O Cemitério Revisitado

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O CEMITÉRIO REVISITADO



JOSÉ SOLON SALES E SILVA

O CEMITÉRIO REVISITADO


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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ T272e Silva, José Solon Sales e O cemitério revisitado / José Solon Sales e Silva. - 1. ed. - São Paulo : Baraúna, 2018. 288 p. : il. ; 21 cm. ISBN 978854370903-1 1. Guia. 2. Religião. 18-48363 CDD: 352.4 CDU: 351.71:342.71 ________________________________________________________________ Impresso no Brasil Printed in Brazil

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“O verdadeiro túmulo dos mortos é o coração dos vivos.” Tácito



Dedicatória À memória de meus pais, Antônio Solon e Masales, e de todos os meus antepassados que repousam em túmulos de cemitérios de pelo menos quatro cidades cearenses – Tamboril, Ipu, Cascavel e Fortaleza –, memórias estas que passei a valorizar mais ainda quando resolvi pesquisar este tema e hoje entendo o modelo de todos os túmulos familiares com bastante lucidez e reverencio-os ainda mais por ter este conhecimento.



SUMÁRIO Introdução ................................................................... 15 1 – TURISMO COMO FENÔMENO DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA .................. 23 1.1  Apropriação da cultura pelo turismo .................... 28 1.2  Tipologia do turismo ........................................... 33 1.3  Turismo cemiterial ............................................... 39 2 – ESPAÇO E TERRITORIALIDADE DO SAGRADO ........................................................... 43 2.1  Espaço ................................................................. 43 2.2  Territorialidade .................................................... 49 2.3  Profano: universalidade dos ritos de inumação ..... 53 2.4  Reprodução do espaço sagrado como reflexo da sociedade dos vivos ................................................... 57 3- CEMITÉRIO E ESPAÇO SAGRADO ................... 63 3.1  Histórico e censura dos higienistas ....................... 74 3.2  Cemitérios monumentos e monumentos funerários ................................................ 86 3.3  Símbolos da arte cemiterial cristã ......................... 125 4- CEMITÉRIO SÃO JOÃO BATISTA EM FORTALEZA, CEARÁ ......................................... 171 4.1  Os espaços sagrados e a territorialidade de enterramentos na Fortaleza da primeira metade do século XIX .................................... 181 4.2  Surge o cemitério de São Casemiro ...................... 183 4.3  São João Batista: potencialidades e impactos no entorno entre o espaço sagrado e não sagrado ................................................... 194 5- OS MONUMENTOS PARA VISITAÇÃO: MAPEAMENTO ........................................................ 219 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................... 267 REFERÊNCIAS .......................................................... 274



PREFÁCIO Quando convidada a escrever o prefácio desta obra, O Cemitério Revistado, considerei pertinente informar alguns dados sobre o autor que contextualizam o percurso que o levou à temática. Ao iniciar a leitura ficou evidente a influência exercida pelo pai no interesse do Prof. Dr. José Solon Sales e Silva pela cultura, conceito antropológico, pela história e pela memória. O pai era professor de história e costumava levar os filhos em viagens pelo interior do Ceará e à capital do Rio de Janeiro, em férias. Nessas ocasiões visitava os cemitérios e túmulos de expoentes da história. Eis a gênese da atração pelo assunto. Natural de Ipu (CE), nosso autor veio estudar em Fortaleza, em 1974 onde fez graduação em Direito enquanto trabalhava em uma agência de turismo. Durante uma década (1975 à 1985) participou do Grupo de Tradições Cearenses (GTC), agremiação cultural responsável pelo resgate de incontáveis manifestações da cultura popular imaterial do estado. Colaborou com a formação profissional em turismo de muitas gerações na Universidade de Fortaleza (UNIFOR), entre 1986 e 2012 e no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), onde ingressou em 1995 e permanece, como docente do Departamento de Turismo e primeiro Curador do Memorial da instituição. É Especialista em Planejamento Turístico, pela UNIFOR, Mestre em Gestão de Negócios Turísticos pela Universidade O cemitério revisitado  11


Estadual do Ceará e Doutor em Geografia pela Universidade Estadual Paulista, Júlio de Mesquita Filho, (UNESP) Rio Claro (SP). Há mais de 33 anos, portanto, participa da produção do turismo no Ceará em distintas ocupações. O presente livro é uma versão da tese de doutoramento desenvolvida na UNESP, Rio Claro, entre 2009 e 2013. A pesquisa sobre cemitérios foi iniciada em 2000, quando decidiu levar alunos do curso de guia de turismo do IFCE para visitar o Cemitério São João Batista. Os cemitérios constituem espaços de interesse turístico quando abrigam túmulos de pessoas de reconhecimento notório. O leitor desta obra encontrará muitas informações que evidenciam o interesse de pessoas e grupos por visitas aos espaços que abrigam monumentos funerários. Exemplo emblemático é o Taj Mahal, na Índia que recebeu o título de Patrimônio da Humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Atente-se que na abordagem da segmentação do mercado turístico, o autor evidencia que o Ministério do Turismo do Brasil (MTur) contempla a arquitetura funerária no formulário utilizado para realização do inventário turístico dos municípios, fato que aponta para a possibilidade de diversificação da oferta turística das cidades. Consoante dados coletados sobre visitação turística à cemitérios em diferentes partes do mundo e à proposição do MTur sobre registro de arquitetura 12  José Solon Sales e Silva


funerária pelos inventários turísticos dos municípios, o autor mapeou os monumentos do Cemitério São João Batista de Fortaleza e formulou onze roteiros temáticos: o roteiro dos barões, dos políticos, dos empresários, dos religiosos, dos poetas e escritores, dos militares, dos arquitetos e engenheiros, dos comunicadores, dos médicos, dos professores e dos mártires. A conclusão da pesquisa foi que o espaço do cemitério é tido como sagrado para o visitante e que túmulos podem ser utilizados para a atividade turística. Uma característica deste livro é a riqueza de conceitos, informações e curiosidades sobre um assunto carente de pesquisas em nosso país, o que torna a leitura instigante. Por essa razão, julga-se uma leitura recomendável para professores, alunos e pesquisadores de graduações e pós-graduações em antropologia, geografia, história, museologia, arquitetura, artes visuais, turismo e pessoas em geral, interessadas na temática. Outra característica que abre espaço para discussões é a conjugação metodológica da geografia cultural com a dialética. Por isso, está em nossas mãos uma obra que tem potencial para ser referência para diferentes áreas do conhecimento científico. Trata-se de uma contribuição relevante e inovadora para motivar a pesquisa sobre a temática. Profa. Dra. Maria Lianeide Souto Araújo Professora do Departamento de Turismo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, campus Fortaleza

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INTRODUÇÃO Desde tempos imemoráveis, já se definia o homem com dois elementos – o corpo e a alma. Sendo a alma o elemento indecifrável, buscou-se sempre uma alegoria para explicar seu destino após a morte, a qual tem significados diversos para cada campo do conhecimento humano e para cada grupo religioso. Apesar da vasta contribuição das diversas ciências, especialmente da Biologia e da Psicologia, para explicar o fenômeno da morte, encontra-se maior compreensão desta nos elementos fundantes das variadas culturas. Assim, ao longo dos tempos, foram surgindo e consolidando-se religiões que apresentam diferentes concepções sobre a morte. A maioria delas acredita que haja sempre vida espiritual além da vida material; que a morte é o início da libertação das penas e preocupações, pois não retrata um fim em si, mas abre um acesso ao reino do espírito. Observa-se que cada religião tem seus rituais de passagem para celebrar a morte (do corpo), por considerá-la a passagem para a vida espiritual, embora entre as religiões haja diferentes concepções sobre a vida espiritual. Quanto ao destino final do corpo, a maioria dos grupos religiosos utiliza o cemitério como a última morada, passando esse espaço a consO cemitério revisitado  15


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