Edição 1050

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Diário da Cuesta

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

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GRACILIANO RAMOS

(27/10/1892 – 20/03/1953)

Graciliano Ramos de Oliveira foi um romancista, cronista, contista, jornalista, político e memorialista brasileiro do Século XX, mais conhecido por sua obra Vidas Secas. Nascido numa grande família de classe média, viveu os primeiros anos de sua infância migrando para diversas cidades da Região Nordeste do Brasil. O filme “MEMÓRIAS DO CÁRCERE”, sobre sua vida consagrou a carreira de Carlos Vereza que o interpretou no filme.

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ANO IV Nº 1050 QUARTA-FEIRA , 20 DE MARÇO DE 2024

GRACILIANO RAMOS

Graciliano Ramos foi o homenageado da 11ª FLIP – Festa Literária de Paraty de 2013. E com justiça. Nenhum outro escritor brasileiro se enquadraria tão bem no momento político por que passa o país. Graciliano foi prefeito municipal atuando com absoluta integridade administrativa, escrevia os relatórios da prefeitura com tal perfeição que o revelaram para o mundo das letras, e mais, dentro da sua esfera de atuação dava destinação nobre aos presos da cadeia local: colocava-os para abrirem estradas e não ficarem ociosos no xadrez além de receberem uma remuneração justa. O ator global, Carlos Vereza, interpretou a vida de Graciliano na prisão, em “Memórias do Cárcere”. Injustamente preso, Graciliano durante seu período na prisão, escrevia, escrevia e escrevia... Preso em 1935, já em 1936 lançava o livro Caetés. Um alagoano bem diferente dos Renan Calheiros... Era “vinho de outra pipa” e ficou consagrado na história do Brasil. Grande homenagem a Graciliano Ramos!

A FLIP – FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATY foi a 11ª. edição da Festa Literária como um dos maiores Festivais de Literatura do Mundo. Teve em sua curadoria o jornalista Miguel Conde. A FLIP realizou cerca de 200 espaços culturais, incluindo debates, shows, exposições, oficinas, exibição de filmes e apresentações de escolas, entre outros: FlipMais, FlipZona e Flipinha. A Imprensa Oficial “Graciliano Ramos” representou Alagoas na FLIP. A editora que participa pela primeira vez do evento, lançou três publicações, referentes ao escritor alagoano Graciliano Ramos. Graciliano Ramos foi romancista, jornalista e político e é um dos mais importantes escritores brasileiros. Nasceu em Quebrangulo, em 1892 e faleceu no Rio de Janeiro em 1953, aos 60 anos de idade. Foi Prefeito Municipal de Palmeira dos Índios (1927 -1930), em Alagoas, sendo através de seus relatórios administrativos que o escritor e editor Augusto Frederico Schmidt o descobriu e o incentivou a publicar, em 1933, seu livro Caetés. Graciliano foi Diretor da Imprensa Oficial de Alagoas de 1930 a 1936, tendo sido também professor e Diretor da rede escolar. Foi preso pela Ditadura de Getúlio Vargas após a Intentona Comunista de 1935, mas incentivado por José Lins do Rêgo publicou, em 1936, o livro “An-

gústia”, considerado um de seus melhores trabalhos literários. Somente em 1946 é que ingressa no PCB (já havia a divisão entre PCB e PCdoB), sob o comando de Luís Carlos Prestes.

No ano em que se completa 60 anos da morte do autor de obras que se tornaram “clássicos” da literatura brasileira, como “Vidas Secas”, “Angústia” e “São Bernardo”, a editora da Imprensa Oficial “Graciliano Ramos” lança os títulos: Relatórios de Graciliano Ramos publicados no Diário Oficial (resgatados do acervo do Diário Oficial do Estado, publicado pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos), a biografia Graciliano Ramos em Palmeira dos Índios (de Valdemar de Souza Lima), além de uma edição especial da revista Graciliano, que trata da vida e da obra do escritor vistos a partir de um olhar contemporâneo.

Os livros Relatórios de Graciliano Ramos publicados no Diário Oficial e Graciliano Ramos em Palmeira dos Índios integram uma série cujo tema é Graciliano Ramos O projeto gráfico é assinado pelo designer Roger Ferraz.

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“O berço”

Maria De Lourdes Camilo Souza

Ontem nos deliciávamos a olhar fotos antigas e identificar os componentes da família em cada uma delas.

“Olha como eram as roupas antigas”.

“Quem era o menino no colo da fulana?”

“Esta foi na lua de mel”.

O pai nervoso andando de um lado para outro.

Um deles estava tão feliz que carregava a máquina fotográfica para registrar a cara enrugada, avermelhada mas muito amada do seu bebê e deixar eternizada uma foto para a posteridade.

O charuto no bolso e o isqueiro para festejar esse momento único.

Lembro-me de ter dado umas baforadas no famigerado charuto.

Senti o calor e senti os olhos lacrimejar, a garganta queimar com aquela invasão de fumaça.

Não era como o do cachimbo que deixava um certo sabor de chocolate.

“Esse terceiro magro e alto de bigodes foi aquele que mandou matar a mulher numa tocaia.” - Sério? Não sabia”

“Olha aquela do Carnaval no Tênis”

Aí partimos da projeção das fotos que já começaram a se repetir para olhar os álbuns bem arrumados repletos de fotos de casamento, churrascos, festas, passeios, viagens, fazendas, aeroportos, chegadas, despedidas, almoços, festas natalinas.. E num desses eu vi ali o berço: o que foi meu berço!

Era de ferro torneado, pintado de branco todo preparado para receber mais um novo membro da família.

Envolto no véu diáfano e protetor.

Sei que quando chegou a minha vez, foi adornado com a medalha benta do meu anjo da guarda, presenteada pelos meus padrinhos, e que ficou pendurada bem próxima a minha cabeça para proteção.

Foi muitas vezes restaurado para abrigar mais um novo bebezinho.

Lembro de quando recebemos a notícia de que um bebê, o primeiro neto ia chegar e iniciou-se a busca do famoso berço.

Fomos encontrá-lo jogado servindo de ninho de galinhas perdido num depósito numa fazenda de um dos tios.

Já tinha mais uma vez cumprido seu propósito para os três meninos que já tinham crescido.

Só mudavam o colchãozinho e os adereços as cores e os enfeites, eram ora rosa para as meninas, azuis para os meninos ou de outras cores para os pais que preferiam esperar a surpresa da chegada do novo ser.

Anunciado o momento tão aguardado, a família inteira na sala de espera da Misericórdia.

Mas tudo era festa e as lágrimas eram pura alegria transbordante.

Todos se confraternizavam quando o querido pediatra da família, que tinha sido chamado às pressas para receber o novo rebento, ainda paramentado trazia o bebê e todos corriam para olhar e comprovar as semelhanças familiares.

O pediatra, um primo querido, que seguiu e segue junto com a família sendo convidado de honra a todos os eventos.

É consultado a cada achaque dos pequenos e acompanha o crescimento de cada um deles.

Batizou alguns na pia batismal da Misericórdia, logo nos primeiros dias de vida, quando ainda vivia o sábio Padre Renato.

As irmãs de caridade ainda trabalhavam por lá.

Quantas vidas adormeceram confiantes no pequeno e acolhedor berço.

Ele tinha um modo de destravar para acalentar o bebê para dormir.

Ainda deve existir em algum depósito da família, aguardando a hora de ser chamado a servir para os novos membros que virão. E

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recontar e relembrar as muitas vidas que por ele passaram. EXPEDIENTE DIRETOR: Armando Moraes Delmanto EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689 NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU WEBJORNALISMO DIÁRIO O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.

“Chega de perguntas”

Essa prosa é comigo mesmo. Já decidi, não me faço mais perguntas para as quais não terei respostas Já pelejei muito pra sabê mais de Deus, querendo entendê sua essência, suas razões, seus desígnios. Na mocidade, fui questionador. Às vezes tive respostas e outras não. Chega ! Se o laço não alcança, não jogo, e não jogando não erro. Meu laço é curto pra laçá e entendê os mistérios do universo e os atributos de Deus. Sabe, minha inteligência é humana, finita. A de Deus é infinita e Ele é a causa primeira e razão última de todas as coisas existentes ou possiveis.. Pra mim, peãozinho do entendimento, chega de graça, de arrogância. Que sabê? Eu não sei nada, mas tenho fé. Não faço mais perguntas sobre o amor.

Se falso ou verdadeiro,se primeiro ou último, se único ou múltiplo, se fraternal ou passional, pouco me importa. Ele, o amor, é uma colcha de muitos retalhos e de mui-

tas cores. Quem ama sabe que ama. Quem não é amado, sabe que não é amado. Pode o amor ser mais do que é? Eu não sei! Penso que amamos o amor, não importando os personagens. Eles, os personagens, se alteram, mas a necessidade de amar anda conosco no transcorrer da vida. Penso que o grande amor, o amor perfeito é o abstrato que vive no imaginário e daí é lindo. Quando deixa o mundo dos sonhos e se concretiza, nem sempre sobrevive na roda viva da vida.

Não quero mais fazê pra mim perguntas sobre valores e condutas. Busquei conduzir minha vida com uma hierarquia de valores. Lá no mais alto degrau da escada, os valores espirituais, morais, éticos. Havia degraus para os valores corporais, culturais, e os materiais, la no pé da escada. Hoje eu sei quantas vezes essa escada foi invertida. Sempre havia um contexto pra justificá o injustificável. Sabe o que é? A gente vacila, tropica, erra, se engana, engana. Sabe, eu não sei tanta coisa que pensei que sabia e não sabia. Então se sobrá umas verdades, mesmo que só minhas, já tá bom. Sempre fui do “mais pouco” que do “muito mais” . Vivo dizendo que fui criado com pouco leite . Simples assim.

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