O CDS e a Democracia Cristã (1974-1992)

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ao qual pretendia aderir plenamente assim que Portugal aderisse à então CEE82. Foi pois apenas a partir da sua adesão à UEDC, que o CDS se assumiu como um partido democrata cristão83, herdeiro da corrente doutrinária europeia que inspirara De Gasperi, Adenauer ou Schuman. Foi assim pela mão de uma empresa de marketing político que o CDS descobriu os partidos democratas cristãos. Apenas a partir de essa altura é que os discursos, intervenções e posições políticas do CDS o identificavam como herdeiro desta importante corrente de pensamento, procurando dar ao eleitorado os sinais necessários para que o CDS fosse efectivamente encarado como tal, sem no entanto abandonar o centrismo como metodologia84. Todas estas indicações permitem concluir que o CDS não nasceu como partido democrata cristão, mas antes como um partido moderado e de centro, com vertentes amplamente liberais e algumas vertentes sociais e que representava a “direita orleanista – parlamentar, liberal, gradualista e consensual”85. Aliás, o Programa do partido, que conheceu a sua versão final apenas dois dias

Cfr. A Democracia-Cristã em Portugal ... , loc. cit., pág. 74. O CDS desempenharia, depois, importantes funções no seio desta organização: em 1978, Diogo Freitas do Amaral seria eleito Vice-Presidente da UEDC, no 20.º Congresso (A Democracia-Cristã em Portugal ... ,pág. 187), e em 1981 chegaria mesmo a Presidente, (RUI ANTÓNIO MADEIRA FREDERICO, Evolução Político Ideológica do CDS/PP, Tese de Mestrado, Lisboa, 1999, pág. 84). Nesse mesmo ano, o CDS subscreve todos os documentos federalistas do PPE, para além de, fazendo parte do II Governo Constitucional e ocupando nesse Governo a pasta dos Negócios Estrangeiros, ter personalizado, na acção do Ministro Sá Machado, importantes iniciativas no sentido da adesão de Portugal às Comunidades Europeias, cfr. RUI ANTÓNIO MADEIRA FREDERICO, Evolução Político Ideológica do CDS/PP – Do centro social, federalista e regionalizante à direita popular, intergovernamental e unitarista (1974-1998) in A Reforma do Estado em Portugal – Problemas e Perspectivas, Lisboa, 2001, pág. 385. Para uma breve análise dessas iniciativas, A Democracia-Cristã em Portugal ... , pág. 138-139. 83 Considerando que a descoberta da democracia cristã pelo CDS foi tardia, JOSÉ FREIRE ANTUNES, Sá Carneiro – Um Meteoro dos Anos Setenta, Lisboa, 1982, pág. 164. 84 Em vários documentos doutrinais apresentados pelo CDS, este não se cansará de referir (contrastando com o silêncio dos primeiros meses) a sua origem democrata cristã, sendo a filosofia do CDS resultante do ideário cristão e a política do CDS a pragmaticidade da doutrina social da cristã, como por exemplo, ADELINO MARQUES DE ALMEIDA, ob. cit., pág. 15. 85 Cfr. JAIME NOGUEIRA PINTO, A Direita e as Direitas, Lisboa, pág. 244. 82

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