Folha da Rua Larga Ed.17

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Ana Carolina Monteiro

Ginga, charme e samba no pé

ONG traz exemplo de revitalização e procura artistas brasileiros

Moragas e Stelinha oferecem cursos de dança de salão que viraram mania na Rua Larga.

Lucy Bramley, da Roundhouse, fala sobre o majestoso centro cultural de Londres, reaberto após um processo de revitalização que durou dez anos.

páginas 8 e 9

Página 10

folha da rua larga

folha da rua larga RIO DE JANEIRO | JANEIRO DE 2010

entrevista

O ponto de vista de um morador sobre o Porto Maravilha

Revitalização da Rua Larga | Zona Portuária | Centro do Rio

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Nº 17 ANO III

Companhia de Desenvolvimento do Porto vem para movimentar 2010

Divulgação

O arquiteto e urbanista Antônio Agenor Barbosa dá sua opinião sobre a metodologia e a aplicação do projeto de revitalização da Zona Portuária e enfatiza a importância de se considerar as lutas dos moradores. página 5

lazer

Um dentista poeta A história do dentista português Luiz Antunes de Carvalho, um dos pioneiros na cirurgia bucomaxilar no Brasil, que teve consultório na Rua Larga. Criou fama no Brasil e na Argentina por sua propaganda em forma de versos. página 15

gastronomia Eduardo Paes discursa na cerimônia de posse da equipe da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio página 12

Casa Paladino e seu chope único página 14 Ana Carolina Monteiro página 14

Lielzo Azambuja

Monges beneditinos, do Mosteiro de São Bento, lançam segundo registro em CD Monges do Mosteiro de São Bento trazem registro de canto gregoriano e polifônico, desta vez com participação do coral Bento de Núrcia, formado por alunos do Colégio São Bento. O regente Dom Plácido fala sobre este 2º álbum do grupo, que apresenta uma versão indígena-gregoriana para Ave Maria. página 3


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nossa rua

Se essa Rua fosse minha

cartas dos leitores Que bela mudança

Estresse no trânsito

Olá! Estou de volta já dando pitaco. A primeira coisa que vi sobre minha mesa foi a Folha da Rua Larga, não pude deixar de dar uma espiada. Realmente, uma bela virada, parece até um novo jornal. Parabéns aos responsáveis, valeu o esforço. Em minha opinião, o jornal está dando o recado de maneira clara, fácil, simpática, dinâmica e divertida.

Outro dia, vi aqui em frente ao prédio da Rua São Bento, onde trabalho como vigia, uma cena lamentável. O motorista de uma van raspou o retrovisor nas costas de um pedestre, que reagiu chutando o carro. Não é que o motorista da van desceu e acertou um soco no rosto dele? Acho isso escandaloso, porque o pedestre era um senhor de idade. Depois, com a máxima calma, o dono da van puxou o carro e foi-se embora. Penso que as pessoas têm que ser mais calmas no trânsito. Se fosse onde eu moro, davam logo um tiro. Se todo mundo fosse mais tranquilo, melhoraria 100%. Se eu fosse presidente, mudaria muita coisa.

Juliana Costa

“Construiria mais lojas de roupas femininas e masculinas. A Av. Marechal Floriano está no caminho certo. É preciso ainda mais incentivo comercial para o progresso do comércio. Sou garçom e acho que minha área está bem representada” Otavio Trindade, garçom

Luis Felipe Younes do Amaral Instituto Light

Juliana Costa

“Melhoraria os casarões para renovar o patrimônio, deixaria a rua mais bonita. Abriria lugares para lanchar. Faria a manutenção de calçadas e asfalto, sem deixar buracos expostos por muito tempo, como nossos governantes têm feito” Vera Maria Luiza, aposentada

Juliana Costa

Roberto Silva, comerciante

“Exploraria mais o comércio, abriria lojas como Casa & Vídeo ou Casas Bahia. Além disso, melhoraria o sistema de ralo, porque, toda vez que chove, tenho visto inundar a rua toda. Cuidar da limpeza das ruas também seria minha prioridade”

Projeto gráfico - Henrique Pontual e Adriana Lins Designer assistente - Jade Mariane e Mariana Valente Diagramação - Suzy Terra Revisão Tipográfica - Raquel Terra Produção Gráfica - Paulo Batista dos Santos Impressão - Mávi Artes Gráficas Ltda. Equipe Comercial - Natale Onofre e Carlos Lyra Tiragem desta edição: 5.000 exemplares Anúncios - comercial@folhadarualarga.com.br

A loja O Dragão - A Fera da Rua Larga ficou muito conhecida quando começou a patrocinar, a partir de 1932, com este nome, o Programa Casé, na Rádio Philips, de grande sucesso de audiência, que tinha como atrações Noel Rosa e Marília Batista. Durante o programa, os locutores faziam uma pergunta que ficou famosa: “A Light fica em frente ao Dragão ou o Dragão fica em frente à Light?” Famosos também ficaram dois jingles, cantados por Noel e Marília, respectivamente: “No dia que fores minha, Juro por Deus, coração, Te darei uma cozinha, Que vi ali no Dragão. Morros do Pinto e Favela, São musas do violão. Louça, cristal e panela, Só se compra no Dragão.” Joel Ghivelder Arquiteto

folha da rua larga Conselho Editorial - André Figueiredo, Carlos Pousa, Francis Miszputen, João Carlos Ventura, Mário Margutti, Mozart Vitor Serra Direção Executiva - Fernando Portella Editora e Jornalista Responsável - Sacha Leite Colaboradores - Ana Carolina Monteiro, Antônio Agenor Barbosa, Carolina Calvente Ribeiro, Eliomar Coelho, Ivan Cesar, Juliana Costa, Karina Martin, Lielzo Azambuja, Nilton Ramalho, Ranti Máximo, Rodrigo Brisolla, Rômulo Barros e Teresa Speridião

O Dragão 1

O Dragão 2 Redação do jornal Rua São Bento, 9 - 1º andar - Centro Rio de Janeiro RJ - CEP 20090-010 - Tel.: (21) 2233-3690 www.folhadarualarga.com.br redacao@folhadarualarga.com.br

Achei o espaço destinado ao “O Dragão”, na edição de novembro, muito pequeno. Pela importância que teve, deveria ter recebido um destaque muito maior. Nei Carvalho Economista

Áureo Santos Ribeiro Vigia

Se a Folha da Rua Larga fosse minha Venho acompanhando o jornal da Rua Larga desde que surgiu e acho fundamental que ele exista. Sinto que a cada edição ele vai ganhando uma identidade, à medida que vai rodando e sendo lido pelos leitores. Gostaria de propor que vocês criassem uma coluna como uma ponte leitor-Rua Larga, seguindo a ideia do Se essa rua fosse minha... Imaginando que SE o jornal da Rua Larga fosse meu, que assuntos eu gostaria de ver abordados? Enfim, acho que seria bem bacana. Quem sabe alguns leitores não se aventurariam a serem repórteres por um dia? E vocês dariam uma supervisionada no texto, é claro! Fica a ideia. Beijos e parabéns! Paula Novaes Atriz

leitor@folhadarualarga.com.br


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Monges do Mosteiro de São Bento lançam CD Dom Plácido fala sobre o álbum Jubilate Deo, que mescla vozes de monges e alunos do Colégio São Bento Divulgação

Monges do Mosteiro de São Bento posam para a foto do encarte do segundo CD do grupo beneditino

Referência do canto gregoriano na cidade, os monges do Mosteiro de São Bento lançaram, na terça-feira, 22 de dezembro, o CD Jubilate Deo. A apresentação do coral na missa solene celebrada aos domingos já é uma atração turística altamente recomendada: “Ficou tão famosa a nossa missa que se tornou uma atração turística não para inglês ver, mas também para o turista ter contato com o sagrado”, afirma Dom Plácido Lopes de Oliveira, regente do coro de monges. O álbum contempla peças do século V ao XII, além de uma adaptação da Sonata Appassionata, de Ludwig Van Beethoven. Um dos pontos altos do registro é a execução de Ave Maria – Atauximbagê Mariá, composição indígena coletada em uma tribo do Xingu e adaptada pelo diretor musical Dom Plácido. O recital de lançamento teve participação da harpista Cristina Braga, do organista Alexandre Rachid e do Coral Bento de Núrcia, formado por alunos do Co-

légio São Bento. De acordo com Dom Plácido, a Ave Maria gravada nesse segundo disco foi uma tradução para a língua falada pela tribo Makuxi, feita pelo missionário austríaco Alcuino Méier, e adaptada ao estilo gregoriano: “Tínhamos que homenagear nossos índios”, concluiu Dom Plácido. O CD, gravado entre outubro de 2008 e junho de 2009, teve direção musical de Características do canto gregoriano - Melodias são cantadas em uníssono (monódico) - Não há predominância de vozes - Ritmo é livre - Sem compasso, baseado apenas na acentuação e no fraseado - Canto é a capella, isto é, sem acompanhamento de instrumentos musicais - Letras em latim, tiradas, em sua maioria, de textos bíblicos, sobretudo salmos

Dom Plácido e Gilvan Melo. As 15 faixas trazem canções natalinas como Noite Feliz, O Sanctissima, Puer Natus, Ângelus e Noite Azul. Dom Plácido afirma que o lançamento no dia 22 de dezembro não foi rigorosamente planejado, mas veio bem a calhar já que os hinos e antífonas se referem ao Salmo 98 (Jubilate Deo) muito presente no tempo litúrgico de Natal e Ano Novo. Curiosidades - É a mais antiga manifestação musical do Ocidente que se tem registro - Tem suas raízes nos cantos das antigas sinagogas, desde os tempos de Jesus Cristo - Seu nome é uma homenagem ao papa Gregório Magno (540-604) - Gregório fundou a Schola Cantorum, que deu grande desenvolvimento ao canto gregoriano - A partir da iniciativa de dom Mocquereau, no final do século XIX, o Mosteiro de São Pedro de Solesmes, na Fran-

O primeiro CD dos monges beneditinos do Rio de Janeiro foi distribuído em diversos países da América Latina e da Europa. Já o CD que acaba de ser lançado, além do canto gregoriano, que se caracteriza pelo uníssono, propõe também a execução de canções polifônicas, com abertura de vozes. Segundo Dom Plácido, embora todas as vozes sejam masculinas, há, entreça, passou a ser o grande centro de estudos e prática do canto gregoriano - As características foram herdadas dos salmos judaicos, assim como dos modos (ou escalas) gregos - Finais da Idade Média, a polifonia (harmonia obtida com mais de uma linha melódica em contraponto) começa a ser introduzida nos ofícios da cristandade - O conjunto alemão Enigma, que gravou o disco MCMXC a.D. com músicas de rock (Sadness e outras) em estilo gregoriano, alcançou sucesso mundial

tanto, uma divisão vocal em quatro estágios de frequência: tenorinos, sopraninos, tenores e barítonos. Dom Plácido, que já possuía experiência com regência de corais desde a época em que foi seminarista em Juiz de Fora, diz que não foi fácil fazer um trabalho de qualidade: “Quando peguei o coro dos alunos para fazer uma simbiose com o coro dos monges, tinha inicialmente um grupo de 80 crianças. Daí selecionei 50, depois 35, e em seguida 18. Desses 18, apenas nove gravaram”, explica. De acordo com o monge, a questão da afinação não é tão simples e muito importante. O monge lembra ainda que o canto gregoriano remonta o século IV, época de Santo Agostinho e Santo Ambrósio. O primeiro teria dito uma frase que se tornou célebre: “Quem canta reza duas vezes”. Mas a palavra “gregoriano” se origina do papa Gregório, um grande incentivador do canto, que, antes de sua existência, se chamava cantochão. Após a sua morte, ele foi canonizado, e, como homenagem, a Igreja mudou a denominação de cantochão para canto gregoriano. 2 de fevereiro: primeira oportunidade do ano para visitação do claustro Dom Plácido informa que a primeira chance de 2010 para se conhecer o claustro é 2 de fevereiro, dia de Nossa Senhora da Candelária, em que é feito um ritual com velas. Após essa data, há procissões também em Domingo de Ramos, Corpus Christi e Finados. No entanto, segundo o monge, não se trata de uma visita dos fiéis, mas de uma participação: “Somente quando vem um rei ou um presidente da república com a sua comitiva, visitam todos os cômodos de nossa casa”, explica. Entrar nas celas, entretanto, não é permitido: “É um lugar reservado

para a nossa dedicação. Somos monacos, aqueles que vivem só para Deus”. Apesar disso, Dom Plácido conta que alguns monges têm computadores nas celas: “Eu sou um dinossauro, mas muitos colegas têm”, brinca. De acordo com ele, isso ocorre porque há uma faculdade de Artes, Filosofia e Teologia no Mosteiro. Os monges são professores e não negam a facilitação dos estudos pelos computadores e ferramentas web. Dom Plácido explica sobre o dia a dia no Mosteiro: “Não vamos a pagode, forró, mas às vezes saímos, vamos a uma livraria...”. O abade garante que há mais de 150 mil títulos na biblioteca do Mosteiro: “O acervo não se restringe à temática religiosa. Há livros de história, artes, marxismo, comunismo, etc.” O acesso é livre, entretanto o Mosteiro não empresta livros, permitindo apenas a consulta local. Quanto ao assédio da imprensa, Dom Plácido confessa: “Fomos convidados uma vez para irmos ao Domingão do Faustão, na ocasião do lançamento do primeiro CD. Não aceitei, achei que não tinha nada a ver”. Quando questionado se fosse, por exemplo, o Programa do Jô, responde: “Aí, não sei. Graças a Deus não fomos solicitados”. Dom Plácido lembrou que o coro dos monges beneditinos do Rio de Janeiro foi o último a se render ao registro em CD, depois de monges da Bahia, São Paulo e Olinda. Ao final, brincou com a reportagem: “Podemos finalizar? Com essa roupa sinto muito calor...” O CD Jubilate Deo Pode ser encontrado na livraria Lmen Christi, localizada ao lado do Mosteiro e custa R$ 25.

Sacha Leite sacha@folhadarualarga.com.br


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boca no trombone

Cliques Rua Larga Sacha Leite

Ponto “G” da Rua Larga Reunimos urbanistas, arquitetos, artistas, sociólogos, psicólogos e sexólogos para que juntos pudéssemos encontrar o ponto “G” da Rua Larga. Entendem os especialistas que este ponto, se estimulado, será capaz de promover uma reação de orgasmo em cadeia em todos aqueles que vivem e trabalham na região. O fato promoveria um processo de ejaculação gradativa até que os habitantes da rua encontrassem um caminho real de revitalização. Depois de algumas pesquisas, consultas à internet, blogs, sites, portais, twitter... Após realizarmos estudos históricos avançados, consultas aos diversos órgãos sexuais, municipais e estaduais, o grupo concluiu: considerando que os pés da rua estão no Arsenal de Marinha e sua cabeça no Palácio Duque de Caxias, possivelmente, o ponto “G” se encontra nas imediações do Beco das Sardinhas. O ponto “G” vem sendo discutido amplamente pela imprensa. Uns dizem que ele não existe, outros chegam a realizar uma verdadeira topografia corporal para definir seu local. Mas o que fazer para excitar a rua e seu entorno, promovendo um efeito borboleta, envolvendo o poder público, a iniciativa privada e os moradores locais? A sexóloga Rosalva Ranti Younes Martin Serra, informou que o processo deveria ser iniciado através do diálogo in loco com os pupilos do Beco, tocando cada poro, indo do estado passivo ao de “pré-tesão”, tomando certo cuidado para quem está naquele período “pré-mensal”. O que ela quer dizer é que comerciantes precisam

ser abordados mais para o final do mês, onde estão mais duros. Em pesquisa no Google, colocando as palavras: rua – larga – excitação – revitalização, alguns sites apareceram, como por exemplo: larga com excitação, site francês, demonstrou que abertura vaginoarquitetônica do corpo urbano da rua é “large”, fato determinante para uma ação mais encorpada de penetração social, fator de sustentabilidade. Numa reunião “malagueta” sobre o tema, o Sr. Augustos César sugeriu: “Precisamos ir mais fundo, além do ponto ‘G’, para encontrar o DNA da Rua Larga!”. Através dele, segundo o cientista gastronômico, vamos poder decifrar as bases do trabalho a ser realizado para que a rua entre num processo de revitalização sexocultural. E concluiu: “Fora isso, só com Viagra”. Preocupada com muita reunião e pouca ação, a nossa sexóloga sugeriu que a excitação da rua, através do Beco, deveria começar por uma ação estimulante, com beijos quentes na boca da rua, perto da Light e depois, através de carícias em seus seios, na altura do Colégio Pedro II. Ficou decidida a elaboração de um projeto, envolvendo funcionários da Light e alunos do Pedro II, que organizariam uma pesquisa de opinião pública: “Como revitalizar a Rua Larga através da excitação de seus habitantes?”. As respostas podem ser enviadas para o e-mail desta coluna. Os 20 primeiros que responderem ganharão um chope de graça no Beco, pago pela direção do jornal, na sexta-feira, dia 22 de janeiro. Este é papo sério e depende da nossa participação.

Gabriel, O Provocador gabriel@folhadarualarga.com.br

Margarete Mendes, a “negona do axé”, soltando o vozeirão na sacada do Bistrô do Beco, microfone em punho, direcionando a energia para o público disperso abaixo e contagiando todos os adeptos da sardinha: “Faz tempo que não tem música ao vivo por aqui, ela anima o lugar!”, comentam os garçons. Sacha Leite

Esta é a aparência do Beco das Sardinhas quando chove. Cansados de aguardar liberação da prefeitura e do Iphan para colocarem ombrelones permanentes, esta foi a solução provisória encontrada. Na esquina da direita, o bar Tesouro estará fechado até março, quando reabrirá completamente renovado.


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entrevista

Um ponto de vista do Morro da Conceição sobre o Porto do Rio Antônio Agenor Barbosa

Antônio Agenor Barbosa mora no Morro da Conceição, um dos bairros que será atingido pelo projeto Porto Maravilha. Arquiteto e urbanista, mestre em Urbanismo pela UFRJ e professor do Departamento de História e Teoria da FAUUFRJ, Agenor responde às perguntas formuladas pelo engenheiro e vereador Eliomar Coelho sobre a revitalização da Zona Portuária. A prefeitura está realizando uma série de debates sobre os impactos do polêmico projeto em centros como o Espaço Cultural Cedim e Sebrae. Segue abaixo uma continuidade dessa bateria de debates. FLR - Como morador do Morro da Conceição, como avalia o projeto Porto Maravilha? Primeiro, quero dizer que sou totalmente a favor da ideia de revitalização da área portuária, inclusive no que se refere a algumas propostas de intervenção no Morro da Conceição e nas suas adjacências. Entretanto, creio que os métodos, os conceitos e as estratégias usados pela atual prefeitura são equivocados e, sobretudo, precipitados em grande parte. Cabe dizer que o próprio termo e/ou conceito largamente empregado, que é o da “revitalização” da área portuária, é arbitrário em alguns casos. Revitalizar significa trazer de volta a vitalidade. Porém, em muitas das áreas da região portuária – no Morro da Conceição, inclusive – este conceito simplesmente não se aplica, pois são áreas com uma imensa, resistente e qualitativa vitalidade urbana. Isso posto, também creio que estamos vivendo um momento em que não podemos mais aceitar passivamente as imposições

Vista da parte mais alta do Morro da Conceição: à direita, a Fortaleza da Conceição voltada para a Rua do Jogo da Bola

do poder público sem que estas se revertam em melhorias reais de condições de vida para a população residente aqui na região. E o projeto Porto Maravilha, com esse nome mais ligado a uma peça publicitária e do marketing do que a uma parte a ser reestruturada de uma cidade tão complexa como é o Rio de Janeiro, não me parece que atenderá a boa parcela destes habitantes que aqui residem. Eu mesmo já pude conversar pessoalmente com alguns diretores e técnicos do Instituto Pereira Passos (IPP) e constatei que os principais executivos que estão à frente do órgão não têm, infelizmente, nenhuma visão de cidade, do urbano e das suas múltiplas e complexas dinâmicas geopolíticas, territoriais e, sobretudo, sociais. Vi que esses executivos só têm certezas em relação às consequências da implantação do projeto Porto Maravilha na região. São homens que não têm dúvidas e que acham que o Porto Maravilha, por si só, vai trazer de volta para o Rio

de Janeiro o protagonismo perdido para São Paulo nas últimas três décadas, por exemplo. Mas eu, que sou um professor, quanto mais leio e estudo mais eu duvido do determinismo das coisas, sobretudo no campo do Urbanismo. Também sei que esses executivos que estão à frente do IPP são profissionais muito bem preparados por terem feito MBA nos Estados Unidos em Administração e/ou Marketing. Mas eles não sabem, ou não querem ver, que a cidade (que é, ou deveria ser pelo menos, urbs + civitas a um só tempo) é para todos e não apenas para alguns privilegiados. Creio que os executivos do IPP desconhecem e ignoram o Rio nas suas facetas multiculturais e até caleidoscópicas. Eles têm uma visão de mercado determinista, homogênea e utilitária da cidade. A visão de cidade que já me apresentaram nas exposições do projeto Porto Maravilha é reduzida à sua dimensão econômica (que julgo importante, mas incapaz de trazer à luz

outras compreensões mais sutis). Acho até que eles podem estar vendendo algo que não conhecem. Vendem um Rio virtual, pois o Rio real é muito “barra pesada” para eles. Até a cultura é vista sob a ótica econômica, e só! São executivos e profissionais bem sucedidos do mercado financeiro e das grandes consultorias de negócios que operam internacionalmente. São pessoas com este perfil que estão à frente da condução e da viabilização do projeto Porto Maravilha. Assim, creio que a cidade vista sob esta ótica – como a do próprio projeto – promete ser idílica para os poucos privilegiados que terão esta oportunidade após a chegada (tardia) do Estado. Alguns que aqui residem e esperaram tanto pela chegada do Grande Irmão e agora não vão poder nem participar da festa de inauguração do Porto Maravilha, pois vão ser expulsos já nos primeiros preparativos para a festa. Eu mesmo, que sou um professor, repito, talvez até

AA possa vir a participar da festa de inauguração desse Porto Maravilha, mas na condição de ex-morador do Morro da Conceição, e talvez só venha a ser convidado em função da rede que tenho de contatos influentes (na política, na imprensa, na universidade, etc.) e não por que serei bem-vindo nesta nova cidade que se anuncia grandiosa, pródiga e promissora para quem pode pagar (caro) por ela. Ainda que ela tenha vista para a (poluída) Baía de Guanabara. E aqui, no final da minha resposta, foi só uma provocação mesmo para dizer que acho inconcebível falar de Porto Maravilha sem falar da despoluição da Baía de Guanabara. E se as três esferas de Poder (União, Estado e Município) estão tão afinadas, esta seria a hora de atrelarmos aos projetos de revitalização do porto uma agenda dos três poderes para a despoluição, de fato, da Baía de Guanabara.

FRL - As autoridades envolvidas no processo de revitalização estão ouvindo as populações atingidas? Se você achar que ouvir é o suficiente eu diria até que sim. Mas acho que apenas ouvir a população é pouco e insuficiente face a uma intervenção desse porte. O que a população necessita e quer é participar ativamente dos processos e das tomadas de decisão em relação ao lugar em que vive. Creio que quem sabe o que é melhor para o Morro da Conceição, por exemplo, são os moradores daqui e ninguém mais. Ainda que neste conjunto de moradores você encontre, e isto também é legítimo, posições antagônicas e conflitantes.

FRL - Qual o impacto da revitalização do Porto sob o Morro da Conceição? Os moradores apoiam as intervenções previstas para o bairro? Acredita que o conjunto arquitetônico será respeitado? Teme que o Morro da Conceição sofra o crescimento desordenado vivido no bairro da Lapa? Recentemente, eu escrevi um artigo intitulado Revitalização do Porto, Iphan e Políticas Culturais no Morro da Conceição. Esse artigo foi escrito a quatro mãos, juntamente com um vizinho meu que é antropólogo e professor, Tomas Martin Ossowicki. Creio que as respostas para essas perguntas estão totalmente desenvolvidas no referido artigo que foi publicado em vários veículos. E o mais curioso é que conseguimos coletar dezenas de assinaturas de moradores que concordaram plenamente com o que foi exposto no nosso artigo. FRL - Sabemos que há planos de instalação de um retroporto (área para megaguindastes e contêineres), o que exige utilização de grandes glebas de terra. Em 2007, já foram removidas dezenas de barracos que se encontravam no trajeto da alça viária que desviará o tráfego de carretas para o novo Porto. Acredita que a revitalização incorrerá em remoção da população que reside na região? Sim. Não tenho dúvidas quanto a isso. O projeto Porto Maravilha tem, evidentemente, facetas ainda não muito explícitas de um projeto civilizatório e higienista, infelizmente.

Eliomar Coelho eliomar@eliomar.com.br


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opinião

Vizinhança invisível no Cais do Porto do Rio de Janeiro

A arte de andar pela região da Rua Larga

Sacha Leite

Mandamentos da casa, inscritos em placa de madeira

Evento organizado por moradores da Zona Portuária (Saúde, Gamboa e Santo Cristo), realizado na Praça da Harmonia

Jádiziam os mestres Janet e Haroldo “Madame diz que a raça não melhora Que a vida piora por causa do samba Madame diz que o samba tem pecado Que o samba, coitado, devia acabar Madame diz que o samba tem cachaça Mistura de raça, mistura de cor Madame diz que o samba, democrata É musica barata sem nenhum valor Vamos acabar com o samba Madame não gosta que ninguém sambe Vive dizendo que samba é vexame Pra que discutir com madame” Certa vez, em um sábado, li no jornal O Globo a seguinte declaração de uma leitora, contra uma festa de réveillon em Ipanema: “A população que paga impostos caros tem que ter o direito de poder dormir em paz, de chegar em casa. Há

os galpões do Cais do Porto que não têm vizinhança. Por que não fazem festas barulhentas por lá?” Como estamos iniciando novo ano e nova década em que a prefeitura do Rio anuncia uma série de intervenções urbanas relativas ao projeto Porto Maravilha, gostaria de usar este espaço privilegiado que a Folha da Rua Larga me cedeu para fazer uma breve reflexão sobre a declaração acima transcrita. Acho oportuno informar à moradora de Ipanema que, no entorno dos galpões do Cais do Porto do Rio de Janeiro, existe sim uma enorme, antiga e consolidada vizinhança. Os habitantes do Cais do Porto foram, historicamente, excluídos das intervenções higienistas e civilizatórias do Estado, a exemplo da reforma Pereira Passos, em 1903. Já entendi tudo: Ipanema é civilizada e não merece uma festa com música barulhenta. Ipanema é Bossa Nova e o Cais do Porto é o quê? Penso que a região do Cais do Porto possui uma

vizinhança que, assim como a de Ipanema, também “tem o direito de poder dormir em paz, de chegar em casa”. E é uma vizinhança que também paga impostos como outros tantos brasileiros. E os monges beneditinos que residem no Mosteiro de São Bento não são considerados “vizinhança”? E os moradores do Morro da Conceição, do Morro da Saúde, da Ladeira do Livramento, da Rua Sacadura Cabral? E os médicos residentes do Hospital dos Servidores não são considerados vizinhança? Pelo teor da declaração da moradora de Ipanema, a área do Cais do Porto possui uma vizinhança totalmente invisível. A região da Zona Portuária da cidade do Rio de Janeiro é composta, basicamente, por três bairros, a saber: Saúde, Gamboa, Santo Cristo e por franjas de outros bairros como o Centro da Cidade, São Cristóvão, Cidade Nova, Caju e outros. Nesta região existe a mais antiga ocupação informal da Cidade: o Morro da Favela, agora conhecido como Mor-

ro da Providência. Ou isso também não seria considerado vizinhança? Quando o Morro da Favela foi ocupado inicialmente, Ipanema sequer existia como projeto. Ali, em volta do Cais do Porto, existia a Pequena África. O Cais do Porto, a Pedra do Sal e a Praça Onze eram os redutos do semba, lugares de “umbigadas”. Depois veio o samba. Ipanema era o que nesta época? Mas, assim como no samba de Janet de Almeida e Haroldo Barbosa, imortalizado na voz de João Gilberto, eu pergunto, “pra que discutir com madame?”. Só me resta dizer que, no carnaval (ou réveillon) que vem, eu também vou concorrer e o meu “bloco de morro vai cantar ópera.” Portanto, acho que se a moradora de Ipanema quer ser contra as festas no seu bairro, eu acho legítimo que esteja à frente desse movimento, mas ela deveria evitar declarações como essa, ainda que elas tenham sido geradas pelo seu próprio desconhecimento do que é a realidade e a história do Rio de Janeiro fora das praias da Zona Sul. O próprio termo/conceito largamente empregado, que é o da “revitalização” da área portuária, me parece equivocado. Revitalizar significa trazer de volta a vitalidade. Mas, em muitas das áreas da região portuária, esse conceito simplesmente não se aplica, pois são áreas com uma imensa, resistente e qualitativa vitalidade urbana. Só não vê quem não quer! Ipanema, todos sabem, ainda brilha à noite, mas o Cais do Porto é que reluz que nem ouro.

Antônio Agenor Barbosa antonioagenor@terra.com.br

Caminhando pela Rua Larga no mês de janeiro, chegamos a uma conclusão: o Rio está mesmo em clima de ano novo. Um dos bares do Beco das Sardinhas, o Tesouro, está reformando; boa parte do efetivo de funcionários das empresas da região tira férias; espaços culturais aproveitam para fazer obras que estavam pendentes há muito tempo e muitos praticam um merecido recesso. No entanto, dizia um professor: a história é como um bule de água que se coloca para ferver. Parece que nada está acontecendo, nos distraímos, e, quando menos se espera, começa a borbulhar. Foi o que ocorreu com o projeto Porto Maravilha, há 20 anos na gaveta. Após diversas reuniões com grupos representativos de diferentes setores da sociedade, a prefeitura do Rio criou o CDURP, ligado à Secretaria Especial de Desenvolvimento, para estimular, regulamentar e controlar a compra de ações imobiliárias no Porto do Rio. A passos ritmados, percebemos que, mesmo nesta época do ano, o Studio Marcello Moragas e a Academia Stelinha Cardoso estão a pleno vapor. Após trabalhar durante anos com o professor Carlinhos de Jesus, eles abriram as respectivas escolas e o que não falta é aluno interessado. Ambos oferecem o curso “samba no pé”, apropriado para esquentar as turbinas para o carnaval. Fica a dica. Prosseguindo a caminhada, vimos que o Mosteiro de São Bento, no coração da Praça Mauá, também não para nunca. Os monges beneditinos que lá habitam acabaram de lançar o CD Jubilate Deo. Dom Plácido, regente do coro, explicou que fez uma rigorosa seleção e, de 80, escolheu nove coralistas: pela primeira vez houve

esse mix entre as vozes dos monges e as dos jovens estudantes. Um destaque do novo álbum, que também traz canções polifônicas, é a Ave Maria cantada em mukuxi, uma tradução da oração católica para a língua indígena, adaptada ao estilo gregoriano. Andando para mais longe um pouquinho, conversamos com Júnior Perim, da ONG Crescer e Viver, que explicou sobre a vitória política e artística do circo social: eles obtiveram sucesso em suas reivindicações por um espaço, sendo contemplados pelo governo do Estado com uma lona, também na Praça Onze, específica para as necessidades da ONG. Alargando ainda mais os horizontes, falamos com Lucy Bramley, produtora da ONG inglesa Roundhouse. O caso do grande centro artístico em Londres, que mesmo sendo um ícone da música internacional nos anos 60 e 70, onde se apresentaram artistas como os Rolling Stones, Pink Floyd, The Doors e Jimi Hendrix, foi abandonado e fechou as portas no início dos anos 1980. Na década de 1990, o empresário Torquil Norman, dono de uma fábrica de brinquedos, iniciou o processo de revitalização, dialogando com todas as esferas da sociedade, levantando o capital necessário e reabrindo o local em 2006. Além de funcionar como um grande centro de espetáculos, a instituição oferece capacitação para jovens excluídos. Um bom exemplo de realização no campo urbanístico, cultural e social. E, em clima de pré-carnaval, a caminhada passou ainda pelo polêmico Ponto G da Rua Larga. Bom passeio! Sacha Leite sacha@folhadarualarga.com.br


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empresa

Eletronuclear faz fim de ano solidário Empresa sediada na região da Rua Larga promove Natal Sem Fome em parceria com Fome Zero Divulgação

Pelo terceiro ano consecutivo ocorreu o evento Natal Sem Fome, que contou com toda a infraestrutura necessária, através da equipe do Programa Fome Zero – Eletronuclear. Como nas edições anteriores, a alegria no rosto das crianças mostrou que o evento foi um grande sucesso. Uma parceria entre o Programa Fome Zero, do Governo Federal, a Eletronuclear e o Instituto de Ecodesenvolvimento da Baía da Ilha Grande (IED-BIG) possibilitou a realização do evento nos bairros do Parque Mambucaba e Frade, em Angra dos Reis, nos dias 19 e 20 de dezembro. No sábado (19), aconteceu na Praça Ulisses Guimarães (Parque Mambucaba), das 11h às 18h. Domingo (20) foi a vez do Frade (Rua Boa Esperança) receber a festa, no mesmo horário. Funcionários, contratados, estagiários da Eletronuclear e voluntários participaram ativamente, dando suporte às atividades que foram programadas. Houve recreação para crianças de todos os gostos e idades, com brincadeiras, lanches, apresentação teatral, voluntários fazendo tatuagens (desenhos) nas crianças e distribuição de presentes feita pelo Papai Noel. O público infantil ainda recebeu aplicação

Crianças da comunidade do Frade com os seus presentes de Natal Divulgação

de flúor realizada por profissionais da área de Saúde da Fundação Eletronuclear de Assistência Médica (FEAM). O sucesso do evento se deveu ao comprometimento de todas as instituições acima citadas, que, conforme conta o coordenador do programa, Sr. Francisco Carlos dos Santos, transformaram o Natal de muitas crianças na realização de um grande sonho.

Papai Noel entregando a mochila da Eletronuclear e do Fome Zero a uma criança

Carolina Calvente Ribeiro redacao@folhadarualarga.com.br


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cultura

Dançando nos sobrados Professores de dança de salão, discípulos de Carlinhos de Jesus, fazem história na Rua Larga Ivan Cesar

Marcello Moragas, o mestre-sala “Dança de salão é todo tipo de dança de casal, aquela em que você precisa de um par. Um homem dançando com uma mulher”, explicou Marcello Moragas. Instalado na Visconde de Inhaúma, encontra-se o Studio Marcello Moragas – Dança de Salão. O estúdio, que já esteve em vários pontos diferentes do Centro da cidade, foi fundado em 1990, mas apenas em 2008 foi aberto no local atual. O seu proprietário, Marcello Moragas, de 39 anos, é professor há mais de duas décadas. A dança apareceu de surpresa na vida de Marcello. Quando ele era adolescente, sonhava ser jogador de vôlei. Ele até fez parte do time do Fluminense por oito anos, mas a sua estatura não era ideal para um jogador profissional, o que foi aos poucos acabando com as chances do seu sonho se tornar realidade. Aos 18 anos, o relacionamento com uma namorada tinha chegado ao fim. Com isso, um amigo lhe chamou para ir a uma festa. O evento, que acontecia na Cia Aérea de Dança, mudou a sua vida. “Quando eu entrei na festa e vi as pessoas dançando daquele jeito, eu fiquei surpreso! Eu não conhecia aquilo. Tudo era novo para mim. Aquela dança de pessoas rodopiando, uma levantando a outra. Eu fiquei com vontade de aprender aquilo, eu queria fazer igual”, comenta Moragas. Logo em seguida, ele começou a fazer aulas nesse estúdio com o professor João Carlos Ramos e, em apenas um ano, já estava dando aulas.

Marcello trabalhava, pisava no chão da Saputambém, para o jornal O caí”, conta Moragas. Fora Globo, levando os repór- as atividades do estúdio, teres e fotógrafos para os Marcello Moragas tamlocais das reportagens. bém trabalha em outros Ele manteve os dois em- locais. Todos os sábados, pregos para conseguir se ele dá aula para crianças sustentar com tranquili- carentes e que frequentam dade. Até que, um dia, o a igreja de Santa Rita, no seu veículo foi roubado. Centro. Sem carro, ele saiu do O seu estúdio atende jornal e continuou so- pessoas de todas as faixas mente ensinando a dança etárias. “Não existe limide salão. “Eu comecei a te de idade, sexo, classe dar muitas aulas particu- social. Na dança, todos lares também. Era o que são iguais”, diz Marcello. me ajudava bastante fi- Atualmente, ele possui nanceiramente. Ensinava uma média de 200 alunos no estúdio e para as pes- inscritos em seu estúdio. soas em casa”, acrescenta As aulas passam por váMoragas. rios estilos de dança diSua habilidade era tan- ferentes. Fora isso, ele ta que o reconhecimento disponibiliza o curso de começou a aparecer. No “samba no pé”, o único ano de 1993, ele foi con- que não necessita de um vidado a parceiro fazer parpara sua te da Cia. realização. de Dança Esta danCarlinhos ça pode ser de Jesus. O executada sucesso foi por uma tão grande, pessoa apeque ele e nas. Carlinhos Quando realizaram questionaviagens a do sobre o vários paítempo que ses do munuma pessoa do, onde se leva para Marcello Moragas a s s i m i l a r apresentavam em todos os eventos de detalhes da empresas – na maior parte dança de salão, Marcello dos casos – e shows aber- Moragas explica: “É intos ao público. Marcello determinado o tempo começou como dançari- mínimo de aprendizagem no e foi subindo de cargo para uma pessoa, isso vai com o passar do tempo: de cada aluno. A dança ensaiador, coreógrafo e evolui, ela não para, semdiretor artístico. Ele fi- pre tem coisas novas para cou no grupo até março aprender. O aluno tem de 2009 – totalizando 16 sempre que acompanhar anos de trabalho. esta evolução. Quanto Moragas também se mais tempo e mais prátienvolveu com o carnaval ca esse aluno tiver, mais carioca. Por mais de 10 habilidade com a dança anos, ele foi assistente de ele vai adquirir”. direção do Carlinhos de Para ele, uma das granJesus na Estação Primei- des dificuldades de manra de Mangueira. “Eu era ter um estúdio no Centro sempre o primeiro que é a grande inconstân-

“Não existe limite de idade, sexo, classe social. Na dança, todos são iguais”

Marcello Moragas em apresentação no América Futebol Clube

cia no fluxo de alunos. “Como o Centro da cidade é movido por empresas, isso gera um grande movimento de pessoas. Um dia a pessoa está em um cargo ou em uma firma, no outro ela já está em um local diferente. Assim eu não consigo manter um número fixo de alunos, nem os alunos ficam por muito tempo, já que é inviável para eles virem até o local. Aos finais de semana a situação fica ainda pior”, explica Marcello.

Os porquês da dança - Acredita-se que o uso do braço lateral durante a dança venha do fato de que, antigamente, os soldados carregavam a espada no lado esquerdo - A postura ereta e o torso fixo vêm do balé, que possui a mesma origem - A dança de casal foi levada a vários países das Américas, onde foi misturada às maneiras populares e típicas de cada país. Surgiu então o tango, na Argentina, o maxixe e o samba de gafieira, no Brasil, e a habanera, em Cuba, que originou vários outros ritmos, como a salsa, o bolero e a rumba - Os comitês de dança de salão internacional fazem de tudo para conseguir incluir o “Dancesport” ou “Ballroom Dance”, dança de salão de competição, nos jogos olímpicos de verão - O estilo de dança conhecido como soltinho é derivado do swing americano


cultura

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Sacha Leite

Sacha Leite

Alunos da professora Stelinha Cardoso se preparam para o “soltinho”

um crescimento de 70% no vivo e divertido. Aprendo a diferença e identifico a difinúmero de alunos. Os praticantes da dança de culdade de cada ritmo, adoro salão no espaço Stelinha Car- o soltinho e o samba. Tento doso são, na maioria, funcio- aprender e me aprimorar, não nários de empresas da região. gosto de fazer passos feios”, A secretária executiva da Li- declara ela. A irmã e sócia, Márcia ght, Márcia Heinzelmann, há sete meses na academia, defi- Cardoso, destaca o comporne o que passou a significar a tamento dos alunos: “Fechadança em sua vida: “Dançar mos no dia 18/12 e reabrimos dia 4/1. é movimenAs pessoas to, é prazer, ficam saué poder mosdosas. Não trar através é como em de seu corpo academia o que vai no de ginástica, seu interior. que a aula É uma foracaba e todos ma sadia de vão embora. extravasar. Há todo um E não preenvolvimentendo parar.” to pessoal e No entanto, isso é muito Márcia recogratificannhece que o te”, conclui. treinamento Outro ponto tem um cerpositivo desto nível de Stelinha Cardoso tacado pela dificuldade: gerente é o “Stelinha é acompanhabem exigente, o que me estimula. Não mento do desenvolvimento tenho intenção de ser profis- dos alunos: “Tem gente que sional, mas faço questão de chega aqui sem saber nada, fazer bonito nos bailes e po- nada de dança. Daí vai se der dançar com quem sabe. É soltando e de repente começa a dançar”, relata. extremamente prazeroso”. Para Stelinha, a academia Márcia conta que precisava praticar uma atividade física, se tornou o espaço das criana conselho de seu médico, e ças: “A filha do porteiro daque não se identificava muito qui de frente, de nove anos com ginástica: “Fui conhe- de idade, virou aluna, outra cer e assistir a uma aula, me vizinha, de 15 anos, também encantei com tudo, com as quis se inscrever. Talentosas, músicas, o som, os passos, elas não saíram mais daqui, a atenção tanto da Stelinha viraram as estrelas da casa”, quanto da Rosângela, as se orgulha. A professora conbrincadeiras que são feitas o ta que quatro meninas do tempo todo, e não quis mais Colégio Pedro II se tornaram parar. O ambiente é alegre, alunas: “Eram lindas, duas

“Quero trazer para cá o movimento do samba tradicional e promover encontros de dançarinos da antiga”

Stelinha Cardoso em sua academia, na Avenida Marechal Floriano

Stelinha Cardoso, a porta-bandeira Para quem costuma caminhar pela Avenida Marechal Floriano é difícil ignorar o sobrado nº 42, em frente à lanchonete Bob’s. A música envolve a rua e o passante é quase obrigado a inclinar a cabeça e conferir o treinamento dos diversos amantes da dança na academia Stelinha Cardoso: “É como se eu estivesse num palco e as pessoas lá fora nos vendo, muitas vezes batendo palmas e participando”, sintetiza a

diretora. Formada em dança de salão, Stelinha opina sobre o projeto de revitalização da região: “A dança se moderniza a todo instante. Em um momento de resgate de casarios e de todo o patrimônio material e imaterial dos arredores, gostaria também de participar, promovendo o renascimento do samba aqui neste espaço e trazendo grandes personalidades da gafieira tradicional para lustrar ainda mais este lugar predestinado a brilhar”. Após trabalhar por 11 anos com Carlinhos de Jesus e de-

pois mais três na Estudantina, Stelinha conta como veio parar na Rua Larga: “Uma vez precisei vir ao INSS, em frente à Light, quando vi a placa ‘Vendo’ aqui no sobrado. Foi então que cogitei mudar de endereço. Falei para os meus alunos: ‘Estou dando um passo largo’ – ri, indicando o trocadilho com o nome antigo da Rua – ‘temos um novo espaço à nossa disposição, mas vocês vão ter que ficar comigo pelo menos por três meses...’ ”. Segundo ela, não somente os antigos permaneceram, como houve

delas eram gêmeas. Chegavam aqui ao meio dia, todas de uniforme. Pegavam rápido, só que o estudo acabou impedindo a frequência delas”. A dançarina, que já conta 22 anos de carreira, possui larga experiência no ensino dos três ritmos básicos da dança de salão: bolero, suingue e samba. Ela revela, porém, a sua afinidade primordial com o mundo do samba: “Gosto mais do arrasta-pé. Sou porta-bandeira, passista. Quero trazer para cá o movimento do samba tradicional, promovendo encontros de dançarinos da antiga e criando a Confraria da Gafieira”. Stelinha compartilha que pretende realizar almoços dançantes em todo primeiro sábado do mês, a partir de março. A entrada custará R$ 10 e a refeição R$ 8,50. Haverá música ao vivo, em geral, guiada por um conjunto de chorinho. Stelinha afirma que em três anos de frequência não teve problemas de segurança: “Nunca recebi alguém dizendo ‘acabei de ser assaltado’. Em Botafogo, isso aconteceu algumas vezes”. A dançarina acredita que o movimento noturno aumentou muito devido a confluência de estudantes provenientes de cursos técnicos e universidades, como Gama Filho, Estácio de Sá, UniverCidade e Cândido Mendes. Toda segunda e última sexta-feira do mês são realizados bailes de 18h a 0h no estúdio. Segundo a coordenadora, não há problemas em sair tão tarde no Centro. A porta-bandeira divulga também que promoverá, nas segundas-feiras que precedem o carnaval, o curso “samba no pé”. Há anos Stelinha tem ministrado a oficina, que tem por missão esquentar as turbinas para os dias de folia. Outra atração muito procurada é a aula de tango com o professor Paulo Araújo, que acontecerá a partir de março às 19h30.

Sacha Leite e Rodrigo Brisolla redacao@folhadarualarga.com.br


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social

Um 2010 para crescer e viver melhor Escola ganha novo espaço e permanece na Praça Onze, onde capacita jovens há 10 anos Júnior Perim afirma: “Gosto mais de poder do que de dinheiro”. O articulista, que está escrevendo uma autobiografia resumida para a coletânea Tramas Urbanas, organizada por Heloísa Buarque de Holanda, é coordenador executivo da ONG Crescer e Viver, que capacita jovens de 7 a 25 anos em técnicas circenses. Recentemente, a lona que acomoda a instituição há uma década quase foi extinta. Isso porque o governo do Estado solicitou o terreno, na Praça Onze, para a abertura de um centro de inteligência em segurança pública. Júnior Perim se utilizou da experiência em alavancar movimentos sociais para resolver o problema. A partir da reivindicação, receberão um centro para o Crescer e Viver, na própria Praça Onze, com melhorias na estrutura e salas apropriadas para as atividades desenvolvidas pela entidade. Contente com a vitória, Júnior antecipa: “Para o espetáculo de inauguração

do novo espaço, convidamos o governador Sérgio Cabral para ser mestre de cerimônias e ele aceitou”, comemora. O coordenador esclarece que ficou feliz, sobretudo por poder permanecer em um lugar que é conhecido como o berço das tradições circenses: “A Praça Onze abrigou a circulação de grandes circos, como o Spinelli, dirigido por Benjamin de Oliveira, conhecido como o primeiro palhaço negro do Brasil”. Segundo Júnior, o circo na Praça Onze foi importante também para impulsionar a indústria fonográfica: “Os bolachões tocavam no circo Spinelli, em São Cristóvão e na Praça Onze. A linguagem circense teve particular importância no aquecimento da indústria fonográfica”, relaciona. Sobre o convívio com os mais de 200 jovens inscritos nas oficinas de especialização em circo, Júnior conta: “Jefferson é um trapezista de 120 kg que tem uma grande inteligência sinestésico-cor-

poral. Falei para ele: ‘Vê se estuda, leia bons livros. Isso vai refletir na sua atividade no trapézio’ ”. Júnior incentiva a instrução dos jovens e afirma que ele próprio não teve tanto acesso quanto gostaria: “Faço parte da sociedade dos não canudados, dos não formais. Dos poetasmatados, assassinados por uma lógica de mercado excludente”.

A Roundhouse, centro criativo para jovens excluídos, em Londres

tir de 1960, astros do rock do naipe de Jimy Hendrix, Pink Floyd, Rollings Stones e The Doors começaram a se apresentar no lugar, transformando-o em um ponto cultural muito

O produtor cultural mostrou-se otimista com o ano que se inicia: “Após recebermos a maior companhia de malabarismo da Europa, a Shake That, 15 jovens do Crescer e Viver irão para o sul da Itália, para participar do Festival de Arte, Juventude e Direitos Humanos”. Também objetivando o intercâmbio cultural e artístico, integrantes do Crescer

e Viver vão para o 2º Circus Fest, na Roundhouse, em Londres. De acordo com Júnior, a proposta seria apresentar números do repertório de espetáculos e promover trocas artísticas entre países europeus. Do continente americano, apenas Brasil e Colômbia foram convocados. Além disso, o Crescer e Viver receberá, em abril, por uma curtíssima temporada, o Circo Social del Sur, de Buenos Aires, que tem uma proposta de inclusão social através do circo. Além de intercâmbios com outros países, Júnior Perim anuncia a estreia da Minicompanhia do Crescer e Viver, em março: “Faremos, pela primeira vez, a montagem de O grande circo místico, de Edu Lobo e Chico Buarque, numa linguagem circense”, sorri. A companhia mirim é formada por crianças de 7 a 11 anos. Segundo Júnior, os ensaios já começaram e as canções serão interpretadas por membros do programa de integração pela

música, em quatro únicas apresentações. A estreia de O grande circo místico está prevista para março. Já para o segundo semestre de 2010, está agendado o Circo do Miudinho, cujo tema é o olhar infante de Guimarães Rosa sobre os insetos: “Estrearíamos em 2009. Não o fizemos para não correr o risco de soar uma imitação do Cirque du Soleil, já que a coreógrafa Debora Colker criou o espetáculo Ovo, sobre tema semelhante”. Júnior explica que, para ele, o fio condutor entre os shows é a busca pelo sentimento da brasilidade, que estaria contida em espetáculos como Vida de artista, sobre personagens do imaginário popular do circo; Gentileza, que conta a história do profeta; Baião, a respeito da vida de Luiz Gonzaga e Circo do Miudinho, sobre as memórias infantis do escritor Guimarães Rosa.

1980, fechou as portas. Segundo Lucy, o declínio ocorreu devido aos seguintes fatores: dificuldade de manutenção em uma área tão extensa, problemas administrativos, como também a fama de “antro de drogados”. Foi aí que, em 1996, o milionário Torquil Norman, dono de uma fábrica de brinquedos, decidiu iniciar um movimento de revitalização do centro artístico. O empresário arrecadou fundos tanto do governo quanto de empresas privadas, totalizando 27 mil libras, somados a quatro mil libras de seu capital pessoal. Em 2006, a casa de espe-

táculos reabriu com ênfase no circo, devido ao seu formato redondo, que lembra um picadeiro. O diferencial, de acordo com Lucy Bramley, está no novo foco de atuação: um centro criativo para jovens excluídos. Todos que por algum motivo não estejam na escola, não tenham o que comer, onde morar, ou sofram discriminação racial, sexual ou religiosa são bem-vindos. Eles vêm diretamente ou são encaminhados por organizações que contatam a Roundhouse, recebendo bolsas nos cursos oferecidos pela casa. O espaço está à procura de grupos que promovam inclusão social através da

arte. No entanto, cabe ressaltar: eles trabalham com dois anos de antecedência. Ou seja, estão buscando agora atrações para 2012, ano em que Londres sediará os Jogos Olímpicos. Lucy Bramley solicita: para participar desse intercâmbio sociocultural é necessário enviar uma mensagem para leitor@folhadarualarga. com.br, detalhando o funcionamento do projeto a ser inscrito. A equipe da Folha da Rua Larga encaminhará as mensagens recebidas para os produtores da Roundhouse.

Artistas mirins e alunos da Escola de Circo Social Crescer e Viver em festa de fim do ano

Divulgação

Revitalização urbana, artística e cultural: o caso da Roundhouse Lucy Bramley, produtora cultural da ONG inglesa Roundhouse, esteve no Rio de Janeiro entre o final de 2009 e início de 2010, para reunião com grupos, como o Crescer e Viver, que se apresentarão no majestoso espaço cultural localizado na parte norte da capital inglesa, em maio de 2010. Lucy traz uma história análoga ao que se pretende realizar na Zona Portuária do Rio nos próximos anos. A londrina relata a história da Roundhouse, onde inicialmente funcionava um galpão ferroviário. A par-

Vinícius Daumas

nobre. Durante mais de uma década o espaço testemunhou shows antológicos de grandes nomes da música internacional. No entanto, logo no início dos anos

Da redação

Da redação


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comércio

Instrumentos que fazem história Há 80 anos, Ao Bandolim de Ouro abastece os músicos cariocas Sacha Leite

Nas manhãs de sábado, enquanto parte do Centro do Rio de Janeiro está mais tranquila, o comércio está aberto e agitado. Ao andar pela Avenida Marechal Floriano, o pedestre pode encontrar uma antiga loja de instrumentos musicais chamada Ao Bandolim de Ouro. Chegando perto do local, vários tipos de sons invadem o ar e formam uma melodia característica conhecida como choro ou chorinho. Das 9h ao meio dia, a música não para de sair do estabelecimento. Em um clima de muita descontração, clientes entram na loja, fazem compras, assistem à apresentação, cantam, tiram fotos e batem palmas. Músicos chegam e saem. Alguns tocam e outros só assistem. No dia em que a Folha da Rua Larga esteve no Ao Bandolim de Ouro, uma média de doze músicos formavam a roda. A rotatividade era grande, alguns saíam e outros entravam. Mas, de acordo com Julinho, nem metade da roda estava presente no dia. Pois, como a apresentação acontece todos os sábados, o fluxo de participantes varia, já que nem todos podem estar presentes sempre. Além do que os músicos estão ali por prazer, o que não torna o encontro uma obrigação, mas um evento descontraído. Na época em que a loja abrigava uma escola de música, Julinho, um dos professores, criou a roda de choro. Ele e os outros mestres se juntavam para tocar chorinho para os alunos. O sucesso foi tanto que, em 23 de maio de 2002, eles foram convidados a se apresentar pela primeira vez na loja. O convite foi tão bem aceito pelos músicos e pelos clientes que a atividade atraiu cada vez mais pessoas. Julinho batizou o grupo de Rafa Show, uma homenagem ao seu ídolo Raphael Rabello,

Seu Hélio Souto, dono da loja que promove rodas de choro gratuitas aos sábados, e de muita história para contar Sacha Leite

Um dos cavaquinhos à venda no Ao Bandolim de Ouro

famoso violonista e criador do grupo Os Carioquinhas. Além dos professores que fazem parte da roda de chorinho, grandes personalidades também lecionaram e completaram o quadro de mestres da antiga escola de música do Ao Bandolim de Ouro. Horondino José da Silva, o Dino Sete Cordas, foi o violonista que mais se destacou no violão de sete cordas, uma das mais fortes referências do choro brasileiro, e quem popularizou o instrumento no país. Molina, Zé do Cavaco e Patrick Angello, violonista do Grupo Chapéu de Palha, são alguns exemplos de professores da

escola. Paulinho da Viola filmou no Ao Bandolim de Ouro cenas do filme Meu tempo é hoje. Ao Bandolim de Ouro, fundada em janeiro de 1929 por Miguel Jorge do Souto, possui quatro andares: no térreo fica a loja, no segundo andar, a antiga escola de música, no terceiro andar, o escritório, e no último andar está a fábrica de instrumentos musicais. Oito funcionários são responsáveis por produzir o bandolim, violão de seis e sete cordas, cavaquinho e a viola. Em média, são produzidas doze unidades de cada instrumento por mês. Enéias Ferreira da Sil-

va trabalha na loja há nove anos: “É gratificante trabalhar aqui, porque é muito conhecido. Dudu Nobre, Jorge Aragão, Paulinho da Viola... Todo mundo compra aqui”, declara. O violão é o produto mais valioso, variando de dois a cinco mil reais. A loja também comercializa produtos que não são de fabricação própria, com o objetivo de se tornar completa, vende uma vasta gama de artigos musicais. Hélio Jorge do Souto, de 75 anos, que começou a trabalhar na loja para ajudar o seu pai, Miguel, quando contava apenas 15 anos, é o atual proprietário do local. Hereditário, Ao Bandolim de Ouro é negócio de família: sua filha, Daniela Paiva Jorge do Souto, trabalha na administração da loja, e o seu sobrinho, Hélio Miguel do Souto, é o gerente. De acordo com Hélio Jorge, a loja possui um público muito fiel, fato que o levou a participar do programa do Silvio Santos, no SBT. Um cliente foi até o programa e contou que o seu bandolim havia sido roubado e que ele não teria o dinheiro para comprar outro. Ele também comentou que era requisito obrigatório ser da loja Ao Bandolim de Ouro. Quando a produção do programa entrou em contato com Hélio Jorge, ele não teve dúvida, foi participar do programa e doou um novo bandolim para o felizardo. O orgulho e a emoção foram tão grandes que, na parede atrás do caixa da loja, encontra-se uma pequena foto e uma ampliação emolduradas do momento em que todos estão no palco conversando com o apresentador e o bandolim repousa, soberano, sobre um pedestal.

Sacha Leite e Rodrigo Brisolla redacao@folhadarualarga.com.br

Rua Rua Larga Larga

dicas da região

A Nativa está em liquidação! Os peep toes – sapatos de salto, com ponta arredondada, que mantêm os dedos à mostra e foi moda nos anos 40 e 50 – voltaram à tona e estão à venda a preços especiais, a partir de R$ 59,90. Já os scarpins também estão com valores promocionais a módicos R$ 69,90. Neste início de ano, a loja, conhecida por oferecer produtos femininos elegantes, oferece sandálias a partir de R$ 79,90 e sapatilhas desde R$ 49,90. As bolsas em couro podem ser encontradas por volta de R$ 199,90. Rua Marechal Floriano, 167. Artigos para o lar é no Principado Louças. Há disponível uma grande variedade de jogos de jantar, copos, utensílios para a cozinha e muito mais. As coqueteleiras de metal custam a partir de R$ 62, e a torre de chope de 2 litros com três torneiras está em oferta por R$ 444,40. A loja também disponibiliza uma seção de materiais hospitalares térmicos para servir comida aos pacientes, a partir de R$ 0,36. Marechal Floriano, 153/161. Na Livros Técnicos Vitória você encontra obras sobre informática, eletrônica, eletricidade, entre outros. O livro Controladores lógicos programáveis está saindo a R$ 104, já o Manutenção de micros na prática custa R$ 122 e o Instalações elétricas prediais sai por R$ 110. Lembrando que todo pagamento à vista ganha 10% de desconto. Marechal Floriano, 151. Almoço é na Florianu’s Grill. Refeição com churrasco a quilo sai por R$ 1,59 (cada 100g) até o meio dia e após as 14h. Já entre esses horários sai por R$ 1,99. O self-service sem churrasco custa R$ 1,49 (cada 100g) até o meio dia

e após as 14h, fora desse período o valor é de R$ 1,69. Marechal Floriano, 133. Vai viajar? Então passe na Mala Ingleza. Todos os tipos de malas, bolsas, mochilas e acessórios estão disponíveis na loja. Cintos de vários estilos, cores e tamanhos estão saindo por apenas R$ 6, já as malas de rodinhas estão custando a partir de R$ 69. Marechal Floriano, 81. O Sabor dos Andradas serve uma grande variedade de pratos para o seu almoço. O preço de cada 100 g é R$ 1,69 até o meio dia e após as 14 horas, fora desses horários, custa R$ 1,79. Ao final da refeição, o cliente ainda tem direito a um café, chá ou chocolate quente. Rua dos Andradas, 123. A Ter e Reler Papelaria vende CDs e DVDs, faz cópias e impressões coloridas, porém o maior destaque é a sua seção de Havaianas. A loja possui todos os modelos disponíveis e nas mais variadas cores. Tem a surf, a slim, a top, a tradicional, entre outras. O preço de cada modelo varia, mas eles custam a partir de R$ 9,90. Rua Acre, 77, loja B. Bebidas e especiarias é na Casa Paladino. A mistura de bar e mercadinho está praticamente do mesmo jeito há mais de 100 anos. Sua especialidade é o salame com queijo e ovo, chamado de triplo. Uma omelete, um refrigerante e um triplo saem por menos de R$ 10. Uma garrafa de vodca Absolut custa R$ 85 e uma Stolichnaya sai por R$ 59. Rua Uruguaiana, 224/226.

Da redação


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cidade

Companhia de Desenvolvimento do Porto do Rio toma posse Além do investimento na infraestrutura, inclusão social é uma das promessas da diretoria Divulgação

No dia 6 de janeiro, o ção. Ele explicou como presidente da Companhia os trabalhos do novo órde Desenvolvimento Urgão serão realizados e bano da Região do Porto deu destaque à inclusão do Rio (CDURP), engesocial dos moradores. Senheiro Jorge Luiz de Sougundo ele, são cerca de za Arraes, e sua equipe 20 mil pessoas morando, tomaram posse dos cargos em sua maioria, em áreas em cerimônia realizada degradadas e habitações no Píer Mauá. A soleniprecárias. “Este projedade, conduzida pelo preto é fundamental para as feito Eduardo Paes, aprequestões da valorização sentou a nova companhia imobiliária e turística da que será responsável pela região, e, sobretudo, da emissão e controle finaninclusão social. Vamos ceiro dos Certificados de trabalhar também para Potencial Adicional de que o respeito e a valoriConstrução (Cepacs), que zação dos que moram na foi criada pelo Decreto região aconteçam”, disse municipal nº 31620, de 21 Arraes. de dezembro de 2009, de “O objetivo é legitimar acordo com a autorização essa população, criar uma constante da Lei municiinterlocução direta com os pal nº 102/2009. O órgão moradores e oferecer conpossui autonomia admidições de emprego e moEduardo Paes discursa na cerimônia de criação da CDURP, no Píer Mauá nistrativa e financeira e radia decente, entre ouestá vinculado à Secretatros mecanismos sociais, ria Extraordinária de Depara que eles fiquem no senvolvimento. feitura vende o poder de O prefeito ainda co- tavam presentes o presi- Centro de maneira digna e Esta nova companhia construir, dando ao com- mentou que, a princípio, dente do Píer Mauá, Luiz não sejam expulsos, como tem como objetivo promo- prador a certeza de que os Cepacs só estarão Antônio Cerqueira, o já ocorreu em outras exver ações que contribuam os recursos, frutos dessa disponíveis para pessoas presidente da Companhia periências de revitalizacom o desenvolvimento da venda, serão obrigatoria- jurídicas, mas que futura- Docas do Rio de Janeiro, ção de áreas degradadas”, Área de Especial Interes- mente aplicados naquela mente as pessoas físicas Jorge Mello, o secretário disse o presidente. Ele se UrbanísEstado região. É um também terão acesso aos de ainda comtico (AEIU) Desentítulo que certificados. Ele comple- de pletou inforda região do permite ao tou informando que exis- v o l v i m e n t o mando que Porto do Rio e m p r e s á r i o tem cerca de 4 milhões E c o n ô m i parte da rende Janeiro, que vai cons- de metros quadrados de co, Energia, da captada realizando truir ocupar área com potencial cons- Indústria e com a venda contratos, mais a área trutivo. O valor mínimo, Serviços, Judos Cepacs convênios do seu terre- por cota, é de R$ 400, e a lio Bueno, e será destinaou autorino, fazendo primeira transação deverá o secretário da a investizações de um gabarito ser realizada a partir de extraordinámentos coqualquer nario de Desenmaior, uma julho. munitários: tureza, desde taxa de ocu“Este projeto é a marca volvimento e “Vamos inque admitipação maior. principal da reconstrução presidente do centivar os dos em Lei e E o dinheiro do Rio, uma vez que ci- Instituto Peempresários que possua a reira Passos, com o qual dade sem centro é uma cia empregar Eduardo Paes, finalidade de Felipe Góis. ele está comdade sem alma. Estamos mão de obra prefeito do Rio concretizar O presidenprando isso, devolvendo a dignidade local nos emos objetivos obrigatoria- para esta região com a li- te Jorge Arpreendimenda CDURP. mente será citação para a recuperação raes deixou o tos que serão A expectativa é de que investido na área onde ele de ruas e a construção de cargo de diJorge Arraes, i n s t a l a d o s sejam atraídos R$ 2,6 bi- vai instalar sua empresa. espaços culturais, como a retor de Par- presidente do CDURP aqui.” lhões para a região, atra- Se eu tivesse que aplicar Pinacoteca, que vai ocu- t i c i p a ç õ e s Ainda não vés da venda dos Cepacs. em alguma coisa, com- par o antigo Palacete D. Imobiliárias foi definida Leilões públicos, regula- praria essas ações quan- João VI. A revitalização e Societárias a instituição dos pela Comissão de Va- do fossem lançadas, pois da região portuária é a da Fundação dos Econo- financeira que realizará lores Mobiliários (CVM), essa área será valorizada minha menina dos olhos”, miários Federais da Cai- a distribuição e a estrutuserão realizados para ne- novamente”, xa Econômica (Funcef) ração dos Cepacs no merexplicou comentou o prefeito. gociar os títulos. “A pre- Eduardo Paes. Durante a cerimônia es- para assumir a nova fun- cado. Caso seja um banco

“A revitalização da região portuária é a minha menina dos olhos”

“Vamos trabalhar também para que o respeito e a valorização dos que moram na região aconteçam”

público, não será necessário realizar uma licitação, caso contrário, o processo de licitação pode demorar entre 60 e 90 dias. Eduardo Paes falou, também, sobre os esforços feitos pela prefeitura para levar investimentos à região do Porto: “Hoje talvez seja o momento mais importante da união dos governos, pois não se deve apenas querer realizar algo. É preciso comprometer-se. E se não estamos ao lado de pessoas comprometidas, as coisas não avançam. Por isso, os empreendedores podem ter a certeza de que, se decidirem apostar aqui, terão toda a atenção do poder público”. Já o presidente da Alerj, deputado Jorge Picciani, falou sobre as mudanças que a cidade sofrerá: “Este é um momento auspicioso para o Rio, que vive uma fase de gradativo crescimento. A criação desse órgão trará possibilidades de grandes mudanças para a cidade. Eu diria que, a partir de hoje, estamos recolocando o Rio de Janeiro no caminho do progresso, do crescimento”. O vereador Alfredo Sirkis, falando em nome da Câmara Municipal, comemorou as ótimas oportunidades que a cidade está recebendo: “Estou muito feliz. Era um sonho antigo. Isso nos mostra que podemos tirar nossos sonhos do papel e transformá-los em realidade. É um momento feliz para a cidade e exemplar para o Brasil, uma vez que o prefeito Eduardo Paes conseguiu a união de todos para a realização desse projeto”.

Rodrigo Brisolla rodrigobrisolla@gmail.com


cidade

janeiro de 2010

A ressaca do réveillon passou e agora temos um mês e meio para a nossa grande festa: o carnaval. Dizem os historiadores que o carnaval teve início há milênios. No Brasil, nem tanto, mas o suficiente para nos tornarmos o centro do universo. A festa foi trazida pelos portugueses da Ilha da Madeira e Cabo Verde por volta de 1723 e era chamada de entrudo – vem do Latim introitus – e se refere a solenidades litúrgicas da Quaresma. No entrudo, os escravos passavam farinha, água e limão em seus corpos e saiam às ruas correndo. Já a alta sociedade permanecia dentro de suas casas e brincava arremessando bolas de cera recheadas com perfume. Essa brincadeira era chamada de “laranjinha”. Os costumes foram mudando gradativamente e no século XIX surgiram as primeiras bandas. Depois, as marchinhas tomaram conta do espetáculo, as ruas e os carros ganharam enfeites. Durante muito tempo, era comum as pessoas desfilarem nos carros recebendo chuva de confete e serpentina. Era frequente o uso de lança-perfumes – talvez uma herança das “laranjinhas”. Apesar de toda a evolução do carnaval, as escolas de samba não acabaram com os blocos, que estão cada vez mais vivos arrastando multidões. Todo bairro que se preza tem sua banda e nós do Morro da Conceição temos a nossa, com muito orgulho. É chamada de Banda da Conceição. Fundada em 1973 por um grupo de moradores, a Banda da Conceição abriu os desfiles do carnaval carioca na Avenida Presidente Antônio Carlos por vários anos. O grupo se desfez tempos depois. Em 2007, a banda foi

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Light inaugura Pátio das Energias

morro da conceição Banda da Conceição

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retomada e, embora sem sede própria, tem lutado para prosseguir. Um dos coordenadores da banda, Marco, o Frigideira, morador do Morro há 46 anos, fala sobre seus projetos: “Nossa banda não se limita a desfilar apenas no carnaval, ela tem uma função cultural, social, recreativa e educativa. Fazemos um trabalho com crianças do bairro e adjacências, temos inclusive a intenção de oferecer também o esporte a elas, já que temos um campinho de futebol aqui no Morro”. Frigideira fala também de uma reivindicação junto à Suderj para conseguir uma sede: “Há um casario abandonado na Rua João Homem, 64/66, que poderia, além de sede para a banda, servir para ministrar vários cursos aos moradores, como oficinas de artesanato, atiDivulgação

Integrantes da banda

vidades culturais, artes para as crianças e exposições. Potencial humano é o que não falta, afinal temos muitos artistas e professores que estão dispostos a contribuir. Para isso, basta termos uma sede”. Quanto à programação do Carnaval 2010, a Banda da Conceição informa que sairá uma semana antes da data do início do carnaval oficial, isto é, 6 de fevereiro de 2010. A concentração será no Alto da Santa, às 16h, com saída às 17h. Ela percorrerá a Rua Sacadura Cabral, retornando pela Rua do Acre. Pessoas de 8 a 80 anos estão convidadas a entrar no clima da folia. O que não pode faltar? ALEGRIA!

Teresa Speridião teresasperidiao@gmail.com

O futuro Museu da Energia trará brinquedos que ilustram conceitos físicos Sacha Leite

No dia 22 de dezembro, a Light inaugurou a Praça Francisco Negrão de Lima, que fica entre a sede da Light e o Palácio Itamaraty. Para Mozart Vitor Serra, diretor do Instituto Light, a praça, que ficará na porta dos dois prédios do Museu da Energia, tem a função de colocar crianças e responsáveis no clima antes de entrar no museu. Segundo o arquiteto Maurício Prochnik, os objetivos da inauguração do playground temático são “Criar um espaço aberto ao público, visitantes, funcionários e um local com brinquedos que servem como experiência para o Museu de Energia”. O lugar conta com brinquedos tradicionais, como balanços e escorregas, que explicam princípios físicos. José Luiz Alqueres, presidente da Light, declarou no discurso de inauguração da praça: “A renovação da Rua Larga passa por um trabalho não só físico, mas de sensibilização. O jornal Folha da Rua Larga é um dos importantes agentes nesse processo, dialogando com as partes envolvidas no projeto de revitalização da região. E essa praça é um lugar de convivência, um exemplo de que uma empresa pode fazer muito mais do que fornecer energia elétrica”. A praça é uma homenagem a Francisco Negrão de Lima, ex-presidente da Light, prefeito do Rio de Janeiro e governador do Estado da Guanabara, que viveu entre 1901 e 1981. O público alvo, segundo a coordenadora do projeto, Estela Alves, são crianças do ensino fundamental. Ela acredita que receberão 85% de escolas públicas. Estela disse ainda que cada brinquedo terá um monitor explicando o princípio físico utilizado e esclarecendo possíveis dúvidas. Os visitantes poderão experimentar na prática teorias sobre os fundamentos da energia. Nela ficará

Balanços da Praça Francisco Negrão de Lima Sacha Leite

Maurício Prochnik com uma das bicicletas energéticas da praça

Praça Negrão de Lima - Onde fica: entre a sede da Light e o Palácio Itamaraty - Acesso: gratuito, pelo Centro Cultural Light - Área: 1.618 m², sendo 382,05 m² de área coberta e 1236,00 m² de área descoberta - Acessibilidade: rampa para cadeirantes e textos em braile para deficientes visuais - Sustentabilidade: coleta seletiva e sistema de captação e reutilização de águas pluviais

localizado futuramente o Museu da Energia, que abordará, didaticamente, o seu processo de geração, transmissão e distribuição, seus usos e sua relação com o meio ambiente. O espaço ainda tem um projeto totalmente sustentável, com caixas para captação de água da chuva, que será reutilizada no lago, na conservação dos jardins e nas instalações do museu. A Praça Negrão de Lima conta ainda com brinquedos educativos que irão ilustrar conceitos sobre as energias luminosa, térmica e mecânica, dispondo de bicicletas energéticas e coleta seletiva de lixo. Há também acessibilidade para cadeirantes e inscrição em braile nas placas explicativas de cada brinquedo. O espaço abrirá ao público próximo à inauguração do Museu de Energia. Acessando o site do Instituto Light é possível fazer um tour virtual de 360º pelo Pátio das Energias e Museu da Energia.

Da redação


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gastronomia

Um boteco à moda Rio Antigo

receitas carol

104 anos de histórias para contar, dentre sanduíches, omeletes e um chope único Quem passa pela esquina da Av. Marechal Floriano com a Rua Uruguaiana, nem imagina que ali está um dos mais antigos e tradicionais botecos do Centro da cidade: a Casa Paladino. No local desde 1906, o Paladino, como é chamado, lembra os botequins de antigamente, mistos de armazém e bar. A decoração guarda o mesmo charme de quando foi inaugurado, com belos espelhos franceses e cristaleiras. Um pequeno armazém fica logo na entrada e vende desde garrafas de vinho e whisky até iguarias enlatadas, azeites, temperos importados, pedaços convidativos de bacalhau salgado e sardinhas portuguesas. As centenas de garrafas espalhadas pelas paredes e prateleiras de madeira vetusta conferem ao local um clima de bodega. Nos fundos, há um bar e duas pequenas áreas com mesas onde são servidos os tira-gostos, omeletes e sanduíches, tudo a preços módicos. De entrada a dica é pedir a porção de salame com queijo e ovo, conhecida como triplo, que vem em porções bem servidas (R$ 3,80). A outra boa opção do cardápio são as omeletes “tortilladas”. As mais pedidas são as de bacalhau (R$ 13) e as mistas (R$ 10), que levam desde salame até queijo, presunto e ovo, tudo regado a muito azeite português. Entre os sanduíches, os que fazem mais sucesso são os de roquefort (R$ 6,30) e o triplo de provolone quente, ovo frito e presunto (R$ 5). Mas o maior atrativo da casa é o chope de serpentina única (R$ 2,40) da Brahma e sempre bem tirado. A carta de vinhos é muito

Bacalhau a Gomes de Sá

Ana Carolina Monteiro

A Rua Larga é repleta de histórias e tradições, uma região que faz parte da nossa cidade por anos, assim como esta receita já faz parte da família há três gerações. Tendo uma legítima portuguesa em casa, não podia faltar bacalhau, seja em forma de bolinho

Omelete mista acompanhada de fatias de pão francês e chope

variada, como não podia deixar de ser. O alentejano Monte Velho sai a R$ 45 e o argentino Trapiche Malbec, a R$ 38. O dia de maior procura no Paladino é a sexta-feira. As 20 mesas do lugar ficam lotadas e é possível se deparar com fila de espera. A advogada Laura Monte é uma das frequentadoras fiéis da casa. “Bato ponto aqui toda semana. Sou fã da omelete mista, sem falar do chope, que é imbatível. Tento sempre vir às sextas-feiras, dia em que me permito tomar um chopinho na hora do almoço”, afirma. Até no atendimento o Paladino é um clássico. Os garçons, eficientes e rápidos, guar-

dam a má vontade e também a descontração e humor sarcástico típicos de restaurantes antigos. A freguesia é eclética, variando de engravatados dos muitos escritórios da região até estrangeiros com livretos turísticos, passando por estudantes e, claro, a seleta boemia diurna. Figuras folclóricas e ilustres também podem ser vistas com frequência no Paladino. Carlos Gonçalves, um dos sócios portugueses do Paladino, é testemunha de parte da história do lugar. “Estou na casa há 43 anos. Comecei como copeiro em 1965. Tenho orgulho em trabalhar aqui. É um lugar com muita história e

que já foi frequentado por gente importante, como o ex-presidente da Light Alexander Mackenzie”, afirma. Ainda hoje, o Paladino recebe a visita de pessoas ilustres, entre eles, o cartunista Jaguar e os jornalistas Pedro Bial e Joaquim Ferreira dos Santos. A dica está dada. Mas é bom lembrar: a casa só aceita dinheiro vivo. Rua Uruguaiana, 224/226, Centro. Fone: (21) 22632094. Não aceita cartão de crédito.

Karina Howlett karina.martin@light.com.br

Ingredientes: 800 g de bacalhau tipo Porto 1 cebola média 8 tomates 1 cabeça de alho 1 kg de batatas 1/2 pimentão vermelho 1/2 pimentão verde Azeite Sal e pimenta a gosto Modo de preparo: Colocar o bacalhau de molho para a retirada do sal; trocar a água. Cozinhar as batatas descascadas e cortadas em rodelas. Refogar em azeite a cebola picada e o alho picado, juntar os oito tomates sem pele, temperar com sal e pimenta a gosto.

ou torta, assado ou gratinado, estava sempre presente. Dentre todas as formas de preparar e comer o famoso peixe, escolhi uma bem tradicional e, claro, DELICIOSA! Então aproveite o embalo das festas de início de ano e bom apetite!

Cozinhar o bacalhau e, depois de cozido, retirar a pele e as espinhas e separar em lascas. Montagem do prato: Colocar em um refratário uma camada de batatas em rodelas, entremeando com uma camada do bacalhau em lascas. Cobrir com o molho de tomate, enfeitar com rodelas de pimentão e levar ao forno para finalizar. Serve de 4 a 6 pessoas.

Juliana Costa e Marcelo Costa (Interinos) julianabcosta@yahoo.com.br


15 janeiro de 2010

folha da rua larga

lazer

Cariocão de 2010 promete emoções Nilton Ramalho

baú da rua larga Dentista-poeta O dentista português Luiz Antunes de Carvalho, um dos pioneiros na cirurgia bucomaxilar no Brasil, teve consultório na Rua Larga. Em 18 de janeiro de 1832, obteve em Buenos Aires o direito de exercer a profissão. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1836 e foi o primeiro dentista a registrar sua “carta” na secretaria da Câmara Municipal. Luiz Antunes de Carvalho ficou famoso no Brasil e na Argentina pela propaganda em forma de versos.

E felizmente os quatro times do Rio de Janeiro respiraram aliviados ao final do Campeonato Brasileiro. Após o hexacampeonato rubro-negro e a permanência heróica na Série A de Fluminense e Botafogo, os flamenguistas, tricolores e botafoguenses puderam se juntar aos vascaínos na expectativa pela disputa do Campeonato Carioca, que tem tudo para ser um prato cheio de emoções para a torcida. Em meio a todo um debate realizado pela imprensa esportiva em torno das contratações feitas pelos quatro grandes cariocas durante o período de festas, é possível destacar o Fluminense e o Flamengo, da recémeleita presidente Patrícia Amorim, como favoritos

à conquista do estadual deste ano. O Flamengo, mantendo a base do time campeão de 2009 e embalado por esta importante conquista, entra forte para se isolar ainda mais na liderança de títulos estaduais. O Fluminense, do matador Fred, que teve uma arrancada jamais vista na era dos pontos corridos, manteve e reforçou todo o elenco que ficou carinhosamente conhecido pela sua torcida como time de guerreiros, e encontra no técnico Cuca uma eficiente liderança à beira de campo. É claro que isso não elimina a possibilidade de êxito do Vasco (que contratou em quantidade e pouca qualidade) e do Botafogo (com poucas caras novas), que mere-

cem todo o respeito por sua tradição e história, mas estes dois clubes não se movimentaram à altura de seus concorrentes para a disputa do Carioca de 2010. Correndo por fora, e com muito menos holofotes que os quatro grandes mencionados, está o querido “mequinha”, o tradicional América, que conquistou a segunda divisão do ano passado e se habilitou à disputa da categoria principal este ano, contando com um velho conhecido da torcida brasileira em seu comando: Bebeto. Ele reeditará a dupla vivida em 94 com o “baixinho” Romário, que hoje é o homem forte do futebol do clube e foi o responsável direto por sua contratação. Além destes clubes, ainda há os

LIGUE. ACESSE. ANUNCIE.

Ele publicou o seguinte anúncio no Almanak Administrativo Mercantil e Comercial: “Luiz Antunes de Carvalho enxerta outros dentes nas raízes dos podres, firma dentes e dentaduras inteiras, firma queixos, céus da boca, narizes artificiais e cura moléstias da boca. Rua Larga de São Joaquim,125.” Da redação redacao@folhadarualarga.com

considerados times pequenos ou médios: Boavista, Madureira, Macaé, Volta Redonda, Tigres, Resende, Friburguense, Americano, Olaria, Duque de Caxias e o Bangu. Além de todos esses atrativos, o Campeonato Carioca terá outro tempero especial: este será o último estadual disputado no Maracanã antes de sua grande reforma para a Copa do Mundo de 2014, dando um motivo a mais para o torcedor carioca fazer as festas memoráveis que marcaram a reta final do Campeonato Brasileiro do ano passado.

ranti máximo redacao@folhadarualarga.com

(21) 2233 36900 www.folhadarualarga.com.br

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lazer

janeiro de 2010

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Afinidade musical

dicas da cidade Oficinas, teatro e música no CCJF Pollyana, a clássica história de Eleanor H. Porter sobre a menina otimista que jogava o “jogo do contente” é trazida pelo diretor Rick Sadocco e fará temporada no Centro Cultural Justiça Federal até o dia 7 de fevereiro. Sábados e domingos às 16h, R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada). Para quem acompanha o Música no museu, o CCJF estará recebendo o projeto nos dias 8, 15 e 22 de janeiro, às 15 horas. A entrada é franca.

Botequim da Rua Larga terá participação do mestre arranjador Paulão 7 Cordas painéis com textos e imagens, tudo isso para deixar o aprendizado ainda mais interessante e divertido. Cineclube João e Maria O Museu João e Maria, localizado na Avenida Marechal Floriano, 19, exibe um filme temático a cada mês. O eleito desta vez foi Orfeu, de Cacá Diegues, que fala sobre uma história de amor que tem como pano de fundo o carnaval. Orfeu (Toni Garrido) é um popular Divulgação

Atores do clássico Pollyana

CCL para estudantes Fazendo uma ponte entre o passado e o futuro, o CCL (Centro Cultural Light) é outro point para estas férias. O prédio abriga o Centro Cultural Light para estudantes onde as crianças poderão aprofundar seus conhecimentos sobre a história da energia elétrica e da Light. É uma proposta lúdico-educativa onde os jovens mergulharão na história da eletricidade através de vídeos,

compositor de uma escola de samba. Residente na favela, ele se apaixona perdidamente quando conhece Eurídice (Patrícia França), uma nova moradora do local. Mas entre eles existe ainda Lucinho (Murilo Benício), chefe do tráfico local, que irá modificar drasticamente a vida de ambos. A sessão será às 12h. Gratuito. Da redação redacao@folhadarualarga.com.br

Paulão 7 Cordas fará participação especial no show do Botequim da Rua Larga, sexta-feira, dia 22 de janeiro, no Centro Cultural Light – palco do bonde. O arranjador, diretor musical, produtor e violonista é uma referência, segundo o líder do conjunto, José Luiz: “Todos os músicos do Botequim são fãs dele. Estão todos se preparando para receber o Paulão 7 Cordas”, revela. Paulão retruca: “O carioca tem um espírito artístico muito aflorado. Os músicos aqui do Botequim têm nível para seguir carreira artística e, se quisessem, fazer exclusivamente música”, elogia. O Botequim da Rua Larga já recebeu Noca da Portela, Dorina e agora receberá Paulão. O violonista explica que nasceu no Estácio, se criou no Jacarezinho e sempre esteve envolvido com o mundo do samba: “Eu era da bateria da Portela. Ficava o dia todo na escola. Tinha o futebol da bateria, o almoço, e depois, então, o ensaio da bateria. Saí da Portela entendendo de ritmo, arranjo e tocando violão”. O músico, que participou da comissão julgadora do concurso de marchinhas realizado na Light no ano passado, fala do seu comprometimento com o mundo do samba: “Saía na segunda com o violão nas costas e voltava só sexta de noite. Dormi muito no 415 e sempre tive muito contato com os compositores. Sempre quis escutar suas músicas atentamente”, revela Paulão. Portelense convicto, ele assina a direção musical e arranjos de artistas como Zeca Pagodinho, Moacyr Luz e Tereza Cristina, para quem, no momento, está acabando a mixagem do DVD. Muitos pensam que Paulão é mangueirense, já que assinou alguns trabalhos junto à escola. Profissionalismo à parte, ele esclarece que frequentou muito a Mangueira devido à proximidade com o lugar onde morava, daí vieram os trabalhos. No entanto, ele de-

Sacha Leite

Paulão 7 Cordas e José Luiz saboreiam um café e conversam sobre o carnaval dos tempos atuais

clara que seu coração é fiel à com as introduções e conPortela. Segundo ele, além da tracantos, as músicas ficam azul e branco, desfilou ape- completamente modificadas nas nas escolas Jacarezinho e da composição original”, diz Império Serrano. Paulão, que afirma sempre Além do histórico carnava- pensar no disco como o roteilesco, Paulão costuma incen- ro de um show, em um crestivar novos talentos: “Sinto cendo de climas e temas. falta hoje de Analisanespaço para do o carnaas canções val carioca novas. Nas de rua, o rodas de arranjador samba só se conclui: toca música “Os blocos conhecida. passaram Isso provoca por uma um desgastransforte, é preciso mação, que renovar e hoje paretemos gencem uma te boa para escola de isso”, defensamba fude. Dentre os leira. Isso, projetos que em minha desenvolve opinião, se no momendeve ao gito, Paulão gantismo está produdas escolas zindo a cande samba. Paulão 7 Cordas, tora paulista Para mim, arranjador Fabiana Cocada um zza, que tem tem seu esse apresentapaço: gosto do regularmente no Trapiche de bloco com cara de bloco. Gamboa. Um soprinho...”. Clayton O músico fala sobre a im- Vabo, engenheiro eletricista e portância do arranjador: “É 7 cordas do Botequim da Rua legal ter alguém com quem Larga, completa: “Antigavocê pode discutir, pedir opi- mente, nas escolas de samba nião, trocar ideia. Ás vezes, você tinha ala de instrumen-

“Os blocos passaram por uma transformação, que hoje parecem uma escola de samba fuleira. Gosto de bloco com cara de bloco”

tos de corda, hoje não há mais tanto espaço para esse tipo de instrumento”, recorda. Quando questionado sobre o Carnaval 2010, Paulão 7 Cordas esclarece: “Vou viajar para Recife e descansar. carnaval para mim é o ano inteiro”, brinca. O músico conta que estudou violão tradicional, mas que no 7 cordas é autodidata: “ Ouvi muito Dino 7 Cordas. Daí quis estudar com ele e ele me falou que eu não precisava”, se orgulha Paulão. José Luiz lembra que, no ano passado, mais de 300 pessoas desfilaram no Bloco da Rua Larga e afirma que incentivará a participação dos colegas: “O Mozart Vitor Serra sugeriu de botarmos o bonde na rua, como nos velhos tempos. Por que não? Acho que seria deveras sensacional”, se anima José Luiz. O Bloco da Rua Larga será o primeiro dos blocos do Centro a desfilar. Marcado para o dia 29 de janeiro, com concentração às 14h, na Praça Regente Feijó, o grupo promete animar os foliões com a bateria da escola de samba Renascer.

Da redação redacao@folhadarualarga.com.br


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