O CDS e a Democracia Cristã (1974-1992)

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independente na igualdade com todos os outros Estados e ser capaz de enfrentar com autonomia o desafio supranacional que nasceu em 1986”160, num claro distanciamento do que até aí tinha sido o federalismo, económico nomeadamente em Lucas Pires e político sobretudo em Freitas do Amaral161. Não que à democracia cristã possa repugnar o sentimento nacionalista, antes ele é integrado numa perspectiva mais ampla, visto que o nacionalismo não é a última das associações naturais. Essa realidade é a pessoa humana, envolta numa comunidade internacional162. Mas a nova direcção do CDS vai ainda cortar outra das mais simbólicas aspirações do partido. Em 1986, o CDS assumiu-se como um partido municipalista, que rejeita as regiões administrativas. Por serem um “instrumento da implantação partidária, da fragmentação da soberania e do crescimento da burocracia do Estado”163. Ao mesmo tempo, o CDS passou a utilizar uma linguagem menos moderada, em assuntos anteriormente deixados em branco. É assim que o CDS veio falar em impedir a venda do país ou que veio afirmar que a esquerda dos interesses ambiciona o totalitarismo político164. Adriano omitiu mesmo qualquer referência ao centrismo e não vai preocuparse em afastar o CDS da direita portuguesa165. Se o CDS manteve com Adriano Moreira algumas das suas bandeiras, o certo é que este CDS estava já muito diferente do que foi legado por Diogo Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa.

In CDS – Exigências Políticas Imediatas, Lisboa, 1986. A este respeito, cfr. RUI ANTÓNIO MADEIRA FREDERICO, ob. cit., pág. 397. Veja-se também, a título de comparação, os discursos já citados de Freitas do Amaral e as linhas referentes à integração europeia que estiveram na base do programa de Lucas Pires, no qual se faz referência expressa à manutenção da independência e especificidades portuguesas, In GRUPO DE OFIR, ob. cit., pág. 183 e ss. 162 IDL, Democracia e Liberdade, n.º 1, Lisboa, 1976, pág. 94. 163 In CDS – Exigências Políticas Imediatas, Lisboa, 1986. 164 In CDS – Exigências Políticas Imediatas, Lisboa, 1986. 165 Vasco Pulido Valente definiria a face de Adriano Moreira como “a face impertinente dos que tudo mandavam (…), dos tiranos, menores, sibilinos e seminaristas”, VASCO PULIDO VALENTE, Ob. cit., pág. 217. 160 161

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