Newsletter GPLiJ • Maio/23

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Que mistério... É sabido, de quem vive literando com os alunos, como um bom e velho mistério prende a atenção de nossos jovens leitores! Da literatura que traz um emaranhado de sombras e medos vem aquela gostosa adrenalina do vir a ser e a surpreender Nessas histórias, eles se prendem e viajam ao desconhecido, para descobrir, temer, se prender nas linhas e entrelinhas das histórias e da humanidade. Afinal, o medo é um dos primeiros sentimentos do homem, o que os fez vencer e permanecer, sentimento vivo até os dias de hoje. Além da riqueza da magia, acredite, das bruxas, lendas folclóricas e urbanas, lobos e seres das florestas sombrias, pode nascer, ou até renascer uma linda história de amor, entre leitor e seu livro.

Essa edição da Newsletter é totalmente dedicada ao romance juvenil. Esperamos que aproveitam! Bons voos e até a próxima edição!

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MAIO, 2023 EDIÇÃO Nº 06
2023
© S t o r y n h a sR i t a L e e e L a e r t e

CAMINHOS DA LITERATURA JUVENIL CONTEMPORÂNEA

A literatura atual tem como um de seus traços definidores, o experimentalismo. Essa marca se expressa tanto no trato com a linguagem, como na ruptura das fronteiras entre literatura e outras artes. Nesse espaço de contágio e apropriação, tanto a literatura se transforma em outras artes, como as demais artes são potencialmente transformadas em literatura, por meio, principalmente, do diálogo e da fusão entre a visualidade da escrita e a narratividade da imagem.

As mudanças socio-histórico-cultural das últimas décadas e a relevância dada à adolescência, marcada principalmente pela transição da infância para a vida adulta, bem como a preocupação com a formação identitária do jovem, contribuíram para o surgimento de uma vasta produção literária, especialmente voltada para esse público. A diversidade de temas aponta para um espessamento do discurso, marcado principalmente pela presença da intertextualidade e da metaficção, exigindo desse leitor repertório e uma maior participação.

Essa combinação de diferentes linguagens é uma tendência recorrente nas diversas manifestações artísticas atuais, cujo projeto criativo rompe as fronteiras entre a escrita, o desenho, a pintura, a fotografia, a gravura, a escultura, no sentido de tornar o entendimento dessas linguagens uma necessidade na leitura e interpretação da obra literária.

Hoje, seria possível ler literatura sem levar em conta essa interlocução com as demais artes, principalmente em relação ao predomínio da cultura da imagem? Essa indagação, feita por Schøllhammer, representa bem a interferência interartes sobre a leitura de textos em adaptações de histórias, devido, principalmente, ao impacto da proliferação das redes midiáticas, da imprensa, do cinema, da publicidade, das redes sociais e da televisão.

Com o aprimoramento da linguagem e do sistema comunicativo, é cada vez mais comum, na linguagem cotidiana ou artística, não só a leitura “sem palavras”, com sua multiplicidade de olhares, símbolos, cores e formas, como também e, sobretudo, a leitura de palavras que suscitam imagens em suas mais diversas formas e cores vivazes quanto às imagens propriamente ditas.

Desse modo, o texto literário proporciona uma obra aberta, não linear, hipertextual. Pierre Levy (1993) destaca no hipertexto as conexões reticulares estabelecidas entre as partes, de forma que essa cadeia forme uma complexa estrutura de leitura, que exige do leitor uma coparticipação no percurso criativo do texto. Esse hipertexto assemelha-se a um conjunto de nós ligados por conexões, por meio de palavras, páginas, imagens, gráficos ou partes de gráficos, sequências sonoras, documentos complexos, não lineares, de tal forma que navegar em um hipertexto significa desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quanto possível. Porque cada nó pode, por sua vez, conter uma rede inteira de significados.

POR ADEMIR GODOY BUENO

CAMINHOS DA LITERATURA JUVENIL CONTEMPORÂNEA

Essa concepção de que o leitor participa e traça um trajeto próprio de leitura, nessa interlocução sinestésica de linguagens, “criando” um novo texto, passou a ser associada aos postulados críticos da teoria da recepção, especialmente à ideia de que textos são artefatos incompletos e potenciais, que só se realizam plenamente a partir da leitura, de modo que o leitor se torna coautor dos escritos que lê. Essa leitura exigirá um leitor mais ativo que compreenda não somente os aspectos perceptivos, mas analise as problematizações envolvidas nessa interlocução de linguagens, enquanto elementos catalizadores de sentido do texto literário.

Para tanto, essa ficção, direcionada principalmente ao jovem leitor, investe no diálogo entre a tradição e a inovação, com vistas à ampliação dos horizontes de expectativas desse receptor em desenvolvimento, partindo, principalmente, das representações sociais do lugar que esse leitor ocupa na contemporaneidade. Assim, diante dessa heterogeneidade de material expressivo, tais obras tornam-se capazes de ordenar uma combinação rica de possibilidades semânticas, sintáticas e alta densidade de informações, demandando um olhar atento por parte dos leitores, dos estudiosos do tema e da crítica

POR ADEMIR GODOY BUENO

TODA MULHER...É MEIO RITA LEE

Toda mulher...é meio Rita Lee

Rita Lee morreu? Jamais! Claro, com máximo respeito a sua família que perderam sua esposa, mulher e mãe, mas para nós jamais!

Rita escreveu nossos sonhos de meninas e lutas de mulheres em busca de seus caminhos e de seu pertencimento. Gostou tanto de escrever, que das músicas partiu para autobiografia como quem diz: "da minha vida cuido eu e falo eu!"

Mas o que parece, a literatura a pegou, como quem diz nascemos um para o outro. Dessas histórias vieram outras, para o público infantojuvenil, para seus fãs, para quem estivesse aberto a uma boa literatura!

Seu esposo nos disse que ela gostaria de continuar vivendo, escrevendo...ah que pena! Fico curiosa para saber em que viagens literárias ela nos levaria, agradecendo os voos que nos levou!

O que digo no fim? Que nunca acabou, nunca vai acabar. Toda mulher aprender com ela, que pode escrever sua história, que merece ser amada, e principalmente FELIZ!

POR PAULA PAGÚ

CONHECENDO RITA LEE PELO LITERÁRIO

POR PAULA PAGÚ

O ROMANCE ESTÁ NO AR!

Caro leitor, entramos na estação do outono, aquele friozinho no final da tarde, nos convida a pegar aquele livro de romance que está guardando na prateleira ou quem sabe até na sua mochila, e iniciar aquela leitura serena, aconchegante que nos leva a viajar pelo mundo da imaginação. Só que não! Você certamente deve estar se perguntando. Por que romance? Nos dias de hoje, falar em romance? Hoje é a era do ficar, curtir, sem compromisso, do relacionamento aberto, das tecnologias. São tantos termos modernos; mas será que realmente o romance está fora da moda? Quando retornamos no tempo com o nosso querido Machado de Assis, especificamente na obra Helena, nos deparamos com o protagonista Estácio, que não conseguia dominar sua paixão pela personagem Helena, mesmo ciente de que poderia incorrer uma relação incestuosa.

O Romance está no ar! Será? O que diria a nossa eterna Isabel uma menina de 14 anos que se apaixona pelo seu primo Cristiano, e para completar seu infortúnio, sua melhor amiga engata um namoro com ele. Ah Pedro Bandeira, esse livro A marca de uma lágrima, deixa o leitor com o coração partido. Nossa personagem Joana, do livro Perto do coração Selvagem da saudosa Clarice Lispector é um convidativo, pois além de todos os conflitos, há um triangulo amoroso. E a obra Azeitona do nosso autor Bruno Miranda que conta a história de Ian e Emília, que tramam uma jogada bem interessante para entrar em um reality. Mas se você ainda não está convencido! Nada te interessou! Aconselho a visitar a obra Quinze dias, do autor Vitor Martins, onde você vai se deparar com Felipe e Caio e várias situações de amor, conflitos e muito mais. Vou parando por aqui, porque penso que você leitor percebeu que eu estou tentando te convencer a ler um romance. Sinceramente espero que tenha dado certo!

© A z e i t o n aB r u n o M i r a n d a
CRÔNICA • POR SANDRA MELO

SALA 1208: DA FICÇÃO À REALIDADE

Sala 1208 é um romance juvenil, escrito por Caio Tozzi, que fala sobre situações cotidianas de estudantes do Colégio Vivência, mas que poderiam ser contadas por qualquer jovem do mundo real. As histórias abordam assuntos como paixão, descoberta da sexualidade, relacionamento com pais e professores, depressão, amizade, preocupação com o futuro, enfim... dilemas que perpassam o dia a dia de todo jovem contemporâneo, não importando sua classe social, gênero, cor de pele ou qualquer outro aspecto que possa “defini-los” em outros contextos

Quando se trata de questões sobre a vida, não há “diferença” que nos separe; todos temos os mesmos tipos de indagações, anseios, curiosidades, preocupações, e é isso que podemos enxergar nesta obra ficcional, mas que retrata tão bem a realidade. Por isso, pensei que fazer uma pesquisa com os jovens reais seria muito rico para averiguarmos suas inquietações, de que forma essas temáticas fraturantes estão inseridas em seu dia a dia, e também quais seus hábitos de leitura, já que estudamos isso em nosso Grupo de Pesquisa.

A seguir, compartilharei algumas respostas que ilustram sumariamente, mas tão bem, essa pesquisa, mostrando como as temáticas fraturantes são tão presentes e necessárias de serem abordadas em livros destinados à juventude.

Cento e quinze adolescentes responderam à pesquisa, sendo 54,8% pertencentes ao gênero feminino, 40,9% ao masculino e 4,3% a outro A maior parte desses jovens (quase 38%) têm 14 anos de idade, mas quando foi perguntado qual a média da faixa etária dos personagens protagonistas nos livros que eles leem, a maior resposta foi entre 16 e 18 anos.

Os maiores influenciadores no hábito leitor desses jovens são o(a) professor(a), a mãe e algum(a) amigo(a), respectivamente. Eles preferem ler um romance (43,5%), seguido de HQ (40,9%) e poesia (15,7%). Os três gêneros preferidos são (nesta ordem): suspense/mistério (58,3%), terror (43,5%) e relacionamentos amorosos (43,7%); fantasia aparece logo em seguida, com 40,9%.

Os jovens que responderam à pesquisa afirmaram que a capa e o projeto gráfico do livro (66,1%) é o item mais importante na escolha de uma obra, seguido do enredo (53,9%). Eles buscam indicações de leitura majoritariamente no Instagram (56,6%), seguido do TikTok (50,4%) e de livrarias (27,8%).

Algumas respostas à pergunta “Qual a melhor e a pior parte da adolescência?” foram “não trabalhar, ter tempo, amizades, certa independência” e “adultos não entenderem os sentimentos, comparações, adaptação às mudanças, confusão”, respectivamente. Quando foi perguntado se eles sentiam que fazem alguma coisa/consomem algo/se comportam de determinada maneira para agradar alguém (pais, professores etc.) ou para se encaixar em algum grupo, muitos responderam que não, que são eles mesmos, mas muitos outros disseram que sim, e justificaram com medo de serem criticados, julgados e com falas como “mudo completamente quem eu sou para me juntar a meus amigos” ou “me esforço para agradar familiares”.

PESQUISA • POR GIOVANNA PETRÓLIO

SALA 1208: DA FICÇÃO À REALIDADE

Abaixo estão dois gráficos que ilustram a resposta a duas perguntas especificamente sobre como os temas considerados tabus são abordados na escola e na família – em que 1 representa “nunca” e 5, “sempre”

PESQUISA • POR GIOVANNA PETRÓLIO

ROMANCES JUVENIS

O romance Controle pode ser enquadrado na categoria de Formação, na medida em que a personagem Fernanda protagoniza experiências formativas e de aprendizagem, durante o período de sua adolescência e início de sua fase adulta, que culminam na sua maturidade. Nanda, que não saía do quarto, não tirava os fones, nem mesmo ia à rua sem levar o celular, vai ao encontro do sentido que, ao longo do caminho, havia perdido: A personagemprotagonista e narradora Fernanda percorre a obra Controle em busca de si, tentando, de diferentes maneiras, “colar” a fratura social que lhe causou a queda de bicicleta, no início de sua adolescência. A queda desencadeia na personagem epilepsia, doença que será um dos fatores para seu isolamento da vida escolar, amorosa, familiar, social em geral. Nanda cresce com medo da vida, isolando-se de todos os seus riscos. É justamente disso que surgem os elementos-chave que irão justificar uma leitura, envolvendo Controle, de Natália Borges Polesso. O autoconhecimento, a descoberta e afirmação da sexualidade lésbica, a autoimagem, bullying, os processos da adolescência, a solidão, o medo, a insegurança, os vínculos familiares, a depressão e o preconceito abordados na obra trazem uma boa reflexão para um leitor jovem ou um jovem leitor.

RECOMENDAÇÕES
TEMÁTICAS • POR ANNA MARIA MELO
Controle • Natália Borges Polesso (2019)

ROMANCES JUVENIS

O romance O beijo na parede, de Jeferson Tenório, conta a história de João, um menino de 11 anos que vive uma realidade indigesta: muda-se com seu pai para o RS, a fim de, em Porto Alegre, tentar uma vida mais digna. Depois de perder sua mãe para o câncer, João, em pouco tempo, encontra-se sem o pai, que se suicida, numa pequena casa localizada em um bairro pobre da capital. É enviado para um abrigo de menores, onde conhece alguns amigos e fica pouco tempo. Perto da rua onde morava com seu pai, fica um cortiço em que moram pessoas que o acolhem. João, mais uma vítima do abandono, é um menino sonhador que quer conhecer e salvar o mundo, mas enfrenta toda a hostilidade das estruturas que, historicamente, se perpetuam. Sua voz ressoa num turbilhão de sentimentos e reverbera uma camada social que urge por protagonismo.

Um livro como O beijo na parede traz ao leitor um suporte da realidade, uma vez que nos coloca diante de temas e situações cotidianas, consideradas urgentes, ainda no século XXI, além de valer-se de intertextualidades importantes como com a obra, La Mancha, de Miguel de Cervantes (1547-1616), religião afrobrasileira, narrativas de vida, violência contra a mulher, sexualidade, humor, sentimentos de depressão e de inferioridade. O beijo na parede é um romance exemplar nesse sentido, pois, por meio dele, deparamo-nos com a desigualdade social, a violência contra a mulher e suas relações de subjugação, a depressão e os sentimentos de inferioridade, as relações familiares e de amizade, a hostilidade do mundo, os direitos e as garantias da criança e do adolescente e o racismo estrutural. Depois de tantas conquistas e evoluções protagonizadas pela humanidade, ainda nos vermos frente a eventos brutais de racismo e descaso com a vida, e esse livro nos ajuda a refletir sobre estas questões ainda tão frequentes no cenário atual.

RECOMENDAÇÕES
TEMÁTICAS • POR ANNA MARIA MELO
O beijo na parede • Jeferson Tenório (2013)

COLABORADORES DA EDIÇÃO

Ademir Godoy Bueno

Sandra Melo Paula Pagú
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Giovanna Petrólio
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