

Do fundo do baú para a baixa portuense

Este mês a capa fica a cargo da “prata da casa” Idiocracy , o gabinete de design responsável por toda a concepção e design da Idiot Mag!

newsletter

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Idiocracy Design 2 // www.IDIOTMAG.com


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entrevista

Moda

Quim Barreiros

Cada idiota com a sua loja

música

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+ idiota de rua

tabu?

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Alcova da Patrícia

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tabu?

Homo’genio

IDIOTA DO MÊS

José António Saraiva, director

intervenção

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Es.Col.A

PROVOC’ARTE

O Cinema Cego CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 3


Mariana Ribeiro

4 // www.IDIOTMAG.com


Para quem vive numa cidade, como a maior parte da população do nosso país, sabe o que é “ter pressa”, “viver em stress”, ou “morrer de cansaço”. É sabido - é mais que sabido - que hoje não há tempo para tudo o que se vive, ou para tudo o aquilo que se quer viver. Basta ver, a um dia de semana, as apitadelas no trânsito (com os insultos em tons mais ou menos baixos), a correria das pessoas, as que estão atrasadas para o emprego e, até, o passo largo que se dá nas ruas. Basta ver também as “directas” dos estudantes, ou as horas tardias daqueles que se deitam a pensar no relatório que tem de entregar de manhã. O resultado é sempre o mesmo, o chamado “em cima do joelho”, que é, mais coisa, menos coisa, aquilo que devia ter sido feito assim, mas foi feito “assado”. Como resolver um problema que nem sequer é, por vezes, constatado como um problema? Há situações e situações. Mas quem são os que vivem naturalmente com calma? Crianças da primária e reformados? Ou também será que os reformados não conseguem sequer atingir esta calma, se as suas vidas foram vividas com pressa e hoje não sabem viver sem ela e temem o futuro? Desafio os nossos leitores a ter, pelo menos, um momento de calma, no seu dia. O dia que é deles e que deles será a vida toda. E talvez com esta calma poderão saber que pequenos actos só serão desfrutados em pleno se forem dotados de calma. E a calma pode ser um dos melhores actos desfrutáveis, só por si só. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 5


QUEIMA DAS FITAS

A festa académica mais emblemática da cidade chega já no início de Maio e promete aquecer as noites de todos os que a vivem. Conhecidas em todo o país, as Noites da Queima do Porto começam já dia 6, à meia noite e este ano conta com nomes tão sonantes como Rui Veloso, Steve Aoki ou Buraka Som

fotografias fotografia: © João NunoPedro Dias Rocha © 6 // www.IDIOTMAG.com

Sistema, a juntar aos já veteranos Quim Barreiros (com entrevista especialíssima nesta edição!) e Xutos e Pontapés. Os preços pairam entre os 7.50€ de estudante e 14 para público geral ou, para quem não quer perder pitada do evento, aconselha-se o passe geral para todas as noites a 56 euros. É imperdoável faltar!


Flor do Parque @ Campo Mártires Pátria Nesta edição decidimos visitar um restaurante diferente. Flor do Parque, se calhar não podemos chamar-lhe um restaurante, podemos chamar-lhe talvez um “tasco”, mas no bom sentido da palavra. Com pratos tradicionais portugueses esta casa é perfeita para um almoço barato ou rápido, ou um jantar de grupo com os amigos. Os preços variam entre os 5€ e os 10€, sendo para grupos 10€ com bebida à descrição. No Verão torna-se um espaço privilegiado, pela esplanada exterior no centro histórico do Porto

Crescimento e Cultura @ Museu de Serralves Ricardo Valentim (Loulé, 1978) é um artista português a viver em Nova Iorque há cerca de oito anos. Esta exposição será a primeira oportunidade para o público português se confrontar com todo o material gráfico — cartazes, folhetos, folhas de sala — produzido pelo artista nos últimos anos, e que Valentim considera parte fundamental de várias peças apresentadas em exposições internacionais. A partir de 14 de Abril no Museu de Serralves.

Oblivion A loja de roupa e calçado alternativos, do medieval ao pin-up style, tem vestuário e acessórios tanto para mulher como para homem e funciona na Rua Santa Catarina, número 365 no 1º andar. Abertos segunda, das 13h30 às “Toda a Gente Sabe que Toda a Gente 19h, e de terça a sábado, das 11h às 19h. Sabe” @ Rivoli O actor brasileiro Miguel Falabella está de “Anon!mous Club” com Khainz @ Gare regresso aos palcos portugueses, desta vez Depois do sucesso da “Anon!mous Carnival” como autor. Toda a Gente Sabe que Toda a no Swing Club, com o produtor Boris Brejcha Gente Sabe é um espectáculo da autoria de as produtoras L!ve e Fusion escolheram o Falabella e Maria Carmem Barbosa e está dia 12 de Maio e o Gare Porto para a proem cena no Grande Auditório do Teatro Ri- xima edição. Desta vez, o convidado espevoli, de 3 a 13 de Maio. Os bilhetes variam cial é o dj e produtor estreante na Invicta, entre 15€ e 22€ Khainz, que vem apresentar o seu mais recente albúm intitulado “Simple as That”, que será oferecido às cem primeiras pessoas a entrarem no espaço.

MAIS @ PORTO // via Facebook

Teatro:

Para entrar nesta lista deverá enviar-nos os dados do evento até dia 20 do mês anterior para: MAG@IDIOCRACYDESIGN.COM

- “Ciclo Enda Walsh”, até 13 de Maio, @ TECA - “Toda A Gente Sabe, Que Toda A Gente Sabe “ - “Medida Por Medida”, 5 a 13 de Maio, entre 7.5€ a 16€ @ TNSJ - “Hermanoteu na Terra de Godah”, 11 de Maio entre 10€ a 15€ @ Coliseu - “Nunca Te Deixei Partir”, de 17 a 19 de Maio @ Rivoli - “Fado em Concerto”, com Yolanda Soares, 19 de Maio @ Rivoli - “O Fitei no TNSJ”, de 28 de Maio a 3 de Junho, entre 7.5€ a 16€ @ TNSJ

Exposições: - “Way Home”, até 13 de Maio @ CPF - “Navegações/Divagações - Por Entre Escolhos e Baixios” de Artur Barrio, de 14 de Abril a 24 de Junho - “For Whom Who Keeps A Record”, de Mathieu Kleyebe Abonnenc, de 14 de Abril a 24 de Junho @ Museu de Serralves - “Crescimento e Cultura”, de Ricardo Valentim, de 14 de Abril a 24 de Junho @ Museu de Serralves -”Locus Solus”. Impressões de Raymond Roussel. até 1 de Julho @ Museu de Serralves - “E Ainda Vejo Os Seus Rostos. Fotografias De Judeus Polacos”, de 22 de Abril a 3 de Junho @ CPF

Concertos: - Rita Redshoes, 6 de Maio, a partir de 15€ @ Casa da Música - Maria Bethânia interpreta Chico Buarque, 8 de Maio, entre 15€ a 60€ @ Coliseu - GNR, 12 de Maio, entre 17.50€ a 27.50€ @ Coliseu

- Armandinho, 17 de Maio @ Casa da Música - Coldplay, 18 de Maio, entre 55€ a 95€ @ Estádio Dragão - Royal Hunt, 22 de Maio, 20€, @ Hard Club - Maria Gadhu, 26 de Maio, entre 20€ a 55€ @ Coliseu - Madredeus, 27 de Maio @ Casa da Música Festas : - “Os Lellos“, 4 de Maio, a partir de 5€ @ Pitch Club - Jamie Boy, Dogz United, 4 de Maio @ Gare - Festa Gigi, 5 de Maio @ Plano B - Jiggy, 5 de Maio @ Gare - Aniversário Prosak, 5 de Maio @ Prosak Viana - High Contrast, 18 de Maio @ Gare - “Clubbing“ com Quantic, Alice Russel w/ Combo Barbaro, King Britt, Mike Stellar, 26 de Maio @ Casa da Música

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Viana do Castelo é uma cidade abençoada. Conjuga na perfeição os elementos que lhe foram atribuídos: o monte de Santa Luzia, o rio Lima, o oceano Atlântico, o clima temperado e as gentes afáveis. É neste cenário que se respira tradição, desde os cantares e trajes do Minho, à filigrana que reluz, sem esquecer a soberba gastronomia, Viana do Castelo convida, simultaneamente, ao descanso, ao festejo, ao passeio, à descoberta. Da cronologia vianense, há a destacar a Romaria de Nossa Senhora da Agonia que, em cada Agosto, deixa a cidade abraçar os milhares de forasteiros que enchem de cor, vida e musicalidade todos os seus recantos. Mas a capital do Alto Minho reúne, hoje em dia, o melhor de dois mundos: a tradição está emancipada pela criatividade e dedicação dos seus jovens habitantes! Definido o roteiro, começamos pelo Forte de Santiago da Barra, onde o rio se entrelaça com o mar e a Estátua da Menina de Viana testemunha o maior evento nacional de música eletrónica, o Neopop Music Festival. Ano após ano, sonoridades alternativas contagiam não só os amantes deste género musical, mas todos os vianenses, miúdos e graúdos, que acarinham esta celebração, já agendada para os próximos dias 9, 10 e 11 de Agosto. Caminhando junto ao rio Lima, encontramos uns metros à frente, na antiga discoteca do Hotel Viana Sol, a AISCA (Associação de Intervenção Social, Cul-

tural e Artística). Criada com o objetivo de animar o contexto cultural, tem ainda alimentado a vivência cívica de Viana do Castelo. Os seus membros são pessoas com diferentes experiências profissionais e distintos escalões etários e académicos, o que traduz a sua pluralidade. A AISCA tem sido uma plataforma de intercâmbio social, cultural e artístico de indivíduos e instituições da cidade e do concelho, bem como uma montra aberta a manifestações culturais, artísticas e cívicas com relevo nacional e internacional, imprescindíveis para Viana do Castelo. A AISCA assenta a sua atividade num espaço polivalente, aberto à cidade e seus visitantes e tem diversificado a sua oferta de animação cultural e de formação social através dos protocolos celebrados com outras instituições. Outra lufada de ar fresco na cidade reside na Rua do Trigo, na DINAMO 10, um espaço de co-work em que freelancers e pequenas empresas dispõem de um posto de trabalho, onde se fomenta a colaboração e a interação multidisciplinar. Nasceu em 2011, do sonho e pelas mãos da Joana e do Carlos, dois jovens arquitetos que, regressados de Barcelona, tiveram necessidade de tirar o atelier de arquitetura das suas casas. Enquanto potenciais clientes de um co-work, materializaram a criação de um espaço onde pudessem conviver com outros profissionais, partilhar ideias e eventualmente clientes, sempre numa CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 9


fotografias: Rui Soares ©

perspetiva de otimização de custos. A vantagem do co-work em Viana e o facto de estar associado ao ambiente de uma cidade slow city, com todas as infraestruturas do século XXI, dentro de um conceito de low cost travelling e de internet. Dada a pequena escala da cidade, as relações pessoais e profissionais são facilitadas e o próprio espaço da DINAMO10 reflete esse ambiente: muita luz para trabalhar e um pátio interior. A adesão ao conceito do co-work tem sido crescente e os vianenses têm participado cada vez mais nas atividades promovidas pela DINAMO10 (exposições, workshops, open days). Tendo celebrado recentemente o seu primeiro aniversário, aproveitaram para fazer uma residência onde propuseram uma reflexão sobre o co-work e promoveram algumas conferências. Os mentores da DINAMO10 estão satisfeitos e sobretudo confiantes no futuro. Prometem mais atividades e para tanto têm vindo a celebrar parcerias com outros espaços de co-work a nível nacional. Num registo diferente, mas igualmente interessante, encontramos noutra das ruas do centro histórico de Viana, a OB10 // www.IDIOTMAG.com

AISCA Largo Vasco da Gama,41, 4900 326 Viana do Castelo www.aisca.pt www.facebook.com/aisca DINAMO 10 Rua do Trigo, 55, 4900 333 VC www.dinamo10.net\ www.facebook.com/dinamo10 OBJECTOS MISTURADOS Rua Mateus Barbosa, n 32, 4900 508 Viana do Castelo www.objectosmisturados.pt www.facebook.com/objectos misturados INAUGURO www.inauguro.net


JECTOS MISTURADOS, um espaço que reúne no mesmo local um atelier, uma galeria e uma loja que comercializa criações próprias, objetos misturados por outros autores e marcas acarinhadas pelos proprietários da loja, Susana Jaques e Hélder Dias. A ideia surgiu há cerca de três anos mas o espaço físico só abriu em Novembro de 2010. Para Viana, trouxeram uma programação artística contemporânea regular e a comercialização de produtos e objetos que incorporam alguma mais-valia (no seu desenho, na forma como foram feitos, na relação que estabelecem...). O objetivo de criar um espaço acolhedor versátil foi conseguido e embora a Susana reconheça que avaliar o sucesso de um projeto deste seja difícil, considera a aposta ganha na medida em que todos desejam que a OBJECTOS MISTURADOS tenha sucesso. Quanto ao futuro, tem um conjunto de ideias para desenvolver ligadas a criação de novos objetos e pretendem também alterar a presença online da loja, uma vez que existem pessoas noutros locais que querem

seguir e aceder ao trabalho da OBJECTOS MISTURADOS e estão limitadas pela distância física. Deste aglomerado de novas e ideias e conceitos surge o INAUGURO, que perpetua a velha máxima que diz que a união faz a força. Surgiu de ideias concertadas de alguns dos novos espaços de Viana e veio criar um evento que trouxe à cidade iniciativas artísticas contemporâneas e, por outro lado, criou hábitos culturais coletivos. Realiza-se de seis em seis semanas, no centro histórico da cidade, tem uma organização informal e os custos são suportados pelos espaços aderentes (ver caixa). Deixemos o centro da cidade e vamos até junto do mar, onde se respira mais e melhor, onde a nossa vista e os nossos sonhos se perdem na linha do horizonte! A costa do concelho de Viana do Castelo tem algumas das praias mais bonitas do país: a praia do Cabedelo, a praia Norte, a praia de Carreço, a praia dos Ingleses, a praia da Arda e a praia de Afife. À beleza natural somamos as condições ideais para a prática de desportos náuticos e para apanhar banhos de sol. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 11


Para quem gosta e aprecia as modalidades, em Viana do Castelo pode inscrever-se na Escola de Kitesurf João Fontainhas, pode fazer uma visita às escolinhas de surf do Surf Clube de Viana ou a ABC Escola de Surf. Já na foz do rio Lima, a atividade dominante é o remo, cujo ensino da modalidade é assegurado pela ARCO (Associação de Remadores para a Competição). Ainda no âmbito das atividades ao ar livre, quem for praticante da modalidade pode visitar e usufruir das excelentes condições do Clube de Ténis de Viana. Sob uma nova direção, tem apostado em melhorar as infraestruturas e reforçar a formação de novos talentos. Se lhe sobrar ânimo depois de tanta atividade, suba até ao Templo de Santa Luzia, onde a vista panorâmica é de cortar o fôlego, visite o Parque da Cidade, dê uma espreitadela às belíssimas igrejas espalhadas pela cidade, sente-se no jardim simplesmente a ouvir o chilrear dos passarinhos e contemple o desaguar do Lima no Atlântico! São tantos os motivos que tornam Viana especial, por isso quem gosta vai, quem ama fica! Catarina Lima

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Objectos Misturados -Está patente a exposição de Joclécio Azevedo (coreógrafo) -a 12 de Maio Inaugura João Maio Pinto ( ilustrador) Dinamo10 12 de Maio Exposição da Cecília designer de Viana www.heycecilia.com Aisca - Dia 5 . Nuno Prata - Dia 12 . Encontros de cinema de viana (ao norte) -DIa 19 . Museu Fora de Horas


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Comunicação // Web Design Intervenção // Ilustração

www.idiocracydesign.com Numa democracia governada por idiotas para idiotas, sentimo-nos suficientemente idiotas para, através do design, incentivarmos a mudança do paradigma social, analisando-o, explicando-o, e ao mesmo tempo, revoltarmo-nos por aquilo em que acreditamos. Sendo o meio de comunicação que estudamos, amamos e vivemos, vamos utilizâ-lo com um grito de revolta por todas as divergências, oposições e conflitos, um bocado por todo o mundo, sempre tendo em conta a responsabilidade que temos como designers para com a sociedade. info@idiocracydesign.com // 222083373 // 914317773 Rua de Cedofeita, 455, 5º sala 49, Porto

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PODE SER SEU! CONTACTE-NOS:

Comunicação // Ilustração Web Design // Interiores

Rua de Cedofeita, 455, 5º sala 49, Porto 14 // www.IDIOTMAG.com

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ESTE ESPAÇO


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Cavan Huang @ Estudio 16 // www.IDIOTMAG.com


“Adoro o modo como as cidades são concebidas com um nível de interesse, sem se tornarem caóticas e intratáveis. Quase não existe um espaço desperdiçado ou por usar.” Cavan Huang, designer autodidacta nascido em Toronto. Tem um percurso peculiar no mundo do design gráfico, que começou como hobby e que hoje não pode viver sem ele. A Idiot Mag falou com Huang, sempre numa informalidade que o descreve. Mariana Ribeiro // Nuno DIas // João Cabral

“HÁ ALGO SURPREENDENTE NA VARIEDADE DE DETALHES QUE AS CIDADES TÊM PARA OFERECER” Como foi a tua viagem desde que eras um jovem licenciado até chegares a designer conceituado? Originalmente não estudei design. Estudei Historia e Planeamento Urbanístico na Universidade McGill em Montreal. Design era um hobby, e tudo o que aprendi foi sozinho nos meus tempos livres. Desenvolvi websites e animações para vários clubes e organizações. Quando me licenciei, em 2000, fui contratado por uma firma de marketing como web/interactive designer. Desenvolvi durante vários anos websites e apresentações interactivas, mas ainda limitado em web design. Voltei então aos estudos durante três anos, na Rhode Island School of Design, em Providence. A minha educação influenciou bastante no desenvolvimento da minha voz no mundo do design. Pro-

fessores, designers convidados e colegas desempenharam todos um papel fundamental ao desafiar-me para criar um trabalho novo e interessante. Ainda como estudante ganhei alguns prémios e vi alguns trabalhos publicados em revistas. Já na minha tese final, conheci a Jessica Helfand (designer, crítica e fundadora do Design Observer), que ficou impressionada com o meu trabalho académico. Apresentou-me então a algumas pessoas de Nova Iorque, o que me levou a trabalhar como designer interactivo na Time Warner. A Time Warner foi um grande sítio para crescer como designer - produzindo projectos para várias divisões e departamentos. Com o passar do tempo, o meu trabalho como designer na Time Warner, como estudante e como designer independente, foi reconhecido por mais publicações. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 17


“NESSA ALTURA, GEORGE W. BUSH ERA O PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS E CLARO QUE COLIDIU COM AS MINHAS IDEOLOGIAS POLÍTICAS”

Trabalho de colagens: WarnerBrosStudio2.0 por Cavan Huang 18 // www.IDIOTMAG.com

Referes a cidade/metrópole como ponto de inspiração. De que modo isso influenciou o teu trabalho? Há algo surpreendente na variedade de detalhes que as cidades têm para oferecer: luzes, tráfego, sons, pessoas. Adoro o modo como as cidades são projectadas, com um nível suficiente de complexidade, a fim de nos manter interessados. Cidades como Nova Iorque estão cheias de personagens incríveis, histórias, energia e movimento. Não há praticamente nenhum espaço desperdiçado ou não utilizados. Quando eu crio, penso muito sobre esses princípios. Desafio-me a criar uma sensação de movimento, activando o espaço estático. Tento quebrar as regras e os princípios de organização, e penso na página ou ecrã como um espaço 3D ou 4D.


Já trabalhaste para a CMYK Magazine, AIGA, Contemporary Graphic Design, Time Warner Center, PBS, etc. Como foi o caminho até chegares a este patamar? Consegui trabalhar para empresas importantes, principalmente porque estava no lugar certo, à hora certa. Quando comecei a criar multimédia interactiva em 2000, não havia muitas empresas a fazer esse tipo de trabalho. Então, organizações como o Chicago White Sox e a GE, que queriam design interativo, chegaram à pequena empresa de marketing onde eu trabalhava. Em 2005, quando me mudei para Nova Iorque para trabalhar para a Time Warner, já estava a trabalhar numa das casas mais importantes no mundo do entretenimento. A partir daí tive a oportunidade de criar trabalhos em nome de grandes marcas e celebridades, incluindo divisões da Time Warner, ‘CNN’, ‘HBO’, ‘Warner Brothers Studio’, ‘Time Magazine’, para citar alguns. Também grandes empresas que anunciavam na Time Warner (como a American Express, Cadillac, Chevy, L’Oreal) queriam trabalhar com a Time Warner na criação de grandes campanhas publicitarias. Em muitos casos, ficaram satisfeitos com os conceitos criados pelo meu departamento, acabando por os usar nas suas campanhas finais.

Já fizeste projectos para a Casa Branca. Como é trabalhar para uma das instituições mais conhecidas/controversas do mundo? Foi uma grande honra desenhar um logótipo para a Casa Branca. O projecto que eu criei foi para o programa nacional de apoio às Artes e Humanidades da Juventude “Coming Up Taller”. Este programa de premiação dá bolsas de estudo para jovens dos Estados Unidos pelas suas realizações artísticas. Uma vez que esta é uma causa que eu apoio, fiquei orgulhoso em criar este projecto. Nessa altura, George W. Bush era o Presidente dos Estados Unidos e claro que colidiu com as minhas ideologias políticas. Eu sou fortemente contra muitas de suas políticas, incluindo a Guerra do Iraque. Mas só porque não concordo com muitas de suas políticas não significa que eu não deveria criar um trabalho para uma causa que eu acredito. A Casa Branca não é apenas um símbolo do Presidente, mas é um símbolo do sistema democrático dos EUA. No sistema democrático dos EUA, podemos ficar lado a lado com alguém que você discorda e celebrar algo que ambos concordamos. Por isso, quando fui convidado para a Casa Branca por Laura Bush para celebrar os logótipos que projetei, eu aceitei.

Anúncio: “Cadillac Business Unusual” CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 19


Quem é o Cavan Huang como pessoa? O que faz nos tempos livres? Eu sou uma pessoa normal, acessível, que gosta de viver no momento. Eu faço um monte de coisas no meu tempo livre. Eu adoro música: adoro jazz, passo muito tempo a tocar piano, a assistir a concertos, a ouvir a minha colecção de música ou a assistir a vídeos musicais. Eu cresci no Canadá, onde estar ao ar livre é um passatempo nacional. No inverno ando de skate, faço esqui e corta mato. No Verão, faço caminhadas, campismo, canoagem, natação e ciclismo. Também sou apaixonado por viajar pelo mundo, e degustar diferentes tipos de alimentos étnicos. Algumas das minhas comidas favoritas são: dumplings, chocolate negro, paella, pato confitado e salmão fumado. Gosto também de vinho e chá verde.

Como és como designer? Como é o teu dia típico de trabalho? Gosto de fazer as coisas. E gosto de criar um trabalho que atinge muitas pessoas - se serve a um propósito funcional de comunicar informações, puxando pelas emoções. Eu acho que o design gráfico é uma forma de arte cultural e um importante instrumento de comunicação em massa que pode ter virtualmente qualquer forma. De momento sou o director de design da Interbrand, uma agência de branding global. Um dia normal no estúdio envolve uma série de tarefas, tais como: concepção de conceitos, dirigir designers, fazer scripts, reunir com clientes reuniões e gravar video. Temos muitos projetos e isso exige que sejamos capazes de nos concentrar por algumas horas num projecto antes de mudar para algo completamente diferente. Campanha AIGA Make - Think 20 // www.IDIOTMAG.com


Como é ser um designer conceituado numa das maiores cidades do mundo? É optimo. Eu considero-me muito feliz por estar a fazer algo que eu amo e viver numa cidade incrível.

“NÃO TENHAS MEDO DE ASSUMIR RISCOS SÓ POR ACHARES QUE PODES ESTAR ERRADO: APRENDES MAIS COM O FRACASSO DO QUE COM O SUCESSO” Algum conselho para jovens designers? 1. Mantem a mente aberta e uma atitude positiva. 2. Joga, faz e explora. Quanto mais produzires mais aprendes. 3. Sê confiante na tua exploração. Não tenhas medo de assumir riscos só por achares que podes estar errado: Aprendes mais com o fracasso do que com o sucesso. 4. Depois de passares uma boa quantidade de tempo a explorar, escolhe uma direção. É importante para desenvolver o teu próprio ponto de vista e comunicá-lo claramente.

imagens: © Cavan Huang CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 21


ligiaclaro@gmail.com

Promoção na Rua de Cedofeita

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IDIOT MAG #02

Sala de Apresentação IDIOT MAG + Idiotas

Idiotas Nuno + João + Diogo + Rui + Tiago CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 23


Exposição “ViolenTshirts” + Idiotas Catarina e Flora

Feira Vintage

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Ilustrações IDIOT MAG: André e Nuno

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Exposição “WEEKPHOTO”

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Exposição “ViolenTshirts”

Exposição “Sons Invisiveis”

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Sala de Apresentação IDIOT MAG

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Projecção “Cinemagraph”

Projecção “Porcus Mortus”

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Brinquedos na loja “A Vida Portuguesa”, Porto fotografia: Melanie Antunes ©

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“NO VINTAGE, HÁ PEÇAS QUE NOS EMOCIONAM” A Baixa do Porto tornou-se um núcleo de cultura urbana, uma incubadora de arte, de estilo e de irreverência. O passado e o futuro cruzam-se neste palco gigante que é o centro histórico da cidade. Se, por um lado temos o saudosismo do século XX, patente nas fachadas dos edifícios e nos artigos das lojas, por outro, temos a modernidade explícita nos transeuntes que deambulam pelas ruas da Invicta, “quitados” com os últimos gritos da tecnologia, sejam eles smart phones, tablets ou leitores de música. Apesar de avançarmos para o futuro à velocidade da luz, este século parece caracterizar-se por uma tentativa de regressar às origens, de reavivar os anos de ouro do século passado, de conciliar o que ainda está por vir com o que já foi. Nos últimos anos a massa de jovens adultos interessados por elementos mais antigos aumentou, fazendo surgir uma espécie nova de “colecionadores” que reúne artigos de uma era que lhes parece tão distante como o Renascimento. São, portanto, os artigos Vintage que movem esses consumidores ávidos de peças únicas, originais e especiais. Uma peça Vintage é um original de época, produzido durante o século XX, que testemunha um estilo próprio. Além disso, são artigos que se mantêm

intactos, sem terem sofrido nenhuma alteração. Existem, ainda, objetos Retro, que são novos, mas que têm aparência de serem antigos, constituindo uma releitura perfeita de uma época, dum estilo marcante. Numa tarde de sábado não muito solarenga, a Idiot Mag foi passear pela Baixa do Porto em busca de espaços dedicados ao universo Vintage. Encontramos lugares dedicados a vários tipos de comércio, seja a música, o vestuário, o mobiliário ou o artesanato. Ao descer a Rua do Almada, depressa nos apercebemos que ali existe uma grande quantidade de lojas ligadas a um segmento mais alternativo, mais urbano. Entre os edifícios degradados sobressaem espaços de comércio em andares devidamente restaurados. No número 544, encontra-se a Casa Almada, uma loja dedicada à venda de mobiliário, iluminação e objetos de design do século XX. A empresa surgiu em 2006, numa época em que o interesse das pessoas por este tipo de mobiliário começava a despontar. Com a venda online para países como Espanha, Itália e Reino Unido, as vendas começaram a aumentar e atualmente a exportação constitui uma parte considerável do negócio. Pela Casa Almada tanto passam pessoas da classe média-alta, com possibiliCULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 31


CASACOS DE TWEED, SAIAS RODADAS OU COM FOLHOS, VESTIDOS ESTAMPADOS COM FLORES OU FORMAS GEOMÉTRICAS, LENÇOS, PLUMAS, LANTEJOULAS... UMA MISCELÂNEA DE CORES, TEXTURAS E TECIDOS

Loja Rosa Choc, Porto fotografia: Melanie Antunes ©

“A Vida Portuguesa” Rua Galeria de Paris, 20, 1º 4050-162 Porto http://www.avidaportuguesa.com/ “Rosa Chock” Rua do Almada, 225, 1ºEsq. 4050 Porto http://rosachockvintage.blogspot.pt/ 32 // www.IDIOTMAG.com

“Casa Almada” Rua do Almada, 544 4050-034 Porto http://www.casaalmada.com/


dades de investir em peças mais exclusivas, como casais de jovens adultos, que se apaixonam por determinada peça, mesmo antes de começar a mobilar a casa. No entanto, todos os clientes têm em comum uma sensibilidade estética. “São pessoas que não querem comprar uma peça para usar durante três anos e depois deitar fora. Querem comprar coisas para a vida”, explica Susana Beirão, uma das sócias da empresa. Além da busca de referências do passado, a emoção que os artigos transmitem é dos principais factores que leva à aquisição de um artigo Vintage. Ao contrário do design contemporâneo, “no Vintage há peças que nos emocionam”, afirma Susana Beirão. A importância do design no imobiliário surgiu após a globalização. As cadeias de lojas multinacionais, com preços mais acessíveis, contribuíram para o fomento do gosto pela decoração e pelo imobiliário do cidadão comum. Susana Beirão afirma que os seus clientes tanto compram nessas lojas como na Casa Almada, conjugando artigos mais atuais com peças Vintage. Para Susana Beirão existem dois tipos de objetos Vintage: uns, que são absolutamente ligados a uma época, que são perfeitamente datáveis e que se conseguem misturar com outros estilos; outros, que apesar de terem sido desenhados na primeira metade do século passado, são, no entanto, futuristas, como acontece com “as cadeiras do Mies Van Der Rohe ou algumas peças da Bauhaus, que continuam absolutamente atuais”, exemplifica. Continuamos a descer a Rua do Al-

mada e antes de nos cruzarmos com a Rua de Ceuta deparamo-nos com uma varanda de um edifício antigo, repleta de roupa, manequins e bonecos. Ao passar pela porta do rés-do-chão, com anúncios de promoções afixados, fica claro que aquele primeiro andar se trata de uma loja de roupa. Após subir as escadas encontra-se uma sala que apesar de pequena não cabe na vista pela quantidade de coisas que contém. Casacos de tweed, saias rodadas ou com folhos, vestidos estampados com flores ou formas geométricas, lenços, plumas, lantejoulas... uma miscelânea de cores, texturas e tecidos. Rosa Chock é uma explosão de Vintage, da qual surgem artigos do século passado, em melhor ou pior estado, para gostos mais ousados e alternativos, a preços mais do que competitivos. Fátima Leite, proprietária do espaço, mantém uma campanha permanente de duas peças a 5€. A roupa que se encontra neste espaço é maioritariamente em segunda mão, mas também se encontram itens novos, peças de autor. Londres, Brasil, Rússia, Amesterdão, Portugal, são alguns dos países de onde provem a roupa da Rosa Chock, adquirida pela própria Fátima Leite, durante as suas viagens. As origens da Rosa Chock, localizada no número 225 da Rua do Almada, remontam há pouco mais de uma década, quando surgiu com o nome Zack. No final de fevereiro de 2011, Fátima Leite abriu uma nova loja nas traseiras do Coliseu do Porto, na Rua da Formosa, com o nome Rosa Chock II. Num espaço mais organizado e mais amplo, localizado no número 20 da

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“PRODUTOS ÚNICOS NO MUNDO, QUE REVELAM DE FORMA SURPREENDENTE E ARREBATADORA MUITOS DOS TRAÇOS DO POVO PORTUGUÊS”

Loja “Casa Almada”, Porto fotografia: Melanie Antunes ©

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Rua Galerias Paris encontra-se A Vida Portuguesa. Trata-se de uma loja com produtos de criação e fabricação portuguesa, que resistiram ao passar dos anos e se mantiveram genuínos, tanto na embalagem como na sua essência. Naquele primeiro piso com o chão e as prateleiras em madeira encontra-se um pouco de tudo, desde a pasta de dentes Couto, às peças de cerâmica em forma de couve, passando pelo almanaque Borda d’Água. Cada objeto parece transportar-nos ao passado, mesmo que não tenhamos vivido durante as décadas de 50 e 60 e apenas reconheçamos aquilo que os livros e os filmes nos ensinaram. Todos os artigos estão dispostos de uma forma organizada, num local limpo e polido, como qualquer boa casa portuguesa daquela época. Os sabonetes de marcas como Ach. Brito e Confiança sobressaem pelas suas embalagens coloridas e as miniaturas de carros e aviões, em lata ou em plástico, recordam a infância de muitos. Apesar de A Vida Portuguesa ser um aglomerado de objecto que apelam à memória, Catarina Portas, criadora da empresa, não identifica as suas lojas como um projeto sobre saudade, mas sim sobre a identidade, uma vez que se trata de “produtos únicos no mundo,


que revelam de forma surpreendente e arrebatadora muitos dos traços do povo português”, explica a ex-jornalista. Catarina Portas trocou o mundo da Comunicação Social pelo do “comércio delicado”, no qual é dada atenção a quem vende, a quem compra e ao que se transaciona. A ideia de criar este negocio surgiu enquanto Catarina Portas realizava uma investigação sobre produtos antigos portugueses, durante a qual sentiu que era necessário garantir a sobrevivência das fábricas desses mesmos produtos. “A Vida Portuguesa” surgiu como uma evolução da sua primeira marca “Uma Casa Portuguesa”, em 2007, ano que abriu a primeira loja no Chiado, em Lisboa. A loja do Porto abriu em novembro de 2009. Da tela de cinema para a vida real, os anos dourados do século XX encontram-se bem presentes na Baixa portuense. Sendo esse o século em que o ser humano evoluiu mais e durante o qual o mundo sofreu mais alterações, importa relembrá-lo. Vintage, retro, old-fashioned... mil e uma desculpas para vasculhar o baú dos nossos pais e encontrar lá itens que para além de continuarem totalmente atuais, constituem um pedaço de história. Melanie Antunes

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Ju’s Closet, Roupinhas em 2ª mão, Artigos Baratos em 2ª Mão, Cenário Basto Closet, Moustache, Modaparamim , Lady In Red, e Candysssssss Vendinhas, são apenas alguns dos muitos grupos ou páginas no Facebook que formam o fenómeno de venda de roupa e acessórios de moda novos ou em segunda mão. As autoras deste grupos são estudantes e trabalhadoras que fazem alguns euros a mais a vender artigos em bom estado do seu próprio armário, ou então são intermediárias entre um fornecedor e o comprador. Os preços são bastante acessíveis. Para vos explicar melhor, fomos falar com uma das responsáveis por pelo grupo “Artigos Baratos em 2ª Mão”, Maria Moura. Ana Anderson Como surgiu a ideia de criação de um grupo de venda de roupa online? O meu grupo surgiu com o intuito de ganhar dinheiro com algumas peças de roupa e acessórios que estavam abandonados no armário. A ideia não foi da minha autoria, visto já existir uma grande quantidade de sites na internet que já o faziam antes, com o mesmo conteúdo onde já tinha comprado algumas coisas online, então pensei: porque não fazer a mesma coisa? Estás a ter sucesso? Sim, mais do que esperava, nunca imaginei que tantas pessoas aderissem! Neste momento o meu grupo já tem quase 2000 pessoas, e até já tem algumas clientes habituais! A roupa que vendes é só tua? Inicialmente só vendia peças minhas em segunda mão, agora, já faço encomendas de artigos em sites, como o e-bay, e vendo-os com comissão, o que também tem sido um sucesso. 36 // www.IDIOTMAG.com

Já tiveste casos insólitos? Sim, já tive alguns… Neste mundo virtual todos os cuidados são pouco. No meu grupo, tenho o cuidado de ter a minha foto pessoal, em que todas as clientes sabem quem sou, o que transmite maior confiança, tendo também um feedback em que todas as compradoras possam deixar a sua opinião sobre o atendimento e o estado do produto. Mas já me aconteceram diversas coisas não muito agradáveis, como por exemplo, ser enganada! Comprei um relógio pela net como sendo verdadeiro, e era uma réplica! Reclamei, mas a vendedora disse que não havia volta a dar, já estava comprado! Algumas pessoas dizem que querem comprar e depois não dizem mais nada, outras mandam reservar durante um mês e no final já dizem que não era bem aquilo que procuravam… Mas nada que não se ultrapasse! É como tudo!


Na estção S. Bento de maquina em punho, passou por nós a passo rápido. Perguntei se lhe podia tirar uma fotografia mas quase não me ouviu, até lhe tocar no braço. Foi ai que tirou os headphones e com um sorriso na cara disse que sim. As feições orientais e as roupas ocidentais são o paralelismo perfeito para um local onde chegamos e partimos desta cidade.

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Quim Barreiros Ilustração: Nuno DIas © 38 // www.IDIOTMAG.com


Em mês de Queima das Fitas, o entrevistado não podia deixar de ser a mítica figura da música popular portuguesa, Quim Barreiros. Com a sua boa disposição característica, prontamente se disponibilizou a falar com a Idiot Mag! Segue aqui a entrevista: João Cabral Em que momento da sua vida é que soube que queria ser músico? Eu comecei de pequenino pá. Sou filho de acordeonista por isso está-me no sangue. A música sempre esteve na minha vida. Filho de peixe sabe nadar, no meu caso...

Considera-se um embaixador do povo português ou da cultura portuguesa? Embaixador é o posto abaixo do que eu mereço! Eu sou Ministro dos Negócios Estrangeiros da música portuguesa.

Alguma vez foi assediado pelas fãs? Porque escolheu ser cantor pimba e não Humm… Sou, sou, sou… Há sempre umas mulheres de mau gosto que me de outro género qualquer? Eu não gosto dessa palavra! Isso foi assediam. uma palavra inventada por alguém para conotar algo. O que eu sei é que Se pudesse ter outra profissão para além de músico qual seria? há boa música e má música. Bombeiro e polícia. Porque o polícia Onde vai buscar a inspiração para as anda sempre com o cacetete na mão, e o bombeiro anda sempre com a mansuas letras? Ora bem, vou buscar inspiração à língua gueira! (risos) portuguesa que é muito traiçoeira… e ao bacalhau, claro! Nos próximos anos o Quim Barreiros continuará a dar-nos música? Enquanto tiver saúde vou continuar. Quando sentir que estou a mais vou-me embora.

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Tabu que é tabu não se faz com palavras, mas pode ser feito com a boca, de onde saem as palavras e com o corpo e com aqueles pequenos espaços dentro de nós mesmos que nos fazem vibrar. Tabu que é tabu não tem a carga que lhe damos, mas tem a carga que é depositada no momento em que coramos e queremos fugir, mas até gostamos de ficar…

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“transgredir [trɐʒ̃ grə’dir]. v. (Do lat. trangredi,). 1. Passar para lá dos limites de determinado espaço. 2. Não cumprir aquilo que está estabelecido ou determinado: não respeitar ou obedecer a ≈ DESOBEDECER, INFRINGIR, VIOLAR. Ela adora transgredir as convenções.” “promíscuo,a [pɾo’miskwu, -a]. adj. (Do lat. promiscuus, de miscere ‘misturar’). 1. Que existe em conjunto ou juntamente com outra coisa: que está desordenado ou misturado. ≈ CONFUSO, INDISTINTO. ≠ ORDENADO, SEPARADO. (…) 2. Que age ou se comporta de um modo contrário ao que é considerado moral ou a norma, por estender a várias pessoas ou tornar públicos actos ou acções de carácter individual, conjungal ou íntimo. ≈ PERMISSIVO 3. Que se estende ou tem a participação de várias pessoas ou grupos, violando o carácter individual, conjugal ou íntimo que é considerado como normal ou de acordo com a moral; que tem ou revela promiscuidade. (…)” in Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa, Verbo, 2001

Patrícia nasceu num país onde, de há 38 anos para cá, Abril é sinónimo de Liberdade e, durante algum tempo, assim como lhe ensinaram os seus pais, liberdade não era transgressão. Supunha-se que as convenções assentavam em liberdades individuais, comunitárias, em princípios de respeito pelo outro, de expressão livre de vivências, sentimentos e discursos. Depois apareceu a palavra CRISE, e a palavra transformou-se em monstro, e senhores de direitas e fascismos no armário, vieram dizer que a crise era de valores, e que o povo sofria com estes desordenados, o estado pagava as liberdades destes permissivos, e surgem disparates como a “Federação pela Vida” que pedem o recuo em leis por muitos batalhadas, num retorno aos velhos valores cristãos, que de salazarista pouco disfarça. E perguntam vocês à Patrícia, isto não é uma crónica sobre sexo e tabus? (Nem vou mencionar as consideradas ‘transgressões’ como as ocupações e reabilitações de espaços públicos – público, logo de nós todos – , por parte de cidadãos que de repente são estupidamente considerados criminosos, em nome de um bem comum e comunitário…) É sim, mas antes de se falar na promiscuidade assumida, e que em nada expressa essa terrível cono42 // www.IDIOTMAG.com

tação dada, de galdérias e galdérios como a Patrícia e os amigos, interessa pensar-se nas promiscuidades realmente perigosas: entre lei e moral, entre capitais e moral, entre os dinheiros e a lei. E tentar olhar para as coisas com olhos de ver antes que todos sejamos transgressores na procura de uma vida comandada pelo bom senso. Porque se lei e norma estão próximas, estas não deverão relacionar-se tão promiscuamente com moral. E se promiscuidade é existir em conjunto, não andamos todos à procura de vivermos juntos e melhor? E convenhamos num mundo com tanto espaço (ainda) para a diferença, não acham que a norma é um tédio? Voltando ao corpo, e vendo o corpo como esse espaço que legitimamente cada um de nós ocupa, porque será amoral partilhá-lo com quem bem nos entende nos vários espaços que habitamos? Patrícia não entende como podem manifestações de partilha e amor transgredirem o que consideramos aceitável ou corrente… Não deveria ser a liberdade a norma? E, respeitando a visão de cada um, se para uns dar a boca ao manifesto, e deixar que o seu corpo seja a sua declaração de permissividade, devemos apenas respeitar. Continuaremos presos a uma mentalidade com medo da misturada? Igualdade poderá passar por nos tornarmos numa massa indistinta de amor e conjugalidade. E estes velhos em corpos de vintes e trintas, horrorizados com promiscuidade, dão ao termo um cunho mau, engavetados e presos nas suas convenções antigas, com medo de transgredir, recalcando, rejeitando o desejo de cada um, perdendo vivências de saudável erotismo (já dizia Bataille, que o erotismo desperta o horror, aproxima-se da proibição, e é a transgressão praticada e permitida). Não se desenganem, o corpo, o sexo e o amor, o vosso coração, tudo isto também é político.


Parece-me desnecessário explicar porquê uma review de um filme pornográfico e explicar ainda porque gosto e recomendo o visionamento de porno. Em várias definições, pornografia é a produção (de imagens, sons e/ou palavras) cujo objectivo é despertar a libido. Além de vender porno, vejo porno. Mas em vez de visitas rápidas a sites xxx e clips de má qualidade com close ups quase abusivos, prefiro e aconselho umas coisinhas mais trabalhadas. Sem propor, assim à primeira, um mercado mais alternativo, como o abusivamente bom “Dirty Diaries”, compilação sueca de porno feminista, desde há muito que aconselho Erika Lust e as produções da Lust Films, produtora porno sediada em Barcelona. Assumindo-se como realizadora de filmes pornográficos feministas para um público mainstream, desde o seu primeiro filme (“5 historias para ellas”) que se destaca por conseguir boas histórias, fotografia cuidada e muita, muita tesão. O penúltimo filme dela, “Life, Love, Lust” misturava em três curtas cheias de história mas sem palavras, nem ditas, nem narradas, um feeling de filme indie, a começar com uma panorâmica belíssima de Barcelona, belas cenas de sexo entre gente bonita, fora dos estereótipos que nos tentam impingir, uma banda sonora invejável para um filme porno contemporâneo e um timming sábio que adivinha que ninguém vai ver mais que vinte minutos sem se entusiasmar e deixar o filme ganhar vida própria no conforto do lar.

Seguindo a mesma linha, “Cabaret Desire” superou todas as expectativas, mergulhando na tão em voga estética do burlesco, leva-nos para um espaço de liberdade, arte e música, onde se cruzam personagens diversas, compostas, belas, dúbias e com toques alternativos. Enumero assim as razões porque recomendo “Cabaret Desire” de Erika Lust, em forma de leve resumo do que vi e achei: Primeiro, como leitora compulsiva, agrada-me profundamente a ideia de um cabaret literário, onde as histórias ganham vida pela voz, pela narração e onde, desafiando o expectável, na primeira historia, a personagem principal é o ouvinte e não o leitor; Enuncia desde logo uma proposta identitária pouco mainstream, de inspiração na teoria e movimento queer, mas que formula um sentimento cada vez mais comum a tantos, a recusa a rótulos, homem, mulher, gay, lésbica, bi… e mostra um triângulo afectivo e sexual (com conhecimento de causa de todos) em que os dois objectos de desejo, de diferentes géneros, têm o mesmo nome, neutro; ao mesmo tempo que comporta a mesma intensidade dirigida a cada história de amor, acaba com a recusa da escolha e a liberdade, revelando uma auto determinação perante a pressão social para a escolha e para a definição própria de quem, consciente ou inconscientemente, sabe e sente que o pessoal é sim político; ao apresentar uma violação de uma mulher a um homem e uma personagem feminina excepcionalmente forte, fisicamente ágil e de uma inteligência e personalidade marcantes, e ao romper tabus colocando como narrador o seu filho, transgride e provoca as nossas noções de violência, vivências, intimidade e propriedade (aqui se vos revelasse mais estaria a ultrapassar tudo… não quero carimbar a review com um “true Spoiler alert”); No mesmo pacote, junta uma historinha para as meninas baunilha, mas não sonsas, propondo um desejável presente para a celebração de uns 30 anos, num cenário entre o celestial e o onírico; E por fim, um reencontro feliz, para os que querem lembrar encontros ocasionais tórridos e sabem (acreditam ou querem acreditar) que as histórias de amor podem nascer em camas e dias improváveis. Todas as histórias são entremeadas por momentos musicais no tal cabaret, que todos ficamos com vontade de um dia descobrir a morada, e ainda, qual cereja em cima do bolo, uma cena de dança do varão feita por um belo e sensual mancebo. O filme tem 80 minutos, mais 20 de extras (os quais nem vou revelar!). Quem diria que um filme porno daria assim tanto que escrever! Encontra-se a filmografia de Erika Lust em reuniões d’A Maleta Vermelha, através de Carmo da Maleta. “5 historias para ellas” – 23.95€; “Love, Life, Lust” – 26€ e “Cabaret Desire” – 30€

carmodamaleta@gmail.com // +351 932 275 029

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Homo’geneo é uma nova rubrica desta casa digital, dedicada às questões e às pessoas LGBT – lésbicas, gays, bissexuais e transgénero (e a todas as simpatizantes). Terá como mote trazer à luz (do ecrã) o arco-íris de diversidade camuflado atrás do tradicional e daltónico cinzento que muitas/os ainda insistem em associar ao Porto. A cidade está a tornar-se policromática, a sair do armário e há que mudar o nosso olhar para nos ajustarmos a esta realidade, mais clara, divertida e desempoeirada. Calha bem começarmos em maio, o mês em que um pouco por todo o mundo se assinala o o Dia Internacional de Luta contra a Homofobia e a Transfobia – IDAHO. Esclareça-se que foi no dia 17 de Maio do demasiado próximo ano de 1990 que a Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade da sua lista oficial de doenças. É um mês, portanto, em que se fala de direitos, e de direitos humanos na sua conceção mais genuína. Este ano, o projecto Porto Arco-Íris, que é uma iniciativa da Associação ILGA Portugal dirigida à região norte do país, vai promover no Porto duas iniciativas a este propósito: no dia 17 de Maio, a inauguração de uma exposição intitulada “Berlin-Yogyakarta”, organizada pela associação polaca Kampania Przeciw Homofobii (Campanha contra a homofobia), que aborda o tema dos direitos humanos das pessoas LGBT durante a ocupação nazi na Alemanha, com uma ligação aos direitos universais neste âmbito acordados na cidade indonésia de Yogyakarta em 2006. Paralelamente, vai acontecer, no dia 21, às 14 horas, uma conferência adequadamente intitulada “Os Direitos Humanos das Pessoas LGBT – de Yogyakarta ao Porto”, onde estarão presentes representantes de organismos públicos, partidos políticos e académicos para debater o tema e, espera-se, assumir uma atitude mais comprometida para com o acolhimento da(s) diferença(s) na cidade. Ambas as iniciativas, de entrada livre e gratuita,

irão decorrer na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, que desta forma se associa ao evento e à campanha contra a discriminação com base na orientação sexual e na identidade de género. Também em Maio, inauguram-se as Conversas para Lê-Las, uma nova comunidade de leituras de temática lésbica, cujas datas iniciais serão 5 e 26 de maio e 16 de junho, sempre às 16h no espaço A Cadeira de Van Gogh. Apareçam e divulguem! Telmo Fernandes Para mais informações: porto@ilga-portugal.pt 92 7567666 porto.ilga-portugal.pt

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AQUI NÃO HÁ DISTINÇÕES E AQUI NÃO HÁ QUEM MANDE Movimento Es.Col.A, o Espaço Colecti- unidas pelos mesmos interesses, ocupou a vo Autogestionado que deu que falar escola do Alto da Fontinha, há muito desactivada, e decidiu dar um rumo melhor Entrando na Escola do Alto da Fontinha, ao núcleo vandalizado, centrado no tráfico ali para os lados de Faria Guimarães, lá em de drogas e com constantes queixas dos cima, mesmo para o alto da cidade, dá-se moradores da Fontinha. Na altura, os vizide caras com várias situações: no pátio nhos gostaram de os ter por lá. Apesar do daquele espaço que durante tantos anos “aspecto de um ou outro”, foram estes que funcionou como escola primária, de onde trouxeram a dinamização do espaço, e isso tantos putos saíram a saber ler e escrever, foi bem visto aos olhos da população local. a fazer contas e a perceber como a natu- Um dia no Es.Col.A é do mais completo reza opera o meio que nos rodeia, um gru- que pode haver. Aqui não há espaço para o po faz malabarismo e ri, ri muito. Do outro aborrecimento, a menos que essa seja uma lado, há outro grupo em que uns rapam actividade que se queira, efectivamente, parcelas de cabelos aos outros, entre as ter. Além dos amigos que se arranjam por construções de rastas e cabelos espeta- lá, foi o apoio educativo às crianças que dos. Ao fundo, um grupo de miúdos, miú- fez com que este projecto fosse tão bem dos pequenos, brinca e anda de bicicleta a acolhido. É a partir da tarde que os memquerer imitar o trânsito que está fora da- bros se juntam nas actividades: a capoeira, qui e também todo o quotidiano que não as aulas de yoga, as oficinas de música, o existe ali. Todos estão felizes e todos se xadrez, as aulas de Português (há muitos dão bem. Uma criança de três anos está estrangeiros no Es.Col.A) ou os jantares copor ali com um conjunto de estrangeiros, munitários estão ao alcance de todos. Dialemães, holandeses, talvez, com os seus nheiro? Aqui, paga-se com o coração todo 50 anos e um grupo de adolescentes, fres- o conhecimento adquirido. Ao falarmos cos e saudáveis de estilos comuns, alter- com um membro integrante do movimennativos, de vez em quando, ou só mesmo to Es.Col.A, Marco, este explica que o prinde pensamento. Aqui não há distinções e cípio é simples: “eu ensino-te francês e tu aqui não há quem mande. Há apenas uma ensinas-me a tocar viola”. Neste espaço, a causa e esta quer-se com o coração: a autogestão é a dona da casa. Este é o prinocupação serve para, além da autogestão, cípio onde o dinheiro ou as ordens não são abolir as hierarquias e partilhar a informa- necessárias, pois aqui opera-se com outra ção que todos têm para dar. O que acon- mentalidade. “Não há ninguém a mandar teceu: há um ano, um grupo de pessoas, porque não é preciso ninguém mandar”, CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 49


TODOS TÊM QUE AJUDAR A GARANTIR A SUBSISTÊNCIA. SE O ES.COL.A É DE TODOS, POR QUE NÃO HAVERIA DE SER ASSIM?

diz Marco, com naturalidade. As ajudas de mercearia também são suficientes. Porém, todos têm que ajudar a garantir a subsistência. Se o Es.Col.A é de todos, por que não haveria de ser assim? O imaginário da cultura anarco-punk O projecto do Espaço Colectivo Autogestionado, ao qual se denomina pela sigla de Es.Col.A, remete-nos para o imaginário da cultura anarco-punk, já há muito praticada pelas minorias em toda a Europa e com especial relevo em cidades muito urbanas e com demasiada especulação imobiliária, como Berlim ou Londres. Originário do termo squat, ocupar é, nada mais, nada menos, que um movimento social, muitas vezes associado a uma tribo urbana, que ocupa determinado espaço abandonado sem permissão dos seus proprietários, sejam eles privados ou públicos, com o objectivo de convívio e promoção de actividades culturais ou políticas. Questionados sobre as convicções políticas dos okupas da Fontinha, Marco é claro: “aqui há total liberdade de pensamento. Admitem-se ideologias políticas, mas não em grupo. No fundo, há princípios que são fundamentais para todos”. É por isto 50 // www.IDIOTMAG.com


que todas as decisões e rumos que a Es.Col.A deve tomar são debatidos em assembleias públicas. A vontade de melhorar o espaço foi sempre notável. Em todas as vezes que a Idiot Mag lá passou, pudemos constatar a limpeza, organização e, sobretudo, a pacificidade que lá morava. Ali dentro nada falhava - o que falhou foram os desentendimentos entre estes e a Câmara Municipal do Porto, Câmara esta que se avista bem das janelas do primeiro andar das instalações do Es.Col.A . O despejo I, o despejo II, a ilegalidade e a revolta Passado 30 dias da ocupação e com vários projectos para o espaço, a polícia entrou no local destinada a proceder ao despejo – do material e dos okupas. Tal acção seria de prever, porém o que mais indignou esta comunidade foi o desinteresse da Câmara Municipal do Porto pelo projecto, sem sequer possibilidade de reconsideração. Estes não desistiram e instalaram-se no Largo da Fontinha, com ajuda dos vizinhos e começaram o movimento com a força que hoje podemos conhecer e a sua CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 51


pujança nunca mais esmoreceu. Para estes foi “estranho estar a ajudar uma criança a fazer os trabalhos de casa no chão da rua”. Foi com todo este envolvimento e apoiados pelos órgãos de comunicação social, que decidiram iniciar um diálogo com a CMP. Os responsáveis autárquicos afirmaram que para o diálogo poder existir deveriam criar uma associação e cumprir todos os processos burocráticos que lhes eram exigidos. Porém, estes queixaram-se de que de nada disto teria valido a pena, pois nada teria acontecido até então. De volta ao Es.Col.A, os membros decidiram manter-se no terreno até algo mais acontecer. Foi então que os okupas foram convidados pela vereadora da Coesão Social a irem até à Câmara para assinarem um contrato, onde, além de poderem ficar no espaço até 30 de Julho, teriam que pagar uma renda simbólica de 30 euros, mensalidade que vai de acordo com os grupos IV e V dos bairros sociais. Os ocupantes do Es.Col.A não gostaram de ver o seu projecto com um prazo definido e decidiram não assinar o contrato, onde não lhes era permitido, sequer, renovar contrato. Assim, no último 19 de abril, o dia não foi pacífico na cidade do Porto. Pelas 10h, um corpo policial forte, que contou com membros da PSP, da Polícia Municipal e dos Bombeiros desocupou a escola com recurso a material de arrombamento e máscaras de combate a incêndios. Além disso, a força policial bloqueou toda a rua da escola, não permitindo a passagem a membros nem transeuntes. Os membros do projecto decidiram então iniciar uma resistência pacífica, que acabou por não ser pacífica de ambos os lados. A polícia decidiu identificar os indivíduos, enquanto um dos okupas, no meio de todo o confronto, chamar “filho da puta” a um agente da autoridade. Resul52 // www.IDIOTMAG.com

tado: levou com um “taser”. A partir daqui a situação descontrolou-se. Três detidos foram levados para a esquadra do Heroísmo, para onde todos os membros do movimento se transferiram em solidariedade com eles. A partir daqui, um forte número de manifestantes iniciou uma marcha até à Câmara do Porto. “Soltem os amigos da Fontinha!”, gritavam em uníssono, entre lágrimas e decepção. O espírito foi sentido para quem passou pela manifestação. Ao chegar à Câmara sentiu-se uma tensão forte e já outro corpo policial estava à espera dos manifestantes. Aqui, foram várias as ofensas a Rui Rio, presidente da CMP e quem ordenou o despejo. Foi aqui também que se ditaram palavras de ordem e mensagens positivas. E aqui, também


um indivíduo, desesperado, regou-se com gasolina, sendo logo recolhido pela polícia. Todo este aparato seguiu até à Fontinha, onde vários manifestantes permaneceram. Em vão e cientes disso, os membros do Es.Col.A promoveram uma manifestação programada para o 25 de Abril, onde as manifestações de liberdade têm mais ânimo para resistir e existir. Chegado ao dia, foram milhares os que se concentraram na Câmara. Animados, seguiram para as instalações do antigo Es.Col.A. Aqui não houve felicidade maior: retiradas as chapas postas dias antes pelos funcionários da Câmara, foram milhares as pessoas, apoiantes do projecto e atraídas pelo dia da liberdade, que tanta emoção podia tra-

zer, entraram na escola do Alto da Fontinha e ali permaneceram. Toda a união que se criou aqui foi importante para o movimento, que naquele dia se sentiu mais apoiado que nunca e percebeu a força que aqui se vivia. Proclamava-se a vontade do povo e, de facto, esta foi cumprida aqui a 25 de Abril. Contactada a CMP sobre a questão dos despejos, estes remeteram-nos para o comunicado oficial, sem nos darem possibilidade de expor questões. Até ao fecho de edição da Idiot, os factos ficaram-se por aqui, porém, a Idiot Mag irá acompanhar no seu site todo o desenvolvimento e desfecho sobre o Es.Col.A. Mariana Ribeiro

Es.Col.A antes do despejo Fotografias : Nuno DIas © CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 53


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Meus caros Idiotas, outro dia acordei com uma voz gritante dentro da minha cabeça: “O Cinema está cego!”. Alguém bradava aos sete ventos esta fatalidade. O Ser Humano tinha deixado de poder ver. Tudo, de repente, se tinha tornado negro e ninguém conseguia alcançar qualquer tipo de imagem. Conseguiremos imaginar um mundo às escuras? Conseguiremos viver sem ver (para além de um fundo sem luz onde nada se passa)? Pois bem… penso que não vivemos nós de outro modo mesmo com o apoio de todas as luzes. Esta será a diferença semântica entre dois verbos essenciais à vida: Ver e Olhar. A evolução e a revolução industrial iniciou um processo de eliminação do homem por ele próprio, através da facilidade tecnológica e de acesso à informação. Tudo nos é oferecido pela imagem construída e pronta a consumir. Tudo nos é facilitado pela rapidez existencial a que o processo técnico, filho bastardo da construção e irmão siamês do capitalismo, nos atirou. Frederico Nietzsche, com alguma alma profética no seu estudo “A verdade e a mentira no contexto extra-moral”, já tinha previsto esta “Guerra de todos contra todos” que teria por fim a eliminação da pessoa, da vida humana, pela força de não haver acordo entre os homens. Esta facilidade de podermos ver tudo, também impulsionada, de certa forma pelo conceito do Big Brother do Orwell, este descendente directo do panóptico descrito tão bem por Umberto Eco, atirou-nos sem defesas para um mundo onde tudo se pode ver e onde tudo pode ser visto. Mas será que esta facilidade nos deixa ver, na realidade? E se eu vos dissesse que ninguém vê absolutamente nada? E se eu vos dissesse, à boa maneira do Almada Negreiros, que nós todos não passamos de “um coiro de indigentes e charlatães” de 56 // www.IDIOTMAG.com

nós mesmos? Que nos estamos a enganar a pensar que vemos, mas na realidade só saberemos “Olhar”? Se vos disser isto e pensarmos na conotação poderosa da visão, será que Olhar e Ver serão a mesma coisa? Eu direi que não! Tenho visto algum cinema, principalmente surrealista, onde realizadores como Dali e Buñuel fazem o homem ver para além da realidade. O cinéfilo aqui tem capacidade de sonhar, de se transportar para além da imagem e poder Ver cinema. Vi, com muito interesse e já noutra época cinematográfica, a rebeldia do nosso João César Monteiro, no seu filme “Branca de Neve”, que nos presenteia uma tela em tons de cinzento, na qual sabemos existir actores a contracenarem atrás de um casaco colocado em frente da objectiva fílmica. O que podemos observar são as cores das vozes dos actores que, neste caso, parecem uma leitura encenada num teatro bem clássico em Portugal. Foi na junção destes dois tipos de cinema subjectivo que o poder da imagem e das narrativas me assaltou a alma e me inquietou enquanto homem visual. De facto ver tem muito que se lhe diga. Proponho-vos um exercício: Já pensaram que um estrangeiro observa muito mais a nossa cidade sem nunca ter cá vindo, reparando em coisas que nós pensamos nunca ter visto antes. Isto acontece porque nunca vemos o que facilmente pode ser olhado. Passamos pelas coisas sem notar nelas à força de passarmos sempre por elas, e nunca conseguimos alcançar a sua verdadeira beleza, porque fazem parte das rotinas da retina. Dei por mim a imaginar uma tela negra e


fechei os olhos com força até me habituar a ver aquela imagem negra vazia… mas logo a minha imaginação começou a palpitar e a necessidade de ver produziu imagens no meu cérebro… senti que poderia viajar. Depois, parti para outra experiência: Cerrei novamente os olhos, mas desta vez fiz-me acompanhar do som do filme “Impressões da Alta Mongólia” do Dali (em homenagem ao grande Raymond Roussel) e apercebi-me que aquela narrativa me fazia sonhar. Era uma mistura bem pintada de sensações poéticas surreais que me levavam a uma viagem muito minha e bela, esteticamente elevada. Naquele momento, todas as imagens eram tão reais ou mais do que todas as que olho de olhos bem abertos. Foi nesse exacto momento que cheguei à conclusão em que o homem com os seus olhos é o animal mais cego. E se ele fosse obrigado, pelo hábito, a ver em vez de olhar? Melhor local para o fazer seria o cinema: Uma sala, uma tela escura e uma narrativa que lhe alimentasse os sonhos, qualquer coisa que fundisse, nas vozes dos actores, magia, sonho e poesia, e com isso conseguisse despertar a visão adormecida pelo dia-a-dia. Poderão acusar-me os maiores defensores da estética e do belo que o que defendo é a morte do cinema. Pois eu, claro idiota, penso que será pelo Não-cinema que se fará cinema, e que isto será o motor de arranque para se poder ver melhor. Assim poderemos transmigrar tudo o que olhamos até então para o mundo interior da estética, onde, à medida do André Breton, a imaginação não perdoa. Proponho-vos assim a introdução ao conceito que escrevi mal acordei, ainda com a voz do homem do sonho a gritar de agonia pela cegueira da sétima arte: O cinema está cego! Contorcia-se o sindicalista cinéfilo Cada vez que gritava bem alto os lascivos panfletos. A tela tinha-se colorido de negro. Os olhos nada viam.. Ai os Olhos que deviam ver, olhos que viram e já não podem ver mais. Cegos estão aqueles que deixam

de ver cinema à força arrebatadora de uma sala escura, rugindo em silêncio. Começamos por ouvir o sussurrar insuportável dos sistemas de som quando acordados pelo horário burguês da matiné. E começa a dar o pé ao trabalho Pra este povo não se por com cara de caralho À espera de uma imagem que não vai aparecer. Silêncio aparente. Começa a banda sonora Com tanto sonho de música por fora a transbordar para dentro como fonte de sonhos. Medonhos esses olhos que ainda não vêem nada Que não inferem nem ingerem As narrativas mágicas que se avizinham! Os actores cometem amores Às escondidas, mas já há quem os consiga encontrar E ponha o cowboy a montar Uma bela concha de pérolas perfeitas perdidas. Felizes de quem prever isto com o desenho poético Da fotografia apaixonada. Há quem tenha mais olhos que os verdes palpitantes Como o do Cu que vê por necessidade Mais todos os da Alma delirantes - criam feitiços de crianças imaginárias E Tudo é maravilhoso! Oh tela de cinema já com vida És cinema… cegaste para despertar a imagem interior, Aquela das pinturas internas que nos atiram no luar às loucuras Com ternuras de magia e surpresa Uma imaginação que não perdoa de tamanha beleza As cores cá dentro são mais claras Mais nítidas O cinema cá dentro… Vê-se melhor! - Rui de Noronha Ozorio

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Meus caros Idiotas: fiquem, desde já, a saber que existe, neste nosso mundo passional de irreverência que nos rodeia, uma espécie de idiotas tresmalhados, transviados do paraíso celestial das ideias construtivas. Sim! Um grupo de abéculas que estima a ignorância como a mola propulsora de todas as ideias, um rebanho ordenado pelas moralidades caducas e insipientes, tudo em nome dum fado tradicionalista, conservador e absolutamente medieval. José António Saraiva, aquele arquitecto inventor de sacos de plástico para semanários e director de um jornal onde o Sol se reduz apenas ao nome, é um exemplo magno deste tipo de ‘gente’. Devo, antes de mais alguma coisa, confessar que me sinto uma espécie de acéfalo por falar deste senhor arquitecto que se faz pavonear no Chiado, desfilando Rua Garrett acima, pelo menos três vezes ao dia, sempre com a esperança beata de ser notado pelo público masculino que frequenta aquele local. Não conseguindo, lá vai ele elevador da Fnac abaixo observando os garotos menores, numa perspectiva um tanto ou quanto de índole idealmente pedófila, ou no mínimo, estranhamente interessada. Aqui vai o Saraiva pelo Chiado A correr com o passo pequenino Aqui vai ele bem apressado A apreciar no elevador o menino. Este senhor Saraiva, arca de toda a moralidade lusitana, encosta-se bem lá atrás, onde a luz do elevador não o revele por pejo social. E fica ali a apreciar o menino de cima abaixo, olha para as suas mãos uma em cima da outra, para a roupa preta, para os pés e para a sua cabeça ligeira58 // www.IDIOTMAG.com


mente inclinada, o que na verdade demonstra um gosto muito passível de se estranhar, pela sua já conhecida natureza tão ortodoxa de pensamento. Pensaremos que é um esteta para não o carimbar, no imediato, de promiscuidade passiva. Na altura de Salazar, tão saudoso para homens como ele, seria um motivo para se recear a vagabundagem. O pobre rapaz adolescente, de costas, poderia estar a correr um perigo que nunca havemos de saber, por não concretizado, e ainda bem! No entanto, estava ali a ser descriminado ao detalhe. Temo que Saraiva não teria muita sorte se a sua vontade fosse desflorar a adolescência com a vontade de o fazer homem, tão simplesmente porque Saraiva é velho, tem barba, veste-se com trajes clássicos, o que poderá querer dizer que sofre de inclinações geriátricas não muito atractivas a alguém com apenas 16 ou 17 anos. Aquele elevador remete, então, o senhor Arquitecto (que, ainda por cima, tem nome de chuva grossa) para uma divagação existencial extensa sobre a masculinidade na história mais recente de Portugal, achando que cada vez há mais gays, muito por causa das figuras públicas que ao assumirem publicamente a sua orientação, servem de motor de criação de homossexuais. Este medo, esta ignorância de facto, deixa-me a pensar: Andará o Saraiva a procurar encontrar-se desde há quase 70 anos? Será que se quer justificar por forma a contrariar o que desde sempre existiu em si, esse demónio Gay que o atira ao mais profundo sentimento de pecado? Será que ele pensa que, por acaso, alguém mediaticamente conhecido que assuma a sua heterossexualidade, fará com que haja menos homossexuais no Chiado? Será que a sua orientação é

apenas uma inclinação de fraca certeza? Será? Pois bem, só ele saberá e a gente por aqui fica a imaginar… Para este burguês bem instalado na vida, a homossexualidade é uma manifestação de vanguardas contestatárias. Ele próprio deve ter sonhado variadíssimas vezes que dizia aos pais que era homossexual para provocar o maior desafio que se pode concretizar entre gerações. Por isso já sabem, leitores idiotas adolescentes, mesmo orientados para o sexo oposto, assumam a vossa homossexualidade inexistente para provocar apenas os paizinhos que, isso sim, é de homem! O José António é um sujeito que assume a sua vontade de futuro nas relações heterossexuais, mesmo que andem aí homens que gostam de outros homens a casar e a fazer filhos em senhoras que, mais tarde ou mais cedo, são enganadas pelas “Inclinações” inafastáveis da orientação base. O importante, por isso, é a imagem que se dá. O que dá vontade de rir quando pensamos na imagem do José António a observar os adolescentes de forma tão apaixonada. Vemos, outrossim, na sua atitude a verdadeira “ausência de utilidade, de niilismo assumido” que ele tanto critica na comunidade gay… e claro, a recusa de futuro, do futuro das ideias claras e informadas e do futuro da humanidade enquanto respeitadora do que é diferente pelo ditado na maioria. Finalmente, já que penso que falei demasiado sobre este desinteressante individuo, só posso imaginá-lo a dizer entre dentes, no elevador, para que ninguém o ouça, a maior e mais interessante de todas as revelações proféticas de vontade: “Eu sou diferente, eu não sou como vocês, eu recuso esta sociedade hipócrita, eu assumo-me”. Rui de Noronha Ozorio CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 59


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