OLD Nº 13

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Revista OLD Número 13 Agosto de 2012

Equipe Editorial Direção de Arte Texto e Entrevista

Felipe Abreu e Paula Hayasaki Felipe Abreu Felipe Abreu

Capa

Flávia Junqueira

Fotografias

Flávia Junqueira Pétala Lopes

Entrevista

Abelardo Morell

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Parceiros


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FlĂĄvia Junqueira Portfolio

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Abelardo Morell Entrevista

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PĂŠtala Lopes Portfolio


Chegamos ao número 13 da OLD. Vamos torcer que, como para o Zagallo, o 13 seja mais um número de sorte pra gente! Nessa edição temos trabalhos fotográficos que transitam por estilos diversos, mostrando mais uma vez como a universo fotográfico não para de se expandir e de trazer novos fotógrafos e técnicas à tona. Flávia Junqueira é artista plástica formada pela FAAP e apresenta o trabalho Gorlovka 1951. As fotografias misturam a decadência de um prédio da URSS com as cores e formas de brinquedos infantis. É um ensaio que transforma cada fotografia em uma instalação. Para nossa entrevista, fomos buscar mais um colaborador internacional. Dessa vez conversamos com o fotógrafo cubano radicado nos EUA Abelardo Morell. A técnica das suas fotografias é sempre diferenciada e garante um enigma para cada uma de suas imagens. Há sempre a

sensação de que aquilo não é real, de que há algo errado por ali. O ensaio que fecha essa nossa décima terceira edição é um trabalho de muita intimidade, de cotidiano, que versa sobre a nudez feminina. Pétala Lopes é a responsável por essa série, que te transporta para a sua casa, para seus momentos de criação e intimidade. Apresentamos mais uma edição da OLD com muita alegria e com a sensação de que os limites da fotografia nunca serão encontrados, de que nós, fotógrafos, poderemos sempre criar e criar, sempre trazendo algo novo à tona.

Felipe Abreu


Underwater New Year’s at Rainbow Springs: Rainbow Springs, Florida/ Slade, Harvey E.


Flávia Junqueira Gorlovka 1951

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Flávia é formada em Artes Plásticas pela FAAP. Como muitos, precisou passar por outros cursos antes de tomar a decisão de seguir pelo caminho das artes. Flávia vem se destacando no cenário artístico, com exposições na Europa e no Brasil. Na OLD ela apresenta seu trabalho Gorlovka 1951, feito durante uma visita à Ucrânia, que une o final e o começo da vida, a destruição da arquitetura e as cores dos objetos da infância.

Como surgiu o ensaio Gorlovka 1951? Onde foram feitas as imagens? No início do ano fui à Paris realizar a residência Cite Internationale Dês Arts, que participei através de bolsa contemplada pela FAAP. Permaneci de Fevereiro a Agosto trabalhando solitariamente em um studio, sequencialmente, durante o mês de Agosto, estive na cidade de Donestk na Ucrânia participando de um projeto voltado para artistas fotógrafos.


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O projeto foi idealizado pela IZOLYATSIA Platform for Cultural Initiatives, com curadoria do grande fotógrafo Boris Mikhailov. A proposta era criar um trabalho que interligasse questões históricas da cidade (cidade pós industrial da era soviética) a percepção de cada artista. As imagens da série “Gorlovka 1951”, 2011, foram realizadas em um Palácio da Cultura da era soviética na Ucrânia na cidade de Gorlovka, interior da Ucrânia. Conheci esse espaço pela própria produção da residência, que costumava indicar locais aos arredores que fossem interessantes para a pesquisa de cada artista. Entrei neste Palácio abandonado, fiquei completamente encantada e decidi fazer minha pesquisa nele. Na época esse espaço continha uma grande carga de informações que traziam conteúdo claro para o que eu deseja apresentar em meu trabalho plástico. Foi uma coincidência muito produtiva.

Você é formada em artes plásticas pela FAAP. Como começou seu interesse pela fotografia? Você se vê como uma fotógrafa ou como uma artista plástica que usa a fotografia como suporte para sua produção? O interesse começou pelas artes plásticas e não pela fotografia em si. Naturalmente, e inicialmente na grande maioria das vezes, encontrei a fotografia como o melhor suporte OLD 08 para a concretização do que eu desejava mostrar conceitualmente nos meus trabalhos, a escolha sempre foi essencialmente atrelada a necessidade da pesquisa. Nos primeiros trabalhos, por exemplo, “Na Companhia dos Objetos” e a “Casa em festa” era importante que a imagem fosse completamente parada, grande, artificial, ampliada, controlada, etc. As imagem eram auto retratos e precisavam que eu estivesse completamente imóvel, pois a idéia era


atrelada a uma tentativa de eu me misturar aos objetos e criar um ambiente completamente artificial e recortado. Na ocasião, nenhum suporte faria isso melhor que a fotografia. Me considero uma artista plástica que usa diversos suportes e um deles é a fotografia. A maioria da produção nestes 3 anos tem sido no formato da foto, porém como já disse, foi algo que aconteceu em função OLD da necessidade de definição das próprias 09 particularidades de cada pesquisa, ainda que coincidentemente muito recorrentes. Atualmente tenho realizado trabalhos que discutem questões parecidas, porém através de outros suportes (documentação, catalogação, apropriação, instalação, etc...) A mudança não foi uma decisão racional, as questões do trabalho mudaram, as necessidades se ampliaram e por conseqüência o processo e os suportes também, o que não exclui a possibilidade de


existirem idéias que demandem novamente do suporte da fotografia para existirem. Alias, minha pesquisa de mestrado é fundamentalmente fotografia. Você ressignifica totalmente os espaços fotografados ao associar infância e destruição, velhice. Qual o conceito por trás dessa reconstrução? Ao iniciar minha pesquisa plástica, tomei consciência de que a relação afetiva de significados existente entre pessoas e seus objetos pessoais era o ponto de partida para pensar aspectos presentes em sentimentos atrelados a memória, intimidade, identificação e representação. Estes pontos me interessavam e ainda me interessam muito. Seqüencialmente a este raciocínio, o universo de proteção do objeto querido, ampliou-se para o cenário da casa, onde mais especificamente no espaço íntimo

do quarto, o sujeito podia se encontrar não só com seus objetos queridos, mas principalmente consigo mesmo. Em meu trabalho “A Casa em Festa” realizado em 2009, passei a evidenciar aspectos de celebração presentes nas casas. Para fortalecer o aspecto teatral e idealizador que me interessava tratar, optei em representar e cenografar meus próprios auto retratos dando-lhes uma estaticidade e controle total de uma festa excessivamente ficcionalizada. OLD 10 Meu foco era e ainda é, observar espaços cenográficos que possibilitam o acolhimento, proteção, realização de desejos, rituais e a celebração: algo que teoricamente está mais próximo da ficção idealizada do que da realidade.As relações que se estabelecem no mundo entre o mundo real e o mundo ficcional me interessam muito, observo em meu cotidiano estes elementos e ao encontrá-los, procuro ampliá-los como lentes de aumento ao inserir essas idéias em meu




trabalho plástico. Alguns de meus trabalhos atuais tentam se debruçar mais especificamente sobre estas questões. A instalação que desenvolvi em 2011 chamada “O caminho que percorri até te encontrar”, uma catalogação de carrosséis na cidade de Paris, que me permitiu observar o cotidiano real da cidade e reorganizá-la através de uma cartografia incomum. Não é a toa que muito de meus trabalhos OLD plásticos se valem de apropriações de 13 objetos infantis, pois na grande maioria é dada às crianças a maior possibilidade de misturar o sonho com a vida, ainda que continuemos sonhando com a vida sonhada depois de adultos. Como foi a busca pelos locais apresentados? Os objetos inseridos nos espaços dizem respeito exclusivamente a ele ou poderiam transitar entre os vários pontos que você fotografou?

No período em que realizei o projeto eu estava bastante interessada na relação oposta que aparentemente notamos entre as idéias de espaços reais e espaços ficcionais. Não é a toa que muito de meus trabalhos plásticos se valem de apropriações de objetos infantis, pois na grande maioria das sociedades, durante os primeiros anos de vida é dada as crianças a maior possibilidade de misturar o sonho com a vida, ainda que continuemos sonhando com a vida sonhada depois de adultos. Na minha opinião, a teatralidade dramática é algo que apesar de ser distante do real, ter caráter representativo de ações e a aparente artificialidade em seus meios e recursos, vale-se de seus métodos para inferir na vida cotidiana como maneira de realização e idealização de situações, o que nos possibilita uma vivência mais fácil e prazerosa.



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OLD entrevista Abelardo Morell


Abelardo Morell é um fotógrafo cubano radicado nos Estados Unidos. Ele foi o responsável pela reinvenção da câmara escura. Abelardo usa os princípios deste antigo método fotográfico para inundar quartos escuros com a paisagem exterior. O trabalho do fotógrafo cubano é sempre muito preciso, muito bem pensado. Uma aula de técnica e linguagem fotográfica. Para aprender um pouquinho do que OLD Abelardo tem para ensinar, batemos um 17 papo com ele. Como surgiu seu interesse pela fotografia? Como sua passagem pelo Bowdoin College ajudou nesse processo? Em 1969 fiz uma aula de fotografia com John McKee na Bowdoin e fiquei totalmente encantado - senti que esse suporte permitia, pela primeira vez na minha vida, dizer coisas profundas e emocionantes de uma maneira

eloqüente. Meu inglês ainda era muito ruim nesse época, mas meu olhar já estava bastante avançado. Um de seus projetos mais notáveis é Câmera Obscura. Como foi a construção da técnica e da linguagem neste trabalho? No final dos anos oitenta eu costumava converter minhas salas de aula na Massachusetts College of Art em Boston em câmeras escuras fechando todas as cortinas e fazendo um pequeno furo em uma delas. Esse procedimento simples criava um efeito tão mágico que deixava todos os meus alunos de boca aberta. Alguns anos depois, já em 1991, estava pensando nessas aulas quando me ocorreu que talvez eu devesse fazer fotografias do interior destas câmeras escuras. Eu conhecia o processo pela leitura em livros de arte mas eu nunca havia visto uma fotografia de seu efeito, então comecei a


trabalhar no processo para construir este tipo único de imagem. Levei um tempo para descobrir o procedimento técnico adequado, mas finalmente consegui no final daquele ano, fazendo a primeira fotografia dentro da sala da minha casa em Quincy Massachusetts. O processo fotográfico de Câmera Obscura expande o tempo fotográfico, especialmente no começo do trabalho, quando você ainda usava filme fotográfico para produzir as imagens. Você vê isso como um alargamento da narrativa dentro das imagens? Um maior espaço/tempo dentro de uma única fotografia? Eu amo a idéia de todos os tipos de tempo serem registrados em uma única fotografia. Tem algo em mim que acredita que uma longa exposição respeita o tempo daquilo que está sendo fotografado.

Como você pensa a relação entre o exterior e o interior em Câmera Obscura? Há uma busca por essa relação ou são uniões randômicas? Eu costumo procurar por uma vista interessante, como, por exemplo, o Empire State Building. Depois disso começo a procurar por pessoas que conheçam outras pessoas com uma vista deste local. Eu diria que o interesse pelo exterior aparece antes do que pelo interior. Algumas vezes eu acho um interior incrível, com uma bela vista também. Qual o papel do tempo na sua produção fotográfica? Como é sua busca pelos temas com que vai trabalhar? Os temas e idéias surgem na minha cabeça, mas geralmente levo algum tempo para refinar o projeto. Por exemplo, as imagens do

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Câmera Obscura surgiram depois de eu me interessar por fotografar água, as qualidades ópticas da água, objetos com propriedades ópticas mais claras, como meus óculos, minhas próprias câmeras, até chegar na imagem de uma lâmpada dentro de uma caixa escura e finalmente nos quartos de Câmera Obscura. Geralmente uma idéia leva à outra, eu só tento não ficar no caminho delas. OLD 21

Além de fotógrafo, você também é professor de fotografia. Como é sua relação com os alunos? Como você entra em contato com novos fotógrafos e o que você busca aprender com eles? Estou aposentado como professor, mas meus alunos ainda me mantém informado das maneiras mais incríveis. Sua juventude e energia são um privilégio e eu me beneficio muito com isso. Além disso, se você quiser

ser um bom professor você é forçado a falar e explicar seus pensamentos de uma maneira clara e essa fluência afetou diretamente o meu trabalho. Suas fotografias contam com um grande preparo antes de cada clique. Como o inesperado aparece dentro do seu trabalho? Quão grande é a importância da técnica e do estudo dentro de sua produção fotográfica? Você deve ter a técnica correta e aperfeiçoada para que suas idéias possam ser corretamente representadas. O uso somente da técnica deixa um trabalho frio, por isso você deve aceitar os pequenos acidentes que acontecem, se não você se torna fechado para a maneira com que o mundo está se transformando diante dos seus olhos. A Forma é importante para você aprender a como se livrar dela.


Você está trabalhando em algum novo projeto fotográfico? E em alguma nova técnica fotográfica? Estou trabalhando em um projeto no qual fotografo paisagens utilizando uma grande tenda, que chamo de TENT_CAMERA. Isso me permite projetar a paisagem diretamente no chão da tenda. O que faço é então fotografar a imagem projetada da paisagem na sujeira do chão. A fotografia criada é um sanduíche dessas duas realidades. Elas parecem estranhas, mas eu gosto do fato de que elas foram feitas naturalmente, sem truques.

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Pétala Lopes Portfolio

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Pétala Lopes é uma fotógrafa paulistana, que começou seus estudos em 2007. Ela atua em várias áreas da fotografia, do editorial de moda ao fotojornalismo. Para a OLD ela apresenta um ensaio nu, composto por imagens cotidianas, de uma intimidade e entrega ímpar. Seu ensaio registra momentos do cotidiano, da intimidade. Como foi o

processo de construção deste trabalho? O que me impulsiona a fotografar é o amor, a vida, as pessoas que divido tudo isso. A construção desse trabalho se deu à partir da beleza do dia a dia, das relações e do que pulsa. Ele é formado por fotos digitais e de filme, pois são diversas as situações. Ele é uma junção da minha vida. Costumo dizer que é permanente essa construção, e é


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lindo quando consigo tocar as pessoas com meu trabalho, já que é tão particular. Como você vê o nu dentro da fotografia? Que sentimentos e intenções você buscou expressar através do corpo neste trabalho? O nu é divino, o corpo é algo que se configura nosso ser enquanto humano. Fotografar alguém nu é uma troca, o fotografado se doando, o fotógrafo absorvendo, sentindo, isso faz todo o sentido para mim. Não tenho intenções, apenas fotografo porque acho especial um corpo nu. E é tão legal quando juntos, eu e fotografado conseguimos chegar em pelo menos um primeiro passo de intimidade. Às vezes, quero mergulhar dentro do que estou fotografando de tão sensível que é. Como você se relaciona com a pessoa

que está fotografando? Para você é importante ter alguma intimidade com o fotografado? Fico tentando me encontrar em tudo que fotografo, às vezes até atrapalha, porque quero que as coisas façam sentido, e não só sejam superficiais. Até na moda, o [coletivo] Grafo traduz bem, é a tentativa de fotografar moda com intimidade, com o coração. OLD Sem dúvida preciso dessa conexão, que não 26 é nem de entender, mas de sentir. Sentir pelo menos o cheiro do que estou fotografando, e não só pegar minha tele e a 10 metros de distancia fazer uma boa foto. A Maya Goded que fala, que quando estamos fotografando temos que nos abrir e aprender. Olhar mais profundamente para o que está em nosso redor. É nisso que acredito, deixar a fotografia te levar, te envolver.


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Você envolve o nu dentro de um contexto urbano, que emoldura as personagens fotografadas. Qual o papel da cidade dentro do seu trabalho? A cidade é o movimento, a minha rotina. E como o trabalho está totalmente voltado para a intimidade, a cidade aparece sempre, porque é aqui que vivo e os personagens que fotografo também. Como você busca desenvolver o feminino dentro do seu trabalho? Acho que o feminino carrega uma beleza inigualável, tem sensibilidade, tem força. Acho bonita a forma que a mulher é, cada uma dentro do seu modo de vida. E desejo apenas que as mulheres sejam elas, para que a minha aproximação seja natural. É importante ter confiança e beleza, mas isso faz parte daquele processo que já comentei, do conhecer o outro, da troca e da entrega.

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Felipe Morozini


Oud en Nieuw-traditie / New Year’s Eve custom


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