O CDS e a Democracia Cristã (1974-1992)

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Manuel Monteiro aparecia ao partido como um jovem de direita que reivindicava a afirmação do CDS como um partido que não era de centro, antes era de direita, e que afirmava que o eleitorado do CDS não compreenderia a equidistância do partido. O combate entre ambos fez-se, pois, não no âmbito da doutrina ou do programa, mas antes no posicionamento político do partido. E este debate sobre o posicionamento político do CDS demonstra bem aquilo que venho procurando evidenciar: a ausência de um quadro fundacional assente numa única trave mestra. Debate esse que veio a ser retomado a propósito das eleições presidenciais de 1991. Perante o apoio do PSD à recandidatura de Mário Soares, Freitas do Amaral decidiu apresentar um dos fundadores do partido, Basílio Horta, como candidato presidencial, não sem a oposição de alguns dos fundadores do partido, como Sá Machado, que optara por apoiar Mário Soares. Aliás, dez anos mais tarde, a propósito das eleições presidenciais que elegeram Jorge Sampaio, outras destacadas figuras do CDS dos tempos de Freitas do Amaral voltariam a apoiar o candidato da esquerda, como o caso de Narana Coissoró. A campanha de Basílio Horta depressa se assumiu mais de direita do que de centro, (o seu lema era: “Basílio, um homem às direitas”) pouco consonante com o apoio de um partido que se dizia equidistante. A candidatura de Basílio Horta recolheu 14,2% dos votos, e deu um sinal claro de que existia um eleitorado que se identificava, afinal, com um discurso de direita, não centrista, afinal mais próximo de Adriano Moreira do que de Freitas do Amaral. Para baralhar ainda mais as tentativas de identificação do eleitorado do CDS, Freitas do Amaral obtém uma pesada e total derrota nas eleições legislativas de Outubro de 1991, obtendo pouco mais do que 4% dos votos e 5 deputados, não evitando uma maioria absoluta do PSD182, não evitando que Cavaco Silva fosse considerado como líder da Direita183 e não afirmando o CDS como

Ditando pois, a falência da afirmação do CDS como um partido charneira, ao estilo do FDP alemão, cfr. JORGE FERREIRA, Há Direita, Lisboa, 2001, pág. 221. 183 Título que não gostava de ostentar, mas que ganhara, sobretudo depois da derrota de Freitas do Amaral nas eleições presidenciais. A derrota de Freitas do Amaral chegaria mesmo 182

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