IDIOT MAR.13

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CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 1


6 EDITORIAL Um Sorriso no Rosto 10 ROTEIRO

24 DESIGN Bolos Quentes 50 ILUSTRADOR O Cosmos Hazul 68 HIP HOP Virtus 76 LOOK DO MÊS Preppy Military

8 IDIOT ART Frederico Draw 16 ATUALIDADE Porto, Cidade Cultura 32 PHOTOREPORT Holi Idiot Fest 58 IDIOT @ Londes

72 ELETRÓNICA Steve Parker

78 IDIOTA DE RUA Londes

82 IDIOTAS AO PALCO

94 INTERVENÇÃO And My Eyes Are More Red Then The Devil Is

108 LA FOUINOGRAPHE Aline Fournier

119 O ANTI IDIOTA O Andante 2 // www.IDIOTMAG.com

88 TABU? Alcova da Patrícia + review 100 INTERVENÇÃO Ser Mulher

116 PROVOCARTE A Reação e as Modinhas da Revolução


Direção: Nuno Dias // João Cabral Gestão e Marketing Pedro Pimenta Textos: Ana Anderson Ana Catarina Ramalho Bruno Manso Carmo Pereira Flora Neves João Cabral Nuno Dias Nuno Di Rosso Patrícia (Pseudónimo) Rui de Noronha Ozório Tiago Moura Tish Design: Nuno Dias // João Cabral IDIOT, Gabinete de Design® Capa: Hazul Ilustração: Hazul Fotografia: Spyrart Aline Fournier Vídeo: Mariana Oliveira Rita Laranjeira Todos os conteúdos gráficos são da responsabilidade de: IDIOT, Gabinete de Design ® www.idiocracydesign.com Info@Idiocracydesign.com Cada redator tem a liberdade de adotar, ou não, o novo acordo ortográfico Agradecimentos: Tiago Urzal Pimenta, Rui Almeida, João Ferreira, Elias Marques, Sergio Correia, Emaunuel Barbosa, Joana Silva, Wailers, João Paulo Cabral, Rafi, Joana Silva, Blackjackers, Nuno Carneiro, Leo Cruz

(*) NENHUMA ÁRVORE FOI SACRIFICADA NA IMPRESSÃO DESTA MAGAZINE!

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Nuno Dias

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UM SORRISO NO ROSTO NESTE ANO VIMOS MUITA COISA ACONTECER. É POR MUITOS VISTO COMO O ANO DA AUSTERIDADE, O ANO EM QUE O PAPA DECIDIU RENUNCIAR, O ANO EM QUE ASSISTIMOS A NÍVEIS HISTÓRICOS NO DESEMPREGO, QUE NOS TOCA A TODOS NÓS. O ANO EM QUE FAZER ARTE NAS RUAS É CONSIDERADO CRIME, E EM QUE QUEM DEVIA LEVAR O NOSSO PAÍS PARA A FRENTE FAZ DO ENCHER OS SEUS PRÓPRIOS BOLSOS UMA ARTE. NO PARLAMENTO DECIDEM DISCUTIR RECUOS NAS LEIS SOBRE O CASAMENTO HOMOSSEXUAL, NA PROCRIAÇÃO MEDICAMENTE ASSISTIDA, NA EDUCAÇÃO SEXUAL NAS ESCOLAS, A MUDANÇA DE SEXO NO REGISTO CIVIL, A PRÓPRIA LEI DO DIVÓRCIO VOLTA À MESA. INCENTIVAM-NOS A EMIGRAR, O NOSSO PRESIDENTE DA REPÚBLICA E PRIMEIRO-MINISTRO NÃO PASSAM HOJE DE FANTOCHES, MARIONETAS CUIDADOSAMENTE MANUSEADAS POR OUTROS. TODOS VEMOS ISSO, MAS NINGUÉM PARECE PREOCUPAR-SE. JÁ USAMOS A GREVE COMO QUEM USA UMA CAMISA, UM DIA VESTIMO-LA, COMO NO DIA SEGUINTE VAI PARA LAVAR E VESTIMOS OUTRA. E A GRÂNDOLA VILA MORENA... MAS NESTE ASSUNTO NEM ME VOU ESTICAR POIS O RUI NO SEU “PROVOC’ARTE” DÁ-NOS A SUA OPINIÃO. NESTE ANO REPLETO DE NEGATIVIDADE, A IDIOT, COMO NÃO PODIA DEIXAR DE SER, VIU TODAS AS CORES DO ARCO-ÍRIS, BRILHANTES COMO NUNCA NINGUÉM AS VIU. NASCEMOS DO CINZENTO, DO INCONFORMISMO, E RAPIDAMENTE LHE APRESENTAMOS COR. TRAZEMOS E PROMOVEMOS A CULTURA, A AMIZADE, A UNIÃO, E TAMBÉM A ALEGRIA. COMEMORAMOS O NOSSO ANIVERSÁRIO NO PASSADO DIA 1, NA ESAD MATOSINHOS, INSTITUIÇÃO ONDE CRESCEMOS COMO VISIONÁRIOS, CRIADORES E INTERVENIENTES. E A COISA NÃO PODIA TER SIDO MAIS FELIZ. COM UM DIA DE SOL COMO NÃO VÍAMOS HÁ MESES, TROUXEMOS MÚSICA, AS GUITARRADAS CONSISTENTES DOS BLACK JACKERS, AS BATIDAS ENVOLVENTES DOS DJ’S NUNO CARNEIRO E LEO CRUZ. A ARTE FICOU A CARGO, TÃO CARINHOSAMENTE, DA TAMARA ALVES E DO MESK, DOS MERECEDORES VENCEDORES DO GRANDE IDIOTA 2012, E DO HAZUL, QUE PRONTAMENTE SE DISPÔS, AO VIVO, A ILUSTRAR A CAPA MAIS IDIOTA QUE MARÇO PODIA TER. MOSTRAMOS TAMBÉM AO MUNDO COMO FOI O ANO DA CRIATIVIDADE, EM DOCUMENTÁRIO. MAS O PONTO ALTO FOI SEM DÚVIDA, O MOMENTO EM QUE A IDIOT CRESCEU E CONTRARIOU A SITUAÇÃO ATUAL DO MUNDO. ESPALHÁMOS PELO CÉU DO MUNDO, LITERALMENTE COR! FOI COM O HOLI POWDER, AQUELE PÓ COM A COR MAIS VIVA QUE ALGUMA VEZ VIMOS, QUE FOMOS À GUERRA. A GUERRA DA COR. E GANHÁMOS. TODOS NÓS FIZEMOS O ANO DA CRIATIVIDADE. E AGORA? JUNTAM-SE A NÓS PARA MAIS UM ANO INCRÍVEL, AJUDAM-NOS A FAZER DE 2013 UM ANO AINDA MAIS COLORIDO? NÓS ESTAMOS NESSA, SEMPRE COM UM SORRISO NO ROSTO.

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EM 2013, A IDIOT PASSA A SER RESPONSÁVEL PELA CURADORIA VISUAL DO GARE PORTO E DOS SEUS ESPAÇOS ASSOCIADOS. UNINDO-SE AO CONCEITO DE ESTE ESPAÇO SER POR EXCELÊNCIA O CLUBE MAIS CULTO DENTRO DA MÚSICA ELETRÓNICA DA NOSSA CIDADE, PRETENDEMOS CRIAR O PRIMEIRO “MUSEU DE CULTURA URBANA”, QUE DARÁ RELEVO A UMA FACE ARTÍSTICA QUE GANHA ÊNFASE, A CADA DIA QUE PASSA. HAZUL FOI O PRIMEIRO CONVIDADO, TRAZENDO ATÉ NÓS O “PORTAL HAZUL”, UMA ESPÉCIE DE ENTRADA PARA UMA NOVA DIMENSÃO, ONDE A MÚSICA ELETRÓNICA E A ARTE URBANA DANÇAM DE MÃOS DADAS. NESTE SEGUNDO EPISÓDIO, O ARTISTA A CONVIDAR VEIO-NOS AUTOMATICAMENTE À MENTE: FREDERICO DRAW, DO COLETIVO RUA. CONHECIDO PELAS CARAS COM EXPRESSÕES TÃO EMOTIVAMENTE VINCADAS, DRAW ACEITOU O NOSSO DESAFIO E, A 29 DE MARÇO, APROVEITANDO O QUINTO ANIVERSÁRIO DO GARE ACOMPANHANDO O DJ RICARDO VILLALOBOS, ESTREAMOS A PRIMEIRA PAREDE DO INTERIOR DO CLUBE, NESTA NOVA FASE DE ARTE 100% IDIOTA”.

http://www.youtube.com/watch?v=zPWUSHSjnoA CLICA AQUI PARA VERES A EDIÇÃO ANTERIOR

29 MARÇO FREDERICO DRAW (COLETIVO RUA)

+ RICARDO VILLALOBOS GARE PORTO 8 // www.IDIOTMAG.com


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3 março // domingo Bodyspace apresenta: JP Simões Horários: 21:30 Preços: 5€ Maus Hábitos

10 março // domingo Ao domingo nada melhor que uns bons petiscos e um bom vinho para acompanhar, num terraço com vista sobre o mar. Horários: até 02:00 (bar) O Bar Tolo Meu // Rua Senhora da Luz, Foz

18 março // 2ª feira Circo Imaginário Atelier de Páscoa // Este atelier tem presente o cruzamento das várias disciplinas performativas, criando quadros de interligação de dança e teatro de imagens. Baletteatro Arca d’água Preços: 40€ (3 dias)

26 março // 3ª feira O quarteto Trompas Lusas aborda um repertório variado que passa pela música de caça, barroca, clássica, música contemporânea e popular Horários: 19:30 // 8€ Casa da Música 10 // www.IDIOTMAG.com

11 março // 2ª feira Sugestão de cinema: Mamã: um filme de terror que vai deixar-te de cabelos em pé UCI Arrábida

19 março // 3ª feira Filosofia às terças e a entrada é livre Horários: 21:00 E-learning Café Asprela

27 março // 4ª feira O novo O Cálice de Porto, na Rua de Fernandes Tomás, convida a uma noite prolongada. Com bar, lounge e restaurante, oferece um ambiente urbano e descontraído Horários: até 02:00

4 março // 2ª feira Ciclos de Cinema Pulping Fictions AEFCUP // Para rever a obra intemporal de Quentin Tarantino, junta-te a nós no anfiteatro 0.41 do FC4 (Dep. Biologia), pelas 17h:00

5 março // 3ª feira Stefano Bollani & Enrico Rava // Ciclo Jazz Sonae Horários: 21:00 Preços: 15€ Casa da Música

12 março // 3ª feira Concertos: Umberto (USA), Savanna Plano B

13 março // 4ª feira O Praça apresenta um conceito fresco, estilo “bar de praia” a todos os que iniciam ou finalizam a noite. Aqui é Verão todo o ano! Horários: até 03:00

20 março // 4ª feira O novo Griffon’s Baixa, na rua Conde de Vizela, é o local onde se misturam as músicas mais fantásticas dos “eighties” com os sons mais à frente da atualidade Horários: 23:00 até 04:00

21 março // 5ª feira Solos // Morte de Judas Horários: 21:30 TNSJ

28 março // 5ª feira Cubo: Freima v.s Omega 3:THE Karma Killer$, King Fu & Lukkas, Fulano 47, Terzi, Palco: Wild Out Porto Erasmus Party Plano B

29 março // 6ª feira 5º aniversário do Gare Porto, com Ricardo Villalobos + Idiot Art com Frederico Draw


6 março // 4ª feira todas as quartas são Noites Acoustic com música ao vivo: Black Bean Duo, Ana Querido e Francisco Sousa Porto Tónico

14 março // 5ª feira Apresentação do álbum: Expeão & os Infiltrados (showcase, apresentação da banda) Armazém do Chá

7 março // 5ª feira Martinho da Vila // 45 anos de carreira Horários: 22:00 Preços: 15€ Coliseu do Porto

15 março // 6ª feira “Mesmo à frente do teu focinho”, Balas e Bolinhos, no Coliseu do Porto Horários: 21:30 Preços: 15€ a 25€

9 março // sábado Baile dos Vampiros Horários: 23:59 Preços: 10€ Hard Club

8 março // 6ª feira 6º Aniversário da Bloop Delano Smith e Serginho Indústria

16 março // sábado 1ª Linha com Spring Vibes // Jahcoustix vai fazer-nos sentir grande parte dessa boa energia com o seu reggae, puro e vibrante. Indústria

22 março // 6ª feira Stephan Bodzin + Re:Axis Horários: 23:00 Indústria

23 março // sábado Oscar Mulero + Expander Preços: Guest List 8€, elas (entrada livre até às 3) Gare

30 março // sábado Bruce Brothers Trio, (Música ao Vivo) Horários: 22:00 The Yeatman Porto

31 março // domingo O Porto Surf Film Festival é uma mostra internacional de filmes de ficção e documentários sobre o surf e os oceanos. Horários: 16:00 // 17:15 // 21:00 // 22h15 (respetivamente) Auditório da Biblioteca Almeida Garrett

17 março // domingo A banda norte-americana Beach House vem apresentar o seu mais recente álbum “Bloom”, editado este ano. Hard Club

24 março // domingo Orquestra Barroca // Stabat Mater de Vivaldi Preços: 10€ Horários: 18:00 Casa da Música

1 abril // 2ª feira Há pouco tempo aberto, com um ambiente trendy, o Bubbles dispõe de diferentes espaços cuidadosamente decorados. // Rua Conde de Vizela 149

25 março // 2ª feira A Maria Albertina e Maria Augusta cozinham como manda a tradição e as sandes de pernil são referência! Horários: até 21:00 Casa Guedes // Praça dos Poveiros

2 abril // 3ª feira Cafeína Wine & Tapas oferece uma rigorosa seleção de vinhos e deliciosas tapas. Horários: até 01:30 Preços: média 15€

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Fotografia © diasdeumfotografo.blogspot.com

Ana Catarina Ramalho

Agradecimento André Queirós

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LEIA-SE O TÍTULO DESTE ARTIGO DE ACORDO COM A MÚSICA QUE, NAS ÚLTIMAS SEMANAS, TEM SIDO O GRITO DE REVOLTA DE UM POVO QUE SE VÊ AMEAÇADO PERANTE (NÃO SÓ O FUTURO COMO TAMBÉM) O PRESENTE. TAL COMO O PAÍS, TAMBÉM ESTA CIDADE PRECISA DE UM GRITO. O TEMPO É AGORA, ANTES QUE A CULTURA SE ESVAIA PELAS NOSSAS MÃOS, AO INVÉS DE NOS ENRIQUECER O INTELECTO.


«AINDA NÃO É O FIM NEM O PRINCÍPIO DO MUNDO CALMA, É APENAS UM POUCO TARDE.» MANUEL ANTÓNIO PINA

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Estamos no terceiro mês do ano e eu gostava de escrever sobre o muito que já mudou nestes dois meses que passaram. Mas não: continuo a ligar a televisão e, para além de se falar do papa emérito, a verdade é que a palavra ‘crise’ ainda não saiu do vocabulário dos telejornais portugueses. À semelhança do que se passou no ano passado, tenho para mim que, no final deste ano, a palavra escolhida será crise, que, muito certamente (e ironicamente, vá), será a primeira palavra dita pelos futuros bebés deste país. Corria o ano de 2001 quando a cidade do Porto, em conjunto com a cidade de Roterdão, foi escolhida para ser a Capital Europeia da Cultura. Lembro-me de ficar orgulhosa com tal nomeação, do alto dos meus treze anos, e seguir atentamente todas as notícias que a isso diziam respeito. Parecia que a cidade estava unida numa só, havia promessas e uma programação intensa para as artes e toda a cida-

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de estava dedicada a recuperar os espaços que, nos entretantos, se tornaram emblemáticos (o jardim da Cordoaria e a Casa da Música, por exemplo). Porém, passada mais de uma década, o que é que nos restou? O Norte, um motor económico do país, é uma das regiões mais pobres da europa e não se augura uma perspetiva muito feliz, se atentarmos às promessas que continuam apenas isso: promessas. Este centralismo louco que se tem gerado provoca um afundamento cada vez mais perigoso do norte do país. A última tentativa de o afundar foi a passagem da Praça de Alegria para a capital. No ar desde 1995, este programa tornou-se uma imagem de marca do norte do país, mais concretamente, do Porto, uma vez que se focava em muitos dos projetos que se iniciavam e produziam na cidade. Louvava-se a criatividade. Não é que agora em Lisboa vá louvar algo que não a criativida-


de, mas a verdade é que o Porto ficou mais pobre e com (mais) uma promessa de um ambicioso projeto que iria enriquecer a cidade. Assim como ficamos sem a alegria, a verdade é que os cortes são cada vez mais duros e incompreensíveis: vejo publicidade na televisão sobre as peças no Teatro D. Maria II, mas leio que, para se escapar à crise, o Teatro Nacional São João recorre a parcerias para conseguir manter trimestres ativos e interessantes na cidade. Veja-se, também, o caso mais recente da Casa da Música em que, devido a cortes orçamentais, os projetos de integração têm cada vez mais dificuldade em prevalecer. E já que falamos da Casa da Música, porque não tocar no assunto Serralves? Por cada milhão transferido pelo Estado, a Fundação de Serralves retorna

fotografia © tavares1952. no.sapo.pt

esta quantia dez vezes mais. Ainda assim, também esta instituição foi alvo de cortes. Não nos devemos esquecer que estamos a falar de um país que também cortou no seu próprio Ministério da Cultura, claro. Que a cultura tem retorno e é um importante fator de desenvolvimento económico do país, ninguém tem dúvidas. Assim sendo, por que é esta a primeira área a sofrer com os ajustamentos orçamentais que teimam em ser cada vez mais? Num país em que se advoga o Fado e a Literatura, é certamente inadmissível que tal aconteça, principalmente num século, na era da informação, em que os maiores contactos entre países têm lugar através da cultura. Já nos disseram para emigrar e a verdade é que, entre nós, a vontade é

Idiotas no metro até ao Carnaval de Ovar CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 19


cada vez maior. Neste país, a tendência para o esquecimento é muita, assim como a do não aproveitamento. E é nestas alturas que, lá fora, tudo nos parece a melhor solução. É com tristeza que vejo que o nosso país caminha a passos largos para um abismo que tem como luz ao fundo do túnel a capital. Não pode tudo confluir para um local apenas, não podemos deixar que o Norte seja esquecido como o Interior do país. Luís Filipe Menezes e Manuel Pizarro, dois dos candidatos às autárquicas a ter lugar neste ano, prometem reformular a cidade do Porto, começando pelo Bolhão. A cidade está à espera, eu estou à espera, do espírito daquela menina de treze anos que enchia o peito de orgulho pela sua cidade estar no topo da Europa. O Porto é um dos destinos de férias mais aconselhados, mas a verdade é que, com este subaproveitamento da cultura, os locais mais emblemáticos passarão a fazer parte da História, em vez de continuarem a fazer História. A cultura faz parte do ser humano, faz parte dessa mesma História que escreve agora o futuro negro que se avizinha. Sem cultura não sobrará ninguém para contar o fim. E agora, que esperança é esta?

fotografia © Spyrart 20 // www.IDIOTMAG.com


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1 Faz ‘gosto’ em: www.facebook.com/IdiotMag 2 Partilha esta fotografia.

Pedimos a todos que nos ajudem; por cada ‘gosto’ na página da Idiot Mag e partilha desta fotografia oferecemos dois cêntimos para uma associação sem fins lucrativos de defesa dos animais.

Pretendemos com isto comprar comida, mantas e brinquedos para todos aqueles que são considerados os nossos melhores amigos. Esta campanha termina no dia 18 de março de 2013.

* NOTA: Só serão validados quem cumprir os dois passos na íntegra.

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A Idiot tem a preocupação para com o direito dos animais e para isso lançamos uma campanha de solidariedade de nome ‘Respect them, respect Idiot’.


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O ANO DA CRIATIVIDADE EM VÍDEO CLICA NA IMAGEM PARA VER


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BOLOS QUENTES, O NOME DIZ TUDO. INSTALADOS MESMO NO CORAÇÃO DA INVICTA, NUM DOS EDIFÍCIOS CENTENÁRIOS EM PLENA AVENIDA DOS ALIADOS, FOMOS CONHECER UMA FORNADA DE BOLOS VINDOS DIRETAMENTE DO FORNO DESTE GABINETE DE DESIGN, E CONHECER MAIS UMA VEZ O QUE DE MELHOR SE FAZ NO DESIGN TRIPEIRO. FICA AQUI O REGISTO DESTA CONVERSA: Nuno Dias

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Formaram o gabinete em 2003, ainda estudavam nas Belas Artes. Como é que surgiu a ideia do bolo ir ao forno? A ideia de formarmos um atelier surgiu de forma algo circunstancial. Tudo começou quando, por diferentes motivos, 4 amigos (Albino, Duarte, Miguel e Sérgio) ainda estudantes, se juntaram no mesmo espaço de trabalho com objetivos diferentes, que rapidamente se transformou num local de partilha e convívio. Pouco tempo depois surgiu o desafio de levarmos a cabo um trabalho conjunto, que consistia num projeto de remistura gráfica, à semelhança do apresentado no livro RMX do ateliê Rinzen, bem como da criação do website com o resultado das remisturas. A partir daí, os Bolos Quentes nasceram enquanto atelier de design.

De onde surgiu o nome “Bolos Quentes”? Depois de uma noite de copos no Porto, o Albino queria ir aos “bolos quentes”, que era onde ele costumava ir em Setúbal (de onde é natural), durante a madrugada, à procura dos bolos acabados de fazer e, por isso, ainda quentes. Achámos piada ao nome e ficou. 26 // www.IDIOTMAG.com

Em termos de concretização de um projeto, o que mudou em relação a 2003? Muito. Primeiro já não andamos na faculdade. Depois, em 2010 formalizámos os Bolos Quentes enquanto empresa, aumentámos a carteira de clientes e, consequentemente, a responsabilidade profissional.


E em termos de clientes, como tem sido a evolução? No início eram amigos que nos pediam trabalhos ou nós mesmos que nos voluntariávamos. A remuneração nunca era o ponto de partida, apenas queríamos fazer coisas para imprimir pelo puro prazer de ver os objetos finais. Depois da faculdade já tínhamos algum portfólio e resolvemos continuar com os Bolos Quentes numa perspetiva empresarial embrionária. Em 2010, depois de fazer a empresa tudo se tornou mais fácil e os clientes foram surgindo naturalmente, através dos trabalhos já realizados e dos contactos inerentes a isso. Hoje em dia quem têm como clientes? Hoje em dia podemos salientar Lovers and Lollypops, Red Bull, Amorim e Irmãos, Rádio Universidade de Coimbra, A Oficina, Uzful, NAU Securities, Fundação Serralves, Galeria Dama Aflita, Long Way to Alaska, Peixe:Avião, Milhões de Festa, Gare Porto…

“Wolman”

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Milhões de Festa

“Faca Monstro” 28 // www.IDIOTMAG.com


Os vossos cartazes destacam-se pela tipografia bem marcada e formas geométricas com uma enorme força. Pode-se considerar que essa é a vossa assinatura? Penso que não, a não ser que seja a assinatura de um momento ou de um projeto. A nossa assinatura vai mudando de acordo com cada projeto e também com o nosso crescimento profissional e com aquilo que gostamos. Nunca foi preocupação nossa criar algum tipo de “assinatura gráfica” nos nossos trabalhos, o único ponto comum é partirmos do zero para cada um deles, e que cada um deles tenha uma identidade própria.

“Off The Wall”

Tendo em conta que atualmente há muita oferta no setor em que atuam, que balanço fazem da “vida” dos bolos quentes? Podemos dizer que até agora a nossa atividade tem corrido bem. Experimentamos um crescimento árduo e por vezes um pouco frustrante por ser demasiado lento. Mas face ao contexto económico, não podemos ignorar que o facto de estarmos a crescer será um fator positivo. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 29


Andamos a lançar a discussão entre os designers: o design é arte ou não? Se fosse arte não se chamava design. São duas coisas distintas, que partilham características semelhantes, há peças de design que podem até ser pensadas enquanto arte, mas na sua génese o design é uma coisa e arte é outra. São dois nomes com dois significados diferentes, não são a mesma coisa.

cartaz da programação do Plano B 30 // www.IDIOTMAG.com


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fotografia: SPYRART

Guerra das Cores

FOI NO PASSADO DIA 1 DE MARÇO, QUE A IDIOT INVADIU O ESPAÇO DA ESAD PARA A CELEBRAÇÃO DO SEU PRIMEIRO ANIVERSÁRIO, COM UMA SÉRIE DE ATIVIDADES QUE MOSTROU A EVOLUÇÃO DO PROJETO ATÉ AO PRESENTE E O QUE PODEMOS ESPERAR DO FUTURO. DE EXPOSIÇÕES DE DOIS ARTISTAS COLABORADORES DA REVISTA – TAMARA ALVES E MESK –, À EXIBIÇÃO

32 // www.IDIOTMAG.com

DE UM DOCUMENTÁRIO SOBRE AS DIFERENTES CONQUISTAS DE UMA MARCA QUE TENTA MARCAR PELA DIFERENÇA, NUM AMBIENTE EM QUE NÃO SE RECOMENDA A PRODUÇÃO DE CULTURA. O DIA CONTOU AINDA COM A PRESENÇA DE HAZUL E COM A EXPOSIÇÃO DOS VENCEDORES DA PRIMEIRA EDIÇÃO DO CONCURSO O GRANDE IDIOTA 2012. MAS NÃO SERIA FESTA SEM MÚSICA


HOLI E UM POUCO DE COR, POR ISSO MESMO O EVENTO CONTOU AINDA COM CONCERTOS E DJ SETS, AO LONGO DO DIA, E COM UMA GUERRA DE CORES QUE FEZ A ALEGRIA DOS SEUS PARTICIPANTES, QUE MERGULHARAM EM ÊXTASE NAS NUVENS DE PÓ DA ÍNDIA QUE SE CRIARAM E EMERGIRAM SATISFEITOS. NA CULTURA ORIENTAL, O FESTIVAL HOLI É UMA CELEBRAÇÃO DA VITÓRIA DAS FORÇAS DO BEM E DOS VALORES POSITIVOS FACE AOS SEUS OPOSTOS, UMA MENSAGEM QUE A IDIOT PRETENDE TRANSMITIR ESTE ANO. Tiago Moura

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ver o teaser aqui

http://www.youtube.com/watch?v=0xSnWipYdf4 http://www.youtube.com/watch?v=0xSnWipYdf4 http://www.youtube.com/watch?v=0xSnWipYdf4

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Nuno Carneiro e Leo Cruz

Black Jackers 34 // www.IDIOTMAG.com


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“Idiotness Is Everywhere To Be Found” de Its Banderas

“Cool Kids Can’t Die” de Tamara Alves 36 // www.IDIOTMAG.com


Exposição de Literatura

Capas Gigantes da Idiot: Youth One, Tamara Alves e Mesk CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 37


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“This Wall Is Mine””, paredes da estação CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 39


Hazul a pintar a capa ao vivo 40 // www.IDIOTMAG.com


Chegou o holi powder... CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 41


Guerra das cores

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fotografia: Ligia Claro

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A RUA É A SUA TELA PREFERIDA E NINGUÉM LHE FICA INDIFERENTE. OS SEUS DESENHOS BEBEM INSPIRAÇÃO DE CIVILIZAÇÕES E CULTURAS ANTIGAS E O SEU TRAÇO, FORMA E COR NÃO DEIXAM MARGEM PARA DÚVIDAS. O HAZUL PASSOU POR ALI. PROVAVELMENTE ESTEVE SOZINHO, À NOITE, NAQUELA PAREDE ABANDONADA DURANTE CERCA DE MEIA HORA. TEMPO LIMITADO. MAIS TIVESSE, E AQUILO QUE JÁ ASSIM NOS DEMORA O OLHAR MAIS TEMPO NOS ROUBARIA.

Tish

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Aos 16 anos, no meio da malta do hip-hop e do Comix, “ um bar com uma mística especial”, o então Pong estreava-se nos caminhos do graffiti, com o seu grupo, UCA. Começou com as tags - lembra-se bem de fazer o seu nome de forma repetida com graxa de sapatos, “moda lá do bairro para marcar presença” - e passou pelos hall of fame e comboios antes de se dedicar a outras formas de intervenção. A transição natural e a descoberta de técnicas e estilos artísticos iriam levá-lo mais tarde ao movimento da street art propriamente dito. É quando descobre na internet e nas viagens outros mundos, “outras formas de fazer as coisas”, que entra no universo dos stickers, do stencil, dos posters, e “tudo que implicasse intervenções no espaço público”. “Aproximadamente em 2007, e após um período sabático entrei numa fase de desconstrução”, recorda Hazul à Idiot, rindo e sarrabiscando no papel.

“OS ARTISTAS SÃO OS QUE PENSAM, SONHAM. DEVERIAM SER A VANGUARDA, PARA HAVER ESPERANÇA NA HUMANIDADE”. Com 25 anos, aluga uma sala e monta um atelier. Uma nova era começava. E nascia Hazul, pseudónimo e identidade. “Comecei a comprar livros de arte a fazer o meu percurso, ia pra biblioteca estudar. Perguntava aos amigos das Artes como se pintava com óleo, aguarelas, pastel, que material usar.” Foi assim, num percurso autodidacta no meio de livros e imagens de Klimt, Mucha, Hokusai, Hiroshige e tantos outros, que Hazul cresceu como artista. Nessas horas despendidas na biblioteca, outras realidades se assomaram aos seus olhos. Descobriu uma

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Hazul no festival Walk & Talk, Açores

grande fonte de inspiração nas culturas milenares, os egípcios, os maias, os celtas, “nesses gajos antigos”. Tudo o fascinava. “Essas culturas têm um estranho conhecimento sobre o cosmos que não temos na nossa. Há uma ligação muito maior. Nós vivemos num planeta, não podemos desprezar tudo o resto, é importante saber um pouco mais” diz Hazul.


Também a criação gráfica dessas civilizações o cativou. “As pinturas fixes são válidas em qualquer época, se transmitem uma ideia simpática, vão sempre ser actuais, tudo que envolve a natureza, os bons ideais, continua a ser actual”, justifica. O super homem de Nietzsche, a natureza, o cosmos, o mecanismo ordenado de que fazemos todos parte, tudo isso

são interesses que o caracterizam e se traduzem na sua obra. Para si, este tipo de interesse e transversalidade deveria ser comum a todas as pessoas, mas nos artistas é quase obrigatório. “Os artistas são os que pensam, sonham. Deveriam ser a vanguarda, para haver esperança na humanidade”. Democratiza a pintura ao trazê-la pra rua à vista de todos e longe dos critérios “pouco honestos” das galerias, que insistem, a seu ver, em seguir uma lógica comercial de mercado com a qual não se identifica.” É desagradável uma corrente artística, seja ela qual for, estar ligada a um movimento económico”, desabafa. “Isso atira a malta das artes para um canto”. Hazul é um artista sem vontade de se aproximar da “academia”, esses artistas “disfarçados de vanguardistas, mas que na verdade estão sempre um passo atrás”, como o próprio ironiza. Na contemporaneidade, admira o trabalho de Liqen e gosta muito da linguagem de Pantónio, que o “consegue surpreender”.

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LEI URBANA As últimas alterações à lei urbana agravam penas para quem faz graffiti e sem autorização qualquer artista fica aquém do que podia fazer. “Não sou bandido nem quero ser. Gostava de pintar às claras, não faço questão de pintar escondido”, confessa. A sua relação com o município é harmoniosa. “Pinto em paredes que a câmara constrói, estão a dar-me algo”, diz Hazul, sorrindo, embora tenha a certeza

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de que todos ficariam a ganhar se a Câmara facilitasse espaços, como uma espécie de “parceiro institucional” e não metesse o graffiti “todo no mesmo saco”. “Mas eles não têm essa visão”, lamenta. “Uma cidade toda riscada não é ideal, também não concordo, mas podia promover outras coisas, acompanhar o movimento dos cidadãos”. No atelier, o seu trabalho é diferente daquilo que faz na rua, embora a linguagem seja aproximada. Outdoors, opta por linhas e padrões mais fá- Rua da Boavista


ceis de preencher no espaço e adaptados ao tempo limitado que tem. “ Se eu tivesse autorização iria chegar a coisas que nunca fiz”. O seu trabalho preferido até à data está à vista de todos na porta do clube Gare, mais uma das iniciativas da Idiot. Mas outros locais e eventos já o receberam: Casa do Ló, Hard Club, Plano B, uma exposição colectiva na Vieira Portuense, o museu Carmo Miranda no Marco de Canaveses, a Fundação da Juventude, entre outros. O nome já é famoso entre nós há algum tempo, mas até criar a sua página nas redes sociais nem se apercebia da dimensão que o seu trabalho atingia. “O feedback vinha dos meus amigos que viam as pinturas no atelier. Saber que as pessoas gostam do meu trabalho é óptimo, apesar de não depender disso para pintar”. Se ainda não conhecem o seu trabalho, procurem-no pelas paredes da invicta.

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MÁRIO QUEM? uma exposição de Mário Belém

inaugura no próximo dia 7 de março (5º feira), na montana shop & gallery lisboa, pelas 21:00h, a exposição na qual poderemos conhecer os primeiros passos do ilustrador mário belém para fora do ecrã do computador.

MÁRIO QUEM?

as peças surgem como uma evolução de uma série de esboços que mário fazia exclusivamente para postar no instagram. curiosos retratos sempre baseados em expressões e provérbios portugueses, pelos quais o artista uma exposição de Mário Belém tem um fascínio inesgotável, sendo esta e os intrincados e rebuscados padrões, as suas principais marcas nesta nova faceta de trabalho.

inaugura no próximo dia 7 de março (5º feira), na montana shop & gallery lisboa, pelas 21:00h, a exposição na qual poderemos conhecer os primeiros este é o paragrafo em que o artista exprime, de forma passos“do ilustrador mário belém para fora do ecrã do computador.

sucinta, emoções nobres acerca da sua criação através da junção de palavras,

as peças surgem como uma evolução de uma série de esboços que mário normalmente índole conceptual, quaissempre na verdade não querem dizer fazia exclusivamente parade postar no instagram. curiososas retratos baseados em expressões e provérbios portugueses, pelos quais o artista a ponta d'um corno. este é o parágrafo-tentativa das folhas de sala, neste tem umcaso fascínio inesgotável, sendoaquele esta e os intrincados rebuscadoso artista e a sua obra a uma também flyers: em que see e(n)leva padrões, as suas principais marcas nesta nova faceta de trabalho.

condição superior e no qual se tenta que a exposição seja conceptual.

“ este émas o paragrafo eméque o artista exprime, emoções o mário estético e feliz.deeforma é só.sucinta, ” nobres acerca da sua criação através da junção de palavras, normalmente de índole conceptual, as quais na verdade não querem dizer joana barrios a ponta d'um corno. este é o parágrafo-tentativa das folhas de sala, neste caso também flyers: aquele em que se e(n)leva o artista e a sua obra a uma condição superior e no qual se tenta que a exposição seja conceptual. | 7 de março de 2013 (5º feira), 21:00h mas o inauguração mário é estético e feliz. e é só. ”

exposição | de 7 de março a 26 de abril de 2013, de segunda a sábado, das 12:00h às 21:00h local| 7| demontana shop & gallery inauguração março de 2013 (5º feira), 21:00h lisboa, localizada na rua da rosa 14g, exposição | de 7alto, de março a 26 de abril de 2013, de segunda a sábado, das bairro lsboa joana barrios

12:00h às 21:00h local | montana shop & gallery lisboa, localizada na rua da rosa 14g, bairrolinks: alto, lsboa

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fotografia: Tiago Moura texto: Ana Catarina Ramalho, Tiago Moura

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Podíamos começar este artigo por dizer o que fazer se ficarem doentes em Londres, mas ao invés de vos aconselharmos muito paracetamol, preferimos receitar-vos uma prescrição de algumas experiências revitalizantes numa das mais movimentadas cidades do mundo. Há uma estimativa que afirma que, por dia, chega cerca de um milhão de novos turistas a Londres e grande parte deles visita a cidade dos guias turísticos. Por outro lado, também há uma estimativa que afirma que cerca de 80% destes estudos são inventados no momento. Por isso mesmo, decidimos comprar um guia e não seguir as suas sugestões.

DIZEM OS CHINESES, NÃO OS DA CHINATOWN, QUE 2013 SERÁ UM ANO DE CRESCENTE PROGRESSO, COM UMA ATENÇÃO PROFUNDA AOS DETALHES, NO QUAL A CONCENTRAÇÃO E A DISCIPLINA SERÃO IMPRESCINDÍVEIS PARA CONCRETIZAR OS NOSSOS OBJETIVOS. O SEXTO SIGNO DO ZODÍACO CHINÊS, A SERPENTE, É UM SIGNO MISTERIOSO, INTUITIVO E CALMO. DE ACORDO COM A TRADIÇÃO ORIENTAL, TER UMA SERPENTE EM CASA É SINAL DE QUE NUNCA PASSARÃO FOME. Sendo assim, chegados a Londres, começámos por explorar os sítios que reconhecíamos da televisão e do cinema. O Madame Tussauds foi a nossa primeira paragem porque, a bem ou a mal, tínhamos de conhecer uma celebridade. Não vamos falar de quem vimos ou do que fizemos com eles, porque respeitamos a sua privacidade, mas para quem quer ser turista nesta cidade esta é, sem dúvida, uma paragem obrigatória. Como Idiotas que somos, tentamos absorver o máximo de cultura possível, por isso passagens pela National Gallery, Natural History Museum, Tate Modern e British Museum foram obrigatórias. Foi realmente único ver quadros que, até aí, viviam nos nossos manuais de História do 8º ano, ver a Cleópatra e o busto de César e conhecer o mais monstruoso espécimen de sempre - os ossos do T-Rex. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 59


Sobre passar pelo Big Ben, cruzar a Tower Bridge, tirar fotos ao London Eye ou acenar ao Palácio de Buckingham, preferimos não adjetivar a experiência: é tão pessoal que devemos guardar a memória para nós. Mas, para quem não tem coração, podem sempre pesquisar imagens no Google e imaginar. Mas nós queríamos ter não só a experiência turística, mas respirar a cidade. Ainda mais depois de assistirmos às celebrações do ano novo chinês, em Trafalgar Square - sem dúvida, um sinal divino sobre a aspeto rejuvenescedor da nossa viagem. Partimos, então, em busca de uma outra Londres e é dessa que vos queremos falar. Comecemos por Liverpool Street e os seus mercados ao domingo. Se no Porto o Flea Market começa a marcar a diferença, em Londres estes mercados são a norma da segunda mão. Acompanhados por um dos nossos guias pes60 // www.IDIOTMAG.com

soais, fomos guiados por um sem número de armazéns de roupa, objetos em segunda mão e pequenos negócios caseiros. (NOTA: Não levar muito dinheiro a risco de trazer tudo). Lá perto, em Brick Lane, entrámos na Rough Trade, uma loja de música, conhecida por ditar as novas tendências da música independente na qual, aquando a nossa visita, os Foals estavam agendados para uma atuação gratuita, acontecimento muito normal naquelas bandas. O espírito que se vive, nestas feiras, é melhor sumarizado na zona de alimentação, que mais parece as Nações Unidas do mundo da restauração. Ficamos sem perceber como há quem diga que, em Londres, não se come bem. Em Liverpool Street, tal como em Portobello e Camden Town, eram muitas as barracas que vendiam comida para todos os gos-


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tos. Do sushi à panqueca da Malásia, do bacalhau à brás à comida ganesa havia de tudo um pouco. Nós ficámo-nos pelo couscous marroquino. Apesar disto tentámos provar de tudo um pouco que as montras ofereciam: do tradicional Fish and Chips, passando pelas cookies do Ben, ao frozen yoghurt da SNOG e até mesmo aos amendoins caramelizados, vendidos na rua. A convite de um dos nossos guias pessoais, fomos ao Bill’s, um restaurante no Soho, conhecido pelos seus hamburgueres. Uma noite agradável, complementada pela vida noturna das ruas, cheias de bares, discotecas e sex-shops. Dançámos no Rupert Street, um bar gay, e ainda fomos arrastados para uma outra discoteca da qual desconhecemos o nome. Não esquecendo, claro, a tradição inglesa, numa outra noite ainda fomos conhe-

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cer o espaço do Church Pub, um pub enorme que se esticava por diferentes pisos e parecia, em tempos, ter sido uma igreja gótica. Depois de confessarmos os nossos pecados, dançámos noite adentro, ou seja, até às três da manhã, na Techno P, em que um dos pisos tinha uma vista espetacular de Picaddilly Circus. Porém nem tudo foram danças numa capital como Londres, onde existe uma relação tão profunda com o teatro musical, tínhamos também de saber como é assistir a um musical que não seja do La Féria. Recebeu-nos o Apollo Victoria Theatre com uma magnífica encenação do Wicked. Por vias do destino tivemos de ficar separados, mas a verdade é que ape64 // www.IDIOTMAG.com

sar de sentados em lugares diferentes, a opinião foi a mesma: mágico e majestoso, mesmo com o barulho da mastigação dos snacks com que os ingleses acompanham a assistência de uma peça de teatro. Algo de fascinante em Londres é que, ao contrário do que acontece na nossa cidade, onde temos de ser nós a correr atrás da cultura, em Londres, a cultura persegue-nos por todos os cantos. Seja nos jornais dados gratuitamente de manhã e ao entardecer à porta do metro, na Time Out também distribuída gratuitamente, todas as terças, ou no simples ato de descer a estação do metro, somos constantemente relembrados da oferta cultural da cidade. E a compreensão que as artes têm um


papel tão presente nas vidas dos seus habitantes levou-nos à conclusão que tal era um reflexo da sua educação. Algo que pudemos confirmar, a convite de um dos nossos guias, com uma rápida visita a Oxford. Nunca nos passou pela cabeça que a lendária cidade universitária fosse tão pequena, ou mesmo que conseguisse condensar tanta História dentro das suas muralhas (isto é uma metáfora, porque não havia muralha, mas castelos). E para dois Idiotas que nunca viram neve, caminhar em Hyde Park e nos Kensington Gardens enquanto nevava foi, também, um dos momentos altos. Isso e, claro, a batalha de bolas de neve que teve lugar numa rua de

Tottenham, numa bela manhã de segunda-feira. No final de contas, a melhor receita para combater uma gripe é uma boa dose de relembrar como é bom ser criança. Num filme da Drew Barrymore, ela diz que um bom escritor só escreve sobre aquilo que conhece e foi, nesse espírito, que tentámos saborear todas as montras e recantos de pudemos, apenas para chegar a Portugal e poder relatar não só o que vimos, o que fizemos, mas como nos sentimos. Queremos, por fim, deixar um obrigado muito importante à Danuze e ao Américo Silva, ao Daniel e ao César por nos terem recebido tão bem como se Londres fosse a nossa segunda casa. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 65


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MOSTRA DE ILUSTRAÇÃO DO FÓRUM DA MAIA/ CENTR'ARTE

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Depois de um mês com portas abertas ao público, o UIVO 2, segunda edição da Mostra de Ilustração do Fórum da Maia/Centr’Arte, encerra com um balanço muito positivo de número de visitantes e opiniões de quem por lá foi passando. Na inauguração viveu-se um ambiente descontraído, onde a ilustração das paredes se cruzou com momentos de performance e música, quer pelas galerias quer pelo bar do Centr’Arte. Mas esta edição da mostra, que contou com participações dos ilustradores André Caetano, Coão Jarlos, Daniel Moreira, Drumond, Horácio Frutuoso, José Saraiva, Mariana, a Miserável, Marta Monteiro, Mesk, Miguel Ministro, Heymikel, Nicolau, Óscar Afonso, Pedro Fernandes, Pedro Podre, Ricardo Bessa, Rui Sousa, Tina Siuda e Zé Cardoso, não se fica por aqui. Segundo o seu curador Miguel Ministro, o encerramento do UIVO 2 é um “até já”, uma vez que irá reabrir muito em breve na ESAD em Matosinhos.

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JOÃO RODRIGUES, AKA VIRTUS, É UMA DAS MAIS RECENTES PROMESSAS DO NOVO HIP HOP PORTUGUÊS E UMA DAS FIGURAS DE PROA DA NOVA GERAÇÃO DE MCS QUE SE DESTACAM NO PORTO. OS SEUS DOIS ÁLBUNS DE 2012, “UNIVERSOS” E “SE EU FOSSE” CONSAGRARAM-NO COMO UM ARTISTA ESPECIAL QUE JÁ MERECEU O RESPEITO DOS SENHORES DA VELHA ESCOLA. Tish O aniversário do lançamento do seu primeiro álbum “Universos” foi o mote para uma conversa há muito desejada com o Mc de 25 anos natural do Porto e filho de jornalistas que, desde os 8 anos, escreve o que lhe vai na alma. “Escrever textos, quadras, frases sempre foi uma necessidade”, conta João à Idiot. E nem as paredes do seu quarto escaparam. Amante desde miúdo de “Calvin and Hobbes” de Bill Watterson, estendeu o seu interesse pelos muitos livros que tinha em casa e Eugénio de Andrade e Miguel Torga são alguns exemplos de autores que admira desde os 12 anos. 68 // www.IDIOTMAG.com

Foi na pré-adolescência que Virtus começou a interessar-se pelo hip- hop da altura, pela mensagem das rimas, a métrica e o discurso directo. “O primeiro álbum que comprei foi o “Manda Chuva “do Boss AC. Adorava as letras, escrevia-as no caderno, decorava-as e rimava por cima”, relembra João. O seu primeiro projecto oficial como Mc (com beats de Dj Kronic) foi o “ Geração i” em 2005, apresentado em escolas e juntas de freguesia, e visava alertar consciências para temas como a violência doméstica. Em 2008, entra para o curso de Produção e


fotografia © Miguel Oliveira

Tecnologias da Música (PTM) na ESMAE e lança o seu primeiro EP, “Introversos” - uma introdução para o álbum Universos. “Desde os 17 anos que tinha o álbum na cabeça. Aproveitei com o EP para expor o meu trabalho e saber qual seria a reacção. O meu compromisso desde então foi igualar o nível das letras com o nível da produção musical”. O curso de PTM foi um investimento, assim como as aulas de guitarra na Escola dos Gambozinos e as mais recentes aulas de piano jazz. Hoje sente-se realizado. “Sinto que cada beat corresponde àquela letra. É como uma peça de teatro ter uma sonoplastia que envolve o espaço”, orgulha-se João. E isso podemos confirmar em “Universos”, o seu primeiro álbum, editado em 2012. Rimas complexas, que nos alimentam de imagens, encaixadas em beats coerentes de um produtor e mc que sabe o que está a fazer. “Eu nunca fui mentiroso nas letras, nunca tentei confrontar realidades pelas quais não passava, sempre falei daquilo que me rodeava, sempre fui muito pessoal”, conta-nos João. No mesmo ano, lança o segundo álbum, de instrumentais. “ Se eu fosse” é inspirado na brincadeira infantil “ Se fosses um animal, o que gostarias de ser” e consolida João como um produtor que se destaca na sua geração. Cada

tema é uma alusão a algo que João gostaria de ser, representado de forma instrumental. DO LER AO DIZER As suas referências e influências no hip-hop português passam por Sam the Kid, Valete, Halloween, Mind da Gap, Dealema, os amigos Minus, Enigma e Keso, entre outros. Não gosta de protótipos nem de clichés, e prefere a conotação das palavras e expressões. “Cada artista traz o que tem em casa. Eu sempre quis fugir da rotina. Isto também tem a ver com a forma como te passam as ideias”, diz Virtus. Talvez por isso tenha uma bagagem literária e musical preenchida por Vinicius de Moraes, Manuel António Pina, Alves Redol, Sophia de Mello Breyner, Rainer Maria Rilke, Fernando Pessoa , Chet Baker, Chico Buarque, José Mário Branco, J Dilla, Erykah Badu, Mos Def, Method Man, entre tantos outros. “Se eu fosse” pode ser comprado no seu Bandcamp e “Universos” está à venda na loja Dedicated e futuramente em plataformas de venda online. “Precisamos de lojas destas para marcar a diferença e vender música com qualidade”, defende João. “O Porto ressuscitou. Hoje em dia, há grandes projectos a sair. Continuamos à procura do conteúdo que nos caracteriza”, remata o Mc. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 69


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ESTE MÊS ENTREVISTAMOS UM DOS SUPRA-SUMOS DA MÚSICA ELETRÓNICA PORTUGUESA STEVE PARKER. DJ, PRODUTOR, E DONO DE DUAS EDITORAS, É PROVAVELMENTE O MAIS PRESTIGIADO ARTISTA DE TECHNO QUE PORTUGAL ALGUMA VEZ TEVE.

Bernardo Alves

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Fala-nos um pouco de ti. Como e quando começaste isto tudo? Olá eu sou o Steve Parker, 180m e careca. O meu percurso já é bem longo... Sou um apaixonado pela música eletrónica desde o tempo do Acid House, passando pelo Drum & Bass quando vivi em Londres, até que em 2000 decidi criar o Steve Parker para uma vertente mais Techno.

És dono de duas editoras. Conta-nos sobre elas. Sim, tenho a Spark Musik que é a minha label de Techno mais moderno, que conta com participações de artistas como Tony Rohr, Sasha Carassi, Tom Hades e outros mais, em que faço edições periódicas em vinil. E tenho a D-Form com o meu amigo Angel Alanis, que é uma label mais de Old School Raw Techno. Também sou manager na Home Audio Recordings, que é uma editora mais para os Viveste fora de Portugal alguns anos. Até que sons Deep House. ponto é que achas que isso te “abriu horizontes”? Eu desde jovem tive a sorte de poder viajar Já tocaste um pouco por todo o mundo e já viste pela Europa e conhecer novos países e no- dezenas de “crowds” diferentes. Alguma delas se vas culturas, mas de todos os sítios por onde equipara ao público português? passei parte da minha vida, Londres é o que Ja tive a oportunidade de tocar de Nova Iormais me abriu os horizontes e me inspirou que até à Rússia, mas o público português a viver no mundo da dance music. A cultu- para mim é especial porque tem uma cultura ra eletrónica em Inglaterra é única, porque musical acima da média comparada com oudesde jovens que se habituam a ouvir Dance tros países. Uma cultura que se mistura com Music de qualidade. o House e o Techno, e sempre abertos para qualquer que seja o género musical logo que Na tua opinião, qual é o estado da “dance scene” seja música de qualidade. Também gosto muiportuguesa, e o que farias para a melhorar? to de tocar para o público croata porque me Acho que a “dance scene” portuguesa nunca surpreende sempre pela positiva. esteve tão bem de saúde como está agora! Portugal neste momento tem grandes clu- Quais os teus planos para 2013, agora conhebes como o Gare, o Lux ou o Indústria e tem cido como “o ano da criatividade”? também festivais de grande qualidade como o Em 2013 os meus projetos são: terminar o Neopop ou o Refresh, que neste momento co- meu segundo EP na Ovum Recordings e colocam o nome de Portugal no topo da “scene” meçar um terceiro. Quero também dedicarmundial. Claro que há sempre coisas que se -me mais à parte de DJ em Portugal e tampodem melhorar e novos projetos que se de- bém começar a promover alguns eventos vem pensar em criar, mas isso fica para mim. ligados à minha editora Spark. Editaste em várias das melhores editoras do mundo como a Sci-Tec, Weave, Harthouse, Ovum, Soma, etc. Quais são as próximas? Existem sempre editoras que qualquer produtor e DJ sonha em ver o nome... Editoras como a Cocoon, Ostgut Ton, Drumcode... Mas eu neste momento da minha carreira quero ser completamente fiel à amizade e à oportunidade que o Josh Wink me deu em ser artista da Ovum Recordings, e não faço intenções em editar por agora em mais nenhuma.

E o que é para ti um idiota? Para mim, um idiota é aquele em que as ideias são mais fortes que a razão dos outros, o idiota é forte nos ideais e sabe o que quer e a qualidade que tem, eu nunca escutei ninguém e nem faço intenções de que algum dia alguém intervenha nas minhas criações musicais. Eu sou o verdadeiro idiota. (Risos)

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PUBLICIDADE Através da atividade desenvolvida no mercado ibero-australiano o SURF tem vindo a evoluir drasticamente em termos de malabarismos e acrobacias dignas de quem faz por gosto a ligação entre o oceano e toda a fauna existente e por desvendar em mercúrio. Gastronomicamente a lua é vista como uma trufa de cabelo acabada de barbear sólida restrita e bonita combinando as mais valias que a sua nacionalidade traz para o mundo. Efetivamente vivemos numa época d.c. complexa onde a matemática é o fruto e alegria de muitas sopas de letras sopas essas que por vezes vêm em pó ou concentradas em pacotes de leite frios que não deixam as bactérias viver em paz e sossego. Sossego esse que pode ser obtido através da fermentação da cerveja enquanto se compra umas botas para fazer CAMINHADA na Serra de Valongo. A nível desportivo toda a flora intestinal trabalhada pela consecutiva alimentação nórdica faz com que os pelos dos braços fiquem ruivos tornando os ciclistas da Bélgica e Holanda uns bons pedalistas devido ao efeito borboleta que as correntes do golfo arrastam de modo a fazer de Portugal um dos melhores países para fazer BODY BOARD já que as ondas são grandes e a energia feita a partir delas devia dar para alimentar o país de cima abaixo e de um lado ao outro sem que houvesse dores de dentes!

Dentes esses que permitem que o desporto seja uma forma de fomentar o crescimento do cabelo nos carecas e assim promover a ESCALADA da batata como um gás. Este tipo de atitude pró-ativa levará também a que as pessoas comecem a olhar duas vezes quando atravessam a rua a fim de tentarmos combater o abate de árvores nos sótãos e o trânsito nas gavetas. Por outro lado, as correntes socioeconómicas disruptivas defendem que a população mundial caminha rumo à extinção, perspetivada num horizonte temporal de alguns anos, mas não muitos, pelo que é recomendável

que desde já se proceda – individual e coletivamente – à recolha e ao armazenamento de todos os bens indispensáveis e alguns absolutamente acessórios, podendo esse armazenamento ter lugar numa caixa a ser escondida em parte incerta, em momento oportuno. Tal, é particularmente interessante se considerarmos que esse processo dará origem à atividade de GEOCACHING quando as gerações passadas encontrarem as caixas e se derem ao trabalho de as referenciar para procura futura pela geração de amanhã, que é a de hoje.

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Olá, um idiota acaba de aterrar em Stansted. Cheguei a Londres. Esta capital europeia sempre foi uma referência muito grande para quem gosta de moda! A moda que aqui se respira (e sim, também respiramos pelos olhos) é contagiante e uma forte influência no life style britânico. Uma coisa que reparei de imediato foi que a alfaiataria continua em alta, coisa que por terras Lusas se esqueceu. Os ingleses vivem muito o alfaiate. Basta assistirem a uma Tweed Run e logo se aperceberão do que falo. Digo-vos que esta corrida vintage de bicicletas faz-nos viajar no tempo… Estamos numa cidade onde o homem se veste bem, onde damos conta de um estilo muito clássico, cosmopolita, vulgarmente aquilo que nós conhecemos por street style. Muitos sobretudos burberry, sapatos Oxford inacreditavelmente bonitos, gravatas e laços que me apetecia trazer, cachecóis em padrão inglês, enfim, gente que se sabe vestir e que cuida da imagem.

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As bicicletas são muito usadas em Londres. Vejo pessoas a pedalar de um lado para o outro, o que facilita o trânsito e revela um civismo que, infelizmente, ainda não invadiu Portugal. Aluguei uma para poder observar o que esta cidade tem para nos dar. Aconselho-vos a fazer o mesmo. Sem dúvida alguma que londres é uma capital da moda, tal como Nova Iorque, Paris e Milão. Mas londres, a meu ver é a que ocupa o primeiro lugar, não só pela cultura e pelo estilo de vida, mas também pelo simples facto de que os londrinos sabem muito bem o sentido do conceito Well Dress! Antes de terminar, recordo que este mês tivemos a London Fashion Week onde participaram nomes como Burberry Prorsum, Tom Ford ou Vivienne Westwood entre muitos outros, como os cinco designers portugueses finalistas do Fashion Hub de Guimarães 2012 (João Pedro Filipe, Rita Afonso, Maria Azevedo, Mariana Morgado e Ricardo Andrez). Uma semana com sotaque português. Bruno Manso


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TV // The Walking Dead. Chegou finalmente o regresso da terceira temporada da melhor série de todos os tempos e dizemos isto, arrepiadinhos até à medula. Quem é fanático, entende por que razão as noites de Março já estão definitivamente mais quentes. Recomeçou em Fevereiro, mas já não fomos a tempo para a revista do mês passado e claro está este mês não podíamos deixar passar a sugestão a leitores mais distraídos (se é que os há). Este regresso merece menção honrosa. Na Fox às quartas, às 22h30. American Horror Story Asylum. Também já devem ter reparado que começou a ser exibida a segunda temporada desta magnífica série, na Fox, logo a seguir à saga zombie. Desta vez, a

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casa de horrores é o asilo de Briarcliff, em 1964, uma instituição governada pela Igreja que acolhe criminosos e doentes mentais. A história é diferente, apesar de alguns atores se repetirem. Dylan McDermott, Jessica Lange e Evan Peters voltam a contracenar numa temporada que tem direito a aliens, serial killers, mutantes e horrores da pior espécie. Como nós gostamos, portanto. CINEMA // Bestas do Sul Selvagem. Hushpuppy (fantasticamente interpretada por Quvenzhané Wallis) é uma miúda abandonada pela mãe que vive com um pai descuidado e ausente numa comunidade separada por um dique e constantemente ameaçada por cheias. Quando uma tempestade submerge a aldeia onde vivem e ameaça o seu mundo, Hushpuppy vê-se forçada a crescer e a tomar conta do seu pai com uma doença terminal, lutando pela sobrevivência da comunidade. Um filme lindíssimo, realizado por Benh Zeitlin, que explora os medos e crenças de uma criança educada à revelia das nossas regras sociais, pontuado por metáforas e mitos pré-históricos. Um porco em Gaza. Uma comédia dramática sobre Jaafar (Sasson Gabai) um pobre pescador palestiniano na Faixa

The Walking Dead


de Gaza, que um dia vê a sua sorte mudar ao pescar um porco, animal proibido pela sua religião. Jaafar, depois de tentar vender o animal a membros da ONU presentes no território, tenta negociá-lo com Yelena (Myriam Tekaia), uma russa que vive numa comunidade judaica próxima. Mas a criadora de suínos apenas está interessada no esperma do animal, já que aos judeus está também vedada a carne suína. Jaafar começa assim a aventura de recolher e vender o sémen do porco, às escondidas do resto da comunidade. Um filme de Sylvain Estibal. Reality. O mais recente filme de Matteo Garrone - que lhe valeu o Prémio do Júri no Festival de Cannes em 2012 - é inspirado no fenómeno “Big Brother”. O

peixeiro italiano Luciano (Aniello Arena) decide, convencido pela sua família, concorrer àquele programa televisivo, mas torna-se obcecado com o fenómeno da popularidade que busca e entra em depressão. Luciano fará de tudo para poder entrar na “casa” e ser uma celebridade. Uma comédia a não perder.

Bestas do Sul Selvagem

E porque Fevereiro foi o mês do aniversário do seu nascimento (e lamentavelmente da sua morte também) homenageamos um nome incontornável no hip hop, o grande J Dilla, com a sugestão do seu álbum de instrumentais “Donuts”, de 2006, lançado no seu 32º aniversário, apenas 3 dias antes da sua morte. RIP Jay Dee.

Joseph Anton – Uma Memória Salman Rushdie, escolhendo o pseudónimo inspirado nos seus dois escritores preferidos, Joseph Conrad e Anton Tchékhov, conta pela primeira vez a história da sua batalha pela liberdade de expressão, depois de ter sido “condenado à morte” por Khomeini e obrigado a viver em clandestinidade e sob protecção policial. O escritor anglo-indiano foi surpreendido a 14 de Fevereiro de 1989 com um fatwa (decreto religioso) do aiatola, que aprovava o seu assassinato por ter “insultado” o Islão e Alcorão com a obra “Versículos Satânicos”. Salman Rushdie confessou há pouco tempo que não sente “ameaça real” há dez anos. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 81


Ana Catarina Ramalho

QUEM NÃO TEM CÃO CAÇA COM GATO

MARÇO É O MÊS DO TEATRO E, EMBORA A PALAVRA CRISE PAREÇA HABITAR EM TUDO O QUE É RECANTO NESTE PAÍS, É PRECISO COMEÇAR A INVESTIR NO TEATRO, NA CULTURA, PARA VOLTARMOS A ENCONTRAR, PELO MENOS, A NOSSA LUZ AO FUNDO DO TÚNEL.

Numa constante luta contra a quase opressão cultural que o país sofre, o Teatro Nacional São João lançou, assim, no início deste ano uma programação que prevê, para 2013, cerca de cinquenta e nove espetáculos, mais oito do que no ano passado. Desde então, o Teatro Nacional tem vindo a investir em parcerias que permitam contornar os constantes cortes orçamentais e, claro, a não existência de um ministério da cultura que num país de Camões, Pessoa e Saramago parece ser fundamental não existir. As parcerias prendem-se com os Artistas Unidos, o Teatro da Cornucópia, o Teatro da Comuna, a Culturgest e o CCB. A programação trimestral abriu com a peça At Most Mere Minimum, no Teatro Carlos Alberto, no dia 9 de janeiro. Neste mês de março podemos ver, assim,

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Os Macacos Não Se Medem Aos Palmos de Manuel António Pina, com encenação de João Luís de 8 a 17; Adalberto Silva Silva de Jacinto Lucas Pires e interpretação de Ivo Alexandre, de 14 a 17; Morte de Judas de Paul Claudel de 21 a 23; Os Desastres do Amor ou Fortuna Palace com encenação de Luís Miguel Cintra de 15 a 24; e, no dia 27 de março, inaugurar-se-á uma instalação de Nuno Carinhas em homenagem a Fernanda Alves. Não podemos evitar o cenário que a televisão nos devolve, todos os dias, sempre que a ligamos e já estamos cansados de ouvir as mesmas notícias, ouvir as mesmas palavras que prometem sempre mais sacrifícios. Por isso mesmo, neste mês de março, desliguemos a televisão e entremos no teatro! Festejemos a existência de uma arte milenar enquanto nos abstraímos do mundo que corre lá fora, dentro de uma sala, com uma luz especial.

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*aviso antes de ler, a pedido do editor, nesta crónica pululam obscenidades e relatos para maiores de 18… tabuísmos… “engano [egánu]. s. m. (Deriv. regres. de enganar). 1. Acção de enganar ou de se enganar. 2. Falta de acerto devido a incapacidade ou distracção; procedimento errado. ≈ DESACERTO, ERRO. Desculpou-se, dizendo que tinha sido engano. Este engano poderia custar-lhe a vida. Encontrou vários enganos nas contas. Deve ser +; Deve haver +. 3. Interpretação errada. ≈ CONFUSÃO, EQUÍVOCO. 4. Percepção ilusória de alguma coisa; falsa aparência. ≈ DEVANEIO, ILUSÃO ≠ DESENGANO, DESILUSÃO.(…) 5. Meio artificioso para induzir, voluntariamente, alguém em erro. ≈ ARDIL, ARMADILHA, EMBUSTE, RATOEIRA (…) 6. Promessa vã, falaz. (…) 7. Infidelidade nas relações amorosas ≈ TRAIÇÃO. 8. Taurom. Qualquer artifício par iludir o touro e fazê-lo participar nas diversas manobras para o farpear. 9. Pesc. Dispositivo das armações de pesca do atum que serve para levar o peixe a encaminhar-se por si próprio para o local em que deverá ser arpoado. ao engano, loc. adv., por lapso, por descuido. (…) cair no engano, Pop., ser burlado, ludibriado; deixar-se burlar. (…) levar alguém ao engano, convencer, persuadir uma pessoa com artimanhas, engodo, promessas. livrar-se do engano, emendar-se; corrigir a sua actuação.(…)” (…) “virtual [virtwál]. adj. m. e f. (Do lat. eclesiástico virtualis). 1. Que existe como potência ou faculdade mas sem exercício ou efeito prático. 2. Filos. Que tem em si todas as condições essenciais à sua realização. ≈ POSSÍVEL, POTENCIAL. 3. Ópt. Que se obtém não pela convergência de vários raios luminosos, mas pelo prolongamento desses raios. imagem+ virtual. 4. Que é analógico. Adv. Virtualmente (V.).” in Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa, Verbo, 2001

A primeira vez que se encontraram souberam que a corda com eles não teria fim de esticar. Ambos tolos, ambos provocadores. Conheceram-se numa noite quente de Agosto, faz anos agora. Despiram-se e lamberam-se, entre a rua e o carro. Iniciando uma tradição que nunca mais conseguiram quebrar, levaram a noite até ao fim, encerraram todos os bares, esgotaram garrafeiras, num puxa empurra com toque de miúdos reguilas. No fim, à porta de um mercado, começou o que nunca mais aconteceu, escandalizaram senhoras de idade e transeuntes incautos com beijos escandalosos de roupas trocadas. Ela vestida de rapazinho, ele de decotes vadios e descarados. Arrastaram cadeiras na pastelaria bem, a empurrarem-se com quereres. Manhã alta, casa. E tão ébrios estavam que tudo era descontrole. Patrícia, lançada sobre ele despia-lhe as calças e sorvia-lhe o sexo até à última gota, no mesmo instante em que num rasgo de sobriedade cuspia e bochechava na tentativa de tornar tudo mais seguro. O primeiro erro, segundo na definição: “2. Falta de acerto devido a incapacidade ou distracção; procedimento errado.”. Nunca mais soube o sabor do sémen dele. Continuaram-se a encontrar, ficaram próximos de uma maneira que só noites de semana o permitiam. Encontravam-se sempre sem combinar, em bares avulso com ganas do mesmo, entorpecentes bebidos, excitantes tomados, cada um no seu próprio passo de dança. Sempre a encerrar o ultimo buraco aberto, no fim cada um a ir para sua casa. Demoraram um tempo infinito a desnaturalizar o conforto que ela achava que já tinha ganho. 88 // www.IDIOTMAG.com

Ele namorava uma petite, a forma e figura com que sempre se tinha imaginado. Patrícia não se importava. Convencida que não era a história dela. Até ao dia em que, bravos e descontrolados, cada um em sua casa, ligaram as câmaras e em silêncio olharam-se. Sem música, ela com o sol a entrar pela janela num quarto convidado onde tudo era branco. Ele na penumbra riscado pelas afamadas calças. Risos e imaginação, palavras brisa escritas em cúmplices piadas. Um já não se pode aguentar com o estado atingido e os dois a despirem-se em silêncio enquanto se olhavam, longe como iriam começar a estar sempre. E assim, sem ser em presença a mão dela descia e revelava os peitos, que ele dizia serem perfeitos. A mão dele descia e revelava o sexo branco. A mão dela descia e mostrava as ancas, as pernas, a vulva. Ele agitava o sexo branco. A mão dela parava, avançava enquanto abria os lábios e se penetrava com dois dedos em gancho. Os outros lábios presos nos dentes do primeiro arrepio a caminho. A mão dele parou, ligeiro, apertou mais o seu próprio pau, a barriga, branca também agitou-se em revolvo pouco de prazer. Ao mesmo tempo aumentaram o ritmo, ambos tomados de uma subida cujo alívio será sempre o mesmo. Um caminho ali inevitável, chegar, gozar. Por coincidência ou acerto de ritmo de estarem tão longe. Por não se tocarem e se sentirem juntos, nessa primeira vez vieram-se os dois ao mesmo tempo. Patrícia na luz, P. na penumbra. O segundo engano… “(…)ARDIL, ARMADILHA,(…)”. Permitiram-se novos encontros em que nunca estavam juntos. Ela, de tão virtual, sentia que tinha potencial, tocar na pele dele, trincá-lo de beijos era tão perigoso quanto possível, dizia-se. Houve uma manhã em que ela envolta em verde foi sereia para ele. P. sempre na penumbra. Patrícia sem nada a esconder. Terceiro engano, deixava-se ser arpoada. Tão virtual quanto a luz dela prolongada, de dildo de cristal na mão, refractor de tantas as cores a escorregar da boca, molhado na própria salivam para o peito, deixando a marca dos lábios dela nele que se entesoava. Do peito para a barriga, ainda molhado. P. a penetrá-la. A 500km de distância. A fazê-la vir-se, despir-se, foder-se. E sempre a imagem próxima daquele sexo tão branco quanto o leite que no fim derramava. O quinto engano, o descontrolo, quando em partilhas de quereres se mostra livre, P. livre, o coração dela touro em arena. Não era livre para ela. “(…)3. Interpretação errada. ≈ CONFUSÃO, EQUÍVOCO.(…) Outros entreténs na vida de cada um, avanços na dela, recuos na dele e de novo a calmaria. Mas passado semanas de novo se caía… Despiu-se de prenda ao som de Beatles triste. Até que quando de novo se veio sozinha, se emendou. Ou então o desengano foi esse… perceber que com toda a potência não tinha efeito prático. E o que era bastava. Assim, sem ilusões. Um devaneio. Da vossa, sempre a rever os próprios conceitos,


Entramos em Março com duas efemérides marcadas. O Dia da Mulher e a Páscoa. Com tanta celebração pede-se um brinquedo para esta review. Pelo dia da mulher, o ex-libris dos sex toys, um vibrador, pela páscoa um coelhinho. E juntando os dois, o famoso híbrido que agrada a vulvas e vaginas pelo mundo inteiro. O modelo Rabbit é um dos mais fabricados e vendidos, compreende todos os modelos de vibradores que têm estimulação clitoriana e vaginal, geralmente esta ultima com rotação. Assim chamado, porque o primeiro e que cunhou de feitio tinha a parte vibratória para estimular toda a zona da vulva, em especial clitoris, em forma de coelhinho com as orelhinhas vibrantes a assentar no dito. Dentro de todas as marcas disponiveis optei pelo Addicted to Bunny pelo preço convidativo,

não esquecendo que estamos em crise, pela segurança do material com que é feito, revestido a silicone e pelo tamanho médio, com a vantagem de ter comandos super intuítivos, sem se destacarem demasiado do brinquedo. Com um total de 21cm de comprimento e 2.8cm de diâmetro, tem 3 niveis de rotação, proporcionando de uma massagem mais suave a uma estimulaçao intensa através das pérolas de metal no seu interior, 7 niveis de vibração no coelhinho com vários ritmos diferentes e usa 3 pilhas AAA. Das duas uma, ou quebram o jejum pascal em rosa e orgasmos muitos ou depois de todo o sacríficio do mês, começam Abril com a Primavera entre as pernas e um coelhinho a fazer-nos pular de prazer.

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Encontram-se estes e outros úteis acessórios em reuniões de enxoval para o ócio adulto, através de Carmo Gê Pereira. “Addicted to bunny” – 49,95€ (pilhas AAA não incluídas)

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Tiago Moura

«DEARLY BELOVED, WE ARE GATHERED HERE TODAY TO GET THROUGH THIS THING CALLED LIFE. ELECTRIC WORD, LIFE. IT MEANS FOREVER AND THAT’S A MIGHTY LONG TIME. BUT I’M HERE TO TELL YOU THAT THERE’S SOMETHING ELSE – THE AFTERWORLD!» - PRINCE 94 //// www.IDIOTMAG.com IDIOTMAG 94


Em 2009, durante a sua intervenção num debate sobre o papel da Igreja Católica no mundo, Stephen Fry sublinhou a peculiar obsessão da Igreja com sexo, traçando a comparação entre a atitude da mesma sobre questões sexuais e o modo como um obeso mórbido ou uma pessoa anorética se relaciona com a comida. Quando, em fevereiro de 2013, o Papa Bento XVI anunciou a sua demissão do posto mais alto de uma das instituições mais antigas do mundo, colocando um ponto final num pontificado turbulento, demonstrou, mais que tudo, como os ideais da Igreja Católica se encontram desconexos da cultura atual, em particular das camadas mais jovens. Se entre as mentes ocidentais a influência das doutrinas católicas é cada vez mais frágil, no continente africano, por exemplo, entre as populações mais devastadas pela pobreza, esses mesmos princípios ainda se fazem sentir pesadamente. E o fator decisi-

vo dessa discrepância poderá passar pelo simples poder do conhecimento. Talvez simples seja um termo extremo demais para a questão, mas de qualquer modo, hoje em dia, a simplicidade de podermos aceder a diferentes fontes e pontos de vista, sobre um assunto como o uso de contracetivos ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, facilita o desenvolvimento de uma opinião informada e consciente das vicissitudes do mundo atual. Mais, a televisão e o cinema tornaram-se ferramentas únicas na desmistificação de estereótipos, que colocam certas questões na margem do interesse público e pessoal. A televisão, por muitas falhas que possua, é responsável por abrir os horizontes do telespectador sobre diferentes assuntos e estilos de vida. E todas estas conquistas, que demoraram anos, nascem a priori com as novas gerações, que já crescem habituadas (até certo grau) à liberdade dos outros. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 95


fotografia: Claudia Rogge

A dúvida que se coloca, então, é: se parte de nós conseguiu, até certo ponto, crescer e mudar o nosso sentimento sobre questões como o uso de contracetivos, aborto e até mesmo a homossexualidade, por que não consegue a Igreja Católica evoluir? Regressando a 2009 e à intervenção de Stephen Fry, este, falando sobre as atitudes da Igreja Católica em relação ao uso do preservativo – questão que já é, no mínimo, natural no ato sexual –, mostrou não só como o papel do chefe da Igreja Católica passou por demarcar mais o espaço entre a mesma e os seus fiéis, mas também por colocá-los em perigo direto. Durante a sua visita, em 2009, a África, o Papa Bento XVI não só vetou o uso do preservativo como também afirmou que o uso do mesmo aumentava as hipóteses de transmissão do vírus da SIDA. Fry relembrou ainda a atitude do Vaticano, na Conferência de Cairo de 1994, que se opôs à ideia do aborto e até do planeamento familiar como formas de solucionar a grave cri96 // www.IDIOTMAG.com

se populacional, afirmando que: “o direito ao aborto seria contrário às posições constitucionais de vários estados, assim como um conceito estranho às sensibilidades de um vasto número de pessoas”. O que o comunicado do Vaticano sublinhava, na verdade, era a sua implacável posição contra os direitos da mulher sobre o seu corpo. Neste exemplo, tal como no caso da homossexualidade, é a completa falta de informação dos ouvintes que permite que este tipo de afirmação seja recebida de um modo tão favorável. Seria completamente inconcebível a mesma figura se apresentar perante uma nação ocidental desenvolvida e afirmar que o preservativo está diretamente relacionado com o elevado número de casos de SIDA. Outro exemplo desta relação de bullying que a Igreja Católica mantém com os seus fiéis mais desfavorecidos é o modo como ela incita a tortura e morte de pessoas homossexuais. Num documentário da BBC3, o Dj de rádio britânico Scott Mills viajou para o


que pode ser considerado The World’s Worst Place To Be Gay, para mostrar o ambiente hostil e aparentemente irremediável em que a comunidade LGBT vive. Mills, abertamente homossexual no seu país natal, aterra no Uganda, onde a pena de morte para homossexuais estava prestes a ser introduzida. A um dado momento, Mills encontra-se com um líder religioso que o bombardeia com a imoralidade e malignidade da homossexualidade, oferecendo possíveis caminhos de recuperação dessa terrível condição que é amar alguém do mesmo sexo. Scott Mills chega mesmo a conversar com David Bahati, o homem responsável pela introdução da pena de morte para homossexuais, que exprimiu um desejo de matar todos os gays do seu país. Bahati limita-se, novamente, a descarregar propaganda anti-LGBT na discussão. Quando Mills afirma a Bahati que é homossexual, este jocosamente ameaça o Dj que, se ele for mesmo gay, poderá ir parar à prisão. Mills aponta para o papel do dinheiro da Igreja na proCULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 97


pagação destas ideias, que permeiam, logo que possível, as mentes dos mais novos, criando um interminável ciclo de horrores. Ironicamente, um dos principais candidatos ao Papado é o cardeal Peter Turkson, que defende essa mesma pena para os homossexuais. Possivelmente, a esperança de que a Igreja Católica mude, ou evolua, é um conceito utópico, que nunca chegará a acontecer, mas, nesse caso, o que dizer dos seus milhões de fiéis? O que dizer da importância e valor da palavra de um chefe de Estado e de Igreja, quando a sua hierarquia de valores fala para tão poucos? O que fica percetível é o completo abismo que existe entre a realidade da Igreja Católica e a Realidade e nesta batalha alguém terá de ceder.

fotografia: Claudia Rogge

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SIMONE DE BEAUVOIR ESCREVE EM 1949: “NÃO SE NASCE UMA MULHER: TORNA-SE UMA MULHER”. 100 // www.IDIOTMAG.com

Annette Messager - La Femme Homme (1975)


Cunha o termo não como biológico ou fisiológico mas como uma categoria socialmente construída. Fêmea é uma designação científica que se refere geralmente a membros de uma espécie que produzem gametas maiores e menos móveis. No caso dos seres humanos, ovúlos produzidos pelos ovários, em contraponto com o esperma. Biologicamente, portanto pode-se usar o termo de fêmea mas não de mulher, senhora ou menina. Uma mulher então é aquilo que a cultura entende como mulher! Muitas das pessoas que se identificam como mulheres não são biologicamente fêmeas e um certo número de condições cromossómicas pode criar um corpo de fêmea com genitais não tipicamente femininos. Também corpos masculinos podem escolher apresentar-se ou podem sentir-se, identificar-se e apresentarem-se como mulheres para o mundo em geral.

Sentamo-nos então seis mulheres numa mesa. Para preservar a anonimidade de cada uma escolheremos nomes bem comuns: Maria, Ana, Sara, Joana, Luísa e eu, a única não anónima, Carmo. Uma pergunta apenas, sem grandes explicações, “Quando te sentiste mulher? Qual a tua primeira memória de um sentimento relativo a isso?” Ana responde: “No momento em que saí de casa dos pais e comecei a ganhar o meu próprio dinheiro. No momento em que me tornei independente.”

Carmo Pereira

Sara: “Quando perdi a virgindade, correu muito bem e senti que naquele momento, no fim da noite, era uma mulher.”. A Luísa sentiu-se mulher no momento em que pariu a filha. A Joana, com 30 anos e a vida bem composta, diz-nos que ainda não se sentiu mulher. Eu senti-me mulher na primeira discussão de relação em que consegui explicar tudo a quem estava comigo sem me exaltar, chorar ou fazer drama, no início dos meus vinte anos. A Maria, a única da mesa com genitais masculinos, sempre se sentiu mulher. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 101


Entre a sociedade e biologia, encontramo-nos muitas vezes perdidas entre o que é ser mulher ou não. Se é algo permanente e imutável ou se nos podemos permitir a sentir-nos homens de quando em quando em momentos de gender bending. O sentir-mos a nossa feminilidade como uma performance ou vivermos o útero e as luas e todos os ritmos hormonais. Pergunto-me sempre até que ponto me posso sentir mais mulher que Carmo e o quanto me define ou constrange quer os ritmos hormonais quer a pressão da sociedade. A minha sociabilização enquanto pertencente a esta condição cultural faz-me muitas vezes repensar visões sobre o amor, a sexualidade, o corpo, atitudes e visões de futuro. Penso ser importante repensarmos a nossa individualidade dentro e fora de um paradigma de género, corresponda este ou não aos nossos genitais ou aparência. Portadoras de vulva ou não, ser mulher na sociedade ocidental está preso a paradigmas de virgem ou pecadora, ligada a mitos como Eva, Salomé, Pandora e Medusa. Somos indefesas ou poderosas, putas ou princesas e obrigadas a escolher um branco ou preto quando muitas de nós se situam num espectro de cores que não se situa nos cinzentos. Crescemos a ouvir, ver e ler que ser mulher é ser personagem secundária num filme onde esperamos por um

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príncipe, raros são os nossos modelos de guerreiras, presidentes, astronautas, faltam-nos modelos de mulheres independentes. E as poucas que temos são sujeitas a escrutínios sociais reservados a um género apenas, de como se vestem ou apresentam, se têm vida emocional ou não. Ser mulher é demasiado ser mãe, ainda, ou ser esposa. Muitas das nossas amizades constroem-se em volta de confidências e conversas sobre amores. Mas cada vez mais se multiplicam interesses profissionais, pessoais ou artísticos, com o amor fora da figura. Ser-se mulher, ou homem, ainda implica seguir um código de comportamentos demasiado rígidos a meu ver, não deixando espaço para individualidade, como os vários rótulos que a sociedade nos impõe. Torna-se mais fácil para alguns de nós um transvestir características de feminilidade, performando, como Butler diz, o género em vez de usar a obrigação de o sentir. Eu sinto-me confusa, continuo em conflito interior entre o essencialismo biológico e o construtivismo social. Mais do que gostaria, porque teoricamente prefiro acreditar em que não há excluídos e que todos somos aquilo que desejamos ser. Ou tão mulher quanto queremos. Pelo menos o mulher que desejarmos, libertas e libertos de amarras sociais.

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SER MULHER NO SÉC. XXI Género e dados

As mulheres são desproporcionalmente mais afectadas pela pobreza e desalojamento. Também estão mais propensas a ser alvos de violência, principalmente doméstica e sexual. Em muitos países do hemisfério sul casam-se as meninas antes dos 18 anos, regularmente contra a sua vontade. Nos E.U.A vários congressistas e grande parte dos cidadãos republicanos lutam por proibir o acesso a contraceptivos e a interrupção voluntária de gravidez. O aborto é regulado na maior parte do mundo, sujeito a uma série de leis e em muitos países ainda é proibido mesmo sob circunstâncias de violação, mal formação ou risco para a mulher. Mais de 100 milhões de mulheres em todo o mundo sofreram mutilação genital feminina. Nos Camarões, uma em cada quatro meninas púberes é submetida a “engomar mama”, tendo os seios esmagados ou queimados para 104 // www.IDIOTMAG.com

fazê-la menos atraente para os homens antes de ela se casar. Num artigo de investigação de 2000 do Ministério do Interior Inglês, referente a Inglaterra e ao País de Gales, cerca de 1 em cada 20 mulheres (5%) disseram que tinham sido violadas nalgum momento de sua vida a partir dos 16 anos. Em 2011, os Centros dos EUA para Controle de Doenças descobriram que “quase 20% de todas as mulheres” sofreram violações ou tentativas de violação nalgum momento de sua vida. Mais de um terço das vítimas antes de completarem 18 anos. Casadas ou não, milhões de mulheres em todo o mundo têm uma necessidade não atendida de planeamento familiar. É comum meninas e mulheres não terem acesso a educação. Ainda existe uma enorme diferença entre o salário obtido por mulher e por um homem, mesmo na União Europeia. Segundo o Eurostat 2008 a diferença oscila entre os 30.9% na Estónia e os 4.9% na Itália. Em Portugal, as mulheres ganham uma média de menos 9.2% que os homens. Na maior parte do mundo, especialmente na Ásia e na América do Sul, é mais provável uma mulher passar fome que um homem.


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AS PERGUNTAS DE “RÉPONSE DE FEMMES” Em 1975, AGNÈS VARDA dirige uma curta-ensaio onde reflecte sobre o significado de ser mulher, a essência da feminilidade e como as mulheres são definidas e limitadas pela sociedade. 8 minutos preenchidos essencialmente com perguntas, levando a uma reflexão sobre significados, duplos padrões, constrangimentos sociais e mercantilização do corpo.

Todas as mulheres desejam ser mães? O que é ser uma mulher de verdade? Como decidir o que é ser mulher fora de um olhar masculino? O que é um corpo de mulher? Como viver plenamente o próprio sexo? Porque é que a sociedade me pede recato com o corpo ao mesmo tempo que o usa como arma recorrente e sobre-exposta de venda? CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 105


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NOS DIAS QUE CORREM, TODOS ASSISTIMOS A ALGUMAS MODAS, UMAS MAIS CRIATIVAS QUE OUTRAS, QUE A TELEVISÃO, ANORÉCTICA DE NOTÍCIAS, NÃO SE CANSA DE MOSTRAR. AQUI DESTACAREI APENAS QUATRO… AS MAIS COMUNS, ISTO É, AS MAIS ANUNCIADAS! Rui de Noronha Ozório

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Rui de Noronha


Uma delas é cantar o Grândola Vila Morena como técnica reaccionária para interromper qualquer discurso iniciado pelos membros do Governo. Esta moda é, por si, pouco criativa e pobrezinha. É a moda dos coitadinhos de Abril que não foram ouvidos nestes 39 anos de luta reumática e anémica. De cravo na mão, este bloco de gente velhinha tenta mover a alma lusa à reacção, quando, na verdade, apenas sacodem o pó com mais pó! Podem acusar-me do que quiserem, mas também vos digo que pouco ou nada me interessa a revolução dos cravos. Aliás, esse golpe de Estado perpetrado por oficiais pouco animados com os salários é uma das causas disto não andar para a frente. Prometeram a Democracia e ofereceram-nos um ditoso conselho da revolução até 1982 e, depois, ofereceram o país à colonização europeia. Não sou contra a Europa, mas sou completamente contra esta Confederação Europeia Nazi… e com isto pergunto: o povo é quem mais ordena? Andaram 39 anos a ser comidos pela demagogia das oligarquias eleitas e chamam a isso Democracia só porque podem cantar o Grândola Vila Morena a meio dum discurso? Digo-vos: Vão-se catar! A outra modinha são as greves. Esta técnica, bem mais arrojada quanto irresponsável, alastra-se como uma epidemia, ou melhor, uma pandemia instalada. E pandemia porquê? Porque organizada pelos sindicatos que, ao invés de proteger os trabalhadores, protegem as oposições políticas no parlamento. Não conheço nenhuma força sindical indiferente ao poder partidário. Todos os sindicatos têm ligações aos partidos que aspiram ao poder, sejam eles do PSD, CDS, PS, PCP ou Bloco de Esquerda… apesar dos partidos da esquerda serem os familiares mais chegados. As greves são irresponsáveis e pouco democráticas porque na reacção de uns está o mal dos outros e não estou a falar dos homens do trono político, porque esses são intocáveis! De repente, a economia pára para uns milhares, que ainda estão empregados, poderem ter um dia bem folgado regado a tinto e azeitonas e, com isso não receberem um dia de ordenado, provocarem atrasos na vida de tanta gente que se encontra na mesma situação ou pior ainda. A greve deveria ser entendida e pensada de outra maneira, de uma maneira em que os prejudicados não fossem ainda mais prejudicados, que fosse verdadeiramente democrática, ou seja, eficiente e respeitadora do irmão

cidadão que vive, igualmente, em precariedade. A que agora assinalo neste cantinho de pensar é a Moda do “NÃO PAGAMOS”. Esta sim é a mais anedótica e aquela que me surpreende mais porque é transversal a todos os ramos da sociedade. O que se passa é o seguinte: compramos uma casa através de empréstimo bancário e a meio do campeonato, porque não temos mão nos juros, decidimos dizer o quê? não pagamos; contratamos pessoas para um trabalho ou um emprego (este raríssimo nos dias que correm), aquilo não corre bem e o que fazemos? Não pagamos! O estado pede ajuda à Europa para resolver os roubos que têm sido feitos ao logo das últimas décadas, os juros sobem e o que fazemos? Não pagamos! Isto é que era bom para nós… irmos a qualquer lado, usarmos e não pagarmos… espertos este tugas que nunca na história da existência gostaram de pagar! Daí aparecerem reactivos e revolucionários movimentos tão sérios quanto ridículos como o “Que se lixe a Troika” ou “Movimento Não Pagamos”, tão próprios de sociedades decadentes que só querem direitos e esquecem os deveres! Por último, quero anunciar a modinha mais arrojada e, confesso-vos, a única que me merece nota positiva: A moda das facturas em nome de Pedro Passos Coelho (NIF: 177142430). Já deram entrada nas Finanças milhões de euros em facturas registadas em nome do Primeiro-Ministro. Na prática isto não vai dar em nada, mas em teoria este suga-salários que nos desgoverna todos os dias será fiscalizado nas suas contas por, supostamente, ter declarado mais do que aquilo que ganhou. Apesar de ser um crime, pedirmos facturas em nome de outra pessoa, que não nós, é também uma manifestação pacífica e criativa contra aquilo que achamos ilegal e intrometido… O próprio Cavaquinho de Belém com a sua voz “papal dos últimos dias” nos pediu: Sejam Criativos! E, de facto, somos, fomos e seremos! Enquanto as oligarquias nos magoarem para além daquilo que podem, poderão sim contar com Modinhas bem diferentes, cujo crime é bem menor do que aqueles a que os políticos nos atiram todos os dias! Por isso, portugueses: continuem a promover a Idiocracia neste ímpeto da Reacção e das Modinhas da Revolução e um dia destes… o poder está na nossa mão!

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Afianço-vos porém, que estamos perante uma das grandes farsas do rol de recentes aldrabices da nossa história. Não consegui precisar quem é que assinou os diversos contratos com a Novabase, empresa que desenvolveu estas maravilhas tecnológicas, mas acredito que o facto de ter tido em tempos nas suas fileiras gente como o ex-ministro Jorge Coelho e outros menos ilustres, para nós comuns mortais, mas muito reconhecidos nas sedes partidárias e lojas “maçónico-dei”, tenha ajudado a que um qualquer governo - central ou camarário - do eixo do poder PS-PSD-CDS, se tivesse decidido por esta opção. Nuno Di Rosso Há uns seis anos, mais coisa menos coisa, quando foram introduzidos este tipo de bilhetes, apregoaram-se todo o tipo de vantagens para os mesmos e eu, feito inocente, acreditei. Apelou-se ao ecologista, afirmando que a poupança de papel seria colossal; dourou-se a pílula ao apressado, apresentado o Viva e o Andante como uma forma de poupar tempo, podendo ter as viagens carregadas antecipadamente; piscou-se o olho ao pragmático, enunciando todos os transportes que cabiam no mesmo bilhete; deram-se palmadinhas nas costas dos forretas, afinal cada bilhete tinha o custo de 50 cêntimos, mas poderia ser trocado por outro novo ou ser-lhe devolvido o dinheiro despendido, já para não falar nos descontos que se poderiam alcançar com o carregamento de diversas viagens no mesmo cartão. 118 // www.IDIOTMAG.com


Se existem de facto vantagens para os utilizadores frequentes que detêm aqueles cartões rígidos, tipo multibanco, que precisam de uma inscrição prévia no sistema multimodal - mas isso já existia também com os passes combinados e/ou sociais, comprava o meu L123 e andava em todo o lado sem chatices - caem por terra todos os argumentos das operadoras e dos criadores dos Andantes/Viva, quando falamos dos títulos ocasionais, os tais feitos de cartão que se compram nas máquinas de venda automáti-

ca. Aliás, para desmascarar a verdade por trás destes bilhetes sem contacto, basta comprá-los. O ecologista vai ficar desencantado por não conseguir descortinar em que ecoponto colocar os mesmos, no azul do papel ou no Ponto Electrão - para mais têm validade de apenas um ano, independentemente das vezes que foram usados -, e ainda por verificar que o papel tem mais gramagem que os tradicionais bilhetes que se compravam nas bilheteiras; o apressado vai ficar irritado quando tiver um cartão carregadinho de viagens

e tentar validá-lo sem conseguir, simplesmente porque o mesmo está um pouco dobrado, e que carga de trabalhos é reaver o dinheiro dessas viagens não usadas; o pragmático vai perceber que precisará de andar com uma carrada de cartões, pois não pode ter mais que um tipo de título de transporte em cada bilhete, um para o metro, outro para o autocarro, outro para o comboio, é certo que se podem carregar vários títulos no mesmo cartão, mas não simultaneamente; e o forreta vai ficar completamente desconcertado quando perceber que para lhe devolverem os tais cinquenta cêntimos tem que guardar o re-

cibo da compra e tem que pedir a devolução em menos de cinco dias (incluindo o dia da compra), tendo ainda que ter o cartão tal e qual saiu da máquina. A conclusão a que chego é que, tal como a trapalhada com os identificadores dos automóveis para pagamento das SCUT, também estes cartões foram feitos à medida do bolso de alguém, e esse alguém de certeza que não é o Zé Povinho. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 119


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