IDIOT ABR.13

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CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 1


6 EDITORIAL Let’s Live for Today 16 ATUALIDADE Pug my Skate 26 DESIGN ENEDesign 2013 54 IDIOT @ Chefchauen 64 ELETRÓNICA Kaspar 72 ILUSTRADOR Na Rua com Alma e Draw 88 VER, OUVIR, LER 96 TABU? Alcova de Patrícia + Review 106 INTERVENÇÃO Click For More 116 LA FOUINOGRAPHE 124 O ANTI-IDIOTA RTP 2 // www.IDIOTMAG.com

10 ROTEIRO Porto à Noite 20 ATUALIDADE Skate: Jorginho 38 PHOTOREPORT Idiot Art 60 MÚSICA Blackjackers 68 HOMO’GENEO Sissy Rapping 78 PHOTOREPORT Portugal Fashion 91 IDIOTAS AO PALCO Coffee Shop Series 98 TABU? VI Salão Erótico do Porto 110 INTERVENÇÃO Quem decide é a Vontade 122 PROVOC’ARTE O Funil e a Civilização Oriental


Direcção: Nuno Dias // João Cabral Gestão e Marketing Pedro Pimenta Textos: Ana Anderson Ana Catarina Ramalho Bernardo Alves Bruno Manso Carmo Pereira Flora Neves João Cabral Nuno Dias Patrícia (Pseudónimo) Rui de Noronha Ozório Sarah Anderson Tiago Moura Tish Design: Nuno Dias // João Cabral IDIOT, Gabinete de Design® Capa: Coletivo Rua Ilustração: Coletivo Rua Fotografia: Aline Fournier Spyrart Video: Mariana Oliveira Rita Laranjeira Todos os conteúdos gráficos são da responsabilidade de: IDIOT, Gabinete de Design ® www.idiocracydesign.com Info@Idiocracydesign.com Cada redactor tem a liberdade de adoptar, ou não, o novo acordo ortográfico (*) NENHUMA ÁRVORE FOI SACRIFICADA NA IMPRESSÃO DESTA MAGAZINE!

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// Nuno Dias 6 // www.IDIOTMAG.com


LET’S LIVE FOR TODAY “IT IS BETTER TO BE HATED FOR WHAT YOU ARE THAN TO BE LOVED FOR WHAT YOU ARE NOT.” UM DIA VAGUEAVA PELA INTERNET SEM NADA QUE FAZER E DEPAREI-ME COM ESTA FRASE. “É MELHOR SER DETESTADO PELO QUE ÉS, DO QUE SER AMADO PELO QUE NÃO ÉS”, NO BOM PORTUGUÊS. NUNCA UMA FRASE CONSEGUIU IR AO ENCONTRO A ALGO QUE EU SENTIA NO MOMENTO, ALGO QUE EU ESTAVA A PASSAR. À CONVERSA COM UMA AMIGA, ELA DISSE: “ESSA FRASE É MUITO FORTE E EXPLICA MUITA COISA”. TANTA COISA. NÃO SÓ O QUE EU SINTO, MAS TUDO O QUE SE PASSA. AS PESSOAS FAZEM-SE PASSAR PELO QUE NÃO SÃO, INDEPENDENTEMENTE DOS SENTIMENTOS DOS OUTROS, MOVIDOS POR INTERESSES PRÓPRIOS. SE CALHAR SOU EU, NÓS, QUE VIVEMOS NUMA UTOPIA, NUM MUNDO QUE NÃO PASSA APENAS DO FRUTO DA NOSSA FÉRTIL IMAGINAÇÃO E DO TURBILHÃO DE EMOÇÕES POR QUE SOMOS ASSOLADOS TODOS OS DIAS. NUMA ANÁLISE MAIS PROFUNDA, APERCEBO-ME QUE ESSA UTOPIA (LATIM TARDIO UTOPIA, PALAVRA FORJADA POR THOMAS MORE PARA NOMEAR UMA ILHA IDEAL EM A UTOPIA, DO GREGO OU-, NÃO + GREGO TÓPOS, OU LUGAR) É AQUELA SOCIEDADE QUE INICIAMOS FAZ MAIS DE UM ANO, A IDIOCRACIA, A SOCIEDADE DE IDIOTAS PARA IDIOTAS, O CRIADOR DE IDEIAS, QUE JÁ NÃO PRODUZ APENAS IDEIAS. CRIA SONHOS, FANTASIAS, DESEJOS, E TUDO DE BOM QUE PODE CABER NO NOSSO CORAÇÃO. É ASSIM QUE LANÇAMOS MAIS UMA IDIOT, SEMPRE COM AQUELE CARINHO QUE TENTAMOS QUE NOS SEJA CARACTERÍSTICO, ONDE PEGAMOS NO TEMA TÃO ASSOCIADO EM ABRIL NO NOSSO PAÍS, E FALAMOS NO BANALIZAR DA REVOLUÇÃO. FALAMOS MAIS UMA VEZ DE ARTE URBANA, E ASSIM CONVIDAMOS O COLETIVO RUA A ILUSTRAR A NOSSA MAGAZINE, COM AS EXPRESSÕES QUE TRANSMITEM TÃO BEM A EMOTIVIDADE QUE TANTO FALAMOS. MAS NÃO FICAMOS POR AÍ. FOMOS AO PORTUGAL FASHION, À FEIRA DO SEXO E A CHEFCHAUEN (SEJA LÁ ONDE ISSO FOR). NA MÚSICA, TIVEMOS OS BLACKJACKERS, UM DOS ESCOLHIDOS PARA A BANDA SONORA DO NOSSO ANIVERSÁRIO, O KASPAR, DE LISBOA E FALAMOS DO SISSY RAPPING NO RETORNO DA NOSSA SECÇÃO LGBT “HOMO’GENEO”. MAS A IDIOT NÃO FICA POR AQUI, SAI DO ESPAÇO VIRTUAL E OCUPA PAREDES DA CIDADE. NO GARE PORTO, DISCOTECA DA INVICTA CONHECIDA PELA MELHOR MÚSICA ELETRÓNICA, PODEM ENCONTRAR A FACHADA PINTADA POR HAZUL, O INTERIOR POR DRAW DO COLETIVO RUA. NO ESPAÇO TRAÇADINHO, ESTÁ UMA EXPOSIÇÃO DE 24 CARTAZES DA NOSSA CONGÉNERE LISBOETA “DON’T PANIC”. A NÃO PERDER! CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 7


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José Manuel Bártolo, PhD Professor Coordenador Presidente do Conselho Científico Escola Superior de Artes e Design

“ENTRE MUITAS OUTRAS COISAS, O PROJECTO IDIOT É UM ACTO DE CORAGEM INTELIGENTE.” António Eça de Queiroz (jornalista/escritor)

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“NOS ÚLTIMOS 12 MESES, O PROJECTO IDIOT CHAMOU A COLABORAR CONSIGO UM NÚMERO MUITO SIGNIFICATIVO DE ARTISTAS, ILUSTRADORES, DESIGNERS, ENTRE PROFISSIONAIS COM UM PERCURSO RECONHECIDO, JOVENS VALORES E ESTUDANTES, NACIONAIS E INTERNACIONAIS; APRESENTOU EXPRESSÕES DA CULTURA ARTÍSTICA URBANA EM GALERIAS, ESCOLAS, BARES MAS, TAMBÉM, EM LUGARES NÃO CONVENCIONAIS; AJUDOU A DINAMIZAR ESCOLAS DE ARTE E DESIGN MAS, TAMBÉM, A TORNAR O ESPAÇO PÚBLICO MAIS RICO, DINÂMICO E PARTICIPADO; CONTRIBUI PARA A PROMOÇÃO DA CULTURA ARTÍSTICA PORTUGUESA E PARA A ATRACÇÃO DE PÚBLICO PARA UM ÁREA POUCO TRABALHADA.”


3 abril // 4ª feira Student Café Concerto// Labirinto (BRASIL) Horários: das 23:00 às 04:00 Armazém do Chá

10 abril // 4ª feira Pregos // com Direção Artística de Mariana Amorim Horários: 23:00 Artes Cénicas // Porto

18 abril // 5ª feira Quintas de Leitura Abril de 2013 - Coletivos Poéticos Horários: 23:00 Teatro do Campo Alegre

26 abril // 6ª feira O supergrupo Resistência vai regressar aos palcos, no Coliseu do Porto, 20 anos após o lançamento do projeto, que marcou a música portuguesa . Horários 22:00 Preços: 27€ a 32€ 10 // www.IDIOTMAG.com

11 abril // 5ª feira Tonic Thursday’s, com DJ Bruno Nova (Brazilian Beats) Porto Tónico

19 abril // 6ª feira Ill Bill, artista de hip hop americano membro de bandas como La Coka Nostra, Non Phixion , Aotp, vem pela primeira vez a Portugal Preços: Pré-Venda (Limitada): 13,50€ // Restantes Bilhetes: 15€ Porto Rio

27 abril // sábado Nancy Whang (USA, LCD Soundsystem, The Juan Maclean), Mr Mitsuhirato, Moullinex Plano B

4 abril // 5ª feira Sven Vath Preços: 15€ Gare

5 abril // 6ª feira Depois de passar por festivais como o Creamfields, Glastonbury e tocado em locais como Fabric ou o Rex Club, Maxxi Soundsystem estreia-se no Plano B

12 abril // 6ª feira Christopher Martin, um dos mais talentosos nomes do reggae atua no Hard Club Horários 23:59 Preços: 12€

20 abril // 6ª feira Luís de Matos Chaos é o novo espetáculo do mágico português mais premiado e distinguido de sempre Horários: 21:30 Preços: 10€ a 12,50€ Teatro Sá da Bandeira

28 abril // domingo Torto Horários 22:00 Preços: Desde 10€ Café au Lait

13 abril // sábado Magda + Expander Gare

21 abril // Domingo O aclamado disco de estreia de Miguel Araújo Horários 21:30 Preços entre 15€ Casa da Música

29 abril // 2ªfeira Aproveita a segunda para ir ao cinema que é mais barato Sugestão: O Frágil Som do Meu Motor; a primeira longa-metragem do realizador português Leonardo António // Thriller Uci Arrábida


6 abril // sábado E todo mundo vai matar saudade com Daniela Mercury no Coliseu Horários: 21:30 Preços: 15€ a 30€

7 abril // Domingo Mais de 30 artistas sobem a palco, na festa de aniversário da Rádio Festival Preço: 7€ Pavilhão Rosa Mota

14 abril // domingo This Routine is Hell + Local Trap (concerto) Almaemformol // Rua do Almada

15 abril // 2ª feira O conceito é viajar pelos quatro cantos do mundo. É o local indicado para uma refeição ligeira a qualquer hora do dia Horários: até às 21:00 The Traveller Caffé

22 abril // 2ª feira Este é um espaço onde a tradição de bem servir ainda tem uma palavra a dar. Aqui a cozinha regional portuguesa tem um destaque especial Horários: 19:30 às 23:00 Casa de Pasto Adega do Ribatejo

23 abril // 3ª feira O Gull é um espaço misto de restaurante, bar e esplanada que convida a relaxar e aproveitar os bons momentos. Horários: 19:30 às 23:00 (durante a semana) Cais das Pedras, 15

30 abril // 3ªfeira Gare 909#12 Samuel L Session Gare

1 maio // 6ª feira Numa atmosfera industrial, sobressaem pormenores artísticos que tornam este espaço na vanguarda. Horários 00:00 às 06:00 Instalação // Rua Conde de Vizela, 83

8 abril // 2ª feira Esta taberna-bar serve bebidas e petiscos tradicionais portugueses passando pela música eclética, world music e música tradicional portuguesa. Horários: até às 02:00 Aduela

16 abril // 3ª feira Adriana Calcanhoto a solo // Olhos de onda Horários: 21:30 Preços: 25€ Casa da Música

9 abril // 3ª feira Prémio Jovens Músicos, Antena 2 Horários: 19:30 Casa da Música

17 abril // 4ª feira Vamos lá beber um copo ao Biba a Baixa Pitch

25 abril // 5ª feira A noite hoje é do Encontro Nacional de Estudantes de Design, no Passos Manuel, com Tiago Lessa e a dupla Min & Supa +info: www.enedesign. org/2013

24 abril // 4ª feira Marisa Monte Horários: 22:00 Preços: 20€ a 60€ Coliseu do Porto

2 maio // sábado Os Reis da Comédia, entre 2 e 12 de Maio. A peça vai estar disponível no Teatro Sá da Bandeira. Preços: 12,50€ a 15€ Horários 21:30

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NAS COREBOARDS DA PUG HÁ SEMPRE UM CÃO DE FOCINHO TRISTE. SAI DA CARPINTARIA LÁ PARA OS LADOS DE ALCOBAÇA E PASSEIA-SE PELAS CIDADES PORTUGUESAS E MUNDIAIS OSTENTANDO A SUA IRREVERÊNCIA E ORIGINALIDADE IMPRESSAS NAS TÁBUAS. A IDIOT APRESENTA-VOS DE FERREIRA MALHÃO, A CRIADORA DA PUG VINTAGE COREBOARDS. OU SE QUISEREM, A RAPARIGA QUE DESENHA E CONSTRÓI A SUA PRÓPRIA MARCA DE SKATES. Tish Licenciada em Arquitectura pela FAUP e apaixonada pelo Porto, foi em 2012 - o ano do mestrado e da viagem de finalistas à Rússia e suas metrópoles que deu a De Ferreira Malhão o baque dos skates “à antiga”. “Ao fim de uns dias a caminhar por aquelas cidades enormes e planas só me apetecia ter um skate comigo daqueles planos e pequeninos que cabem em todo lado”, relembra à Idiot. Falamos do modelo fotografia © Cruiser, o skate de passeio que “dá David Sineiro imenso jeito para correr cidades”.

Feitas as malas e de volta a casa, pede a um colega dono de uma pequena carpintaria que lhe faça a primeira tábua: um skate plano, o tal corte cruiser e com uma pega de transporte incorporada. Pois, leram bem. A criadora conhece depois um designer que acaba por lhe ilustrar para os skates um pug – o cão da sua vida - e publicar a experiência no Facebook. Pugs não são uns cães quaisquer e o feedback, imediato, dá asas ao novo projecto. Estava lançada assim a PUG Vintage Coreboards, um estilo de pranchas oldschool, planas e feitas para correr “as ruas das cidades e marginais” - até os surfistas o fazem quando o mar está flat - com madeira trabalhada (contraplacado de bétula), totalmente artesanais e de origem nacional. E as pegas? “As pegas são o “boom” inovador que o pessoal adora”, diz a mentora do projecto, que já domina o skate desde os tempos de miúda.

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“Faço tudo com materiais locais, como a madeira, cortiça, serapilheira (sacos onde vão os skates) para promover o consumo e divulgação do produto nacional”, conta De Ferreira Malhão, que usa a técnica da pirogravura, uma espécie de caneta de aço ligada à corrente para queimar a madeira. A paixão pelo Pug já vem de longe, pois sempre gostou de cães que normalmente são “considerados feios”, como diria a sua mãe. “Os Pugs para mim são uma raça que complementa para mim todos os requisitos: são fofos, leais, pequenos (o que dá facilmente para levar em viagens e para ter num apartamento), extremamente expressivos e ladram muito pouco”. Próximo objectivo? Comprar um.

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EDIÇÃO ESPECIAL

Hoje trabalha sozinha, desenha, constrói, vende, pesquisa, reinventa. “Ser mulher no mundo dos skates é uma vantagem, sempre que falo com um fornecedor, gerentes de lojas ou outros fundadores de marcas de skateboards sou tratada como uma princesa”, confessa a arquitecta, sorrindo. “A conversa e a discussão sobre “coisas de homem” tornam-se interessantes e produtivas, pois as opiniões divergem. Desde a estabilidade dos materiais e técnicas até ao lado bonito e fofo do produto de design”. Para o futuro, quer vir a trabalhar outros tipos de prancha com outras madeiras e espera que a marca continue a crescer. “Sinto-me formidável, faço o que gosto e tento levar o projecto e a marca a um nível cada vez mais alto, conseguindo já chegar à comercialização internacional”.

Actualmente, a PUG tem merchandising de t-shirts, sweaters, bonés, cujos ganhos ajudam a arquitecta a investir cada vez mais nas pranchas. A colecção fixa de 2013 será pintada pela criadora e terá direito a uma edição especial - cada skate será único ilustrada por artistas convidados. As vendas iniciaram-se online em http://pugvintagecoreboards.com/ , mas actualmente já podemos encontrar a marca PUG em algumas lojas de skates. Os preços variam desde os 60 aos 80 euros para as tábuas simples e dos 120 aos 150 euros, nos skates completos - rodas, trucks e rolamentos. A PUG por enquanto corre mais cidades internacionais do que nacionais mas com o lançamento da colecção antes do Verão o objectivo é mesmo “correr as praias portuguesas para divulgar e vender o produto”. Nós já temos um.

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O IDIOTA SOBRE RODAS!

JORGINHO É JORGE MOURÃO SIMÕES, UM IDIOTA DO NORTE RUMO AO MUNDO. COM APENAS 18 ANOS, ACABADINHOS DE FAZER, ELE É O CAMPEÃO NACIONAL DE SKATE. A IDIOT FOI TER COM ELE PARA SABERMOS MAIS UM BOCADINHO DESTE TALENTOSO IDIOTA SOBRE RODAS. Bruno Manso 20 // www.IDIOTMAG.com


Quando é que começaste a andar de skate e porquê? Comecei em 2004, porque o meu primo já andava de skate. Pedi-lhe para experimentar e gostei, ou melhor, amei logo naquele momento. Quando estás a andar de skate como te sentes? Sinto liberdade, sinto-me feliz, é um pouco difícil explicar por palavras, mas é mesmo fixe. Qual é o teu skater preferido? O meu skater preferido é o Luan de Oliveira (um skater brasileiro).

fotografía: Dani Millan CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 21


Enumera 5 skaters do Porto que mereçam ser “reconhecidos” Bernardo Lemos Costa, Sandro Lucas, Bruno Barny, Nuno Cardoso e João Neto. Penso que estes andam aí a parfotografía: tir a loiça toda. Vasco Neves Que marcas de skate te estão a patrocinar Onde estás a estudar? neste momento? Neste momento estou a ser patrocina- Neste momento não estou na escola, do pela DC shoes, About skateboards, mas estudei na Escola Artística Soares dos Reis. Haze wheels e pela Kate skateshop. E o que menos gostas? Eu não tenho quem menos goste até porque é sempre fixe ver alguém a skatar, mas claro, há sempre uns que gostamos mais do que outros…

Onde é que o skate já te levou a viajar? O skate já me levou a viajar quase por todo o mundo… por causa dele, já estive em sítios como Marrocos, Estados Unidos e grande parte da Europa.

O que te marca mais no skate? O skate marca sempre de várias maneiras, mas digo-te que é a diversão com os amigos (que é a principal), as viagens, conhecer pessoas novas…

Em que competições internacionais de Em que spots mais gostas de skatar? skate já participaste? Já participei em alguns campeonatos Macba em Barcelona, Câmara de Matosiconhecidos no mundo do skate como, nhos, Casa da Música, Praça dos Leões… o Tampa am (EUA), Volcom Amsterdam am (HOL), e o Simple Session (EST).

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Jorginho no Tampa am

E as tuas manobras mais consistentes? 360 flip, flip, bs 360, todas… (risos) Onde pensas estar daqui a 10 anos? Não sei bem onde vou estar, mas claro que gostava de estar a viver do skate, a fazer a minha vida em Barcelona ou nos Estados Unidos… seria muito bom.

clica aqui para ver o vídeo http://youtu.be/QLIeuJvtMdA

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Data limite para entrega de propostas: 21 de abril www.woolfest.org

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ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDANTES DE DESIGN 25 A 28, PORTO Nuno Dias

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Realiza-se no Porto a 2ª edição do Encontro Nacional de Estudantes de Design. Este evento foi liderado pelo Núcleo de Estudantes de Informática da Associação Académica em 2012, e realizou-se pela primeira vez em março do ano passado, em Coimbra. Este ano ano muda-se para o Porto, e realiza-se de dia 25 a 28 de abril e é organizado por estudantes de design da Faculdade de Belas Artes. Os locais escolhidos foram aquela faculdade, onde vão onde vão ser os workshops e as masterclasses e a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, onde vão ser feitas as mesas de discussão e palestras para cada área. Por sua vez, os eventos noturnos terão lugar no Plano b, Armazém do Chá e Passos Manuel . Diz-nos a organização que “o ENED é para pensar e inspirar; para conhecer vários nomes do design nacional e perceber o que os move e motiva; para descobrir novos projetos e no-

vas maneiras de ver o design”. Quer-se que este encontro seja um espaço de compreensão, local de eleição para troca de ideias e conhecimentos de futuras parcerias de trabalho de “pessoas que nunca se cruzariam na tua vida profissional ou pessoal”. Engane-se quem pensa que o encontro abrange apenas o design de comunicação; estão também extremamente vincadas as áreas de moda, produto e multimédia. E apoiados no conceito que nos é interiorizado desde o primeiro ano nos estudos relacionados com o design - o design é uma ferramenta que chega aos olhos de massas, e devemos usá-la como impulsionador de ideias, de forma de divulgação de cultura, da nossa cultura. Assim sendo, o ENED é feito pelas pessoas que nele participam. Aqui estão marcas portuguesas, porque se não formos nós a fazermos por nós, ninguém o fará! Ainda para mais com tão bom design a ser feito por terras lusas.

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“Skatolo”, de Diogo Frias

Pediu-nos a organização que falássemos com quatro dos intervenientes, mas com tanta qualidade, não podíamos ficar apenas por aí. Por exemplo, logo no primeiro dia, Diogo Frias, designer de produto formado na ESAD com pós-graduação nas FBAUP, é o palestrante convidado para nos explicar como “Cortar a Crise Com o Design” e João Seabra (da

Jump Willy) falará do “Backstage do Processo Criativo: Animação e Música”. E por falar em música, já pela noite é a vez de Monster Jinx, que como os próprios dizem, “é simultaneamente um coletivo artístico e uma plataforma de edição e distribuição de música, dedicada ao lançamento de sonoridades independentes e de ideias descomprometidas”.

“JaneDoe”, de Diogo Frias 28 // www.IDIOTMAG.com


“Wolman”

Em cima: “Minutos Mágicos”, em baixo “Oliva Creative Factory”, da Jump Willy

CLICA PARA VER

http://vimeo.com/46615925

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Dia 26 começa logo com duas masterclasses de peso. Para os aficionados do design tipográfico o convidado não podia ser melhor: Dino dos Santos. Fundador da DSType, Dino desenha tipos para vários fins desde 1994, incluindo revistas como a New York Times Magazine, USA Today, Computer Arts, Courier e a Creative Review e empresas como a Electronic Arts, Gatorade, Erste Bank, entre outras. Trabalha sobre várias refe- www. dstype. rências históricas, principalmente ca- com, de Dino Dos Santos ligrafia portuguesa e italiana.

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À mesma hora, mas relacionado com o produto, é a vez de Pedro Gomes, com atelier especializado no “envisionamento de estratégias e conceitos” em que atuam principalmente no mobiliário, iluminação, produtos eletrónicos, acessórios, design de calçado, design conceptual assim como o apoio nas áreas de comunicação estratégica e consultoria. Já como palestrantes temos os nossos amigos Ana Muska e André Carvalho, da Circus (N.R. artigo na Idiot Mag de janeiro), projeto de finalista de Design de Comunicação da FBAUP, dinamizadores da arte em Portugal, principalmente de novos criadores, divulgando e promovendo eventos, exposições e intervenções culturais. Pedro Gomes | Design, Strategy & Envision

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A exposição de capas gigantes da IDIOT estará na FEUP no decorrer do evento com capas da Tamara Alves, Mesk, Coletivo Rua, Daniel Padure entre outros.

Exposição das capas da IDIOT na ESAD, Matosinhos 32 // www.IDIOTMAG.com


Mais a meio da tarde os palestrantes são o estúdio de design gráfico Bolos Quentes, entrevistados na edição anterior da Idiot. Já a 27, e como ainda não falamos do design de moda, os palestrantes são Vítor Bastos e Luísa Cativo, responsáveis pela V!TOR, marca de streetwear exclusiva com uma “linguagem singular e pessoal”. Valoriza a produção local das suas peças e visa a distribuição global das mesmas. Os pilares mais fortes do seu trabalho e inspiração são o mundo criativo em que se insere, as pequenas subculturas e estilos de vida à sua volta. Ninguém consegue ficar indiferente aos Pugs, Ponys, Psycats e unicórnios desta marca. Nesse mesmo dia a mesa aberta fica a cargo de @c,

@c, instalação em Colónia CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 33


colaboração entre os professores de Belas-Artes Miguel Carvalhais e Pedro Tudela, com participação pontual da artista plástica austríaca Lia, onde produzem projetos a nível de arte sonora, música, instalação, performance sonora ou audiovisual. A banda sonora para a noite é-nos compilada pelos Lovers & Lollypops Soundsystem e Killimanjaro. No que diz respeito a exposições, a oferta mais uma vez é muita, por isso, sendo um tanto ou pouco tendenciosos, recomendamos a exposição da IDIOT, patente na FBAUP, onde estarão expostas as capas gigantes da nossa magazine, entre elas a desta edição, a cargo de Draw e Alma, do Coletivo Rua. Mas o programa completo do encontro não fica de maneira nenhuma todo aqui, e a oferta nas diversas

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áreas é recheada de qualidade e criatividade, por isso aconselhamos vivamente uma apreciação cuidada de todo o programa em www.enedesign.org/2013. Quanto às inscrições, o bilhete geral – que inclui as palestras, workshops/masterclasses, festas, alojamento e refeições – fica a 40€ com compra antecipada e posteriormente a 45€. Já o bilhete diário tem o preço fixo de 20€. As inscrições estão abertas a todos os estudantes do ensino superior em Portugal, estrangeiros em programas de mobilidade, recém-licenciados e profissionais que se interessem pelas diferentes áreas do design e pretendam aprofundar conhecimentos a nível profissional e social; “o ENEDesign é acima de tudo um espaço de V!tor, coleção partilha e convívio”. Reborn


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ESTA SEMANA VAMOS LANÇAR O KIT DA QUEIMA PARA IDIOTAS, COM TUDO O QUE PRECISAS PARA SOBREVIVER À DERRADEIRA SEMANA, E AINDA TEMOS BILHETES PARA OFERECER. ESTÁ ATENTO A NOVIDADES EM: WWW.FACEBOOK.COM/IDIOTMAG CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 37


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A 29 DE MARÇO INVADIMOS A CIDADE DO PORTO: DURANTE NO CENTRO COMERCIAL BOMBARDA, DRAW E ALMA DO TIVO RUA PINTARAM A CAPA DE ABRIL AO VIVO, ACO NHADOS DE DANIEL PADURE. À NOITE, DRAW INAUG O SEU NOVO MURAL NO GARE PORTO QUE CO MORAVA O SEU 5º ANIVERSÁRIO. AO MESMO TEMPO INAUGURÁMOS OUTRO MURAL, DE PADURE, A PRENDA DA IDIOT AO GARE PELOS 5 ANOS DE EMOÇÕES

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Frederico Draw nas latas @ Gare Porto

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“This Wall Is Mine””, paredes da estação CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 43


Daniel Padure nas latas @ Gare Porto

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Centro Comercial Miguel Bombarda

Draw e Alma (Coletivo Rua) pintam a capa deste mĂŞs ao vivo 48 // www.IDIOTMAG.com


Daniel Padure nas latas @ CCBombarda

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Pormenor da capa do Coletivo Rua

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O ANO DA CRIATIVIDADE EM Vテ好EO CLICA NA IMAGEM PARA VER

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Sarah Anderson

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Partimos de Portugal, de carro em direcção ao sul de Espanha até Almeria onde se encontrava um amigo a trabalhar. Como jovens portugueses procurávamos praia, amigos e alojamento grátis! Passámos uns dias na solarenga e árida Almeria e sendo um local turístico e apenas com demasiado calor e turistas para oferecer, decidimos (depois de algumas insistências e mimalhice da minha parte) atravessar o mar mediterrâneo de barco e ir a Marrocos. Ao chegar à fronteira espanhola, a Tarifa, pagámos o bilhete de cada um e o transporte do carro. Já no barco aproveitámos para comprar maços de cigarros de 20 unidades, muito mais baratos que os comprados em Portugal e assistimos à maravilhosa vista que o Mar Mediterrâneo oferecia, e também a muita boa gente deitar borda fora o pequeno-almoço espanhol. Divertido! Ao chegar a Tânger e para passarmos a fronteira, para além de termos de passar por vistorias, fomos abor-

dados por um “simpático” polícia que nos aconselhou a dar dinheiro a outro polícia, para podermos eventualmente passar. Ora, como jovem portuguesa meti a mão ao bolso e dei um euro… O polícia olhou para mim com aquela expressão “Deves estar a brincar comigo, só isto?!”, mas não sei porquê (talvez porque e correctamente pensaram que não éramos pessoas com muitas posses), lá nos deixaram passar. Andar de carro em Marrocos é como o contacto com a polícia marroquina, é algo que eu não aconselho! Não há regras, não há prioridades.. é salve-se quem puder! Quando quiserem ir a Marrocos de carro façam um seguro porque os habituais não funcionam lá… Nós não fizemos seguro e tivemos muita sorte porque a probabilidade de acontecer algo era realmente grande. Demorámos uma hora a chegar ao destino. A viagem foi brindada pela paisagem das lindas montanhas marroquinas e pelas temperaturas altíssimas. Depois de uns 100 km chegámos ao CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 55


destino… Chefchaouen! Chefchauoen é uma cidade nas Montanhas do Rife, é muito característica pelo branco e azul pintado nas casas, que se confunde com o céu. Foi construída no alto das montanhas para proteger em tempos a população local de invasões, tornando-se também uma cidade estratégica para combater outros povos. O vento quente com odor a especiarias é algo único e indescritível e o artesanato é muito característico e torna a cidade um labirinto de cores rico e especial. Sempre regateando (porque faz parte da cultura) compram-se coisas lindíssimas, desde especiarias, a pigmentos de cores, a couro e a bijutaria. As pessoas são muito cordiais e respeitam muito o espaço do viajante e ao mesmo tempo são abertas e 56 // www.IDIOTMAG.com


gostam de conversar. Andar por Chefchaouen pareceu-nos muito seguro e tranquilo! A maioria das pessoas fala o espanhol, o árabe e o francês… Ossos do ofício, o deles é o turismo! Quando nos perguntavam de onde éramos e nós respondíamos que éramos portugueses, a resposta era “batata frita” ou “bacalhau cozido com batatas”, numa pronúncia perfeita. Era assim que começavam a conversa e nós gostávamos, adorávamos conversar… está-se sempre mais próximo da história e da cultura quando falamos com as pessoas. Descobrimos que não gostam que lhes tirem fotos, que é possível ir tranquilamente visitar as aldeias próximas onde se produz o haxixe e que é claramente um local onde se mistura o novo e o antigo: existem mulheres que se vestem já com uma influência europeia e outras que vestem ainda a burca (traje tradicional muçulmano feminino). É uma cidade plena de mesquitas nos seus diversos bairros e várias vezes ao dia escutam-se as rezas que tornam a cidade ainda mais mágica.

Conhecemos vários locais para comer e eram sítios onde acabávamos sempre por permanecer a conversar com os nativos, a beber chá de menta (que ajuda com o calor) e a fumar chicha. É assim Chefchaouen, as pessoas são generosas e carinhosas. Convidam-te para fazer tudo o que for possível fazer e tornam-se teus amigos em poucos dias. A imagem que fica na memória é a da pequena cascata no centro da cidade. Pareceu-me um local de encontro da população. Tinha talvez 4 a 5 metros e ali encontravam-se jovens que saltavam desta altura para a água, observados por pessoas mais adultas que sorriam com a ousadia (como se já o tivessem feito antes!) e por crianças mais novas que se deixavam ficar nos telhados das casas a conCULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 57


templar. No mesmo local estavam as mulheres a lavar os enormes e maravilhosos tapetes típicos que ficavam depois ali a secar ao sol. Ficámos poucos dias em Chefchaouen mas valeu por tantas viagens já feitas. No dia em que viemos embora, os nossos amigos marroquinos fizeram-nos uma festa de despedida. Com batuques, cânticos, chá e comida, ficámos com a certeza de que voltaríamos, porque primeiro foi um local onde nos sentimos em casa e segundo porque foi uma viagem que soube a pouco!

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“BLACKJACKERS: INDIVÍDUOS QUE PRATICAM O BLACKJACK (...) MAS NÓS NÃO QUEREMOS VENCER, ESTAMOS SÓ A DESESTABILIZAR O JOGO” FORAM A BANDA SURPRESA A ATUAR NA HOLI IDIOT FEST, COMEMORAÇÃO DO PRIMEIRO ANO DA IDIOT. E QUE SURPRESA... Nuno Dias

Quem são os Blackjackers e como surgiu o nome? Blackjackers: indivíduos que praticam o Blackjack, jogo de casino no qual o objectivo é vencer o dealer com o máximo de 21 pontos... mas nós não queremos vencer, estamos só a desestabilizar o jogo. Blackjackers foi o nome escolhido pela primeira formação da banda no qual restam zero membros na formação actual. 60 // www.IDIOTMAG.com

Que tipo de sonoridades exploram? Quem têm como ídolo? Tentamos explorar um pouco de tudo dentro da música. Como ídolo não temos ninguém porque para nós não existem ídolos, somos todos feitos do mesmo. Ninguém tem mais uma mão ou mais um braço que nós e vocês.


Está bem presente a crítica política no vosso EP de estreia, Held Open May Cause Delay. É nessa direcção que querem levar a vossa música, um meio de intervenção social e político? Procuramos usar a música duma forma consciente, logo falar de assuntos banais como carros, damas e ouro não está nos nossos planos, a música teve sempre um papel importante na mudança das mentalidades das pessoas, socialmente e politicamente, se adormecemos, o mundo não vai mudar sozinho. Todos nós temos que contribuir de forma consciente dentro desta arte.

tros...juntar ideias e artes para juntos criarmos os movimentos artísticos do futuro. Esse novo “rock”... Quais são as principais dificuldades que uma banda em início de carreira tem que ultrapassar? Como agora somos tantas, mas tantas bandas, a maior dificuldade é encarar o nosso trabalho musical como um futuro emprego sustentável. Sendo 2013 denominado pelos Idiotas como o ano da criatividade, de que modo os Blackjackers se vão demarcar do que se faz por aí? Vamos lançar finalmente o álbum “Croissant, Champagne, Marquise et Ménage” que já conta com o Single “Tiger Pun” que saiu recentemente em videoclip. De certeza que concertos não vão faltar entre muitas outras coisas....

Qual foi o momento na vossa carreira que mais vos marcou até agora? Todos os momentos foram importantes porque aprendemos sempre alguma coisa a partir deles, cada experiência foi única. Porque há concertos que nos marcam, ensaios, conversas, saídas em banda, muita coisa já passou No futuro, onde podemos encontrar os Blackjackers? No Preço Certo em Euros, especial natal, ultinestes anos. mo episódio do Fernando Mendes, no revival Como acham que está o estado do rock em Portugal? do filme Ghostbusters em Bollywood de Por“Rock” que vemos e ouvimos em Portugal já timão, ou ainda em Nárnia. não é rock, é algo novo sem nome definido mas bem interessante. Há uma nova geração http://www.facebook.com/blackjackersband no “underground” a “berrar” novos hinos por http://blackjackers.bandcamp.com/ aí fora e temos que nos apoiar uns aos ou- http://youtube.com/blackjackersband

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Entrevista: Bernardo Alves FotografĂ­a: Valeria Galizzi Santacroce

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Conta-nos quem és, e como começaste a tua carreira. O meu nome é João Silva Pires, sou natural de Lisboa, tenho trinta anos, sou músico e Dj desde sempre. Não consigo precisar onde começou a minha carreira, mas poucas semanas depois da emissão dos primeiros “Dancefloor” (programa de rádio de António Pereira, emitido sextas e sábados entre as 00.00 e as 02.00 na recém inaugurada Antena 3), decidi que o meu objectivo de vida estaria ligado a esta actividade. Devia ter 11 ou 12 anos. Nesta altura já comprava discos, e pouco antes tinha aprendido, por mim mesmo, a tocar piano (num velho Steinway do meu primo Nuno) e a fazer música, na altura com samples num “486” a 80 mhz com 16 megas de ram e depois usando um sampler Akai. Pouco depois, com 14 ou 15 anos, já procurava pessoas com demos em k7 e cd. Nessa altura comecei a frequentar a loja Question of Time, de João Daniel, onde trabalhavam (e na qual paravam) algumas pessoas que me são importantes, das quais destaco o meu primeiro verdadeiro iniciador, Lino Rodrigues sem desmérito a outros que ainda hoje, quinze anos depois, mantenho como próximos amigos. O Lino apresentou-me a muitas pessoas, e uma delas foi o Rui Murka (na altura já um dj de respeito). O Rui, passado um ano ou dois, convida-me para ser residente do Frágil, espaço cuja programação e conteúdo estavam a seu cargo. Foi lá que me formei, e onde apurei o sentido estético pelo qual espero ser reconhecido, já que me mantive residente durante 13 anos. Ainda neste período, paralelamente, comecei a editar a minha música, com uma série de editoras, das quais apenas a Groovement ainda se mantém no activo. Com o passar dos anos pude trabalhar para e com algumas pessoas relevantes que me ajudaram a formar, como Rui Vargas, Rui Pereira (Trintaeum), Miguel Bello, João Cari e Pedro Tenreiro, João Maria e mais recentemente Luís “Magazino Costa e João Gonçalves, com o convite para a residência no clube Zero. Começaste a trabalhar com a Groovement desde o início, certo? Praticamente, sim. Foi através de um amigo que guardo comigo desde sempre, que agora vive em Londres, o António Alves que travei conhecimento com o Rui Torrinha, alguém que criava em si a ideia de formar um selo musical com alguns preceitos peculiares como a independência e o

apoio ao talento nativo. O percurso foi muito duro nos primeiros anos porque a visão que inspirava o projecto era um pouco fantástica, e como nós mesmos vivíamos a possibilidade de realizar um sonho artístico, ainda passámos por algumas experiências que testaram o carácter e a coesão interna do grupo. Fizemos várias noites para assistências difíceis, ou para pouca gente (e às vezes... nenhuma), mas eu sempre achei que é nessas alturas que temos de estar seguros do que queremos, e o Rui Torrinha nisso sempre foi inspirador. Foram precisos alguns anos até que a música que pretendíamos dar a conhecer e o seu contexto pudessem ser aceites e pretendidas por um público genuinamente interessado. A compilação que inicia o catálogo “Transcendances” teve o seu conteúdo curado pelo Rui e pelo António, e eu entro como artista nesta fase. Mais tarde, a partir de 2009 e até 2012, tive o prazer de encontrar e integrar artistas novos dentro do projecto (como o Infestus, ou o Helder Russo), enquanto o Rui procurou a participação de outras pessoas com percursos artísticos que nos eram interessantes, como o Tiago, os Johnwaynes ou o Humberto Matias, pessoas como o Vahagn ou o Jorge Caiado integraram-se naturalmente, de forma orgânica, durante este período. Como é que começaste o teu trabalho como consultor da Redbull Music Academy? Eu tomei conhecimento da RBMA aos 16 anos, na primeira edição, que aconteceu em Berlim. Nesse período era ainda muito novo para concorrer, e só uns anos depois é que o fiz pela primeira vez e no ano dessa primeira tentativa foi o João Barbosa que foi seleccionado (e muito bem: ele é actualmente conhecido como Branko, da célebre Mad Decent, e é um dos membros dos Buraka Som Sistema), eu fiquei muito feliz porque tanto eu como o Rui Murka fazíamos música com ele e o Kalaf e partilhávamos de uma saudável interacção artística que era contemporânea aos primeiros passos da Groovement. Mais tarde, em 2005, voltei a tentar e à segunda fui seleccionado para participar na edição que se realizou em Seattle, onde passei duas das melhores semanas de sempre na minha vida. Ao regressar fui convidado para integrar o painel de “embaixadores artísticos”, com a missão de representar o conceito e angariar candidatos com potencial para serem novos seleccionados. Nesse processo procurei dar o meu melhor para CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 65


ajudar todos a entregar candidaturas fortes e, coincidência ou não, alguns dos artistas que me são mais próximos e que editaram na Groovement, como o Infestus ou o Jorge Caiado, acabaram por ser seleccionados... eles, como outros, foram pessoas a quem pedi para concorrer e a quem ajudei no processo de candidatura. Que equipamento usas nas tuas actuações? Ainda bem que tenho ocasião de responder a esta pergunta! Eu digo-o porque já fui (até num passado recente) muito radical em alguns pontos de vista relativos a esta questão. Vivi sempre num meio muito dedicado aos discos, obcecado por discos, e para muitos dos meus amigos não haveria outra forma de se ser bom sem ser através deste meio. Sempre gostei muito de tocar discos de vinil, e ainda me considero tanto um coleccionador como um Dj que prefere este formato. Nem uma coisa nem outra, contudo, reduzem a seguinte, inevitável, conclusão: o volume de música que me é enviada e oferecida com fins promocionais é gigantesco e muita dela é interessante e integra-se no meu imaginário artístico como Dj. Eu nunca teria orçamento para comprar todo este material em vinil, nem força nas costas para o carregar, e acresce a isto que alguma desta música é exclusivamente digital (tal como uma boa parte do meu álbum “Ascensus” o é). Portanto vi-me com uma decisão: manter um formato familiar ou procurar adaptar-me e abrir-me à possibilidade de integrar estas possibilidades. Escolhi a última. Na prática prefiro evitar a utilização de um laptop e uso o Rekordbox para organizar playlists nos CDJ2000, quando posso, e sempre que se justifica também organizo uma mala cheia de discos. Tenho procedido à gradual digitalização da minha colecção de discos, e ultimamente tenho usado o Kaoss Pad 3 como processador 66 // www.IDIOTMAG.com

externo e sampler, algo que ajuda a personalizar e a dinamizar as actuações. Já não penso menos de um dj que actua com formatos digitais, se o set que dele oiço for musicalmente interessante e espontâneo, coisa que há alguns anos ainda me faria alguma espécie... mas os tempos mudam e também os pontos de vista. Quais os teus planos para “o ano da criatividade” ? Além do álbum que saiu agora, e cuja promoção deve envolver algumas festas em Lisboa e no Porto, tenho já alguns discos assinados com editoras internacionais, além da 4lux (editora que lança o álbum), a sair nos próximos meses. Estes trabalhos estão já concluídos, salvo alguma situação ainda inesperada. Entretanto, do álbum Ascensus, ainda há a hipótese de alguns dos temas mais dançáveis serem repescados para uma edição em vinil. Nunca fiz questão de editar música em grande volume, portanto a realização destes empreendimentos bastam-me para sentir que tive um “ano da criatividade” produtivo. Para mim, obras substanciais e substanciadas precisam de alguma maturação e certeza, por isso eu não editei mais do que uma pequena porção do que componho e escrevo. Prefiro poucos mas bons, do que demasiados e indistintos. O álbum, contudo, é um marco considerável, são 23 temas! Seria o suficiente para fechar a loja por uns tempos e tirar uma licença sabática do estúdio, mas neste tipo de trabalho, parar é morrer e há que procurar dar seguimento ao corpo artístico que se está a criar ao longo da vida. A nível de Djing, esperam-me algumas actuações em 2013 nos Estados Unidos e Amsterdão, e outras coisas ainda por confirmar. Espero que todo este trabalho encontre ecos de reconhecimento interno ao nível do empenho que tenho depositado nisto tudo.


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Telmo Fernandes

Le1f 68 // www.IDIOTMAG.com


DESDE SEMPRE A CULTURA, EM TODAS AS SUAS FORMAS DE REPRESENTAÇÃO, DESEMPENHOU UM PAPEL RELEVANTE, POR UM LADO, AO RECRIAR E REFLECTIR MODOS DE VIDA (EM TODO O TIPO DE CONTEXTOS), REVELANDO ATITUDES E VALORES MAIS OU MENOS CANONIZADOS E HEGEMÓNICOS; POR OUTRO LADO, NA APROPRIAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DA PRÓPRIA REALIDADE, ATRAVÉS DO ALARGAMENTO DA NOSSA VISÃO E HORIZONTES DE VIDA. A música, em particular, sobretudo quando cruzada, como acontece na cultura popular ocidental contemporânea, com outras formas de expressão visual, situa-se numa intersecção privilegiada deste axioma. Se nos concentrarmos no arco temporal (breve, em termos históricos) que teve início nos anos 1960, até à actualidade, conseguimos identificar um conjunto significativo de transformações que, no campo musical, como no social, significaram profundas mudanças de valores (estéticos, indubitavelmente, mas também e sobretudo culturais, num sentido lato). O universo que genericamente designamos ‘género e da sexualidade’ é, neste âmbito, paradigmático. Depois de um primeiro período de liberdade (rapidamente reprimido) que s e viveu nas primeiras décadas do século XX, com esse epicentro que foi a Berlim dos anos 20, foram necessárias quatro décadas para que a turbulência contestatária reemergisse, empurrando as fronteiras da masculinidade e feminilidade, e da própria sexualidade. Brilharam nesse período figuras marcadas pela androgenia, com des-

taque para a experimentação arty de David Bowie (e as suas múltiplas encarnações, continuamente reinterpretadas pelo próprio e por outras/os), a fisicalidade animal de Iggy Pop (a inaugurar um nervoso movimento punk cheio de carnalidade) ou todo o universo da Factory, com Andy Warhol e companhia. Ao mesmo tempo, a emergência do movimento gay, nos EUA, com repercussões na Europa, abriu portas à penetração de outras expressões da masculinidade e de feminilidade na cultura pop, com uma forte componente visual e coreográfica (exemplos? Os Village People ou a figura icónica de Grace Jones). Os anos 80 viram explodir múltiplas variações sobre estes temas, com figuras e bandas assumidamente gay a chegar ao topo das tabelas de vendas e a servir de modelo para adolescentes em todo o mundo (entre muitas outras: Erasure, Frankie Goes to Hollywood, The Communards, Soft Cell, Boy George e os seus Culture Club – mas na verdade, tudo, desde o cabelo armado com polpa, passando pelas cores exuberantes dos casacos com ombreiras, parecia anunciar uma nova era neste campeonato). Em Portugal, o inimitável António Va-

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Le1f

riações parecia ser a (brilhante) exceção à regra, num país relutante em sair do seu monocromático conservadorismo (se excluirmos, claro está, tudo o que se passava no Bairro Alto, em Lisboa). E de repente, tudo parece parar. Os rapazes cresceram e arrumaram as plumas no armário, de onde tiraram os fatos de corte clássico e as camisas de flanela em xadrez e os jeans. As raparigas voltaram a ter pouca alternativa, entre imagens de híper-feminilidade e balizas corporais rigorosamente vigiadas. Nada da exuberância do passado parecia agora excitar o imaginário pop, fazendo de personagens isoladas como Peaches (de resto, com um eco relativamente limitado) verdadeiras guardiãs da liberdade de expressão de género. Até que, de repente (ou vá, rapidamente), tudo na indústria musical se transformou, em boa medida mercê da alteração nas regras de consumo: com a acessibilidade generalizada da música e imagens via Internet, as produtoras e distribuidoras viram o seu papel secundarizado, devolvendo ao público a capa70 // www.IDIOTMAG.com

cidade de ditar modas através das suas próprias preferências (mensuráveis pelo número de hits, likes e downloads, novas palavras que fazem crescer água na boca a gestores e marketeers ). Escancaram-se assim de novo as portas à diversidade, com a possibilidade de auto-produção a partir de orçamentos muito mais limitados (que estimulam a criatividade), e os múltiplos suportes (TV, cada vez menos, ecrãs de co m p u t a d o r , telemóveis, tablets, leitores de mp3 e afins) enchem-


-se de ‘produtos frescos’ e (re)criativos. Recentemente, do próprio centro da cultura musical que tanto parecia contribuir para uma reprodução (cultural e, como tal, mental) de estereótipos masculinos e femininos fortemente vincados – o hip hop – emergiram figuras absolutamente desafiadoras da heteronormatividade, e é fascinante que o façam a partir de um outro ‘marcador’ de assimetrias sociais - a etnia – e de uma outra margem, a da cultura negra que nasceu dos guetos, e que é também herdeira de todo um património, com passagem obrigatória por New Orleans e o bairro nova-iorquino de Harlem. Experimentem ver um vídeo de Le1f ou de Mikky Blanco, e perceberão do que estou a falar. Não é que, por se apresentarem de forma ‘queer’ o seu discurso ou estética musical seja suavizada; muito pelo contrário, o vigor verbal do rapping e o minimalismo instrumental parece até ser amplificado e ganhar sentidos inesperados. Os exemplos têm-se suce-

dido, uns atrás dos outros (alguns com repercussões mais mainstream, como Frank Ocean e Azealia Banks), e vêm também dos cantos mais inesperados do planeta, como no caso interessante de Titica, uma performer angolana de kuduro, transexual e rodeada de apoio popular (o que nos faz de resto perceber como as generalizações, aqui como no resto, podem ser redutoras). A Associação ILGA Portugal, reconhecendo precisamente a importância de contrariar fenómenos de discriminação múltipla através de exemplos positivos, atribuiu este ano um dos seus Prémios Arco-Íris a Bleya, vocalista do colectivo Buraka Som Sistema que se assumiu publicamente como bissexual. Sendo, assim, e porque ganhamos tod@s com isso, viva o arco-íris musical!

Mykki Blanco

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ALMA TEM 28 ANOS, DRAW MENOS QUATRO. SÃO AMBOS NATURAIS DO PORTO, FAZEM PARTE DO COLECTIVO RUA E SÃO OS ILUSTRADORES DA NOSSA EDIÇÃO DE ABRIL. O RUA, CRIADO EM 2006, É CONSTITUÍDO POR MAIS DOIS MEMBROS, DON´T LOVE E MASH E NASCEU DO “AMADURECIMENTO E DA CONSOLIDAÇÃO” DE OUTROS PROJECTOS. O OBJECTO CENTRAL É A STREET ART E O GRAFFITI MAS ACTUALMENTE O COLECTIVO EXPLORA A ILUSTRAÇÃO, O DESIGN GRÁFICO E A FOTOGRAFIA. Tish 72 // www.IDIOTMAG.com


Fedor, Draw e Alma, Viana Criativa 2013

Quando surgiu o interesse por artes plásticas, graffiti e street art? ALMA- “O meu interesse surgiu após ver as primeiras paredes pintadas no Porto nos finais dos anos 90, que despoletou curiosidade em pegar numa lata e escrever o meu ‘tag’ pela 1ª vez, em finais dos anos 90, início de 2000. Apos várias experiências em 2005, comecei a assinar Alma e a levar as pinturas mais a sério. A Ilustração é fruto dessas experiências e da necessidade de levar o meu trabalho para outros suportes e poder expor o mesmo. Em 2009 tive o primeiro convite para um evento e em 2010 surgiu a primeira participação numa exposição. Desde aí a ilustração e a street art/graffiti têm sido abordados paralelamente sendo uma complemento da outra”. DRAW- “O meu interesse pelas artes surgiu ainda em miúdo, sempre me fascinou ver desenhos e pinturas que encontrava em casa de amigos ou familiares e que, aliado ao gosto que vinha a desenvolver pelo desenho naturalmente evoluiu para algo que passou a fazer parte da minha vida. Não tardei a ter o primeiro contacto com o graffiti e a street art que se aliaram mais tarde

à arquitectura fomentando ainda mais a minha vontade em fazer desta área parte activa do meu trabalho quotidiano. Primeiro optei pelo agrupamento de artes no ensino secundário e mais tarde, para minha formação profissional, segui arquitectura, um complemento ao trabalho que desenvolvo na área da fotografia, street art e artes plásticas”. O que te cativa mais na street art? Draw- “O seu carácter público, não institucional e não comercial que a distingue de outras manifestações artísticas. A street art tem expressão no espaço público de forma gratuita, acessível ao mais diverso tipo de pessoas com as mais variadas idades, personalidades e classes sociais, sem elitismos nem preconceitos. No entanto, concordo que haja ainda uma linha muito ténue no que respeita à classificação da street art como expressão artística ou vandalismo, mas que no fundo, cabe-nos a nós artistas da street art, trabalhar cada vez mais de forma a ir moldando aos poucos a visão da sociedade e conseguirmos a devida aceitação como artistas como acontece já noutros países que nos são próximos”. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 73


Quais as vossas referências e influências artísticas nas artes visuais e plásticas? Alma- “A minha maior referência é o Caos (MaisMenos), os primeiros ‘fames’ que vi no Porto eram assinados por ele e foi aí que vi que o graffiti ia muito para além do bombing e das tags”. Draw- “A minha inspiração surge não só de outros artistas de graffiti e street art, mas de todas as formas de expressão artística, desde a pintura, escultura, ilustração e toda a informação visual que me vai chegando diariamente, seja na cidade ou pela internet”. Como caracterizam e definem o vosso estilo de desenho, o traço e técnica? Alma – “O meu trabalho tem como base o uso do spray, que com o decorrer dos tempos se foi misturando com outras técnicas, tintas plásticas, marcadores. A técnica e traço estão constantemente a ser alterados, é um processo evolutivo. O estilo é a mesma coisa: gosto de estar sempre a experimentar coisas 74 // www.IDIOTMAG.com

Draw e Alma, Exposição “De olho na RUA” INKY (Porto)


Draw

Alma

novas, ainda não está muito enraizado”. Draw- “Essencialmente eu procuro expressividade, tanto a nível da composição e da utilização da figura humana (rostos expressivos) como a expressividade no registo empregue, mais sobre o esboço, riscado, escorrido. As obras não são composições fechadas na totalidade, há sempre um cariz de “por terminar” ou “em progresso” exactamente por usar esse registo quase que de caderno, mas na parede”.

mitir naquele momento”. Draw- “O trabalho que venho a desenvolver na área do graffiti / street art consiste essencialmente na representação da figura humana e na sua transposição para a grande escala. Um trabalho que, quer seja na cidade ou em galeria, tem como principal objectivo captar a expressividade da figura humana e das técnicas empregues, sobretudo o rosto, de forma a transparecer a carga emocional presente nas minhas peças e com a finalidade de criar uma espécie de interacção sensorial entre a obra realizada e o observador”.

O que vos inspira? Alma & Draw- “Tudo. A música, cores, texturas, publicidade, design, arquitectura. Toda a informação visual e imagética que compõe o nosso quotidiano e o espaço de cidade”. Pretendem expressar algum conceito em concreto nas vossas criações? Alma- “Certos trabalhos realizo sem qualquer conceito subjacente, outros já são desenvolvidos com uma temática e uma mensagem mais vincada. Não existe nenhum padrão definido, abordo o que achar oportuno trans-

Como é que cruzam linguagens, interpretações e criações dentro do mesmo colectivo? Alma & Draw- “Cada um dos elementos tem uma forma individual ou particular de abordar o trabalho. Pensamos, ao mesmo tempo, ser esse o desafio primordial de trabalhar em conjunto, nomeadamente como Colectivo RUA, onde apesar de ser possível identificar a individualidade de cada elemento, trabalhamos unindo esforços e ideias, de forma a almejar um estilo próprio que nos identifiCULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 75


que. Este processo é fruto da partilha de conhecimento, técnicas e ajuda mútua”. Quais os objectivos artísticos do Colectivo? Alma e Draw- “Tal como tem acontecido desde que nos juntamos, os projectos têm-nos surgido de uma forma muito natural. É óbvio que temos algumas ambições e metas que pretendemos atingir, no entanto, penso que não se devem acelerar nem forçar situações, temos o objectivo de levar isto mais à frente, conquistar novas frentes mas contudo o futuro é incerto. Queremos mais, desde que seja bom”. 76 // www.IDIOTMAG.com

Que peça ou evento vos marcou mais até hoje? Alma e Draw – “Cada peça tem um gosto especial, dada a situação ou contexto em que se insere. Salientamos o Fórum da Maia, porque na altura foi uma boa experiência, ambos experimentámos técnicas e registos que ainda não tínhamos desenvolvido, que passaram a fazer parte do actual trabalho que temos vindo a desenvolver”. Como foi a experiência do Gare e na Miguel Bombarda? Alma e Draw – “Boa. Boa visibilidade, contacto com gente diferente (distinta da que acompanha o nosso trabalho de rua) e possibilidade de estabelecer novos contactos.”


STREET ART “IN AND OUT” Quem admiram na street art nacional e internacional? Alma- “Existem inúmeros artistas internacionais, demasiados para enumerar. Em Portugal o Draw, Virus, Caos, Oker, Maniaks, Tosco, Mar, Smile, Vhils, Mesk, entre muitos outros”. Draw- “Referindo apenas alguns nomes, penso que a minha inspiração surge de pintores como Santiago Ydañez, Paula Rego, Goya, até nomes do graffiti nacional e internacional como El Mac, ARYZ, Rems183, JR, Borondo, Arm Colective, Alma, Maniaks, CNJS, Mr. Dheo, Smile, MaisMenos (Caos), entre muitos outros. No entanto, penso que aqueles em que mais me inspiro ou admiro são aqueles com quem pinto, com quem partilho paredes, técnicas e ideias”. Draw e Alma, Maus Hábitos

Como vêem actualmente a street art no Porto? Que principais diferenças sentem no movimento artístico de rua nos últimos anos? Alma & Draw- “Já teve melhores dias. Actualmente está muito parado, existem várias pessoas a pintar graffiti mas stencil, posters, autocolantes e instalações na rua, cada vez há menos. Têm surgido bons nomes, bons trabalhos mas poucas oportunidades, o que está a condicionar e limitar a criatividade da maioria dos artistas de graffiti / street art”. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 77


PORTUGAL FASHION SPRING/SUMMER 2013/2014

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A IDIOT ESTÁ A PAR DO QUE DE MELHOR SE FAZ EM PORTUGAL. DURANTE 3 DIAS, CONCEITUADOS DESIGNERS DE MODA BEM COMO MUITOS JOVENS PROMISSORES APRESENTARAM AS SUAS COLECÇÕES OUTONO/INVERNO NA 32º EDIÇÃO DO PORTUGAL FASHION. OS IDIOTAS ESTIVERAM NOS DESFILES E NO BACKSTAGE E AQUI VOS DEIXAM UM CHEIRINHO MUITO AGRADÁVEL DAS TENDÊNCIAS MADE IN PORTUGAL Bruno Manso

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A Idiot Mag, este mês, encontrou o Gustavo Vieira no passeio das virtudes… tinha acabado de chegar de Lisboa e nada como ver o Porto daquela varanda sobre o Douro! Tem 19 anos e estudou na Escola de Moda do Porto. Hoje vive em Lisboa, onde é responsável por uma loja de roupa. O Gustavo pensa que a moda de rua no Porto tem muito para dar, até mais do que na capital, dizendo também que os portuenses se preocupam cada vez mais com as tendências e se vestem cada vez melhor. Bruno Manso CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 85


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CINEMA // A Caça: Mads Mikkelsen interpreta o papel de Lucas, um pai que trabalha num jardim de infância numa vila dinamarquesa e que vê a sua vida destruída por uma mentira de uma das crianças. O rumor, a desconfiança e o ódio implacável dos adultos face a uma suspeita infundada vão transformar Lucas e a sua relação com a comunidade, para sempre. Um drama poderoso realizado por Thomas Vinterberg e excelentemente interpretado por Mikkelsen, o que lhe valeu o prémio de melhor actor no festival de Cannes do ano passado. Comédia Explícita - Movie 43: Com um elenco de luxo e de diferentes realizadores, esta comédia cruza várias histórias hilariantes onde tudo se pode esperar. Desde relações amorosas insólitas (envolvem práticas sexuais menos comuns), passando por um “blind date” com um jogo de sedução levado ao extremo até

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relações familiares comicamente doentias, tudo cabe nesta comédia provocadora e embaraçosa. A primeira história com Kate Winslet e Hugh Jackman deixa qualquer idiota KO. Com Gerard Butler, Emma Stone, Naomi Watts, Richard Gere, Elizabeth Banks, Uma Thurman, Halle Berry, entre outros. Psycho: Revisitem ou vejam pela primeira vez um dos clássicos do “suspense” e um dos mais famosos filmes e êxitos do mestre Alfred Hitchcock. Realizado em 1960 com baixo orçamento e tempo limitado, “Psycho” conta com a participação de Anthony Perkins, Janet Leigh, Vera Miles, John Gavin. Se viram o recente filme “ Hitchcock” de Sacha Gervasi (que também aconselhamos) lembram-se do brilhante momento em que Anthony Hopkins se delicia com os gritos do público. Aproveitem a dica e (re) vejam agora “Psycho” numa sala cheia. Tomar um duche nunca mais vai ser o mesmo. TV // Touch: Protagonizada por Kiefer Sutherland, a segunda temporada desta série volta a contar com a participação da actriz Maria Bello (Lucy, mãe de Amelia). Martin, Jake ( David Mazouz) e Lucy estão agora juntos na procura incessante de Amelia ( Saxon Sharbino) que está agora nas mãos de Calvin Norburg (Lukas Haas), um ex -funcionário da Astin Corps. Atrás dos “36” anda também Guillermo Ortiz (Said Taghmaoui), um padre jesuíta que se tornou um assassino para livrar o mundo daqueles seres “especiais”.


Overgrown: O novo álbum de James Blake é lançado a 8 de Abril e tem colaborações de RZA e Brian Eno, em “Take a Fall for Me” e “Digital Lion”, respectivamente. O produtor britânico que disse ter-se inspirado neste segundo trabalho “em coisas que nunca se tinha inspirado antes” vai estar por cá dia 30 de Maio no Optimus Primavera Sound. “Retrogade” foi o single com que Blake nos apresentou “Overgrown”. Por aqui, a pré-escuta já roda há umas semanas.

Haruki Murakami - O Impiedoso País das Maravilhas e o Fim do Mundo Um técnico informático, um elevador, caminhos subterrâneos, Marcel Proust. Uma cidade fantasma separada do resto do mundo onde vivem pessoas sem emoções. Vivem bem, não envelhecem nem morrem. O segredo? Não têm coração. Pela Casa das Letras.

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A SÉRIE THE COFFEE SHOP SERIES, CRIADA PELA ATRIZ LUÍSA FIDALGO E REALIZADA POR VIEIRA VASCO, ESTREOU NO DIA 7 DE JANEIRO DE 2013, NO CURTO CIRCUITO, SIC RADICAL. São treze episódios de aproximadamente 3 minutos cada, passados em cafés do Porto e de Guimarães. Para já, continuam a passar no CC e online no site do projeto – www.thecoffeeshopseries.com - ou no YouTube. Esta aventura começou em Agosto de 2012, quando a Luísa estava num café em Madrid, à espera de uma amiga. A amiga nunca chegou, mas o primeiro episódio – “Polaroid” - foi escrito. A partir daí, começaram as filmagens desta série que gira à volta da “Carol” (Luísa Fidalgo). Uma artista plástica, recém-chegada a Portugal de Nova Iorque. O que acontece nestas curtas são histórias surreais, cómicas ou semi-ro-

mânticas, sempre passadas em cafés. A criação deste projeto foi possível graças a bons amigos, muita vontade de fazer algo novo e de não ficar à espera de oportunidades. Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012 ajudou, os cafés do Porto também e por fim, o Curto Circuito. O “núcleo duro” da Série – Luísa Fidalgo, Vieira Vasco e Maria Ferreira da Silva (editora e câmara) – está já a preparar uma nova série, mais arrojada e com muitas novidades. A estrear, muito brevemente. Atualizações constantes em www.facebook.com/TheCoffeeShopSeries

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*aviso antes de ler, a pedido do editor, nesta crónica pululam obscenidades e relatos para maiores de 18… tabuísmos… “oratória [oeatórja]. s. f. (Do lat. oratorium). Literat. 1. Arte de falar em público proferindo sermões, discursos parlamentares, políticos, judiciais, académicos, elogios fúnebres…; arte da eloquência. (…)” (…) “oratório1 [oeatórju]. s. m. (Do lat. oratorium). 1. Parte de uma casa que se destina à oração; pequena capela doméstica. 2. Local, na Igreja Católica, consagrado à oração, especialmente em grupo. 3. Nicho ou armário, geralmente de madeira e com duas portas, que contém imagens religiosas e junto ao qual se reza. 4. Local onde os condenados à morte faziam as suas orações antes da execução da sentença. 5. Lugar, numa prisão, destinado a receber presidiários considerados merecedores de maior castigo. (…) 9. Mús. Drama lírico de assunto religioso, com assunto religioso, com solos, coros e orquestra, executado sem cenários nem representações. (…) 10. Bras. Conversa de noivos. estar de oratório. (…) 3. Preparar-se para sofrer grande desgosto ou prejuízo. (…) oratório2, a [oeatórju, -a]. adj. (Do lat. oratorius ‘do orador’). 1. Que é relativo à oratória, à arte de falar em público, à arte da eloquência. Arte +; género +. 2. Que é próprio do orador, daquele que pronuncia discursos em público. Dotes, qualidades +s; talento +. 3. Que é relativo à oração, ao discurso destinado a ser proferido em público ou que tem características desta. Estilo +; tom +.(…)” in Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa, Verbo, 2001

A relação entre Patrícia e C. era, como tantas outras todas, substancialmente oral. Eloquentes, ambos, enumeravam todas as formas de se foderem antes de cada encontro. De encontro ao lavatório, a mão de C. na anca dela a segurá-la a cada avanço, a mão de Patrícia numa tentativa de arranhar o espelho e segurar o prazer. Deitados de lado, coxas entrelaçadas e penetrações mansas, as mãos no peito, lábios e sussurros ao ouvido enquanto se vinham. A prometer. Escreviam a dois um crescente desejo de se comerem, que do subtil cruzava cada vez mais a linha para um fim do quero foder. Patrícia e C. oscilavam entre estar de oratório e encanto e o término de um acordar de alívio, a baterem-se uma já sem romancear muito. Patrícia e C. ou passavam das palavras aos actos ou paravam de vez de ladrar… e uivos de prazer pareciam cada vez mais longe. Patrícia e P. não falavam, ou quando o faziam era 96 // www.IDIOTMAG.com

tudo trivial. O encanto que P. exercia sobre Patrícia era quase devoção, culto reservado aos cantos mais escuros de casas nocturnas. Culto que a empurrava para os lugares mais lúgubres dos seus desejos, Patrícia com P. anulava-se. Não nas conversas, sobre música e temas triviais, nem na cumplicidade de terror quando o assunto era leve e brincalhão. Mas quando não falavam, quando um sinal do queixo dele, um toque leve no ombro ou um olhar frio lhe apontavam um balcão abandonado, uma casa de banho, um prédio em obras, uma entrada quase sem luz, nesses momentos Patrícia perdia-se e seguia-o cegamente, já molhada por receber o maior castigo, preparada para aquilo que de fora seria prejuízo, servil. Devota. A deixar-se ajoelhar enquanto ele lhe empurrava a cabeça em direcção ao sexo que a expectativa apenas deixava ligeiramente intumescido. A abrir-lhe o cinto com as mãos, as calças com os dentes, uma mão no peito. A outra a tirar-lho para fora. Aquele pau que gostava de crescer na boca dela. Que Patrícia levava até ao fundo da garganta e que a cada estocada se tornava maior e o seu fundo mais fundo até lhe caírem lágrimas. De P. só ouvia, em jeito de oração dele, “cura-me a dor que sinto”. Com L. era outra a história, ambos bons viventes, ambos eloquentes. Entre os dois paridade na forma mais profunda, bom vinho e muita comida. Jantavam e jantavam-se a cada encontro. Raros, tremendos. Eram festins diabólicos, almoços nus. Enquanto ele cozinhava, Patrícia despia-se na mesa da cozinha. A cada ingrediente que caía na panela, uma peça da roupa dela caía. Nos temperos só restavam as cuecas. E era aí, que ela, elevada na mesa, com um pé em cada cadeira, aberta para L. como uma peça de caça, se deixava provar. Antes sorvia a colher de pau que ele trazia na mão. Aprovava o manjar. Ele sorvia-a. O pescoço, os peitos, a barriga. Dizia-lhe que cada cozinhado tinha mais uma nuance do sabor dela. Num acto de foda completo. Sentia o bafo dele, quente como os tachos, entre o tecido e a vulva. Virava refogado enquanto os dedos brincavam com a tanga, desviando, colocando-os entre os lábios dela, subindo a mão à boca de Patrícia, mostrando-lhe o seu sabor, enquanto a boca de L. aplicadamente provava cada pedaço, lambendo de ponta fina o interior dos lábios vaginais. Tirando a peça que faltava para o chão, de cara no meio das pernas, num polir de língua lisa de alto a baixo. Faziam pontos de açúcar com o sexo dela e num não mais aguentar, era no chão que se devoravam, com


o cheiro e o borbulhar dos guisados, num sessenta e nove voraz de tanta vontade. Vinham-se, Patrícia sem os contar e L. num creme leite espalhado nos peitos dela. Depois, nus e derreados, jantavam. Ainda a guardarem-se para sobremesa. Da vossa, que se quer ajoelhada tantas vezes quanto elevada,

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Diz que em Abril, águas mil. Sendo assim proponho despertar novos afluentes, orvalhos e primaveras, com este estimulante especialmente dedicado à dilatação e ingurgitamento do ponto G. Com um guia compreensivo de como encontrar, sozinhas ou acompanhadas, o afamado ponto, que melhor seria definido por zona e também é conhecido por glândulas de Skeene, e com sugestão de várias posições para penetração e melhor estimulação, este creme confere uma sensibilidade maior ao interior vaginal, proporcionando, a meninas mais sensíveis, enxurradas de prazer. Propondo o alcance de novas intensidades e novos níveis de excitação sexual, prometendo até orgasmos vários e prazer ex-

tático, o descobrir da técnica japonesa iniciática Kio Ame, vem numa caixinha como a estética elevada de inspiração oriental a que a Shunga já nos habituou, e de textura sedosa e cor pérola branca é de fácil aplicação. Põe-se na ponta do dedo e aplica-se 3 a 5 cm no interior da vagina. A primeira sensação é de um foguete de frio que invade toda a zona vaginal. A partir da primeira penetração promete sensações mais intensas e um prazer diferente, fruto de toda a zona interior salientada. Aconselhado para a descoberta de novos prazeres, a experimentação de novas intensidades e muitas vezes para as alturas em que é necessário dar um mais forte acordar ao corpo para chamar a cabeça ao momento. Encontram-se estes e outros úteis acessórios em reuniões de enxoval para o ócio adulto, através de Carmo Gê Pereira. “Chuva de amor, Shunga” – 29,95€ CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 97


ESTRELAS PORNO TRISTES, ACROBATAS DE VARテグ, HOMENS DE MEIA IDADE BARRIGUDOS E SOPEIRAS DE ARRASTO. Carmo Pereira

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fotografia © Ana Anderson

Pois é, fui, por fortúnio ou infortúnio do destino, trabalhar umas horas para a Eros Porto junto com o parceiro Academia de Vénus. Uma tarde de sábado a entrar pela Exponor adentro, rodeada por um mar de gente que parecia ter vindo dos arredores do Porto (aquele Grande Porto com patine empresário-rural) e de mala rosa na mão para montar um stand! Sempre me pareceram um desconsolo feiras com os stands brancos montados, por isso não estranhem o meu estranhamento a luzes e paredes de placar brancas, onde esperava um pouco mais de decoração e glamour à volta de tanto (mau) sexo. Corridos todos os corredores fui para o stand que me competia, onde guardei a mala, adiei a entrada ao trabalho e escapei para uma voltinha. Primeira paragem, as estrelas porno

mais próximas, francesas, simpáticas, e que embora não tivessem grande pinta e um ar um pouco estragado ensinaram as duas primeiras preciosas lições: 1. como se faz uma boa pegada de mão na anca. Dei por mim a ter a minha mão mais calientemente reposicionada na anca da rapariga para a fotografia, com um aperta o corpo ao meu encontro que só faltava dizer “oh, si, assi carino”; 2. como tramar um possível marido mandando-o para a prisão. Mudo-me para França, torno-me estrela porno, passo dinheiro para a conta dele e faço uma denúncia anónima para investigação. Implacavelmente vai ser acusado de proxenetismo através das leis de protecção a trabalhadoras na indústria do sexo. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 99


N.E.: Reparem no olhar compenetrado do senhor...

Segue-se mais uma voltinha, mobiliário sexual que eram apenas uns sofazinhos que cada vez que alguém se deitava via-se a cuequinha; um show de strip com um casal arrastado do público, cuja moça estava preparada para estar em palco, loira, corpinho bem jeitoso e um soutien sem alças, e preparada também para ver o seu rapaz (com ar de tratador de piscinas) ser deitado ao chão e roçado por uma profissional do assunto (pontos a favor para o abrir de pernas da senhora no varão). Muitas lojinhas de produtos (tudo concorrentes, porque eu só tinha uma mesinha com a minha mala, mas garantia um brilharete), um ou dois barzinhos, palcos com espectáculos a aguardar... No fundo, tudo demasiado calminho para um sábado à tarde. O Sá Leão andava por lá, deu para aprender que umas algemas clássicas penduradas nas presilhas das calças ficam mesmo giras (vão começar a ver-me com umas por aí, melhor acessório de sempre!). A condizer com o ambiente, um stand de san100 // www.IDIOTMAG.com

des de leitão que, garantiu-me o senhor, estavam a sair sem descanso. E, txarammm txaraaammm, encontrar a Erica Fontes, a nossa galardoada actriz porno, que além de lindíssima, e com uma pinta de rapariga de porta ao lado, é super acessível e simpática e mesmo muito ocupada se desdobrou em delicadeza para me fornecer uns quantos autógrafos para trazer aos homens de cá de casa e aos amigos (e digo-vos já tinha tentado o mesmo com a Cicciolina há uns anos e a antipatia dela riscou-a da minha lista de gente com quem é aprazível contactar.). Também lá estavam os experts em body painting e graffiti BS Art, de Barcelona, que tinham o único sector bonito e com cor da feira. E já que falamos em B, não podemos esquecer o stand representante de BDSM, com a dominatrix Ama Monica, que encarnava um papel bem distante quer fora, quer em palco, e trazia um vestido muito esquisito de Dama antiga (branquinho, com flores....!!!!) para um dos


espectáculos, e um submisso com ar franzino e triste que levou com cordas e cera quente em cima a torto e a direito. Quanto a workshops e palestras não vi nada... e sexo ao vivo tinha que se pagar bilhete e entrar dentro dos deprimentes stands branquinhos... não sei se por uma questão de rentabilização ou para não subir o iva do Salão todo (http://www.publico.pt/sociedade/noticia/tribunal-decreta-que-espectaculos-eroticos-sao-artisticos-e-devem-ter-iva-a-05-1579935). Depois de ter entrado umas horinhas ao serviço, a explicar o que era a Academia de Vénus a quem passava, e já mortinha por ir embora, arrumei a malinha e passei por um stand onde uma miúda muita gira e estrelaça porno (se ainda

não for grande, vai ser), me raptou, perguntou o que trazia na mala e depois de breve demonstração, me deixou (com um ar bastante satisfeito), por lhe blingblings (pozinhos brilhantes comestíveis) da barriga ao pescoço, passando pelas belas maminhas! Atentos a este nome, a espanholita promete: Carolina Abril! De fugida escapei-me pelos vários corredores da Exponor, para ter uma das piores experiências da minha vida, carros de alta cilindrada com homens barrigudos dentro a piropearem qualquer rabo de saias que passasse (como tenho rabo e estava de saia, tramei-me...). Passado o desconforto, e chegada ao carro, a única opinião formada foi, não... NÃO, ISTO NÃO É A MINHA ONDA DE PORNO! (talvez eu goste de coisas mais kinky)

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Tiago Moura

SOU DA GERAÇÃO ‘VOU QUEIXAR-ME PARA QUÊ?’ HÁ ALGUÉM BEM PIOR DO QUE EU NA TV. QUE PARVA QUE EU SOU! SOU DA GERAÇÃO ‘EU JÁ NÃO POSSO MAIS!’ QUE ESTA SITUAÇÃO DURA HÁ TEMPO DEMAIS E PARVA NÃO SOU!

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REZAM OS NÚMEROS QUE A 15 DE SETEMBRO DE 2012 MAIS DE 600 MIL PESSOAS FORAM PARA A RUA COMO PARTE DA MANIFESTAÇÃO QUE SE LIXE A TROIKA! QUEREMOS AS NOSSAS VIDAS!. NO EVENTO, ORIGINALMENTE CRIADO NO FACEBOOK, CERCA DE 60 MIL PESSOAS CONFIRMARAM A SUA PRESENÇA NA MANIFESTAÇÃO E PERTO DE 25 MIL ASSINALARAM QUE TALVEZ SAÍSSEM À RUA. A TÍTULO DE CURIOSIDADE, 36 MIL PESSOAS RECUSARAM O CONVITE. A MANIFESTAÇÃO DE 15 DE SETEMBRO, ENTRE OUTRAS COISAS MAIS PREMENTES, VEIO REFORÇAR A IMPORTÂNCIA DAS REDES SOCIAIS, NESTE CASO, NA ESFERA DA INTERVENÇÃO SOCIAL.

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Ana Catarina Ramalho 110 // www.IDIOTMAG.com


fotografia © Elsa Silva

PARTAMOS DA LETRA DO PRIMEIRO SINGLE DO RECENTE ÁLBUM DOS DEOLINDA. ABRIL É LIBERDADE, ASSIM NOS FOI ENSINADO DESDE PEQUENOS. QUANDO PENSO NISTO É INEVITÁVEL NÃO PENSAR NA CÉLEBRE FRASE “A LIBERDADE DE UM TERMINA QUANDO A DO OUTRO COMEÇA”. PORÉM, NOS TEMPOS QUE CORREM, SOMOS NÓS QUE ESCOLHEMOS A NOSSA LIBERDADE OU APENAS FAZEMOS O QUE PODEMOS DA LIBERDADE QUE NOS DÃO?

Quando eu nasci, o nosso país era livre há, precisamente, catorze anos. Até aí a censura era implacável sobre todos os meios de comunicação, impedindo que a informação chegasse até nós fazendo com que a criatividade, a expressão de nós mesmos, não pudesse ter lugar. Passados já quase trinta e nove anos, já podemos gritar pelas ruas palavras de luta e de ordem contra aqueles que governam o nosso país. É impossível não falar no mês de abril e não relembrar todos aqueles que viveram sob um regime no qual não podiam expressar a sua voz e é assustador pensar que ainda é assim em alguns países deste mundo. O mês passado foi marcado pelo falecimento de um dos mais conhecidos ditadores do nosso tempo, Hugo Chávez, e pela edição de um catálogo capilar (chamemos-lhe assim) na Coreia do Norte, onde nenhum homem pode usar um

corte de cabelo igual ao do seu líder e onde as mulheres apenas podem escolher os cortes aprovados pelo governo. Felizmente, hoje em dia, em Portugal, são muitas as formas através dos quais podemos usufruir do dom da nossa voz - manifestações convocadas onde se canta em plenos pulmões aquela canção que foi o motto da liberdade; literatura onde já não se medem palavras e… a street art, que está a deixar de ser vista como vandalismo, e sim como arte. A street art é a denominação usada para distinguir a arte, no espaço público, do mero vandalismo. Ao ganhar forma na esfera pública aparece sob a forma de graffitis, esculturas, stencils, instalações ou mesmo teatro de rua e é através destes que os artistas põem em questão o mundo que nos rodeia, usando a sua própria linguagem, englobando o espetador para que este interaja e pense sobre o que vê. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 111


É, desta forma, um meio muito eficaz no que diz respeito à emissão de informação para o público, sendo muitas vezes usada como uma chamada de atenção para os problemas político-sociais existentes numa comunidade. Foi inaugurado no mês passado um local em Aveiro no qual os writers podem, finalmente, expressar livremente a sua arte. A proposta foi aceite pela Câmara Municipal de Aveiro, deixando que quatro paredes do Viaduto Agras do Norte ficassem disponíveis para os jovens artistas aveirenses. Depois da eleição de um Papa que representa um momento de mudança, este facto representa, também, uma alteração nas mentes dos portugueses, retirando o mito que nem todos os graffitis são sinónimo de vandalismo e a street art é uma arte de todos para todos. Acrescente-se que, no nosso país, segundo o Código Penal, a pena para destruição ou desfiguração de propriedade 112 // www.IDIOTMAG.com

alheia pode levar até três anos de prisão. Mas não é só em Aveiro que a street art começa a ser apreciada, no Porto há também já locais onde os writers podem deixar a sua marca, exemplo disso são o Skate Park da Maia e o Espaço da Fábrica Social. Sem pudor ou medo de restrições, os artistas podem dar azo à sua imaginação e criar, deixando que a sua arte seja apreciada. É preciso deixar para trás etiquetas ou estereótipos, o graffiti está a entrar cada vez mais num circuito profissional e é preciso distingui-lo de apenas vandalismo. Se hoje em dia todos podemos ter uma voz, é preciso que esta seja ouvida, qualquer que seja o meio usado. É esta a diferença da street art para qualquer outro movimento, uma vez que cada artista representa nas suas obras o problema que pretende que seja valorizado, acabando por se tornar numa demonstração manifesta de cultura pura.


NÃO SE PODE DEIXAR QUE O MUNDO SEJA ENGOLIDO POR DITADORES QUE NÃO QUEREM APENAS GOVERNAR O PAÍS, MAS SIM A VONTADE DAS PESSOAS. E TEMOS DE USAR A ARTE COMO CAMINHO PARA MOSTRAR A CRIATIVIDADE QUE SIMBOLIZA A NOSSA VOZ.

«VAMOS LÁ, QUE AINDA MAL NASCEU O DIA/ E NÓS AINDA TEMOS MUITO P’RA CONTAR (…)/ EU TAMBÉM SINTO QUE O MELHOR ESTÁ P’RA VIR.» ALGO NOVO, DEOLINDA.

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Aline Fournier

24.11.2011 – 10:36 Collombey, Valais Switzerland 116 // www.IDIOTMAG.com


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12.02.2012 – 10:53 Milano Italy

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A PARA O IÇ U S A IC ÍL ID DA L, ALINE A G U T R O P E DOC OUINOGF A (L R IE N FOUR OS AS N IA V N E ) E RAPH FOTOS E R O H L E M SUAS BINAM M O C E U Q , S GRAFIA NICOS COM CENÁRIOS Ú RTES. O F S E D A ID L A PERSON

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19.04.2010 – 12:47 Mont-Fort (3300), Nendaz Switzerland

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Rui de Noronha Oz贸rio

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Rui de Noronha Ozorio

Imaginem que vivemos um planeta onde, de repente, toda a gente via mal e os seus óculos eram funis. Sim, aquele utensílio de cozinha com a forma de pirâmide invertida. Guiar na cidade seria catastrófico, porque as pessoas viam o objectivo perfeitamente, mas o que estava ao lado era coisa que nem lhes passava pela cabeça, ou quando passava, andavam a medo, o que provocava mais acidentes… porque quando se anda a medo e com pressa de chegar a um fim… ao fim do funil, o mais provável é termos problemas a meio da viagem! Pois bem, aqui neste planeta, onde todos somos afunilados, todos os dias ficamos mais fracos, mais cegos, mais magros de carne intelectual. E que saudades dum bom bife do Mário Cesariny! O poeta surrealista que acabei de lembrar conhecia este planeta, ele viu-o como eu o vejo e chamou-lhe Civilização Ocidental, isto referindo-se ao regresso de Ulisses, dando em seguida a feliz notícia de que em breve iria acabar… mas o facto é que ela tem persistido e o funil tem fechado o glóbulo ocular das pessoas que ainda viam bem! As outras poderiam estar perdidamente cegas para sempre… como aquela cegueira do Saramago que era branca porque da alma! Esta civilização, portadora de todo o conhecimento, moderno e antigo, contemporâneo e clássico foi coabitando com o homem que, cada vez mais, se tornava umbilical com o poder. Hoje, e já no tempo de Rousseau, o homem nasce livre, mas vai-se corrompendo a cada momento de sociedade. Basta que nos lembremos de conceitos como a política, a religião e o dinheiro que promovem coisas incríveis como a guerra, o fundamentalismo e o capitalismo selvagem. Esse planeta está tão afunilado que ao fundo do funil a visão é tapada por uma nota de Euro ou de

Dólar, restando-nos apenas as sombras platónicas da realidade que se mexem através da luz, à frente daquela venda de cifrões! Reparem que o homem construiu as estradas para encurtar o caminho para um destino objectivo, foram-se criando estradas e mais estradas, até que hoje andamos na auto-estrada… ora aí está o problema, hoje o homem esqueceu-se de ver as paisagens da estrada nacional, deixou de olhar para o lado e ver que há mais mundo para além daquela objectiva reduzida do dinheiro. Então há a desordem, o caos, a luta Nietzschiana de todos contra todos, a eliminação do ser humano por ele próprio! Auto-estradas e fim da raça humana? Pois é bem verdade aquilo que vos digo! E não… não tenho a mania de que sou um iluminado, apenas tenho certo prazer em observar para além dos conceitos que me entregam! Neste cantinho lusitano, onde todos andamos de funil, criámos um acordo ortográfico que nada mais é do que um tratado económico, em que deixa órfãs as palavras e as lança para um guisado de letras sem ordem, em que os signos são encurtados, como as estradas que encurtam os caminhos, ou os políticos a vida humana! e continuamos todos de funis nos olhos! Os meios de comunicação social absorvem as coisas más e atiram-nas em medida XXL, a vida económica de todos os dias não nos deixa tempo para pensar, atravessamos esta crise de formas erradas e alimentamos esta perigosa civilização ocidental. De um lado, estão os lobos que querem fazer-te pobre e dependente, do outro, os lobos que querem ganhar as eleições. Isto faz com que vivamos, bipolarmente, entre uma mão direita que rouba e uma mão esquerda que assalta… e aviso já que os há ambidestros aos milhares. Este planeta enfrenta um período importantíssimo e decisivo para a continuação da vida: Ou pegamos num funil e patrocinamos um suicídio da existência humana, ou então viramos o funil ao contrário aumentando a visão para todas as realidades… e isto sim é tratamento para uma miopia reversível. No planeta onde todos tinham funis houve quem os tirasse, há quem os tire e passe a ver muito melhor e quando digo ver, não digo simplesmente olhar… CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 123


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RTP: RAIO QUE TE PARTA!

Rui Noronha Ozorio

Estávamos nós, portugueses, enxovalhados na austeridade que tem forrado as paredes das nossas casas, a ver mais um noticiário oco e bacoco como nos habituaram desde o tempo da Maria Cachucha… e, de repente, uma bomba nos nossos ouvidos: “José Sócrates volta ao cenário político, já a partir de Abril, como comentador da RTP”. Todos pensámos: Ah e tal isto é uma pouca-vergonha! Vem agora este Sócrates, Filósofo e redimido, lá de França, depois de nos ter roubado como podia e como não podia, depois de ter sacaneado e saneado todas as vontades de estabilidade. Como é que tem coragem? Várias perguntas houve, mas nenhuma consegue explicar a falta de vergonha na cara deste Engenheiro de Domingo à tarde e engenhoso Ladrão de massas… e entenda-se por massas tudo aquilo que tem cifrões, tudo aquilo que nos deixaram no prato e toda a população que, confortavelmente, vivia na ilusão da Classe Média! Várias manifestações de desagrado houve, nas redes sociais assinaram-se petições contra o regresso da besta, deputados chamaram à Assembleia da República, o novo director de informação da estação televisiva (até à data pública), um tal de Paulo Ferreira que veio substituir o Nuno Santos porque este, supostamente, tinha deixado a “bófia” ver uns selvagens a lançar pedras ao Parlamento… e a primeira coisa que faz é esta: convidar o imbecil do Sócrates para comentar a política do país, mas agora numa versão Pacheco Pereira, isto é, com ímpetos filosóficos de Sorbonne! Ora pensemos um pouco: não é estranho Nuno Santos ter sido afastado, para o Governo meter um gajo que a primeira coisa que faz é convidar o Sócrates? Aqui há Gato! Mas ainda não vimos

nada… podem estar certos que ainda veremos esses comentários em transmissão directa do Freeport Outlet de Alcochete! Entretanto aparecem uns apoiantes do dirigente socialista António José, que de Seguro só tem mesmo o nome, a dizerem: Isto tem mão do Relvas que quer enfraquecer a oposição socialista! E então acontece uma coisa muito engraçada: Vemos os Socialistas inseguros e com medo do camarada Sócrates, chamam a atenção para as mãozinhas inchadas e ridículas do Relvas no caso, como se o antigo primeiro-ministro fosse um ingénuo que, coitadinho, não sabia que havia mal em voltar a aparecer em público numa estação televisiva financiada por todos aqueles que pagam impostos cada vez mais abusados por sua causa! Hoje vivemos, de facto, numa república de bananas podres, somos dirigidos como marionetas, por corruptos que são imunes ao sentido de justiça e que andam de aventais a pavonear-se nas lojas desses palhaços da Maçonaria que governam tudo e todos nas nossas barbas! Brincam com as nossas vidas, com a nossa decência e com os nossos brandos costumes! E o que fazemos? Cantamos a palhaçada do Grândola Vila Morena a ver se o Zeca Afonso se levanta da tumba a anunciar uma nova revolução que, na realidade, nunca se conseguirá avistar! Sócrates terá direito de antena, mas devemos todos sintonizar a antena das nossas televisões mas para dizer a todos aqueles 230 burgueses gordos que sentam os rabos sujos no parlamento… que se mantiverem essa ideia anormal, teremos todo o gosto em mandá-los a um sítio que eu cá sei! Quanto a ti, José Sócrates Pinto de Sousa, olha vai para a RTP, como quem diz, para o “Raio que Te Parta!” CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 125


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