O CDS e a Democracia Cristã (1974-1992)

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atractivo para o eleitorado moderado que este tanto pretendia, o que, aliás, desde cedo foi percebido pelos dirigentes do CDS. 5.2.5. As bases e o eleitorado do CDS Num estudo feito em 1983119, o CDS apresentava, no respeitante aos seus militantes, uma estrutura envelhecida, sobretudo se comparada com a do PSD, profissionalmente mais ligada aos quadros médios e superiores, bem como aos industriais e comerciantes e com muito pouca incidência em operários, estudantes e agricultores120. Em termos de camadas socioprofissionais, o CDS tinha especial incidência nas classes superior e média alta, as quais compunham 51,2% dos seus militantes, enquanto que são as camadas média baixa e baixa que dominavam no PSD, perfazendo 59,3% dos seus filiados. Com base nestes dados, as conclusões desse estudo foram as de que o CDS, representando essas categorias sociais específicas, não poderia ascender ao estatuto de um partido de “reunião” e estaria mais vocacionado para ser um partido de defesa de uma clientela particular, ao passo que o PSD era caracterizado como um partido de feição mais populista, com elites sociologicamente representativas, aproximando-se muito da noção de catch-all party121. Se tradicionalmente os partidos democratas cristãos se caracterizam por ser interclassistas, o certo é que em Portugal tal não aconteceu com o partido que se assumiu democrata cristão. O CDS é, ainda hoje, um partido em que dominam as classes alta e média alta e em que profissionalmente são os quadros médios e superiores que dominam, nunca tendo conseguindo ser um

adiante chegaria a dizer que o PSD tinha um grande problema “porque nasceu em Portugal para integrar no regime socialista forças liberais quando historicamente os sociais democratas apareceram sim para integrar em regimes liberais, forças socialistas”, cfr. FRANCISCO LUCAS PIRES, O CDS e a Situação Política Nacional, Coimbra, 1979, pág. 15. 119 Cfr. MARIA JOSÉ STOCK, A Base Social de Apoio e o Recrutamento dos Líderes do PSD e do CDS, in Revista de Ciência Política, n.º 1, Lisboa, 1985, pág 103-121. 120 Em termos de quadros superiores, o CDS tinha mais 49,1% do que o PSD, em termos de operários tinha menos 98,5% do que o PSD e em termos de agricultores tinha menos 13,7% do que o PSD. 121 Cfr. MARIA JOSÉ STOCK, ob. cit., pág.118-119.

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