Margaret Thatcher - Vida e Obra: o Essencial

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urante os seus mandatos, Thatcher reformulou quase todos os aspectos da política britânica, reavivando a economia, reformando as instituições ultrapassadas e revigorando a política externa do país.

Desafiou e contribuiu decisivamente para derrubar a mentalidade de declínio que se enraizara no país desde a Segunda Guerra Mundial, procurando a recuperação nacional com uma energia e uma determinação impressionantes. Nesse processo, Margaret Thatcher tornou-se, juntamente com Ronald Reagan, um dos fundadores de uma escola de políticos de convicções conservadoras, o que teve um impacto poderoso e duradouro sobre a política na Grã-Bretanha (bem como nos Estados Unidos) e lhe rendeu uma maior visibilidade internacional do que qualquer político britânico tivera desde Winston Churchill. Com a progressiva – e bem sucedida – mudança da política britânica em termos económicos e de política externa para a direita, os seus governos ajudaram a incentivar outas tendências internacionais que alargaram e aprofundaram, durante os anos 1980 e 1990, como o fim da Guerra Fria, a propagação da democracia e do crescimento de mercados livres e o reforço da liberdade política e económica em todos os continentes. Margaret Thatcher tornou-se um dos líderes políticos mais influentes e respeitados em todo o mundo, bem como um dos mais controversos. Um ponto de referência para os amigos e os inimigos.

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1925-1947: GRANTHAM E OXFORD

O início da vida de Margaret Thatcher em Grantham desempenhou um grande papel na formação das suas convicções políticas. Os seus pais, Alfred e Beatrice Roberts, eram metodistas. A vida social da família foi vivida, em grande parte, dentro da comunidade perto da congregação local, definida por fortes tradições de auto-ajuda, o trabalho de caridade e a honestidade pessoal. A família Roberts geria uma loja e criava as suas duas filhas num apartamento por cima da loja. Margaret Roberts frequentou uma escola pública local e, posteriormente, conseguiu um lugar na Universidade de Oxford, onde estudou química na Somerville College (1943-1947). O seu tutor foi Dorothy Hodgkin, um pioneiro da cristalografia de raios X, que ganhou o Prémio Nobel em 1964. A sua visão foi profundamente influenciada pela sua formação científica. Mas a química ficou em segundo plano, perdendo o primeiro para a política nos planos de Margaret Thatcher para o futuro. Política conservadora sempre foi uma característica da sua vida: o seu pai desempenhara funções políticas em Grantham e partilhava com ela as questões do dia-a-dia. Margaret foi eleita presidente da Associação de Estudantes Conservadores em Oxford e conheceu muitos políticos proeminentes, tornando-se conhecida para as figuras mais relevantes do seu partido no momento da derrota devastadora frente ao Partido Trabalhista nas eleições gerais de 1945.

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1950-1951: CANDIDATA POR DARTFORD

Com vinte e poucos anos, Margaret concorreu como candidata conservadora par o lugar de Dartford, um bastião trabalhaista, nas Eleições Gerais de 1950 e 1951, ganhando notoriedade nacional como a mulher candidata mais jovem do país. Perdeu as duas vezes, mas contribuiu para reduzir a maioria do Partido Trabalhista de forma acentuada e gostou extremamente da experiência de campanha. Alguns aspectos do seu estilo político foram forjados em Dartford, perante um eleitorado em grande parte constituído por operários, que sofreram com os traumas do pós-guerra, bem como com o aumento do nível de tributação e regulação estatal. Ao contrário de muitos conservadores na época, tinha facilidade em conseguir a atenção de qualquer audiência e falando de forma simples e directa, com força e confiança, em questões que eram importantes para os eleitores.

1951-1970: FAMÍLIA E CARREIRA

Foi também em Dartford que Margaret conheceu o seu marido, Denis Thatcher, um empresário local, que geriu a empresa da sua família antes de se tornar um

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executivo da indústria do petróleo. Casaram em 1951. Em 1953 foram pais pela primeira vez, dos gémeos Mark e Carol. Na

década

de

1950,

Margaret

Thatcher

estagiou

como

advogada,

particularmente em matéria relacionadas com fiscalidade. Foi eleita para o Parlamento em 1959 por Finchley, um circunscrição no norte de Londres que continuou a representar até ser eleita membro da Câmara dos Lordes (como Baronesa Thatcher) em 1992. Em de dois anos, foi-lhe dado um pequeno cargo no governo de Harold Macmillan e entre 1964-1970 (quando os conservadores estavam novamente em oposição), estabeleceu o seu lugar entre as figuras séniores do partido, servindo continuamente como um dos ministros sombra. Quando os conservadores voltaram ao poder, em 1970, sob a liderança de Edward Heath, Thatcher manteve a sua tendência ascendente e chegou a ministra da Educação.

1970-1974: MINISTRA DA EDUCAÇÃO

Margaret Thatcher passou um mau bocado como ministra da Educação. No início dos anos 1970 viveu o pico do radicalismo estudantil, bem como enormes tumultos em termos sociais. Manifestantes interrompiam os seus discursos, a imprensa ligada à oposição difamava-a, e a política de educação em si parecia caminha inexoravelmente para a esquerda sem que ela o conseguisse travar, o que a deixou muito desconfortável. O próprio governo de Heath teve vida difícil durante o seu mandato (1970-1974) e decepcionou muita gente. Eleito com promessas de recuperação económica através do controlo dos sindicatos e da introdução de políticas de mercado livre, executou uma série de políticas contrárias - apelidadas de 'U-Turns' - para se tornar um dos governos mais intervencionistas da história britânica. A -8-


negociação com os sindicatos para introduzir um controlo detalhado dos salários, preços e dividendos, foi disso exemplo. Derrotado nas eleições gerais em Fevereiro de 1974, o governo Heath deixou um legado de inflação e conflito industrial.

1975: LÍDER DO PARTIDO CONSERVADOR

Muitos conservadores estavam prontos para uma nova abordagem depois do governo de Heath e quando o partido perdeu uma segunda eleição geral em Outubro de 1974, Margaret Thatcher concorreu contra Heath para a liderança. Para surpresa geral (ela próprio incluída), em Fevereiro de 1975, Thatcher derrotou Heath, embora contestada por meia dúzia de colegas mais velhos. Ela tornou-se, assim, a primeira mulher a liderar um partido político ocidental e a servir como líder da oposição na Câmara dos Comuns.

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1975-1979: LÍDER DA OPOSIÇÃO

O Governo trabalhista de 1974-1979 foi um dos mais profícuos em crises na história britânica, levando o país a um estado de falência técnica em 1976, quando um colapso no valor da moeda nas bolsas estrangeiras forçou o governo a negociar crédito do Fundo Monetário Internacional (FMI). O FMI impôs controlos rigoroso da despesa do Estado como condição para o empréstimo, que, ironicamente, melhorou a opinião pública sobre o Partido Trabalhista. No verão de 1978, ainda parecia a reeleição ainda parecia possível. Mas durante o inverno de 1978/79, a sorte do governo esgotou-se. As reivindicações sindicais conduziram a uma epidemia de greves e mostrou que o governo pouca influência conseguiu exercer sobre os seus aliados no movimento sindical. A opinião pública virou-se contra o Partido Trabalhista e os Conservadores conquistaram a maioria parlamentar na eleição geral de Maio de 1979. No dia seguinte, Margaret Thatcher tornou-se Primeira-Ministra do Reino Unido.

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1979-1983: PRIMEIRA-MINITRA: 1º MANDATO

O novo governo liderado por Margaret Thatcher comprometeu-se a analisar e inverter o declínio económico do país. A curto prazo, medidas dolorosas foram necessárias. Embora os impostos directos tivessem sido cortados, para restaurar os incentivos, o orçamento teve de ser equilibrado, e os impostos indiretos foram aumentados. A economia já estava a vias de entrar numa recessão, mas a inflação subia e as taxas de juro tiveram que ser aumentadas para a controlar. Até o final do primeiro mandato de Margaret Thatcher, o desemprego no Reino Unido representava três milhões de pessoas e começou a cair somente em 1986. Uma grande parte da ineficiente indústria britânica estava a fechar. Ninguém previra a gravidade da crise. Mas ganhos de longo prazo fundamentais foram conseguidos. A inflação foi controlada e o governo criou a expectativa de que faria o que fosse necessário para mantê-la baixa. O orçamento da Primavera de 1981, com um aumento de impostos no ponto mais baixo da recessão não pareceu o mais convencional, mas permitiu um corte nas taxas de juro e reiterou a determinação férrea das convicções do governo. A recuperação económica iniciada no mesmo trimestre e foi seguida de oito consecutivos anos de crescimento. O apoio político aumentou com as conquistas, mas a reeleição do governo só foi determinada por um evento imprevisível: a Guerra das Falkland. A invasão argentina das ilhas em Abril de 1982 encontrou uma Margaret Thatcher firme e determinada na direcção certa. Embora tenha trabalhado com os EUA na busca de uma solução diplomática, um contingente militar britânico foi enviado para tomar as ilhas de volta. Quando a diplomacia falhou, a ação militar foi rápida e

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bem sucedida e as Ilhas Falkland estavam novamente sob controlo britânico em Junho de 1982. O eleitorado ficou impressionado. Poucos líderes britânicos ou europeua teriam lutado por ilhas tão pequensa e distantes. Ao fazer isso, Margaret Thatcher lançou as bases para uma política externa muito mais vigorosa e independente durante o resto do 1980s. Nas eleições gerais de Junho de 1983, Thatcher foi reeleita e a maioria parlamentar dos Conservadores mais do que triplicou (144 lugares).

1983-1987: PRIMEIRA-MINITRA: 2º MANDATO

O segundo mandato de Thatcher começou com quase tantas dificuldades como o primeiro. O governo viu-se desafiado pelo sindicato dos mineiros, que pôs em marcha uma greve de um ano de duração em 1984-85. O movimento sindical como um todo tentava colocar uma dura resistência às reformas que o governo tentava introduzir no mundo sindical, que começaram com a legislação em 1980 e 1982 e continuou após a eleição geral. A greve dos mineiros foi uma das mais violentas e de longa duração na história britânica. O resultado era incerto, mas depois de muitas voltas, o sindicato foi derrotado. Este acontecimento veio a revelar-se um desenvolvimento crucial, pois assegurou que as reformas de Thatcher teriam viabilidade. Nos anos que se seguiram, a oposição trabalhista tranquilamente aceitou a popularidade e o sucesso da legislação sindical e comprometeram-se a não reverter as suas principais características. Em outubro de 1984, quando a greve ainda estava em andamento, o Exército Republicano Irlandês (IRA) tentou assassinar Margaret Thatcher e muitos elementos do seu gabinete, bombardeando um hotel em Brighton durante a - 12 -


conferência anual do Partido Conservador. Embora ela tenha saído ilesa, alguns de seus colegas mais próximos estavam entre os feridos e mortos e o quarto ao lado do dela foi severamente danificado. No século XX, nenhum outro primeiroministro britânico chegou perto de ser assassinado. A política britânica na Irlanda do Norte tinha sido uma fonte permanente de conflitos para cada primeiro-ministro desde 1969, mas Margaret Thatcher despertou um ódio especial do IRA devido À sua recusa em atender as pretensões políticas da organização, nomeadamente durante as greves de fome nas prisões em 1980-1981. A sua política era implacavelmente hostil face ao terrorismo, o que não a impediu de negociar o Acordo Anglo-Irlandês de 1985, com a República da Irlanda. O acordo foi uma tentativa de melhorar a cooperação de segurança entre o Reino Unido e a Irlanda e de dar algum reconhecimento para a visão política dos católicos na Irlanda do Norte, uma iniciativa que ganhou o apoio da Administração Reagan e do Congresso dos EUA. A economia continuou a melhorar durante 1983-87 com as políticas de liberalização económica que até foram prorrogadas. O governo começou a adoptar uma política de venda de activos estatais, que haviam totalizado mais de 20 por cento da economia quando os conservadores chegaram ao poder em 1979. As privatizações britânicas dos anos 1980 foram o primeiro do seu género e veio a ter grande influência em todo o mundo. A ala esquerda do Partido Conservador sempre se mostrara desconfortável com esta líder. Em Janeiro de 1986, as divisões duradoura entre esquerda e direita no gabinete de Thatcher foram expostos publicamente pela renúncia súbita do ministro da Defesa, Michael Heseltine, devido a uma disputa sobre os problemas de negócios da fabricante de helicópteros britânicos, Westland. A precipitação do "Caso Westland 'desafiou a liderança de Margaret Thatcher como nunca. Ela sobreviveu à crise, mas seus efeitos foram significativos. Thatcher foi submetida a fortes críticas dentro do próprio partido devido à decisão de permitir que aviões dos EUA voassem a partir de bases britânicas para atacar alvos na Líbia (Abril de 1986). Houve rumores de que o governo e a sua líder estariam 'cansados' depois de tanto tempo no poder.

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A sua resposta foi característica: na conferência anual do Partido Conservador, em Outubro de 1986, o seu discurso prenunciou uma massa de reformas para um terceiro governo Thatcher. Com a economia tão forte, as perspectivas eram boas para uma eleição e o governo foi reconduzido com uma nova maioria parlamentar em Junho de 1987.

1987-1990: PRIMEIRA-MINITRA: 3º MANDATO

A plataforma legislativa do terceiro mandato de Thatcher esteve entre os mais ambiciosos alguma vez apresentados por uma administração britânica. Houve medidas para reformar o sistema de ensino (1988), a introdução de um programa nacional para a primeira vez. Implementou-se um novo sistema fiscal para o governo local (1989), a Comissão de Comunidade, ou "imposto de votação", como foi apelidado pelos adversários. E não havia legislação para compradores e fornecedores distintos dentro do Serviço Nacional de Saúde (1990), abrindo o serviço a uma medida de competição pela primeira vez, que aumentou as possibilidades de uma gestão eficaz. A maior parte das medidas foi profundamente controversa. A Comissão de Comunidade, em particular, tornou-se um sério problema político, com conselhos locais a aproveitarem a introdução de um novo sistema para aumentar os impostos, responsabilizando por esse aumento o governo Thatcher (o sistema foi abandonado pelo sucessor de Margaret Thatcher, John Major, em 1991). Por outro lado, as reformas na educação e na saúde mostraram-se duradouras. Dentro do Partido Conservador e do próprio governo havia uma discordância profunda sobre a política europeia. Thatcher encontrava-se cada vez mais em desacordo com seu ministro das Relações Exteriores, Sir Geoffrey Howe, sobre - 14 -


todas as questões que diziam respeito à integração europeia. O seu discurso em Bruges, em Setembro de 1988, começou o processo pelo qual o Partido Conservador - ao mesmo tempo em grande parte "pró-europeu" - se tornou predominantemente "euro-céptico". Paradoxalmente, tudo isso aconteceu em um cenário de eventos internacionais profundamente úteis à causa conservadora. Margaret Thatcher, desempenhou um papel importante na última parte na última fase da Guerra Fria, tanto no fortalecimento da aliança ocidental contra os soviéticos no início de 1980, como no sucesso da vitória nesse conflito. Os soviéticos haviam apelidado Thatcher de "Dama de Ferro" – algo que ela adorou – inspirados pela dureza dos discursos que proferira contra eles pouco depois de se tornar líder do Partido Conservador em 1975. Durante os anos 1980, Thatcher ofereceu um forte apoio às políticas da Administração Reagan. Mas quando Mikhail Gorbachev surgiu como um potencial líder da União Soviética, Thatcher convidou-o a ir ao Reino Unido em Dezembro de 1984 e anunciou que aquele seria um homem com o qual ela estaria disposta a negociar. Por isso, Thatcher desempenhou um papel construtivo na diplomacia que tornou mais suave o desmembramento da União Soviética. No final de 1990, a Guerra Fria acabou e capitalismo venceu. Mas esse evento desencadeou a fase seguinte da integração europeia, uma vez que a França retomou o projecto de uma moeda única europeia, com a esperança de controlar o poder de uma Alemanha reunificada. Como resultado, as divisões sobre política europeia no seio do governo britânico que foram aprofundadas até o final da Guerra Fria, agora tornar-se-iam profundamente agudas. No dia 1 de Novembro de 1990, Sir Geoffrey Howe fez um discurso de renúncia amargo e precipitou um desafio à liderança de Margaret Thatcher do seu partido por Michael Heseltine. Na votação que se seguiu, Thatcher conquistou a maioria dos votos. No entanto, sob as regras do partido a margem era insuficiente, e um segundo escrutínio foi exigido. Tendo recebido a notícia numa conferência em Paris, ela imediatamente anunciou a sua intenção de lutar pela vitória.

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Mas um terremoto político aproximava-se . Após o seu regresso a Londres, quando muitos colegas do seu gabinete - insensíveis sobre a sua posição sobre a Europa e duvidando que ela poderia ganhar uma quarta eleição geral – abandonaram abruptamente Thatcher deixando-a sem apoio e sem outra escolha que não a retirada. Thatcher renunciou ao cargo de Primeiro-Ministro em 28 de novembro de 1990. John Major sucedeu-lhe, tendo ficado no cargo até a eleição esmagadora do governo trabalhista de Tony Blair em Maio de 1997.

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Biografia essencial de Margaret Thatcher da autoria da The Margaret Thatcher Foundation. Tradução para português da responsabilidade do Gabinete de Estudos Gonçalo Begonha.

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