Edição 1051

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Diário da Cuesta

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

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Botucatu elege Vereadores após a queda da DITADURA

Delmanto e progresso Garcia, respectivamente presidente e secretário da Câmara Municipal - 1950

PRIMEIRA

Relação dos

eleitos a 15 de novembro de 1947

1 - Antônio Delmanto – UDN 945 votos

2 - Amando de Barros Sobrinho – PSP 466 votos

3 - José Coruli – PTB 405 votos

4 - José da Silva Coelho – UDN 387 votos

5 - Jaime de Almeida Pinto – PSD 357 votos

6 - Damião Pinheiro Machado – PSP .......315 votos

7 - Emílio Peduti – PSD ...........................276 votos

Em 1930, Getúlio Vargas toma o Poder, em 1937 Getúlio dá o Golpe de Estado e, em 1945, a Queda da Ditadura Getulista!

Em 1947, Botucatu e os demais municípios brasileiros elegem os seus representantes – os representantes do povo! – para a 1ª CÂMARA MUNICIPAL. Foi a grande festa da democratização!

A UDN – União Democrática Nacional, foi o partido político vencedor, elegendo a maior bancada, tendo a maior votação individual que proporcionou a eleição de membros da bancada. A UDN representou o partido político de oposição ao Ditador Getúlio Vargas e colheu os frutos da grande festa cívica que foi a redemocratização do Brasil

Assim, coube à UDN a Presidência da Câmara Municipal, além da Secretaria, respectivamente para os Vereadores Antônio Delmanto e Progresso Garcia.

10- Joaquim do Amaral Gurgel – PSP 194 votos

11- João Queiroz Reis – PSD 164 votos

12- Teodomiro Carmelo – PSD 161 votos

13- Alberto Laurindo – PSP 143 votos

14- Rafael Antunes Garcia – PSP 133 votos

15- Daniel da Silva – UDN 129 votos

16- João Batista Domene – PTB 125 votos

17- Rafael de Moura Campos – UDN 109 votos

18- Guilherme Machado – UDN ................96 votos

19 – Progresso Garcia – UDN ...................87 votos

Votações históricas/Câmara Municipal de Botucatu

8 - Francisco Ramires – PSP ...................207 votos 9

26- José Carlos Fortes – UDN ...................76 votos ( Acervo Vanguarda de Botucatu)

Amancio da Rocha Camargo - PSD ....197 votos

ANO IV Nº 1051 QUINTA-FEIRA , 21 DE MARÇO DE 2024
CÂMARA MUNICIPAL DE BOTUCATU
Vereadores
-
(Acervo Revista Peabiru)

Ascensão e Queda da Ditadura do Estado Novo

A busca de uma de uma ampla reforma política a garantir a autonomia dos Estados Membros e a elaboração de uma Constituição Democrática, com a volta do país ao Estado de Direito, esses eram os objetivos da Revolucão de 30.

Apesar do movimento revolucionário de 1930 ter recebido amplo apoio das forças e lideranças políticas paulistas, os seus objetivos foram fraudados pelo caudilhismo, representado por Getúlio Vargas. Uma vez instalado no Poder, Vargas passou a governar fora do Estado de Direito, violando as mais elementares regras democráticas.

Com a Revolução de 1930 houve um expressivo recuo na autonomia municipal. O Decreto nº 19.398, de 11 de novembro de 1930, que instituiu o Governo Provisório, dispôs em seu art. 11 que o Interventor Federal nos Estados nomearia um “Prefeito” para cada município, tendo a seu encargo as funções administrativas (Poder Executivo) e legislativas ( Poder Legislativo). Era o modelo centralizador, mais uma vez, a castrar a autonomia municipal e a impor-lhe a tutela pública.

Objetivando a Autonomia Administrativa, a elaboração de uma Constituição Democrática e o Pleno Estado de Direito é que os Paulistas se levantaram contra os desvios dos objetivos da Revolução de 1930.

O Congresso Nacional, as Assembléias Estaduais e as Câmaras Municipais foram fechadas, todos os Governadores dos Estados foram depostos e a Constituição de 1891 (preparada por Rui Barbosa) foi revogada. O caudilho Vargas passou a governar o Brasil através de Decretos-Leis (1930/32).

São Paulo assumiu a liderança de exigir o retorno do país ao Pleno Estado de Direito. A insatisfação grassava por toda parte e a permanência, que não era provisória, dos governantes federais no Poder era a negativa do ideário pregado para o sucesso do movimento de 30.

De início, com o apoio de vários Estados da Federação, principalmente do Rio Grande do Sul e Minas Gerais, sendo certo que os gaúchos tiveram papel significativo no incentivar, mobilizar e apoiar a tomada de posição dos paulistas. No entanto, o grande poder de cooptação do Poder Central conseguiu isolar São Paulo. Sozinhos, os Paulistas levantaram a Bandeira da Constituição

A Guerra Civil foi desigual e a força militar do Governo Federal levou a melhor. Todos sabem o desfecho dessa que foi a mais importante ruptura da unidade nacional: a guerra civil de 32, levando irmãos ao mais grave enfrentamento. Os gaúchos – salvo algumas lideranças democráticas que mantiveram a palavra de incentivo e apoio irrestrito – abandonaram os paulistas. O mesmo ocorreu com os mineiros e com as forças militares da capital federal. São Paulo restou sozinho na batalha para poder gerir a si próprio e pelas eleições e pela Constituição Democrática.

São Paulo não ganhou a guerra civil, desproporcional sob todos os aspectos, mas saiu vitoriosa, indiscutivelmente, saiu vitoriosa: o Ditador Getúlio Vargas teve, essa é a verdade, teve que convocar as Eleições Constituintes!

Haviam conseguido “brecar” São Paulo pelas armas, mas o povo brasileiro já havia sido “contaminado” pelo patriotismo e pelo desejo de ver o Estado de Direito reimplantado no país!

As eleições para a Constituinte, aconteceram a 03/05/1933 A Chapa Única dos Paulistas elegeu 17 dos 22 representantes do Estado. Logo após as eleições, Vargas conseguiu aproximar-se da oposição paulista e fazer a tão desejada aliança.

No dia 21/08/1933, um “civil e paulista”, combatente de 32, toma posse como Interventor Federal em São Paulo: o Engº Armando de Salles Oliveira.

“Quero que compreendam a extensão e o significado deste ato, pois, com este decreto, entrego o Governo de São Paulo aos

revolucionários de 32””.

Getúlio Vargas

No Palácio Tiradentes, no dia 16 de julho de 1934, era oficialmente promulgada a nova Constituição da República.

Finalmente, a 14 de outubro de 1934 são realizadas eleições para a Câmara de Deputados e para as Assembléias Constituintes dos Estados. Além de elaborarem as respectivas Constituições Estaduais, elegeriam os governadores e senadores.

O GOLPE MILITAR E A DITADURA DO ESTADO NOVO

Em 1937, 0 GOLPE MILITAR!

Com a implantação do Estado Novo, Getúlio Vargas fecha os Parlamentos (Congresso Nacional, Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais), depõe Governadores e Prefeitos, nomeia Interventores, revoga a Constituição Democrática de 1934, e passa a governar através de Decretos-Leis... Era o desmonte da construção da Democracia: acabava com o Federalismo e a favor do centralismo autoritário, facista e anti-nacional.

Após implantar o chamado Estado Novo, o Ditador Getúlio Vargas queimou, em praça pública, as Bandeiras de TODOS os Estados Brasileiros. Era o facismo caboclo que tentava destruir o civismo da Nação Brasileira.

Como consequência da 2ª. Grande Guerra Mundial, da qual o Brasil participou ao lado dos Estados Unidos contra os facistas e os nazistas, os valorosos combatentes brasileiros voltaram impregnados do sentimento democrático... A população brasileira, também. A Nação clamava pela volta da Democracia... Em 29 de outubro 1945, a queda do Ditador...

Em todos municípios brasileiros, em 1947, a realização de eleições para os representantes do povo!

Era a DEMOCRATIZAÇÃO DOS MUNICÍPIOS! (AMD)

Diário da Cuesta 2

CATARSE

Há certas horas na vida das pessoas e dos cidadãos nas quais qualquer que seja a posição do corpo e alma se encontra genuflexa, como disse conhecido filófoso, ajoelhada diante do altar da Pátria ou diante dos grandes momentos de afirmação da nacionalidade. Como agora. Como neste momento histórico, quando toda a Nação se mobiliza contro desgoverno e a favor da ética na política. É a Catarse nacional. É a limpeza, a purificação nacional. A Nação brasileira está pondo para fora as suas mazelas, repensando seus valores, analisando seus componentes, elegendo suas prioridades.

Todos deveríamos fazer também a nossa Catarse.

Individualmente e em grupo. Principalmente os grupos representativos da elite social. A Elite que comanda (a nível municipal, estadual ou federal) ou deveria comandar os destinos da comunidade. Precisa fazer a sua Catarse, expulsar os seus demônios, eliminar os germes do comodismo que a infectaram, romper as amarras da burocracia que a estão paralisando...

Vejamos o papel das elites em Botucatu. Analisemos, principalmente, o que deixou de ser feito, de meados dos anos 60, quando passamos a ter uma nova realidade sócio-econômica.

Repensemos os nossos cidadãos que foram descartados em pleitos eleitorais, exatamente porque a nossa Elite recusou-se a assumir o papel de indicadora de rumos e formadora da opinião pública. Sempre há que se preservar o direito, a liberdade de opção final, mas não se pode, sob essa alegação, furtar-se à obrigação, ao dever de desfraldar as grandes bandeiras, de indicar o bom caminho, de desaconselhar a escolha dos dúbios e dos despreparados e, principalmente, de assumir o seu papel de liderança e de vanguarda

A nível local, basta que atentemos para alguns dos nomes, entre tantos outros, dos descartados para a Prefeitura de Botucatu nestes últimos anos: Dr. Domingos Alves Meira, Dr. Antonio Delmanto, Engº Lair Quirinéa, Dr. Brant, empresário Emilio Peduti Filho e Arquiteto Eugênio Monteferrante Netto. Não é brincadeira. Não se brinca assim com os destinos de toda a comunidade. Todos sonhamos ter em nossas mãos os destinos da cidade de Botucatu... E nem se alegue que foi livre a opção... Em termos, sempre o é... A verdade é que há mais de 2 decênios a omissão de nossas Elites é, como diria o Boris Casoy, uma Vergonha!!!

Hoje, vemos que muito deixou de ser feito. Há mais de 2 decênios a cidade de Botucatu é governada sem um Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado Qual empresa ou pequeno negócio alcança sucesso sem um prévio planejamento? Em Botucatu, pessoas de nível universitário reiteradamente alegam que Plano Diretor é coisa que complica, coisa muito grandiosa, ou até, dizem alguns, coisa de “louco”.

Ora, o 1º Mundo e as principais cidades do Brasil que estão dando certo adotaram o planejamento urbano como primeiro passo.

EXPEDIENTE

Como exemplo, temos a cidade de Curitiba, onde o ex-prefeito Jaime Lerner considerado o melhor Prefeito do Brasil, adota o planejamento urbano como condição primeira para a racionalidade administrativa, isso há mais de 20 anos...

Pois bem, em Botucatu também há mais de 20 anos o arquiteto Eugênio Monteferrante Netto vinha batalhando pela implantação do planejamento municipal. O que temos de Plano Diretor, devemos a ele. O ex-prefeito Lerner já o havia convidado para integrar a sua equipe. Outras municipalidades fizeram o mesmo, como Presidente Prudente, Portanto, não se trata de partidarismo político.

Será que só alguns “iluminados” de Botucatu é que estão certos e os outros são simplesmente “loucos”?

Ora, parem com isso... Vamos fazer a nossa Catarse. A Constituição de 1988 tornou Obrigatório o Plano Diretor Urbano e a Lei Orgânica de nosso município exige, desde abril de 1990, a elaboração do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado abrangendo toda a área municipal...

As nossas Elites precisam se posicionar... As Elites comandaram o processo de nossa Independência e de nossa República. As Elites comandaram (mas não mantiveram o comando) as Revoluções de 1930 e 1964. As Elites foram de Carona nos movimentos das Diretas Já e das Eleições Presidenciais, comandados por setores engajados da sociedade que souberam mobilizar a mídia eletrônica.

Vamos despertar as nossas Elites. Vamos assumir o papel de Vanguarda nas transformações sociais. E a solução está nas cidades onipresentes.

Aqui é que terão início as mudanças. Ninguém vive na Nação e nem no Estado: é no Município que construiremos a grandeza do País.

Vamos por para fora os nossos demônios. Que as Elites, em Botucatu, entrem no espírito que domina o país e façam a sua Catarse. Que ponham para fora as suas mazelas, repensem os seus valores, analisem a atuação de seus políticos locais, elejam as prioridades sociais da cidade e assumam a vanguarda da comunidade na caminhada inexorável para o futuro. (AMD)

(matéria publicada no livro “Memórias de Botucatu”, 1995)

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto

EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO:

Diário da Cuesta 3
Edil
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Retratinho 3x4

Crônica de Luiz Carlos Casemiro

Onde estão aqueles estúdios fotográficos que faziam retratos 3x4, em preto e branco? Eu me recordo. Num passado remoto, na segunda metade do século passado, estou sentado num banquinho que tem à sua frente uma enorme caixa de madeira, sustentada por um tripé. Achei muito esquisito minha mãe obrigar-nos, a mim e ao meu irmão, tomar banho, cortar o cabelo no salão do Seu Nabor e vestir roupa de domingo, aquela de ir às missas. Disse que íamos tirar retratos. Desconhecia, completamente, o que isso significava.

O fotógrafo, descobri seu nome muitos anos depois disso, quando ele, candidato a vereador, me passou uma cédula onde constava seu nome. Gente! Essa cédula aí não é de dinheiro, não. Ele, pessoa honesta, não faria isso. Naquele tempo todos votavam, colocando uma tira de papel onde constava o nome do pleiteante dentro de envelope rubricado pelos mesários, para em seguida ser depositado em urnas de madeira. Ele tinha um nome tão diferente. Tão incomum quanto ao nome de batismo, Encarnacion, da tia Nenê. O dele: Progresso. Progresso Garcia. Com esse nome ele não progrediu muito em altura, era baixinho.

O Seu Progresso disse para minha mãe. Vamos começar com o menorzinho. Era eu. A foto serviria para confeccionar o documento de identidade de pensionista da Estrada de Ferro Sorocabana. Ainda guardo esse retrato como lembrança, mais do que isso, uma relíquia, minha primeira fotografia.

Foi um tal dele me ajeitar naquela banqueta sem encosto. Afasta-se, abaixa-se e olha para mim com só um olho aberto, talvez calculasse a distância. Vem a mim e ergue a minha cabeça. Não deve ter ficado bom, retorna e abaixa minha cabeça. Mede de novo. Com as duas mãos, volteia o meu rosto para mais perto da janela. Estou amedrontado. Agora ele se escondeu atrás da caixa de madeira, que possuía um espelhinho redondo, na frente. Fiquei desconfiado que algo bom não iria ocorrer ali, pois ele se cobriu atrás do caixote com um lençol preto. Ufa, ainda bem que ele saiu dali. Prá quê? Tirou de uma gaveta uma lâmpada estranha que parecia ter um novelo de lã branquinha, fininha, dentro dela. Enroscou-a numa espécie de abajur alto. Arrastou esse troço para bem perto de mim, direcionando-o

para o meu rosto.

Exigiu silêncio de todos e ordenou-me ficar olhando naquele espelhinho. Vejam a minha decepção e frustração. Ele escondeu-se debaixo do lençol preto e disse com um jeito de quem não mentia. “Olha o passarinho verde”. Julguei que sairia do caixote a avezinha!

P.Q.P.!

Um jato de luz, o maior que já presenciei na vida, associado a estouro espetacular, tal qual o de uma bombinha de São João de quinhentos réis, que atingiu meus olhos de modo inesperado e traiçoeiro. Cegou-os por um tempão. Até hoje eles não funcionam bem, talvez seja por causa disso. Aquela lâmpada esfumaçou e os novelinhos dentro dela derreteram ao produzir o flash. Meu irmão, assustado, disparou para a rua e, somente com promessa de ganhar chicletes de bola, novidade americana que chegara ao Brasil, com enorme sucesso entre a molecada, submeteu-se ao insano ato de tirar retrato três por quatro, em preto e branco. Garanto que ele ficou preocupado, aguardando sua vez enquanto o Seu Progresso Garcia retirava a lâmpada queimada, ainda quente, pois dava uma viradinha nela e, em seguida, assoprava os dedos. A lâmpada servia unicamente para uma sessão de flash. O Zinho teria sua lâmpada, com a vantagem de conhecer todos os procedimentos.

Tem mais. Não vi o passarinho verde, porra nenhuma!

Cinquenta anos depois...

Estou no Rio de Janeiro, cidade onde reside a minha filha Adriana. Há poucos dias nascera a minha neta Isabella. Fomos, eu e minha mulher, Eleonora, para auxiliar a Adriana nos cuidados da neném recém-nascida. Como esses encargos são mais ligados às mulheres, sobrava-me tempo à tarde, para desfrutar e apreciar belos lugares dessa cidade maravilhosa, a mais bonita do Planeta. Teatro, museus, parques, exposições, estádios, praias e a Biblioteca Nacional, esta então, imperdível. Espetacular! Fantástica!

Numa dessas tardes visito o enorme palacete localizado no Cosme Velho, próximo da estação do Trenzinho do Corcovado, onde há exposição artística de fotografias. Logo na entrada, como a contar história da arte fotográfica, desde seus primórdios, há uma caixa de madeira que ora utilizada por profissionais denominados de lambe-lambes. No cocuruto do caixote havia sido fixado um passarinho verde, verde, caros leitores, durinho, empalhado e taxidermizado. (ao dicionário, como recomendava o saudoso João Ubaldo Ribeiro quando escrevia uma palavra difícil).

Ah! Então ele existia!

Levei meio século para ver o passarinho verde.

E nessas cinco décadas, o mundo mudou. Saudosista que sou, para... pior.

Águas de São Pedro (SP), 25 de agosto de 2015.

Diário da Cuesta 4
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GERAÇÕES DA CIDADANIA BOTUCATUENSE HOMENS QUE FIZERAM BOTUCATU!

PROGRESSO GARCIA

Repouso do Guerreiro

O guerreiro repousou. Deixa o retrato de toda uma vida e os filhos e netos bem formados a carregarem com orgulho por todos os cantos a sua venerável imagem.

Progresso foi um lutador a vida inteira. Autodidata, brilhou na música, nas letras e na política que era a sua grande paixão.

Fotógrafo de profissão, era um artista que registrou gerações de botucatuenses. Antes da máquina tecnológica, quando a foto ainda recebia o indispensável acabamento artesanal. Essa profissão, Progresso aprendeu ainda menino com o pioneiro da fotografia em Botucatu, o Mestre João Pinto da Rocha. Moço animado, aprendeu música e com seu saxofone animou inesquecíveis bailes em nossa cidade, chegando a fazer um cruzeiro marítimo como integrante da orquestra do navio.

Entusiasta do esporte amador, Progresso Garcia militou de forma positiva na Comissão Central de Esportes – CCE, na Liga Botucatuense de Futebol e na Associação Atlética Botucatuense – AAB. O futebol e o atletismo receberam apoio vibrante de Progresso. Companheiro de Antônio Delmanto, Nenê Stefanini, Aldo Martin, Aldo Stefanini, Roberto Policaro, Bruno Fabrizzi, Alfredo Tortorella e Ciro Leão na Diretoria Executiva da AAB por 2 decênios, Progresso deixou registrada a sua passagem pelo esporte através de anos de dedicação.

vereança conseguindo – fato raro ! – ser por três vezes eleito Presidente da Câmara Municipal. Eleito vice-prefeito de Botucatu, exerceu interinamente e bem a Prefeitura. Sua atuação política foi efetiva em toda a nossa região. Progresso percorreu todos os caminhos e participou de todas as lutas de seu tempo. Nunca se omitiu.

Nas Letras e no civismo, Progresso era fanático por Botucatu, a sua cidade querida. Fanatismo no bom sentido. Autor de conhecidas poesias cívicas, tinha a “verve” criativa e apaixonada... Pertenceu à Diretoria do prestigioso Clube 24 de Maio.

Na política, fez parte da brilhante equipe de idealistas que após a Ditadura Getulista participou de forma vencedora do processo de democratização da vida política de Botucatu. No ano de 1947, elegeu-se vereador pela UDN – União Democrática Nacional, então comandada por Antônio Delmanto, como parte de uma equipe que formou a maior bancada de vereadores

da Câmara Municipal em uma época em que a vereança era sem remuneração, movida a idealismo. Desse grupo pioneiro, sugiram líderes que, como ele, influíram na vida política botucatuense. A UDN era conhecida por ser um partido de elite, no entanto, em Botucatu, não o era; era o partido mais popular e representativo dos mais variados segmentos sociais. Os companheiros de Progresso Garcia na primeira luta democrática de Botucatu, após a Ditadura, foram: Antônio Delmanto (médico), Rafael de Moura Campos (advogado), José da Silva Coelho (comerciário e estudante de Direito), José Carlos Fortes (gráfico e representante da comunidade negra), Aldo Martin (contador), Daniel Silva ( comerciante), Lourenço Ferrari (pecuarista), Laurindo Izidoro Jaqueta ( comerciante e líder comunitário) e Abílio Dorini (contador).

Na política, Progresso mostrou competência e vocação. Orador brilhante e perspicaz, sabia transmitir com simplicidade as ideias e apresentava as críticas com humor e ironia. Por mais de 25 anos exerceu a

Tive o privilégio de exercer, por 6 anos, a vereança ao seu lado. Lado a lado, literalmente. Sentava ao seu lado, e feliz coincidência, batalhamos lado a lado esses anos todos. Tinha admiração e respeito por Progresso Garcia. Foi um aprendizado, sem dúvida. Ao seu lado aprendi a fazer política em lições de idealismo e amor a Botucatu, vindas de um grande Mestre. Após a extinção dos partidos políticos pela Revolução de 64, Progresso Garcia foi um dos fundadores do MDB, o “mandabrasa”, partido da oposição. Carregou o partido (a sede era em sua casa), viabilizou o partido e fez do MDB um partido vencedor. Com a fundação do PMDB, executou idêntico papel. Era um gigante o fisicamente pequeno Progresso Garcia.

Magoado com a ingratidão dos falsos amigos, machucado pelo oportunismo dos usurpadores das mais belas bandeiras partidárias e revoltado com os traidores do voto popular. Progresso Garcia vivia amuado nos últimos tempos, mas já fazia projetos para a virada política de Botucatu nas eleições municipais de 1992. Em verdade, desse bravo guerreiro, com certeza só ficará a vida vivida com amor, idealismo e muita, muita bravura.

O guerreiro repousou. Dele ficará o retrato do entusiasmo e do idealismo. Soube semear e destacar-se na comunidade à qual serviu com dedicação.

No último dia de fevereiro ele repousou. Todos nós perdemos um pouco de vida. Botucatu ficou mais pobre com a sua inesperada partida.

O guerreiro repousou.

PROGRESSO GARCIA.

Saudades. (AMD – 11/03/1992).

Diário da
4
Cuesta

Botucatu além das sua beleza natural, pela formação da Cuesta, mantém um importante conjunto arquitetônico que resiste ao tempo. Entre igrejas, escolas, construções, monumentos, estátuas, locais públicos, são tantos que poderíamos nomear as 100 belezas da cidade dos Bons Ares. Locais que passam desapercebidos, mas que arranca elogios de quem nos visita.

Constantemente a cidade é palco de diversos eventos, seja acadêmicos, esportivos ou de entidades e perdemos essa oportunidade única de mostrar um pouco de nossa cidade.

Recentemente um amigo esteve por aqui e perguntou quais os pontos turísticos da cidade e começamos a tentar lembrar dentre tantos e nos levanta justamente uma questão, a falta de um material de apoio, a história de cada ponto turístico e informações básicas, por mais que se tente e tenha sido feita de forma escalonada.

Não chega nem a ser uma crítica, mas é uma oportunidade que nem sempre percebemos, temos um museu arquitetônico que poderia atrair visitantes regionais e fomentar a economia e isso atrairia novos investimentos.

Vamos olhar de outra forma o que já temos e criar uma estrutura.

Diário
da Cuesta 6
Prédio da Caridade Portuguesa, em Cartão Postal de 1920. Praça do Paratodos já com a concha acústica Igreja de Santo Antônio em Rubião Júnior Vila dos Lavradores, e a Via Férrea Sorocabana
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