OLD Nº 49

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expediente

revista OLD #número 49

equipe editorial direção de arte texto e entrevista

Felipe Abreu e Paula Hayasaki Tábata Gerbasi Angelo José da Silva, Felipe Abreu, Laura Del Rey e Paula Hayasaki

capa fotografias

Troi Anderson Alfredo Brant, Ekaterina Vasilyeva, Gabriela Rosell, Santarosa Barreto e Troi Anderson

entrevista email facebook

Carine Wallauer revista.old@gmail.com www.facebook.com/revistaold

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índice

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livros alair gomes: percursos exposição

troi anderson por tfólio

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alfredo brant por tfólio

ekaterina vasilyeva por tfólio

carine wallauer entrevista

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santarosa barreto por tfólio

gabriela rosell por tfólio

reflexões coluna


Cultivated dune landscape in a Dutch zoo


carta ao leitor

Esta nova edição da OLD prima pela variedade. Buscamos apresenta no mês de Setembro um número de portfólios que usem de técnicas e assuntos próprios. Nossa capa explora rituais religiosos no Haiti, com registros que unem delicadeza e força, no melhor da tradição da fotografia documental. Temos também ensaios que lidam com a produção analógica, com a relação que se cria entre o fotógrafo e o próximo. Alfredo Brant explora este tema em dois ensaios, em que os pontos de força se dão pelos retratos apresentados em cada um deles. Assim como Ekaterina Vasilyeva, que une seus retratos à exploração da sua região natal. Santarosa Barreto se confronta com o outro, mas não através de retratos,

e sim através da exploração da cultura americana, da representação visual de três cidades diferentes dos EUA. Diferentemente dos outros ensaios desta edição da OLD, Gabriela Rosell se volta para dentro e apresenta a relação do corpo feminino com a natureza, em um ensaio delicado, que nos leva de volta a um período de maior harmonia entre o homem e o espaço que ele ocupa. Para fechar esta plural edição temos uma divertida entrevista com Carine Wallauer, uma das ganhadoras da convocatória do Paraty em Foco 2015. Carine volta à edição depois de quase três anos, com novo livro, novos projetos e uma carreira cada vez mais marcante.

por Felipe Abreu

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livros

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VE S TÍG IO S DIGI TA I S de Silvino Mendonça

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odos nós sabemos que vivemos em uma época de excesso de imagens. Assim sendo, há muitos que acreditam que não há necessidade de se produzir mais imagens, que a função do fotógrafo contemporâneo se aproxima cada vez mais da do editor.Silvino Mendonça encarou esta tarefa com maestria em seu livro Vestígios Digitais. A obra, apresenta imagens deixadas em mostruários de tablets e celulares em lojas de várias partes do Brasil, criando uma coleção de retratos espontâneos, que muito fala da nossa relação com a tecnologia e com a fotografia em si. A publicação será lançada pela Savant Editora na Pãodeforma, em Outubro. Vestígios Digitais se coloca como um belo representante deste novo pensar fotográfico, que prima não tanto pela produção de imagens, mas pelas relações que conseguimos criar entre elas.

Lançamento no início de Outubro. 160 páginas.

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livros

THE CHINESE PHOTOBOOK de Martin Parr e WassinkLundgren

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artin Parr atacou novamente. Depois de apresente, em parceria com Garry Badger, uma coleção de três volumes sobre a produção de fotolivros nos séculos XIX, XX e XXI, ele agora apresenta um volume especial sobre a produção de fotolivros na China, de 1900 até agora. O novo livro é produzido em parceria com a dupla WassinkLundgren, formada pelos artista Thijs groot Wassink e Ruben Lundgren. Este super time fotográfico se debruçou sobre um país de cultura riquíssima, mas ainda muito misteriosa para nós. O projeto foi montando ao redor das coleções de fotolivros chineses do trio de autores. À partir deste volumes, eles reconstroem a história deste meio na China, criando um panorama completo e luxuoso deste cenário ainda tão pouco conhecido. Disponível no site da Aperture valor R$480 480 páginas

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exposição

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CORPOS E PERCURSOS DE ALAIR GOMES Caixa Cultural apresenta, no centro de São Paulo, uma grande retrospectiva da obra de Alair Gomes, precursor da fotografia homoerótica brasileira.

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oi da janela de seu apartamento em Ipanema que Alair Gomes começou a definir seu papel na fotografia. De lá, voyeur, registrou os corpos na praia, as brincadeiras, os exercícios e o viver dos homens que passavam à sua frente. Esse registro de corpos e caminhos cariocas, feitos por mais de três décadas, construiu os pontos centrai de sua produção fotográfica. A mostra Alair Gomes: Percursos, com curadoria de Eder Chiodetto, apresenta este e muitos outros trabalhos do fotógrafo carioca, em uma grande retrospectiva na Caixa Cultural.

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O trabalho de Alair não era apresenta nesta dimensão desde a Bienal de 2012. Em Percursos são apresentadas 290 fotografias de seis séries produzidas pelo autor, além de um conjunto de imagens inéditas de atletas do Rio de Janeiro e um ensaio produzido em 1969 na Praça da República, em São Paulo. Há nas fotografias de Alair Gomes uma curiosidade profunda pelos corpos que fotografa. Há um desejo de conhecê-los mais profundamente, de saber seus passos e objetivos, de endeusá-los. Não se vê nas imagens um registro puramente objetivo dos

eventos à frente da sua janela, mas sim a construção de estátuas, de monumentos ao masculino. Alair Gomes esculpe cada um dos corpos que apresenta, chega ao ideal visual de seu imaginário em cada uma dessas imagens. Assim ele constrói sua estética, que observa e idealiza, construindo uma coleção de esculturais corpos masculinos.

A Caixa Cultural fica na Praça da Sé, no centro de São Paulo, e recebe a exposição Percursos até o dia 4 de Outubro.


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TROI ANDERSON Defiant Rite

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roi Anderson deixou os EUA e viajou para o Haiti para produzir sua primeira grande série documental. Lá, distante das tecnologias e do consumo típicos de seu país ele encontrou a vida. Imerso nos rituais Vodou, Troi pode entender o que o tocava, o que o movia e registrar isso em um profundo e tocante ensaio visual que apresentamos aqui na OLD



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troi anderson

Todas as tragédias e passagens da nossa Troi, nos conte sobre seu começo na fotografia. Eu nunca estudei fotografia formalmente e até abandonei a escola de cinema que fazia em Nova Iorque, mas eu venho estudando imagens por conta própria desde muito novo. Pintores como Max Ernst e Charles Burchfield, os poetas Artaud e Rimbaud... Eu estava interessado em ganhar algum tipo de visão, como estes artistas falam em seus trabalhos. A fotografia é uma maneira de focar minhas energias, é muito atlético ou também pode ser como jejuar ou usar drogas. Com isso você pode se levar a lugares que não iria se não fosse pela fotografia.

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Como foi a experiência de produzir Defiant Rite? Defiant Rite foi criado durante uma série de visitas ao longo de alguns anos ao Haiti. Eu nunca tinha me concentrado em uma produção documental ou em pessoas antes deste trabalho, então foi algo bastante novo para mim, mas este era um dos meus principais interesses. Eu já estava bastante animado com o que tinha lido ou visto sobre o Haiti, mas o imediatismo absoluto daquele lugar, o fato que é impossível se isolar, de que tudo acontece ao seu redor como um caleidoscópio, faz com que o Haiti tenha um poder incrível. Sinto que os EUA, meu país, estão mortos. Somos zumbis comparados

existência são representados nestes rituais de uma forma muito intensa e poética. ao Haiti, estamos meio dormindo, meio acordados. Uma inércia constante criada pelas telas que nos rodeiam. Estamos ricos materialmente mas muito pobres espiritualmente. O Haiti e especialmente os rituais Vodou, isso era vida para mim. Todas as tragédias e passagens da nossa existência são representados nestes rituais de uma forma muito intensa e poética. O Vodou é uma arte, um teatro. Estes são atores, performers e eu não sabia que existiam artistas deste calibre, por isso tive que voltar e voltar ao Haiti. Esta foi minha escola e minha maneira de aprender.


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Como você se relacionou com seus personagens? O quão próximo ficou deles? Criar este tipo de fotografia é diferente de outros tipos de fotografia que já fiz porque depende de construir uma relação instintiva entre fotógrafo e fotografado. O ator e o fotógrafo precisam ter uma relação de profunda confiança. Se minhas ações são sinceras, então o envolvido no ritual me permite trabalhar com ele, criar imagens com ele. As fotografias não são minhas, mas sim trechos de um teatro criado pelo Haitianos. Foi uma criação colaborativa, apesar de não falarmos a mesma língua estávamos criando estas imagens em uma espécie de amor mútuo, criado pela intensidade deste rituais. Neste momentos seus olhos mostram tudo, você está completamente nu. Se você

é um mentiroso isso se torno exposto, mas se você é sincero e amoroso, isso supera qualquer barreira e todos se tornam abertos para você. O que mais te marcou durante a produção do ensaio? Como isso foi traduzido para as imagens? O mais impressionante foi a performance de todos envolvidos no Vodou haitiano. Nessa experiência percebi como a nossa representação está atrasada, como foi tolo em acreditar que estávamos na ponta da criação artística nos EUA. O Vodou é contemporâneo, absolutamente moderno, fixado no presente, na realidade imediata das coisas. Se eu conseguir traduzir essa relação com o agora, dar um sentido fotográfico para isto, minha missão com este ensaio estará cumprida. 

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ALFREDO BRANT

Recommended by lonely people & Un Eté a La Plage

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lfredo descobriu a fotografia ainda na infância, mas foi ao sair do Brasil e ir para a França que ele passou a encará-la como forma definitiva de expressão artística. Nesta edição da OLD apresentamos duas séries de Alfredo que têm uma força especial em seus retratos e nos detalhes das vidas de seus personagens. Assim, Alfredo Brant constrói seu estilo visual, que une culturas e expressões diferentes ao apresentá-las em suas fotografias.



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alfredo brant

Então decidi me concentrar nos reAlfredo, nos conte sobre seu começo na fotografia. Meu pai me ensinou a fotografar com uma câmera analógica quando eu tinha uns 12 anos. Acho que esse foi o verdadeiro começo. Mas no inicio a fotografia era mais um hobby do que qualquer outra coisa. Comecei a me interessar pela imagem fotográfica durante o curso de jornalismo na UFMG em Belo Horizonte, onde fiz algumas disciplinas de fotografia e de cinema. Comecei a ver exposições de fotografia também nessa época. Depois quando me mudei para a França, aos 22 anos, a fotografia se tornou algo mais concreto para mim e decidi fazer um mestrado em Fotografia e Arte Contemporânea em Paris.

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Como foi o processo de produção de Recommended by Lonely People? Recommended by Lonely People surgiu de uma forma muito espontânea e não planejada. No final de 2012 eu resolvi fazer uma longa viagem para a Índia e para o Nepal, por questões muito pessoais, pois precisava de estar sozinho e de mudar radicalmente de horizontes... Levei duas câmeras analógicas e vários rolos de filme sem saber o que faria. No inicio não fotografava muito, pois a maior parte dos lugares onde ia eram muito caóticos e movimentados. Eu precisei de um tempo para digerir esse novo ambiente e perceber que além do caos, da multidão e do barulho, a Índia tem um lado muito espiritual e pacifico que se manifesta nas pesso-

tratos e nos encontros espontâneos que fazia durante minha viagem. as. Então decidi me concentrar nos retratos e nos encontros espontâneos que fazia durante minha viagem. Minha intenção era de me confrontar com esse universo humano tao rico, como se os encontros e as relações de trocas (por mais efêmeras que fossem) pudessem dizer tanto sobre mim quanto sobre as pessoas. Para complementar os retratos, fotografei lugares e objetos, tudo de maneira frontal e direta. Meu processo de produção não foi nada linear... ao mesmo tempo que fotografava, eu recolhia documentos como cartões postais e escrevia sobre o que via e o


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que sentia. Era como se eu estivesse colecionando documentos para depois escrever um poema que falaria tanto sobre mim, quanto sobre a viagem, sobre as pessoas e sobre o território. E Un Eté a La Plage? Nos conte sobre a criação deste ensaio. Un été à la Plage surgiu da idéia de explorar o quotidiano durante as férias. Isso é um conceito um tanto quanto contraditório, pois as férias são teoricamente um momento onde saímos da rotina. Desse modo, eu e o fotografo francês Arthur Perset passamos três semanas em uma pequena cidade balneária do litoral Atlântico na França, que muda completamente de fisionomia no verão com a chegada dos turistas e das pessoas que trabalham lá durante o verão.

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Trata-se também de um projeto sobre os encontros com essas pessoas e sobre a idéia de verão na Europa, que são esses três meses onde sentimos que a vida e o comportamento das pessoas muda radicalmente. Existe toda uma atmosfera despretensiosa, uma art de vivre misteriosa e sensual. Queria captar isso também e propor imagens que transpirem um pouco desse ambiente. Você vê seus trabalhos se transformarem muito do momento da criação do conceito até a apresentação final? Como este processo ajuda a amadurecer suas ideias? Completamente. Vejo meu trabalho como uma pesquisa de campo. Prefiro trabalhar com conceitos mais abrangentes que posso ir afinando durante a realização do trabalho. Na

fotografia documental, acho muito importante chegar num local de trabalho sem idéias pré-estabelecidas e aprender in situ. O processo pode então ser adaptado a todo momento e novas idéias podem surgir da minha interação com o ambiente, com as pessoas. No momento da apresentação final eu já tenho uma boa distancia de analise em relação às imagens. Isso me ajuda a elaborar um trabalho que tenha uma leitura mais universal e de retomar um conceito mais amplo, que não seja moldado apenas por questões espaciais ou temporais. 

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EKATERINA VASILYEVA

40 Days of High and Low Tides

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katerina explorou as delicadas relações de uma cidade costeira no norte da Inglaterra e seus habitantes. O desejo de fuga do urbano, o leve tom de decadência e uma melancolia tipicamente associável às gélidas águas do mar do norte aparecem em sua produção visual. Ekaterina consegue nos apresentar de forma delicada todas as complexidades de Kent, em um ensaio produzido nos últimos 40 dias de sua estadia na cidade.



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ekaterina vasilyeva

Ekaterina, como começou seu interesse pela fotografia? Começou tarde, na verdade. Eu tinha 32 anos de idade. Sou uma bibliotecária e trabalhei por três anos na biblioteca da Universidade Médica de São Petersburgo, depois disso mais oito anos no departamento de turismo, o que me ajudou a conhecer muitas culturas e países. Um interesse mais profunda na fotografia surgiu em 2009, durante minha residência de dois anos no Alabama. As fotografias simples de viagem e natureza se tornaram insatisfatórias para mim. Muitas vezes me lembro de uma fotografia que fiz na Flórida, de um casal caminhando na praia ao redor de um grande grupo de pássaros. O homem levantou

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os braços e os bateu, como asas. Também foi neste momento que percebi que queria mudar algo na minha vida, talvez até na minha profissão. Este período basicamente mudou a minha vida. Tive mais tempo sozinha para pensar, em um país diferente, e isso me ajudou muito a decidir meus novos rumos.Assim que voltei para São Petersburgo comecei a estudar fotografia. Nos últimos seis anos estudei fotojornalismo, fotografia documental e contemporânea. Também realizo trabalhos comerciais e colaboro com veículos da Alemanha, Rússia e China.

A costa é um lugar que nos apresenta as beiradas expostas de um país e no qual a visão da existência se torna mais aparente do que nós vivemos normalmente. Nos conte um pouco sobre a produção de 40 Days of High and Low Tides. A série foi produzida quando estava indo embora de Kent, antes de voltar para casa. Aconteceu de os últimos 40 dias da minha residência no Reino Unido serem esta pequena cidade no Mar do Norte. Esta região era uma das áreas mais valorizadas do campo inglês no século XIX, se colocando como um espaço de fuga da pressão da vida urbana londrina. Estes 40 dias me ajudaram a compreender e articular minha percepção visual desta região da Inglaterra, mais


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precisamente do condado de Kent, que foi minha casa por dois anos. Qual a sua conexão com os lugares e pessoas que você fotografa? Como isso interfere na sua produção? Gosto de andar sozinha, assim sinto que consigo criar uma relação mais profunda com a paisagem ao meu redor. Andar me ajuda a ficar presente no momento e aumenta meus sentidos em relação à iminência dos eventos ao meu redor. Também parece ter um interessante efeito psicológico em minha mente. Acabei me atraindo pelos momentos mais quietos das minhas caminhadas e me tornei interessada em fotografar as pessoas que vagavam pela costa, assim como eu. Em relação à vida fechada e claustrofóbica de uma grande cidade, o mar

pode parecer como um outro mundo. A costa é um lugar que nos apresenta as beiradas expostas de um país e no qual a visão da existência se torna mais aparente do que nós vivemos normalmente. Quais foram os principais desafios na construção desta narrativa? O mair desafio para mim é trabalhar com pessoas. Isso requer uma certa quantia de coragem e responsabilidade. Para mim, andar é um processo contínuo de aprendizado. Ao me colocar em um território pouco familiar não estou só aprendendo sobre lugares novos, mas também coisas novas sobre mim mesma.

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CARINE WALLAUER OLD entrevista


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Carine Wallauer passou pela OLD em Dezembro de 2012, em uma edição especial com seis portfolios que viriam a se tornar os primeiros livros de seus autores. Estavam nesta edição Marco A. F., Tiago Coelho, Roberta Sant’Anna, Leonardo Remor, Serena Salvatore e Carine. Todos parte de um time de jovens fotógrafos que cada vez mais se destaca dentro da fotografia contemporânea. Entre sua primeira passagem por aqui e esta entrevista, Carine publicou dois livros, Visões Elevadas de Eros e O Vazio É Um Espelho, apresentou seu trabalho em variadas exposições e acaba de ser uma das ganhadoras da convocatória do Paraty em Foco. Laura del Rey conversou com Carine para saber mais sobre sua trajetória nestes últimos anos, a criação de seu mais recente ensaio, suas referências e seus projetos futuros.

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Carine, conta um pouquinho do seu começo como fotógrafa e, especialmente, do que aconteceu neste intervalo entre o Visões Elevadas de Eros [primeiro livro, 2013] e O Vazio É Um Espelho [2015]. O Visões foi um projeto que caiu no meu colo. Até o lançamento dele, até a gente pensar nele, eu fazia tudo muito informalmente, não me considerava fotógrafa ou artista. Um dia o Marco Antonio e o Thiago Coelho me chamaram para conversar e falaram que estavam com vontade de juntar alguns jovens fotógrafos para fazer o lançamento dos seus primeiros fotolivros, de maneira independente. Foi nessa época que passei a pensar no meu trabalho como um trabalho, não apenas um passatempo. Foi um processo bem coletivo, de discussão de edição, de como faríamos com o Catarse... divisões de

tarefas mesmo. Aí lançamos os seis livros e o Visões vendeu bastante, no Brasil e fora, e também participou de algumas exposições. Até hoje eu trabalho muito com ele, recebo convites, é um livro que foi muito querido pelas pessoas. E nesse meio tempo, antes d’ O Vazio, eu produzi muito, mas produzi em silêncio, numa reflexão comigo mesma para entender melhor o meu trabalho. Acho que, se eu não tivesse participado do É Preciso Arrumar a Casa (nome do coletivo), provavelmente não teria a agilidade, a autonomia e o conhecimento que tive para desenvolver tão rápido o segundo livro, O Vazio. Porque uma vez que eu decidi que faria este projeto, em quinze dias já estava com tudo pronto: edição, design, provas e lançamento.

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Como foi este processo d’ O Vazio? Uma amiga me passou o perfil de uma menina no Facebook e disse que achava o rosto dela a cara do meu trabalho. E realmente, quando eu vi a Thaiani [Wagner], fiquei encantada, achei ela muito expressiva. Nunca tinha visto um rosto ou uma forma de olhar como aquela. Adicionei ela e começamos a conversar, descobrimos que tínhamos muita coisa em comum: nossa forma de ver a vida, de viver, nossos medos... a gente era muito parecida emocionalmente. A primeira vez que nos vimos pessoalmente já foi para fazer as fotos. Passei na casa dela de carro [outubro de 2014], fomos pro litoral e ela se entregou para mim completamente. Foi uma troca incrível, que aconteceu muito por essa conexão que já existia de antes. Ela não se sentiu acuada ou

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julgada, ela se sentiu como eu estava me sentindo, como se nos conhecêssemos a vida inteira. Eu só usei dois rolos para fazer as fotos: um 35mm na minha Nikon e outro para fazer a lomokino. E só fui encontrar a Thaiani de novo depois que o livro já tinha sido lançado. Entre a sessão de fotos e decidir publicar, guardei o trabalho e não tinha mostrado para ninguém. Senti que tinha algo ali que em algum momento iria se mostrar para mim; eu tinha essa intuição, de que era uma decisão dele [o trabalho], e não minha, ficar pronto. Volta e meia pegava as fotos, ficava olhando... e fui fazendo outros trabalhos, neste intervalo, mas sempre com o ensaio da Thaiani na cabeça. Um dia, no começo deste ano, eu estava combinando com a Bia [Bittencourt, da Feira Plana] a oficina que eu iria dar na Feira [Intervenções Analógicas em Foto-

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grafia] e pensei que seria interessante levar, além do curso, algum trabalho meu para São Paulo. Peguei as fotos daquele ensaio, fiz a edição em uma noite e imprimi. A primeira edição, de 50 exemplares, já esgotou, e agora vou lançar uma segunda em parceria com a Azulejo Arte Impressa. Vamos dividir as despesas, o trabalho e a quantidade de livros que cada um vai ter para vender [200 ao todo]. Com fotolivros, meu objetivo nunca é ganhar dinheiro, mas fazer acontecer e fazer circular. Grande parte deles eu dou para bibliotecas, curadores, festivais... E o nome do livro? Foi alguma chavinha que virou na sua cabeça entre a intuição de que havia algo ali e descobrir qual era esse algo? No final do ano passado, eu estava coletando frases de filmes que eu gosta-

va. E, quando fui pensar no nome do projeto, achei que ele tinha algo existencial muito forte. Eu estava passando por um momento pessoal mais pesado, tinha acabado de sofrer um assalto dentro da minha casa, meus pais tinham se separado... estava com uma energia mais pesada e queria fazer um livro que falasse do meu momento, também. Aí eu olhava para o olhar da Thai e aquilo me dizia tanta coisa... era um espelho mesmo. Resolvi buscar na minha pastinha uma referência que pudesse ter a ver com isso e encontrei uma fala do protagonista de um filme do Bergman, O Último Selo, em que ele diz: ‘eu gostaria de confessar todos os meus pecados, mas meu coração está vazio - e esse vazio é um espelho’. Foi o resumo do que eu estava passando e do que eu sentia quando via aquelas fotos da Thaiani: ela como sendo de fato um


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espelho para mim, um auto-retrato nos olhos de outra pessoa - que é como eu defino este projeto. Normalmente você trabalha pensando os projetos já para o suporte livro? Isso condiciona alguma coisa na sua maneira de trabalhar? Sim. Talvez pela influência do Visões na minha formação, só penso em livros. Acho que eles têm uma potencialidade maior que a exposição no mundo de hoje e eu posso ter um controle total sobre o processo. Me interessa, também, que o design auxilia como linguagem, como narrativa, e enriquece a minha fotografia. Existe uma métrica, uma conexão mais clara de uma imagem com outra. E um livro é atemporal, circula, não tem obrigação física de que o espectador esteja em algum lugar... a pessoa pode decidir quando quer

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mexer nele ou não. Esse tempo aberto me remete a algo que me interessa muito, que é a memória. Hoje, a pessoa mexe no livro e o deixa guardado; depois de um ano ela pode ver de novo e lembrar do que sentiu e talvez tenha novas interpretações, porque teve novas experiências de vida. Para mim, um livro é muito mais vivo que uma exposição. E tem o toque. Pensar no papel... Mas eu exponho, também. Minha primeira individual foi do Visões... e O Vazio eu já expus aqui em Porto Alegre em forma de vídeo, no FestFoto, e agora em setembro vou montar no Minhocão, em São Paulo. Uma exposição de parede mesmo [risos]. É daqui duas semanas, mas ainda estou pensando como fazer. Acho que vai ser com um papel que não seja fotográfico. Algo mais simples... acho que molduras não combinam com este trabalho.

Quer falar sobre a sua premiação no PEF? [3º lugar no Prêmio Paraty em Foco - Melhor trabalho fotográfico] Sim! Foi muito louco. Porque faz anos que me inscrevo e nunca tinha passado nem para aparecer ali no site [risos]. Era sempre uma frustração que eu tinha. E agora eu ganhei! Não esperava. Eu achava que o projeto tinha a ver com o tema deste ano, e talvez por isso tivesse uma força, mas vou dizer que fiquei bastante surpresa de estar entre os três, especialmente dividindo com o Guilherme Gerais [1º lugar], que é um guri muito massa. E o bom disso é que o livro já chega ali com outra visibilidade, né, as pessoas vão se interessar mais. Falando em visibilidade e divulgação, você é uma fotógrafa com um certo fã clube online, né? E que mexe bastante no portfolio, muda, faz uma versão com

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cara de blog, dá uns meses e volta para uma cara mais de site... está sempre sondando estratégias de divulgação. Quando você não é ninguém, uma forma de mostrar o seu trabalho é a internet. Para que você seja conhecida, este esforço só quem pode fazer é você mesma - e eu investi nisso. Comecei a postar mais, criar estratégias, página no Facebook... E outra coisa que me trouxe visibilidade foi dar aulas, participar de eventos, festivais, dar as caras mesmo. Tudo isso junto fortalece o seu trabalho e a forma como ele é visto. No começo, se alguém me dissesse algo ruim, eu apagava o meu trabalho. Mas a gente vai amadurecendo, vai precisando menos dos outros para confiar no que faz. Claro que eu ainda sou sensível, mas tenho menos medo. E eu venho perdendo o interesse em me expor tanto, nesse sentido. Hoje

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Hoje, a pessoa mexe no livro e o deixa guardado; depois de um ano ela pode ver de novo e lembrar do que sentiu e talvez tenha novas interpretações, porque teve novas experiências de vida.

em dia não divulgo mais o processo, tanto... prefiro focar em produzir e só quando as coisas estiverem vivas começar a mostrar. Como já tenho mais segurança, estou mais interessada em mostrar o resultado. Isso online, né? Na vida real eu mostro bastante as minhas coisas para pessoas em quem confio e sei que podem me ajudar com opiniões. Naquele sentido de que ‘um autor/diretor/artista passa a vida toda fazen-

do a mesma obra’... você já consegue perceber, se é que existem, os temas que são as suas obsessões? Eu penso muito nisso. Não tenho uma resposta concreta ainda, mas sinto que o autobiográfico é muito forte no meu trabalho, mesmo quando uso metáforas para falar sobre isso. E esse tema dos mundos interiores e mundos imaginários, ou seja, de que forma as coisas que acontecem dentro da gente têm um impacto fora da gente. Gosto muito de pensar


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em momentos mágicos que podem acontecer na nossa vida rotineira e que a gente precisa estar aberto para receber esta magia da vida. Qual a diferença entre uma ideia e uma metáfora? [brincando sobre Adeus à Linguagem] [risos] Eu sou mais o Herzog que o Godard. Além deles, o que você tem visto, lido, ouvido? O Gabriel [Honzik, namorado] está fazendo um filme novo, que tem muito a ver com sociedade de consumo. Então estamos escutando muito rap e hip hop, por exemplo Weeknd. E Jeff Buckley, sempre... uma menina chamada Flo Morrisey. De livros, estou terminando de ler A Ilha da Infância, o terceiro de uma série do Karl Ove Knausgard, um escritor norueguês

que tem um trabalho de literatura que se assemelha ao que tento fazer com fotografia. Nesta série, ele escreve sobre a vida dele, que é uma vida qualquer, mas que é interessante. Um cara normal, que não precisa de algo extraordinário para contar coisas maravilhosas. Também gosto muito de livros de grandes exploradores, como O Livro das Maravilhas, do Marco Polo, e outro que já li e estou relendo, que é A Terra dos Homens, do Exupéry, um livro muito existencialista em que ele fala sobre como se sentiu nas experiências de voar. E filmes... vejo muita coisa, porque eu trabalho no cinema [Carine é gerente]. Vi ontem o filme do Walter Salles sobre o Jia Zhang-ke e saí completamente inspirada. E assisti um outro documentário recentemente que também me impressionou: Uma História Sobre O Vento, do Joris Ivens, um dire-

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tor que dedicou boa parte da vida à tentativa de registrar o vento. Neste filme, ele vai para a China captar o vento. É uma mistura de documentário com magia, essa coisa do momento mágico no cotidiano. Em que projetos você está trabalhando agora? No I Guess I Wasn’t Made For These Times, para o qual ainda estou fazendo fotografias e editando. Existe uma pré-versão dele, que eu uso para inscrever em editais, mas ainda estou produzindo. Este projeto saiu no Lens Culture, mas acho que ainda vai ser um caminho longo e estou sem pressa. E tem também um documentário, a partir de um projeto de um amigo meu, que é comissário de bordo da Emirates e vive em Dubai. Nas folgas, sempre que possível, ele viaja para o interior dos lugares e entrega

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fotografias de Polaroid para crianças que nunca tinham sido fotografadas antes. Eu quero fazer um filme sobre esse processo dele. Conta um pouco dos seus trabalhos como diretora de fotografia. Os dois filmes que fiz [O Último Dia Antes de Zanzibar, da Avante Filmes, e Temporal, da Asamayama Filmes], foram em 2014 - mas nenhum foi lançado ainda. O pessoal da Avante me chamou dizendo que gostava da estética das minhas fotos e que queria esta estética no filme deles. Eu nunca tinha feito nada disso, mas tendo a aprender fazendo mesmo; sou uma pessoa mais da prática que da teoria. E acho que deu certo, não estraguei o filme deles [risos]. E o outro filme, Temporal, é o do Gabriel, que deve ser lançado no final deste ano.

Qual você acha que é essa ˜estética das suas fotos˜ ? O filme se passa no sítio da mãe do Gabriel, e eles gostavam de como eu retratava aquela natureza, o tipo de tratamento que eu dava e de enquadramento... e buscavam algo semelhante àquilo. Na verdade, o Cinema é muito ligado ao meu trabalho mesmo, né? Eu tenho uma outra série, A Rotina Tem Seu Encanto, cujo nome também saiu de um filme, um longa do Ozu. Mas bom..., acho que eles queriam a forma como eu vejo o mundo e, em especial, o sítio. “O cheiro, a luz, a densidade do ar...”, como disse o diretor de fotografia do Jia no filme do Walter Salles. Sim! Que baita filme delicado... queria saber falar das coisas que nem eles [risos].  por Laura Del Rey


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SANTAROSA BARRETO A Foreign Sound

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antarosa Barreto produziu A Foreign Sound durante três viagens pelos EUA. Nova Iorque, Tenesse e Califórnia estão presentes na série, retratando parte da variada cultura americana. O ensaio se apresenta como uma reflexão da autora sobre a cultura de algumas cidades dos Estados Unidos. É ao mesmo tempo uma busca por encontras semelhanças e pontos marcantes de uma cultura que é tão próxima e tão distante da nossa.



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Por que, ao caminhar por esses lugares, Santarosa, como começou seu interesse pela fotografia? Minha formação como artista - e não como fotógrafa - é permeada por muitas referências que vão da pintura ao cinema e nem tanto da fotografia. No meu trabalho, a fotografia acabou surgindo mais como um meio de viabilizar a minha produção do que como uma pesquisa relacionada à fotografia em si. E, dessa forma, meu interesse pela história da fotografia foi posterior ao início da minha produção como artista. Apesar de eu ter feito cursos técnicos e teóricos sobre fotografia, e de fotografar desde muito nova, compreendi, durante a graduação em artes visuais e através das referências que coletei nesse período e que coleto até hoje, que o

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ato fotográfico era um instrumento necessário para eu trabalhar nos temas os quais me interessavam e que, no fim, nem era crucial para as obras que eu executasse com minhas próprias mãos as fotografias presentes nas mesmas para concretizá-las. Nos conte sobre a produção de A Foreign Sound. O processo de “A Foreign Sound” durou cerca de dois anos. Em 2012, morando em Nova Iorque, comecei a fotografar a cidade e o meu entorno como um exercício de registrar meus passos por lá. Nesse período, também viajei para o Tennessee e, em 2013, voltei aos EUA para visitar a Califórnia. Somente em 2014 que o trabalho tomou forma: a idéia não

mesmo num primeiro contato, temos a impressão que já passamos por lá antes? era que as imagens que reuni durante esses dois anos fosse uma coleção de street photography ou um diário de viagens, mas sim uma reflexão sobre a identidade de algumas cidades americanas e como as pessoas que vivem ou estão de passagem por lá se relacionam com essas paisagens. Por que, ao caminhar por esses lugares, mesmo num primeiro contato, temos a impressão que já passamos por lá antes? Como o seu imaginário em relação aos EUA influenciou a produção destas imagens?


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Em Nova Iorque, meu interesse pela história da fotografia americana aumentou. Eu estava estudando no International Center of Photography, era inevitável não voltar meu olhar para fotógrafos como William Eggleston e Stephen Shore e não incorporá-los às referências que eu já trazia comigo sobre a paisagem americana, que iam dos filmes de Wim Wenders, Jim Jarmusch e Alfred Hitchcock às pinturas de Edward Hopper. Na minha cabeça, todos eles compartilham o balcão do mesmo bar - o bar do Hopper - e tomam uma cerveja ao som de Bob Dylan e Tom Waits. Contaminado por essas imagens, sejam elas pertencentes às linguagens da pintura, fotografia, cinema, música ou literatura, o trabalho foi se desenvolvendo com o intuito de investigar paisagens e cenas cotidianas ou

banais, que me transportassem para uma posição de espectadora, que observa mas não se mistura à paisagem, com um olhar que atravessa uma vitrine ou tela de cinema. O fato de eu reconhecer essas imagens e relaciona-las às minhas referências também foi decisivo para a montagem do trabalho que, além das fotografias, também é composto por paredes pintadas de vermelho e painéis de ripas de madeira (painéis que cobrem a parede do meio dela ao chão, usualmente instalados em casas e bares americanos). Algo que remete a um ambiente doméstico e intimista mas, ao mesmo tempo, artificial, como num cenário. Qual a importância do vazio e da solidão na construção desta narrativa? Acho que mais do que o vazio e a solidão, que são temas bastante

explorados por alguns artistas que citei, era importante pensar sobre o silêncio do voyeur e do fotógrafo que é invisível. O trabalho não evoca uma narrativa que tem começo, meio ou fim, mas reflete sobre imagens que trazem consigo signos reconhecíveis de um imaginário. Não são fotografias originais, ou seja, são fotografias que foram realizadas por mim mas que poderiam ter sido realizadas por outra pessoa, poderiam ser frames de um filme ou até mesmo apropriações diretas da história da fotografia americana. 

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abriela Rosell une natureza e o corpo feminino em suas fotografias. Esse retorno à nossa relação primordial com o natural se dá de forma harmônica e poética, unindo flores à nudez feminina. Nesta série, Gabriela se deixa levar pela sua relação profunda com a natureza, que pode experimentar ao viver um ano em Ilha Grande, afastada das tensões e problemas das grandes metrópoles contemporâneas.



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A ideia principal é transmitir essa Gabriela, nos conte sobre seu começo na fotografia. Acho que foi uma mais de minhas tantas e ecléticas explorações na vida. Eu estudava literatura e escrevia, mas faz alguns anos comecei a jogar com a fotografia, e encontrei aí um canal interessante, num momento em que tinha uma profunda necessidade de me expressar de algum modo, e não o estava conseguindo com as palavras. Mesmo assim, a literatura atravessa minhas primeiras fotos, e sempre é uma fonte de inspiração mais. Como foi o processo de criação da série Por Sua Natureza Devorada? É uma série que penso, e sento, muito vinculada a outras recentes. Vivi

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um ano numa ilha em Brasil, em Ilha Grande -sem autos, sem o estress e as preocupações da cidade, só pura natureza, morros, as trilhas no mato, praias, e muita serenidade- e essa experiência mudou-me profundamente, e por suposto também transformou meu enfoque fotografico e o que procuro representar. A natureza, e a relação da cada ser com está, cobrou um papel fundamental em minhas fotos, no ponto que já não se trata só de expressar uma conexão entre natureza e ser, mas bem um essencial sentido de unidade; a consciência de ser parte de um todo que flui e conflui, que nos afeta e ao qual afetamos permanentemente. então esta série é uma busca mas em relação a estas ideias, neste caso representada atra-

sensação de unidade natureza-ser, de simbiose vés de multiple exposição de autorretratos e diversos elementos naturais. Como foram pensadas as sobreposições da série? Como uma imagem interfere na interpretação da outra? A ideia principal é transmitir essa sensação de unidade natureza-ser, de simbiose, mas há tambem um jogo de matizes suponho, e nas diferentes fotos prevalece um ou outro elemento, até o ponto em que algumas é dificil perceber limites definidos.


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Qual a importância do corpo na sua produção? Embora não sempre é centro da cena, costuma estar presente, em diferentes facetas. Aqui, é o corpo natural, o corpo-ser, despojado do material , acessório, supérfluo. Em outras séries, por exemplo, o corpo importa em tanto espontaneidade, dom de fluir e desfrutar.

medos, e todo o que pesa e cerceia as liberdades do corpo e, principalmente, do ser. 

O que você desejar transmitir ao unir o corpo feminino à flora em suas fotografias? Acho que não o penso em termos de feminino ou masculino, senão mas bem de corpo livre, nu, real, leve, pearmeavél às influências do mundo natural, descobrindo ali mesmo sua própria verdadeira natureza; fora dos preconceitos e imposturas sociais, o que deve ser, o que não, os tabus, os

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CONSTRUIR A SI COMO OBRA DE ARTE Inspiração é manter a vida. A inspiração é um gesto que move o ar para dentro. O vazio entra e alimenta. Expiração e o ar sai. Apenas movimento de algo impalpável. O ar a vida em movimento. Tão simples como aquela sinfonia do Beethoven, a quinta. O ar a vida o movimento a música impalpáveis. É possível a construção de si mesmo como obra de arte?! Construir a si mesmo como obra de arte é o tema de uma conferência de Luiz

Angelo José da Silva é professor de sociologia na Universidade Federal do Paraná e fotógrafo. Suas pesquisas mais recentes focam o espaço urbano e o grafite.

Fuganti e a inspiração para este texto. Por que não?! Parte do caminho esboçado naquela fala aponta para o fato de que uma vida assim conduzida têm na sua própria existência os elementos que a mantém em movimento, ou seja, viva. As realizações produzidas por esse ser autônomo, íntegro, em suma, vivo, constituem-se no próprio alimento dessa vida e desse ser. A construção de si potencializa o ser que pode seguir se construindo dessa maneira. Construir-se como obra de arte fazer-se a si mesmo como um combate da vida e pela vida.Mover-se com arte e ser arte. Assim como o ar, vital e vazio, a relação com uma ética de autonomia é imprescindível para a construção desse caminho. Pensando essa ideia de liberdade arti-

culada com a realização da fotografia como forma de expressão artística e de construção de si mesmo, notamos um movimento de auto reflexão. O fotógrafo como objeto de sua própria produção.Assim como a foto tem sido suporte para a expressão artística o corpo pode ser suporte para uma vida de artes, para a expressão artística de si mesmo, objeto de fotografação.A intensa produção de selfies e de projetos intimistas, tendo o corpo como centro, talvez nos revele um pouco dessa busca pela inteireza. Não são todos os caminhos que nos levam até ela. Mas, seguimos tentando... Vamos fazer arte com a fotografia e com isso nos expressar, nos construir como obra de arte. Compromisso. Consigo e com a vida.

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Assim como a foto tem sido suporte para a expressĂŁo artĂ­stica o corpo pode ser suporte para uma vida de artes 107


MANDE SEU PORTFÓLIO revista.old@gmail.com Fotografia de Jen Fedrizzi, da série Misfaced. Ensaio completo na OLD Nº 50.



INSTITUTO INTERNACIONAL DE FOTOGRAFIA FINE ART: PÓS-PRODUÇÃO E MERCADO A venda de fotografias impressas com alta qualidade e durabilidade é uma opção ainda pouco explorada por muitos fotógrafos, uma vez que a atuação neste nicho requer uma série de conhecimentos específicos. Ao perceber essa demanda, o IIF criou o curso Fine Art: Pós-Produção e Mercado, ministrado por Alex Villegas, que oferece uma formação abrangente no que se refere ao tratamento, a pós-produção, impressão e comercialização desse tipo de produto. Durante o curso, o aluno tem a oportunidade de compreender este amplo mercado, que inclui galerias de decoração, galerias de arte, colecionadores e museus. É oferecido um panorama mercadológico: quem são os compradores e quais são os tipos de trabalho que lhes interessam. A parte técnica inclui o conhecimento de todos os procedimentos necessários para realizar as impressões, desde o tratamento da imagem

digital e escolha de formato de arquivo, até as opções de papel, tinta e outras especificidades que influenciarão no resultado final da impressão. Outros temas a serem abordados são a montagem e a conservação do trabalho. Visando uma apresentação realista do ramo, a estrutura do curso conta com a participação de três convidados do fotógrafo responsável: um crítico de arte, um galerista e um fotógrafo atuante no ramo. Além disso, os alunos fazem duas visitas: a primeira a uma exposição e a outra a um ateliê de impressão, para entender de perto os diversos aspectos técnicos. A próxima turma do curso Fine Art começa no dia 14 de abril e termina no dia 23 de julho. Mais informações sobre o curso no site: http://www.iif.com.br/site/fine-art/


informe publicitário

DEPOIMENTOs DE QUEM FEZ

Segundo Gilberto Grosso, fotógrafo dedicado ao experimentalismo e aluno da última turma de Fine Art: pós-produção e mercado, o curso possui “uma abordagem ampla, conceitual e prática sobre o que é a arte e o mercado das imagens em fine art. Do princípio da criatividade e conceitos, passando pelos processos e equipamentos/materiais, à divulgação, exposição e venda das obras. Enfim, é um curso que todos os profissionais da imagem deveriam incorporar aos seus currículos”.

Para Edgar Kendi, designer, o aprendizado vai muito além das técnicas de impressão: “Compreendi que para se chegar ao Fine Art não basta apenas fotografar belas imagens e imprimi-las em um bom printer, é preciso compreender toda carga de significados que a imagem carrega em si e transmiti-los materializados em suportes que contribuam para tal fim”, diz.


Gustaf Sandberg


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