OLD Nº 5

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Paula Hayasaki


Revista Old Número 05 - Outubro de 2011 Equipe Editorial - Felipe Abreu e Paula Hayasaki Direção de Arte - Filipe Werner e Felipe Abreu Texto e Entrevista - Felipe Abreu Social Media - Pedro Testolino Capa - Gustavo Takatori Fotografias Gustavo Takatori www.flickr.com/gusss Tiago Santana Marcos Sêmola www.s4photo.co.uk Entrevista Tiago Santana Parceiros: Fale: revista.old@gmail.com Curta: www.facebook.com/revistaold Siga: @revista_old


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Tiago Santana Entrevista

Gustavo Takatori Portfolio

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Marcos SĂŞmola Portfolio

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Espero que você tenha reparado na mudança nessa página dupla do editorial da OLD. Ao invés de uma imagem clássica, do The Commons, temos, nesta edição, a mais que especial fotografia de Tiago Santana. O fotógrafo brasileiro, um dos meus favoritos atualmente, nós dá um incrível entrevista, além de gentilmente ceder uma série de suas imagens para enriquecer ainda mais as páginas da OLD. Nesta quinta edição, depois de seis meses de trabalho, temos o primeiro número inteiramente em preto e branco, o que muito me alegra, pois gosto muito de PB e porque os portfolios desta edição estão fantásticos!

O primeiro, de Gustavo Takatori, mostra o belo trabalho do estudante de arquitetura, um cotidiano urbano denso, com belas composições arquitetônicas. O segundo, de Marcos Sêmola, mostra um trabalho de fotografia de rua, feito na Europa, pelo fotógrafo brasileiro. Curta muito essa edição PB, se inspire nas imagens e palavrar vistar por aqui e mande seu trabalho pra gente!

Felipe Abreu


Tiago Santana


Gustavo Takatori Portfolio

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Gustavo é estudante de Arquitetura na Unicamp e apresenta para a OLD um portfolio em PB muito interessante, misturando fotografia de rua e de arquitetura. Você já é o segundo arquiteto que passa pela páginas da OLD. Você acha que há uma relação forte entre o estudo da arquitetura e a fotografia? Sem dúvidas. É fácil verificar isso pela quantidade de bons fotógrafos que são

arquitetos, e neste caso nem estou considerando o fotógrafo de arquitetura, que é um ramo mais óbvio após essa formação. Cristiano Mascaro e Alex Flemming são dois bons exemplos de profissionais com passagem pela faculdade de arquitetura e com um trabalho autoral de destaque. Mas voltando à questão, acredito que os arquitetos têm antes mesmo da graduação ou desenvolvem durante a formação um olhar bem apurado para os detalhes, perspectivas, texturas e jogos de luz e sombra. Esse fato aproxima bastante as


Portfolio

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Portfolio

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Portfolio as duas áreas e facilita a troca de experiências. Você consegue desconstruir de uma forma muito interesse os espaços arquitetônicos que você fotografa. Essa é uma busca constante dentro da sua produção? É uma busca constante sim, embora não seja a única abordagem que faço. Minha intenção é alcançar o inusitado, numa tentativa de mostrar aquilo que não é óbvio, a foto do Copan que está neste ensaio é uma dessas. Faço muitas experimentações também com este objetivo, como no caso da múltipla exposição sobre Curitiba. Essa seleção tem um clima solitário, sombrio. Você percebe essas características como uma constante em seu trabalho?

Se eu tivesse que escolher entre a presença humana solitária ou em multidão para caracterizar meu trabalho eu escolheria a primeira opção. Não é uma obsessão, mas não costumo gostar das fotos que faço em grandes aglomerações. Apesar disto considero fundamental essa característica em eventos de cunho religioso por exemplo. Qual o papel do urbano dentro da sua fotografia? Em uma palavra, essencial. Mais do que um estilo é um reflexo da minha infância na cidade, se eu tivesse sido criado no campo provavelmente meu olhar seria outro. Comumente em viagens de férias, quando costumo ir à praias lindíssimas, fico mais focado em registrar as peculiaridades das pequenas cidades, o ritmo de vida, a forma de ocupação dos espaços do que os cenários deslumbrantes que atraem a grande

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Portfolio

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Portfolio

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Portfolio maioria. Como você lida com a apresentação de espaços vazios? Você acha interessante ter algum elemento humano, mesmo que como um detalhe? A escala humana é crucial para o total entendimento do espaço em uma fotografia de arOLD quitetura, mas ela pode ser evidenciada sem a presença de uma pessoa. Objetos comuns 15 ao conhecimento de todos podem suprir essa referência. No caso de espaços vazios depende da intenção do fotógrafo. Eu gosto muito da presença do elemento humano e de forma geral considero que ela enriquece muito uma imagem. No caso da fotografia da capela do manicômio minha ideia era mostrar o abandono do lugar de forma documental e para não criar um resultado mais artístico preferi registrá-lo completamente vazio.


Portfolio

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E n t r e v i s t a Tiago Santana


Tiago Santana Tiago Santana é provavelmente o fotógrafo brasileiro de maior destaque no cenário contemporâneo. Produzindo um trabalho voltado para o sertão brasileiro Tiago é o segundo fotógrafo brasileiro a publicar dentro da coleção Photo Poché e a OLD tem a honra de entrevistá-lo.

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Seu trabalho tem um fator geográfico muito intenso. Você se imagina fotografando fora do sertão? O sertão faz parte da minha vida. É o lugar onde nasci e comecei a descobrir o mundo. Me tornei fotógrafo por conta da experiência de viver nesse lugar. Portanto, é inevitável que o meu trabalho sobre esse universo seja tão intenso. A minha experiência no Sertão, me ajudou a fotografar outros lugares. Tenho outros trabalhos em regiões bem diferentes, são trabalhos que um dia devo encontrar uma forma de mostrá-lo. Mas o meu trabalho

no Sertão, assim como a imensidão de sua paisagem, não tem fim. É um lugar que me alimenta e renova o meu olhar. Suas imagens tem uma assinatura muito forte e original. Como foi o processo de desenvolvimento deste estilo? Como você busca variações visuais dentro do seu trabalho sem perder essa assinatura? Quando se tem uma relação visceral com a fotografia, quando se entrega ao trabalho em um mergulho profundo, é natural que surjam imagens com personalidade, onde o autor está presente na obra. É isso que traz força a uma fotografia, sem adornos ou elementos de efeito, mas sobretudo imagens de respeito ao outro, que é sempre a razão do meu trabalho. O que me interessa nesse processo de construção de imagem é a relação de encontro com o outro. Sou um fotógrafo de paisagens humanas. E são esses encontros


Tiago Santana

que me movem a fotografar. Como foi o processo de construção da editora Tempo D’Imagem? Surgiu da necessidade de se viabilizar projetos editoriais que acreditamos ser fundamentais para a uma compreensão da fotografia no Brasil. O livro é o espaço onde o trabalho de um fotógrafo se consolida, se cristaliza e

e fica para o futuro. São os livros que ganham outros mundos. Para que os projetos que julgávamos importantes pudessem ser viabilizados, tivemos que criar uma editora especializada em livros de fotografia, a Editora Tempo d’Imagem, que a 15 anos vem trabalhando para que esses projetos se concretizem e contribuam na construção desse inventário da fotografia brasileira. Não dava para esperar que as editoras comerciais OLD se interessassem por nossos projetos. É 20 importante lembrar que nessa época eram pouquíssimos os fotógrafos que tinham seu próprio livro. Hoje a situação mudou bastante, e nos últimos 10 anos o panorama editorial de livros de fotografia cresceu muito, mas mesmo assim, ainda existe uma quantidade de projetos maravilhosos e de autores fundamentais para a fotografia brasileira, que ainda não conseguiram se realizar em livro.




Tiago Santana Como você concilia o trabalho de fotógrafo e editor? Não é fácil conciliar. Minha vontade é estar 100 por cento do meu tempo fotografando e fazendo os meus ensaios. Mas não funciona assim, mesmo com as possibilidades de utilização das leis de incentivos fiscais, é necessário muita dedicação e trabalho para conseguir viabilizar um projeto editorial. O que nos move é o prazer de ver um projeto OLD 23 desse acontecer. Cada livro é um grande aprendizado compartilhado com a equipe que divide o projeto. No fundo são projetos coletivos. Tenho vários parceiros, entre eles a minha irmã Isabel Santana, que fica em SP e é produtora gráfica. Ela cuida com cuidado da produção dos nossos projetos. Pude ver e conhecer um pouco das suas exposições pela sua fala e da Rosely Nakagawa e seu trabalho ganha uma


Tiago Santana nova dimensão a cada montagem. Em que momento do trabalho surgem as idéias para a exposição? É um trabalho coletivo ou individual? Assim como o livro, a exposição é um momento importante também de um trabalho. É uma pesquisa permanente na tentativa de conseguir passar uma experiência vivencial dentro do espaço expositivo. Assim como todo processo de construção de um trabalho, é sempre um compartilhamento de experiências que se somam e dão forma na montagem. Todo trabalho de uma forma ou de outra é sim coletivo. São as inquietações de autor que, compartilhadas com o outro, ganham forma e força. Acho que a exposição tem que ser acima de tudo uma experiência única para quem visita. Deve ter algo mais que simplesmente colocar as fotos numeradas em seqüências na parede. Existe um dialogo a ser proposto do trabalho com a

arquitetura do espaço e a intenção do autor, deixando margens, é claro para a interpretação de quem vê. Como foi o processo de edição para o PhotoPoche? Houve discussão sobre a seleção das imagens para o livro? E sobre a disposição delas dentro dele? Toda a edição do livro Photo Poche (Sertão), foi coordenada pessoalmente pelo Robert OLD Delpire, criador de coleção que vai completar 24 em 2012 trinta anos de existência. Ele me solicitou que enviasse uma pré-edição de 120 imagens onde ele editaria as imagens para o livro. Durante o processo ele foi muito gentil e atencioso, respeitando o tempo todo a minha opinião. Fiz algumas sugestões que foram prontamente atendidas por ele. Delpire é talvez o maior editor de livros de fotografia do mundo, por toda sua obra e os projetos que editou. Mas, Delpire é sobretudo uma


Tiago Santana pessoa simples e que parece estar o tempo todo aprendendo com cada novo projeto. Me identifiquei muito com ele. Foi realmente uma das melhores experiências que tive ao longo do meu trabalho como fotógrafo e editor.

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Percebo uma relação entre o suas imagens e as do Gipsies do Koudelka. Você acha que esse paralelo faz sentido? Quais são suas influências para desenvolver seu trabalho fotográfico? É difícil dizer quais as influências em um trabalho. Acho que uma obra é resultado de uma infinidade de experiências compartilhadas. Do autor com ele mesmo, do autor com o fotografado, do autor com outros autores, do autor com editor, curador, designer, etc... Meu trabalho tem sim um pouco do Koudelka, que é um dos fotógrafos que mais admiro. Mas tem também um pouco de um grande número de fotógrafos no Brasil e no mundo

que de uma certa forma me ajudaram a construir o meu olhar. Muitas vezes identifico um desses fotógrafos nas minhas imagens. Não é cópia, são releituras e interpretações a partir da sua experiência de vida. Nosso olhar se forma com essas experiências de olhar o mundo através do olho do outro. Qual será seu próximo tema/trabalho fotográfico? São tantos os trabalhos que gostaria de fazer. O problema é ter tempo pra conseguir viabilizá-los. Estou continuando um trabalho que chama-se “A luz perpétua e o resplendor” que faz parte de um projeto em torno da morte, do dia de finados, dessa relação do homem com a finitude... Estou também trabalhando em um livro sobre o universo de Luiz Gonzaga, que em 2012 faria 100 anos. Também estamos trabalhando em uma publicação sobre a relação de Juazeiro do Norte e


Tiago Santana a Fotografia, onde teremos a participação do trabalho de aproximadamente 100 fotógrafos. Outro projeto de mais longo prazo, é um mergulho que estou começando a fazer em toda minha produção desde quando comecei a fotografar. Trata-se do projeto “Incompletudes”, que é dar corpo a uma série de ensaios e imagens produzidas ao longo dos anos e que não fazem parte de nenhum projeto específico. Meu arquivo é cheio dessas “gavetas” de imagens que isoladas não teriam força. A OLD idéia é dar um conjunto, forma a essas fotos, 26 exatamente pelo sentido de serem incompletas. Dar completude a esses fragmentos de imagens e transformá-los em um só corpo, um só ensaio. Uma fotografia incompleta, uma obra incompleta, uma vida incompleta. Estamos sempre em processo e é isso que nos faz continuar produzindo.


Marcos Sêmola Portfolio

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Marcos Sêmola é fotógrafo, engenheiro e professor. Começou seu trabalho fotográfico durante uma período de quatros anos na Europa, com um foco especial na produção PB, apresentada aqui na OLD. Você tem ensaios diferentes e de tema bastante interessantes. Como você escolhe os temas que irá fotografar? Eles surgem quase que inconscientemente. Ao andar pela rua para meu trabalho, acabo

acabo atraído por um tema e o contexto, por vezes, sugere uma série e assim tudo acontece. O projeto Mind the Step foi assim. Estava em Londres na rua buscando uma cena boa quando subi a estação de trem e notei uma plástica bacana entre as curvas do corrimão, as escadas, o céu gerando contraste com um prédio e as pessoas passando. Logo me veio a idéia de enquadrar, permanecer no mesmo lugar e esperar o elemento mais importante da minha fotografia: as pessoas. BINGO...surgiu a série.


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Portfolio O seu trabalho com fotografias de longa exposição é muito interessante. Como foi desenvolvido este trabalho? Qual é a importância da técnica fotográfica para a sua linguagem? Mais um projeto que surgiu por acaso quando saia de uma reunião no meu escritório em Londres. Observando o clima da estação notei algo frenético, pessoas diferentes que se cruzavam sem sequer se olhar nos olhos. Aí pensei em como poderia retratar isso. No início pensei em uma única foto. Escolhi o fundo, o enquadramento e esperei elementos humanos interessantes surgirem, mas a esta altura já estava planejando a longa exposição para gerar a sensação de frenesi, mas também para criar uma expressão plástica ainda mais artística e, de certa forma, casual. Pronto, lá estava criada mais uma série.

O ensaio Mind The Step tem uma questão importante: criar diversidade para a série estando sempre no mesmo lugar, com o mesmo enquadramento. Como você lidou com esta questão? Exato. Como mencionei acima foi uma idéia inesperada, mas depois de concebida foi mais rápido e fácil executar. Tentei fazer parecer que fossem frames de um mesmo filme, mesmo cenário, mesmo clima, mas com personagens diferentes como se estivessem experimentando roupas ou simplesmente observando. Interessante é que a posição que decidi ficar provocou expressões curiosas as quais procurei capturar como elemento do projeto. Como é sua relação com os personagens que retrata em suas fotografias de rua? Superficial e comumente posterior a foto.

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Portfolio Não interfiro nas fotos que faço. Não deixo que me detectem antes de realizar a foto e, só se percebem, depois de tirada, é que tenho um contato visual e, por vezes um sorriso, como se pedindo autorização para a foto que já fora feita. Não sou dos que gosta e precisa conversar com o fotografado, entender sua história de vida e tudo mais. Comigo é pá-pum: espontaneidade, bom enquadramento, boa expressão e sem me deixar notar: click. Caso contrário não seria street photography, mas portrait. Você trabalha com Cor e PB. Como você faz essas escolhas para seus ensaios? Em PB em 99% do tempo. Enxergo o mundo em PB, os contrastes, as sombras e assim procuro sempre o balanço entre o preto puro, o branco puro e os tons intermediários. Quando me arrisco nas cores, abandono a saturação e intencionalmente a esmaeço

para me remeter ao passado tornando a fotografia atemporal. Funciona às vezes. Comumente já clico em PB. Somente quando as cores representam um elemento chave para obter a fotografia que procuro é que me arrisco nelas, como em um festival de balões, por exemplo.

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