Os espantos

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curtas. A sensação do curioso ou

texto

ISBN 978-85-7529-568-7

Tércia Montenegro

do bizarro fica assegurada por um jogo de instabilidades, criado para

ilustrações

confundir o real com o inventado,

Karlson Gracie

no fluxo de muitos relatos. Nesse jogo de sobreposições entre o

PARA SE ESPANTAR Este livro é um convite ao susto – no bom sentido. É uma tentativa de celebrar o espanto saudável e a surpresa do humor. As crônicas aqui reunidas foram inicialmente

deve se angustiar à procura de

publicadas ao longo de dois anos

fatos efetivamente ocorridos.

no jornal O POVO. A sua retomada

Pode ser que em alguns

agora, em formato de livro, serve

Tércia Montenegro

verídico e o ficcional, o leitor não

momentos se perceba uma piscadela irônica, diante de situações improváveis – mas não é isso o que importa. A leitura deve acompanhar o

para consolidar um dos meus principais objetivos com este gênero literário: a leveza, o passeio por diversos temas, triviais ou importantes, desde que

clima com que estas crônicas

suponham mistério.

foram escritas: com o prazer das

Com o interesse de fugir ao

descobertas e um assombro

previsível e à mesmice das rotinas,

diante de certas histórias.

mergulhei num território de

Os assuntos são variados,

liberdade que envolve

envolvendo situações domésticas,

preferencialmente as artes.

viagens, reflexões sobre o tempo, o corpo e os relacionamentos, impressões – e êxtases – diante de obras e paisagens, mas em todo o livro pode-se encontrar um fio condutor: o desejo de se admirar. O pasmo diante da vida é a maneira de sair do comodismo, das atitudes automáticas. Nessa perspectiva, sentir espanto é também um modo de se humanizar – e sorrir.

Tércia Montenegro

“Todos esses episódios são espantosos para mim, às vezes inverossímeis... Se fosse inventá-los num conto, talvez hesitasse, achando tudo exagero. Mas a vida pode ser surpreendente, e não importa que o caminho venha por escolhas conscientes ou por forças involuntárias. Sempre admiro os imprevisíveis, aqueles que vivem mergulhados num tipo de ficção. Eles conseguem, de algum modo, transformar a rotina num gesto de autonomia.”

Referências a escritores, fotógrafos e artistas plásticos se cruzam com histórias de leitores ou de outras pessoas anônimas, tecendo uma gama de narrativas


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Texto

Tércia Montenegro Ilustrações

Karlson Gracie

1º Edição Fortaleza - Ceará 2012

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©2012 by Tércia Montenegro

Fundação Demócrito Rocha Presidente Luciana Dummar Edições Demócrito Rocha (EDR) (Marca registrada da Fundação Demócrito Rocha) Editora Regina Ribeiro Editor Adjunto Raymundo Netto Coordenador de Produção Editorial Sérgio Falcão Editor de Design Deglaucy Jorge Teixeira Capa Dhara Sena e Karlson Gracie Projeto Gráfico Dhara Sena Ilustrações e Diagramação Karlson Gracie Catalogação na Fonte Ana Kelly Pereira

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) M772e

Montenegro, Tércia Os espantos. / Tércia Montenegro; Ilustração, Karlson Gracie. – Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2012. 112p.; il. color. ISBN 978-85-7529-568-7 1. Crônicas II. Gracie, Karlson III. Título

CDU 82- 94

Av. Aguanambi, 282-A - Joaquim Távora - Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará Tel.: (85) 3255.6270 - 3255.6148 - 3255.6256 - Fax (85) 3255.6160 edicoesdemocritorocha.com.br | edr@fdr.com.br I livrariaedr@fdr.com.br

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Ă€queles a quem a vida espanta e fascina.

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sumário Lendo no trânsito 9 O intruso da casa 11 Vá ao teatro! 13 Queridos alunos 15 Multidões 17 Pelas palestras 19 Dentro da paisagem 21 Meu primeiro Magritte 23 A arte e o tempo 25 Os imprevisíveis 27 Os livros e os lugares 29 Nós, os míopes 31 Florencia 33 Violência no muro 35 Os esquecidos 37 Sobre relatórios e artes 39 Histórias de leitores 41 O vazio 43 Vizinhos 45 O canto das horas 47 Sobre reinos e sapatos 49 Ainda sobre sapatos 51 Fora de si 53 O polígrafo prolixo 55 Amor às máquinas 57 Prazer do ócio 59

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Pelas paredes 61 Alívio cômico 63 Crônica de Minas 65 O sono e seus arredores 67 A diferença 69 O livro dos beijos 71 Os agelastos 73 Contra o suicídio 75 De Evita para Macedonio 77 Medicina e ficção 79 Por incrível que pareça 81 Por um mundo de silêncio 83 Babette 85 Contra o senso comum 87 As resoluções 89 As reproduções 91 As profissões provisórias 93 Os esportes impossíveis 95 Água salgada 97 Os cupins 99 Burocracia 101 A cidade ideal 103 As fobias 105 A vida secreta 107

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Lendo no trânsito Embora seja indiscutível que a melhor posição para ler é a horizontal (talvez por ser a preferida postura para o descanso e o amor), há tempos comecei a experimentar variantes. Graças às obrigações que sufocam o dia-a-dia, passei a ler também em pé, por ocasião de qualquer fila de atendimento, ou sentada – na maior parte das vezes, no assento de motorista de meu carro. Ler no trânsito pode sugerir algum tipo de infração, mas garanto que essa prática só acontece em paradas de semáforo, nunca em pleno ato de direção – e isso, não por falta de tentativas (tenho de confessar); é que se torna muito difícil equilibrar o livro na página correta e simultaneamente cuidar das marchas e da direção. Mesmo lamentando não ser Shiva para ter outro par de braços, os minutos que consigo nesta leitura dão uma satisfação incomparável. Além do status de “leitora em tempo integral”, único do qual realmente me orgulho, ler no trânsito tem sobre mim o efeito de uma estratégia educativa. Uma educação para leitor voraz deveria começar assim. Para disciplinar os sôfregos, os inquietos que praticam com-

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pulsivamente a leitura dinâmica, e muitas vezes não por pressa, mas por simples ânsia de chegar à página final, surge um método infalível: o trânsito força o leitor a fragmentar o texto em parágrafos. Frases. Palavras. A ruptura do fluxo frenético de uma leitura traz silêncios necessários, pausas meditativas que, de outro modo, não aconteceriam. Obviamente, nem todo texto se adapta ao trânsito. Poemas curtos e contos são os gêneros ideais, que trazem a satisfação de algo concluído ao fim da viagem. Alguém poderia argumentar que ler na espera de semáforos é ato perigoso para o motorista, que se distrai e não percebe a presença de assaltantes, por exemplo. Pois em meses de prática, nunca tive essa experiência. Ao contrário, sempre fui assaltada quando estava atentíssima – mas impotente para escapar. Acredito mesmo que hoje, se um ladrão se aproximasse de mim, ficaria tão chocado com a absurda cena de uma leitora-motorista que fugiria, de susto ou respeito. Mas estou brincando: a situação de ler no trânsito não deve ser tão incomum assim, muito menos objeto de estranheza. Hoje em dia as pessoas fazem de tudo dentro do carro: trocam de roupa, acendem cigarros, dirigem bebendo refrigerantes ou retocando a maquiagem. Não se pode recriminar tais costumes, nestas distâncias tão alongadas por congestionamentos. Talvez o único particular da leitura, nesse contexto, seja o bizarro fenômeno de o motorista desejar que o próximo semáforo esteja fechado... 05/05/2010

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ISBN 978-85-7529-568-7

Tércia Montenegro

do bizarro fica assegurada por um jogo de instabilidades, criado para

ilustrações

confundir o real com o inventado,

Karlson Gracie

no fluxo de muitos relatos. Nesse jogo de sobreposições entre o

PARA SE ESPANTAR Este livro é um convite ao susto – no bom sentido. É uma tentativa de celebrar o espanto saudável e a surpresa do humor. As crônicas aqui reunidas foram inicialmente

deve se angustiar à procura de

publicadas ao longo de dois anos

fatos efetivamente ocorridos.

no jornal O POVO. A sua retomada

Pode ser que em alguns

agora, em formato de livro, serve

Tércia Montenegro

verídico e o ficcional, o leitor não

momentos se perceba uma piscadela irônica, diante de situações improváveis – mas não é isso o que importa. A leitura deve acompanhar o

para consolidar um dos meus principais objetivos com este gênero literário: a leveza, o passeio por diversos temas, triviais ou importantes, desde que

clima com que estas crônicas

suponham mistério.

foram escritas: com o prazer das

Com o interesse de fugir ao

descobertas e um assombro

previsível e à mesmice das rotinas,

diante de certas histórias.

mergulhei num território de

Os assuntos são variados,

liberdade que envolve

envolvendo situações domésticas,

preferencialmente as artes.

viagens, reflexões sobre o tempo, o corpo e os relacionamentos, impressões – e êxtases – diante de obras e paisagens, mas em todo o livro pode-se encontrar um fio condutor: o desejo de se admirar. O pasmo diante da vida é a maneira de sair do comodismo, das atitudes automáticas. Nessa perspectiva, sentir espanto é também um modo de se humanizar – e sorrir.

Tércia Montenegro

“Todos esses episódios são espantosos para mim, às vezes inverossímeis... Se fosse inventá-los num conto, talvez hesitasse, achando tudo exagero. Mas a vida pode ser surpreendente, e não importa que o caminho venha por escolhas conscientes ou por forças involuntárias. Sempre admiro os imprevisíveis, aqueles que vivem mergulhados num tipo de ficção. Eles conseguem, de algum modo, transformar a rotina num gesto de autonomia.”

Referências a escritores, fotógrafos e artistas plásticos se cruzam com histórias de leitores ou de outras pessoas anônimas, tecendo uma gama de narrativas


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