Edição 1070

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Diário
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCA TU EMBAÚBA Diário da Cuesta MODERNO COMO VOCÊ ! SEXTA-FEIRA, 12 DE ABRIL DE 2024 ano IV Nº 1070 FELICIDADES BOTUCATU EM 2024! Acompanhe as edições anteriores em: www.diariodacuesta.com.br 169 PROGRAMAÇÃO/ANIVERSÁRIO – Página 6
da Cuesta

Todo cidadão que tem como ofício as letras, às vezes se pergunta, se questiona se vale a pena escrever e colocar para fora os sentimentos e mandar mensagens e comentar fatos... Será que vale a pena? Mas de imediato e em auto defesa contrapõe outras perguntas: vale a pena viver? Vale a pena amar? Vale a pena sonhar???

Sim, vale a pena. Sempre vale a pena. Tudo que se faz, vale a pena. Pois não estamos aqui para isso? Para viver, viver e viver? Como passageiros dessa vida, acredito, devemos fazer o que achamos que devemos fazer, sempre dentro do respeito ao direito dos outros: direito que começa onde, exatamente, termina ou se limita o nosso. São leis da convivência... É a lei da vida.

Então vale a pena escrevinhar em uma cidade do interior as coisas e os sentimentos que estão a nos dizer alguma coisa e a sua mensagem chegar a Brasília, em Portugal e aos Estados Unidos... Deixar que as palavras surjam, se combinem e se casem... É o milagre da revolução tecnológica...

É com muito entusiasmo que chegamos a mais um número do Diário da Cuesta. A receptividade encontrada e a participação espontânea de tantos, nos anima. É um desafio, sem dúvida. Mas é um bom desafio participar ativamente de um instrumento de informação e formação nesta rede democrática online... Começamos com o site, depois o livro digital, o Blog e, agora, o DIÁRIO.

O Diário da Cuesta, para nós, assume aspectos especiais de comemoração, exatamente por ser online e estar amplamente conectado. E teria que ser algo diferente, um veículo para mudança e que trouxesse uma contribuição efetiva ao debate das ideias. Com seu material postado dentro da tecnologia disponível, mas com uma edição “espartana”, com critério profissional, dedicação e idealismo, muito idealismo.

Voltado à renovação política e à construção da cidadania , este DIÁRIO terá a missão de provocar o debate, convocando a intelligentzia botucatuense (emprestemos a expressão russa para definir parte da nossa comunidade intelectual) para a discussão de temas de interesse da comunidade, sempre valorizando o cidadão, despertando valores e delineando novos rumos para a solução dos problemas que estão dormentes há muito tempo...

O Diário da Cuesta pretende ser uma bandeira de luta a favor da nossa cultura, priorizando as nossas coisas, o nosso folclore, a nossa memória histórica, e mais, descortinando o futuro com audácia cívica e muita criatividade, fazendo do presente uma vivência rica no exercício pleno da cidadania.

Com nítida noção de nossa real dimensão, sem querer abranger mais que o espaço democrático que a “Revolução da Informação” trouxe para o mundo todo, transformando em realidade concreta a “Aldeia Global”, que igualou a todos no acesso à comunicação e à realidade dos cidadãos de qualquer cidade em qualquer país e em qualquer continente...

Sempre repetimos e destacamos o acerto das palavras do jornalista e escritor Fernando Morais: “Eu sempre acreditei que até a democratização dos meios de comunicação seria uma luta política. Acabei descobrindo que se tornou uma conquista tecnológica. Hoje, todo mundo pode ser

o seu próprio Roberto Marinho...”

E é verdade. É a mais pura verdade!!!

Assim, o Diário da Cuesta se propõe a essa tarefa. Estaremos postando nossas idéias e nossos comentários sobre os mais diversos assuntos que interessem à renovação política e à construção da cidadania.

No DIÁRIO teremos o acesso linkado aos mais importantes veículos de comunicação do país...

O Diário da Cuesta pretende ser o Fórum Cultural e Político para todo cidadão prestante que esteja disposto a cerrar fileira na construção da nossa CIDADANIA!

Mesmo que vezenquando se traga ao debate político temas difíceis e que incomodem aos pacíficos de sempre, como o da pandemia do vírus chinês ou o do momento em que a NAÇÃO BRASILEIRA desperta para o MOMENTO DE MUDANÇA NECESSÁRIA para a HARMONIA DOS PODERES EXECUTIVO E LEGISLATIVO! O importante é que haja uma abertura para o debate sério de temas de interesse da comunidade, destacando o cidadão, despertando valores...

É isso.

Acreditamos estar cumprindo nossa missão...

AVANTE!

Que venha o NOVO BRASIL!!!

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.

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E D I T O R I A L

Diário da Cuesta

P O E S I A

O Batizado da Cidade Morena

poesia de José Pedretti Neto. Trazemos uma preciosidade literária que é o poema-homenagem de Pedretti Neto à sua cidade. Em um tempo em que os poetas escreviam e homenageavam seu torrão natal... Ao mesmo tempo que divulgamos a boa literatura, procuramos incentivar novos poetas a apresentarem seus trabalhos no exercício sadio da cidadania.

Pedretti Neto exerceu o magistério e o jornalismo, tendo participado de todos movimentos culturais de nossa cidade. Já falecido, foi lembrado na fundação da ABL – Academia Botucatuense de Letras como seu PATRONO, quando HUGO PIRES fez sua ilustração para a Galeria dos Patronos da ABL.

O seu poema cívico em homenagem a Botucatu também foi apresentado durante as comemorações do 1º Centenário, no dia 26 de maio de 1955 e publicado na edição de nº 1, da revista botucatuense de cultura - PEABIRU, de janeiro/fevereiro de 1997:

O BATIZADO DA CIDADE MORENA

Houve uma festa enorme no batizado da cidade recém-nascida. Na catedral verde da mata toda enfeitada de festões e cipoama o padrinho foi o primeiro que chegou. Era um bandeirante ousado e façanhudo. um comedor de terra. um come-léguas, um Chico vira mundo. Entrou com o facão abre-picada e sem dar satisfação meteu as botas pela nave tapetada de musgo. Lá fora no átrio da igreja de esperança, - capim fino, dormideiras, maravilhas brancas e vermelhas...joás... tudo que é planta e flor se transformou num tapete em demanda da pia batismal! O bandeirante façanhudo carranca carregada. barba negrejante, subiu a serra e parecia que o coração aos saltos lhe saia pela boca. Lá em cima, nos corcovos da terra a serra descia e subia e voltava e sumiabrincando de esconde-esconde com o sol. O bandeirante parou extasiado e respeitoso fez o Sinal da Cruz.

Depois, conclamando as gentes prá festança disparou um violento tiro de arcabuz.

A serra inteira incendiou-se de luz...

Veio o padre. seu vigário.

todo de preto, mas alegre e brincalhão. Parece que este homem tem um sol no coração.

Bem se vê que ele é destemido, destorcido. capaz de enfrentar o saci, o curupira e até assombração !

Cruz credo !

Este homem não tem medo de mula sem cabeça... Este homem dá risada do caipora e da magia dos pagés.

Este homem - parece mentira !na terra de Tupã plantou uma capelinha. Uma capelinha que diante da serra é tão pequenina, miudinha, assim deste tamanho...

Mais parece uma casa de boneca essa capela... Mas essa capela tão pequena, com seu sino espevitado. desafinado.

marcou o destino da terra que nascia : a marca da alegria e da bondade que os sinos de Deus imprimem na vida, nos homens, nos povos, nas cidades... E seu vigáno-jesuíta trouxe coroinhas cor de cobre uns tapuias que moravam por ali. Na cátedral verde da mata os picos da serra eram torres apontando o Infinito !

Um artista consumado, o vento sul, vento andejo. moleque endiabrado, independente como ele só, altivo como não há outro, ajeitou a ondulante cabeleira de maestro e depois com a batuta das palmeiras vaidosas, esperançosas, altaneiras, preludiou o “Glória” na ramagem da floresta. Era o início da festa !

O bandeirante chegou desajeitado carregando nos braços possantes um corpo franzino de menina. Um corpo moreno vestido do azul do céu e do branco das nuvens. O padre tirou do Lavapés a água lustral para o batismo da cidade. E enquanto falava com Deus numa língua desconhecida tomou o óleo louro do sol e com ele traçou no corpo moreno da terra o sinal da Cruz! Depois, num gesto altivo e nobre, levantou a voz e proclamou : “Em nome do Pai e do Filho e do Espirito Santo eu te batizo. Botucatu.”

Pelas quebradas, pelos vales, pelas grotas, pelas picadas da serra, na paz das solidões e das malocas, o eco repetiu o nome batismal... Acordaram as tribos mal dormidas... Repetia a Natureza comovida : Este nome tem um gosto de cantiga este nome simboliza um fanal... Depois.

a festança de fazer água na boca. O Lavapés alcoviteiro. novidadeiro. perdendo a languidês saiu aos pulos e aos pinotes contando umas coisas que ele ouviu. Umas coisas que não entendeu muito bem umas coisas esquisitas, uns pensamentos, umas profecias saidos da boca de seu vigário-jesuíta. No ocaso o sol se punha. O jesuíta olhou a paisagem ensangüentada de sol e erguendo o braço apontou a distância. E ali do púlpito telúrico, para as aves, para as plantas, para os bichos, para o bandeirante, pronunciou o seu sermão : - Esta cidade, meus irmãos, um dia será nossa esperança como já é nossa alegria. Do Lavapés ao ribeirão Tanquinho, do Capivara ao Tietê ao Pardo e ao Paranapanema pela terra onde zunem flechas por onde andejam as tribos erradias do Iguatemi ao Ivinhema há de impor-se o nome de Ibitucatu ! Nome, mensageiro de amor. mensageiro de fé, mensageiro de paz, um nome que há de ser símbolo para dar ao amigo um abraço, para dar à criança um regaço, para fechar os olhos do que morre, para rezar sobre a campa uma oração. Para dar ao inimigo o seu perdão!

Botucatu será maior que todas as cidades, de todos os tempos, de todos continentes, de todas as idades !

Nessa avaliação não importa a riqueza, nem tamanho. O que importa é ter nobreza e coração ser trabalhador, ser honesto e ser cristão !

E Botucatu o será !

Na sua majestade sobre a serrania ela mesma confessará um dia : acima de mim, olhai vós todos, acima de mim somente existe, a cidade de Deus, o Deus que me criou ! Acervo

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Peabiru

Diário da Cuesta 3

“Princesa da Serra”, poema cívico de Trajano Pupo Jr.

É a poesia do CENTENÁRIO DE BOTUCATU!

De autoria de Trajano Pupo Jr. e declamada por Marisa Pires de Campos Buchignani, foi o ponto alto da Sessão Solene Comemorativa do 1º Centenário de Botucatu, realizada no Cine Casino, no dia 14 de abril de 1955. Essa apresentação foi oficializada pela Comissão de Festejos do 1º Centenário de Botucatu. Botucatu vivia momentos de glória, ganhava seu Brasão Municipal, de autoria de Hernâni Donato e Gastão Dal Farra: era nossa simbologia heráldica que trazia a História de Botucatu.

A declamadora foi a profa. Marisa Pires de Campos Buchignani, com atuação na área educacional, tendo sido Diretora da Escola Normal, Delegada Regional de Ensino e Diretora da UNIFAC.

O literato e poeta Trajano Pupo Jr., Membro Efetivo e Fundador da Academia Botucatuense de Letras colaborou com jornais e revistas de nossa cidade. A revista PEABIRU nº02, de março/abril de 1997 publicou este POEMA CÍVICO, extenso e belo, que retrata Botucatu em seus primórdios, sua gente e suas conquistas. Foi uma iniciativa que preservou a memória de Botucatu ao resgatar esta importante obra literária:

“Princesa da Serra”

Certa vez, um paulista audaz, desbravador de fazendas, sonhou que havia uma cordilheira de prata de píncaros travessos, que viviam a brincar de esconde-esconde com as nuvens.

E, imaginou - como seria bonita uma vila que se instalasse, sobranceira, no cimo da montanha e olhasse, bem do alto, o vale serpenteado de riachos cristalinos. Quando Deus me conceder a graça de concretizar o anseio desse sonho, chamar-lhe-ei - Botucatu : A Princesa da Serra.

E um dia, rasgando a terra da natureza bruta, o homem te edificou no altiplano azulado, bem no dorso da vasta serrania.

Para que enxergasses o clarão deslumbrante dos dias de sol; para que sentisses o encantamento das noites cheias de luz; para que fitasses as estrêlas, luzindo, como vagalumes doirados, pontilhando o manto do luar; abriu uma clareira - no emaranhado denso e úmido das matasem regiões impenetradas, senão pelo rastreado das feras e pela passada incerta e cautelosa dos filhos das selvas, que vinham decalcando, no acamado farfalhante das folhas mortas, as marcas transitórias das rotas do sertão.

No chão da terra virgem e farta, como quem planta uma semente - plantou-te. E, para que germinasses, para que crescesses, para que florisses, para que frutificasses, plantou-te sob a égide da Cruz.

Dessa Cruz que é o símbolo da Fé e a messe promissora da Esperança. Assim, nasceu a capelinha branca, no tabuleiro da serra - como se dos algodoais das roças, na promessa das colheitas, desabrochasse, para o sol da vida, um capucho alvo de algodão.

Como pequeninos cristais que a pouco e pouco se aglomerassem, ao derredor de um núcleo de atração, nas suas cercanias, foram se pontilhando as casas e, com elas, se pintalgaram de vida as solidões remotas.

Ao contínuo adensar do casario foi se apequenando a clareira que a mão do homem rasgara, quando cortou a cabeleira, verde e basta, da floresta bravia.

E, guaritás e cedros, caviúnas e imbuias, jangadas e guaiçaras, perobas rijas, de troncos seculares, jequitibás frondosos, araruvas e araribás - tudo caiu da majestade das alturas, ao golpe rude do gume dos machados. Toras enormes, como avalanches, rolaram pela ribanceira e foram acordar,

no fragor das quedas, o silêncio tumular das grotas.

No recesso das brenhas, mais uma clareira - grande e novase abrira, ao rastilho dantesco das queimadas.

Da cinza das coivaras se ergueram outras moradias. Cresceram roças de espigas, de penachos loiros, como as tranças sedosas e macias daquelas princesas encantadas que moram, no castelo doirado, do sonho dos poetas, ou imperam - soberanasno reino das fadas.

E nasceram cafezais que a magia da terra, fez frutificar, em bagas amarelas, como pepitas de oiro, faiscando ao sol.

E a chapada se enfeitou, em trama larga e bem viçosa, com ramas de algodão. A planta feiticeira que vem dando : o linter, o óleo das sementes, a palhada para as rezes, o resíduo do farelo que volta, como adubo, para as seáras de onde veio.

Dando seiva e dando húmus. Dando força ao solo que se exáure, impedindo que se esgote no cansaço das farturas, e, possa, com a ajuda que recebe, em rebentos novos, abrir-se, ao fulgor de outras primaveras.

No fraldeado das íngremes encostas, o capim recamou, em colmos tenros e macios, para o pascentar dos bois mansos e quietos, que sob a soalheira escaldante, na marcha pachorrenta dos seus passos - indo e vindo nas glebas da rechãdeixavam como rastro, da longa e poeirenta caminhada, o sulco dos arados.

O cantarolar alegre e satisfeito da gente do trabalho e o repicar festivo do sino da igrejinha, todas as tardes - ao esmaecer dos poentes coloridosfaziam ecoar, ao embalo dos ventos, as vozes do arraial.

Completava-se assim a sinfonia do cadenciado trilar dos inambus, do inervante retinir das arapongas, do gorgeio mavioso do sabiá.

Do pio triste dos macucos, do estridente gargalhar das seriemas, que correndo o descampado, ensaiavam o solfejo das notas mais agudas.

A natureza, anunciava, pela voz dos seus cantores, o advento das noites de luar e das estrêlas, brilhantes, pequeninas, que tremeluzeriam, como pedras preciosas engastadas, na azulada cúpula do céu.

Depois... depois o silêncio. Na quietude da noite, lá no firmamento, a se destacar em brilho, as Três Marias, luzindo perto do Cruzeiro, sob o véu rendado da via-latea, lembravam monjas penitentes, a rezar, velando o adormecer da terra.

E o povoado foi crescendo...crescendo, num interminável círculo vicioso : Queimadas - elevando para os céus as labaredasabriam claros, para casas e mais casas, que se erguendo das cinzas - como as Fênixiam largando as distâncias das divisas.

No correr do século passado, quando a marcha do tempo entremarcava quase o meio da jornada, ao estrugir repetido dos foguetes, ao ronco dos morteiros e das salvas, o arraial, fremia, no alvorôço da sua grande festa - a chegada da Santa Padroeira.

Em simetria, bandeirolas recortadas em papel, brancas e doiradas, purpurinas, róseas, amarelas, côr de cinza, verdes de todas as nuanças, lilazes ou azuis, alaranjadas, às centenas, pendentes dos cordéis, se entremesclavam, demarcando os contôrnos do roteiro.

Lanternas de listras coloridas semelhando pedaços de arco-íris, dançavam bailados esquisitos, ao açoitar dos ventos.

Palmas e coqueiros, como soldados garbosos e imponentes distendidos em fileira, guarneciam o flanco das estradas, assinalando por onde passaria

- no desfile da grande procissãoem andar de cravos bem vermelhos entremeados de rosas muito brancas, escoltada por fiéis de opa e de tocheiro, a Imagem da Senhora de Sant’Ana, para ser entronizada na capela da nova e florescente freguesia.

O arraial, em passadas de gigante, caminhava, rumo da conquista dos foros de cidade.

Aos poucos como as moças que se tornam casadoiras, foi se aformoseando. Por isso, quando a Lua, nas suas entrefases, levava o seu globo luminoso para clarear as cidades que viviam, no lado oposto do hemisfério, os lampiões postados nas esquinas, em chamas tremulantes, amarelas, brilhavam, no encarvoado denso das noites mais escuras.

Cada semana que o tempo então marcava, havia no vilejo alguma nova : Chegou a professôra; o doutor advogado; o médico. Uma forja de ferreiro se instalara na rua principal.

Lado a lado, na melhor das harmonias, foram se alinhando : - a botica, a loja de armarinhos, o bar e a padaria, um açougue improvisado. O turco mascateiro, vendedor de tantas bugigangas.

Mais adiante, entre festas de cunho bem solene, aclamado pela gente do arraial, recebeu as boas vindas, “Seu Vigário”.

O tempo, no deslizar suave das rotinas, ia arrancando, dos blocos calendários pregados em cartazes coloridos, sem esquecimentos, ao primeiro clarão das madrugadas, uma por uma, as folhas que marcavam, a sequência dos meses e dos dias.

Pelo esforço do homem, tudo cresceu e tudo melhorou. As conquistas do progresso, sem a falha de uma só, se instalaram nas plagas citadinas.

O primeiro trem, resfolegante, no arquejo do cansaço, como se tivesse asmáticos pulmões, veio galgando a serra vagarosamente, contornando, em coleios serpentinos, as rampas amortecidas em curvas perigosas.

A reclamar, como um velho rabugento - como é longe, como é longe; Como custa p’ra chegar; Como custa p’ra chegar; Como é longe, como custa p’ra chegar.

Ofegante, quase sufocado, na dispnéia do esforço das caldeiras, passou entre as rochas escarpadas, vencendo a muito custo os ásperos aclives. Quando transpôs a lombada derradeira da montanha, como se tocasse a clarinada das vitórias, anunciou, apitando longa e repetidamente Botucatu...Botucatu...Botucatu... Logo mais estacava,

entre vivas calorosos, na gare pequenina da estação da “Cidade dos Bons Ares”.

Os lampiões mortiços, sonolentos, cessaram a frouxa claridade e passaram constritados, a servir de relíquias de outras eras. A luz brotava, sem demoras, nem desmaios, clara e brilhante, no bôjo das lampadas elétricas, ao entreligar dos fios.

No enrêdo de uma história, há sempre alguma cousa que fica para trás.

A reminiscência que andara volteando os arredores da cidade, quando já trôpega e cansada, rumava para o asilo, ao passar pela pontinha que lhe marca metade do caminho, vendo tudo calmo, sem ninguém a se mover ou a falar, perguntou ao riacho que corria e que viu a cidade nascer, crescer e prosperar.

- Espraiado Lava-pés, para onde foram as mulheres, as moças e as meninas, tagarelas, barulhentas, que punham nas tuas margens, o borborinho da Vida ?

E aquelas cantigas lindas do coral das lavadeiras, que sempre se acompanhavam daquele bate-batendo das tábuas de lavar roupa ?

E as roupas enxaguadas que estendidas sobre os verdes capinzais, iam formando desenhos de colchas de retalhos, em profusão de formas,de cores e tamanhos ?

E o riacho respondeu : Chegando a água encanada, sumiram destas paragens. Com elas também se foram - o conversar barulhento, a trama das suas colchas, as côres de seus desenhos, as suas lindas cantigas, aquela imensa alegria que morava por aqui.

Na toada de uma tristeza, cantando nas minhas águas que correm longos caminhos, saudoso, sempre me lembro daqueles tempos tão bons. Calou-se e a reminiscência continuou sua jornada. Tudo se foi modernizando. Com as pobres vestes antiguadas apenas sobrevive o velho chafariz. Outrora, em passeios vesperais, casais de namorados, risonhos e felizes, tomando por verdade a velha lenda - de que, a água da biquinha, radicava no lugar aqueles que a bebiammal chegando naquele logradouro, as mãos em concha transformavam e sorviam, em goles pressurosos, a linfa cristalina.

Agora, ao pôr do sol, no terreno em que mora a velha bica, é tudo solidão Recoberta de cipós e trepadeiras, esquecida, relegada ao abandono, cumprindo a amarga sina das taperas - a fonte dos amoresno triste carpir do seu fadário, deixa correr, no regaço das algas, dos musgos e dos líquens, a torrente das lágrimas vertidas, num pranto de saudade.

Quando, buscando as plagas primitivas, os ruidosos bandos de taperás e de andorinhas, tornavam do vôo migratório, anunciando - no alegre cantar do seu chilreioa fuga da invernia, depois de evoluir por largo tempo, com as asas fortes dardejando o espaço, rumavam para o pouso,

naqueles velhos edifícios solarengos. E, nos seus beirais, largos e compridos, debruçados ao longo das fachadas, edificavam a colônia de seus ninhos.

Por muitas primaveras, gozaram as andorinhas, do aconchêgo dos beirais. Mas...quando o velho guardião -das cousas que evocavam os primórdios da cidadedormia descuidado, confiante, o cérebro do homem renovador armou o braço do operário e demoliu... deitou por terras os antigos casarões.

Nas ruinas, como nas sombrias campas funerárias, ficaram sepultadas, com as velhas tradições, aquelas largas salas espaçosas em que havia serões em tôrno das lareiras, e, onde, nas festas da família pontificavam vultos memoráveis, vindos da nobreza augusta do passado. Derrubadas pelas mesmas picaretas, progressistas e impiedosas, lá se foram as relíquias mais queridas de outros tempos :

A Igreja da Matriz, a Capelinha da Nossa Santa Cruz; a Câmara, o mercado, o coreto e tantas mais, se nivelaram ao solo, no pó das suas taipas.

Do passado nos restou aquele espaço que ficou vazio, esperando...esperando pela monotonia côr de cinza do cimento armado das modernas construções

Compensando a perda então sofrida das relíquias imoladas ao progresso, uma cidade grandiosa apareceu, cinzelada por artistas de uma nova geração.

Cheia de escolas - a difundir ensino; cercada de igrejas - a alimentar a fé; pontilhada de oficinas - a distribuir trabalho; repleta de fazendas - a abarrotar celeiros; num aranhol de estradas - a encurtar distâncias. A prosperar e a crescer, edificando, na sua grandeza - A Princesa da Serra.

Quando te vejo grande, pela glória de teus feitos; poderosa, pelo esforço dos teus homens; rica, pelo trabalho fecundo dos teus filhos; brilhando no cortejo imenso das cidades, evoco, reverente ao culto do passado, o teu singelo berço - aquela capelinha branca, como alvo capucho de algodão, que um paulista audaz, desbravador de fazendas, plantou, como semente milagrosa, que germinou, que cresceu, que floriu e frutificou no altiplano azulado dos confins da serra.

Meu bravo sertanista - se ao leve sôpro de uma vida, ainda se alentasse o teu velho corpo, de há muito retornado ao pó, e, se possível fosse, reacender o brilho nos teus olhos baços, - tu verias, deslumbrado, como ficou bonita a modesta vilazinha do teu sonho, instalada, sobranceira, no cimo da montanha, olhando, bem do alto, o vale serpenteado de riachos cristalinos. E, do alto das tôrres prateadas, mergulhada no infinito, simbolizando aquela mesma Fé que te alentou, a Cruz da Catedral, imponente e majestosa, esparzindo, por sobre a cidade que se cobre das glórias centenárias, as bênçãos do Senhor ! Botucatu, abril de 1955

TRAJANO PUPO JR
Profa. Marisa e o Dr. Trajano

EU VOU PRA BOTUCATU

O saudoso Príncipe dos Poetas Brasileiros, PAULO BOMFIM, fez a POESIA DE BOTUCATU! É registro histórico e caminho para o futuro!”!

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Na foto, na capital paulista, visita histórica à Biblioteca Municipal "Poeta Paulo Bomfim"

Ato Cívico e Des le são parte das comemorações dos 169 anos de Botucatu

Solenidades começam às 7h45 em frente à Prefeitura com o Ato Cívico

A Prefeitura de Botucatu realizará no próximo domingo, 14 de abril, as comemorações em alusão aos 169 anos de Emancipação-Politico Administrativo de Botucatu.

As festividades começam às 7h45 em frente à Prefeitura com o Ato Cívico, com a presença de autoridades municipais, Tiro de Guerra e Banda Sinfônica de Botucatu.

Em seguida, a partir das 9 horas, a Secretaria Municipal de Educação realizará o tradicional desfile cívico na Rua Amando de Barros. O evento contará com a participação de entidades, entre forças de segurança, escolas municipais, privadas e instituições públicas.

O palanque com as autoridades será instalado defronte a Praça Emílio Pedutti (Praça do Bosque). A área de concentração será montada entre as ruas Prefeito Tonico de Barros e Major Leônidas Cardoso, com a dispersão no cruzamento com a Rua Siqueira Campos até a Rua Cel. Fonseca.

O Tiro de Guerra 02-048 abrirá o desfile, seguido da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Polícia Civil, Guarda Civil Municipal, SAMU. Na sequência, desfilam a Banda Sinfônica Municipal “Dr. Damião Pinheiro Machado”, além de escolas e demais entidades.

A Semutran interditará, a partir das 6 horas, todas as ruas que dão acesso à Rua Amando de Barros, da Rua Prefeito Tonico de Barros até a Praça Paratodos. Por este motivo, a Prefeitura orienta os motoristas a utilizarem as ruas paralelas, como João Passos e Curuzu.

A organização do Desfile informa ainda que a Rua Marechal Deodoro, no quarteirão da Praça do Bosque, ficará disponível para o estacionamento de carros de portadores de necessidades especiais, desde que possuam o cartão.

A Prefeitura solicita que os motoristas e motociclistas redobrem a atenção e respeitem as sinalizações de trânsito utilizadas no entorno do Largo da Catedral. (Notícias Botucatu)

Diário da Cuesta 6

LEITURA DINÂMICA

Símbolos de Botucatu

Diário da Cuesta 7
Ed 453

EsporteDestaque em

Campeão dos Campeões de Botucatu será conhecido neste domingo

Decisão da Copa dos Campeões será as 8h30, no campo da Ferroviária

Neste final de semana será disputada a final da edição de 2024 da Copa dos Campeões de Botucatu.

A competição, que contou com a participação dos times campeões e vices das séries A, B, C e além dos finalistas da Copa dos Campeões anterior chega ao seu último jogo com as equipes do 1º de Maio e Expressinho como finalistas.

Na primeira fase do torneio, as equipes fizeram campanha idêntica, com duas vitórias e um empate no Grupo B.

O 1º de Maio venceu na estreia o time do Rubião por 2 a 1; na rodada seguinte, triunfo por 3 a 0 diante do Atlético

Botucatuense; e na rodada final empatou com o time do Expressinho.

Já Expressinho, venceu na estreia o Atlético Botucatuense por 2 a 0; ganhou do Rubião em uma partida muito disputada por 4 a 3; além de ter ficado na igualdade com o 1º de Maio conforme já informado.

Na disputa da fase eliminatória (semifinal), a equipe do 1º de Maio venceu o time do D’Kebra por 2 a 0 enquanto que o Expressinho venceu com folga o time do Amigão por 5 a 1.

Agora, na decisão os jogadores voltam a se encontrar para definir qual a equipe será a Campeã das Campeãs desta edição do torneio.

Como novidade no campeonato, o palco do jogo da final será outro.

Após ter os seus jogos disputados no “ Complexo Esportivo Lourival Antônio Prearo”, o popular “Campo da Vila Maria”, a final do torneio será no Estádio “Dr Acrísio Paes Cruz”, o campo da Associação Atlética Ferroviária.

A partida está prevista para ter início as 8h30 e a entrada é franca.

Diário da Cuesta
Vinícius Alves
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