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BRASÍLIA-DF, ABRIL DE 2010 - 2ª EDIÇÃO

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DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

BRASÍLIA: 50 ANOS DE QUÊ?

Arte: Fernando Aquino

Os índios do Setor Noroeste e a Marcha da civilização por Aílton Fagundes

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UnB 50 anos:

os caminhões da nova capital por Eudásio Gaio de Sousa

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ENTREVISTA DO MÊS

Vladimir Carvalho p.

Brasília e o Misticismo Egípcio por Andrés Sugasti

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Poesias e contos brasilienses p.

12 e 13

Movimento Fora Arruda e toda máfia por Solano Teodoro

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Editorial Achou que O MIRACULOSO era passageiro? Enganou-se. O MIRACULOSO é passageiro, cobrador, motorista, ambulante, estudante, candango; enfim, ele representa todos aqueles que sentiam falta de um jornal que aborde a cultura de forma diferente e inovadora em nossa cidade. O MIRACULOSO é, acima de tudo, um jornal que se propõe a ser uma forma alternativa de comunicação, abrangendo o local, o nacional e o universal e convergindo os mais distintos olhares sobre os mais variados temas. Por isso você está em posse da 2ª Edição desse jornal diferente, resultado do esforço coletivo de uma equipe que acredita na cultura como um mecanismo de transformação social. Nesse sentido, esta 2ª edição foi à luta, puxando a tromba do elefante da burocracia, da corrupção e da incompetência implantadas na nossa capital, alimentando a reflexão sobre o que deve ser feito para que os próximos 50 anos sejam muito melhores do que os que se passaram. Assim como na 1ª, na qual O MIRACULOSO desceu da árvore para puxar o rabo da onça que ronda à solta, impedindo que nos organizemos, ao nos manter assustados e desinformados. Ao longo das próximas edições, O MIRACULOSO deixará ainda mais claro a que veio, mas podemos adiantar: O MIRACULOSO não concorda com o Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT), não aceita a construção do Setor Noroeste, comemora cada dia que Arruda e seus comparsas passam na cadeia. É a favor da prisão e da expropriação dos bens de todos os envolvidos em casos de corrupção, bem como exige a divulgação imediata de todos os vídeos e clama pela intervenção federal com eleições diretas. Apreciem, participem, contribuam, divulguem e miraculem conosco!

HISTÓRIA

OS ÍNDIOS DO SETOR NOROESTE E A MARCHA DA CIVILIZAÇÃO AILTON FAGUNDES

Sabe-se que os primeiros bandeirantes paulistas a adentrarem o interior goiano ainda o fizeram durante o século XVI (1590-93), contabilizando assim mais de 400 anos de constantes conflitos entre os avanços da ocupação branca e a resistência indígena. As bandeiras penetravam na região hoje correspondente ao estado de Goiás pelos rios Tietê e Paraná, alcançavam o sertão de Paracatu e vinham basicamente para a captura do índio bravio que alimentaria o mercado de escravos. No planalto central brasileiro, onde predomina a matriz indígena Jê, os grupos que mais resistiram foram os Kayapós, os Guaicurus e os Paiaguás. Apartir de 1722 com a descoberta de ouro nas margens do rio vermelho (pelo bandeirante Anhanguera) acelerou o processo de desaparecimento de diversas etnias indígenas e a multiplicação de arraiais de exploração aurífera, com sensível aumento da população branca. As expedições para erradicação de tribos indesejadas eram frequentes, o aliciamento de índios como remadores, como batedores de trilha ou destinados à escravidão, uma prática cotidiana. Com a decadência progressiva da exploração do ouro algumas tribos começaram a se reestabelecer, mas uma invasão muito mais agressiva estava ainda por vir: a dos criadores de gado. Os garimpeiros, uma vez esgotado o vil metal, logo se tranferiam para outras regiões; diferentemente, os pecuaristas chegavam para se apossar da terra, fixando residência definitiva. Usavam métodos de extermínio indígena variados, sendo o envenenamento das águas com estricnina e a disseminação de do-

enças virais os mais comuns. Seguiu-se à pecuária a agricultura de monocultura extensiva e sempre que um grupo indígena se interpunha aos avanços da civilização era duramente exterminado a mando das próprias autoridades. O pai do nosso primeiro imperador, D.João VI, também fez enviar algumas missões de extermínio indígena para a região de Goiás e do futuro Distrito Federal. Marcada por farsas, a teoria da assimilação indígena ou da integração pacífica dos índios à civilização brasileira acaba por encobrir que muitos foram os grupos que não se aculturaram ou se juntaram à cultura nacional e mesmo reduzidos a poucas dezenas de indivíduos optaram por lutar até o último homem! A tentativa agressiva de expulsar os índios do setor noroeste em Brasília objetivando a construção de mais uma área residencial (eufemisticamente chamada de ecologicamente correta) vem a ratificar que a marcha da civilização branca continua a entoar os velhos refrões do colonizador. As formas de intimidação contra esse pequeno grupo de índios são numerosas, e, atolados nesta vasta rede de interesses, os grandes grupos midiáticos permanecem silenciosos. Comemoramos 50 anos de aceleramento do avanço civilizacional branco no centro-oeste! Menos cerrado e mais condomínios, menos índios e mais 100 mil carros, eis o progresso.

Parabéns Brasília? Ailton Fagundes é historiador

Adonai Rocha


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POLÍTICA

UnB 50 anos:

dos Estados Unidos, um acervo em memória de Kennedy. A cerimônia foi um desastre. Estavam lá Honestino Guimarães, entre outros, para vaiar o bibliotecário e professor Edson Nery da Fonseca, que dedicou seu belo discurso a puxar o saco do embaixador John W. Tuthill. Cenas que não se contam pelo campus. A crítica, que envolvia a situação da UnB após 1964, se voltava também patrimônio da UnB, quer dizer, da- contra a guerra do Vietnã. Os liquela “ex-UnB”. Entre os miracu- vros da coleção Kennedy levariam losos acervos, estavam as coleções a pior e foram estigmatizados por de Oswaldo Carvalho, Hildebrando alguns. Alguns. Porque a maioria, Accioly, Homero Pires, Pedro Mou- claro, não liga para estes detalhes. ra, entre outras. Deveria? À guisa de esclarecimento, é Fato é que, com a centralização impossível não registrar aqui que do acervo, ou seja, quando os liHomero Pires era colecionador de vros (após rápida estada na Sala livros raríssimos, bibliófilo baiano Papiros) descem do SG – 12 para o refinado, detentor de uma das mais atual prédio da biblioteca central, importantes coleções de livros foi fácil arrumar um lugar para code/sobre Rui Barbosa, a renoma- locar os milhares de volumes dos da ruiana de Homero Pires. Pires extintos centros (CEC e CBEP) fetambém colecionava castroalvina, chados pela ditadura. O prédio camiliana, machadiana etc. Muito construído por Galbinski, entre do que se lê hoje nas humanidades outros renomados arquitetos, se foi de Homero Pires. Já Pedro de tornou um grande copo d’água Almeida Moura, exímio germanista em que a derradeira gota derrae professor paulista, foi coleciona- mou não em cima, mas na base. dor de livros de/sobre Goethe. A Aos poucos foram descendo para goethiana de Pedro Moura chegou o depósito da biblioteca milhares a ter 10.000 volumes. Tudo isso de obras, tudo aquilo que era mal visto, indesejado, incompreendido pelas autoridades, pelos leitores e “...em 2007, durante pelos especialistas de plantão da biblioteca. a última greve que Mas não durante a década de 70. É preciso dar a César o que é de durou quase três César. Ninguém fez mais por uma do que um certo capimeses, toneladas de biblioteca tão de mar e guerra que era PHD Física Nuclear. Até a vigência obras foram jogadas em do regime militar, os livros ainda valiam de alguma coisa no campus no lixo. Ouçam!” Darcy Ribeiro. O próprio setor de obras raras da bibliotoca, dizem, chegou para nós, quer dizer, para foi criação de Azevedo. Se ele não eles, em 1963. Muito do que ainda tivesse partido dessa para uma se lê sobre Alemanha e Goethe na melhor, há alguns meses, poderia UnB de hoje foi resultado dos estu- confirmar (ou não) estas poucas lidos e pesquisas de Moura. nhas. Daí a coisa cresceu rápido. A primeira biblioteca a descer Como crescem as bibliotecas, que para a toca, aparentemente, foi são organismos vivos. Em meados a de Carlos Lacerda. Seu acervo da década de 60, depois do Gol- chega na UnB em 1979. Pobre Lape, pouco tempo depois da morte cerda! Lacerda que era tão contra de John F. Kennedy, ofereceu-se à a UnB e Brasília, teve por fim que UnB, por iniciativa da Embaixada ver seu acervo parar em depósito

os caminhões da nova capital EUDÁSIO GAIO DE SOUSA

Para Yvonne Jean, em memória “A pedra celeste angular miraculosa, miraculosa. Estabelecida por toda eternidade, maravilhosa, maravilhosa. Que comanda e reina convosco Que comanda e reina convosco Meu Deus, todo poderoso...” (Jorge Ben Jor)

Da miraculosa construção de Brasília, sonho combatido por alguns e construído por muitos, falase pouquíssimo de sua primogênita filha, a Universidade de Brasília. Ela, a nova universidade, também prestes a fazer seus 50 anos, merece nossas mais sinceras considerações. Erguida para romper com as instituições federais vigentes no ensino superior da época, a UnB nasceu de uma orquestração que sem sombra de dúvida - teve em Darcy Ribeiro a figura de articulador maior. Por outro lado, se tornou costume deixar no esquecimento outros personagens fundamentais à construção desta universidade. E fundamentais nas características que um dia esta universidade teve de genuína e genial. Porque é preciso que se saiba e se diga: falamos da “ex-UnB”, de uma UnB muito distante disso que está aí colocado como UnB por comissões e comemorações. Entre os esquecidos da maioria (e, o que é pior, da maioria do corpo docente e autoridades universitárias) está Rubens Borba de Moraes, bibliógrafo, bibliófilo, bibliotecário de uma estirpe que nunca mais existiu neste campus. Salvo uma ou outra avis rara. Foi Borba de Moraes um dos criadores desta que se convencionou chamar de Biblioteca Central dos Estudantes-BCE.

Nascida no início dos anos de 1970, esta tal biblioteca, a bibliotoca contral - nome que indicava a pichação agora apagada pelas “reformas” do campus - a nossa biblioteca tem sim muito de toca. Bibliotoca que guarda muita memória escondida e velada. Histórias que um dia se encaminharão para seu próprio jubileu. Está para ser escrita, por exemplo, a história da coleção de emergência que constituía o acervo da UnB. Reminiscências de uma época em que tanto os cursos de emergência, quanto o acervo da nova universidade, se localizavam na Esplanada dos Ministérios, mais precisamente no Bloco I, local onde se situava o Ministério da Educação e Cultura. Em pouco tempo, as aulas se normalizaram num campus que era só obra pra todo lado. A biblioteca foi se encaminhando para o SG-12, antigo local que hospedava um acervo que foi crescendo miraculosamente. Já no ano de 1962, outras bibliotecas setoriais/especializadas foram se formando na universidade recém fundada. Entre tais bibliotecas, inesquecíveis, destacam-se os esplêndidos acervos reunidos nas bibliotecas do Centro de Estudos Clássicos (CEC) e do Centro Brasileiro de Estudos Portugueses (CBEP). Ali, Eudoro de Sousa e Agostinho da Silva fizeram o que nunca mais se fez por áreas temáticas e que, desde então, simplesmente hibernam e minguam espalhadas por departamentos medianos. Antes fossem mediúnicos. Rapidamente, essa coleção de emergência não deu conta da excelência que a UnB passou a exercer. Em 1963, bibliotecas particulares de grande valor foram compradas para engrandecer o


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POLÍTICA sujo e mofado, encostado em molhadas paredes. Apenas em 1999 alguém resolveu retirar das caixas documentos que se tornaram o Arquivo Carlos Lacerda, menina dos olhos do setor de obras raras da UnB cinquentenária. Antes dos livros de Lacerda chegarem para inaugurar o depósito de nossa bibliotoca, só havia ali livros reunidos por um também bibliófilo, colecionador de renome e leitor voraz, dono de editora etc, o “Piauí”. Trata-se de um piauiense que trabalhava com marcenaria. Com a morte de Piauí, o depósito ficou à mercê do descaso. Os militares sabiam que o terreno onde a bibliotoca foi construída era cheio d’água, uma mina de água. Mas os pseudo democratas que foram aos poucos tomando conta do campus ignoraram o fato, entulhando o segundo subsolo da biblioteca com tudo quanto é coleção. Das mais raras. Daquelas que ninguém quer/saber ler. Não só a plebe é rude e ignorante. Para o mesmo saco foram os livros de Homero Pires, a goethiana de Pedro Moura, obras que foram conseguidas pelo próprio Darcy, muitos dos livros de Lacerda. Não era difícil encontrar lá, até um dia desses, livros da coleção de Eudoro de Sousa, livros sobre Portugal adquiridos por Agostinho da Silva junto à Fundação Calouste Gulbekian. Enfim, um mar sem fim, um mar de livros em baixo de

água, mofo e sujeira. Por pouco os livros de Cassiano Nunes não foram parar também ali, no bueiro que já conta três décadas, por baixo. Como se não bastasse esse encosto sem fundamento, descaso que sempre terá suas razões biblioteconômicas, arquitetônicas, blá

tudo que havia no depósito, quase-quase-tudo, espólio destes antigos acervos, livros raros, livros para restauro, livros esquecidos, alguns livros sobre Trotsky, enfim, livros de uma universidade como a UnB, tudo para o lixo que ficava escondidinho atrás da copa da bi-

“...nomeado como ‘mutirão de limpeza’ [...] simplesmente se pegou tudo que havia no depósito, quase-tudo, espólio destes antigos acervos, livros raros, livros para restauro, livros esquecidos, alguns livros sobre Trotsky, enfim, livros de uma universidade como a UnB, tudo para o lixo que ficava escondidinho atrás da copa da bibliotoca. Bem na frente do Setor de Conservação” blá blá, fenômeno comum em muitas outras bibliotecas deste país; como se não bastasse a ignorância de certos bibliotecários que foram tomando o poder durante a década de 80; como se não bastasse a conivência e passividade de certos professores; em 2007, durante a última greve que durou quase três meses, toneladas de obras foram jogadas no lixo. Ouçam! O evento ficou conhecido como a devassa de 2007. Também nomeado como “mutirão de limpeza”, o procedimento se passou em 2007, quando simplesmente se pegou

bliotoca. Bem na frente do Setor de Conservação. Caminhões de uma empresa recicladora pegava o material e picava,no mesmo dia, comprando tudo da biblioteca no peso: 24 centavos/kg. Eis o destino de boa parte do acervo mais importante que já existiu na Nova Capital. Acervo importante porque conta a história bibliográfica (e política) da UnB. Histórias e anti-histórias. Aos poucos a comunidade universitária foi se esquecendo de que ali não se podia colocar livros. Aos poucos foram se esquecendo

dos livros que lá estavam. Na última greve, se esqueceu que aquilo tudo tinha importância. A completa desconexão entre o Centro de Documentação (CEDOC), o Departamento de Ciência da Informação e Documentação (CID) e as recentes diretorias da nossa bibliotoca, permitiram que isso acontecesse. Durante 15 dias da greve de 2007, se deu nos porões da UnB um bibliocídio sem tamanho, memoricídio que o próprio Magnífico, àquela altura recém empossado, acabou por esconder. Afinal, é uma bomba miserável para um nobre reitor dedicado historicamente aos direitos humanos e coisa e tal. O ilustre e atual reitor terminou por esconder o caso. Foi mais conveniente colocar na direção da toca uma bibliotecária, coisa que não acontecia há vinte anos. Ele próprio escondeu por 20 anos a biblioteca que herdou de Roberto Lyra Filho, biblioteca que também ficou isolada e inacessível nos porões da bibliotoca, pegando umidade em grau altíssimo e mofo descomunal. É pouco para os nossos 50 anos? Não é miraculoso o fado de nosso patrimônio? Dizem que os caminhões pararam de sair da bibliotoca, quinzenalmente, repletos de livros. Dizem. Vejamos como serão nossos próximos 50 anos. PUBLICIDADE


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POLÍTICA

Povo sem autonomia JORGE ANTUNES

O povo do Distrito Federal perdeu sua autonomia. Nos poderes legislativo e executivo tomam assento pessoas que nada representam. Alguns foram eleitos para o legislativo e assumem o executivo. Suplentes de suplentes de suplentes se ajeitam, totalmente sem jeito, nas cadeiras do poder, para decidir rumos que deveriam ser traçados pelo povo. Outros, eleitos para o executivo, tomam a estrada ou as celas das prisões. Muitos, não eleitos, não sufragados nas urnas, se escondem nos porões dos palácios, escrevendo o roteiro de uma nova peça teatral indesejada pelo povo. Alguns desses ratos dos porões palacianos, roedores que não fugiram do navio afundado, tecem uma teia de invasão alienígena global, para tentar entorpecer a população candanga na festa dos 50 anos. No cenário dos poderes constituídos estamos à mercê de um elenco que se divide em quatro categorias: atores-de-filmes-exibidos; atoresdos-bastidores; atores-dublês e atores-de-filmes-inéditos. Os atores-de-filmes-exibidos vêm

sendo pouco a pouco banidos do cenário: alguns renunciando, outros sendo expulsos ou presos, todos se recolhendo aos camarins, mudando a maquiagem e esperando que o tempo lhes dê nova oportunidade. Os atores-dos-bastidores são lentamente desmascarados. Estes são os que, esperta e indecentemente, fizeram uso de atores-dublês que atuaram em filmes já exibidos. Alguns

“A soberania popular vem sendo achincalhada de modo repugnante” dos já desmascarados se aproveitam da crença popular referente a São Tomé: o povo quer ver para crer. Nenhum filme, com o protagonista corrupto sendo flagrado, foi exibido. Portanto, ainda é possível enganar o povo. Os atores-dos-bastidores e os ato-

res-de-filmes-inéditos são os mais perigosos no momento. São os que rechaçam veementemente a intervenção federal no DF. Eles, desesperadamente, esperneiam, gritam, escrevem artigos, dão declarações à imprensa, repudiando aquilo que o povo do DF deseja: a intervenção federal. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos. A faculdade de se governar por si mesmo é valor fundamental do povo do Distrito Federal. Essa faculdade, a que chamamos autonomia, não está sendo exercida. A soberania popular vem sendo achincalhada de modo repugnante. A unidade federativa adoece, com um cancro se desenvolvendo na sua célula principal: a capital da República. A cirurgia e o expurgo precisam ser urgentemente promovidos, para que no Distrito Federal seja dado espaço à soberania popular. Só a intervenção federal pode realizar a desejada limpeza, para que, recomeçando do zero, possam ser promovidas novas eleições imediatamente. Alguns pensam que a vaidade política é o sentimento que move alguns daqueles que, ainda incrustados no poder, condenam a proposta da intervenção. Nada disso. O que move a maioria dos anti-intervenção é o medo que têm do aprofundamento da apuração

dos crimes. O grande jurista David de Araújo prega: “o Estado Federal deve conter um dispositivo de segurança, necessário à sua sobrevivência. Esse dispositivo constitui, na realidade, uma forma de mantença do federalismo diante de graves ameaças. Trata-se da intervenção federal.” Num achincalhe gritante para com o povo, Deputados Distritais implementam eleição indireta para que tenhamos um governador-tampão. Para as gerações que, em 1984, deram suor e sangue pela eleições diretas para a presidência da República, é um soco no estômago a prática de uma eleição indireta. Aqui, agora, o grupo envolvido com o esquema Arruda e que coloca a pizza no forno se autoproclama colégio eleitoral. Jorge Antunes é maestro e professor titular da UnB PUBLICIDADE

(61) 3347-0904

Adonai Rocha


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A terceirização no serviço público é a porta de entrada para a corrupção No Brasil, a terceirização teve origem em 7 de setembro de 1822, quando o Reino de Portugal terceirizou o Brasil a Dom Pedro I. Ou seja, a população da época trabalhava para a coroa portuguesa, enviando para aquele país todas as nossas riquezas. Nas duas últimas décadas a terceirização se intensificou no serviço público brasileiro, sua formatação atual foi feita ainda na ditadura militar e se limitava aos serviços de limpeza e segurança privada. Na década de oitenta, muitos militares eram donos de empresas de prestação de serviço na área de vigilância, e se ele não era o dono, era no mínimo o capataz que colocava a empresa para funcionar em regime de quartel. Então viram que a terceirização era muito boa para o enriquecimento de empresários amigos ou laranjas de políticos e também uma excelente forma de criar os esquemas de caixa 2. A situação então explodiu e o serviço público não está totalmente terceirizado por conta da luta dos sindicatos e centrais sindicais. A recente crise em Brasília, que deflagrou a Operação Caixa de Pandora, é a prova cabal dos malefícios da terceirização no GDF. O fruto das propinas entregue aos mais diversos e variados personagens com cargos no executivo,

no legislativo e até no judiciário, incluindo aí o ex-governador Arruda e seu vice, teve origem em empresas terceirizadas que, em troca de contratos milionários, abasteciam uma polpuda caixa dois. Ao mesmo tempo em que os contratos terceirizados se intensificam no GDF, há uma crescente queda na qualidade dos serviços prestados à população. Isto porque o que gere o contrato é tão somente o lucro, não há qualquer compromisso com as necessidades da população. O resultado é serviço ruim, além de trabalhador com direitos precarizados, pois esta é a dura realidade daqueles trabalhadores contratados nesse regime. Aí você soma tudo: baixos salários, serviços ruins, licitações suspeitas, população insatisfeita, políticos e empresários rindo a toa. O

nome para essa soma é a corrupção. A terceirização é um dos maiores ralos de desvio de recursos públicos no Brasil e no DF. É o dinheiro da saúde, da educação, do transporte público e da segurança que estão indo para bolsos, meias, bolsas alheias, sacolas e sacos de papel. Por isso, combater a terceirização é defender serviço público de qualidade para a população, é gerar emprego para os nossos filhos, amigos, parentes e vizinhos, através de concursos públicos em todas as áreas, é defender um Brasil e uma Brasília socialmente mais justos. Esta é uma luta da qual o SINDSER não abre mão. Pelo fim da terceirização para acabar com a corrupção. Evandro Machado Presidente do SINDSER-DF


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Vagas no serviço público devem ser preenchidas por concursados Desde a sua fundação, o SINDSERDF defende o preenchimento das vagas no serviço público por concursados, defende também o fortalecimento de empresas públicas e todos os demais órgãos do executivo, legislativo e judiciário. O Governo do Distrito Federal tem adotado a nefasta prática de realizar concursos públicos para o preenchimento de um determinado número de vagas, chama um número reduzido de pessoas e os demais aprovados ficam lutando durante anos para serem convocados. Enquanto isso, os terceirizados estão no governo ocupando a vaga de um cidadão que estudou, se qualificou, passou no concurso e não é chamado. Aqui no DF já existe até uma associação dos aprovados em concurso público, que tem todo o apoio do SINDSER, para brigar em todas as instâncias, inclusive com atos públicos, audiências, reuniões, para a imediata contratação dos aprovados. Temos insistentemente cobrado do GDF a realização de concurso público e temos também cobrado a contratação dos aprovados nas vagas previstas no edital que convocou o concurso. É o caso dos companheiros e companheiras que fizeram concurso para o DER, os aprovados estão junto com o SINDSER lutando para serem contratados imediatamente. Depois de muitos anos de luta, o SINDSER também conseguiu uma resposta do GDF quanto à realização de concurso público para preenchimento de vagas na NOVACAP, uma empresa da maior importância na construção da Capital da República e uma das maiores vítimas de serviços terceirizados. Chegou-se ao ponto de

o ex-governador Arruda tentar acabar com a NOVACAP. A intenção não foi para frente porque contou com a firme resistência do Sindicato e dos trabalhadores. Em levantamento feito pelo SINDSER, no final do ano passado, foi constado que no GDF existem 28 mil vagas a serem preenchidas através de concurso público. Em contrapartida, constatamos também que existem 17 mil comissionados ocupando vagas que pertencem ao povo do Distrito FeEvandro Machado, presidente do SINDSER, deral que estuda e faz concurso. defende que a qualidade do serviço Essa relação promíscua entre sepúblico só é possível através de tor público e setor privado foi sentida trabalhadores concursados. durante constatação feita pelo SINDSER de que todo o maquinário da NOVACAP, um patrimônio da população, estava emprestado para uma empresa privada que prestava serviços terceirizados para a NOVACAP. Ora, além de ganhar um contrato milionário, ainda usava os equipamentos da empresa pública? O SINDSER não deixou por menos, resgatou os equipamentos e fez uma denúncia à população sobre o mau gerenciamento do GDF com a A mobilização permanente das categorias da coisa pública. base do SINDSER é essencial para melhorar a É fácil de notar que as principais qualidade de vida dos trabalhadores mazelas verificadas no serviço público como corrupção, mau uso das verbas públicas e péssima qualidade dos serviços prestados só terão solução com o fim da terceirização e o preenchimento das vagas por concursados. O Estado deve garantir que a população seja bem assistida, em contrapartida aos altos impostos que paga, com acesso à saúde, à educação, à moradia, à cultura, ao transporte, ao lazer, à segurança públicos e de qualidade, através de profissionais qualiEntre as tarefas do SINDSER está a fiscalizaficados, competentes e concursados. ção das condições de trabalho da categoria Estado forte, população bem atendida.

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50 anos do movimento sindical no Distrito Federal

A

trajetória do movimento sindical no Distrito Federal está inserida na história desse movimento no Brasil e diretamente associada às transformações políticas, sociais e, sobretudo econômicas ocorridas no País. Na medida em que o País caminhava para a urbanização e a industrialização, a organização dos trabalhadores acompanhava e se estruturava de forma mais orgânica. Aqui como em todo o Brasil o movimento sindical sofreu um grande revés com o golpe militar e as lutas sindicais foram duramente reprimidas e permaneceram “escondidas” por alguns anos, Poucas as categorias que ousaram resistir à repressão, mas era latente e crescente a insatisfação popular e o sindicato

sempre foi espaço de organização e de canalização da indignação e num processo irreversível conseguimos nos libertar do assistencialismo e da colaboração de classes que imperava nos sindicatos organizando oposições sindicais e fundando sindicatos cujas direções forram e são comprometidas com um sindicalismo classista, combativo e plural. Desde a construção de nossa cidade que o movimento sindical tem feito lutas específicas e gerais que produziram avanços para a população do DF. Não existe democracia sem a participação popular e os sindicatos são a prova de que a história do DF é também feita por trabalhadores e trabalhadoras que nunca abdicaram dos seus direitos. Em vários momentos da vida da Capital Federal a participação do movimento sindical e dos movimentos populares foi fundamental. A fundação da Central Única dos Trabalhadores, a maior e mais representativa central no Brasil e no DF, foi importante passo para a organização dos trabalhadores e trabalhadoras, desde 1984 participamos dos momentos decisivos do Distrito Federal. O movimento sindical é protagonista das mudanças, faz grandes greves, dá suporte e mobiliza a massa em favor das diretas-já, contra o arrocho salarial, pede uma Constituinte, luta pelo fim da censura da Lei de Segurança Nacional, pede o fim do entulho autoritário e exige democracia e participação, luta

pela representação política no Distrito Federal, organiza um ato contra a carístia, luta contra a inflação

“Hoje vivemos uma conjuntura triste e vergonhosa para a população do DF, com o escândalo chamado de operação caixa de pandora. A corrupção, o descaso com a coisa pública além a falta de compromisso de inúmeros governos fizeram muitos estragos em nossa capital” e o congelamento dos salários, atua fortemente nas eleições gerais, é protagonista no impeachment de Collor de Melo, luta contra a política neoliberal do governo de Fernando Henrique Cardoso, realiza a marcha dos cem mil, atua contra a reforma da previdência, unifica-se na luta pelo reajuste do salário mínimo e a correção da tabela do imposto de renda, pelo reajuste dos salários dos aposentados, pela reforma agrária, pela redução da jornada de trabalho sem redução dos salários e nos últimos dias consegue a aprovação pelo Congresso Nacional da Convenção 151 da OIT que estabelece a negociação coletiva para os servidores públicos combinando mobilização com disputa institucional, ocupando

espaços e elegendo alguns de seus representantes para a Assembléia Legislativa e Câmara e Senado Federal. Não se pode esquecer que os homens e mulheres que construíram e constroem o DF, são parte importante do nosso patrimônio e que esses são trabalhadores e trabalhadoras que aqui construíram suas vidas e por isso não lutamos apenas pelos nossos direitos; Lutamos pela cidadania e por melhores condições de vida para todos e todas. Construir uma cidade, organizar sua vida cultural, política e social não é simples e nem tarefa apenas para governantes, é necessário que toda a sociedade participe e seja sujeita das decisões e nós do movimento sindical, como parte da sociedade, sempre assumimos o nosso papel lutando, resistindo, conquistando. Hoje vivemos uma conjuntura triste e vergonhosa para a população do DF, com o escândalo chamado de operação caixa de pandora. A corrupção, o descaso com a coisa pública além a falta de compromisso de inúmeros governos fizeram muitos estragos em nossa capital. Mas é necessário resistir e buscar alternativas que realmente sejam capazes de colocar a cidade num caminho democrático, de credibilidade com desenvolvimento, empregos para todos e todas, respeito às diversidades e controle social. Nossa história continua, estamos apenas iniciando o caminho e certamente teremos muitas lutas e vitórias. Rejane Pitanga Presidenta da CUT-DF


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POLÍTICA

Fora Arruda e toda máfia

CHARGE

SOLANO TEODORO

Os últimos acontecimentos na política local do Distrito Federal ensejaram muitas mudanças de opinião. Os que acreditavam na certeza da impunidade para os corruptos vivenciam uma dura realidade: os corruptos e corruptores podem sim ser presos, mesmo antes de julgados. Geraldo Naves, o algoz dos bandidos em geral, defensor de penas severas para todos os tipos de crime, quem diria, está preso na papuda! O ex-governador Arruda, que dispensa apresentações, está preso na Polícia Federal há mais de dois meses, incomunicável, comendo quentinha e pedindo autorização para ir ao banheiro, entre outras tantas restrições. Por outro lado, muitos apregoavam que o movimento estudantil estava morto e dizia respeito apenas aos livros de história, contudo o Movimento Fora Arruda e Toda a Máfia provou o contrário: existe sim um movimento estudantil e popular, autônomo, independente e revolucionário, que deu concretude aos anseios da maioria dos habitantes de Brasília, que fez o que todos apóiam e aprovam (salvo os arrudistas), mas não tem coragem de fazer. Por meio da ação direta e através da unidade de ação com os mais diversos segmentos da esquerda, logrou fazer uma séria de ações vitoriosas e históricas que contribuíram efetivamen-

te para o – ainda incipiente – processo de moralização pelo qual Brasília vem passando. O Movimento Fora Arruda e Toda a Máfia veio para transformar as realidades sociais não só da Capital – que se estenda a todo o país. A corrupção presente no entorno de Brasília, em cidades como Valparaíso, por exemplo, merecem a atenção do movimento, que adquiriu responsabilidades que vão muito além do âmbito local. O movimento deve se fortalecer e seguir na luta, pois não resta dúvida que, devido à repercussão nacional obtida pela prisão de Arruda, diversos oprimidos e silenciados provavelmente agora clamam: Movimento Fora Arruda e Toda a Máfia olhai por nós! Voltando ao âmbito local, onde a luta, sem dúvida, continua, deparamo-nos com um cenário em que os quarenta ladrões, que julgaram Ali Babá, se preparam para eleger seu novo chefe, por meio de eleição direta, para a qual o Movimento fora Arruda já lançou candidatura: Tony Panetone e a Bezerra Dourada. Já que o povo não pode decidir e a intervenção não chega, são de longe as melhores opções! *Solano Teodoro é Coordenador Geral do Sindicato dos Metroviários.

NANI nanihumor.blogspot.com

Especulação imobiliária ou Santuário Sagrado: o que queremos para o DF? ANTONIO FRANCISCO Do sonho encomendado de Dom Bosco e do empreendedorismo exagerado de JK surgiu nossa maravilhosa cidade, diferenciada pela diversidade étnica estabelecida aqui ao longo dos anos e pela gritante desigualdade social. Um dos últimos resquícios da área desapropriada para a construção de Brasília, a antiga Fazenda Bananal, é uma área situada entre o Parque Nacional de Brasília e a Asa Norte. Nela, no ano de 1957, os indígenas Antônio Inácio Severo, José Ribeiro, José Carlos Veríssimo e Eloi Lúcio, todos da etnia Fulni-ô, “vieram trabalhar na construção civil e aos finais de semana e feriados saiam dos canteiros de obras para rezar nas matas do cerrado”, segundo Frederico Magalhães, assessor técnico da Funai, em sua monografia para o Centro de Desenvolvimento Sustentável – CDS da Unb. Outra testemunha da relação dos Fulniôs com aquele resto de cerrado é Carlos Magalhães, arquiteto que trabalhou com Oscar Niemayer e Lúcio Costa, além de ocupar diversos cargos em governos passados. Ele afirma ter conhecido o indígena Juscelino ou Cacique Zumba, que utilizava a área verde para o seu natural contato com o sagrado. Para eles e seus descendentes os 50 anos já passaram, porém, não há muito que comemorar. Fica cada vez mais difícil para os/as indígenas fugir do meio urbano. Já são milhares deles espalhados pelas cidades, na maioria das vezes não reconhecidos como tais. Muitos buscam preservar sua identidade/tradicionalidade mes-

mo que a sociedade em geral tente por meio da modernidade transformar nossa raiz em meros miseráveis, pobres ou subempregados, que somente tem direito a seguir o status quo cada vez mais esquizofrênico. Um exemplo desta prática de extermínio acontece nestes últimos anos aqui no DF. Os Fulni-ôs ocupam a Terra Indígena Bananal/Santuário dos Pajés na mesma área onde seus parentes costumavam rezar na época da construção. Várias atividades são desenvolvidas ali como o Herbário Fitoterápico dos Pajés, a Escola Tribal que ensina a língua dos Fulni-ôs, o Yathsalé, e celebrações espirituais e festivas como o Toré do Milho. O Santuário recebe constantes visitas de outras etnias indígenas e também moram próximas a ele comunidades indígenas das etnias *Kariri-Xocó e Tuxá. A área próxima ao Santuário já está sendo devastada pelos tratores financiados pelo corrupto Governo do Distrito Federal-GDF, que tem seu líder, José Roberto Arruda, preso há dois meses e outras dezenas da máfia rezando para não fazer companhia ao Big Boss. Apesar de diversas tentativas legais, manifestações da sociedade civil, denúncias e alertas de especialistas para travar este processo, mais de 200 mil árvores , lar de vários animais, vem abaixo para dar espaço para a maior hipocrisia governante desde a construção da 3ª Ponte. O nome da farsa é Setor Noroeste, bairro destinado a classe altíssima da cidade, ridiculamente chamado de ecovila, onde o metro

quadrado varia entre 8 e 12 mil reais. A explicação para entender a ainda existência deste projeto é o fato de que quem faz e julga as leis querem morar neste local, além de empresários, jornalistas e funcionários públicos abastados que têm compromisso exclusivo com suas contas bancárias. Só pode ser isso. Porque motivos há de sobra para a não construção desta estupidez. O primeiro é o “Brasília Revisitada”. Este é o principal argumento do GDF, uma revisão de Lúcio Costa sobre o plano original de Brasília. Nele, o urbanista prevê a construção de novos bairros caso houvesse necessidade. E com certeza não há. Além do Plano Piloto, que poderia ter novas quadras, há uma imensidão de moradias para esta demanda, como Águas Claras, Setor Sudoeste e os condomínios do Lago Sul. Lúcio, em 1985, sugeriu a localidade para outros moradores: “A ocupação deve prever quadras econômicas para atender à população de menor renda”. Mas, ao contrário, atende interesses de uma especulação imobiliária que não se limita com pouco. A entrada no mercado brasiliense de corporações imobiliárias como a BRASIL BROKERS e a ROSSI assusta. Em parceria com esta última, a empresa do próprio ex-vice-governador renunciado, Paulo Octávio, utiliza uma área na 209 norte, onde deveria-se criar um clube de vizinhança, para vender os prédios de sua empresa no Setor Noroeste. Paulo Octávio tem obras espalhadas por toda cidade e “utilizava” a máquina pública para atender aos

interesses de sua empresa e parceiros. O próprio projeto do Setor Noroeste foi um presente de 6 milhões da Associação dos Dirigentes do Mercado Imobiliário do DF- ADEMI, quando P.O. era presidente. Não há como separá-lo de Arruda, portanto ele também merece o xilindró. Outro motivo para o embargo imediato das obras do Setor Noroeste é o fraudulento processo de consolidação do Plano Diretor do DF. No inquérito do Superior Tribunal de Justiça constata-se que cada deputado da base aliada do GDF ganhou 420 mil para aprovar o PDOT. Esse fato já deveria paralisar todas as obras previstas no plano. A construtora JC Gontijo, que comprou dois terrenos no local, também está envolvida nas ilicitudes da Caixa de Pandora. Mesmo assim continua-se a destruir o cerrado. O licenciamento ambiental além de não resolver diversas pendências, principalmente em relação ao esgoto, não poderia ser emitido com a comunidade indígena estabelecida no centro da poligonal do projeto. Isso mostra o cuidado que a Superintendência do “Imbroma” do DF tem. A Universidade de Brasília também é cúmplice desta farsa, já que o projeto é do professor aposentado, Paulo Zimbres, também autor de Águas Claras, bairro mais cinza do DF. Não é somente dever dos indígenas proteger esta área de cerrado nativo. Apesar de muito agredida ela tem importância para todos os moradores do DF. Além de ser área tampão do Parque Nacional

de Brasília, serve para amortecer as águas pluviais que vão para o Lago Paranoá, sendo vital para um dos braços do lago, o Ribeirão Bananal. Ou seja, com o bairro teremos um lago mais poluído, cenas como a que vimos no dia 2 de abril, quando um muro de um condomínio na 911 Norte caiu pela força da chuva, e perderemos milhares de plantas e animais que dispensam comentários sobre suas riquezas. Com o Setor Noroeste, os moradores da Asa Norte podem esperar o pior em relação ao bem-estar. Mais trânsito, mais violência e mais desigualdade. Os indígenas permanecem firmes na resistência e já conseguiram iniciar o processo para a demarcação definitiva do local. A luta destes guerreiros/as se torna essencial para a emancipação do consciente coletivo do DF em respeito não só aos povos originários, mas, aos que mantém esta cidade de pé e são deixados de lado diante da elitização que ainda reina aqui. Os próximos 50 anos de Brasília devem ser de uma luta pela paz na qual a especulação imobiliária perde espaço para o convívio digno dos cidadãos. Para os próximos meses devemos organizar um plebiscito para discutir e decidir o que queremos para a cidade: Setor Noroeste ou Cerrado Vivo Indígena? (*) - Estas etnias entraram com outro processo judicial para garantir a terra, o que rompeu os laços com os Fulni-ôs. *Antonio Francisco é jornalista Independente


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ENTREVISTA

VLADIMIR CARVALHO POR DIOGO RAMALHO, FERNANDO AQUINO, MAÍRA MARINS, PALOMA AMORIM

mos avisados quando ainda estávamos dormindo na manhã do dia primeiro de abril. As pessoas que nos conheciam bateram no nosso QG avisando que havia um movimento revolucionário deflagrado naquele momento. Pensamos que era o nosso movimento e acordamos todos estonteados pelo sono. Nos mobilizamos para encontrar os camponeses afim de organizá-los. Assim foi como me inseri nessa coisa mais ampla, nas decisões de nosso coletivo. No caminho fomos ouvindo o rádio, então foi aquela desilusão, aquele choque em saber que não era o que estávamos pensando. Eram as forças mais reacionárias, mais à direita do Brasil, que desciam de Minas, era o Exército que vinha para tomar o poder e tirar o Jango do governo. A princípio, o Golpe Militar veio mascarado, mas foi um período de exceção que continuou piorando com o AI-5, já em 68/69, prendendo, batendo e torturando. A ditadura tirou a máscara. O MIRACULOSO: Como foi a sua chegada na capital no contexto de 1969?

Vladimir Carvalho é cineasta e documentarista brasileiro de origem paraibana e morador de Brasília há 40 anos. Formado em Filosofia pela UFBA, foi professor da UnB por 24 anos e possui uma vasta filmografia. O MIRACULOSO, nessa edição especial dos 50 anos da Capital teve a honra de entrevistar esse que é um dos ícones do cinema nacional, profundo leitor da alma do povo brasileiro. O MIRACULOSO: Fale um pouco do Brasil antes da Ditadura de 1964 e do que passou a ser o Brasil com o início do Golpe Militar? Vladmir Carvalho: Antes do golpe, se viveu a experiência do governo Jango, com o Brasil consciente das reformas. Vivenciei o nascedouro do movimento das Ligas Camponesas . Eu sentia que havia um interesse na transformação da sociedade, entre estudantes, trabalhadores e intelectuais especialmente. Eu via que para a salvação do Nordeste não tinha outra saída a não ser fazer a Reforma Agrária, além da Reforma Urbana de moradia e Reforma Universitária, e, por sinal, a UnB estava nascendo e se constituindo como, o que é hoje, uma universidade super importante no panorama do ensino superior do Brasil. Vi a movimentação sindical intensifi-

cada nos anos de 1950 e 1960 quando eclodiu uma radical mudança, que naturalmente mobilizava também o outro lado, o dos setores mais reacionários, aliançados com os latifundiários e inclusive com o apoio dos militares. O que gerou a violência mais brutal no campo, com o fuzilamento do líder João Pedro Teixeira na Paraíba, resultando no filme “Cabra Marcado Para Morrer”, dirigido por Eduardo Coutinho, que visibilizou e sensibilizou todo o movimento dos camponeses para fazer a Reforma Agrária e buscar melhores condições de vida. Por sorte participei da realização deste trabalho, vi de perto tudo acontecer, isso me marcou bastante, inclusive porque do dia 31 de março ao dia 1º de abril de 64 nós fomos surpreendidos em pleno trabalho do documentário. Filmávamos as cenas noturnas de acordo com o plano de produção. Contudo, nós fo-

Vladimir Carvalho: Depois do Golpe eu fiquei no Rio de Janeiro até 1970. Vim para o festival de cinema em Brasília em 1969 e não conhecia Brasília, reencontrei o diretor de fotografia do “Cabra Marcado”, Fernando Duarte, um dos grandes diretores de fotografia do Brasil. No festival de Brasília onde meu filme estava em competição, o Fernando me perguntou o que eu estava fazendo, me convidou então a participar e estruturar um núcleo de documentário na Universidade de Brasília. Mas acabei voltando pro Rio. No entanto, Fernando continuou insistido e decidi voltar para Brasília pensando que ficaria no máximo 3 meses. Acabei ficando até hoje. Comecei dando uma aula na UnB após o Fernando ter insistido dizendo que os alunos estavam interessados na minha experiência, nos filmes que eu fiz. No outro dia ele me disse que os estudantes queriam mais uma conversa. Ele me aprontou um contrato de professor em acordo com a Reitoria. E eu não tinha como recusar porque era tão vantajoso em relação ao meu salário de jornalista no Rio de Janeiro que pensei que poderia experimentar. Me adaptei demais a Brasília, adotei Brasília. Estou em Brasília a 40 anos e fui adotado. Depois do Golpe, quando 225 professores pediram demissão voluntariamente, o cinema foi praticamente

extinto da UnB. Convencemos a Reitoria a implantar um curso regular de cinema que durou até 1972, quando o Reitor José Carlos Azevedo resolveu novamente extinguir o curso. O MIRACULOSO: Como foi ser professor da UnB com todo o clima da repressão, retratado anos mais tarde no seu documentário “Barra 68”, e sucessivos Reitores Interventores Militares? Vladimir Carvalho: Como eu sempre fui militante, vi que havia outros professores que agiam e pensavam da mesma forma, a gente criou um grupo de resistência especialmente à figura de José Carlos Azevedo, capitão de mar e guerra, que foi um interventor militar na universidade, com um poder que excedia sua qualidade de Vice-Reitor. Em 68 houve uma ocupação da universidade por tropas militares que durou um mês, aparentemente ele não tinha nada haver com isso. Foi quando os estudantes declararam o campus da universidade território livre, resistindo no embate com a polícia e com o exército. E no fim, quem estava sentado no trono era o Azevedo, o Interventor, que durou por volta de uns 17 anos. Apesar disso nós do Instituto de Artes sentíamos a tarefa de resistir aos desmandos da gestão arbitrária do Azevedo. Em 77, eu assisti ao movimento dos estudantes em que deflagrou-se o Dia Nacional de Lutas, reivindicando o restabelecimento do direito de eleger seus representantes, ter direito a assento nos conselhos da universidade e pela liberdade dos presos políticos. Só em 85 conseguimos fazer eleição direta com os três seguimentos e elegemos, não se pode esquecer jamais, Cristóvão Buarque. Dávamos aula com os policiais andando na universidade e percebíamos que não eram estudantes. Víamos também estudantes sendo presos e levados para camburões. Em 78 deflagramos um movimento de apoio à manifestação dos estudantes, que entraram em greve porque Azevedo fez tudo para desestabilizar o movimento da Anistia. Que só foi ter resultado positivo quando tiramos o Azevedo e elegemos o Cristovam como Reitor. Tudo mudou a partir da deflagração do dia Nacional de Lutas em 77.

“O Arruda é cria de Casa do Roriz”

O MIRACULOSO: Seu filme “O País de São Saruê” foi censurado pela ditadura durante 9 anos e somente em 1979


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ENTREVISTA com a Anistia política pôde vir à tona. Como foi o início do fim da ditadura? Vladimir Carvalho: Quando eu vim para Brasília com “São Saruê” eu ainda não o tinha terminado, terminei o filme aqui. Para exibir o filme você tinha que obter um certificado, entregue pelo departamento de censura federal. Os censores assistiam ao filme e somente se eles quisessem o filme seria aprovado. Fui submetido a essa espécie de censura. O filme foi inteiramente interditado e só foi liberado em 1979 quando aconteceu a Anistia. Entretanto, mesmo censurado, inscrevi o filme no Festival de Cinema de Brasília e ele foi aceito pela comissão de seleção, o que foi um rolo terrível. Faltando dois dias para o festival começar “São Saruê” foi substituído pelo filme “Brasil bom de bola”, um longa metragem que falava sobre a conquista do tri campeonato mundial. Com a retirada do meu filme, os adeptos do Festival geraram uma confusão. Para piorar a situação do Festival a comissão de premiação denunciou o filme “Nenem bandalho” como sendo favorável ao uso de drogas, e este também teve sanções; o resultado foi que o Festival parou por 4 anos. O MIRACULOSO: Quais influências considera fundamentais na sua formação política e cultural? Vladimir Carvalho: A literatura marxista leninista. Meu pai era um leitor assíduo de romances. Li a coleção romance do povo quase inteira. Meu pai era um artista, apesar de não ter ido a faculdade. Era escultor, desenhava muito bem, era jornalista e pertencia ao Partido Comunista, assim como eu fui durante um tempo. Hoje sigo apenas a minha intuição, meu instinto, me identifico com as forças vivas da sociedade e vejo por onde seguir e participar. O MIRACULOSO: De que forma a cidade de Brasília, esse amálgama de identidades e culturas sempre por se definir, influenciou e influencia em sua obra? Vladimir Carvalho: A partir dos meus próprios projetos. Quando vim para Brasília, como nordestino comecei a olhar em volta, ver o que a cidade apresentava , para fazer o meu trabalho como documentarista. Queria encontrar os nordestinos que trabalharam na construção de Brasília. Fui à invasão do IAPI cheio de barracos com uma feira no meio. Fui lá assuntar se tinha carne de

sol ou algum cantador. Eu tava cabeludo e parei no barbeiro, um barraco que tinha no meio da feira. Nessa barbearia ouvi falar em um massacre de operários da construtora Pacheco Fernandes. Fui pra casa pensando naquilo, nunca mais parei de pensar. Quando ouvi a história, a primeira impressão foi violenta. Tive um choque por conta de ser a cidade de Oscar Niemyer e Lucio Costa, uma cidade no auge desenvolvimentista. Eu fiz uma listagem de pessoas e ia perguntando sobre o massacre da Pacheco. Perguntava ao caseiro, ao taxista, a uma pessoa que via que tinha mais idade. Como tinha ditadura eu só anotava. Fui juntando depoimentos e mapeando as pessoas e filmando durante 19 anos. Por exemplo, filmei o início da Ceilândia, subi na caixa d’água e filmei a feira de cima. Filmei a chegada dos tricampeões em 1970, filmei a chegada do Papa. O MIRACULOSO: Em 2010 o filme “Conterrâneos Velhos de Guerra” faz 20 anos. O que mudou na alma desta cidade ainda em construção? Vladimir Carvalho: Quando cheguei, Brasília tinha cerca de 300 mil habitantes, o Plano Piloto era uma tranqüilidade, uma população muito pequena para a capital da república. Se dizia naquela época que somente nos anos 2000 Brasília ia atingir 500 mil habitantes. O que eu assisti foi quase como uma vertigem: primeiro veio um cara e tombou o núcleo da cidade, esse grande palco que é o centro do Plano Piloto, a Esplanada, a Catedral. Mas logo no primeiro governo Roriz teve a doação de terras públicas com o objetivo de se formar currais eleitorais. Joaquim Roriz loteou as terras públicas em benefício próprio, em benefício eleitoral, e pra mim isso é um divisor de águas na história de Brasília. É como se você dormisse com a utopia e acordasse com a explosão demográfica da periferia de Brasília, sem ter os equipamentos humanos que fizessem face a isso. Contudo, temos um hiato com a gestão Cristovam. Apesar das quatro gestões com o Joaquim Roriz, é importante você olhar para esses momentos como a preparação do que aconteceu mais recentemente na gestão Arruda. O Arruda é cria de casa do Roriz. Não é a toa que Arruda levou a sede de seu governo para Taguatinga. Ele desfigurou o desenho simbólico não para fazer um benefício a periferia, o que seria louvável, mas pra dar continuidade, substituir e se confrontar com seu hoje adver-

sário Joaquim Roriz, para tirar proveito político e eleitoral. O MIRACULOSO: Como enxerga a atual crise institucional e política do Distrito Federal? Vladimir Carvalho: Eu vejo como a possibilidade, como um chamamento a assumir posições. Estranhamente a comunidade de Brasília, até agora, não se posicionou na rua - como quando veio o Papa, os tricampeões, quando da posse do Lula - eu pessoalmente não vi, a não ser pífias manifestações que partiram de um único movimento que foi dos estudantes da UnB, como quando ocuparam a Câmara Legislativa Distrital. A comunidade não participou, mas homologou a posição dos estudantes. Faz falta ainda a mobilização das forças vivas da sociedade: sindicatos, associação de moradores, juntamente com a limpeza do Legislativo local. Eu acho muito con-

“Joaquim Roriz loteou as terras públicas em benefício próprio, em benefício eleitoral, e pra mim isso é um divisor de águas na história de Brasília” fuso quando você tem em curso uma Intervenção Federal, em apreciação por parte dos tribunais superiores, e uma Câmara, que não tem credenciais para realizar uma eleição, insistir em eleger um governador. E se for decretada uma Intervenção antes, para que no dia 17 eleger um governador? O quadro ainda é muito nebuloso embora surjam possibilidades de abrirmos caminhos para a solução dos problemas de Brasília. É o fim de um ciclo e o começo de outro para melhoria do povo e das instituições. O MIRACULOSO: O que podemos comemorar nestes 50 anos dessa que é uma das mais jovens capitais do mundo? Vladimir Carvalho: Podemos comemorar, por exemplo , a integração dos estados brasileiros, em que o Rio Grande do Sul está muito mais próximo do Amazonas a partir da transferência da capital para o Planalto Central, com enorme influência em todos os setores da viada brasileira. Mas não podemos comemorar a degradação dos costumes políticos.

Devemos lutar por uma mobilização da população de Brasília para, nesse dia do aniversário da cidade, bater o martelo e dizer “nós queremos a mudança, a limpeza, a assepsia desse quadro político que foi criado com o governo de José Roberto Arruda”. Não tenho a fórmula pra isso, é a minha opinião como cidadão. Mas se isso acontecesse entraríamos para a história do país a partir desse dia 21. Porque especulações e manifestações que não tenham esse significado pouco vão contribuir. Isso é o que deveríamos fazer: nos darmos as mãos e fazermos uma corrente de toda a coletividade e mobilizar a cidade numa mega manifestação, com a participação de todas as lideranças. Se isso é possível eu não sei, nem sei o caminho. Mas estou pronto para marchar como um cidadão daqui. O MIRACULOSO: Quais as grandes carências e objetivos que a capital ainda não alcançou, e as perspectivas para os próximos 50 anos? Vladimir Carvalho: Podia-se estudar uma forma de fazer um acoplamento entre a Carta Magna - a constituição brasileira - e a lei orgânica do DF, isto no bojo de uma reforma política geral. Eu vejo no Congresso a figura de Pedro Simon com uma aura simbólica, que diz que não podemos esperar mais nada do Congresso brasileiro da forma como está estruturado. Pois o Congresso não tem como modificar estruturas que estão caducas, a começar pela Constituição de 88 que tem que ser reformada. E não há como ser diferente, porque o cotidiano no Parlamento brasileiro degradou-se em si mesmo, não prospera, de forma que todos estão desencantados da prática política. Será a decadência do Legislativo brasileiro, senão houver a reforma política. Temos um vasto elenco de problemas pela frente, assim faz-se necessário essa reforma. O MIRACULOSO agradece a entrevista que para nós foi simbólica, miraculosa. Não temos palavras para expressarmos e satisfação de poder tê-lo como entrevistado dessa segunda edição especial. Vladimir Carvalho: Não tenho considerações a fazer. A não ser saudar a chegada desse jornal no processo da política do Distrito Federal, atuando como porta-voz daqueles que não tiveram voz ou a suficiente mobilização para se expressar.


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LITERATURA CAPÍTULO V Do Distrito Federal e dos Territórios SEÇÃO I Do Distrito Federal

Litogravura | Bia Medeiros

Manhã Vem tilintando lá do fundo. E conforme o barulhinho agudo e fino aparece, outros se atrelam a ele, mais densos; redondos, quadrados e de diversas cores. Marcham em minha direção. É uma parábola. Minha parábola. Sai de mim, segue longe. Flutua, corre, gira, dança e faz uma curva para retornar aos meus ouvidos. O barulho e os estalidos são externos, mas a maneira característica como eles chegam a mim me fazem pertencê-los, de certo modo. Nascem separadamente, cada um em sua incubadora, em algum local perto da minha nuca, e se lançam para a vida, passando pelo meu martelo e bigorna. Eclodem no mundo, voando pelo ar todos de mãos dadas. Em uma sinfonia orgânica e barulhenta, aonde os ruídos dominam. O ritmo é quase inexistente, são muitas camadas de sons acontecendo simultaneamente. Difícil de sincopar. Eu vou despertando. Esses sons me tiram gradativamente do sono pesado no qual eu me encontrava instantes atrás e vão me compelindo ao estado de vigília. Junto com eles vem mais cores, e elas vão se tornando mais claras e luminosas. O filtro brumoso que encobria meus olhos vai caindo, dando lugar às outras sensações. Ainda estou com as pálpebras cerradas, e dessa maneira acentuo a experiência que é escutar essa música colorida. Somente após alguns vários instantes, consigo trazer índices racio-

nalizados para o que entra pelos meus ouvidos. Marretas, cinzéis, picaretas, furadeiras. Em primeiro plano. A construção ao lado do quarto. Outros sons se sobrepõem a esses, em planos menos específicos. Carros, buzinas, cachorros, conversas e até ruídos de crianças aproveitando a clara manhã que insiste em entrar sorrateira pelas frestas da persiana de ferro acoplada à janela. A luz é leitosa e densa. Parece carregar todo o calor abafado que fazem minhas têmporas suarem. Finalmente ao abrir os olhos, vejo a gentil silhueta que se liga ao meu lado, junto a mim. É você. E assim esse ciclo de sensações deságuam em uma mais forte e quase sufocante. É a felicidade de te ter junto a mim, e poder perceber e efetivar isso cotidianamente. Pelo menos era assim, já que agora tudo mudou. Mas aí, sabe lá o que pensa ou sente? Mas aí, sabe lá, é sempre amor. Pelo menos pra mim. Desde então eu durmo. Por opção. Já que não posso mais ter as cores me invadindo, juntamente com os sentimentos bons, escolho acovardar-me nos tons frios e acinzentados do sono cotidiano. Aquele que perpetramos de olhos abertos. (Moisés Crivelaro)

Art. 28º Enquanto o capital prevalecer, enquanto a poesia não imperar, é vedado querer por querer registrar por registrar o nome na história desta nação e, assim, resolver por resolver transferir por transferir a capital de região. § 1º A vedação deste artigo tem como premissa a seguinte argumentação: I – onde governa o capital, criar qual cidade futurista e desenvolver o interior do país é promover o empreendedor que condiz com o sistema capitalista; II – onde quase tudo é comprado, pedir emprestado para quem já roubava de quem já não tinha surpreende até o larápio que empresta com juros e ainda morrinha; III – onde o lucro permanece em vigília, endividar a família e deixar a dívida à mercê merece o veto dos filhos, dos netos e de quem mais interceder; IV – onde a igualdade não faz parte dos planos, fazer em cinco anos o que se faria em cinqüenta só é bom para quem ordena e a própria fama fomenta; V – onde morar não é certo, ser alojado por perto para adiantar o batente e depois despejado ao longe para tornar-se um ausente é ser traído em meio à ilusão, ainda mais se o alojamento for chamado, em campanha, de invasão; VI – onde a regra é oprimir, construir e ser proibido de usufruir é simplesmente humilhante; § 2º Quando o capital não puder, quando a poesia reinar, a intenção de querer mudar a capital de lugar poderá ser discutida por todos que tiverem interesse no assunto.

(Fábio Carvalho)

Planalto O mar é um grande pulso que lateja. O planalto é um mar de vagas imobilizadas na diástole, e o pulso anula-se na tensão áspera da pele. Gritos mineralizados. O tempo lapida os cristais fendidos do silêncio. E das fissuras mana (imperceptível) uma saudade marinha. Esmagado espanto vegetal. Pássaros nadam entre as algas. Seres estranhos deslizam no fundo. Restos. O Homem, navegador crispado, vem sulcar estas águas coaguladas. Decifra na face do planalto (memória de mar petrificada) seu arcano, e semeia-lhe arquipélagos. Sobre as vagas imóveis um vivo mar agita-se. (Anderson Braga Horta)

Pintura | Camila Soato


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LITERATURA

Cigarras

Culturalmente diversificada, sendo única ao possuir Uma parte de cada região

Cigarras soturnas sibilam cintilam simulam sob sol setembro

Ergueu-se a Ermida, primeira missa Abre BR, ferrovia, estrada JK, Lucio Costa e Niemeyer Põe concreto, mais concreto à vida tirada

Cigarras singelas solenes sozinhas silenciam sob céu cidade

Cidade ladroeira do lago artificial A ganância te consome, politicagem Arrancam-lhe o verde, fatalidade Perseguem índio, inadmissível Alto índice de violência e desigualdade social

cigarras sinceras se soltam soletram suspiram

A quem recorrer? À desordem do PDOT? Gerador da corrupção! À justiça em sua lentidão? Aos 50 anos, ela deseja mudança Do caos à transformação Presentear Brasília, num ato de cidadania É unir forças, resistir à repressão

Cigarras são seres sinistros sensatos sedentes Cigarras sonoras sossegam sussurram saciam

Expressar a arte com luta e criatividade Para o mundo e a nação Tem que ser agora venha que há tempo O futuro da capital encontra-se em nossas mãos! (Déborah Gomes)

Cigarras são santas sinais silentes silvestres Cigarras sinfônicas seus essessssssszzzzzzzzzzz (Isolda Marinho) *

Rumo à nova Brasília A pseudo-República trouxe consigo Na primeira da histórica coleção Um artigo que já incluía A transferência da capital Para a futura Brasília.

* ando pela L2 como num deserto um deserto de rostos irreconhecíveis novas máscaras desfiguradas que sempre quis evitar todos os rostos são repulsivos o meu mais que todos reflete um rosto vazio de magritte por baixo de um pano azul de nuvens: versos brancos como este corre a sorte tudo de que corro (Hugo Crema)

Tantas vezes ao passar pude sentir a graça de tua jovem beleza, coberta de flores rosadas trazendo uma boa lembrança, um novo alento. Quando nas tardes ásperas do prolongado estio és sombra acolhedora pra abrigo dos viventes: pássaros, bichos, insetos, relva, gente. Quando tuas lágrimas caem no chão deste vale, misteriosamente, amenizando os rigores da seca e tuas sementes curativas espalhas pelo vento. Teu corpo rugoso e claro, de crescimento tão lento, ao longe me chama e seduz por seu movimento de ramos espalhados, gentis, firmes, bons de menino subir e folhas bem pequenas, redondas e rendadas. Hoje lanço meu lamento por estares assim ferida à beira da estrada, no limite deste triste assentamento. O golpe de machado de um homem sem raiz estúpido, rasteiro, inconseqüente, atingiu o fluxo, o cerne de teu tronco e a alegria, a generosidade, a vida plena que semeavas estancou-se, gentil amiga. Quando é que nossa gente que depende tanto dessas árvores terá gratidão por elas, terá olhos pra perceber toda esta nobreza, de tanta doação defenderá a vida, a saúde, o encanto. que esses seres milenares propagam? Quero todas as sucupiras vivas ! (Romulo Pintoandrade)

Cidade que não existe até que exista um sonho que não existe. A cidade cresce, Estranhamente esquece do sonho que engendra. A cidade acontece... E sua natureza engana os olhos, encanta e faz medo. Grita e emudece a cada instante, pulsa entre a vida e a morte que seus vazios representam, onde encenamos o teatro verde da crueldade. A cidade, esta cidade, é mesmo um palco sofisticado: torna todos atores de um texto construído na intermitência e no peso da propriedade – que novamente engana: parece ser de todos. Seu abraço comunista sufoca, E o céu comunica um domínio vasto que nunca navegamos além do horizonte. Placas mil fazem entender que o sentido É mesmo insano – equilibramos desejos numa retidão torta. [às vezes empilhamos, às vezes esquecemos] Não é o dinheiro nem o poder que te oblitera; é tua forma simpática de dizer que o limite não tem traço. Que o resto que está de fora é mesmo resto, e o que importa em ti está além de qualquer gesto, de qualquer norma. Os prédios que atravessamos só têm forma. Dão um jeito de dizer que sua generosidade está restrita ao ir e vir democrático de ter acesso a qualquer lado de algo que está acima, intocado, castelo modernizado, utopia envelhecida, piada. Tua obra de arte não poderia ser diferente? (Leonardo Menezes)

Nasceu então, em papel constituinte E para ela abriu a Missão Aos ares da incerteza, pôs-se a seguir A possível interiorização. Já mapeada e demarcada A área ainda ouvia paz Até chegar o massacre da especulação Para o Brasil, trouxe dívida Da mata, tirou-lhe a vida E aumentou a aridez do sertão Depressa! Há um Plano Meta O povo precisa vir, dar início à construção E fazer de Brasília, uma mescla de raças

Pintoandrade


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CULTURA

Brasília 50 anos de quê? WILLIAM ALVES

Se você está lendo esse texto nesse momento, talvez uma das razões para tal, seja o fato de que a pergunta que O MIRACULOSO faz, também o tenha deixado inquieto: BRASÍLIA 50 ANOS DE QUÊ? Que Brasília é essa que completa 50 anos em 2010? Durante os últimos 4 anos estive envolvido em um projeto de realização de um documentário sobre o universo do transporte alternativo: as vans. O nome é “FILME PIRATA”, possuindo 52 minutos de duração e sua estréia está prevista para abril, durante as comemorações do aniversário de Brasilia. Será exibido na mostra de filmes BRASILIA OUTROS 50, que acontecerá na FUNARTE. É curioso como o cinquentenário da cidade está mobilizando tanta gente! Taguatinga, a cidade em que nasci e vivi por mais de 36 anos na mesma casa, e onde até hoje vive Dona Graça, minha mãe, tive a oportunidade de presenciar uma discussão interessante que aconteceu em um bar de esquina. O dono, Seu João Carlos, se tornou meu conhecido porque era motorista de van no pe-

ríodo em que realizávamos o filme. Contudo, com o fim do transporte alternativo, ele havia se tornado dono de bar. A discussão a que me refiro é exatamente sobre o aniversário de Brasília. O assunto era que pouco importavam seus 50 anos, pois Ta-

“E o DF, quantos anos tem? Qual será sua idade? O que temos para comemorar?” guatinga já ia para os 52 e ninguém tinha dado a mínima para o seu cinquentenário, e que também pouco importava se Brasília mais parecia um bairro chique inventado para representar a nova capital no centro do país, enquanto Ceilândia, Paranoá, Samambaia, Planaltina, Recanto, Riacho Fundo, São Sebastião e todas as outras satélites eram tão importantes quanto e em alguns ca-

sos mais vivas e calorosas com suas feiras agitadas e com a molecada na rua. Não fosse o descaso dos administradores, essas cidades seriam muito mais humanizadas que o Plano Piloto, que está dentro de Brasília, que está dentro do Distrito Federal como estão todas as cidades-satélite. E o Distrito Federal, quantos anos tem? Qual será sua idade? O que temos para comemorar? Na discussão que se seguiu todos concordavam com essas questões. Mas foi então que Seu João Carlos se manifestou dizendo que em 2010 tínhamos muito a comemorar, e ninguém entendeu porque Seu Joao falou aquilo. Foi então que ele completou – “apesar de toda essa roubalheira sem vergonha que acaba com nossos hospitais, nossas escolas, que deixou as pistas do DF como veias abertas com a terra vermelha misturada com o ferro e o concreto, que construiu uma fonte cibernética que toca “Kenny G” na Praça do Relógio em Taguatinga, que deixou o transporte público na mão dos empresários que cobram caro pelo péssimo serviço, que acabou com o transporte alternativo deixando sem as vans milhares de pessoas que não tinham e não tem ônibus, que constrõem o Setor Noroeste, bairro só para gente rica; apesar de tudo isso temos que comemorar um fato, uma coisa que ficou muito clara: empresários não sabem administrar as cidades, e quando empresários viram políticos, são eles que vão administrar as cidades e fazem isso como o fazem com uma empresa. Porém, uma cidade é muito diferente de uma empresa. A lógica empresarial não serve aos cidadãos

que precisam viver nas cidades. O que está por trás da péssima administração do DF, diretamente ligada a roubalheira de bilhões de reais, são os empresários, os políticos e os empresários políticos que estão corrompendo as cidades” – uma gargalhada gigantesca interrompeu Seu João e perguntou: “E quem é que vai administrar a cidade então?” E no embalo da pergunta, já respondeu perguntando: “Nós?” Depois de um longo silêncio a conversa tomou esse rumo e só parou no fim da tarde, quando todos foram embora do bar. Para mim, talvez Seu João tenha razão em pelo menos podermos comemorar a clareza que alguns fatos nos trazem. Mas fiquei pensando na gargalhada e na questão levantada. Sim, talvez a comemoração maior virá quando nós, cidadãos, realmente estivermos colaborando de forma mais direta na administração das cidades. Enquanto isso não acontecer, ficaremos sujeitados a empresários, a empresários políticos e a políticos empresários; e ficaremos sujeitos a administradores com compromisso apenas com a lógica empresarial de acúmulo e enriquecimento, e não com a cidade e o bem estar do cidadão. Assim como Seu João e a gargalhada sem nome e assim como eu, espero que você que chegou até aqui possa, num futuro próximo, ter razões de sobra para comemorar o aniversário de sua cidade. William Alves é taguatinguense, realizador de filmes e integrante do coletivo Faísca Cultural.

Adonai Rocha


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CULTURA

Geração Renato Russo PAULO MARCHETTI Se vivo, Renato Russo completaria em 27 de março de 2010, 50 anos de vida. Todos enaltecem sua obra e pipocam homenagens mais do que merecidas. Eu mesmo dei umas 3 entrevistas para falar dessa data. Só que aqui não quero fazer como todos e relembrar suas passagens e seu repertório. Quero falar de duas coisas que me vem logo à cabeça quando se fala em Renato Russo: personalidade e criatividade. Personalidade e criatividade é o que há muito faz falta ao rock brasileiro e era o que sobrava na geração de Renato: Plebe Rude, Capital Inicial, Escola de Escândalo, Elite Sofisticada, Diamante Cor-de-Rosa, Titãs, Ira!, Barão Vermelho, Paralamas, Camisa de Vênus, Engenheiros, Ultraje, Cólera.... Coloco todas essas bandas brasileiras para não ficar apenas na capital. Essas são só algumas, mas eu poderia continuar a lista com Smack, Mercenárias, De Falla, Sexo Explícito, Akira S... vai longe. Eram tempos em que ainda estavam por vir muitas novidades. A MTV (americana)

era uma delas. Renato Russo amava o que fazia. Era roqueiro convicto. Conhecia e muito sobre a história do rock de Fats Domino a Nirvana. Era daqueles que escutava disco com a capa e o encarte na mão, “estudando” cada nome escrito na ficha técnica, cada frase de cada letra. Sabia até quem tinha criado a capa e o motivo da posição de cada faixa no vinil. De cultura pop lia tudo o que estava em seu alcance: New Musical Express,

“As músicas de protesto são as melhores dessa geração. Seu texto tinha começo, meio e fim” Rolling Stone, Geração Pop, Som Três, muitos livros e biografias. Todo esse amor e toda essa informação foram se acumulando até um dia ele explodir e falar: “vou formar minha

banda e viver de música”. Quando se sabe usar a informação que se obtém, um abraço, ninguém te segura. E foi isso que aconteceu com Renato Russo. Foi isso que aconteceu com sua geração. Analise, por exemplo, toda obra lançada pelo Titãs nos anos 1980. Que coisa incrível! Analise a obra de Legião Urbana. Quando todas as gravadoras costumavam lançar compactos para analisar se valia a pena um LP, Renato tanto bateu o pé que a Legião lançou LP sem compacto. Era prazeroso ler ou ver uma entrevista com ele. Sempre se aprendia algo. Os shows eram aventuras porque não se sabia o que podia acontecer. Vi shows da Legião desde que Renato ainda tocava baixo e cantava, e eles nunca foram iguais. A forma de tocar, o repertório, os discursos entre as músicas, ele conseguia deixar próxima à relação entre palco e público. A sensação era de que seu irmão, seu melhor amigo era quem estava ali cantando. Isso valia muito mais quando a banda era um quarteto.

Depois da saída do Negrete, a Legião ao vivo, junto com a Legião de músicos de apoio, pra mim perdeu a graça, mas mesmo assim saíam bons shows. Renato Russo era formador de opinião. Não era apenas um rosto bonitinho, alias, muito pelo contrário. E essa sua personalidade e criatividade acabaram por conquistar muita gente além dos jovens amantes de rock brasileiro. Muitos pais, tios e avós acabaram também o admirando. Suas canções de amor não são simples canções de amor. As músicas de protesto são as melhores dessa geração. Seu texto tinha começo, meio e fim. Sabia como ninguém usar a língua portuguesa coloquial num rock completamente influenciado pelos americanos e ingleses. Não parei no tempo. Escuto coisas boas que surgiram nos anos 1990 e nos anos 2000, mas não é a mesma coisa. Aliás, sendo bem radical, não sei pensar em outro formador de opinião pós-RR que não seja Chico Science. Um nome em duas décadas. Viva Renato Russo! Que surjam mais ídolos formadores de opinião e criativos. Paulo Marchetti é diretor artístico, roteirista e pesquisador musical www.rockbrasiliadesde64.blogspot.com

OUTROS CINQUENTA NICOLAS BEHR

1 – Vamos virar uma metrópole. Ou já viramos? Brasília definitivamente deixa de ser uma idéia modernista e se transforma em uma cidade orgânica. A humanização constante e progressiva da maquete. 2 – Vamos sair fortalecidos da crise política pela qual estamos passando. Vamos escolher melhor nossos representantes, vigiá-los mais de perto. O aperfeiçoamento da democracia. 3 – Vamos assistir ao secamento do Lago Paranoá. Por que? Porque só os ribeirões do Torto e Bananal (que nascem no Parque Nacional de Brasília) e os ribeirões do Gama e Cabeça de Veado (que nascem na Fazenda Água Limpa, da UnB, e no Jardim Botânico) tem garantida a sua vazão. Os outros cursos d’água que abastecem o Paranoá estão ameaçados pela expansão urbana e agrícola. Mas fique tranqüilo: uma canalização de água do Lago Corumbá não vai deixar que o Paranoá seque. 4 – Vamos ver o deslocamento (que já começou) do eixo econômico do DF para Taguatinga, Águas Claras, Ceilândia e Samambaia, formando uma mega-cidade: Táguasceibaia. 5 – Vamos assistir a explosão da panela-de-pressão que é o entorno do DF. Por enquanto o muro é a dis-

tância, mas virá um outro, concreto, de cimento. A explosão vai destruir o muro. 6 – Vamos ver crescer o sentimento nativista do brasiliense e participar de manifestações pela transfe-

Fotografia com lata | José Rosa rência da Capital. “Todos os eleitos vêm prá cá! / Mas nós já estamos aqui!”). Quando deixar de ser Capital em 2.166 nossa cidade se chamará Braxília (com “x” mesmo).

7 – Vamos assistir ao estrangulamento das reservas ambientais do DF e desistir de vez na implantação de corredores ecológicos entre as áreas protegidas. Teremos três grandes “ilhas” (Parque Nacional, Águas Emendadas e Complexo Jardim Botânico-UnB-IBGE ) mas sem contato entre si, levando à extinção de plantas e animais, por falta de trocas genéticas. 8 – Vamos assistir ao bucólico fim da escala bucólica de Brasília. As áreas verdes tomadas por enormes estacionamentos e a vista para o Lago Paranoá obstruída por blocos de superquadras disfarçadas de apart-hoteis. SQL. 9 – Vamos assistir ao rodízio de carros, como se faz hoje em São Paulo. Medida paliativa. Será o começo do fim da cidade-autorama. 10 – Vamos ver iniciativas burocráticas e nada ousadas de tentar resolver o problema da falta de um transporte público. Mais viadutos, mais pistas para os carros, mais carros. Gasolina no extintor de incêndio. Nicolas Behr é poeta e ecologista


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BRASÍLIA OUTROS 50

A partir da meia-noite do dia 20 até o dia 25 de abril, no Complexo Cultural Funarte, a cidade receberá 50 horas de arte e cultura. Tudo para celebrar o cinquentenário da capital de todos os brasileiros com diversidade cultural por meio do Brasília Outros 50 Anos. Organizado pelo Fórum de Cultura do DF, patrocinado pela Funarte, Ministérios da Cultura e do Turismo, o evento é dividido em música, samba, artes plásticas, cultura popular, hip hop, circo e teatro, danças, cinema, artes plásticas e artesanato. Um dos coordenadores e membros da entidade responsável pelo evento, o maestro Rênio Quintas, espera com grande expectativa pela comemoração do aniversário da cidade. Afinal, Quintas é um dos nomes que também luta pela cultura local e sempre declara seu amor à cidade. “Não disputaremos público com a festa que acontecerá na Esplanada dos Ministérios. Somos mais uma opção para quem pretende vir comemorar o aniversário de Brasília”, afirma o maestro. Federal - O assessor especial do Ministério da Cultura (Minc), um dos patrocinadores do evento, Fred Maia, diz que os artistas do Fórum de Cultura da cidade propuseram ao órgão apoio ao projeto. “E, o que nós pedimos na hora de selar a parceria é que, os territórios e as linguagens fossem contemplados. Brasília tem o Plano Piloto e as 30

outras regiões administrativas, com pouco acesso a cultura. Acredito que esse evento vai ser um exemplo de ativismo cultural e de cidadania. Uma tarefa que os artistas resolveram encarar, que irá comprovar na prática, que Brasília tem atividade e inteligência cultural. Para o Minc, é uma ótima oportunidade construir esse processo e fazer essa troca. É uma parceria que visa também uma continuidade, a partir dos grupos mapeados”, revelou.. A cadência do Samba - “Vamos misturar escola, choro, samba, pagode, será uma grande festa”, promete o coordenador da área de Samba do evento, Kaoka. Entre as atrações confirmadas estão os grupos Amor Maior, Os Criollos, Dinho da Cor do Samba, e uma das musas do samba da capital, Renata Jambeiro. “Será a verdadeira capital do samba”, finaliza Kaoka. Hip Hop na área, tá ligado?- Para uma das coordenadoras da área de hip hop do evento, Jaqueline Fernandes, da Griô Produções, a falta de política cultural nos últimos anos inviabilizou a vida de muitos artistas da cidade, sobretudo os das periferias. “A intenção é dizer: estamos aqui, continuamos muito vivos e vivas e nos empoderamos juntas e juntos para fazer a nossa própria celebração junto da sociedade e dos movimentos sociais

como um todo. Para a cultura hip hop, a festa tem uma importância impagável, por exemplo. Pela primeira vez este movimento, que representa a maior parte das vozes jovens das periferias, terá vez nas comemorações do aniversário de Brasília como protagonista, com espaço e dignidade. Cinquenta atrações passarão pelo palco hip hop nos dias 21 e 22 de abril. Esse palco tem a mesma estrutura e condições técnicas que os demais, sem a velha história do palco principal. Um dos momentos muito esperados é a oficina de capacitação para o Prêmio Cultura Hip Hop. O Ministério da Cultura lançou o edital Prêmio Cultura Hip Hop, Edição Preto Ghoez, que premiará 135 iniciativas no país todo. A oficina será ministrada pelo Instituto Em-

“Brasília Outros 50 anos mostra como os artistas de Brasília querem ser tratados nos próximos 50 anos, com espaço, respeito e qualidade. As pessoas que passarem por lá vão ouvir DJ’s, MPB, samba, rock, blues, hip hop” preender com a presença do Secretário, Américo Córdula, do Minc. Prazer de pintura - Brasília é ao mesmo tempo, tela e personagem, e inspira a artistas plásticos das mais variados escolas e estilos. E eles também participarão do Brasília Outros 50 anos. Para tanto será realizada uma reunião dos artistas pintores de Brasília para celebrar os 50 anos da cidade fora do circuito oficial: a mostra Brasília Prazer de Pintura, na Galeria Fayga Ostro-

wer da Funarte / MinC, aberta dia 20 de abril, às 20h. O curador da mostra, Bené Fonteles, explica que “ pelo seu espaço amplo de cerrado e sob um céu quase mar, em meio as suas águas ainda cristalinas, a cidade modernista posta a toda prova nesta bela solitude do planalto central, Brasília foi, e é, fonte e suporte de inspiração pictórica para os artistas que aqui chegaram entre o quase nada dos anos 50 e 60: Athos Bulcão, Rubem Valentim, Glênio Bianchetti, Douglas Marques de Sá, Lêda Watson, Babinski e muitos outros pioneiros/candangos”, explica. Uma lista respeitável de artistas da cidade abrilhantará o evento. O curador da mostra afirma que Brasília tem algo a mais. “Parafraseando Tom Jobim, um dos primeiros que aqui veio e criou música para a cidade nascente: Brasília não é para principiantes”, finaliza. Seminários - Diversos seminários, intitulados diálogos, discutirão a produção cultural local, coordenados pela musicista e professora de música da UnB, Beatriz Salles. Música nacional – Artistas que tem uma ligação forte com a cidade como Sandra de Sá, Paulinho Pedra Azul, Frejat, Falcão (de O Rappa), Marcelo Yuka, além das bandas brasilienses Móveis Coloniais de Acaju, Alexandre (Natiruts) e Marceleza (Maskavo) também marcarão presença e apresentarão os grandes sucessos que embalam platéias de todo o país. “Brasília Outros 50 anos mostra como os artistas de Brasília querem ser tratados nos próximos 50 anos, com espaço, respeito e qualidade. As pessoas que passarem por lá vão ouvir DJ’s, MPB, samba, rock, blues, hip hop. Serão 50 horas de música com todo mundo tocando e se divertindo”, finaliza Rênio Quintas, que coordena a área de música do evento.


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CURIOSIDADE MIRACULOSA CURIOSIDADES MIRACULOSAS

Brasília e o Misticismo Egípcio

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ANDRÉS SUGASTI Você sabia que existem inúmeras semelhanças entre Brasília e uma antiga capital do Egito, chamada “Akhenaton”, que existiu há mais de 3500 anos? Por que será que mesmo existindo muitas vozes mostrando essa realidade, esse fato ainda é muito pouco conhecido? Vejamos uma das vozes mais contundentes que analisa esse fato e com a qual este artigo dialoga, é o livro “Brasília Secreta – Enigma do Antigo Egito” (de Iara Kern e Ernani Figueiras Pimentel, Editora Pórtico), baseado em uma tese acadêmica da autora, com o título “De Akhenaton a J.K. – Das pirâmides a Brasília”. No livro citado, aparece a idéia de que as semelhanças existentes entre Brasília e Akhenaton são tão fortes e explícitas que não podem ser apenas “coincidências”. Vejamos algumas das principais delas: O lugar escolhido para a construção de Akhenaton foi o centro geográfico do Egito. Assim como Brasília. A cidade egípcia foi totalmente planejada e dividida em setores. Brasília também! A capital do Egito na época foi idealizada para ser a capital administrativa e religiosa do Egito. Brasília, para ser a capital administrativa e política do Brasil!! Akhenaton representou um marco importante na engenharia e arquitetura da época, por ter sido construída em menos de quatro anos. Até então, os faraós levavam em média de 50 a 60 anos para construir uma única pirâmide, ao passo que o faraó Akhenaton (isso mesmo, a cidade egípcia levava o nome do seu fundador – ainda bem que Brasília não se chama JK!) conseguiu construir toda uma cidade em menos de 4 anos. A cidade de Brasília, com inúmeros edifícios, foi construída em menos de 4 anos (por mais incrível que pareça, o novo prédio da Câmara Legislativa do DF levou o dobro desse tempo para ser entregue...)!!! O formato da cidade egípcia corresponde a de um pássaro com suas asas levemente curvadas apontando para o norte e o sul, sugerindo uma grande ave voando em direção leste e a envergadura das

Teatro Nacional - Andrés Sugasti

asas da cidade era de 16 quilômetros. Meu Deus, até isso...?!?! Calma, o melhor está por vir: devido ao intenso calor e baixa umidade do ar, no local foi construído o lago Moeris, primeiro lago artificial do mundo, que banhava a cidade faraônica!!! Muitos de seus prédios, em forma de pirâmide, possuíam entradas por um corredor escuro no subsolo, através das quais se chegava a uma grande nave iluminada por uma luz solar intensa. Isso é justamente o que ocorre no Templo da Boa Vontade e na Catedral Metropolitana de Brasília, que só para registrar, em seu projeto original tinha todos os vidros da estrutura transparentes, tendo sido substituídos por azuis posteriormente. Todos os edifícios em Akhenaton eram baixos e havia muito espaço entre eles para que a luz do sol iluminasse toda a cidade. Além disso tudo, de maneira geral, inúmeras construções de Brasília remetem à simbologia e ao misticismo egípcio e a uma das formas geométricas mais utilizadas pelos egípcios em suas edificações: o triângulo ou pirâmide. Como exemplos mais marcantes temos o Teatro Nacional, com suas 78 espécies de formas piramidais egípcias, a depender do ponto em que se observa, sendo esse o maior monumento piramidal de Brasília, comparado à pirâmide de Kéops; e o prédio da sede da CEB (Central Energética de Brasília), na 601 Norte, que possui uma forma piramidal escalonada muito semelhante à pirâmide de Sakara, que também possui degraus e vértice truncado (ou seja, sem ponta), e que, em Akhenaton, era responsável pelo controle da energia cósmica e vital do antigo Egito, enquanto que a CEB é a responsável pelo controle da energia elétrica (e atualmente vital para nós!) de Brasília, com o detalhe de que ambas têm exatamente a mesma altura: 61 metros!!!!! E não podemos esquecer que muitas outras construções em forma de pirâmide, ou de pirâmide estilizada se destacam na arquitetura brasiliense, como a sede da Ordem Rosa Cruz, a do Grande

Oriente do Brasil, a Igreja Messiânica, a Igreja Rainha da Paz, a Torre de TV, a Ermida Dom Bosco e o próprio Memorial JK, dentre outras. Outras “coincidências” com a simbologia e o tarô egípcios e a cabala hebraica dizem respeito à farta utilização de triângulos de vértices opostos nos edifícios da nossa capital, como na Catedral Metropolitana e nas colunas do Palácio da Alvorada, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal. Aliáis, a própria disposição dos três poderes na Praça dos Três Poderes também forma um triângulo, assim como ocorre entre o Centro de Convenções, o Palácio do Buriti e o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Também a Rodoviária se enquadra nessa simbologia: vista do alto, tem a forma de um “H” deitado que se repete em três níveis (subsolo, térreo e primeiro andar), representando o homem mortal em seus três planos psíquicos: o ID, o Ego e o Superego. Tendo como par o Congresso Nacional, em forma de “H” em pé, representando o homem imortal, espiritual e que possui duas conchas, a côncava e a convexa, que tem a finalidade de captar energia cósmica e telúrica, respectivamente. Outro paralelo interessante é o que pode ser traçado entre Juscelino Kubitschek, presidente brasileiro responsável pela construção de Brasília, e o faraó Akhenaton, que construiu a cidade egípcia que levou seu nome: ambos não tiveram filhos varões e conseguiram a façanha considerada por muitos impossível de construir toda uma cidade em menos

Sede da CEB - Andrés Sugasti

de 4 anos. Como o faraó, Juscelino também construiu a nossa capital em menos de 4 anos, e morreu tragicamente 16 anos após a conclusão da obra (em um acidente misterioso na via Dutra, próximo a Resende/RJ), da mesma forma que Akhenaton, que morreu de forma também misteriosa e trágica dezesseis anos após construir a cidade que levava seu nome. Assim, daqui por diante, quando passearmos por Brasília e pensarmos na sua história, não nos esqueçamos destes fatos, pois mesmo sendo tão evidentes, parece não haver interesse em que eles sejam divulgados. Por que será? E só para aguçar ainda mais a curiosidade, não esqueçamos que o dia 21 de abril é o único dia do ano em que o sol nasce exatamente alinhado entre os dois prédios do Congresso Nacional e também o único dia em que a luz do sol entra no Mausoléu do Memorial JK. Confira, é bem no aniversário da cidade. Mas... Por que nessa data? Brasília não poderia ter sido inaugurada no dia 22, ou talvez no dia 20? Claro que poderia, mas será que essa data não foi escolhida justamente por ser uma data super importante para a maçonaria...? Bom, mas isso já é assunto para miraculações futuras... Aguardem! Para ir mais longe, acesse www.miraculoso.com.br *Andrés Sugasti é formado em Letras espanhol/português pela UnB e morador de Brasília há mais de 20 anos.

Templo da LBV - www.tbv.com.br


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Brasília e a educação, 50 anos depois

“Numa democracia, nenhuma obra supera a de educação. Haverá, talvez, outras aparentemente mais urgentes ou imediatas, mas estas mesmas pressupõem, se estivermos numa democracia, a educação. Todas as demais funções do estado democrático pressupõem a educação. Somente esta não é conseqüência da democracia, mas a sua base, o seu fundamento, a condição mesmo para a sua existência.” (Anísio Teixeira) Muita gente não sabe, mas enquanto os operários construíam Brasília, erguendo com seu trabalho uma cidade modernista no meio do planalto central do país, intelectuais do porte de Anísio Teixeira, também eram convocados a pensar um plano de educação inovador para nova capital. Essa incumbência lhe foi dada em 1957 por outro grande nome da história de Brasília, o médico Ernesto Silva, que chefiava o Departamento de Educação. A ideia era tornar a cidade uma referência na área

educacional. Começou a surgir ali um novo conceito de escola pública. Nomes como escola-classe, escola-parque, centro de ensino substituíram a simples denominação de escola, mas o mais importante era o conceito que sustentava essa inovação: a educação em tempo integral. Na escola-classe o aluno estudava as discipli-

parque ainda sobrevive não exatamente como idealizadas no Plano Piloto, mas ainda é uma realidade distante das cidades-satélites. É realmente desanimador ver em que estado está a educação no DF.A qualificação dos professores é uma das maiores do país, a maior parte tem curso superior e muitos mestrado e doutora-

“...para resgatar a ideia de Anísio Teixeira, de uma educação pública de qualidade e acessível a todos, é preciso lutar pela transparência na gestão da Educação” nas curriculares. No contraturno, na escola-parque, o aluno participava de oficinas de arte, teatro, praticava esportes, enfim, exercitava o seu lado criativo e lúdico, essencial para a formação de um cidadão integral. A escola-classe e a escola-

do, mas as condições para o exercício da profissão não são as ideais. A gestão da Educação há muito desrespeita a democracia e a participação de todos na construção do projeto pedagógico de cada escola. O Sindicato dos Professo-

res, muito antes de estourar o escândalo da Caixa de Pandora, já denunciava a constante dispensa de licitação para aquisição de equipamentos e serviços pela Secretaria de Educação. A entidade denunciou por exemplo, a compra de assinaturas do Correio Braziliense para as escolas, o contrato milionário com a Fundação Sangari para implantação do projeto chamado Ciência em Foco. Projetos feitos de cima para baixo, sem conversa com os educadores, e até o momento sem resultados mensuráveis. No entendimento do Sindicato dos Professores, para resgatar a ideia de Anísio Teixeira, de uma educação pública de qualidade e acessível a todos, é preciso lutar pela transparência na gestão da Educação, garantir a gestão democrática e a participação de todos os atores na discussão da educação que se quer para Brasília nos próximos 50 anos. E aí sim, resgatar a essência da utopia de tornar nossa cidade uma referência na Educação.


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ALTERNATIVA CULTURAL

MÚSICA Brasileiramente Dia 14/04, às 21h. Sala Martins Pena do Teatro Nacional Cláudio Santoro. Entrada franca. TEATRO A hora e a vez de Augusto Matraga Dia 16 e 17 de abril, às 21h. Dia 18 de abril, às 20h. Sala Martins Pena do Teatro Nacional. DANÇA “SEMANA D” De 21 a 29 de abril no Teatro Nacional, com entrada franca. CINEMA Enquanto o sol não vem Até 19 de abril, às 19h. Comédia. Francês. 12 Anos. Paris Até 19 de abril, às 21h e de 21 a 30 de abril, às 19h. Drama. Francês. 12 anos. Projeto Moviola 20 de abril, às 19h, no Cine Brasília, EQS 106/107 Sul.

EXPOSIÇÕES Semicírculo Museu Nacional do Conjunto Cultural da República. Até 26 de abril, das 9h às 18h30. Reflexos da Capital Exposição de Hosana Bezerra, no Espaço Cultural do Aeroporto. Até 15 de abril. Exposição d’OSGEMEOS VERTIGEM Até 16 de maio, no Centro Cultural Banco do Brasil, das 9h às 21h.

Exposição de Arte Africana Fundação Cultural Palmares – Setor Bancário Sul – Ed. Elcy Meireles – até 29 de abril, exposição de Acácio Videira. Casa Histórica de Planaltina Até 13 de junho, no Museu Histórico e Artístico de Planaltina. Praça Salviano Guimarães, Quadra 55, Planaltina. Dias e horário de visitação: todos os dias da semana, das 9h às 17h. EVENTOS MOSTRA CARAVANA SEU ESTRELO 17 de abril - Sede do grupo Seu Estrelo (813 sul) 17h – Roda de Prosa 20h – Apresentação do Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro Biblioteca Demonstrativa comemora o mês do livro Av. W3 Sul EQ 506/507 Dias 14, 15 e 16 de abril. OFICINAS Contato Improvisação: DisseminAção com Tato 18 de abril, realização da oficina Contato Improvisação (Contact Jam), com Fernanda Carvalho Leite (Porto Alegre), Sala Multiuso do Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul, das 15h às 18h. 25 de abril, realização da oficina Contato Improvisação, com Terry Agerkop/Camillo Vacalebre (Brasília) na Sala Multiuso do Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul, das 15h às 18h. Agenda completa da Alternativa Cultural no portal www.miraculoso.com.br

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Espaço dos Leitores - 1ª edição - março 2010 Parabéns: que venha a luz e trevas... 03 de abril de 2010

Prezados do Miraculoso (Diogo, Paloma, Maíra, Fernando, Victor, Solano, Andrés). Parabéns pela inciativa, logo cedo ganhei um exemplar e fiquei muito feliz com a proposta de vcs. Sucesso, e vou ser um que vai divulgar com muito empenho. José Hélio Guilherme da Silva * 24 de março de 2010 Olá, meu nome é Juliana, sou estudante de Comunicação no UniCEUB. Estou escrevendo para elogiar o jornal de vocês, gostei bastante do formato, das matérias e, principalmente, da proposta. Juliana

Das profundezas e das trevas 24 de março de 2010 Meu Deus! levei um susto grande com a palavra MIRACULOSO – que diabo é isso – parece-me um jornal, coisa feia, afrontosa, mal gosto, cruel, anti-prazeroso. Tenho 45 anos de profissão e nunca vi título tão escabroso e deprimente. Millor Fernandes dizia que todo jornal ruim não passa de quinta edição, pois, a próxima é a cesta. E o que mais me irritou é a equipe de editoração, sinceramente, não dar para acreditar que essa turma seja de fato gabaritada. Outra coisa o jornal não tem diagramação, não tem formação e nenhum artifício gráfico. Eta jornalzinho ruim da porra, é feio do princípio ao fim

EXPEDIENTE Coordenador Executivo e Editor Político: Diogo Ramalho Redatoras Chefe: Paloma Amorim Maíra Marins Coordenador de Arte e Diagramação: Fernando Aquino Revisor: Andrés Sugasti

Colaboradores: Victor Nunnes Solano Teodoro Apoio: Jardel Santana Publique n’O MIRACULOSO publique@miraculoso.com.br Anuncie n’O MIRACULOSO anuncie@miraculoso.com.br Tiragem: 50.000 exemplares CNPJ: 04811 396/0001-08 Caixa Postal 743 agência de correios do Lago Norte CEP: 71510-000

Cícinho Filisteu

Pontos de Distribuição CULT - 107 N, 204-210-215 S Dom Bosco - 307 N Sebinho - 406 N DCE Bar - 406 N Oscarito - 406 Livraria técnica - 102 S UnB UniCEUB Faculdade Alvorada UniEuro UCB IESB Rodoviária ALUB CEAMs Biblioteca Nacional Ministérios Congresso Nacional

“Utopia. Ella está en el horizonte. Me acerco dos pasos, ella se aleja dos pasos. Camino diez pasos y el horizonte se corre diez pasos más allá. Por mucho que yo camine, nunca la alcanzaré. ¿Para qué sirve la utopía? Para eso sirve: para caminar” - Eduardo Galeano

Fotografias Gigapan | Adonai Rocha | www.brasilias.com.br


Mestre-de-obras do céu ou Cacaso candango Céu de candango é ilha céu de candango é ato céu de candango é milha céu de candango é mato céu de candango é chato Céu de candango é trilha céu de candango é trato céu de candango é filha céu de candango é fato céu de candango é nato Céu de candango é seca céu de candango é boato céu de candango é eita céu de candango é jato céu de candango é prato Céu de candango é estrada céu de candango é farto céu de candango é esplanada céu de candango é parto céu de candango é ingrato candango tem céu de tesourinha Céu de candango é céu céu de candango é reto céu de candango é véu céu de candango é teto céu de candango é abril céu de candango é cerrado céu de candango é anil céu de candango é quadrado céu de candango é pisado Céu de candango é samba

céu céu céu céu

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candango é eixão candango é bomba candango é avião candango é peão Candango tem céu de tropeiro candango tem céu de nordeste candango tem céu de mineiro candango tem céu de oeste céu de candango é veste Céu de candango é norte céu de candango é sudeste céu de candango é sorte céu de candango é centro-oeste céu de candango é agreste Céu de candango é rês céu de candango é bois céu de candango é W3 céu de candango é L2 candango tem céu de mais candango tem céu de menos candango tem céu de leva candango tem céu de trás Céu de candango é Ceilândia céu de candango é Varjão céu de candango é Brazlândia céu de candango é São Sebastião candango tem céu de mapa candango tem céu de feira candango tem céu de ata candango tem céu de beira céu de candango é cachoeira Céu de candango é lucro céu de candango é torre céu de candango é truco céu de candango é corre céu de candango é porre

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céu de candango é Bahia céu de candango é Goiás Céu de candango é Maria céu de candango é Brasília. (Fernando Aquino)


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