MIRACULOSO7

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O MIRACULOSO 1

uma boa idéia 51


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Depois de algum tempo sem circular, e mais uma vez mostrando que ainda tem fôlego, a 7ª edição do jornal O Miraculoso traz boas idéias e comemora os 51 anos da nossa menina Brasília, já tão cheia de histórias pra contar e muito ainda por construir. Além do aniversário de Brasília, O Miraculoso 7 celebra um ano de seu nascimento. E com 7 edições cabalísticas, a equipe miraculosa mostra sua garra e sua presença na cidade e demonstra que veio para ficar, apesar das tantas adversidades e contrariedades. Sendo a primeira edição de 2011, vamos trabalhar miraculosamente para que 2012 seja bem preparado, no projeto de caminhar junto com os candangos de cada dia, que construímos Brasília todos os dias, e seguirmos como canal alternativo brasiliense. De edição em edição os passos da grande viagem são trilhados na busca do MIRACULOSO. Nos vemos na estrada!!!

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meio ambiente

OS CARROS FECHAM AS RUAS, 3 NÓS AS ENCHEMOS DE ALEGRIA

distrito federal MANIFESTO BICICLETADA Muito já foi dito sobre a tragédia de Porto Alegre, mas gostaríamos de chamar atenção nesse texto para algumas das reações a esse evento que marcou a todos nós, entusiastas das bicicletas. A maioria delas nos causou espanto, tristeza e mesmo indignação. São falas que misturam conformismo, conservadorismo, preconceito e paranóia. E que acabam por reproduzir uma visão equivocada da Bicicletada e até mesmo das pessoas que utilizam bicicletas como meio de locomoção.Muitos comentários fazem referência ao direito de ir e vir dos motoristas, que supostamente seria afetado pelas manifestações da Bicicletada. Antes de mais nada: achamos uma pena essas pessoas não se levantarem com a mesma veemência pelo direito de ir e vir de ciclistas e pedestres, que é ameaçado TODOS OS DIAS. Fariam muito mais diferença.å Sim, porque a circulação de automóveis já tem ao seu lado montadoras, empreiteiras, governo, publicidade. A garantia dos direitos dos não-motorizados conta em sua defesa apenas com o legítimo poder de reivindicação dos cidadãos. O raciocínio se estende para as críticas ao ?método? da Bicicletada. Lemos várias falas condenando o fato de a Bicicletada ?fechar? vias (coisa que só fazemos de forma localizada e durante um certo tempo, diga-se de passagem). Outra vez: adorariamos vermos essas pessoas se manifestando com a mesma veemência contra o fechamento completo e DIÁRIO, pelo menos DUAS VEZES POR DIA, das principais vias da cidade por automóveis. A bicicleta é um veículo, e como tal não precisa pedir autorização da polícia ou quem quer que seja para transitar. Pelo contrário: seu uso devia ser não autorizado, mas estimulado pelo poder público como al-

ternativa eficaz para enfrentar a degradação dos centros urbanos, como forma de democratizar e humanizar as cidades. Aliás, quem critica o fato de a Bicicleta ?fechar? vias precisa antes de tudo superar a mentalidade de que rua é lugar só de tráfego. A rua não é só lugar de tráfego, mas também de encontro e de manifestação. A massificação do automóvel acabou com as cidades, que nasceram para facilitar os encontros e trocas entre as pessoas. Ironicamente, o automóvel mostrou-se excelente para criar distâncias. Nas cidades modernas as pessoas já não se encontram mais nas praças e em outros lugares públicos. Por isso quem quer se manifestar hoje, se quiser ter visibilidade, tem mais do que nunca que ir para a rua. E isso é absolutamente legítimo, ainda mais quando se trata de uma manifestação pelo respeito daqueles

A Bicicleta é espaço de visibilidade, encontro e festa. Iniciativa horizontal, sem líderes e aberta a tod@s. A cada mês, geralmente a última sexta-feira, no meio das buzinas e da fumaça, esta celebração permite troca de idéias, articulação de projetos e ação direta em busca de uma cidade melhor, onde tod@s tenham direito de ir e vir com tranqüilidade.


4 que também fazem parte do trânsito. Vimos belas palavras sobre viver em sociedade. Sobre direitos e deveres que todos temos. Sobre a necessidade de seguir regras. Concordamos com tudo isso. Mas viver em sociedade não é só isso. A civilidade não brota das leis. Antes o contrário... Viver em sociedade é antes de tudo saber que não somos indivíduos isolados, mas compartilhamos de vantagens e problemas em comum. É antes de tudo não enxergar só o próprio umbigo, mas ser capaz de olhar para o que está no seu entorno e compreender que somos corresponsáveis pela ?saúde? desse ?ecossistema?. Cidadania e civilidade é isso, e isso vale mais do que qualquer lei. As leis inclusive têm que ser refeitas e se for o caso desobedecidas se atentarem contra isso.

Sabemos que a cultura da bicicleta que existe em alguns países ?não foi um presente dos poderes constituídos, foi uma batalha ganha com muitos esforços e de muitos?. Nada mais verdadeiro. A Holanda, por exemplo, hoje sempre citada como paraíso pra qualquer ciclista, só chegou ao que é porque muitos ?bicicleteiros? ousaram nos anos 60 criar intervenções urbanas em favor da massificação das bicicletas. Quem não conhece, pode procurar saber o que foi o movimento ‘Provos’. Mas claro, as pessoas de mente tacanha e colonizada vão dizer- como repetem que nem papagaio nesse país há mais de 500 anos - que coisas assim não podem nunca dar certo no Brasil. Como se o Brasil fosse do jeito que é por obra (ou praga) divina, e não por conta de nossas escolhas e nossas iniciativas enquanto cidadãos. Como se faltasse aos brasileiros energia, criatividade, inteligência, capacidade de fazer diferente.Sem falar do preconceito de achar que um grupo de ciclistas com uma forma diferente de

organização significaria algo como uma ? turba sem controle?. A Bicicletada possui uma organização sim. Mas é uma organização horizontal, que respeita a diversidade e decide coletivamente. Não precisamos de líderes ordenando o que temos que fazer. Não precisamos oprimir alguém que comete um erro durante as bicicletadas. Não precisamos de uniformidade forçada nem disciplina militaresca. Mulheres e homens, novatos ou veteranos, com capacete ou sem capacete, são tratados da mesma forma e têm o mesmo peso na nossa ?coincidência organizada?. E somos tão coesos e sintonizados que quando uma Bicicletada/Massa Crítica sofre um atentado como o que aconteceu em Porto Alegre, grupos de outras cidades e até de outros países repudiam publicamente e se manifestam em solidariedade. Nossos umbigos são internacionais e se conectam a vários outros umbigos por aí. Pior que isso, só a apologia à selvageria. Não conseguimos acreditar quando lemos várias pessoas defendendo a atitude do psicopata que tentou acabar com a vida de dezenas de ciclistas. Dizendo que os ciclistas ?deram motivo?. É como dizer que uma mulher é culpada por seu estupro por estar usando uma determinada roupa. ?Ridículo e acintoso. Um desrespeito às pessoas que por pouco escaparam da morte naquela rua. Que poderiam ser qualquer um de vocês, seus filhos, esposas, amigos. Uma lógica cruel que transforma vítimas em algozes. Convidamos a todos/as que forem contra a barbárie motorizada e a favor da vida, contra o indivualismo e agressividade dos automóveis e a favor da gentileza, sustentabilidade e diversão das bicicletas a se juntar à Bicicletada Brasília toda última sexta do mês, a partir das 18h30, na Praça das Bicicletas, ao lado do Museu Nacional. Continuaremos nas ruas, agora mais do que nunca. Quem quiser que duvide: estamos fazendo história.

A Bicicleta é espaço de visibilidade, encontro e festa. Iniciativa horizontal, sem líderes e aberta a tod@s. A cada mês, geralmente a última sexta-feira, no meio das buzinas e da fumaça, esta celebração permite troca de idéias, articulação de projetos e ação direta em busca de uma cidade melhor, onde tod@s tenham direito de ir e vir com tranqüilidade.


5 por Solano Teodoro

COLUNA POLÍTICA

51 anos uma boa idéia! Quinquagésimo primeiro aniversário de Brasília e novamente (a exemplo do ano passado) a Capital Federal é temário principal do Miraculoso: 51, uma boa idéia. Hoje com praticamente com 2,5 milhões de habitantes, o que não foi a idéia dos construtores de outrora é, sim, uma ótima idéia pra brasileiros de todas as regiões que fazem de Brasília seu lar. Os construtores do Século XXI exultantes com a crescente demanda por moradia pouco se importam se a capital, planejada em 1960 para abrigar 500 mil pessoas tem hoje cinco vezes mais. Constroem incessantemente novos setores, novas cidades e promovem o surgimento de prédios de até dezenove andares em cidades onde até então mal se viam sobrados.

Passado meio século de vida, não há como retroceder, as pessoas precisam de moradia com dignidade e precisam de emprego na Capital do País. Água, energia elétrica, saneamento, transporte público, vias pavimentadas, vagas de estacionamento, hospitais e escolas, estão todos sucateados e decrépitos, isso quando existem, além de anos sem investimento estatal. A tragédia ocorrida dia 10 de abril na UnB é prova disso, trata-se de um prejuízo que sequer deveria ser calculado em termos monetários, ou alguém acha que décadas de pesquisa e estudos nas mais diversas áreas são mensuráveis em dólares ou reais? Trata-se de um patrimônio imaterial que agora está perdido. Estudos do Plano Diretor de Drenagem Urbana de 2009, já identificavam problemas na rede de drenagem pluvial próxima à UnB, por que nada foi feito? Culpar os antecessores não resolve o problema, está claro pra todos que o Governo Arruda estava mais preocupado com desvios e atividades escusas, não à toa a população foi às ruas.

O atual governo que se diz “dos trabalhadores” e já começou arrochando e descumprindo compromissos de campanha com todas as categorias, de professores a policiais, tem muito que fazer, além da Não em vão matéria de janeiro de 2011 da Revista National Ge- obrigação tácita de tratar os trabalhadores com a devida dignidade, ographic chama de Ficção Urbana a cidade satélite de Águas Claras, tem que investir em saneamento, saúde e buscar formas de gerar cidade sem escolas públicas, sem biblioteca pública, sem hospitais e emprego e renda à todos os desempregados, que não encontrando postos de saúde públicos que se ergue para abrir a uma classe média ocupação, buscam, muitas vezes, refúgio nas drogas e na criminalique a exemplo de dos demais moradores de Brasília está em busca de dade. moradia, a construção de Águas Claras, segundo a citada matéria é 51, a exemplo da popular e inspiradora cachaça pode, sim, ser comparável ao de Dubai. uma boa idéia, mas pode também causar sérias dores de cabeça!


6 Por Allan Pimentel, Maria Pessoa e Camila Valadares

ECONOMIA SOLIDÁRIA

A

necessidade de trabalhar em conjunto surgiu desde os primórdios. Índios e quilombolas fazem isso há séculos. Com a Revolução Francesa e o avanço tecnológico, começou a exclusão dos trabalhadores. Para enfrentar esse processo, grupos de operários em todo o mundo, desde os anos de 1980, tem utilizado a Economia Solidária para sobreviver dentro do sistema capitalista excludente. Esse é o entendimento de Paulo de Morais, integrante da Cooperativa Central do Cerrado e da Cáritas Brasileira, Organização Não Governamental da Igreja Católica. Na entrevista ao Jornal O MIRACULOSO, ele fala do processo de implantação e desenvolvimento desta nova forma de economia. Paulo é, também, importante liderança do Fórum de Economia Solidária do Distrito Federal e Entorno.

Como surgiu a Economia Solidária no mundo? A necessidade de trabalhar em conjunto existe desde os primórdios, a exemplo dos índios e quilombolas, que já se organizavam em grupos. A Economia Solidária surge da necessidade dos trabalhadores também se organizarem de forma coletiva, a partir da

Revolução Francesa, e dos avanços tecnológicos, que provocaram a exclusão de grande parte dos operários do mercado trabalho. Assim, eles começam a formar grupos para a geração de emprego e renda, buscando sobreviver a partir de seus próprios saberes e do enfrentamento das dificuldades através da união. A partir do movimento cooperativo iniciado em 1956, em Mondragon, na Espanha, surgem as cooperativas e associações dos trabalhadores, primeiro no meio urbano, e depois, no rural. No Brasil, essa nova forma de economia se difunde basicamente por volta de 1980, com a abertura de cooperativas e associações, sendo conhecida como Economia Popular e mais tarde, passando a ser chamada de Economia Solidária. Em 2003 surge o Fórum Brasileiro de Economia Solidária e com ele, a iniciativa de enviar uma Carta de Intenções ao Governo Lula, para o direcionamento das ações de Economia Solidária enquanto Programa de Governo.

Cite um teórico importante na área.

Cresce o movimento pelo trabalho coletivo, que utiliza os saberes pessoais dos trabalhadores para a superação de necessidades e enfrentamento das injustiças do capitalismo. Há muitos pensadores importantes na área. Alguns autores descrevem as ações dos trabalhadores, enquanto outros começam a dimensionar essas ações enquanto projeto político para a sociedade. No Brasil, uma importante referência é o Secretário de Economia Solidária, Paul Singer. Ele escreveu diversos livros, no sentido de sistematizar essas ações enquanto Secretaria Nacional de Economia Solidária e enquanto Movimento de Economia Solidária. Moacir Gadotti, da área de educação, também é outro teórico brasileiro importante; ele publicou em 2007 o livro: “Educar para Outro Mundo Possível”, lançando um olhar pedagógico sobre o Fórum Social Mundial - FSM.

Por que a Economia Solidária é uma boa ideia? Porque ela preza por um Projeto de Desenvolvimento Econômico Solidário e Coletivo, trazendo a base da pirâmide: econô-


mica, social e ambiental. Economicamente, é direcionada para o coletivo, pensando em todos os aspectos e todos segmentos, sejam eles os mais abastados, como boa parte dos negros, quilombolas e ribeirinhos, bem como as comunidades, sejam elas urbanas ou rurais, e também todas as classes sociais. Ambientalmente, propicia ao ser humano se perceber como responsável pelo local onde vive, vislumbrando melhorias para seus espaços e para o meio comunitário. Socialmente, conduz à organização política das pessoas e principalmente, de mulheres, no sentido de serem protagonistas de seus espaços, ou seja, vivenciando o trabalho num coletivo. Especialmente no plano econômico, leva à superação, no sentido do uso e compartilhamento de saberes pessoais e coletivos diante das necessidades comunitárias. Dessa forma, o grupo pode, acima de tudo, produzir; consumir e propor espaços para a introdução de outras formas de consumo sustentável em seu próprio meio e para além dele. A Economia Solidária traz essa ideia de um projeto coletivo, solidário e justo para a sociedade.

Como foi introduzida a Economia Solidária em Brasília? Com a formação da Secretaria Nacional de Economia Solidária, em 2003, logo em seguida, o próprio Fórum Brasileiro de Economia Solidária veio a se formar. Em 29 de maio de 2003, o Fórum Brasileiro fez uma reunião com mais de quatrocentas pessoas, ensaiando a difusão do movimento para todo o Brasil. No Distrito Federal, começou com a junção de várias associações, Organizações Não Governamentais e pessoas interessadas no tema, formando o Fórum de Economia Solidária do Distrito Federal e Entorno.

7 Agora ele vem organizando tanto as associações, como cooperativas e políticas públicas de economia solidária para Brasília. Esse foi o marco em que começou a Economia Solidária local, com a parte mais orgânica e com o instrumento deliberativo, que é o Fórum.

Como é o funcionamento do Fórum de Economia Solidária do Distrito Federal e Entorno? O Fórum é como um catalizador de ações, sobretudo, um propulsor de ideias, onde todos se reúnem. O Fórum é formado por três segmentos: os empreendimentos, onde estão as associações e cooperativas; os gestores públicos; e as assessorias. Os empreendimentos são aqueles que fazem as ações diretas na base, que produzem, consomem e também podem propor políticas públicas. Os gestores são aqueles que se organizam no Estado, para que os empreendimentos e a sociedade absorvam essas políticas públicas. As assessorias podem trazer tanto a parte organizacional da formação técnica e política como ajudar a organizar os empreendimentos dentro das suas necessidades, de forma que possam dar sua contribuição à sociedade através de seus produtos. É importante que esses grupos participem enquanto conjunto, e o Fórum traz esse aspecto de propor políticas públicas, dimensionando-as nos campos econômico, ambiental e social. Para a sociedade, é importante ter um instrumento, onde dialogamos a Economia Solidária, fazendo com que as necessidades de todas as bases, dos empreendimentos, gestores ou assessorias, sejam discutidas.

Quais são as principais experiências de Economia Solidária em Brasília? Nós podemos citar as ações, como as de um Projeto chamado Rede de Empreendimentos de Economia Solidária, que é gestado pela Cáritas, que consegue organizar os empreendimentos em sua base, a partir de doações feitas pela Receita. Dessa forma, os grupos são organizados nos seus espaços, onde podem desenvolver tanto a geração de renda, como a parte organizativa e gestacional, com a recepção de produtos e a comercialização. Então, pode haver a inserção de recursos nos empreendimentos, sejam eles para formação ou para a compra direta no investimento. Temos ações de outros projetos, como as do Centro de Formação em Economia Solidária – CFES, que traz a parte da formativa do que é a Economia Solidária, para os formadores, para que sejam propulsores dessa forma de Economia em seus espaços. Há um mapeamento de Economia Solidária, que identifica empreendimentos para que eles possam propor mais políticas públicas. Há outras ações da Incubadora Social da Universidade de Brasília - UnB, que ajuda na assessoria dos empreendimentos, bem como na ajuda mútua entre eles.

Paulo, O MIRACULOSO agradece a sua participação na nossa 7ª Edição. Eu é que agradeço a oportunidade de divulgar a Economia Solidária como uma nova economia, visando a construção de um mundo melhor.


Violência na escola do Rio de Janeiro A sociedade é responsável ! No dia 07 de abril (quinta-feira) o Brasil presenciou um ato de violência contra crianças, o caso de Realengo no Rio de Janeiro, onde um jovem de 23 anos, entrou armado em uma escola municipal e efetuou vários disparos contra crianças, deixando 12 mortas e 12 feridas. O caso reacendeu a discussão de vários temas, dentre eles a questão do armamento e da segurança nas escolas. Porém fator que é pouco, ou nada discutido, é o de que o ocorrido não é uma coisa particular do jovem que cometeu o crime. Ao contrário do que muitas pessoas, inclusive autoridades do governo, afirmaram, ele não era um monstro, ele era um ser humano, se ele era um monstro a sociedade também o é, pois ele é um “sintoma” de uma “doença” da sociedade, doença essa chamada individualismo/egoísmo, provocada pelo sistema capitalista/neoliberal no qual vivemos, o qual afirma que qualquer pessoa pode ser o que desejar (ser modelo, presidente, em-

presário, etc.), basta apenas querer, o que não ocorre de fato, pois as circunstâncias sociais, culturais, econômicas, dentre outras, influenciam no que cada pessoa é e será. Essa vaga ilusão é vendida constantemente a todos e todas, em particular aos e as jovens adolescentes e isso colabora para a construção de um sujeito frustrado, que se decepciona com tudo e todos e que por causa dessa decepção, por ter fracassado, pode vir a cometer crimes iguais a este. Nosso modelo de sociedade está fracassado e não é por causa de falta de punições para os crimes, um exemplo disso é os Estados Unidos da América (EUA), “país modelo de democracia”, onde as leis são extremamente rígidas e o índice de criminalidade e ocorrência de crimes como o cometido no Rio é altíssimo. Esse fracasso ocorre porque não estamos preocupados e preocupadas com o outro, com o fato de haver tanta desigualdade social e, principalmente, com o ensino e mentalidade que

está sendo passado para nossas crianças, se é um ensino (não apenas do ponto de vista da escola, mas de todas as instâncias da sociedade, inclusive familiar) que (re)produz esse modelo individualista e egoísta ou um modelo que colabora para a construção de uma sociedade mais justa e menos desigual. Caro leitor e cara leitora, o fato ocorrido no Rio de Janeiro deve nos fazer (re)pensar a sociedade, como estamos atuando, se estamos (re)produzindo esse modelo individualista de sociedade, o qual faz com que cada pessoa se preocupe apenas consigo própria, pouco importando o que leva uma pessoa a cometer um crime destes e acreditando que isso é um problema do governo, o que não é, esse é um problema meu e seu, é nosso.

A PIOR DEFESA DO PATRIMÔNIO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA

pela iniciativa do Deputado Chico Vigilante, em 4

Jardel Santana, estudante de Psicologia e pesquisador de Direitos Humanos.

de abril de 2011. Essa é uma rara iniciativa, mas que denunciou o poder, em Brasília, da corrupção imobiliária, que não se detém diante de nada, nem da desfiguração do Conjunto Urbanístico de Brasília. A corrupção do solo, do uso do solo, para as finalidades dos negócios de um círculo de

O atual Superintendente Regional (Brasília) do

Brasília – que, infelizmente, é reduzida ao Plano

privilegiados, envolve poderosos urbanistas, po-

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artís-

Piloto, aos Cruzeiros, à Octogonal.

derosos políticos, poderosos representantes da

tico Nacional, deve ceder seu importante papel a outro(a) pessoa que seja capaz de fazer o papel

O episódio da tentativa de expansão do Setor Su-

própria República do Brasil.

doeste sobre o Eixo Monumental é a mais recente

Será mesmo um Miraculoso Milagre para tirar essa

e clamorosa demonstração de que a direção lo-

turma do poder, ainda mais na miserável conjun-

cal do IPHAN deve mudar, com urgência: o repre-

tura moral e política que é o governo Agnelo, que

sentante do IPHAN declarou que essa operação

se comporta como uma renovação do pior que ha-

Esse papel público implica numa atitude ativa, de

imobiliária era “totalmente normal”, como se

via no comando de Brasília.

educação patrimonial, de atuação preventiva, de

o IPHAN não passasse de uma instância dos Car-

esclarecimento continuado de nosso empresaria-

tórios de Registro Civil, e não uma instância de

do imobiliário e de nossos políticos de Pandora.

inteligência cultural, responsável pela defesa de

O IPHAN é instância que é OBRIGATORIAMENTE

nosso patrimônio material e imaterial.

que se espera dessa instância pública: zelar pelo patrimônio urbanístico de Brasília, por seu título de Patrimônio Cultural da Humanidade.

ouvida em todos os planos e em todas as ações públicas de construção, de revitalização, de melhoria (ou de “pioria”) urbana que acontece em

A discussão da tentativa de expansão do Setor Sudoeste foi promovida pela Câmara Legislativa,

Fora com o Tabelião do IPHAN! Fora com os Urbanistas do Fim de Brasília!

Prof. FREDERICO FLÓSCULO PINHEIRO BARRETO, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB


O FALSO INÍCIO DO GOVERNO AGNELO QUEIRÓZ

Frederico Flósculo Pinheiro Barreto, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB

O Governo Agnelo mal começou, e já se mostra venal, oportunista, fraco diante das pressões dos especuladores e do grande círculo da corrupção de Brasília. Agnelo pensa que é muito esperto, e acha que terá um governo “fácil”, na medida em que fez alianças com praticamente todo o espectro político do Distrito Federal – até com Rorizistas e ex-Rorizistas. Talvez queira repetir Roriz, um político da velha escola, que usava a máquina estatal com habilidade, crescendo a partir de seu uso para o assistencialismo e eleitoralismo. Roriz tomou conta de Brasília por 18 anos (19882006), de porteira fechada - se não contarmos sua direta descendência e genética no Gover-

no Arruda, sua traíra cria, seu primogênito político. Roriz envolveu todo o espectro político do Distrito Federal em sua rede de influência, e Agnelo tem os olhos na velha raposa.

Roberto Arruda fosse Governador do DF e anunciasse algo assim, com um Paulo Octávio sentadinho a seu lado. Seria triturado pela Opinião Pública.

Somente a mídia nacional e os setores capazes de pensamento e investigação autônoma e independente de nossa República (o Ministério Público Federal e a Polícia Federal) foram capazes de denunciar seu destrutivo padrão ético de ação política. Não fosse o Brasil, Roriz jamais cairia em Brasília. Brasília inteira foi (facilmente) desvirtuada e grilada ao longo da Era Roriz, e não há como voltar atrás.

O que um empresário multi-imobiliário como o Sr. Paulo Octávio deve, forçosamente, concluir: é muito melhor estar “de fora” de um governo fraco, tíbio, oportunista, como o de Agnelo Queiróz, do que “dentro” dele. Paulo Octávio e outros empresários terão, agora, público acesso a oportunidades que não teriam num Governo Arruda. Agora o Setor Noroeste, dedicado às pessoas que podem pagar um ou dois MILHÕES de reais a apartamentos medíocres, decolará, de vez.

Não dou vivas a essas autoridades e funcionários e colegas locais, que participam de um escandaloso processo de depredação dos espaços do Distrito Federal, de grilagem de seu território, de arrasamento de suas nascentes, de sua água pura, que desaparece. Essas poderosas autoridades locais fazem parte dos piores problemas já surgidos na História de Brasília. Nada que não possa piorar ainda mais, não sou otimista diante do que vejo. Os especuladores imobiliários não param de assediar o Governo do DF, sempre com sucesso. Neste mês de março de 2011, Agnelo anunciou um pacote de quase MEIO BILHÃO de reais para auxiliar as ingênuas construtoras de Brasília. Imaginem se José

As prioridades do Governo Agnelo se tornam cada vez mais claras: ele parece repetir as manobras insensatas da turma dos Aloprados do PT do Zé-Direceu, que pensa que ceder tudo o que os especuladores desejam é “bom para a GOVERNABILIDADE”. O problema dessa conduta é que ela é um beco-sem-saída, que só piora com o tempo. Em tempo recorde, o esperto Agnelo deve aprender como o ambiente, a ordem urbana, as expectativas políticas deterioram rápido no pequeno quadrilátero distrital.


ENTREVISTA

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Nicolas Behr

Por André Shalders e Diogo Ramalho

Brasília é bacana demais para o Poder, que não a merece

Miraculoso entrevista Nicolas Behr O Miraculoso conversou com o poeta cuiabano-candango Nicolas Behr. Além da cidade que foi sua musa inspiradora, Nicolas fala sobre meio ambiente, sobre o passado e revela que pretende finalizar a produção de poemas fragmentados sobre a cidade com o livro Ateus Pilotis, no qual está trabalhando. “O que eu queria dizer sobre Brasília dessa forma eu já disse”. O poeta quer partir para vôos mais inteiriços. O Miraculoso – Como você sente esses 51 anos de Brasília?

O Poder não merece Brasília. Eles tratam a cidade apenas como um balcão de negócios. Isso é muito triste. O Miraculoso - O que que você acha que a gente pode esperar para os próximos 50 anos da cidade? Nicolas Behr - Eu tenho uma preocupação muito grande de lembrar para os brasilienses e para os brasileiros o que que Brasília representou para o Brasil na passagem dos anos 1950 para os 1960. Com tanto escândalo, com tanta coisa ruim acontecendo, a gente esquece o que que Brasília simbolizou para o país. Brasília foi a maior realização do povo brasileiro, e inseriu o Brasil na modernidade. Foi um momento muito rico da nossa história, no qual o Brasil deu uma respirada entre a ditadura de Vargas e a ditadura militar. Eu acho que esse espírito de Brasília se perdeu. Esse espírito se burocratizou. Esse espírito ousado, criativo, se diluiu e se perdeu, e nós já temos problemas gravíssimos de cidades de dois mil anos, quando só temos cinquenta.

Nicolas Behr - Bem, em primeiro lugar quero dizer que é um prazer estar aqui com vocês, eu gosto muito do Miraculoso, e já participei várias vezes. Eu acho que Brasília ainda vive os resultados dessa Caixa de Pandora nesses 51 anos. Em certo sentido a cidade é ainda refém desse escândalo, e não vai se livrar disso tão cedo. É muito triste Brasília estar comemorando agora os seus 51 anos ainda com essa nuvem de suspeição, de acusações e de corrupção pairando sobre ela. Alias, Brasília Nós temos vários desafios pela frente, prinvirou uma cidade estigmatizada pelo Poder. cipalmente pelo fato de Brasília ser a cidade

mais desigual do país. Essa desigualdade é um acinte, com uma periferia à explodir. as diferenças sociais aqui são muito radicais, muito visíveis. Esse é um dos desafios, são muitos. É extremamente importante preservar o espírito de Brasília, que representa muito para o brasileiro apesar dele ter se esquecido disso. E por isso eu gostaria muito de que o nosso centro histórico fosse preservado. Eu acho que o lago Paranoá vai começar a secar, e vai ser preciso começar a buscar água da bacia do Corumbá ou do Descoberto. A Bacia do Paranoá vai ser ocupada por casas, pela cidade. As fontes naturais de água do lago são pouco protegidas. Nós temos o Parque Nacional de Brasília, tem o Jardim Botânico, com o Catetinho e a Fazenda Água Limpa, mas isso não é suficiente. Acho que a cidade vai crescer muito, vai virar uma metrópole realmente. Brasília foi criada para ser um centro administrativo e virou um pólo de desenvolvimento, um imã, e é até hoje a eterna capital da esperança. Vamos passar um problema sério com a questão da água, que é o recurso natural mais escasso aqui no planalto central. Vamos ter que buscar água em Goiás, e isso trará alguns problemas ge-


poucos. O Miraculoso - Como o sr. avalia esses cem dias de governo Agnelo?

Nicolas Behr - Eu desejo boa sorte ao Agnelo. Acho que ele ainda não teve condições O Miraculoso - Como era Brasília quando você de incendiar a imaginação popular, por que chegou aqui? o governante, quando chega, tem de dar um baque inicial. Mas acho que Nicolas Behr - Em 1973 braele tá tentando se desfazer Em Brasília tudo é muito oficial, sília era uma cidade bem das teias, das aranhas, das muito chapa branca. Eu tenho uma pequena. E não era uma implicações de tudo isso. teoria teoria de que Brasília só vai cidade arborizada. Quando Eu acho que a cidade comeser uma cidade feliz quando for eu digo cidade, me refiro ça a dar uma respirada agotransferida a capital ao plano piloto, pois fui um ra, mas o choque foi muito garoto de classe média do violento. plano piloto, das quatrocentos, embora já houvessem cidades satélites. O Miraculoso - Como é produzir produzir literatura em Brasília? E era uma cidade muito mais segura, com uma população muito menor. A gente andava Nicolas Behr - Eu sou um escritor não chapapra cima e pra baixo, sem medo nenhum. O -branca. Um escritor não oficial. Em Brasília transporte público funcionava, por incrível tudo é muito oficial, muito chapa branca. Eu que pareça. Eu cheguei aqui em 1974, andei tenho uma teoria teoria de que Brasília só vai doze anos de ônibus, e ia a todos os lugares ser uma cidade feliz quando for transferida dessa forma. Hoje isso é impossível. a capital, por que ela é bonita demais, ela é bacana demais para abrigar o poder, que O nosso sistema de transporte é uma ponta não a merece. Aqui em Brasília há um tendo iceberg do fracasso de Brasília. Eu acho dencia, há uma coisa muito forte do Estado que a nossa cidade em certos aspectos fra- estar sempre querendo cooptar os escritores, cassou. Em outros ela teve sucesso, mas o os artistas. Temos que manter a visão crítica transporte público é uma parte do nosso fra- e não nos deixarmos levar pelo canto de secasso. Brasília foi construída para ser uma ci- reia das benesses oficiais. dade autorama, para ser o show-room da indústria automobilística que Juscelino trouxe (...) para o país, da Ford, da Wolkswagen. Ela foi construída para o carro e vai ser destruída As pessoas me perguntam muito se Brasília pelo carro. tem uma identidade cultural. Acho que ainda é muito cedo pra falar disso, afinal é uma ciA maior ameaça que nós sofremos em Brasília dade de 50 anos. Mas eu tenho uma teoria de é o automóvel: sobre as áreas verdes, sobre que Brasília tem uma ideologia do Não. Não a qualidade de vida. E isso simplesmente não ao poder. Não à burocracia, que na verdade é um problema, não é um assunto relevante. é a mesma coisa, Não à linha reta... Brasília Eu gosto muito dessa questão do automóvel é uma cidade que nasceu para ser transgrespor que ela toca em vários pontos, por exem- sora. Todo esse autoritarismo da setorizaplo na nossa cultura individualista, que diz ção nasceu para ser contestado, e Brasília é que quem anda de ônibus é pobre. E então uma cidade para ser contestada. Tanto que essa consciência individualista do carro está o maior movimento cultural da cidade, que afogando a cidade e matando a cidade aos teve projeção nacional, foi o rock, e um rock

rebelde, um rock punk, não um rock bonitinho. Isso é muito significativo, acho que Brasília é a cidade do Não. O Miraculoso - Como você caracterizaria o olhar da sua poesia sobre a cidade de Brasília?

Minha poesia vê Brasília como uma cidade instigante, um cidade provocativa, que traumatiza a gente, e a minha poesia é fruto desse trauma, eu acho.

opolíticos. A gente vê cotidianamente a destruição de nascentes aqui e as pessoas acham que isso não é nada, não é um problema. Não sei se estou sendo meio catastrofista, mas eu vejo um futuro meio sombrio, especialmente nessa parte ambiental.

Nicolas Behr - A minha poesia queria ter essa simplicidade do desenho de Brasília, essa luminosidade. Eu queria que a minha poesia fosse assim clara, por que Brasília é uma cidade luminosa, uma cidade solar, muito original, muito espacial. Brasília são esses dois eixos se cruzando. Minha poesia vê Brasília como uma cidade instigante, um cidade provocativa, que traumatiza a gente, e a minha poesia é fruto desse trauma, eu acho. Como eu cheguei aqui com 14 anos, o impacto foi muito grande. Eu saí de Mato Grosso, saí do Mato para cair na Maquete. Brasília foi uma coisa muito estranha para mim, para alguém que era moleque de rua lá em Cuiabá, no sentido de roubar manga, pular muro, pescar... e aí chego aqui na 404 numa superquadra, sem árvores, aquela coisa estranhíssima, a maquete. A minha poesia foi uma tentativa de me entender com a cidade, de sobreviver na cidade. Tanto que um dos primeiro poemas que eu fiz foi aquele que diz assim: SQS ou SOS, Eis a Questão. Mas aí eu fui me entendendo com a cidade. Até por que o modelo pode ser melhorado. Nós somos todos cobaias de uma idéia de cidade modernista: aqui se trabalha, aqui se diverte e aqui se vive. Essa é a proposta. O Miraculoso - Quais são os seus planos para o futuro, em relação à produção? Nicolas Behr - Eu escrevi três livros sobre Brasília: Poesília, Braxília Revisitada e Brasilíada, e tá saindo um outro chamado Ateus Pilotis, que é o último livro meu sobre Brasília com esse estilo de poemas. O que eu queria dizer sobre Brasília dessa forma eu já disse.


tudo apreendido. O DOPS abriu um processo ram. Os problemas estão aí, e eu acho que contra mim. Fui julgado e absolvido. é necessário mais atuação. Por que eu acho que foi muito bom esse movimento todo mas Quando eu vou nas escolas, as crianças per- foi uma coisa muito espasmódica, que deveguntam “tio, como era na época da ditadu- ria ter uma continuidade. ra?” eu respondo: naquela época, uma reuAgora vou procurar fazer o roteiro de um fil- nião como essa não seria possível. Se um O Miraculoso - Agradecemos muito a oportume, uma ópera rock, uma outra história, por professor chamasse um poeta para falar com nidade. é uma honra ter você na nossa 7ª edique esse veio esgotou, esse veio de falar de vocês, no dia seguinte ele era era expulso do ção. E pedimos agora as suas considerações Brasília através de poemas fragmentados, es- quadro, ou levava uma suspensão... Digo isso finais. parsos, já me cansou. Eu estou começando a para eles terem uma idéia de como era no plagiar a mim mesmo. A idéia é lançar esse tempo da ditadura. Tem muita gente que diz: Nicolas Behr - Vou fazer minhas consideralivro, o Ateus Pilotis, no ano que vem, ou da- “Ah, no tempo da ditadura que era bom”. ções finais lendo um poema. qui a dois anos, e partir para uma coisa maior Não, era péssimo, era horrível. ou menos fragmentada. Eu participava do movimento estudantil. Es- Os candangos comiam bolinhos O Miraculoso - Como foi a sua juventude aqui? tudava no Setor Leste e fui preso na UnB duas de cimento, mastigavam barro, vezes. E uma coisa interessante é que quando Alguns livros seus trazem um pouco disso. o DOPS levou todo o material do meu quar- bebiam sucos de tinta com Nicolas Behr - Eu tenho o privilégio de per- to, a única coisa que eles não devolveram foi tencer á primeira geração que abraçou Bra- uma faixa escrita “pelas liberdades democrá- argamassa, respiravam poeira, sília. Botou uma camiseta e assumiu Brasí- ticas”. Era uma faixa de pano, que eu fui o cospiam brita, babavam lia como musa, como idéia, como história. E último a enrolar. O cara que me prendeu lá muita coisa boa aconteceu nessa passagem no DOPS foi inclusive o mesmo que prendeu o cascalho, choravam areia, dos 1970 para os 1980. Todo mundo muito jo- Honestino Guimarães. E ele me disse assim: vem, muito disponível, muito afim de fazer as “você teve sorte, por que se fosse à uns cinco urinavam lama, defecavam coisas. Então foi um momento assim mágico, ou seis anos atrás a gente sumia com você”. e tudo isso acabou desaguando no Movimento Então eu fui preso numa época onde já se concreto, Cabeças, que tem até um livro aí. Foi uma falava em abertura, em Figueiredo, etc.

12

página de um livro bom. Descer dos blocos, ocupar a quadra... foi uma coisa muito im- (...) portante para a fixação de Brasília enquanto Eu acho que hoje em dia é preciso mais gente uma cidade de verdade, com gente na rua. com essa disposição de pôr a cara na rua para O Miraculoso - E como foi a relação com a tirar reitor corrupto, governador corrupto. A juventude está sempre com a razão, dizia o ditadura militar? Drummond. Ele dizia que “a razão está semNicolas Behr - Eu fui preso pelo DOPS no dia pre com a mocidade”. O jovem ele não tem 15 de agosto de 1978, por posse de material muita noção do perigo. Ele não tem essa respornográfico. Eles queriam me enquadrar na ponsabilidade do adulto em relação à famílei de segurança nacional como subversivo, lia, emprego, etc. Ele tem muito menos coisa mas não conseguiram por que não acharam lá a perder, digamos assim. em casa o mimeógrafo. Todos os meus livros eram mimeografados. O Mimeógrafo hoje não existe mais, foi substituído pela fotocópia. Todos os manifestos do movimento estudantil da UnB eram mimeografados também. Então eles deduziram: “o Nicolas tá imprimindo os livrinhos dele e tá imprimindo junto os manifestos do movimento estudantil”Aí foram lá em casa, já no fim do governo Geisel, e me levaram, levaram o meu quarto todo, foi

Eu acho que hoje o mercado de trabalho ficou muito mais acirrado. A competição aumentou muito, então a prioridade do cara é conseguir um emprego, terminar o curso... eu vejo essa diferença. Mas eu acho que ainda há muita coisa pra ser feita, muitos muros para serem derrubados. Essa atuação da juventude é uma coisa que a gente queria ver mais até, por que os problemas não acaba-

e transpiravam esperança. Mais unzinho para nós. Enquanto os candangos dormiam, a cidade surgia.

Impulsionada pelo entusiasmo do sonho de construir. Diz a lenda que, em Brasília, os edifícios e os monumentos apareceram como que por encanto, espontâneos, brotando do chão.


13 Retirem as tropas e mandem professores de futebol! Sindicalista haitiano vem ao Brasil denunciar o “jogo sujo” das tropas brasileiras em seu país. mais de sete anos no país, a Minustah é responsável por uma gama de crimes, desde a por André Shalders “mera” repressão à manifestações populares até estupros e roubos. Maria do Rosário disse “As pessoas no Haiti são loucas pelo Brasil à Fignolé que a Secretaria desenvolve alguns e pelo futebol brasileiro. Retirem as tropas programas humanitários no país, como um e mandem professores de futebol!”. Esse foi programa de qualificação profissional para um dos pedidos do sindicalista haitiano Saintpessoas com deficiência. Ela também disse -Cyr Louis Fignolé, secretário geral da Cenque encaminhará as demandas aos demais tral Autônoma dos Trabalhadores Haitianos ministérios do governo, mas não assumiu po(CATH) em sua visita à Brasília. Fignolé foi resição favorável ao pedido do sindicalista. cebido no auditório da CUT-DF por militantes de esquerda em um ato pela retirada das troIntertítulo - Um balanço da situação do país pas do Haiti, na noite de 29 de março. Entre eles estavam a cantora Ellen Oléria, o rapper A Minustah está no Haiti desde a queda do GOG e Markus Sokol, integrante do Diretório ex-presidente Jean Bertrand Aristide, em Nacional do PT. 2004. Daquela data até hoje, a saída da “missão de paz” da ONU já foi adiada oito vezes. Mais cedo naquele dia, Fignolé havia tido Entre outras coisas, as forças brasileiras paruma audiência com Maria do Rosário, titular ticipam do chamado Programa ABC, no qual da Secretaria de Direitos Humanos da Pre- militares da Argentina, do Brasil e do Chile sidência da República. Além de Sokol, que treinam a pequena Polícia Nacional Haitiana vem traduzindo as palavras do sindicalista (PNH). O objetivo do programa é treinar cerdo francês, alguns parlamentares petistas ca de nove mil policiais haitianos. acompanharam Fignolé: o deputado federal Fernando Ferro (PE) e os deputados estaduais Muitas evidências da tragédia humanitária Adriano Diogo e José Cândido, de São Paulo. provocada pela Minustah no pais foram senFignolé solicitou à Maria do Rosário a retirada do esquecidas ao longo do tempo. Em 2005, das tropas brasileiras que comandam a Mis- cerca de cem soldados do Sri-lanka foram exsão da ONU para estabilizar o Haiti (Minus- pulsos do país por quebrar regras de condutah, na sigla em francês) no país e o envio de ta (ou seja, por cometer crimes que vão da médicos, engenheiros, professores e outros prostituição infantil ao estupro). O primeiro tipos de ajuda para a reconstrução do país. dos comandantes das tropas brasileiras no país, general Augusto Heleno Ribeiro, conFignolé também entregou à Maria do Ro- fessou em 2005, na Câmara dos Deputados, sário um relatório produzido pela Comissão que sofria “pressões constantes dos EUA e da Internacional de Inquérito sobre a situação França para usar a violência”. Pelas regras do no Haiti, formada por representantes de mo- acordo com a ONU, a Justiça haitiana (ou o vimentos sociais do Haiti de vários outros que sobrou dela) não está autorizada à julgar países, entre eles o membro da direção na- os soldados da missão de paz, incentivando a cional da CUT, Julio Turra. As conclusões do quebra das “regras de conduta”. relatório são bem claras: Em sua estadia de

Fignolé chegou ao país na segunda feira (28). Em Brasília, Fignolé participou também de uma audiências com o Itamaraty e com a CNBB. Ele fará um tour pelo país, visitando as cidades de Salvador, no dia 30, Recife, no dia 31, e Maceió, dia 1/04. “Quando passa um caminhão da Minustah, os haitianos gritam ‘béééé, béééé’, imitando o balido dos carneiros. Isso por que as tropas são notórias por roubar os cabritos dos camponeses, no interior do país”, conta Fignolé. Ele também acusou as tropas da missão de paz de serem responsáveis por terem levado ao país o vibrião da cólera, causando a morte de mais de mil pessoas em outubro passado. Intertítulo - Diáspora africana “Não dá pra acreditar que os militares treinados numa ‘missão de paz’ tenham adquirido todo esse know-how para subir nas favelas do Rio de Janeiro atirando e matando gente. A verdade é que as tropas praticaram com os negros haitianos antes de vir aqui reprimir os negros nas ocupações das favelas brasileiras”, afirmou o Gog durante o encontro. “Não existe distância entre o povo haitiano e o povo brasileiro. Somos todos frutos da diáspora da mãe África. E da mesma forma, o racismo também está presente em todas essas intervenções”. Talvez Gog não soubesse, mas o ex-presidente dos EUA, Bush, lhe deu razão durante uma terrível gafe cometida no dia 25/03, ao limpar as mãos na camisa de Bill Clinton depois de cumprimentar um haitiano. Ao fim e ao cabo das discussões, Ellen Olléria comoveu os presentes com sua música intitulada Haiti.


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3anosdaocupaçãoe1José por Diogo Ramalho

No dia 03 de Abril de 2011 completou-se 3 anos que o Movimen- eficiência da administração Timoti se mostrava mais competento Estudantil da UnB ocupou a Reitoria para de lá só sair 15 dias te. depois. Basta ouvir a comunidade da UnB, e Ver, de 5º melhor UniverA desocupação só ocorreu depois que o movimento de ocupação sidade brasileira há 3 anos atrás hoje a UnB tá perto da 15º conseguiu: posição. E o problema disso tudo é que o legado do José ao final a renúncia do Reitor Timothy Mulholland e do Vice Edgar Ma- da sua gestão tenha sido apenas o de construir rapidamente o miya e toda a gestão; eleição do Reitor pró-tempore; a decisão beijodromo e o de contribuir de maneira fundamental ao retordo Conselho Universitário por eleições parcialmente paritárias no do Timotismo ao comando da UnB. O velho revezamento dos para eleição de Reitor e a aprovação pelo referido conselho dois Feudos que dividem a história do comando da universidade. para a realização do II Congresso Estatuinte da UnB, primeiro de 3 anos se passaram, giramos o mundo e voltamos ao mesmo lusua história a vir a ser Paritário, com o objetivo de escrever-se gar sem termos avançado realmente. Seguimos nossas vidas, a uma nova constituição para a UnB. UnB cada vez é permeada por mais pessoas vindo em busca de Graças a esta histórica e vitoriosa ocupação e o voto decisivo projetos pessoais a curto prazo e no uso da Universidade para dos estudantes da UnB, elegeu-se o atual Reitor José Geraldo apenas sair dela com um diploma, e o profundo significado do de Sousa Junior, que entra agora no seu penúltimo ano de ges- Universo Universitário, da Universidade como coração e mente tão sem ter cumprido a maioria e uma das principais promessas da sociedade, fica pra um dia, o resgate da Universidade de de campanha, Pauta Pétrea dentre os 26 pontos de pauta assi- Darcy, da Universidade do Século 21, tão prometida por José nados para a desocupação da reitoria, o Congresso Estatuinte Geraldo, e tão pouca posta em prática nestes 3 lamentáveis anos. Paritário. José Geraldo perdeu a chance histórica de promover um profundo debate sobre a Universidade e o sentido que sua comunidade *Diogo Ramalho é estudante de Letras Espanhol da UnB e nosso país faz dela, bem como a escritura de sua constituição de forma democrática ouvindo-se paritariamente estudantes, servidores técnicos administrativos, professores e a comunida- Não havendo muito o que comemorar, pode-se rememorar, com as fotos que a SECOM publicou em razão do 1 ano da ocupação: de do Distrito Federal. Sem contar a promessa mote de campanha que nunca foi efe- http://www.unb.br/portal/galeria tivada, a tal Gestão Compartilhada, José Geraldo ao deixar de realizar o Congresso Estatuinte no 1º ano de sua gestão, quando a Universidade respirava os ares da transformação, quando a UnB tinha acabado de dar um exemplo de luta para o mundo e andava rumo às profundas transformações de que necessita, curvou-se e aliou ao que retoricamente condenou na campanha, e seguiu sobre a mesma estrutura falida de regras e práticas que levaram a UnB ao descalabro do noticiário policial cotidiano com denúncias de corrupção envolvendo toda a Administração Acadêmica. O Magnífico deixou o Congresso Estatuinte para ser realizado a pouco menos de 1 ano da eleição para a Reitoria, quando os mais diversos interesses retomam a cena da vida acadêmica com olho na eleição, do ou da próxima mandatária da UnB no quadriênio 2012-2016. É triste e amargo para nós que passamos tudo o que passamos na ocupação que neste dia 03 comemorou-se??, e em lutas posteriores, termos que admitir que em tais ou quais aspectos a


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UnB afunda às portas de seu jubileu O que era óbvio aconteceu. E a bola foi cantada há um ano atrás, quando falávamos com antigos professores a respeito dos 50 anos da cidade e da sua Universidade. Lembro de uma conversa com um professor fundador da Universidade de Brasília, a respeito da água que escorre pelas estruturas do minhocão sempre que chove. Quando lhe perguntei desde quando as coisas são desse jeito, o professor e amigo me disse: “Desde 1962. Sempre a UnB foi desse jeito”.

da biblioteca central. Brasília: [s.n.], 1973. 63 p.), traduzido pelo também ex-diretor da biblioteca da UnB, o professor Elton Eugenio Volpini, que o prédio da biblioteca foi erguido em cima de uma mina d’água. O lugar mais impróprio para receber uma biblioteca. Um dia tudo aquilo vai afundar.

Pois bem...é preciso que se diga: quando chove no campus Darcy Ribeiro, toda água escorre pela entrada da biblioteca, chegando ao Talvez tenha sido importante esta última grande enchente, com ce- subsolo, inundando o depósito e umedecendo e gerando focos intennas impressionantes dos anfiteatros jorrando água, talvez seja a par- sos de mofo para todo o acervo. Problema previsto na época da constir do pior que a UnB vá, enfim, repensar sua estrutura. Ao invés de trução do prédio, importa saber o que aconteceu com o acervo que ficar inaugurando prédios para homenagens demagógicas. Afinal, de existe no depósito, já que até pouco tempo atrás milhares de livros que adianta um prédio ser erguido ao lado da Reitoria, em homena- esperavam, e há décadas, a integração ao acervo, sofrendo periodigem a Darcy Ribeiro, as prioridades mais básicas são proteladas há camente com as chuvas. Como está nosso acervo hoje¿ décadas¿ Descentralizar a biblioteca da UnB, rever a organização arquitetada As perdas não são apenas materiais, de aparelhos, etc. Paremos e na época do regime militar, é uma das prioridades neste momento. pensemos no pequeno acervo que existia no Centro Acadêmico de Tal ato funcionaria, alguns já o sabem, como instrumento de salvaHistória e Filosofia, acervos que já vinham sendo dilapidados pela guarda do acervo e retorno ao Plano Orientador. falta de cuidado dos integrantes dos Centros, material que agora não Outra curiosidade que resiste é sobre as atas proibidas por um certo deve estar mais acessível. chefe do Departamento na História. Simplesmente não se quer que E o que terá acontecido com a Biblioteca Central¿ Este mesmo pro- tais atas sejam pesquisadas por uma aluna que pretendia estudar a fessor acima referido, tendo sido um dos que mais ajudou a erguer história do curso de História por documentos deste porte. Não é ima nova estrutura centralizada da nossa biblioteca, certa vez comen- possível imaginar que estes documentos tenham ido embora na chuva tou, citando o importante estudo de Frazer Poole (POOLE, Frazer de abril, para alegria dos bandidos acadêmicos que freqüentam as G.; Universidade de Brasília. Programa para o projeto do edifício saletas como pavões misteriosos, mero chefetes.

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16 O pesadelo da noite fria De repente ele acorda de um sonho terrível, sente o chão tremer, eles começam a passar, são muitos e surgem mais, incessantemente, logo são obrigados a parar. Forma-se então uma fileira de veículos amontoados. O ronco dos motores é, geralmente, seu assíduo despertador, mas desta vez o que o fez acordar em súbito foi o pesadelo durante a noite fria, o pesadelo do abandono social, da exclusão e da indiferença. Olha à sua volta e o que vê é uma cidade que expressa sua disparidade já no centro arquitetado onde pulsa o coração, o trânsito parado, as pessoas chegando à rodoviária, sua carroça de lixos. Lá no horizonte, o sol pouco a pouco se aproxima por entre os prédios a iluminar a paisagem de concreto, é mais um dia em Brasília, ele aperta o terço que está na mão direita e sussurra: “vou mudar de vida”, mas ainda não sabe por onde começar.

literatura morava só, em Ceilândia. Não tinha companheiro fixo, mas gostava de sair para baladas e bares da cidade à procura de alguém que a interessasse. Foi em uma dessas saídas que, acidentalmente, engravidou. O pai não assumiu a devida responsabilidade e ela nunca mais o encontrou. Conseguiu camuflar a gestação durante um certo período no trabalho, mas, inevitavelmente, teve que conversar sobre o ocorrido com seu chefe.

Quando João Paulo nasceu, recebeu a atenção dobrada de sua mãe na tentativa de cobrir a ausência do pai. Foram quatro meses de total dedicação à criança, enquanto não vencia a licença-maternidade. Ao retornar à empresa, ela recebe férias. Em seguida, é chamada para conversar a sós com seu chefe e ouve o seguinte discurso: “Inácia, você é uma ótima vendedora mas em quatro meses muita coisa mudou, chegou novidade na loja e você perderá muito tempo para se atualizar. Aqui nós só pensamos em lucro a cada dia, cada minuto, porque tempo é dinheiro e você sabe muito bem disso, o peso das comissões no fim do mês Inácia era uma jovem bonita é que salva a todos, por isso, infelizmene atraente. Trabalhava há dois anos numa te, você está demitida, mas antes vamos empresa privada com carteira assinada e acertar as contas.” Desesperada, vai em-

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bora meio que sem rumo e sem saber o que fazer. No dia seguinte, Inácia vai à procura de uma creche particular que havia próximo à sua casa, pois a creche pública era muito distante e teria que apanhar dois ônibus todos os dias para chegar ao local, caso matriculasse seu filho nela, posteriormente, vai em busca de outro emprego. As ofertas de salário que encontra são baixíssimas e não daria para arcar com os custos da casa e também da creche, decidi então trabalhar em casa vendendo din-din e vive durante seis meses nesse subemprego, em extrema miséria, mas logo cansa desse modo de vida. Ao completar um ano de idade, João Paulo não dependia mais do leite materno e as condições financeiras de sua mãe só pioravam. O corpo dele já apresentava sinais de desnutrição. Ela precisava dar uma vida melhor ao seu filho, mas não podia deixá-lo sozinho durante o dia e poucas são as opções de emprego para uma mulher semianalfabeta, seria mais cabível um trabalho noturno, enquanto a criança dormia. Ela ainda era jovem e bonita, precisava de dinheiro, foi aí que veio a idéia de iniciar uma nova etapa de sua vida: a prostituição. Veste-se vulgarmente, pinta os lábios, apanha a bolsa e põe poucas moedas, olha para o colchão e vê seu anjo dormindo, dá-lhe um beijo, as lágrimas caem, volta ao espelho e retoca a maquiagem, em passos lentos para não fazer barulho ela atravessa a porta e entra imediatamente numa estrada estreita, onde o dinheiro tenta compensar a humilhação, sente-se frágil e caminha questionando-se o porquê da árdua decisão. Inácia podia ter entrado nas curvas do caminho, mas preferiu seguir reto, primeiro porque precisava saciar suas futilidades e as ne-


cessidades básicas do seu filho e segundo é que agora tinha um novo tipo de gasto, e também o principal, pois era ele que garantia sua fuga, mas custava caro, muito caro, ela virara dependente químico.

poesia

17

João Paulo não lembra de sua mãe quando ela era dedicada e carinhosa com ele, o vício a transformara totalmente. Inácia tornou-se agressiva com seu filho e destrutiva consigo mesmo, chegara a um certo ponto que nem conseguia mais trabalhar, nessa época ele já tinha oito anos de idade e nunca havia freqüentado escolas, foi assim que, por necessidade, foi procurar emprego. Começou como engraxate e vendedor de balas na rua, mas o pouco que recebia era para alimentar o vício de sua mãe, pois ela tomava todo o dinheiro dele e comprava drogas. Certo dia, João Paulo gastou tudo que recebera na rua com comida e transporte, e ela, num surto de abstinência, deu-lhe uma grande surra. No dia seguinte, ele foi trabalhar e nunca mais voltou para casa. João Paulo cresceu na rua, aprendeu a fugir da polícia quando os via chegando com arma e cassetete na mão, prontos para bater e tirá-lo de sua casa e de sua família, porque foi na mendigagem que encontrou a solidariedade que jamais encontrara em casa. Ele também aprendeu a fugir dos bandidos que queriam forçá-lo a usar drogas. Conhecia cada ponto da cidade e gostava mesmo é de admirar, de longe, a arte do grafite. Queria ser grafiteiro e mandar para os muros o que via no dia a dia, sob formas e cores. O pesadelo da noite fria foi decisivo em sua vida, apanhou sua carroça de lixos e foi atrás de seus amigos. João Paulo pensava em procurar moradia e queria convencê-los a sair das ruas com ele, para viver como gente, numa casa que fosse construída com suas próprias mãos onde não tivesse que passar por nenhuma humilhação. Alguns o seguiram, outros ficaram. E assim foram em grupo, caminhando pelas ruas de Brasília, procurando ferramentas no lixo e levando o pouco que tinham, todos na esperança de um dia mudar de vida. Autora: Déborah Gomes

_____________ REPETIR Em repetição a vida transparece imagens: do cavaleiro, a Veja seu corpo cober-

to de espinhos mórbidos.

toalha dobrada; do escudeiro, o

Aspire a fuligem do dia-

copo

-a-dia e deixe o irrespi-

sobre a pia; do românti-

rável ar entrar em seus

co, o aviso

pulmões, é a sua cidade

pelo interfone: alegorias

pintada de cinza, entre

cedem

indústrias e automóveis.

à realidade espaços onde

(Déborah Gomes)

a vida é perdida: almofadas campainhas o estampido. (Pedro Du Bois, inédito) _______________


B

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VAGA LUMINOSA CHAMA ACESA

LUSCO FUSCO, VAGA LUME OLHO D’ÁGUA IGUALDADES SOCIAIS GIRASSOL, PASSARINHO, CANTO, ÁGUA, PEIXE

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ISSO ISSO ISSO QUERO BRASÍLIA MAIS PERTO

PLANTA, POTE, PEDRA

DE TODO O SEU ESPLENDOR

VAGA LUMINOSA AURORA DIA

O MEU BROTINHO

NA LINHA INVISÍVEL DO TEMPO VIDA VAGA LUZ ALADA RAJADA

C

CICLISTA DE TRANSPORTE

*

O CARRO É A MENTIRA MAIS BADALADA DO SÉCULO PASSADO O CARRO DESSE SÉCULO É IGUAL AO DO SÉCULO PASSADO O CARRO DESSE SÉCULO MATA MAIS

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A DIZEM

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E QUE SACI VIRA

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A PASSARINHO CANTADOR

DOMINADORÁ AUTOMOBILÉTICA

A PRA CHEGAR PERTINHO DA GENTE

AUTOMOBILIZOOU A CIDADE CONGESTIONADORA

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QUE O CARRO DO SÉCULO PASSADO A REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA

A CONGESTÃO NA VIA NASAL

BRASÍLIA É

CULMINOU PULMONAR NA CIDADE

O MEU BOROGODÓ

A CONFUSÃO VAGA LOTADA

COM OS SEUS BALANGANDANS

ENCHEU AS VAGAS CALÇADAS QUEBRA-

MAS BRASÍLIA TAMBÉM É

DAS

SONHO

JARDINS ATROPELADOS

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A AINDA NA PLANTA

AS PISADAS GRAMAS ENPINEUSADAS

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E IDÉIA

ESCARRADAS NÃO HÁ VAGAS

A GENIAL

VÁ DE BICICLETA

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E A A

SENHOR LÚCIO COSTA

AS POMBAS ATROPELADAS

SETESSENTOS POMARES NORTES

CARROS

BRASÍLIA É

PESSOAS ATROPELADAS

NÃO RARA

CAROS

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A BELEZA URBANA

ATROPELADAS VELOCIDADES VIAS

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V

A EM TODO O SEU POTENCIAL

GOIABADAS MARMELADAS

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H

O

R

A DE CALÇADAS PRESERVADAS

TELEGUIADAS

LIXO RECICLADO

PROPAGANDAS


19 Vida, Emoção! (Por Camila Valadares) Para entender o que acontece Não há muito que racionalizar Basta abrir os olhos e ver Ouvir os sons emitidos pelo universo Sentir com alma, coração e vida Para com os sentimentos do mundo Construímos uma forma de lidar Mecanismos de defesa Já dizia Freud Assim seguimos a trajetória Caminhamos sem cessar... E eis que eles surgem Novos valores Novos afetos Novos sentimentos Novos sentidos No tempo e no espaço Eles sempre vêm! Ver, ouvir, sentir De forma surreal Com emoção, viver!

NO CAMINHO, A TORRE DE TV DIGITAL

Dia cinza Sigo da sombra de Sobradinho à sombra do Paranoá Estrada linda de Serrado, frio e neblina combinam perfeitamente Com a torre de TV digital Ontem parecia que ela era um conjunto de discos voadores interplanetários Dia Amarelo Sigo da luz Sobradinho à luz do Paranoá Céu lindo, estrada azul, calor e brilho combinam perfeitamente Com a torre de TV digital Hoje ela parece um raio enviado por São Arcanjo Miguel, tão mística quanto adivinhações sobre o futuro Meu caminho para o trabalho ficou mais belo e rápido Com a presença dela, que se impõem aos meus olhos sedentos Ela me olha arrojada, eu fito-a deslumbrada Viramos cúmplices da grandiosidade de Brasília. (Maria Cleudes Pessoa)


20

Brasília em Revista 51 anos de crítica e experiências poéticas

(parte 1)

As publicações do DF apresentaram uma di-

de uma centena de escritores. Seu último

versidade de linhas editoriais contribuindo

provável número data de outubro de 1996,

com um painel de propostas estéticas que

número 20.

dialogam com a tradição, ora rompendo, ora retomando determinados conceitos. Em se

Fundada pelo escritor Nilton Maciel quando

participantes foram JornaLetras, a Folha Po-

do escritor brasileiro foi lançada em janeiro

tratando de revistas de poesia, a Bric-A-Brac aqui residia, e mantida por um número refoi a única presente na Exposição .As demais duzido de escritores, a Literatura – Revista ética de Brasília, Brasiléia Desencantada,

de 1992. Seguindo uma linha editorial flexí-

nha se perdido no tempo, quem sabe ainda

escritor Nilton Maciel para lá voltou em 2002,

Nós Alternativos, Ofensiva, Pégaso, A Prosa, vel a propostas estéticas, a Literatura, agora O Rochedo de Sísifo. Essa produção talvez te- editada em Fortaleza, tendo em vista que o resida guardada nas casas dos seus produtores. O primeiro registro encontrado, até o momento, sobre a primeira revista literária pu-

vem contribuindo, divulgando e incentivando novos escritores. Em sua fase inicial promovia concursos de poema e contos. A Câmara Legislativa do DF lançou, aproximadamente em 1993, a Revista intitulada DF

Em novembro de 1989, a Casa do Incesto,

blicada no DF, é a Revista de Poesia e Crítica,

Produções Culturais, integrada por Alex Co-

lançada em julho de 1976. Tudo nos indica

jorian , Carolina Vieira, Gustavo Simas e Da-

que tenha sido a primeira revista de crítica li-

niel Búrigo organizaram, na FUNARTE –DF, a

terária no DF. O grupo de formação Literária,

Guimarães, sob orientação de Paulo Bertran

Exposição de Imprensa Alternativa. Após o como assim era chamado , tinha os seguintes evento, publicaram um catálogo constando a membros: Afranio Zuccolotto, Cyro Pimentel,

em meu acervo a edição nº 97/102, ano VIII,

Letras – A Revista Cultural de Brasília, idealizada, segundo Gustavo Dourado, por Salviano e Maria Félix. A revista foi desativada . Tenho meses de julho a dezembro de 2003. A sua

participação de 187 títulos enviados de diver-

Domingos Carvalho da Silva, Péricles Eugenio

sos Estados brasileiros, sendo 30 do Distrito

da Silva Ramos. Seu proprietário era Antonio

tiragem era de 5 mil exemplares. Há outras

lando uma multiplicidade de temas em suas

Fábio Carvalho da Silva. O Diretor, José Jézer duas revistas que constam em meu acervo; de Oliveira e continha poemas, artigos, en- Elysium, editada por Mendelsohn Ildefonso

páginas. Revistas, fanzines, folhas mimeogra-

trevistas, resenhas e fotos. Originários da ge-

da Silva, lançada em 1991, tinha como dire-

quantidade expressiva de uma produção com

ração de 45, os seus principais articuladores tor Elisio Augusto Napoleão, o seu segundo mantiveram durante os 20 anos de existência volume saiu em 1992. Vale ressaltar o tra-

pouquíssima visibilidade, geralmente circu-

da Revista de Poesia e Crítica um espaço de

balho da Academia Brasiliense de Letras que

Federal. As publicações foram expostas reve-

fadas, revistas literárias, jornais, enfim uma

lando entre aficionados.

debate intenso divulgando trabalhos de mais vem desde 1983 publicando sua Revista.


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Ivan Presença, João Borges, Luis Turiba, Lucia Leão, Luiz Eduardo Resende (Resa). Contando com a colaboração de uma infinidade de poetas – os irmãos Campos, Sílvio Back, Chacal, Antônio Risério, Arnaldo Antunes, Angélica Torres, Reynaldo Jardim, Ademir Assunção, Glauco Matoso e tantos outros. Uma constelação de criadores que será preciso outras tantas páginas para se falar da importância desta singular revista que obteve um alcance Nacional. A revista Bric-A-Brac sobreviveu por seis números, sendo a sexta edição lançada em 1991. Em 2007, seus editores organizaram a exposição Bric-A-Brac Maior de Idade, lançando um número comemorativo dos vinte Aproximação com as Vanguardas

edição.

A revista Grande Circular, uma publicação da

Galeria Cabeças, lançada em 1979, editada

so, Chico Leite, José Adércio Leite e Paulo

por Eurico Rocha, Lúcia, Tetê Catalão, Luis

Joe lançaram Há vagas. Tetê Catalão, que

Em setembro de 1983, Armando Velo-

Turiba e Sérgio, tanto no seu formato como assina a apresentação da Revista, disse: “A sua proposta estética foi um canal de expres-

pior recessão será aquela capaz de desfibrar

são de artistas que romperam com a serieda-

sonho por sonho, letra por letra, carícia por

de das linhas ortodoxas, tanto de esquerda

carícia. Use e ouse. Ouse ou use.” Há Vagas

um ano de existência dessa aventura de experiências poéticas.

A produção de revistas literárias em

Brasília merece uma investigação mais apurada, para que se possa resgatar vozes que permanecem subterrâneas no panorama literário brasileiro. Paco Cac

como de direita. A Grande Circular expressou circulou até o terceiro número lançado em

Poeta. Colecionador de revistas literárias. Publi-

uma produção já encontrada em várias revis-

cou, em 2006, o primeiro volume do álbum; Re-

tas brasileiras, propondo o diálogo e mistura entre linguagens artísticas. Essa geração de poetas contribuir com publicações posteriores. Da Grande Circular não se tem notícia de outros números, parece que só teve uma

agosto de 1985.

A Revista que mais sintetizou aproxi-

mação com as vanguardas, considerada pelos seus editores como uma revista de Experiências, foi a Bric-A-Brac, editada em 1986 por

vistas Literárias Brasileiras – 1970 – 2005; com apoio FAC - Fundo de Apoio à Cultura do GDF. Pretende ainda este ano publicar o segundo volume desse álbum que contemplará as revistas literárias do século XX.


22 Equipe do Jornal O MIRACULOSO André Shalders Andrés Sugasti Bruno Borges Camila Valadares Cleudes Pessoa Diogo Ramalho Fernando Aquino Jardel Santana Leonardo Ortega Maíra Marins Paloma Amorim

Caixa Postal 743 agencia de correios do Lago Norte. CNPJ: 04811 396/0001-08

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Mรกrcio Mota

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coma! coma! coma! coma!

Dia 25 de abril de 2011 9h na Rodoviária do Plano Piloto

Lançamento!!!

coma! coma!

Coma coma coma pão-de-queijo-deitado! | Coma coma coma pão-de-queijodeitado! | É uma delícia, serve esparramado | Sirva pra família e pro namorado | Incognoscível de polvilho abstrato | Coma coma coma pão-de-queijo-deitado!

RECEITA - ˜Pão-de-queijo-deitado˜ • • • • • • •

Escaldar Levar ao fogo a mistura de óleo, leite, 1 colher de manteiga e o sal (não deixe ferver).

Huummmm!!!

www.minaspadrao.wordpress.com www.tabuletas.net

# de polvilho abstrato #

Massa Em outra panela acrescente o polvilho. Despeje lentamente a mistura e mexa para ficar uniforme. Deixe a massa descançar por 30 minutos. Acrescente o queijo ralado e 1/2 colher de manteiga. Misture. Jogue os ovos um a um. Mexa bem. A massa deve ficar molenga.

www.foradoeixo.org

Trempa Unte uma travessa de bolo (metal ou cerâmica) com óleo. Despeje a massa. Assar em fogo alto pré-aquecido até ficar moreno por cima. Acompanhamentos Brigadeiro, requeijão, queijo, café, linguiça, molhos pastosos. Receita adaptada de Belchior Cardoso (Alquímico da Cachaça Rancharia) Araújos-MG

Apoios

Realização

Pã o - d e - q u e i j o - d e i t a d o

©

3 ovos 1 copo de óleo 1/2 colher (sopa) de manteiga 1 copo de leite 2 copos de polvilho azedo 400 gramas de queijo redondo curado sal a gosto

A . G E N T E

TT TUTTAMÉIA



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