Newsletter GPLiJ n.04 (Fev-2023)

Page 1

Olá! Sejam muito bem-vindos e bem-vindas à edição de fevereiro da Newsletter do G.P. Literatura Juvenil: Questões teóricas e práticas de leitura.

Nesta edição, a primeira do ano de 2023, falaremos sobre representatividade Começamos com a pergunta Como se sentir representado, representada ou representade?; depois, seguimos com um giro na representatividade na Literatura Fantástica e nas Histórias em Quadrinhos. Para finalizar temos nossas já clássicas indicações de leitura, um texto sobre o clube de leitura com jovens Voos Literários e uma dica de uma live muito especial do nosso grupo.

Bons voos e até a próxima edição!

2023

Nos acompanhem nas redes sociais:

@gplij.pucsp

@literaturapucsp

ASSINEM NOSSA NEWSLETTER: BIT.LY/NEWSLETTER _ JUVENIL
NEWSLETTER
FEVEREIRO
FEVEREIRO, 2023 EDIÇÃO Nº 04
© J o ã o M o n t a n a r o p a r a i v r o C r ô n i c a s I n d í g e n a s

COMO SE SENTIR REPRESENTADO, REPRESENTADA OU REPRESENTADE?

Sim! Deixamos uma pergunta como título! Temos clareza de que este breve texto não sanará as nossas (tampouco as suas) dificuldades e angústias. Essa questão necessita de debate constante, posto que buscamos transformações sociais. Contudo, para que estas aconteçam, precisamos viver nossos processos de transformação, por isso, não temos respostas prontas, mas apontamos caminhos possíveis.

Ao saber que a temática desta newsletter seria “representatividade”, nos empolgamos por trazer reflexões e indicações relevantes para o tema; mas ao mesmo tempo nos deparamos com um fato: como nós, duas mulheres brancas, cisgêneros, heterossexuais, de classe média podemos falar algo sobre representatividade? Talvez, como duas pessoas que ocupam papéis de mulheres possamos falar sobre este caminho – que sim, já é bastante desafiador e abraça algumas formas de representatividade.

Ampliando esta nossa “bolha” para a realidade, pensamos nas pessoas que não seguem essa “cartilha” normativa superpadrão em que nos encontramos. Eis que voltamos ao título: como se sentir representado, representada ou representade?

Nossa atuação profissional é permeada pela literatura para infâncias, e esta percorre inúmeros caminhos. Um dos nossos focos são os temas conhecidos como tabus, que a literatura é capaz de abordar das mais variadas maneiras. A representatividade passa por esse viés, afinal, muitos tabus estão contidos na falta dela Estar disposto e arriscar-se a conversar sobre os temas tabus com os jovens, é desafiador, mas necessário! Este desafio engloba transformações muitas vezes radicais sobre pertencimento, identidade, afinidades e tantas outras questões que passam – ou ficam – pela cabeça dos jovens.

Faz parte do processo de amadurecimento buscar um lugar de pertencimento, e essa busca ganha sentido quando encontra vez e voz, e isso só é possível por meio de diálogo nos quais os interlocutores de fato estejam presentes e dispostos a ouvir e trocar Não seria a Literatura um caminho para essa experiência de diálogo, escuta e busca por um lugar entre tantas outras coisas? Deixamos algumas sugestões a seguir que podem ampliar sua leitura de mundo sobre algumas formas de representatividade.

POR GIOVANNA PETRÓLIO E MALU CARVALHO

SUGESTÕES DE CAMINHOS LITERÁRIOS:

Uma leitura instigante, mas nem por isso fácil. É preciso sensibilidade para acompanhar os escritos de Carolina Maria de Jesus, que, em seus diários, convida-nos a refletir sobre diversos temas como: racismo, mulher, miséria, infância, fome, favela, entre outros

A poesia também é uma boa pedida para mergulhar na representatividade. Nesta obra, Lubi Prates desvela sensivelmente algumas camadas do que é ser uma mulher negra na sociedade.

SUGESTÕES DE CAMINHOS CINEMATOGRÁFICOS:

Sex Education é uma série britânica de comédia dramática. A produção narra a história de estudantes, pais e professores de uma escola fictícia Pronto! Uma escola repleta de jovens e seus cenários familiares, um prato cheio para diversas representatividades

A relação entre a jovem mãe Georgia e sua filha Ginny permeia muitos desafios. A série abarca ótimos exemplos de temáticas como racismo, machismo e homossexualidade

REPRESENTATIVIDADE NA LITERATURA FANTÁSTICA

Nos dias de hoje as obras literárias têm tido um cuidado bastante grande em trazer como protagonistas personagens das mais diversas culturas, características físicas e psicológicas, etnias e orientações sexuais, o que é extremamente positivo, e apenas contribui para que todos se vejam representados nos textos de ficção.

Com a Literatura Juvenil não é diferente, e a representatividade se tem feito presente em muitas das obras, inclusive nas de natureza fantástica, e é justamente sobre alguns desses textos que celebram a diversidade que falaremos na newsletter desse mês.

A primeira obra que gostaríamos de trazer é na verdade uma trilogia: O legado de Orïsha, da escritora Tomi Adeyemi, de origem nigeriana, que constrói seu mundo de Fantasia baseando-se em aspectos da cultura Iorubá, com elementos propriamente africanos e afro-brasileiros, uma vez que a autora esteve na Bahia a fim de conhecer como os cultos africanos eram praticados em nosso país. A grande genialidade da autora consiste em construir um universo fantástico onde a referência não é eurocêntrica medieval, como ocorre na esmagadora maioria dos mundos de Fantasia

Uma segunda trilogia que nos faz refletir é a de Suzanne Collins, Jogos Vorazes, onde o estereótipo de herói masculino impositivo, algo agressivo, e fisicamente forte, é desconstruído frente à personagem Peeta Mellark que, mesmo tendo considerável força física, prefere não valorizá-la como seu principal atributo, mas sim sua personalidade carismática, doce e protetora no sentido de ser um companheiro de todos os momentos da protagonista Katniss Everdeen, em especial no quesito psicológico, porque ela possui habilidades de combate muito superiores às dele.

Para concluir – mas não esgotar, porque muitos outros exemplos seriam possíveis –temos a saga de Victoria Aveyard: A rainha lh N b d b

© O l e g a d o d e O r ï s h a
LITERATURA FANTÁSTICA • POR EVANDRO
E
FANTONI
MARIA VICTÓRIA SEIXAS

(R)EXISTIR NOS QUADRINHOS

Os quadrinhos sempre estiveram em um lugar transgressor da história Alvo constante de críticas, as HQs precisaram (e ainda precisam) lutar muito por seu reconhecimento estético e um lugar nãomarginalizado, sem preconceitos. As histórias em quadrinhos lutam, desde sua origem, para serem vistas

Espaço de resistência, os quadrinhos são historicamente políticos. São representações dos sentimentos e da diversidade humana por meio de seus mais diversos traços, são ferramentas de denúncias nas relações palavras e imagens, e são um grito para seus autores e leitores: estamos aqui e queremos ser ouvidos!

Assim, com leitores buscando pertencimento e identificação na ficção, os quadrinhos podem (e devem) ser lugar de representatividade - mas não aquela representatividade vazia, mas uma que que ofereça um (re)conhecimento aos seus leitores.

A dificuldade das histórias em quadrinhos em representar a multiplicidade humana é, no entanto, a mesma que a da sociedade como um todo: o preconceito (de todas as formas) enraizado.

Tivemos, em 2019, um caso de censura gravíssimo da HQ Vingadores: A Cruzada das Crianças. O livro foi recolhido da Bienal do Livro do Rio de Janeiro somente por causa de um beijo gay na capa.

A partir disso podemos levantar inúmera questões: quais grupos de pessoas "podem" ser representados em uma história? Será que apenas um grupo merece abrir um livro e se reconhecer nos personagens? Quem se incomoda quando há representatividade na ficção e por que? Será justo que, na multiplicidade humana, apenas um pequeno grupo seja sempre e repetidamente representado?

Essas questões permanecem, e ficamos com a tarefa de, aos poucos, mudar isso. Vamos ler quadrinhos protagonizados por mulheres, pessoas atípicas, com diferentes orientações sexuais; vamos ler quadrinhos de autorias diversas, africanas, latinas; vamos fazer circular a diversidade nas narrativas sequenciais!

As histórias em quadrinhos sempre resistiram. Que ela seja lugar de afeto para todos os grupos que seguem resistindo também.

Até a próxima edição!

© V i n g a d o r e s : A C r u z a d a d a s C r i a n ç a s QUADRINHOS • POR EVANDRO FANTONI E LUARA ALMEIDA

REPRESENTATIVIDADE IMPORTA!

Crônicas indígenas para ler e refletir na escola

• Daniel Munduruku (2020)

A lista de obras de Daniel Munduruku é tão vasta que provavelmente não caberia em apenas uma página: ele já conquistou a marca de mais de 57 obras publicadas – a maioria direcionadas ao público infantojuvenil. Em Crônica Indígenas, Daniel utiliza algumas histórias e experiências pessoais para ilustrar como os povos originários brasileiros ainda hoje são percebidos e retratados sob uma ótica errônea e colonialista. Em um tom cômico, mas sem perder o objetivo de conscientizar sobre as importantes questões indígenas, o autor consegue não apenas expandir o conhecimento de seu leitor sobre o tema, mas também fazê-lo refletir sobre a importância de desconstruir estereótipos discriminatórios e ultrapassados.

Mulheres Incríveis • Kate Schatz e Jules de Faria (2017)

Reunir o nome de 44 grandes mulheres que marcaram a história da humanidade parece uma tarefa árdua. Não pela difícil incumbência de ter que escolher aquelas cujos feitos merecem estar nas páginas de um livro, mas sim por conseguir relembrar as que sofreram tentativas constantes de apagamento. É uma responsabilidade gigante e penosa, mas que consegue ser realizada por Kate Schatz. Desde a brilhante Hipátia até a destemida Malala, a autora consegue criar um panorama amplo de mulheres que realmente fazem justiça ao adjetivo incríveis. Para complementar a edição brasileira, temos a participação da escritora Jules de Faria, integrante da ONG Think Olga, que adiciona nomes como os de Maria da Penha, Elza Soares e Marta para a lista de nomes inspiradores.

Pequeno Manual Antirracista • Djamila Ribeiro (2019)

Filósofa, professora universitária, colunista de periódicos renomados e uma figura ativa do movimento feminista e negro, Djamila Ribeiro publicou Pequeno Manual Antirracista, vencedor do Prêmio Jabuti na categoria “Ciências Humanas”. A autora descreve como o racismo está presente de uma forma estrutural e opressora na sociedade brasileira e o que devemos fazer para combatê-lo. Através de suas reflexões, ela nos permite o exercício de questionar e reconhecer os preconceitos, além de apresentar outras figuras negras importantes e marcantes, como Sueli Carneiro, Angela Davis e Adilson Moreira.

RECOMENDAÇÕES TEMÁTICAS • POR LAÍS SAUERBRONN

VOOS LITERÁRIOS CLUBE DE LEITURA PARA JOVENS

Partimos de um olhar da leitura em diferentes aspectos e reflexões: ela se torna melhor e mais relevante, como algo silencioso e individual ou compartilhado?

Um clube de leitura pode acolher a tudo isso. Ninguém ama igual, vive igual e tira de suas leituras as mesmas experiências.

Para tanto, de uma leitura individual é bacana partir para a possibilidade de saber ouvir.

Um clube de leitura com jovens como o nosso Voos Literários, traz além de novas perspectivas, os mais coloridos mundos que já tivemos, mas que a fase adulta nos engessa, restringe a nossa visão.

Os jovens abrem caminhos sem medo e trocam valiosas leituras de mundo.

Ao tido adulto, resta se permitir a esta troca valiosa com o coração aberto e a essência de ler com a generosidade de menino/menina.

Boa leitura!

Leitura do mês: Carolina, da Editora Veneta (Sirlene Barbosa e João Pinheiro)

POR PAULA PAGÚ

#FICADICA

Quarta-feira, dia 8 de março, daremos início a rodada de lives Viagens Literárias! Nela, iremos trazer convidados muito especiais para conversar com o nosso grupo sobre seus processos de produção, inspirações e trabalhos.

Nossa primeira parada é para falar sobre Histórias em Quadrinhos e, para isso, Evandro Fantoni, Paula Pagú e sua aluna

Roberta Maria irão receber o quadrinista

Marcel Bartholo, autor de inúmeas HQs, entre elas duas adaptações de clássicos da literatura: Noite na Taverna e o conto A Vida

Eterna de Machado de Assis

Esperamos vocês nessa viagem!

08DEMARÇOÀS19H• YOUTUBELITERATURAPUC-SP

COLABORADORES DA EDIÇÃO

Evandro Fantoni evandro.fantoni.ra@gmail.com

Giovanna Petrólio @giovanna.petrolio

Laís Sauerbronn

lais.sauerbronn@yahoo.com.br

Luara Almeida @umlivrotodoazul

Malu Carvalho @mergulho.literario

Maria Victória Seixas @mvictoriaseixas

Paula Pagú

p.gardenia@hotmail.com

CONTRIBUIÇÕES, DÚVIDAS, COMENTÁRIOS?

escreva para nós: gplijpucsp@gmail com

FEVEREIRO, 2023 EDIÇÃO Nº 04
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.