Miraculoso 10

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Brasília, outubro de 2013 - 10ª Edição

Distribuição gratuita

#TRANSPORTES

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Editorial O transporte coletivo como direito nunca foi prioridade das autoridades. Tratado como mercadoria, a população sofre com falta de linhas, aumento da tarifa e ônibus super lotados e congestionados, fato que ficou evidenciado nas manifestações de junho em todo o país.

Editorial e Índice- pág. 2

O trânsito na cidade, a participação popular e o transporte coletivo que queremos - por Maria Paiva Lins - pág. 3

Pôster - pág. 4

O mais santo dos santuários de Brasília - por Prof. Frederico Flósculo Pinheiro Barreto - pág. 5

desta temática, o Movimento Passe Livre (MPL) questiona que tipo de

Idade Penal: reduzir pra quê? - por Jardel Santana - pág. 6

transporte coletivo queremos. A tarifa zero e linhas durante 24 horas

A Preservação de Brasília - por Prof. Frederico Flósculo Pinheiro Barreto - pág. 7

Sem esquecer da recente e violenta repressão da Polícia Militar

Vida longa ao Finca - por Paloma Amorim - pág.7

(PMDF) no dia 7 de setembro, durante as manifestações contra os

Paraíso pra quem? - por Brunna Guimarães - pág.8

gastos da Copa e a corrupção, com o artigo de Tony Gigliotti. Passando

Pôster - pág. 9

da Copa para os Olimpíadas, o historiador Pedro Mesquita aponta a

“Tinindo trincando: caia na estrada e perigas ver” - Entrevista com os Novos Baianos Luiz Galvão, Paulinho Boca de Cantor e Charles Negrita - por Maria Aquino Amorim Martins, Fernando Aquino e Paloma Amorim - pág. 10

Nós a Grécia e os índios, para quem serve o esporte? - por Pedro Mesquita - pág. 11

Entrevista com a Deputada Distrital Celina Leão sobre as irregularidades no transporte público no DF - por Diogo Ramalho e Luana Luizy - pág. 12

Em dia da pátria, militares saem às ruas para reprimir manifestantes - por Tony Gigliotti - pág. 14

arejada conversa sobre criação em comunidade, coletividade, utopia e

Mulher-xaxim - por AnnArkista de Cristo - pág.14

revolução.

A Burguesia brasileira não viaja pra Europa! E por isto não entende de transporte - por Larissa da Silva Araujo e Francisco Carneiro De Filippo - pág. 15

Baiq Brasília - pág.16

Que todas as Evas comam da Maçã - Por Brunna Guimarães pág. 17

Carona - mobilidade alternativa, de coragem - por Paloma Amorim - pág. 19

A cultura e o negro - por Márcia Maria da Silva - pág.20

Pôster - pág 21

Semana Nacional de Mobilização Indígena agita a Esplanada dos Ministérios - Por Luana Luizy - pág 22

Expediente - pág 23

É nesse clima de luta e reflexão que o MIRACULOSO traz como tema central nesta 10° edição, o transporte público. Diogo Ramalho e Luana Luizy foram entrevistar a deputada distrital, Celina Leão (PDT), sobre esquemas de fraude no sistema da licitação do transporte público do Distrito Federal. Ainda dentro

são pautas centrais que o Movimento defende.

crise grega e a corrupção das obras olímpicas no país, trazendo para nossa realidade uma profecia. O leitor poderá conhecer também alguns pontos obra da feminista Mary Wollstonecraft, podendo perceber que em nosso país ainda vigoram certos padrões, valores e atitudes discriminatórias contra a mulher. Como alternativa de mobilidade aborda perspectivas da estrada sob o retrovisor da carona. Traz ainda os Novos Baianos em uma

Como proposta de jornalismo independente e alternativo, a equipe do MIRACULOSO espera que o espírito de indignação que levou o povo às ruas se fortaleça por uma sociedade melhor, justa e igualitária para todos e todas. “Cicinho, passamos da 5º, chegamos na décima, e só começamos!”

“Porque EU quis”. Intervenção Urbana na Epia durante o Fora d@ Eixo vol.4 - Arestas em Arte 2013. Coletivo, Nós Temporários (MG) e Grupo Empreza (GO).

*Liteira


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O trânsito na cidade, a participação popular e o transporte coletivo que queremos. por Maria Paiva Lins/Movimento Passe Livre - DF Aqui no Brasil quando queremos dizer que estamos indo pra algum lugar, dizemos “tô chegando”, “acabei de sair” ou “estou no caminho”, mas se estamos parados em um congestionamento, então dizemos que estamos no trânsito. Oras, a expressão “parado no trânsito” foi reduzida a “no trânsito” dando um sentido de coisa parada a algo que inicialmente deveria ter um sentido de locomoção. Quando nos atentamos para esses dois significados opostos da mesma palavra, começamos a perceber ambiguidades em frases que ficariam incompreensíveis, não fosse o contexto em que se encontram. A manchete de um jornal de grande circulação, por exemplo, dizia “manifestações causam trânsito na cidade”. Infelizmente, ela estava falando que o fluxo de carros parou, formando filas quilométricas de carros. Engraçado que os jornais nunca dizem que as manifestações causam trânsito na cidade, no sentido mais literário da palavra, o de movimento. Sim, porque as manifestações fizeram com que milhares de pessoas se deslocassem de seus locais de trabalho e de suas casas para a rua, percorrendo cada dia um trajeto diferente. Logo, causamos muito trânsito e movimento na cidade – diga-se de passagem, algo bem mais notório e digno de virar notícia do que os congestionamentos frequentes. A essa coisa caótica que acontece na cidade pelo menos duas vezes por dia, resolvemos chamar de trânsito. Pessoas conversam, xingam, se beijam, às vezes tem até mulher que dá à luz, muita gente morre, tem os que ouvem música, leem livros, dormem - todos com o objetivo de ocasionalmente sair ou chegar em casa. Nesse tempo e espaço do trânsito, seja parado ou andando, milhares de crônicas não escritas acontecem diariamente, mas quem utiliza o transporte coletivo enfrenta um cotidiano bem mais difícil, desgastante e segregador. Enquanto isso, em algum lugar da cidade, algumas poucas pessoas (em sua maioria homens brancos engravatados), pesam seus interesses políticos e pessoais, medindo as vantagens de modificar o modo de custeamento do transporte coletivo ou se vale mais continuar com as implementações de planos para a melhoria da mobilidade na cidade. Planos que são sempre refeitos, mas continuam eternamente em descompasso com as necessidades da população, com a circulação de automóveis cada vez mais próxima do limite e com o sistema de transporte coletivo apresentando os mesmos problemas. Quando as manifestações contra o aumento da passagem estavam em seu auge ao redor do país,

aqui no Distrito Federal o governador Agnelo convidou o Movimento Passe Livre local para uma reunião, na véspera da manifestação marcada pelo movimento. Sem aumento de passagem previsto, as reivindicações do MPL-DF consistiam, desde então, na Tarifa Zero e no transporte 24 horas. Nessa reunião o governo admitiu a possibilidade de implantação da Tarifa Zero com a mudança do modo de financiamento. Embora nós do MPL já soubéssemos da viabilidade da Tarifa Zero, isso nunca tinha sido admitido pelo governo. Por isso consideramos um pequeno avanço no campo do discurso e esperamos pra ver o que isso resultaria na prática. Ou melhor, não esperamos. No mesmo dia fomos pra rua, lugar onde vemos de fato as mudanças acontecerem.

exemplos de municípios que possuem conselhos deliberativos. Representantes da Secretaria de Governo e do CDES-DF, da Secretaria Geral da Presidência da República e o DF-Trans também falaram sobre a importância das manifestações e da criação de formas efetivas de participação, o que foi visto com incredulidade pelos militantes ali presentes, tendo em vista a grande contradição entre discurso e prática que presenciávamos. Apenas três dias antes, nas manifestações do 7 de setembro, mais uma vez nas ruas, vivenciamos a criminalização dos movimentos sociais, a forte repressão, uso de violência física e uso abusivo de autoridade por parte da polícia que

__________________ “A Tarifa Zero, além de efetivar o transporte como direito, é também a solução para garantir a qualidade do transporte coletivo, pois com ela o empresário não tem como aumentar seu lucro precarizando do serviço oferecido, como acontece hoje em dia” __________________ Como continuidade desse diálogo incipiente, concordamos em ajudar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES-DF) a organizar o seminário “Mobilidade Urbana e Políticas Públicas de Transporte”. Sabendo que um seminário não é um espaço de negociação – e mesmo que fosse - não esperávamos ali conquistar a Tarifa Zero. Mas esperávamos que até lá, quase três meses após essa reunião, poderíamos ouvir uma posição concreta, negativa ou positiva. Assim, em algum canto da cidade, durante dois dias do mês de setembro, algumas pessoas entre políticos, funcionários dos governo, pesquisadores do IPEA, professores universitários e militantes de movimentos sociais (ainda assim, a maioria era formada por homens brancos engravatados) se reuniram. Podemos dizer que as diferenças nas falas foram significativas: representantes de órgãos do governo distrital ou federal de um lado e professores universitários, pesquisadores do IPEA do outro. Os primeiros afirmavam a importância de espaços como aquele, de diálogo com a sociedade, dizendo que é preciso ouvir mais o cidadão. Já os segundos faziam questão de apontar que esse espaço não era o suficiente, que é preciso não só ouvir, mas permitir a sociedade decidir efetivamente sobre sua cidade, citanto

ainda assim recebeu agradecimento oficial do Governo pelo “bom trabalho”. É por esse e outros motivos que o MPL acredita na ação direta e na iniciativa popular como forma de fazer política, de ter conquistas concretas e como meio de transformação da sociedade. Outra diferença nítida durante o seminário foi em relação àqueles que se propuseram a discutir sobre as possibilidades reais da Tarifa Zero, citando experiências brasileiras e internacionais de financiamento e àqueles que mostraram planejamentos e esforços que estão sendo feitos para estimular o uso do transporte coletivo (o que estimularia mais do que a Tarifa Zero?), que disseram que é preciso repensar a estrutura de locomoção da capital (sem propor concretamente nenhuma mudança estrutural) e ainda afirmaram que melhorar a qualidade do sistema existente é a coisa mais importante a se fazer (então por que nunca foi feita de forma efetiva?). A maioria dessas falas era permeada daquela ideia de que o cidadão é um cliente/consumidor que merece um bom serviço porque paga por ele e não porque é seu direito. Para o MPL a Tarifa Zero, além de efetivar o transporte como direito, é também a solução para garantir a qualidade do transporte coletivo, pois com ela o empresário não tem como aumentar seu lucro precarizando do

serviço oferecido, como acontece hoje em dia. Na verdade, acreditamos que os maiores problemas do sistema de transporte coletivo hoje advém do fato dele ser tratado como mercadoria. Pois se é mercadoria, limita o uso apenas àqueles que podem pagar e serve ao empresário em vez de atender as necessidades e os direitos da população. Enquanto o transportes coletivo continuar servindo à produção de lucro, o serviço continuará ruim e caro, ao mesmo tempo que tem uma demanda garantida, já que se trata de um serviço necessário. A proposta do MPL para a política de transporte consiste na criação de um Fundo Municipal de Transporte Coletivo gerido com participação popular, com Tarifa Zero no serviço, ou seja, que ele seja totalmente custeado pelos recursos públicos. O IPEA apresentou dados importantes, afirmando que o modelo Tarifa Zero é uma forma de se fazer justiça econômica e apresentou propostas para o seu financiamento. O professor Benny Schvarsberg, da Universidade de Brasília (UnB), afirmou que a atual situação do transporte coletivo é reflexo da desigualdade social, além de um problema étnico, que compromete a integração da cidade e prejudica a qualidade de vida da população. Enquanto isso, as iniciativas do governo apresentadas para melhorar a mobilidade urbana em Brasília eram todas focadas no Plano Piloto. Com tantos estudos realizados sobre mobilidade urbana e segregação espacial em Brasília, com reportagens diárias nos jornais mostrando as dificuldades dos moradores das Cidades Satélites e Entorno para se locomoverem, é inacreditável ver políticas públicas para o transporte continuarem focadas no Plano Piloto. Somando-se isso à ausência de preocupação com os problemas raciais, de gênero e de desigualdade de renda envolvidos na estruturação atual do transporte coletivo no Distrito Federal, não restaram dúvidas sobre quais interesses estão sendo atendidos e quais são deixados de lado. Como dito diversas vezes pelo MPL e reiterado durante esse seminário por pesquisadores e militantes especialistas no assunto, a implementação da Tarifa Zero é uma questão de decisão política, pois possibilidades técnicas existem. Com tudo isso saímos com a certeza de que por enquanto, sem uma perspectiva de sistema de transporte coletivo de qualidade, o trânsito vai continuar parado. E enquanto não houver Tarifa Zero para todos, o MPL continuará causando trânsito nas ruas, em todos os sentidos, movimentado as cidades e lutando por uma sociedade mais justa e por uma vida sem catracas!


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O MAIS SANTO DOS SANTUÁRIOS DE BRASÍLIA Por Prof. Frederico Flósculo Pinheiro Barreto, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB Claro, o título deste texto faz arrepiar os pelos de padres e pastores, de bispos e bispas, de representantes das religiões prestigiadas pelo Estado Laico. O título se refere ao Santuário dos Pajés, o mais completo anátema (maldição, coisa aterradora) da construção civil, da incorporação imobiliária, da devastação das terras públicas para enriquecer interesses privados, situado no coração do grande Bairro Ecológico de Brasília, o seu “Setor Noroeste”. Os legítimos índios brasileiros que vivem naquela área um impressionante e notável ressurgimento cultural, não poderiam ser mais fiéis às mais profundas religiões autenticamente brasileiras. Por isso, paradoxalmente, o Estado brasileiro tem imensa dificuldade em aceitar (a) sua religiosidade, (b) os fundamentos territoriais de sua presença, (c) o impacto que tem uma ecologia verdadeiramente sustentável, oposta à “sustentabilidade” dos imensos edifícios de vidro e condicionados artificialmente, tão respeitados por nossos grandes dirigentes. Mais paradoxalmente ainda, afirmo que, em temos de Papa Francisco, serão esses resilientes índios brasileiros, Fulni-ô, Tupis, Tapuyas, do Santuário dos Pajés, de Brasília, que chamarão a atenção do mundo, quando finalmente a justiça for feita, com o reconhecimento de seus (mínimos) 50 hectares de área realmente verde, realmente limpa e sustentável, no coração da maior mentira ecológica da história de Brasília: o desastrado Setor Noroeste. Vamos brilhar diante do mundo, desta vez, Brasília.

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IDADE PENAL: Reduzir pra quê? Por Jardel Santana, Graduando em Psicologia, militante da Pastoral da Juventude e dos Direitos Humanos, nas causas das juventudes.

Todas as vezes que ocorrem crimes bárbaros, cometidos por adolescentes e com repercussão na mídia, ressurge a polêmica acerca da idade penal e se defende sua redução, como se essa fosse a solução para os problemas da criminalidade no Brasil. Conforme dados do Ministério da Justiça, dentre os/as adolescentes em conflito com a lei, que já cumprem medida socioeducativa, cerca de 43,7% cometeram crimes patrimoniais (furto e roubo); 26,6% tiveram envolvimento com tráfico de drogas; 8,4% cometeram homicídio; e 1,9% latrocínio. Os crimes patrimoniais e de tráfico de drogas também são os responsáveis pelo maior número de encarceramento de pessoas com idade acima de 18 anos, o que leva a crer que os/as adolescentes que cometeram atos infracionais serão encarcerados em ampla maioria, não por cometerem crimes contra a vida, mas por furtarem ou se envolverem em tráfico de drogas.

Acreditar que o/a adolescente infrator/a não pode ser responsabilizado/a é uma ilusão propagada pela mídia. O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA não propõe impunidade, ao contrário, prevê seis diferentes medidas sócio-educativas. No caso de maior gravidade, o/a adolescente pode cumprir medida sócio-educativa de privação de liberdade. Por isso, não se deve confundir o limite fixado para a idade penal com a ideia de tirar a responsabilidade do/a adolescente. O termo inimputável não é sinônimo de impunidade e o/a adolescente que comete ato infracional, apesar de inimputável, é responsabilizado/a conforme o ECA, legislação especial, a qual leva em conta a condição peculiar de desenvolvimento do/a adolescente. O debate da redução da idade penal desvia o foco das principais e reais causas da violência, tendo como destaque a ausência do direito

ao trabalho e ao salário justos; o consumismo, tão fortemente propagado pela mesma mídia que defende a redução da idade penal; a impunidade e o fracasso dos mecanismos de controle social; e principalmente, a desigualdade social. O Brasil ocupa a 84ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano, entre 169 países pesquisados, com a pior colocação na América Latina.

crianças e adolescentes, no ano 2000 era de 11,9 para cada 100 mil crianças e adolescentes do país que em 2010 passou a ser de 13,8. O Mapa da Violência 2013: Homicídios e Juventude no Brasil, destaca que a média anual de homicídios envolvendo jovens, por grupo de 100 mil habitantes, teve aumento de 185,6%, saindo de 54,8% em 2001, para 156,4% em 2011.

Enfrentar a violência exige uma série de medidas, principalmente preventivas. Pensar a redução da idade penal é colaborar com a criminalização da pobreza, tendo em vista que quem irá preso/a, na maioria dos casos, serão os/as adolescentes pobres, considerando que a realidade da população carcerária brasileira é composta majoritariamente por empobrecidos/ as. Dos/as encarcerados/as, 95% são absolutamente pobres, 89% nunca tiveram emprego fixo ou atividade produtiva, 70% deles/as não completaram o ensino fundamental e 10,5% são analfabetos/as.

Outro fator interessante, que não é apresentado na grande mídia, diz respeito à reincidência, enquanto no sistema prisional (para as pessoas com idade acima de 18 anos) chegam a 60%, em projetos socioeducativos que cumprem a lei, os índices são de menos de 5%, demonstrando, portanto, que os/as adolescentes, estão mais propícios/ as à ressocialização, principalmente se receberem tratamento adequado, o qual não é a privação de liberdade.

Dentre os antídotos contra a violência, talvez o melhor seja a lei, entretanto ela quase não é lembrada, quando as crianças e adolescentes não conseguem vagas em creches ou escolas de qualidade; quando não conseguem tratamento de saúde; quando são vítimas de violência, muitas vezes causadas pelo braço armado do estado; quando não conseguem oportunidades de profissionalização, educação e acesso à aprendizagem e ao mercado de trabalho, com salários dignos e que supram suas necessidades; quando são privados de acesso à cultura, ou pior, quando tem sua cultura marginalizada; enfim, quando os seus direitos são violados. As principais vítimas de violência e da exclusão social no Brasil são crianças, adolescentes e jovens. Segundo dados do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), são assassinados/as 16 crianças e adolescentes por dia no Brasil. A taxa de homicídio de

_______________ Dentre os antídotos contra a violência, talvez o melhor seja a lei, entretanto ela quase não é lembrada, quando as crianças e adolescentes não conseguem vagas em creches ou escolas de qualidade; quando não conseguem tratamento de saúde; _______________

Continuar acreditando nesse modelo de justiça retributiva (com foco na prisão do individuo) em detrimento ao modelo de justiça restaurativa (foco em medidas alternativas), é ingenuidade, pois há dados mais que suficientes comprovando o fracasso do modelo retributivo. Por isso é necessário no Brasil o devido cumprimento do ECA; do recém aprovado, estatuto da juventude; a efetiva implementação do Sistema Nacional de Atendimento Sócio Educativo – SINASE e principalmente, a diminuição das desigualdades sociais, pois o presente e o futuro do Brasil não merecem cadeia.

*Drone


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A PRESERVAÇÃO DE BRASÍLIA Por Prof. Frederico Flósculo Pinheiro Barreto, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB Quando o resultado final do Concurso Nacional de Revitalização da Avenida W3 foi divulgado, em 2002, o principal organizador (e interessado), o Governo do Distrito Federal, ficou chocadíssimo com a proposta vencedora: era exatamente o oposto do que desejava! O GDF realizou esse concurso, como ficou evidente nos anos seguintes à sua realização, para legitimar uma gigantesca quebra no modelo de preservação do Plano Piloto de Brasília: queria legitimar a verticalização das quadras 500 e 700, ao longo da W3 Sul e Norte, além de promover radical mudança no uso do solo (de habitacional para comercial, no caso das quadras 700 Sul). O GDF quebrou a cara. Dentre as 28 propostas inscritas (apenas 24 apresentadas e defendidas) apenas uma não legitimava essa imensa desonestidade contra Brasília. Como autor da proposta vencedora, sofri de forma inesperada por essa vitória: de todos os modos o GDF e seus urbanistas “de confiança” lutaram para desmoralizar um colega, uma proposta e, ao final, toda uma comunidade de moradores e defensores de Brasília. Esse concurso foi o primeiro e, até recentemente, único concurso de urbanismo realizado para Brasília após o próprio concurso do Plano Piloto, ganho por Lucio Costa, em 1957. Se essa manobra “colasse”, o GDF não pararia de realizar um concurso atrás do outro, com a finalidade de quebrar (ou “desengessar”) os fundamentos da preservação da cidade Patrimônio Cultural da Humanidade. A nossa proposta de revitalização se daria pela Comunidade e pela Cultura. Tratava-se de criar espaços culturais produzidos pelo convite a grandes instituições brasileiras e internacionais (como a Fundação Calouste Gulbenkian, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, a Fundação Le

Corbusier, entre uma centena de outras). Sem esquecer a extraordinária Mokiti Okada Association, a entidade que financiou o Centro Cultural Renato Russo, contra a vontade do próprio GDF, no final dos anos 1980. A política cultural do Distrito Federal sempre foi “introvertida”, voltada para dentro, fechada num círculo de artistas auto-selecionados. Não é paradoxal que os principais nomes da arte brasiliense, dos roqueiros aos poetas, de Russo a Behr, tenham surgido e prosperado de forma marginal e autônoma, eleitos pelo público e nunca pelos políticos. Essas políticas que mantêm Brasília no atraso cultural são tudo, menos públicas e libertadoras (ou revitalizadoras).

__________________ “Como autor da proposta vencedora, sofri de forma inesperada por essa vitória: de todos os modos o GDF e seus urbanistas “de confiança” lutaram para desmoralizar um colega, uma proposta e, ao final, toda uma comunidade de moradores e defensores de Brasília” __________________

o próprio Lucio Costa). Através desse concurso, um dos piores golpes contra a preservação de Brasília deixou de ser dado. Nos dias de hoje, a proposta vencedora do Concurso Nacional de 2002 é usada pela própria comunidade de moradores das 700 Sul, como forma de defesa contra as ações especulativas comandadas de dentro do GDF. Os donos do poder local, solidamente ligados ao ramo imobiliário, acham que podem fazer o que bem entenderem em Brasília. Nunca desistirão de verticalizar a avenida W3, nem outras áreas do Plano Piloto – inclusive as margens privatizadas do Lago Paranoá. Essa luta continua, e será algo realmente miraculoso se Brasília chegar à próxima década de 2020 ainda digna de ser chamada Patrimônio Cultural da Humanidade.

Do lado da comunidade, nós teríamos o primeiro episódio de gestão comunitária de espaços públicos de nossa cidade, entre outras inovações. Nada disso foi respeitado ou implantado. O concurso de Revitalização da W3 foi uma fraude, felizmente atenuada pela escolha do júri (composta por arquitetos e intelectuais que conheceram muito bem

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Vida

Longa

ao

FINCA!

Por Paloma Amorim Grande volume cultural é concebido em corredores universitários. A Universidade de Brasília reconhece isso e, como pioneira de conhecimentos e chão de construções culturais, apresenta a proposta integradora que vai reunir a música de Brasília e de todas as regiões do Brasil em um só lugar. Trata-se do Festival Universitário de Música Candanga da UnB, o FINCA, que, completando seus 15 anos, protagonizou apresentações de grandes agentes culturais como Móveis Coloniais de Acaju e a voz do Brasil Ellen Oléria. Por seus palcos passaram ainda Tuba Antiatômica, Alex Souza, HaonoBeko, Vaga-Lumes no Vazio da Noite de Vênus, dentre outros grandes representantes da cultura brasiliense. Destaques recentes da música brasiliense são os vencedores da última edição, demonstração viva da diversidade de brasília e amostra da potência de sua música. Afrik Du Brasil. Bateria Insana. Projeto Gransenzala. Movni destaques 2012. Para este ano, o FINCA preparou para seu

público uma categoria especial. Músicos e bandas instrumentais poderão participar e concorrer às premiações do Festival. Além desta apresenta a categoria candanga, na qual concorrem músicos e bandas de Brasília, representantes de centros acadêmicos da UnB e categoria nacional, concorrendo músicos e bandas representantes de Instituições de Ensino Superior dos estados brasileiros. Muito importante ressaltar que para se inscrever, as bandas precisam ter pelo menos um integrante com vínculo com a UnB. Este ano, tendo firmado parceria com o Festival Cerrado Virtual, está confirmado para acontecer de 28 de outubro a 09 de novembro de 2013, na Universidade de Brasília, Campus Darcy Ribeiro. Como atração mais que especial, o público vai poder apreciar o show da Tribo de Jah! Inscrições até 11 de outubro. No site do festival você pode ouvir as músicas vencedoras da edição 2012, além de conderir todos os detalhes do VX Festival Universitário de Música Candanga da UnB em www.fincaunb.wordpress.com.


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P ARA ÍSO P A R A QU E M ? Por Brunna Guimarães, jornalista e estudante de filosofia

das redes de mercado vendem a maioria dessas as pousadas, sobrando somente o restolho para a população, que ainda paga caro por mamões quase podres (R$ 5,00 kg), bananas empretecidas (R$ 7,00 kg) e tomates murchos (idem) e batatas geralmente velhas, pelo absurdo preço de R$ 8,00 o quilo. E mais, ouvi entre sussurros que quando a população tenta comprar diretamente de Recife e paga um frete para levar a compra feita a ilha, acaba pagando igual ou às vezes até mais, já que os donos dos barcos que levam os suprimentos da capital pernambucana para Noronha são nada mais nada menos que dos donos das redes de supermercados! Logo a população fica refém destas extorsões.

As piscinas naturais e o contato iluminado com a natureza de Fernando de Noronha não conseguiram suplantar a voz angustiada do povo que vive nessa vistosa e paradisíaca ilha no Nordeste. Desde já saibam que não escrevo uma matéria, o que demandaria mais tempo e espaço no jornal, mas somente um importante alerta a todos brasileiros e autoridades responsáveis pela ilha: NAQUELE PARAÍSO NATURAL ANDA CRESCENDO O GERME DA INDIFERENÇA. Sim, nos poucos dias que passei em Noronha discernir que existe um conluio entre o governo e empresários para solapar cada vez mais a vida da população noronhense. Diferentemente das belas palestras ouvidas no posto do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) - que através do Projeto Tamar busca sensibilizar o cidadão sobre os importantes cuidados com o meio ambiente de Noronha - percebi que o governo não vem tendo igual zelo com os nativos daquela região. Ouvi relatos de que a ilha não possui médicos suficientes e que ironicamente o último médico que chegou em Noronha foi um psiquiatra, ouvi uma senhora com mais de cinquenta anos de ilha dizer que há oitos tenta trazer uma bicicleta motorizada, mas que ainda aguarda autorização, enquanto os ricos, com seus contatos políticos, conseguem rapidamente levar para a ilha inúmeros carros e bugs. Percebi que somente as rodovias federais são asfaltadas, enquanto grande parte das ruas em que vivem a população noronhense

está esburacada e segundo os moradores da ilha impraticável na época das chuvas, na qual a água e o barro tomam conta. E não pensem que é por motivo ambiental, já que sabemos que existem inúmeros materiais ecologicamente corretos, já em uso em outros locais do Brasil. Nos poucos dias em que estive lá fiquei horrorizada com os preços dos suprimentos mais básicos. A população paga R$ 28 reais no galão de água de 20L quando a média gira em torno de R$ 8, paga R$ 7 para comprar um leite, R$ 20 pelo quilo do pão, R$ 13 no quilo de feijão mais em “conta” e R$ 4,60 em um quilo de arroz. Sem falar das frutas e verduras que são raras de serem encontradas nos mercados, pois segundo os moradores, os donos

E isso tudo adicionado ao problema de abastecimento de Noronha que há tempos os moradores reclamam que é irregular. Na ilha, tirando nos centros com mais infraestrutura, só vemos gente preocupada em racionar água, fazendo peripécias para coletar água da chuva ou mesmo pagando caríssimo por um pouco de água dos carros-pipa da Compesa (empresa de abastecimento) e sofrendo inúmeras humilhações pelo fato de terem que quase implorar para que estes não demorem dias para chegar. O comportamento vil do governo e das empresas que gerenciam Noronha retrata um pouco do cenário sombrio que ronda Fernando de Noronha. É sabido também que o governo pernambucano tenta esconder a situação difícil da população por detrás da imagem paradisíaca e perfeita da ilha, tão propicia para o turismo (sic). Sim, de fato é possível perceber que silenciosamente os nativos noronhenses estão sendo praticamente expulsos da ilha para que só reste espaço para os ricos criarem seus balneários “corretamente” sustentáveis, e claramente isolados da verdadeira população de Noronha.

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Chineses apresentam projeto em que ônibus passa por cima de carros.

Porém tal tecnologia já é utilizada no Brasil há muitos anos.


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“TININDO TRINCANDO:

Caia na estrada e perigas ver” O Miraculoso teve a oportunidade de entrevistar os Novos Baianaos Luiz Galvão, Paulinho Boca de Cantor e Charles Negrita em sua irreverente passagem por solos candangos, pelo projeto PET de música da UnB. Pra quem não conhece, Novos Baianos foi a banda brasileira ativa durante a ditadura militar, de 1969 a 1979, que ficou marcada por seu estilo de fazer música. E de viver em bando. Entrevista por Maria Aquino Amorim Martins, Fernando Aquino e Paloma Amorim. Participação especial de Sabiá e Tiubim. Miraculoso – Criação em comunidade pode ser uma proposta para a cultura brasileira? Luiz Galvão: Comunidade é uma experiência. No caso dos Novos Baianos, o dinheiro era de todo mundo e não tinha valor. A comunidade é um exemplo de vida que soma muita coisa. É como um preparo para o casamento, porque a coisa mais difícil é o casamento, o convívio das diferenças de homem e mulher não é brincadeira. Os Novos Baianos fizemos isso porque nos amamos mesmo. E não tínhamos tempo para briga ou discórdia. Era preciso a unidade para vencer a ditadura. Paulinho Boca de Cantor: Eu tenho a impressão de que o próprio momento que os Novos Baianos viveram foi determinante para que a gente confiasse um no outro, largasse a família de cada um e fosse criar uma nova família, feita atravéz de uma turma que se juntou em determinado momento. Fomos aconselhados pelo próprio Tom Zé: “É melhor vocês irem juntos, porque assim vão saber absolver essa porrada que vai acontecer!”. Hoje é complicado criar uma comunidade, porque o tempo é outro. O individualismo é quase inerente ao ser humano. A comunidade foi nascendo naturalmente tanto na própria filosofia da música quanto na vida dagente. Não tinha tempo de vacilar. O sentido comunitário pode ser levado com a ideia de que não tem de passar a mão na cabeça, mas sim com a ideia de cada um querer mostrar o melhor de si e de estar sendo cobrado o melhor de cada um. Hoje aquela utopia de deixar o saco de dinheiro atrás da porta, quando você voltar o dinheiro já foi, não tem mais saco. Sabiá: O que você pode dizer ao jovem que ainda hoje insiste, acredita e pensa nesta utopia de viver em comunidade? Paulinho Boca de Cantor: É complicado... Mas acredito que as coisas são cíclicas. Eu vejo no grupo de jovens da UnB, você com sua turma (referência ao grupo PET de Música que trouxe os Novos Baianos), vejo que

vocês podem ser novos candangos neste aspecto comunitário. Vi o trabalho que vocês fizeram na universidade. O próprio jornal O Miraculoso é isso: “Gente, vamos cada um escrever um artigo e botar o jornal na rua!”. Então, por ser cíclico, podem surgir essas comunidades sim, desde que extinta esta doença do mundo moderno, o individualismo. Luiz Galvão: A gente fez a utopia virar realidade. A gente fez uma comunidade dentro de um apartamento. Pra gente o sistema já estava completamente vencido. E também porque qualquer revolução é frurada. É necessária, mas é furada. Dentro da revolução tem uma revolta, que é negativa, mas ela cria uma experiência. A evolução é que realmente é a solução do mundo. É o que vai trazer benefício à humanidade. Miraculoso – Que compreensão sobre o tempo é fundamental para o mistério do Planeta? Deus, existência e morte, preceitos vivos ou descartados Luiz Galvão: O tempo é superior. Considero momentos. Nos Novos Baianos, o que foi feito, foi feito, dentro do momento e o melhor possível. O que acredito que posso fazer, eu vou fazer. Pergunta – Qual a mensagem dos Novos Baianos para os Novos Candangos (os candangos que constróem Brasília todos os dias) Paulinho Boca de Cantor: O que de mais importante os Novos Baianos ensinaram para todo mundo que quer ficar junto de alguma maneira, ou mesmo casado ou mesmo família, que serve para novos candangos, novos brasilienses, novissímos baianos e para todos aqueles que queiram viver esta experiência, é viver a transformação de encontrar Deus dentro de você o tempo todo. Aquela fala dentro de você, lhe guiando. Esta fala está dentro de todo mundo. Se todo mundo for guiado por esta fala... Esse é o Deus, não aquele Deus que o pessoal fica olhando pra cima, esperando o homem de barba branca, que está vendo se você está fazendo coisa errada ou não.

Este Deus é dentro de cada um. Então o que mais os Novos Baianos me ensinaram foi que eu tinha que melhorar todo dia e isso trago na minha vida até hoje. Estou buscando as coisas difíceis que a gente achava que não conseguia fazer, letra de música, melodia de música. Lá no Novos Baianos era muito claro. Moraes era o cara que sabia fazer melodia. Mas hoje em dia todo mundo faz melodia, letra de música. Lá a comunidade dava certo porque cada um tinha a sua função. Hoje faço meu trabalho totalmente diferente. Essa vozinha que eu comecei a escutar desde sempre, nos Novos Baianos ela foi aguçada, me guiava e guiava os Novos Baianos. Por exemplo, eu nunca imaginei, quando era mais jovem, antes dos Novos Baianos, que pudesse deixar pra lá, perdoar com aquela facilidade que os Novos Baianos perdoava, porque a gente tava junto. Luiz Galvão: Teve uma vez, a gente lá no futebol, o Zé Baixinho me deu uma canelada. Na próxima bola que veio, eu dei uma nele. Ele quis brigar, então eu disse: “Quié isso, Seu Baixinho, nós somirmãos, rapaz!”, Aí fui pro banheiro, Zé Baixinho entrou, tranquei a porta e eu disse: “E agora, Zé Baixinho?” Ele respondeu: “Quié isso Joãozinho, nós somirmão!” Paulinho Boca de Cantor: O Zé Baixinho uma vez me deu um tapa na cara. Um tapa na cara que,

se eu não tivesse nos Novos Baianos, não perdoaria jamais. Ele me deu um tapa na cara sabe por quê?! Porque eu fui acordar ele pra gente meditar com Humberto Rohden, que é um cara que ensinou muito a gente. Conviveu com Gandhi, com Einstein. Um fiolósofo brasileiro de Tubarão, Santa Catarina. Já foi padre, pastor, yogi, autor de livros fantásticos e muito pouco conhecido no Brasil. Humberto Rohden contou que a primeira vez que ele encontrou com Einstein, ele estava escondido, os americanos tinham escndido ele. Tinha um bosque e ele saiu andando com Einstein e o einstein só falava três ou quatro palavras com ele. O Humberto Rohden pensou que o einstein ia falar bastante. Quando a gente vai ficando mais velho, o pessoal vai homenagear a gente. Humberto Rohden contou que em uma das homenagens, auditório lotado, pra ver que Einstein ia dizer, ai diise que ele pegava o microfone, agradecia ou algo do tipo assim e dizia “Eu no momento não tenho nenhuma ideia importante para expor. Na hora que eu tiver digo. Muito obrigado.” Saiba mais sobre os Novos Baianos no site do Miraculoso. Acesse: http://www.miraculoso.com.br http://www.youtube.com/ watch?v=m6J0bg9MdMo


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Nós a Grécia e os índios, para quem serve o esporte? Por Pedro Mesquista – Historiador Olhando para o passado ideológico originário da civilização ocidental, podemos ver também seu triste futuro: a complexa crise que a Grécia vive atualmente. Aqui no Brasil, a partir de 2013 parece que finalmente estamos virando um pouco mais “Grécia”, e as imagens do Brasil que o governo reproduz parecem um tanto contraditórias. Onde começou essa crise grega que toma proporções incontroláveis? A mídia européia sugere que o principal motor da crise, vejam só, foram as Olimpíadas de Atenas, realizadas em 2004. Esses jogos chamaram a atenção não apenas por que evocaram a imagem mais tradicional da contribuição grega aos esportes mundiais, mas também por ficar conhecida como a “Olimpíada mais cara da modernidade”, custando, “por alto”, pois ainda não foi possível precisar exatamente os gastos, 21,3 bilhões de reais. Segundo a reportagem, a maior parte dos investimentos, mais de 90%, veio de um programa de infraestrutura semelhante ao PAC brasileiro. Segundo analise do EuroMemo (Economistas Europeus por uma Política Econômica Alternativa) o país já vinha acumulando gastos públicos extraordinários, uma situação que teria se agravado com as oportunidades de corrupção abertas na distribuição de contratos a grandes corporações. O orçamento da próxima Olimpíada, a ser realizada no Brasil, está previsto “por alto” em R$ 28,8 bilhões (R$ 7,5 bilhões a mais que a Olimpíada grega). O detalhe a ser relevado é que os gregos estão sofrendo da crise amplificada por um evento esportivo, símbolo de seu legado cultural passado; o Brasil, por sua vez, teve a sorte de conseguir dois eventos bilionários para encher os bolsos dos políticos gananciosos e seus pares além da Olimpíada, temos também a tão ambicionada Copa do Mundo. Não é mistério para ninguém quem vai lucrar mais com essa Copa. Grandes

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“Onde começou essa crise grega que toma proporções incontroláveis? A mídia européia sugere que o principal motor da crise, vejam só, foram as Olimpíadas de Atenas, realizadas em 2004” _______________

Ilustração: Gabriel Mesquita incorporadoras e empreiteiras, especuladores do ramo imobiliário, além, claro, da CBF e da FIFA, empresas privadas que se apropriaram do futebol, como se fossem donas do esporte. A nociva influência da FIFA e da CBF na organização da Copa do Mundo no Brasil é ressaltada pela forma como o governo vêm executando as obras de infraestrutura necessárias para a realização do evento. Ao invés de adotar uma linha de reformas modestas e objetivas, o governo atendeu às exigências das duas entidades e aprovou majoritariamente projetos faraônicos de custos exorbitantes. O novo Estádio de Brasília, que substituiu o velho Estádio Mané Garrincha (obra integrante do conjunto arquitetônico de Brasília tombado pela UNESCO) já recebeu mais de R$1.5 bilhões de investimento e figura entre as 15 obras do GDF com indícios de irregularidades graves na sua execução. O caso do Mané Garrincha é, possivelmente, um dos mais graves do País. A construção do Estádio “quebrou” a Terracap, empresa de terras públicas do DF, que possui uma misteriosa arrecadação exorbitante, vendendo e arrendando terras, gerindo mega projetos e contratos milionários. E no meio dessa loucura de contradições e esquemas de corrupção vergonhosos, passa despercebido, pouco noticiado e insignificantemente patrocinado os Jogos dos Povos Indígenas, considerado o maior

_______________ “Os Jogos dos Povos Indígenas ensinam no seu silêncio qual é a função do esporte numa sociedade. Um acontecimento cultural, de integração e fortalecimento das tradições dos povos, ou um evento externo a população, excludente e com a finalidade de enriquecer alguns políticos e empresários gananciosos?” _______________ encontro esportivo indígena da América Latina. Os jogos têm o objetivo de promover a cidadania e a integração indígena, bem como a valorização das tradições dos povos originários do território brasileiro. O deputado Aldo Rebelo, agora titular da pasta dos Esportes, conhecido pelo seu código anti-florestal (que certamente irá contribuir para a compressão das reservas indígenas, conflito com os madeireiros e fazendeiros latifundiários) compareceu à abertura, e prometeu que o governo brasileiro irá se empenhar em transformar os jogos indígenas em um evento internacional. Será? Tomara que sim, tomara que não. Se isso acontecer, provavelmente o evento se tornará propaganda do Estado nacional, que suga e se promove de tudo que encosta, de tudo que torna a cultura mais viva. Veremos o Estado brasileiro matar e se apropriar mais e mais das nações indígenas e dos povos

tradicionais que vivem dentro de suas opressivas fronteiras. Mas como já disse mais de uma vez o filósofo, é nas fronteiras do Estado que encontraremos a possibilidade de sua superação. Para isso, talvez precisemos buscar modelos não na “origem da civilização ocidental”, mas nas origens das nossas tradições ancestrais, nos fundamentos da nossa civilização tropical. Os Jogos dos Povos Indígenas ensinam no seu silêncio qual é a função do esporte numa sociedade. Um acontecimento cultural, de integração e fortalecimento das tradições dos povos, ou um evento externo a população, excludente e com a finalidade de enriquecer alguns políticos e empresários gananciosos?


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“O sistema de transporte do Distrito Federal é ruim porque está concentrado nas mãos de poucos” por Diogo Ramalho e Luana Luizy

não tem concorrência, e o sistema de transporte do Distrito Federal é ruim porque ele está concentrado nas mãos de poucos, a licitação deveria ter previsto a concorrência. A licitação então concentrou ainda mais o transporte nas mãos de poucas empresas? Sim, de 12 empresas que prestam hoje para apenas 5 empresas daqui por diante. E o importante de ressaltar é que as empresas que perderam apresentaram propostas mais baratas que as vencedoras, mas foram descredenciadas por motivos irrisórios, como falta de telefone, sendo que empresas maiores venceram inclusive com problema grave no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídia (CNPJ), dentre várias manobras que pude detectar

__________________ “O Nenê Constantino está prestando o serviço de bilhetagem e de transporte, é um escândalo enorme, a mesma família, o filho cuida da bilhetagem, o pai do transporte.” __________________ como a que possibilitou duas bacias serem vencidas por um mesmo grupo, o que era proibido no certame e provocou uma reação do Ministério Público, que pediu a suspensão do certame por essa concentração do grupo do Nenê Constantino - empresário brasileiro do setor de transportes - que ficou com quase 50% das linhas de transporte público do DF.

Em entrevista para O MIRACULOSO, a deputada distrital, Celina Leão (PDT), denuncia irregularidades no processo de licitação do transporte público do Distrito Federal. Fraudes, superfaturamento e monopólios impedem que o transporte público seja de qualidade para a população, segundo a deputada. Deputada, como começaram suas investigações sobre a licitação dos transportes do DF? Um personagem central me chamou atenção no processo de licitação dos transportes que era advogado de três das empresas vencedoras do certame, consultor do GDF e quem decidia tudo no processo de licitação. Este personagem se chama Guilherme Sacha Reck, e foi ao mesmo tempo advogado do Governo do Distrito Federal (GDF) na licitação e também da maioria das empresas que disputaram e venceram o certame. Eu tenho as procurações, está tudo documentado. O Sacha

Reck trabalhou inclusive descredenciando empresas no processo. O que mais? Buscando informações descobri que o Sacha Reck era do Paraná e fui convidada para participar da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos transportes de lá. Levei a farta documentação que eu tenho, e descobri procurações das empresas em nome deste advogado, que ao mesmo tempo atuou como consultor do GDF. Outra questão importante que ficou evidenciada nestas investigações foi a questão dos cartéis, por que se está cartelizado

O Nenê Constantino apoiou o Agnelo na campanha eleitoral? Eu não tenho essa informação formal, e ainda não tive tempo de cruzar essas informações no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), mas para mim o crime é tão visível e tão constatado que isso é pequeno perto da fraude que ocorreu na licitação, uma licitação de R$ 40 bilhões que diminui o número de ônibus, hoje temos 3 mil ônibus e a licitação previu mais de 2 mil, além de não garantir o emprego dos trabalhadores, e sim, o superfaturamento e monopólio. Outra coisa absurda que eu descobri recentemente em um relatório do Tribunal de Contas é de que o Nenê Constantino está prestando o serviço de bilhetagem do Distrito Federal, o que é vedado por lei. O Nenê Constantino está pagando a si mesmo? Sim, o Estado paga a empresa que faz a bilhetagem e ela paga as empresas. O Nenê Constantino está prestando o serviço de


www.miraculoso.com.br . Brasília, outubro de 2013, 10ª Edição . O Miraculoso . 13 bilhetagem e de transporte, é um escândalo enorme, a mesma família, o filho cuida da bilhetagem, o pai do transporte. O próprio Ministério Público de Contas fala que quem tinha que fazer a bilhetagem, mesmo que terceirizada, deveria ser uma empresa que não tivesse participado do processo licitatório dos transportes, a empresa estará pagando a si mesma. O grupo Constantino comprou esta empresa de bilhetagem, a Pró-Data, depois de ganhar a licitação. É o monopólio geral na prestação do serviço. O que você acha dos ônibus novos que irão substituir a frota atual, velha e sucateada? Eu sou a favor dos ônibus novos, mas perdemos uma grande oportunidade de fazer um trabalho sério, de fortalecer o papel de fiscalização do Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans), que hoje não fiscaliza nada porque não tem autonomia. Qual a média hoje de idade da frota do DF? A média da frota hoje é de 15 a 20 anos, enquanto existe uma lei que proíbe ônibus com mais de 7 anos de rodar, mas há latas velhas circulando porque o DF Trans não tem coragem de prender estes ônibus, ou seja, o próprio Governo não cumpre a lei. Os ônibus novos são o que a população quer, é o que eu quero, mas a população precisa saber quanto vão custar esses novos ônibus. Um ônibus desse se paga rapidamente e com o dinheiro público, pois é o Bando Nacional do Desenvolvimento (BNDES) que vai bancar com taxas de juros baixíssimas a compra destes ônibus, e ao mesmo tempo você vai ter o monopólio vigorando e uma diminuição no número de ônibus. Você acha que houve corrupção no processo de licitação dos transportes? Eu posso afirmar que houve corrupção, pois é a única coisa que justifica uma fraude em licitação.

Ela veio do governo, dos empresários, ou ambas as partes? Os indícios apontam que houve corrupção dos dois lados, passiva e ativa, se houve do empresário o governo consentiu e participou e vice-versa. No mínimo o governo consentiu, as provas que tenho apontam que o edital foi super faturado. O que seria necessário para termos transporte público de qualidade? Precisamos de uma lei de fiscalização e de um órgão fiscalizador. A concentração de cartéis prejudica o serviço público. É preciso dar opções ao público, a concorrência é necessária. Perdemos uma grande oportunidade de colocar os ônibus a serviço da população. A inoperância no DFTrans, órgão que deve fiscalizar o transporte público na cidade também é responsável pela fraude. O órgão precisa de reestruturação. Se formos lá, vamos ver que há pessoas capacitadas com mestrado em mobilidade urbana, mas que não possui oportunidades de atuar ativamente. Visto que os ônibus novos já são realidade e já não há mais possibilidade de cancelar a licitação, além da dificuldade em conseguir aprovar uma CPI dos transportes, quais serão seus próximos passos no sentido de apuração do processo de licitação? Olha, qualquer juiz que decidir algo ele não vai suspender os ônibus que já estão rodando, quando fizemos esta denúncia ainda dava tempo de suspender a licitação, agora penso que temos que conseguir mudar os valores da licitação. Em 2015, quando passarem as eleições, o governo que está segurando o aumento e subsidiando o empresário vai receber desse empresário uma conta a ser paga, em 2014 a gasolina sobe, o salário mínimo sobe, a inflação não para e o Estado vai repassar o custo da licitação fraudada ao usuário. Se ganhássemos com a tarifa de R$ 2,30 na licitação, o Estado não precisaria repassar esses custos, havia

propostas de empresas com valores de R$ 2,20, mas o advogado Sacha Reck desabilitou todas, vencendo apenas as poucas empresas do esquema criminoso, com valor de R$ 2,70. O Sacha Reck fazia instrução para o Tribunal de Contas, que deveria estar investigando, mas o processo está parado lá, pois o relator é o Paulo Tadeu, que era Secretário de Governo do GDF, como que ele vai julgar isso? É a mesma coisa do exemplo que dei da empresa do Constantino que vai atuar na bilhetagem e no transporte, vira a mesma coisa, não tem como fiscalizar. O Paulo Tadeu deveria ao menos ter se julgado sob suspeição e não julgar a questão.

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havia propostas de empresas com valores de R$ 2,20, mas o advogado Sacha Reck desabilitou todas, vencendo apenas as poucas empresas do esquema criminoso, com valor de R$ 2,70. __________________ E o Passe Livre? O Passe Livre está se transformando em um subsídio para os empresários, o formato do passe livre não é totalmente livre, ele é regulado pelas empresas, e o argumento das empresas é que é muito caro, que custa um bilhão, dinheiro que fica para os empresários e ainda falta para o próprio passe livre. Se tivesse feito uma licitação bem feita haveria dinheiro para subsidiar verdadeiramente o passe livre, que está cada dia mais longe por conta do financiamento desses grupos criminosos. Você tem esperança de que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos transportes saia? Somente com a mobilização da juventude, com o entendimento dos jovens do DF de que o aumento da tarifa está sendo feito e está cada vez mais longe o passe livre que eles a tanto tempo lutam, se transformando em mais um subsídio para os empresários.


14 . O Miraculoso . Brasília, outubro de 2013, 10ª Edição . www.miraculoso.com.br

Em dia da pátria, militares saem às ruas para reprimir manifestantes por Tony Gigliotti Bezerra, militante do Juntos e do PSOL As ações repressivas da PM no dia 7 de setembro reacenderam o debate sobre a desmilitarização da polícia. E meio às manifestações contra os gastos da copa e a corrupção, a polícia militar do Distrito Federal deu mais uma demonstração de agressividade e completo despreparo par lidar com a população. Diante de uma passeada majoritariamente pacífica, que marchava em direção ao estádio Mané Garrincha, os militares agiram com excesso e abuso de poder. Na internet circulou um vídeo que chocou a todos: o capitão do Batalhão de Choque da PM, Bruno, espirra spray pimenta no rosto de um cinegrafista, muito embora ele não tenha ultrapassado o cordão de isolamento imposto pela própria polícia. A vítima pergunta ao militar porque havia sido atacado e recebe uma resposta que desafia frontalmente o Estado democrático de direito: “Por eu quis.” Um agente de segurança deveria ser treinado e remunerado para cumprir a lei e não a sua vontade. A discricionariedade do poder policial não pode ser usada como pretexto para os abusos de poder. Infelizmente, a atuação do capitão Bruno é tão reprovável quanto rotineira. A polícia militar é treinada para a guerra e não para lidar com a população. Para entender a situação, é necessário relembrar a história da polícia militar no Brasil. E, neste sentido, a primeira pergunta que se faz é: por que, no Brasil, o policiamento de rua é feito por militares e não por civis? A resposta para esta pergunta remonta ao período da ditadura militar. Antes do regime militar, o policiamento era feito, em grande medida, pelas guardas civis metropolitanas e municipais. Algo bastante natural e alinhado com o que ocorre na imensa maioria dos países democráticos: polícia militar para cuidar de assuntos militares e polícia civil para cuidar de assuntos civis. A ditadura imposta a partir de 1964 representou uma ruptura da democracia e início de um período de repressão e autoritarismo, sob o pretexto de uma suposta ameaça comunista. Os militares, com o afã de tudo dominar, promoveram em 1969, enquanto governo, o desmantelamento das guardas civis municipais. Ao invadir todos os âmbitos da vida social, o militares não poderiam deixar de fora o policiamento de rua, que passou a ser feito exclusivamente pelos militares. Vale lembrar que as polícias militares estaduais que se formaram, a partir do século XIX, como exércitos regionais, preparados para ajudar o Exército em caso de guerra, suprindo a fragilidade das forças armadas do Brasil. A conseqüência disso é que a PM é uma corporação extremamente hierarquizada e disciplinada, preparada para uma guerra, mas que atua, acidentalmente, na segurança da comunidade. O termo militar, é oriundo do latim “militare”, que quer dizer “soldado, homem da guerra, guerreiro, combatente de guerra, referese àquele que guerreia,ou seja, os militares são totalmente voltados para a guerra(...). A formação do policial é antítese da formação do militar, uma vez que o militar é treinado para matar e o policial deve ser formado para educar, para civilizar, como agente do direito que é. O policial é um profissional do Direito, tanto quanto o juiz, o advogado, o promotor

de justiça, jamais um profissional da guerra. O dever do policial é prevenir e reprimir, não o cidadão, mas sim o crime. O militar tem a arma e a força como recurso primordial, enquanto o policial tem a arma e o uso da força como o último recurso a ser utilizado.” (AMARAL, 2003:47)

Mulher-xaxim: Corpo de mulher é exumado e família reivindica seu uso como adubo

O que mais impressiona é que, mesmo após o fim da ditadura, os militares continuaram encarregados do policiamento de rua. Com o advento da Constituição da 1988, as guardas civis voltaram a se organizar. A elas foi atribuída, no entanto, apenas a função de proteger os bens, serviços e instalações municipais. Isso significa que, apesar de o processo de redemocratização do Brasil ter se iniciado na década de 80, ele ainda não foi concluído. Os militares continuam no comando de áreas altamente estratégicas da política brasileira, entre elas o policiamento comunitário, as atividades de salvamento, feita pelo bombeiros, que são militares, e nos comandos de controle aéreo, também é realizado por militares.

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“Desmilitarizar a polícia é o primeiro passo para se pensar em uma segurança verdadeiramente pública e de qualidade” __________________ A polícia militar não é somente um resquício do período ditatorial, mas também um entrave que impede o avanço da democracia no Brasil. Cabe lembrar que a redemocratização do Brasil é um processo falho e incompleto. Aqueles que eram ministros do STF durante a ditadura continuaram o sendo após a “redemocratização”; os crimes da ditadura, como tortura e desaparecimento forçado, nunca foram punidos; a polícia militar, que fazia a ronda policial durante a ditadura, continuou com esta prerrogativa sob a “Constituição Cidadã”; a própria constituição de 1988 é fruto de uma emenda à constituição da ditadura, de 1967. Desmilitarizar a polícia é o primeiro passo para se pensar em uma segurança verdadeiramente pública e de qualidade. Ela representa a continuidade do processo de redemocratização do Brasil, que se iniciou na década de 1980, mas ainda está longe de terminar. Os cursos de formação de policiais devem valorizar e enfatizar a educação em direitos humanos. Não queremos uma polícia preparada para a guerra, mas sim uma polícia preparada para promover a paz e a igualdade. O que se quer é uma polícia preocupada com o fazer comunitário e capacitada para dialogar com as pessoas, ao mesmo tempo em que busca soluções para a gestão e a resolução dos conflitos sociais e individuais. Este é melhor caminho para assegurar que ações autoritárias como as do capitão Bruno nunca voltem a se repetir.

Em Itapamaringuaçu/RO, corpo de mulher é exumado e são encontradas plantas em fase de crescimento. Médicos e cientistas afirmam que esse é um caso incomum de crescimento de vegetais. A mulher estava grávida de 3 meses quando veio a falecer. O biólogo Eduardo Darwin, da Universidade Estadual de Itapamaringuaçu, explica que o feto se decompõe primeiro que o corpo da mulher, havendo assim o processo de fermentação do feto dentro do corpo feminino. Essa fermentação propicia uma hiperfertilização das zonas diretamente ligadas à manutenção de vida do bebê. Os nutrientes oriundos da fermentação se deslocam, então, para útero, vagina e glândulas mamárias. “Provavelmente, sementes ou pólen entraram em contato com o corpo momentos antes do enterro. Essas sementes encontraram lugar fértil nos seios e na genitália da moça.” Esclareceu o diretor geral do Hospital Central de Itapamaringuaçu, João Geraldo Pocilga. A família, que tem sua renda a partir do cultivo de produtos orgânicos, reivindica que o corpo possa permanecer no quintal de casa para fortalecer o crescimento dos tomates e dos pés de couve. por AnnArkista de Cristo annacrisprado@gmail.com


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A Burguesia brasileira não viaja pra Europa!! e por isto não entende de transporte Larissa da Silva Araujo | Francisco Carneiro De Filippo | Coletivo Rodamoinho Desde os anos 70, alguns teóricos brasileiros

outra área social. Nossa burguesia, mídia e governo,

que saem de lugar nenhum e vão para o nada, que

(em especial Florestan Fernandes e Celso Furtado)

sabem bem que não é isto. A discussão da tarifa zero

cortam a cidade ziquezagueando (como se o ciclista

desenvolveram a tese de que parte da desigualdade

implica numa mudança por completo da lógica do

andasse passeando pela cidade), mais parecem obras

social brasileira poderia ser creditada ao fato de que

transporte público. Ela só faz sentido, e neste ponto

para inglês ver. Contudo, tais construções, que não

a burguesia conduzia um processo do capitalismo

é totalmente viável, se promover a inclusão social,

são planejadas segundo as necessidades do ciclista,

no Brasil de forma com que a concentração de

garantir o ir e vir das pessoas, e tirar do carro a

parecem prescindir de uma campanha de educação

renda pudesse lhe garantir as mesmas condições

centralidade dos meios de locomoção.

de transito, de forma que a cidade receba os ciclistas

de consumo dos países centrais, notadamente os europeus. Europa... Ah Europa!! Tão saudada pelo perfume

francês,

pelo

vinho

português,

pela

tecnologia alemã, pelo relógio suíço, pela cerveja holandesa, pelo chocolate belga, pela massa italiana, enfim. Ah Europa! Rica, branca, bonita e dominadora. Tudo aquilo que nossa burguesia sempre sonhou.

com civilidade necessária para o convívio entre os

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veículos motorizados e não motorizados. Assim, temos nossas cidades maquiadas com “piada”vias e

“pela cerveja holandesa, pelo chocolate belga”

nossos ciclistas continuam diariamente atropelados pelos motoristas donos da cidade.

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Voltando à Europa (a terra que cresceu

A hipocrisia burguesa no Brasil, esta mesma

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que anda de transporte público na Europa, mas

Enquanto o Governo federal, em 2011, concedeu isenção fiscal para a indústria automobilística num montante estimado em R$ 3,03 bilhões, em 2013, a isenção dada para a prestação dos serviços de transporte coletivo (ou seja, diminuiu-se a parcela do lucro das empresas a ser repassado ao governo) é estimada em R$ 4,26 milhões. 712 vezes menos. __________________

também no discurso do Governo Federal dizendo que

Recentemente

estivemos

em

Genebra,

denunciando na ONU as violações ao direito a moradia promovido pelos MegaEventos. Porém, não vamos tratar aqui do direito a moradia, mas de um tão essencial quanto ele para que a cidade seja pertencente a seu povo: o direito ao transporte. Tanto em Genebra quanto em várias outras capitais europeias, a lógica que ordena o transporte público segue alguns princípios importantes: a) o fundamental é garantir o direito de ir e vir do povo; b) o carro não deve ser o principal meio de locomoção das pessoas. Sabemos que a riqueza de boa parte da burguesia europeia, assim como da totalidade da burguesia brasileira, está fundada na exploração e roubo diário dos trabalhadores, Assim, distinto da nossa burguesia, não estamos aqui para saudar o estilo europeu, mas sim para apresentar uma breve conclusão a partir do que observamos da lógica acima descrita: sim, é possível constituir a Tarifa Zero no sistema de transporte público no Brasil. É possível constituir a Tarifa Zero no sistema de transporte público no Brasil. Porém, o debate promovido pela mídia e pelos Governos está completamente torto. A tarifa zero não veio somente para reduzir o custo da passagem e jogar a conta em

se gaba de verdade é do perfume francês, aparece já contribuiu para a redução das tarifas isentando os empresários do transporte público. Ainda que total ineficaz (não fosse a luta do povo as tarifas teriam aumentado) a preferência pelo carro é evidenciada na também isenção dos impostos para os empresários deste ramo. Enquanto o Governo federal, em 2011, concedeu isenção fiscal para a indústria automobilística num montante estimado em R$ 3,03 bilhões, em 2013, a isenção dada para a prestação dos serviços de transporte coletivo (ou seja, diminuiu-se a parcela do lucro das empresas a ser repassado ao governo) é estimada em R$ 4,26 milhões. 712 vezes menos. Outra evidente hipocrisia da burguesia brasileira, a mesma que tem nojo dos ônibus no Brasil, mas que reclama do trânsito engarrafado durante os atos, aparece nas obras de mobilidade da Copa do Mundo. Na grande maioria delas, a lógica é sempre a duplicação de uma via de carro, e quase sempre ligando o aeroporto, ao centro hoteleiro, ao centro do turismo. Não é a toa que existem 250 mil pessoas ameaçadas de remoção pela Copa. A mesma obra que viabiliza a mobilidade do turista e da burguesia é a que exclui e joga a periferia para mais longe da cidade. Sem

falar

nas

obras

relacionadas

ao

transporte não motor. A construção de ciclovias

graças à espoliação das colônias). Em cidades como Bruxelas e Genebra, além da total integração entre os modais, não existe a total gratuidade da tarifa, mas também não existe a obrigatoriedade de se pagar. O guichê está lá. Compra o ticket quem quer e/ou pode. Quem não pode, passa pelo guichê e entra no metrô ou no ônibus tranquilamente. Já Amsterdã é famosa pela centralidade da bicicleta. Com as vias de trânsito dividas iguais entre ônibus carro e bicicletas e em locais centrais como na estação no trem o estacionamento de bicicleta ser maior que o de carros, percebe-se que poucas e boas iniciativas podem inverter a “cultura” de um povo. Já em Paris, Madrid e outras, até existe a cobrança da tarifa, mas percebe-se que até a burguesia, brasileira e europeia, em muitos casos prefere a integração ônibus-metrô por ser mais ágil e, de fato, garantir a integração de todas as regiões da cidade. Enfim, não só na Europa, mas também outros lugares da América e até do Brasil já mostraram de que é possível, mais que a tarifa zero, construir um sistema de transporte público, que garanta o direito de ir e vir das pessoas, e que tire a centralidade do carro. Enfim... é possível, parafraseando o slogan nacional, mostrar que país rico não é onde alguns andam de carro último modelo, mas sim, onde todos possam usufruir do transporte público. Não fosse a hipocrisia da burguesia brasileira (empresários, mídia e governos), e seu desejo de manter a exclusão social, era este o debate que estaria posto a partir das demandas suscitadas pelas mobilizações populares.

__________________ Só a continuidade das mobilizações pode trazer o debate para os devidos termos. Porque, se não, a hipocrisia da burguesia estruturada nas camadas dos Governos e da mídia não deixarão o debate prosperar. Tem gente que diz que não seja tanta hipocrisia assim. Neste caso, é melhor acreditar que a burguesia não viaja pra Europa. __________________


16 . O Miraculoso . Brasília, outubro de 2013, 10ª Edição . www.miraculoso.com.br


www.miraculoso.com.br . Brasília, outubro de 2013, 10ª Edição . O Miraculoso . 17 agora, aqui estou, me perguntando se nosso gênero emancipou-se realmente ou se o mundo ainda camufla as raízes dessa opressão ilegítima que submete a mulher ao árbitro do poder da beleza, ao julgo do homem que quando não a tiraniza por meio da violência, insiste em colocá-la como mero objeto sexual, não só para satisfazer-se, mas convenientemente declarar e fortalecer os próprios atributos de “macho alfa maior”.

por Brunna Guimarães, Jornalista e estudante de Filosofia da UnB

Dizer que a mulher e o homem vivem em pé de igualdade hoje soa como um engodo para nos vendar os olhos para a realidade que ainda nos é imposta ou como uma utopia que insiste em ser real. E sabemos muito bem que somente por meio de muita luta é que teremos condições de enlaçála e transformá-la um dia em matéria. Para que não fiquemos somente com palavras soltas, trago alguns dados importantes que demonstram o quanto as mulheres ainda enfrentam obstáculos na vida profissional, como a divisão sexual do trabalho, a discriminação em determinadas posições e áreas, e como já dito, uma contínua perpetuação de estereótipos.

“A Revolução, portanto, não foi um mero evento que ocorreu fora dela, foi um agente ativo no seu próprio sangue. Ela esteve em revolta durante toda a sua vida – contra a tirania, contra a lei, contra as convenções” (Virginia Woolf) Cá estou, sentada ao fundo de uma vasta sala de aula, cercada por homens, que escutam um homem de pé a falar de outros homens. Se não fosse duas ou três presenças do mesmo gênero que o meu, diria com toda certeza que na dita filosofia acadêmica ainda impera o cheiro de testosterona misturada com a poeira dos velhos tempos. Esta, pelo visto, ainda insiste em se esconder de baixo do verniz da modernidade. Mais de duzentos anos se passaram e as palavras de Mary Wollstonecraft ainda clamam por serem ouvidas em sua plenitude. Pioneira do feminismo moderno, a inglesa Wollstonecraft em sua obra “A Vindication of the Rights of Woman” (em português, Uma Defesa dos Direitos da Mulher), discorre, acerca da necessidade de haver uma completa reformulação nas relações sociais, sejam em âmbito público ou

__________________ “Em minha opinião, os governos civis têm colocado obstáculos quase insuperáveis para impedir o cultivo do entendimento feminino” __________________

privado, para a igualdade entre os sexos. Aliás, não só Wollstonecraft, mas inúmeras grandes mulheres como Olympe de Gouges, Bertha Pappenheim, Nísia Floresta, Berta Lutz e Simone Beauvoir, trouxeram a tona as constantes barreiras enfrentadas pelas mulheres e expressaram em suas obras a importância de ser abolido o pensamento equivocado do papel tradicional conferido ao nosso gênero. Para refletirmos um pouco sobre os inúmeros desafios da mulher na contemporaneidade é preciso voltamos no tempo e compreendermos que ao longo da história a mulher foi constantemente violentada pelo decreto da exclusão. E creio que, a história da filosofia, sendo determinante para a criação de conceitos fundamentais de estruturação da sociedade, teve um papel preponderante, no sentido de solapar ainda mais seus direitos. É preciso perceber que a rigidez da filosofia muito alimentou a intolerância, discriminação e a propagação de estereótipos que, ao todo rebaixaram o papel da mulher em nossa sociedade. Não tenho dúvidas acerca dos numerosos avanços que tangem a questão da igualdade de gênero, principalmente nas duas últimas décadas que foram os anos mais heróicos da geração. De certa maneira, hoje temos oportunidade de estudar em uma boa universidade, adentramos aos poucos no universo público e político e ainda reduzimos muito preconceitos inculcados à mulher no decorrer desta perversa história que nos prendeu e nos estagnou por séculos, mas apesar dos importantes passos dados até

Segundo os últimos estudos do IBGE (2010) fica claro que as mulheres têm menos chances de emprego, ganham menos do que o universo masculino trabalhando nas mesmas funções e ocupam os piores postos. Ressalta-se, que o mais recente Censo Demográfico do País mostra que o rendimento médio mensal dos homens com Carteira Profissional assinada foi 30% superior ao das mulheres, apesar de terem a mesma escolaridade. E de acordo com o último relatório (2010) do Observatório Brasil da Igualdade de Gênero, as mulheres representam mais da metade da população e do eleitorado, mas ocupam menos que 20% dos cargos de maior nível hierárquico no Parlamento, nos governos municipais e estaduais, nas secretarias do Poder Executivo, no Judiciário, nos sindicatos e nas reitorias das universidades. No setor privado o quadro não é muito diferente, já que as pesquisas confirmam a proporção de 20% a 30% de mulheres nos postos de chefia. Outro dado importante trata da participação feminina na Ciência.

__________________ “Na luta pelos direitos da mulher meu argumento principal baseia-se neste simples principio: se a mulher não for preparada, pela educação, para se tornar a companheira do homem, ela irá parar o progresso do conhecimento e da virtude; porque a verdade deve ser comum a todas, ou será ineficaz no que diz respeito à sua influência na conduta geral” __________________

__________________ “Desejo que a mulher seja colocada em uma posição a partir da qual avance, em vez de ser retardada, para o progresso destes gloriosos princípios que dão substância à moralidade” __________________ De acordo com pesquisa feita em 2010 pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), desde de 2004 o Brasil titula em programas de doutorado mais mulheres que homens. Entretanto, esse crescimento global não se transformou em ganho efetivo, seja em termos salariais, seja para atingir os níveis mais altos da carreira em diferentes áreas profissionais e nas carreiras científicas. Dados do CNPq, por exemplo, revelam que as mulheres bolsistas Produtividade em Pesquisa, mantém-se no mesmo patamar há mais de 10 anos, em torno de 30%, em todos os níveis. E no nível mais alto da bolsa (1A) de Produtividade em Pesquisa, o percentual gira em torno dos 20%. O CGEE aponta ainda que as doutoras do receberam no ano de 2009 uma remuneração mensal 11% menor do que a dos doutores do sexo masculino. Estes

dados

brasileiros

__________________ “Assim como as flores plantadas num solo rico demais, elas têm a força e utilidade sacrificadas à beleza e suas folhas garbosas, após agradarem a um olhar exigente, murcham e caem do galho, muito antes do tempo em que atingiriam a maturidade” __________________ adicionados aos inúmeros diagnósticos elaborados por organismos internacionais apontam para a exclusão generalizada das mulheres na grande maioria dos países, nas esferas de poder, para a banalização da violência contra as mulheres e para a feminilização da pobreza, entre outros fenômenos sociais. Com isso, verificamos que ainda vigoram com muita força, padrões, valores e atitudes discriminatórias contra a mulher. Não é atoa que ainda ocupamos tão poucas cadeiras nos cursos de filosofia. Conhecimento é a mais nobre expressão de liberdade e grande parte das mulheres deve sentir, ainda que de maneira inconsciente, o grilhão da discriminação, que tanto impediu o florescimento do entendimento feminino. Para superarmos este atraso que nos foi sordidamente infligido, é indispensável promovermos uma firme educação que elimine de vez a discriminação de gênero e conseqüentemente potencialize o intelecto feminino. Só assim, quando todo ser humano for visto com igual capacidade para desenvolver a razão é que a humanidade de fato emancipará.


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Brasília agrega em si a diversidade brasileira estampada em seus trechos e nos refrões de manifestações culturais criadas na capital. Eis que chega a hora de Brasília conhecer o trabalho da banda Roda na Banguela. Entalhado com sinceridade, modela ritmos nordestinos com a consciência, a alegria e a força com que merecem, sem alarde.

CHÃ DE FORA CHÃ DE DENTRO CHÃ DO PILAR DE TRILHAS D’UM SERTÃO AGUADO SUBI EM QUINZE SUBI EM OITO SUBI EM UMA PERNADA DE CAVALO-BAIOESPERAR DESCER O SOL NO RIO ESFRIAR O SOL É BANHAR NO RIO TOCANTINS E SÃO FRANCISCO ESPEREM POR NÓS É UM TAIO MINHA VIDA É CONSTRUÍDA NO CAMINHO NOSSA VIDA É ENSAIADA NA ESTRADA SUA VIDA É CONSTRUÍDA 25 SUBI EM 25 HORAS O BRASIL … E FOI ASSIM: NUMA NOITE EU SONHEI CUM BENJA MIM. TINHA UMA ESPOR A NA POPA UM CIGARRO PRA CIMA E UM FORN O DE BOCA RESOLVEMOS PARTIR VIAGEM COM APELIDO DE CADUCO SALTAMOS DE MINAS GERAIS E POUSAMOS EM PERNAMBUCO. (Poema referente à viagem do grupo SertantesTeatro de coragem, realizada durante o ano de 2009. Foram percorridos mais de 5 mil quilômetros de estrada, em um percurso que entrecortou cidades do norte, nordeste, sudeste e centro-oeste, realizados majoritariamente de carona. Carona em autos de pequeno, médio e grande porte. Agradecemos a todos os motoristas que passaram por nós: aos que pararam e aos que seguiram: Vão com Deus! sertantes-teatrodebonecos.blogspot.com.br/).

A Roda na Banguela, em atividade desde 2005, neste outubro lança seu primeiro CD e promete um verdadeiro espetáculo, sob a direção de Marcos Farias, este que traz a música em sua genética herdada de seu pai Abdias e de sua mãe Marinês, abençoado pelo padrinho Luís Gonzaga. O lançamento contará também com a interação de grandes músicos da cidade como Hamilton Pinheiro no baixo, Marcus Moraes no violão e Edinho Silva na percussão e terá a abertura com o grande violeiro Marcos Mesquita, mestre do ofício. É neste ambiente que a Roda vai apresentar forró, xote e baião, coco e samba de coco, ijexá e afoxé, frevo, ciranda, maracatu e lundu. Além da beleza de seus integrantes, mostrará a leveza e a simplicidade de uma música feita para todo mundo, um verdadeiro mosaico brasileiro, do qual faz brotar um tom da identidade brasiliense. Dá pra ver estampado neste CD, a raça com que a Roda chegou até aqui e esperar o futuro de ainda mais trabalho e reconhecimento. Graças a Deus! A Roda faz aquela música com verdade. Pra quem quer sentir um som bem fabricado ou sacudir esqueleto. Fiquem à vontade. Entrem, sintam, ouçam, curtam, dancem e compartilhem!

O que: Lançamento do primeiro CD da banda Roda na Banguela Quando: 11 de outubro de 2013 – véspera de feriado Horário: 20h Local: Sala Cássia Eller Complexo Cultural Funarte

Show de abertura: Marcos Mesquita e viola www.rodanabanguela.com.br

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CARONA mobilidade alternativa, de coragem. Por Paloma Amorim Mesmo na atualidade a prática de pegar carona continua viva e possui adeptos diversos, que se aventuram por uma boa viagem. Como “na estrada da vida não tem acostamento”, até mesmo o advento das tecnologias e das tecnologias da informação influenciou a maneira de pedir e dar carona, renovando-a. Para muitos caroneiros comodidade não faz parte de seus planos. Motivados pelo espírito de aventura e incitados pelo próximo passo, vivem por quilômetro as filosofias da estrada, empunhando coragem e paciência, até o destino final. Aliás, muito vale o percurso. As decisões vão tomando rotas em um passo de cada vez e, bem como dizem, “a felicidade não é um destino onde chegamos, mas uma maneira de viajar”. E é por isso que o caroneiro transita na levesa do destino e nas estradas do possível. Acasos não por acaso. A carona em português, em inglês é hitchhike, o mesmo que empunhar o polegar na beira da estrada ou o significante que designa jóia ou positivo. Gesto que funciona no Brasil, na Espanha ou no Peru. Trata-se de uma linguagem universal. O que otimiza o polegar é um cartaz escrito com o destino: comunicação direta do viajante com os motoristas e carona certa. O tipo de carona para os mais corajosos e aventureiros, que contam com a sorte e com a fé, caminham no otimismo, acreditam no ser humano e cultivam a paciência. Entretanto a carona não é desfrute somente de aventureiros destemidos. Pode se tornar alternativa de mobilidade nas grandes cidades, minimizando os estragos causados pela emissão de gases poluentes gerados pelos transportes, além de dimimuir o caos no trânsito, causado pela quantidade de automóveis que trafegam nas grandes cidades. Lendo a possibilidade de crescimento da carona solidária em espaços urbanos, aliando a ela ferramentas da tecnologia da informação, encontrase na web sites de busca, em que viajantes, inclusive de pequenas distâncias, encontram o perfil perfeito para dividirem viagem. Os de maior saída são os universitários, devido seu caráter despojado, relacionável e flexível. A Universidade de Brasília recentemente iniciou um processo de implementação da carona solidária, o que ainda está em processo de desenvolvimento. A carona é a atitude que, independente de sua natureza, combinada ou de surpresa, desenvolve sentimentos de solidariedade, paciência e perseverança nos agentes envolvidos. É um exercício de relacionamento, de contato e de confronto com o novo e com o outro. É a experiência da diversidade na mobilidade. Pegar ou dar carona estabelece vínculos e desprendimentos que agregam valor e boas histórias a seus atores. E é sempre levar na mochila boas intenções e sentimentos, porque “se queres achar amizade, doçura e poesia em qualquer parte, leva-as contigo”, porque “Viver é desenhar sem borracha” e “Deus iscrévi sértu... mais eu não!”

Indico aos interessados em pegar estrada o fórum “Como viajar de caronas pelas estradas do Brasil”, no link http://www.mochileiros.com/comoviajar-de-carona-pelas-estradas-do-brasil-t28890. html. Emaranhado completo de boas dicas e condutas que um caroneiro precisa reunir.

De 1 (ato de transportar alguém em veículo) Alemão: Autostop (de), Mitfahrgelegenheit (de), Trampen (de) Dinamarquês: lift (da), kørelejlighed (da) Finlandês: kyyditä (fi) Holandês/Neerlandês: lift (nl) Inglês: lift (en), hitch-hike (en) Italiano: passaggio (it) m. De 2 (pessoa que pega carona) Alemão: Anhalter (de) m. Espanhol: autoestopista (es) Finlandês: peukalokyytiläinen (fi), liftari (fi) Francês: autostoppeur (fr) Holandês/Neerlandês: lifter (nl), liftster (nl) Húngaro: stoppos (hu) Inglês: hitchhiker (en) Sueco: liftare (sv) c. - O MIRACULOSO QUER OUVIR SUA HISTÓRIA DE ESTRADA. Envie para publiquenomiraculo@ gmail.com

PAHL - Plano de Ação de Humanos Livres Areas de Capacitação: Saúde Integral EcoEducação Emancipatória Economia Solidária BioConstrução AgroEcologia Arte, Lazer e Cultura Encontra como aplicar a pedagogia No site : www.ctarvoredavida.com.br Resp. SocioAmbientalCultural

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A CULTURA E O NEGRO por Márcia Maria da Silva, servidora pública e psicóloga.

__________________ “de 167 autores, 120 eram homens – 72,7%, sendo que quando a questão é racial: 93,9% dos autores são brancos” __________________ Nesse aspecto, não é apenas a exclusão de fala desses grupos, mas também o “falar com autoridade”, ou seja o reconhecimento social de que aquele discurso de determinado grupo merece ser ouvido, e portanto tem valor. Regina Dalcastagne (2012) analisou 258 romances brasileiros publicados pelas três editoras mais importantes do país entre 1990 e 2004, e os dados apresentados são preocupantes na medida em que ratificam uma segregação racial e de classe, entre outros. Assim, de 167 autores, 120 eram homens – 72,7%, sendo que quando a questão é racial: 93,9% dos autores são brancos.

No Brasil, o discurso da mídia, da cultura e instituições educacionais não representa a história vivida dos negros. A ausência de representantes das classes populares, entre elas os negros, na narrativa brasileira contemporânea é fato, assim como estão sub-representadas no Congresso Nacional e na política como um todo, na mídia e no ambiente acadêmico. A produção do discurso no país ocorre de maneira controlada, selecionada, organizada e redistribuída de forma a manter a dominação de uma classe sobre a outra. Segundo Pierre Bordieu entre as censuras mais eficazes e mais bem dissimuladas, estão aquelas que consistem em excluir a fala de determinados grupos.

Desses autores mais de 60% vivem no circuito Rio de Janeiro e São Paulo e quase todos estão em profissões que abarcam espaços já privilegiados de produção do discurso,ou seja, os meios jornalísticos e acadêmicos. Os personagens em sua maioria são brancos, do sexo masculino das classes médias. Os outros grupos estão representados da seguinte maneira: as mulheres brancas aparecem como donas de casa, pois são personagens que não ocupam os espaços urbanos; as negras como empregadas domésticas ou protistutas; os homens negros, como bandidos. De acordo com a autora as pesquisas foram realizadas pelos alunos de graduação e pós-graduação da Universidade de Brasília – UNB. As classes minoritárias não se vêem representadas na maioria das narrativas que estão colocadas ou postas na sociedade, pois homens e

mulheres, negros e brancos, patrões e empregados, velhos e jovens, moradores do campo e das cidades, homossexuais e heterossexuais vão ver e sentir mundo a partir de perspectivas diferenciadas. Assim, nesse mundo de dominação branca os negros encontram dificuldades na elaboração do seu esquema corporal e mental gerando um sentimento de inexistência e não pertencimento. Os negros às vezes tentam “ser” para a sociedade, que corta seu entusiasmo e exige seu confinamento. O que prevalece? o negro eternamente visto como escravo. (FANON, 2008) Assim, está claro que se faz necessário criar uma cultura que contemple o negro e todas as minorias, pois os possíveis danos psíquicos do racismo advêm dessa cultura alienante ora vigente no Brasil. O leitor de alguma maneira busca na literatura, assim como em outros espaços midiáticos, conectarse a outras experiências de vida, ou encontrar alguém como ele. O que ocorre no Brasil é um genocídio da historia vivida dos negros que imersos em uma cultura onde são invisíveis perdem a legitimação de suas identidades, pois o que garante a certeza subjetiva do “eu sou”, provém da capacidade de identificação a uma imagem. O que garante “ser”, para um sujeito é sua visibilidade para outro sujeito. Exposto, recontar as histórias no Brasil de um ponto de vista não racista e não sexista é um trabalho que exigirá esforços de sociólogos, antropólogos, educadores, psicólogos, indivíduos negros e brancos comprometidos com um projeto de sociedade plenamente democrática, onde as pessoas possam ter direitos iguais, “Desperto um dia em um mundo onde as coisas machucam; um mundo onde exige que eu lute; um mundo onde sempre estão em jogo o aniquilamento ou a vitória (FANON, 2008, pg. 189)”.

NOITES MORTAS - Uma noite dedicada “a Indesejada das gentes” Enterro de gente viva, desfile de gente morta, suicídio ao vivo, poemas aos mortos. Estas são algumas das peripécias que têm acontecido no evento NOITES MORTAS. Uma noite de performance, poesia e música, realizada no Café Senhoritas desde o mês de julho. A ideia partiu de uma conversa entre a cabeça pirada de Hilan Bensusan, professor do Departamento de Filosofia da UnB, e a mente radioativa de Renato Fino, escritor e proprietário do Café Senhoritas. Numa tarde quente do mês de maio (fu)deu-se um encontro entre os dois e rolou o seguinte diálogo: - Finiiiiiinho, e aí, o que você anda escrevendo? - Ando escrevendo sobre a morte... - Juuuuura?....eu também!....olha aqui o meu testamento que escrevi... - Lindo!...que sintonia!...e porque estamos escrevendo sobre a morte? - Ah, sei lá!...são os tempos...acho que é porque o mundo ia acabar e não acabou... NOITES MORTAS, em suas três edições, já contou com performances de Anna Prado, Carol Barreiro, Hilan Bensusan, Patrícia Colmenero, Raoni Vieira e Felipe Shuman, além de participações especiais de BsBLork - Orquestra de Laptops, Guilherme Cobelo, Tiago Moria, Ivanildo Garrincha e Caçari, mostrando seu trabalho musical autoral. Há espaço ilimitado para a poesia, como sempre fez Renato Fino e outros escritores, recitando seus poemas. Mortos, vivos, mortos-vivos, zumbis, cristãos, anti-cristãos e ateus, estão todos convidados para o encontro com o príncipe da matéria.

Em breve, notícias do próximo NOITES MORTAS. Quando você menos esperar, notícias súbitas como a morte. No Senhoritas Café - 408, Asa Norte.


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Semana Nacional de Mobilização Indígena agita a Esplanada dos Ministérios Por Luana Luizy

Contra a ofensiva do agronegócio e de outros setores historicamente privilegiados, como empreiteiras, mineradoras, indústria de turismo e o capital imobiliário, cerca de 1,5 mil indígenas, além de quilombolas tomaram a Esplanada dos Ministérios, em Brasília entre os dias 1° a 5 de outubro, na Semana Nacional de Mobilização Indígena. A semana teve como principal pauta a revogação de todos os dispositivos governamentais que infringem e colocam em risco os direitos indígenas e dos povos tradicionais assegurados pela Constituição Cidadã de 1988, que completa 25 anos, em 2013. Um dos dispositivos governamentais que os indígenas pedem é a revogação da Portaria 303, norma que estende a todas as terras indígenas do país as condicionantes definidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento da demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em 2009. “Não vamos assistir que roubem nossos territórios e ficar de braços cruzados. Deviam mudar o nome da Casa do Senado para Casa do Agronegócio”, critica Sônia Guajajara da Articulação Nacional dos Povos Indígenas (Apib). Além da Portaria, indígenas e quilombolas também pedem a revogação da PEC 215 que transfere a competência de demarcação das terras indígenas, quilombolas e das populações tradicionais do poder Executivo para o Congresso Nacional. Tal medida pretende esvaziar a Fundação Nacional do Índio

(Funai), o Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra) e Instituto do Meio Ambiente (ICmbio) além de paralisar as demarcações, expropriar os territórios já demarcados dos indígenas, quilombolas e populações tradicionais e unidades de conservação. A mobilização também reivindicava a revogação do Projeto de Lei Complementar ao artigo 231 da Constituição Federal. O PLP 227 visa ditar as atividades que compõe o relevante interesse público da União de forma a legitimar a expropriação dos territórios indígenas, quilombolas e das populações tradicionais através da implantação de hidrelétricas, rodovias, mineração e atividades de agronegócio. “Pedimos o arquivamento de todas as medidas, pois são anti-indígenas, impedem a demarcação”, reitera Sonia Guajajara. O Brasil atualmente vive sob a égide de uma economia agroexportadora e primária. A soja hoje é o setor que tem mais influência no agronegócio nacional e nas exportações. “Todo mundo escuta que o Mato Grosso é campeão de plantação de soja, mas dentro do estado há 42 povos indígenas. Aquela linda área verde chamada Amazônia está sendo desmatada. Nós, povos indígenas viemos em 1988 construir a Constituição Cidadã e voltamos agora após 25 anos, pois a nossa presidenta Dilma não está cumprindo seu papel, mas sim sendo omissa e covarde”, afirma Jurandir Xavante.

O governo de Dilma Rousseff tem sido o que menos tem homologado terras indígenas- a homologação é uma das etapas do processo de demarcação- ao todo neste mandato de Dilma foram 10; posto que no governo de José Sarney, 67; Fernando Collor de Mello 112; Fernando Henrique Cardoso, 145 e Luiz Inácio Lula da Silva, 79. Segundo dados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). O que reflete a conivência de Dilma ao agronegócio, especialmente a bancada ruralista no Congresso Nacional, que pouco fez no que diz respeito a regularização. A omissão do governo federal se reflete no número de acampamentos indígenas espalhados pelo país, onde crianças e adultos estão sujeitas atropelamentos. Situação alarmante também no Mato Grosso do Sul, um dos maiores produtores de cana-de-açúcar e soja, a política desenvolvimentista reflete o descaso com os povos tradicionais e no acirramento de conflitos territoriais. Só neste estado foram 37 assassinatos contra povos indígenas registrados pelo Cimi, em 2012. Grande maioria contra o povo Guarani Kaiowá “Penso que nós e o homem branco devemos viver em paz. E deixar esse negócio de guerra entre a gente para o passado, mas estou preocupado com o comportamento que o homem branco está tendo em cima da gente. Como vão viver nossas próximas gerações?”, questiona o cacique Raony Kayapó.

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Todas as edições do Miraculoso:

1ª edição. Tema: Mulher. Data de Publicação: março 2010.

6ª edição. Tema: Então é Natal. Data da publicação: dezembro de 2010.

2ª edição. 3ª edição. Tema: Brasília 50 anos de quê? Tema: Trabalhadores. Data de Publicação: abril 2010. Data da publicação: maio 2010.

7ª edição. Tema: Uma boa ideia. Data da publicação: abril 2011.

8ª edição. Tema: Educação. Data da publicação: junho 2011.

4ª edição. Tema: Festa Junina. Data da publicação: junho 2010.

5ª edição. Tema: Eleições. Data da publicação: outubro/ novembro 2010.

9ª edição Tema: Invisibilidade. Data da publicação: Setembro de 2012.

10ª edição. Tema: Transportes. Data da publicação: outubro 2013.

Editor: Diogo Ramalho (MTB 9178);

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