O CDS e a Democracia Cristã (1974-1992)

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depois da admissão na UEDC86, afirmou-se sobre inspiração cristã, embora não reclamando o monopólio dessa inspiração87. Em lado algum do Programa se afirmava a democracia cristã ou se faziam referências à doutrina social da Igreja, a textos bíblicos ou eclesiásticos88. De facto, o CDS assumiu-se como um partido de Governo e de centro89, que tem no Homem e na sua dignidade o “fim e o começo de toda a acção política”90 e que adopta uma “atitude positiva em face da união política e monetária europeia”91 mas não se assumiu, em termos programáticos, como o partido da democracia cristã portuguesa. Isso não significa, porém, que o Programa do CDS não fosse, ao tempo, próximo da democracia cristã, algo que não pode sequer negar-se, nem que o mesmo fosse cópia fiel das orientações do liberalismo, algo que decididamente não era. Apenas significa que o partido não assumiu, de origem, a democracia cristã como motor da sua fundação, razão pela qual teriam de admitir-se, como aconteceria, aproximações quer ao liberalismo quer ao conservadorismo, nas suas bases e nas suas direcções políticas. Por isso mesmo, não surpreende que exista quem inclusivamente considere que o que verdadeiramente caracterizava o CDS era o centrismo liberal, que se sobrepunha à ideologia democrata cristã92. Não estarei tão certo disso. Mas olhando para as personalidades que fundaram o CDS, que não provinham dos círculos de católicos progressistas, olhando para as personalidades convidadas para liderar o CDS, que também não eram conhecidas como partidários da democracia cristã e, finalmente, olhando para a forma como, historicamente, o partido se fundou e sedimentou, não tenho

Cfr. DIOGO FREITAS DO AMARAL, ob. cit., pág. 257. Programa do CDS – Partido do Centro Democrático e Social, Águeda, 1975, pág. 6. 88 Cfr. RUI ANTÓNIO MADEIRA FREDERICO, Evolução Político Ideológica do CDS/PP, Tese de Mestrado, Lisboa, 1999, pág. 13. 89 Programa..., pág. 4. 90 Programa..., pág. 5. 91 Programa..., pág. 7. 92 Neste sentido, RUI ANTÓNIO MADEIRA FREDERICO, Evolução ..., Tese de Mestrado, pág. 15. 86 87

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