A IMAGEM DOS ESTADOS UNIDOS NA MÍDIA DEPOIS DO 11 DE SETEMBRO

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

DEBORAH CATTANI GERSON

A IMAGEM DOS ESTADOS UNIDOS NA MÍDIA DEPOIS DO 11 DE SETEMBRO

Porto Alegre 2011


DEBORAH CATTANI GERSON

A IMAGEM DOS ESTADOS UNIDOS NA MÍDIA DEPOIS DO 11 DE SETEMBRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau em Bacharel em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Orientador: Prof. Dr. Jacques Alkalai Wainberg

Porto Alegre 2011


DEBORAH CATTANI GERSON

A IMAGEM DOS ESTADOS UNIDOS NA MÍDIA DEPOIS DO 11 DE SETEMBRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau em Bacharel em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Aprovada em: ______ de __________________ de ________.

BANCA EXAMINADORA:

__________________________________________________ Prof. Dr. Jacques Alkalai Wainberg – PUCRS

__________________________________________________ Prof. Dr. Antônio Carlos Hohlfeldt – PUCRS

__________________________________________________ Profª. Drª. Dóris Fagundes Haussen – PUCRS

Porto Alegre 2011


AGRADECIMENTOS

Agradeço ao professor Juan Domingues por ter me ajudado com a elaboração do esboço deste trabalho. Agradeço também ao professor Antônio Hohlfeldt pela indicação dos primeiros passos que eu deveria tomar para chegar até aqui. Agradeço ao meu orientador, professor Jacques Wainberg, que teve paciência com as minhas ideias mirabolantes e com a minha inexperiência. Agradeço a minha mãe, Rossana Cattani, que me auxiliou com as traduções das muitas obras e termos em inglês. E por fim, agradeço a todos os professores da Famecos por quem passei, pelos momentos de grande aprendizado, de amizade e compreensão.


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Two eyes our souls possess: While one is turned on time, The other seeth things Eternal and sublime. Angelus Silesius, 1986


RESUMO

Esse trabalho se dedica a explorar a imagem dos Estados Unidos (EUA) posteriormente aos atentados de 11 de setembro de 2001 na mídia brasileira e norte-americana. Através das revistas Newsweek e Carta Capital a pesquisa enseja analisar como os ataques foram tratados, quais foram as suas repercussões, como os EUA reagiram e como o mundo recebeu todas essas informações. O ensaio se utiliza de técnicas básicas da comunicação e do jornalismo para explicar como os atentados ganharam as páginas mais importantes da mídia por quase dez anos. Além disso, traça um perfil da opinião pública americana baseado em diversas pesquisas globais. O terrorismo é um dos enfoques que guia essa avaliação. Outros aspectos importantes são: as políticas interna e externa americana, a codificação e a decodificação e os fatores e características do jornalismo de revista semanal. A análise de discurso foi escolhida como metodologia de observação das amostras, que contemplam edições especiais de setembro de 2001 e edições de setembro de 2002 e 2006. Palavras-chave: 11 de setembro. Opinião pública. Terrorismo. Estados Unidos.


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ABSTRACT

This work focuses on the image of the United States of America in the Brazilian and American media after the terrorist attacks of September 11, 2001. Through the analysis of Newsweek and Carta Capital magazines, this research investigates how the attacks have been approached, the aftermath, and the American response as well. Furthermore, it examines how the world has received such information. Basic techniques of communication and journalism were used to explain how the attacks have gained the most important pages of the media for almost ten years. Furthermore, a profile of the American public opinion has been outlined, based on various global surveys. Terrorism is one of the main points of this assessment, in conjunction with other important aspects such as: the American internal and foreign policies, encoding and decoding, in addition to the different factors and characteristics of weekly magazine journalism. Discourse analysis was the method used for the examination of the samples, which included special issues in September 2001, 2002 and 2006. Keywords: September eleven. Public opinion. Terrorism. United States of America.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 – A definição da agenda pelos mass media – Agenda-setting........... 17 Figura 1 – Visões positivas e negativas dos EUA por outros países ................. 29 Tabela 1 – Público que continua divido quanto ao fato de o Islã ser uma religião com maior possibilidade de encorajar a violência ................................. 30 Figura 2 – Imagem dos EUA pelas Américas ........................................................ 33 Figura 3 – Distribuição dos exemplares de Carta Capital ................................... 39 Figura 4 – Classificação da qualificação dos leitores de revistas no Brasil ..... 40 Figura 5 – Perfil do público da Newsweek ............................................................ 41 Figura 6 – Percentual dos assuntos tratados nos editoriais de 2009 ................ 42 Figura 7 – Charge na Newsweek de setembro de 2002 ....................................... 48 Figura 8 – Pesquisa sobre autoria dos ataques de 2001 nos EUA ..................... 51


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10 2 O EVENTO NA MÍDIA ............................................................................................ 12 2.1 OBSERVADOR NEUTRO ................................................................................... 12 2.1.1 O imediatismo e o valor-notícia .................................................................... 13 2.1.2 O grande portão .............................................................................................. 14 2.2 AGENDA-SETTING ............................................................................................. 16 2.3 SENSACIONALISMO E FAIT DIVERS ............................................................... 17 2.4 A SOCIADADE, A CODIFICAÇÃO E A DECODIFICAÇÃO ................................ 19 2.4.1 Terror na mídia................................................................................................ 21 3 A IMAGEM AMERICANA ...................................................................................... 23 3.1 CONCEITOS DE IMAGEM E OPINIÃO .............................................................. 24 3.1.1 Teorias da conspiração e ceticismo ............................................................. 26 3.2 O QUE DIZEM AS PESQUISAS ......................................................................... 28 3.2.1 Como os árabes são vistos ........................................................................... 30 3.2.2 Consequências da imagem: antes e depois ................................................ 32 3.3 NEOCONSERVADORISMO, REPUBLICANOS E DEMOCRATAS.................... 34 3.3.1 Chomsky versus Horowitz ............................................................................. 35 4 REVISTAS .............................................................................................................. 37 4.1 JORNALISMO DE REVISTA SEMANAL ............................................................. 38 4.1.1 Carta Capital.................................................................................................... 39 4.1.2 Newsweek........................................................................................................ 40 4.2 COBERTURA BRASILEIRA VERSUS NORTE-AMERICANA ............................ 42


4.2.1 Ainda em setembro de 2001 .......................................................................... 43 4.2.2. Um ano depois ............................................................................................... 47 4.2.3 Cinco anos depois .......................................................................................... 50 4.3 A GUERRA QUE A MÍDIA ALIMENTA ................................................................ 51 5 CONCLUSÃO......................................................................................................... 54 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 57 ANEXO A .................................................................................................................. 61 ANEXO B .................................................................................................................. 62 ANEXO C .................................................................................................................. 63 ANEXO D .................................................................................................................. 64 ANEXO E................................................................................................................... 65 ANEXO F ................................................................................................................... 66


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1 INTRODUÇÃO Esse trabalho efetua um exame minucioso da imagem americana no cenário internacional após os atentados de 11 de setembro de 2001. Como amostra de estudo, foram escolhidos três exemplares de duas revistas semanais: uma norteamericana, Newsweek; e uma brasileira, Carta Capital. A proposta, além da descrita acima, também é verificar se há diferença na cobertura brasileira para a norteamericana. Explorando a metodologia proposta por Maingueneau (2001) de análise de discurso, esta pesquisa demonstra que o exercício do jornalismo é uma forma de ação sobre o mundo e não uma representação fiel deste. Conforme Maingueneau (2001, p. 20) [...] todo ato de enunciação é fundamentalmente assimétrico: a pessoa que interpreta o enunciado reconstrói seu sentido a partir de indicações presentes no enunciado produzido, mas nada garante que o que ela reconstrói coincida com as representações do enunciador.

É importante ressaltar que esse tipo de semanário tem como objetivo trazer as notícias relevantes da semana anterior de uma maneira mais detalhada que na internet ou no jornal impresso. A preocupação dessas publicações não está somente no furo jornalístico, mas sim no detalhamento e desdobramento de uma pauta em uma reportagem inteligível ao leitor; trazer personagens que ilustrem um fato com outra visão do que sucedeu; permitir ao público variadas perspectivas de um mesmo acontecimento. Quase dez anos após o ocorrido, essas revistas continuam abordando o assunto. Suas coberturas não foram concisas e raras vezes extrapolaram a barreira da versão oficial, contribuindo para o surgimento de teorias conspiratórias e o aumento do ceticismo. Littlejohn (1978), teórico da comunicação humana, afirma que a persuasão faz parte de um processo chamado interacionismo simbólico, onde se compreende que a comunicação é troca de informação através de símbolos e signos. Seus fundamentos são importantes para que se entenda como ocorrem os processos de codificação e decodificação. Sustein (2009), do ponto de vista da psicologia, analisa o surgimento de rumores e suas funções na coletividade. Examinar como o assunto foi, e ainda é exposto, é proeminente, pois ele está extremamente ligado ao processo de paz no Oriente Médio. O poder da mídia pode


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interferir e manipular decisões políticas. A pesquisa empregou conceitos como os de gatekeeper, agenda-setting, objetividade, sensacionalismo e fait divers para relacionar esse domínio que a mídia concentra. Sousa (2002) classifica o gatekeeper como o guardião da passagem de informações. De acordo com o pesquisador, o modelo representa as ações tomadas pelos editores de veículos, diariamente. Arbex Júnior (2001) aborda a cobertura da imprensa e alguns de seus desvios. Para o autor, o 11 de setembro introduziu uma nova forma de confecção do jornalismo. Allan e Zelizer (2002) creem que a profissão sofreu influências do evento, o que acabou por transformar a sociedade. Utilizar essas teorias para explicar o comportamento dos veículos é um dos objetivos em destaque deste estudo. Através de um exame comparativo, é possível observar como as revistas abordaram o tema. A história dos Estados Unidos (EUA) mudou de rumo após o caso. Não somente pelo ocorrido, também porque os veículos discutiram ferozmente a administração do país. A falta de investigações por parte da mídia fez com que a mesma reciclasse coberturas a respeito dos atentados, repetindo aquilo que já havia ganhado as mentes das audiências. O jornalismo tem como função reportar da forma mais transparente possível o cotidiano da sociedade. Entretanto, episódios extraordinários como esse dificultam a objetividade e estimulam a formação de opinião. Será que isso pode afetar a imagem de um país? Como a data em questão mudou a história? Perguntas como estas são relevantes para o campo da comunicação social. As figuras daquela manhã de setembro ficaram gravadas na memória de uma geração. A importância dada ao evento pela mídia foi grande, mas o seu detalhamento foi vago, pobre e permitiu especulações. Verificar os efeitos de tal cobertura na sociedade é essencial para a prática do bom jornalismo. Além de prevenir episódios semelhantes.


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2 O EVENTO NA MÍDIA O fato mais marcante de 2001 e talvez o mais espetacular do começo deste milênio não foi apenas a data que não sai da memória norte-americana: 11 de setembro. A queda das torres gêmeas teve uma conotação mais abrangente do que as milhares de vidas perdidas. Foi aberta uma ferida no coração capitalista de Nova York. A mídia, como de costume, não deixou o evento passar despercebido. O jornalista e pesquisador Arbex Júnior (2001, p. I) descreve o caso da seguinte maneira: 11 de setembro de 2001: a humanidade presencia um dos maiores espetáculos da mídia já produzidos. Desnecessário, aqui, descrevêlo novamente: a mera menção à data do atentado já o evoca, com força total, fato que, por si só, demonstra o êxito de seus arquitetos. Entre as milhares de cenas espetaculares que todos consumimos diariamente, aquelas do atentado foram singularizadas, gravadas a ferro e fogo na memória coletiva.

Apesar da internet não possuir a força que tem hoje, e da inexistência das redes sociais, o fato foi coberto pela televisão como nenhum outro. Foram horas de apresentação ao vivo. Pessoas querendo desesperadamente saber o que estava acontecendo. Afinal, uma das maiores potências mundiais, cujo sistema de segurança se destacava até então por ser extremamente rígido, se encontrava em meio ao caos. Como o assunto se manteve no ar até então? Todos os anos, na data em questão, a mídia retoma o assunto, pessoas vão às ruas, a caça ao terror ganha novas forças e a busca por novos dados continua. Muitas teorias conspiratórias foram desenvolvidas para preencher lacunas deixadas em branco pela imprensa. Foram tantos os efeitos que já se pode dividir a história em pré e pós 11 de setembro de 2001. Entender como esse processo ganhou tamanho destaque exige compreender algumas teorias básicas do jornalismo. O observador neutro, o imediatismo, o gatekeeper, a agenda-setting, a diferença entre sensacionalismo e fato sensacional e a codificação e decodificação. 2.1 OBSERVADOR NEUTRO A partir daquele momento, a imprensa mundial entrou em uma corrida de apuração do fato. No início, surgiram diversas perspectivas. Não só a mídia, mas a


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sociedade em si levou horas para compreender de que não se tratava de um acidente, ou coincidência, mas de um atentado. A realidade teve diversos pontos de vista que, na visão de Arbex Júnior (2001, p. 35), é uma consequência da atividade jornalística, uma vez que “não existe o ‘observador neutro’. Testemunhar um evento é também construí-lo segundo o ‘aparelho psíquico’ e a formação social e cultural da testemunha”. Essa construção da realidade contribuiu com informações errôneas, provocando um acréscimo das teorias conspiratórias. Por consequência, em momentos como esse a mídia perde credibilidade. Pena (2005) reforça essa perspectiva da inexistência da observação neutra. Ele diz que: O jornalismo está longe de ser o espelho do real. É, antes, a construção social de uma suposta realidade. Dessa forma, é no trabalho da enunciação que os jornalistas produzem os discursos, que submetidos a uma série de operações e pressões sociais, constituem o que o senso comum das redações chama de notícia. Assim, a imprensa não reflete a realidade, mas ajuda a construí-la. (PENA, 2005, p. 129)

O ataque não foi somente mais uma lembrança de que a objetividade no jornalismo é utópica. Ele fez com que o jornalismo em si fosse repensado por diversas entidades e profissionais. Embora decifrar o acontecimento continuasse sendo o foco principal de todos. Velhas bases foram discutidas e novas foram criadas. Tratar de um fato tão sensacional e inédito exigiu dos jornalistas mais do que eles podiam oferecer. Para a imprensa americana, foi muito difícil se desvencilhar do patriotismo. Ainda naquele dia, muitos apresentadores apareceram na televisão portanto bandeirinhas dos EUA em suas lapelas. Revistas e jornais usaram linguagem na terceira pessoa. O luto e a indignação ultrapassaram as barreiras dos cidadãos atingidos e não foram ignorados no momento de edição. 2.1.1 O imediatismo e o valor-notícia A queda das torres gêmeas e o ataque ao Pentágono ocuparam um espaço de grande proporção na mídia. Foi um momento de instabilidade na produção jornalística. O mundo todo parou para assistir o fato ainda em andamento. Pena (2005, p. 71) certifica que “o ‘furo de reportagem’ não espera a edição do dia seguinte, deve ser veiculado na hora, ao vivo e em cores”.


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A imediaticidade deu o tom para as matérias que surgiram a seguir. Canais de televisão permaneceram em estado de “plantão”. Sites ofereceram um “minuto-aminuto”. Capas de jornais exibiam fotos gigantescas. Revistas semanais se dedicaram a construção de edições extras falando, única e exclusivamente, do dia que marcou a ascensão do terrorismo. Essa interrupção da linha de tempo da produção de notícias foi observada anteriormente e é caracterizada como um processo recente do mundo capitalista. Genro Filho (1989, p. 36) crê que, A atualidade, de fato, sempre foi objeto de curiosidade para os homens. Mas com o desenvolvimento das forças produtivas e das relações capitalistas a atualidade amplia-se no espaço, ou seja, o mundo inteiro tornava-se, cada vez mais, um sistema integrado e interdependente. A imediaticidade do mundo, através de seus efeitos, envolve uma esfera cada vez maior e constitui um sistema que se torna progressivamente mais complexo e articulado.

Assim, jornalistas afrontados pela imediaticidade rearranjam suas agendas para cumprir coberturas inéditas e furos jornalísticos. Souza (2002) explica que a rotina e a concepção cognitiva do jornalista afetam sua percepção da realidade. Esse filtro da percepção atrapalha aquilo que o autor caracteriza como news judgment (julgamento das notícias): a definição, por jornalistas, do que possui valor noticioso. Souza (2002) alega que apenas uma pequena parcela daquilo que se considera notícia efetivamente se converte em notícia. Em relação aos fatores temporais ele afirma que: Consequentemente, julgo que o fator tempo afeta o news judgment, logo até por estabelecer um conceito de atualidade. E, afetando o julgamento noticioso, afetará igualmente o processo global de newsmaking, nomeadamente ao nível de seleção (gatekeeping). As informações mais atuais teriam, assim, mais hipóteses de passar pelos portões. (SOUZA, 2002, p. 47)

2.1.2 O grande portão O gatekeeper é uma das teorias mais relevantes do jornalismo. Segundo essa visão, os editores dos veículos formam um grande portão de seleção do que tem valor noticioso ou não. Esse jornalista, enfim, seria o responsável pela inclusão ou exclusão dos assuntos na mídia. Pena (2005, p. 133, grifo nosso) esclarece que:


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O gatekeeper é um clássico exemplo de teoria que privilegia a ação pessoal. A metáfora é clara e direta. O conceito refere-se à pessoa que tem o poder de decidir se deixa passar a informação ou se a bloqueia.

Não há dúvidas de que os ataques de 2001 passaram facilmente pelo grande portão da maioria dos veículos mundiais. Isso ocorre por causa do valor-notícia conferido ao evento. Porém como se deu essa atribuição? Pena (2005) afirma que o processo de gatekeeping está submetido à pressão do deadline infligida sobre os comunicadores. Segundo ele, Os fatos podem surgir em qualquer lugar, a qualquer hora. Entretanto, por mais paradoxal que pareça, é preciso colocar ordem na imprevisibilidade. É nesse momento que os critérios de noticiabilidade, usados como um conjunto de instrumentos e operações que possibilitam ao jornalista escolher os fatos que vão se transformar em notícias, evidenciam-se nos valores-notícia. (PENA, 2005, p. 73)

Para Pena (2005) a notícia é “um produto à venda”. Ele busca, nos conceitos de Ciro Marcondes, a seguinte definição: a informação é uma mercadoria com apelos estéticos, emocionais e sensacionais. O autor declara que “o público é tratado como um consumidor inserido na lógica comercial que fabrica ícones e veicula situações inusitadas ou irreverentes” (PENA, 2005, p. 90). Isto pode ser averiguado nesse evento: os veículos não pouparam palavras ou design para vender a data, principalmente fora do ambiente americano. Mesmo a notícia sendo um produto à venda, a influência do jornalista na hora da seleção é outro objeto de estudo significativo. Na visão de Pena (2005), os jornalistas se valem de uma cultura própria para decidir o valor-notícia. Ou seja, “[...] têm critérios próprios, que consideram óbvios, quase instintivos” (PENA, 2005, p. 71). Rossi (1984) considera que É realmente inviável [...] exigir dos jornalistas que deixem em casa todos esses condicionamentos e se comportem, diante da notícia, como profissionais assépticos, ou como a objetiva de uma máquina fotográfica, registrando o que acontece sem imprimir, ao fazer seu relato, as emoções e as impressões puramente sociais que o fato nelas provocou. (ROSSI, 1984 apud GENRO FILHO, 1989, p. 47)

No momento do atentado, muitos jornalistas tiveram que cobrir a ocorrência sem saber exatamente o que estava sucedendo. Não houve tempo para que os jornalistas pudessem por de lado suas opiniões, uma vez que não houve tempo para


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que eles tivessem opiniões. Ao longo dos anos, muitos veículos e jornalistas foram se posicionando conforme surgiram novas informações. 2.2 AGENDA-SETTING Se, num primeiro momento, os ataques de 11 de setembro interromperam a agenda do jornalismo, em um segundo momento eles passaram a fazer parte dessa agenda. Nas palavras de Pena (2005, p. 142), a teoria do agendamento [...] defende a idéia de que os consumidores de notícias tendem a considerar mais importantes os assuntos que são veiculados na imprensa, sugerindo que os meios de comunicação agendam nossas conversas. Ou seja, a mídia nos diz sobre o que falar e pauta nossos relacionamentos.

McCombs (2009) também propõe que o público usa a mídia para organizar sua própria agenda. Então, seguindo a lógica de ambos os autores, seria a agenda midiática que organizaria a agenda pública. McCombs (2009) certifica que: [...] a proposição geral referenciada por esta evidência acumulada sobre os efeitos do agendamento é que os jornalistas influenciam significativamente as imagens do mundo de suas audiências. Na maior parte, esta influência de agendamento é subproduto inesperado da necessidade dos noticiários diários de focar a atenção em somente alguns tópicos. (MCCOMBS, 2009, p. 42)

Assim, ano após ano, os veículos se viram sujeitados a reviver o evento na data de 11 de setembro. Às vezes com novas informações, outras apenas repetindo aquilo que já foi dito visando cumprir o papel esperado pelo público. No entanto, McCombs (2009) vê um problema na teoria do agendamento: quem define a agenda da mídia? Para o autor, a mídia constrói a sua agenda baseada em suas fontes, em outras organizações noticiosas (concorrência) e nas normas e tradições do jornalismo. Outra coisa que McCombs (2009) ressalta é que aquilo que não entra na agenda midiática, poderia não existir. Durante a cobertura de 11 de setembro de 2001, muitos assuntos importantes foram apagados ou esquecidos por causa da inesperada inserção do evento na agenda noticiosa. O jornalismo foi quase temático naquele fim de ano. Abordando o evento em questão, a concorrência entre as organizações jornalísticas influiu na permanência do assunto na agenda midiática. Nos últimos cinco anos, no aniversário da data o fato era retomado com menor intensidade, fator que se dá em grande parte pela falta de novas informações, além do agendamento


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de outros fatos importantes acontecendo naquele momento. Agora, prestes a completar dez anos, houve uma retomada do assunto. Não só porque completará uma década, mas pela morte do suposto comandante do atentado: Osama bin Laden. O falecimento do ex-líder da organização terrorista Al-Qaeda causou um novo rearranjo da agenda midiática. O assunto do atentado só seria retomado em setembro. Agora, os veículos se viram obrigados a trazê-lo à tona novamente, para explicar a importância da morte do terrorista. McCombs (2009) exemplificou sua teoria sobre a agenda noticiosa, conforme o Quadro 1. Ele destaca a transferência da saliência do tópico como sendo um fator principal nesse processo. Quadro 1 – A definição da agenda pelos mass media – Agenda-setting AGENDA DA MÍDIA

AGENDA DO PÚBLICO

Padrão da cobertura noticiosa

Preocupações do público

OS MAIS DESTACADOS

OS MAIS IMPORTANTES

Transferência da saliência do tópico Fonte: MCCOMBS, 2009, p. 22.

A ânsia do público por novos dados sobre determinado evento pode levar à uma cobertura mais extensa da mídia. É, em parte, o que aconteceu em 2001 quando os EUA foram atacados. A falta de informações, o grande número de pessoas envolvidas e o impacto das imagens tornaram o caso atrativo para as audiências, fazendo com que os veículos dessem mais valor noticioso para o 11 de setembro do que para outros elementos. 2.3 SENSACIONALISMO E FAIT DIVERS A queda das torres gêmeas e o ataque ao Pentágono foram, por si próprios, mensagens sensacionalistas. Segundo Angrimani (1995) o sensacionalismo se dá quando há exagero, valorização da emoção, exploração do extraordinário, entre outras características. Em suas palavras, “a mensagem sensacionalista é, ao


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mesmo tempo, imoral-moralista e não limita com rigor o domínio da realidade e da representação. Nessa soma de ambigüidades se revela um agir dividido, esquizofrênico” (ANGRIMANI, 1995, p. 17). O fait divers, fatos diversos na tradução do francês, é um elemento dentro do sensacionalismo na concepção do autor. Ele afirma que o fait divers seria a quebra entre o real e o inesperado, seria o fato “bizarro”, fora do contexto histórico. No fait divers, as proteções da vida normal são rompidas pelo acidente, catástrofe, crime, paixões, ciúmes, sadismo. O universo do fait divers tem em comum com o imaginário (o sonho, o romance, o filme) o desejo de enfrentar a ordem das coisas, violar tabus, levar ao limite a lógica das paixões. (MORIN, 1962 apud ANGRIMANI, 1995, p. 26)

O sensacionalismo se difere por usar e abusar dos clichês. Não admite distanciamento, neutralidade, busca o envolvimento e o rompimento com a falta de emoções fortes. Durante e após as ocorrências de 11 de setembro muitas revistas e jornais se dedicaram em expor depoimentos de pessoas que vivenciaram o evento. Tanto a Newsweek, como a Carta Capital (que estava longe do clima de patriotismo americano), dispuseram páginas inteiras para leitores; pessoas, por serem testemunhas, acabaram por se tornar repórteres. Ramos (2001) explica que o fait divers é anterior ao advento da imprensa. Na Idade Média já habitava os cantos menestréis. Ele declara também que o conflito vem à tona pela factualidade, “materializa-se, narcisicamente, no presente, mas conserva o motivo reprimido, submerso no porão do passado. O determinado é visto, solidificado pela transparência do fato, embebido pela historicidade [...]” (RAMOS, 2001, p. 125). Segundo Angrimani (1995, p. 54), o que faz com que o mercado se divida e, por consequência, haja um público exclusivo para o veículo sensacionalista é a linguagem: [...] a linguagem editorial que é a forma de se destacar uma foto, tornar o texto mais atraente, enfim, a busca de um equilíbrio entre ilustração e texto, além da preferência por matérias originadas de fait divers, em detrimento de temas político-econômico-internacionais que servem como estímulo predominante [...].

No caso do 11 de setembro, mesmo veículos que não se denominavam sensacionalistas fizeram uso dessa ferramenta. O motivo foi o ineditismo do que


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estava acontecendo. Lidar com o tema foi tão difícil para o público quanto para a mídia. 2.4 A SOCIADADE, A CODIFICAÇÃO E A DECODIFICAÇÃO Arbex Júnior (2001) traduz o ocorrido como mais um episódio de violência no mundo. Para ele, não é o tamanho da tragédia que a faz tão surpreendente e sim a sua localização: O ineditismo simbólico – e não a violência real – singulariza as imagens de destruição do World Trade Center. A grande ‘novidade’ do atentado foi sua localização geopolítica, aconteceu na sede do império, não na periferia; e destruiu justamente a representação arquitetônica daquilo que é mais caro à Roma contemporânea: o capital financeiro (e, de quebra, uma ala do centro administrativo do poder militar, em Washington). O atentado inverteu a lógica da relação de forças, daí o seu impacto. (ARBEX JÚNIOR, 2001, p. I-II)

A comunicação entra aqui, segundo Littlejohn (1978), como uma forma de organização da sociedade. Os símbolos são considerados públicos, livres para serem compartilhados, e não um reflexo indireto da realidade. Meksenas (2002, p. 27) acredita que a sociedade civil “[...] se tece em espaços sociais históricos nos quais os problemas vividos na dimensão do doméstico produzem os significados que são reciprocamente experimentados pelos sujeitos”. Para o autor, o significado da ação é negociado pelos sujeitos, convertendo o significado de conflitos políticos em porquês políticos. Quando a imagem das torres gêmeas vindo abaixo atingiu o mundo, houve uma reação. A imagem, como diz o famoso clichê, disse mais do que mil palavras. Para Joly (1996) as imagens são instrumentos de comunicação que se assemelham ou se confundem com aquilo que representam. No caso do 11 de setembro, as imagens não representavam apenas a queda de duas torres, mas sim milhares de mortes e uma afronta à sociedade americana. A imaginação contribuiu para que o quadro fosse imortalizado. Segundo Flusser1 (2007), [...] primeiramente recuamos do mundo para poder imaginá-lo. E então nos afastamos da imaginação para poder descrevê-lo. Depois nos afastamos da crítica escrita e linear para poder analisá-lo. E,

1

FLUSSER, Vilém. Uma nova imaginação. In: CARDOSO, Rafael (Org.). O mundo codificado: Por uma filosofia do design e da comunicação – Vilém Flusser. Porto Alegre: Cosac Naify, 2007. p. 160177.


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finalmente, projetamos imagens sintetizadas a partir da análise, graças a uma nova imaginação. (FLUSSER, Vilém. Uma nova imaginação. In: CARDOSO, 2007, p. 176)

Essa nova imaginação, produto de um processo de decodificação, trouxe diversos significados para aquelas imagens. Por isso seu impacto é maior do que o causado pelas imagens da Segunda Guerra, onde corpos foram friamente expostos. Zelizer2 (2002) diz que As fotos relembraram a importância de responder à tragédia, mesmo que a resposta fosse limitada ao ato de dar apenas um testemunho. Manter o local visível também tornou mais fácil mobilizar apoio para a resposta militar e política dos EUA no Afeganistão. (ZELIZER, Barbie. Photography, journalism, and trauma. In: ALLAN; ZELIZER, 2002, p. 62, tradução nossa)

Ainda nessa questão da imagem, Milz3 (In: GOYZUETA; OGIER, 2003, p. 64) presume que as imagens mexem mais com a emoção do que com o raciocínio: “Acreditamos no que vemos com os próprios olhos, esquecendo que não são nossos olhos, mas as lentes das câmeras que captaram as imagens.” A decodificação não se deu somente através das fotos. Elas apenas serviram de base para a apreensão do evento em si. A mídia, na época, foi um prato cheio de metáforas e significados. Littlejohn (1978, p. 80) avalia o processo de interacionismo simbólico como um método onde As pessoas criam uma variedade de ferramentas mecânicas e sociais que, ao contrário dos animais inferiores, as separam de sua condição natural. As pessoas filtram sempre a realidade através da tela simbólica, o filtro dos instrumentos simbólicos. Para um animal, a realidade simplesmente é, mas, para os seres humanos, a realidade é sempre medida por símbolos. [...] A linguagem funciona como um veículo para a ação.

Assim, por mais que a leitura do evento pela mídia fosse similar em muitos veículos, a leitura do evento pelas pessoas depende daquilo que elas compreendem como seus significados. Arbex Júnior (2001) esclarece que o imaginário constituído pela mídia é composto por símbolos e signos que constituem uma “espécie de memória coletiva globalizada”. Na visão de Ianni (1999 apud ARBEX JÚNIOR, 2001, p. 272), 2

ZELIZER, Barbie. Photography, journalism, and trauma. In: ALLAN, Stuart; ZELIZER, Barbie (Ed.). Journalism after september 11. Londres: Routledge, 2002. p. 48-68 3 MILZ, Thomas. Longe demais, perto demais: A guerra do Iraque e a mídia alemã. In: GOYZUETA, Verónica; OGIER, Thierry (Org.). Guerra e imprensa: Um olhar crítico da cobertura da Guerra do Iraque. São Paulo: Summus, 2003. p. 63-67.


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É pela memória que se puxam os fios da história. Ela envolve a lembrança e o esquecimento, a obsessão e a amnésia, o sofrimento e o deslumbramento. [...] Sim, a memória é um segredo da história, do modo pelo qual se articulam o presente e o passado, o indivíduo e a coletividade. O que parecia esquecido e perdido logo se revela presente, vivo, indispensável. Da memória escondem-se segredos e significados inócuos e indispensáveis, prosaicos e memoráveis, aterradores e deslumbrantes.

2.4.1 Terror na mídia Outro fator que marcou os ataques de 11 de setembro na mídia foi o terror. O desconhecimento, naquele momento, do que se passava fascinou o público e a imprensa de tal maneira que a cobertura feita foi quase frenética. Pena (2005, p. 23) clarifica que [...] a natureza do jornalismo está no medo. O medo do desconhecido, que leva o homem a querer exatamente o contrário, ou seja, conhecer. E assim, ele acredita que pode administrar a vida de forma mais estável e coerente, sentindo-se um pouco mais seguro para enfrentar o cotidiano aterrorizante do meio ambiente.

A busca pelo conhecimento extrapolou algumas “leis” do jornalismo. Não houve preocupação em mostrar as pessoas pulando das torres gêmeas direto para morte. Ao contrário, exibir aquelas imagens se tornou excitante. Wainberg (2005, p. 7) afirma que “as notícias sobre os conflitos em geral e sobre o terrorismo em particular têm um certo e relevante impacto no imaginário das pessoas”. Ogier4 (2003) acredita que a “guerra sublinha a necessidade de informar”, por esse motivo a imprensa se libertaria de certas convicções e não se autocensuraria. A violência foi mostrada também para que se lembrasse do seu impacto e com a intensão de que esta não se repetisse. Na obra Mídia e terror, Wainberg (2005 p. 11) ressalta que a mídia é sensível à capacidade que o terror tem de atingir o sentido das pessoas. A imprensa, então, usaria a violência para melhorar a sua audiência. Ele diz ainda que a atenção dos públicos é escassa e a violência serviria, então, como isca prestando um serviço “além do mero despertar da percepção dos leitores, ouvintes e telespectadores. A própria recepção dos diversos segmentos do público é desafiada”. Outro destaque que autor faz é que noticiário sobre o terror produz uma riqueza visual atraindo o público por ser impactante. Os eventos de 2001 4

OGIER, Thierry. O choque, o espanto e o escriba dos tempos pós-modernos. In: GOYZUETA, Verónica; OGIER, Thierry (Org.). Guerra e imprensa: Um olhar crítico da cobertura da Guerra do Iraque. São Paulo: Summus, 2003. p. 69-77.


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provocaram sintomas de medo generalizado, ansiedade e hipervigilância nas pessoas em geral. Tanto para as audiências como para os jornalistas, estar constantemente à espera de outro acontecimento era iminente. Esse efeito se deu porque O ataque às torres gêmeas em 11 de setembro de 2001 foi feito sem palavras. Na verdade, elas foram desnecessárias. O ato terrorista tem sempre esta rara habilidade: provê imagens em profusão que falam. É uma fala muda, simbólica, que demanda por isso mesmo alguma interpretação, alguma inquirição pelo observador sobre o sentido e o significado do morticínio. (WAINBERG, 2005, p. 139)

O empirismo do fato também contribuiu para enfatizar a sua violência. Na visão de Gupta (2006), a experiência é a principal autoridade guia. É ela que valida determinados conceitos e concepções que as pessoas têm do mundo. Gupta (2006, p. 3, tradução nossa) explica que “é a experiência que nos conduz para melhorar os nossos conceitos, concepções e teorias, quando estes se revelarem insustentáveis”.


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3 A IMAGEM AMERICANA Muitas coisas sofreram transformações com o 11 de setembro de 2001. Dentre elas, a opinião pública em relação aos EUA teve diversas alterações. A credibilidade do país frente às outras nações variou significativamente conforme divulgação das atitudes de George W. Bush. A declaração de aberta a temporada de caça ao terror dividiu as pessoas. O presidente americano criou o USA PATRIOT ACT (em português, Lei Patriótica), preceito que permitia invasão de lares, tortura, espionagem, prisão sem julgamento e uma série de outras ações para interceptar e obstruir o terror. Os cidadãos perderam sua liberdade civil. Boa parte do mundo não estava de acordo com o que o governo dos EUA pretendia fazer. A retaliação poderia trazer ainda mais prejuízos. A palavra guerra mexeu com o imaginário do público. A imprensa também se segmentou. A imagem dos EUA perdeu ainda mais confiabilidade com os árabes e muçulmanos. O clima de patriotismo e a sede de vingança impulsionaram uma reação dos EUA. O evento foi mais que um acontecimento catalizador, causou uma ruptura das práticas e conteúdos, redefinindo estes e permitindo o uso de políticas neoconservadoras. O terrorismo é visto além do estado-nação, a luta antiterror ganhou escala global (SOUTO, 2009). Este capítulo pretende abordar, através de algumas teorias e conceitos sobre imagem e opinião, como se deu essas perspectivas da imagem americana. Além disso, diversas pesquisas feitas em vários países mostram como os EUA são vistos no mundo antes e depois do 11 de setembro. Essas ferramentas exibem que há variações significativas em relação ao país. Mas, por quê? E quais seriam as consequências disto? Chomsky (2001a, p. 25) presume que “se quisermos refletir seriamente sobre essa questão, devemos reconhecer que em grande parte do mundo os EUA são vistos como um Estado líder do terrorismo, e por uma boa razão”. O autor faz parte da esquerda liberal americana e crê que os EUA não são modestos em suas relações internacionais. Segundo ele, Nada pode justificar crimes como os cometidos em 11 de setembro, embora só possamos pensar nos EUA como ‘vítimas inocentes’ se adotarmos o caminho fácil de ignorar o histórico de suas ações e das


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que foram praticadas por seus aliados, que são, aliás, de conhecimento público. (CHOMSKY, 2001a, p. 38)

Horowitz (2002) defende outro ponto de vista. Para ele, neoconservador, os EUA foram atingidos por serem abominados. Ele enfatiza que: Seus inimigos os odeiam por quem vocês são. Eles odeiam vocês [americanos] porque vocês são democráticos, tolerantes e infiéis. Eles odeiam vocês por vocês serem cristãos: ‘A posição da América, aliada aos cristãos do mundo contra os muçulmanos, tirou a camuflagem dos seus rostos.’ E eles odeiam vocês porque são hindus, budistas, seculares e judeus. (HOROWITZ, 2002, s. p., tradução nossa)

O autor pertence a uma linha de pensadores que defende os ataques a civis em retaliação ao que houve durante o 11 de setembro. Bush faz parte desse grupo e demonstrou isso através de seus discursos, onde costumava dizer que os árabes são herdeiros de ideologias assassinas, “sacrificando a vida humana para servir as suas visões radicais e abandonando cada valor, exceto a sede de poder, eles seguem no caminho do fascismo, nazismo e totalitarismo” (BUSH, 2001 apud HOROWITZ, 2006, s. p., tradução nossa). Esses discursos políticos, difundidos pela mídia, também fizeram parte da formação ou distorção da opinião pública. 3.1 CONCEITOS DE IMAGEM E OPINIÃO A opinião pública navegou conforme as novidades dessa guerra. Entretanto, a relação entre esfera pública, opinião pública e cena política é abordada, na comunicação, a partir da cena política e sua linguagem (ALMEIDA, 1999). Meksenas (2002, p. 27) configura o espaço público como “as interações de sujeitos que atuam na sociedade civil com o Estado e com o mercado [...]”. É preciso dar importância às consequências dessa “cena política”, principalmente a midiatizada, sobre a esfera e a opinião pública. Lasswell (1979) estabelece uma afinidade entre poder e opinião. Ele diz que: “Quando falamos de ciência da política estamos nos referindo à ciência do poder. Poder é a capacidade de tomar decisões. A decisão é uma escolha sancionada, que implica severas privações a quem a transgredir.” (LASSWELL, 1979, p. 18) O autor acreditava que a mídia possuía a capacidade de afetar diretamente a opinião do público. Conhecida como teoria da bala, ou agulha hipodérmica, a primeira hipótese de Lasswell previa que as pessoas absorviam e aceitavam o que a


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imprensa oferecia. Essa percepção já é considerada ultrapassada, mas continua sendo utilizada por muitos pesquisadores da comunicação. Flusser5 (2007) reforça que a experiência é crucial na formação da opinião. Ele comenta: “Como não temos experiência imediata com elas [as coisas], a mídia torna-se para nós a própria coisa. ‘Saber’ é aprender a ler a mídia, nesses casos.” (FLUSSER, Vilém. Linha e superfície. In: CARDOSO, 2007, p. 112) O autor traz um aspecto interessante, em sua visão vivemos em um universo em expansão: a mídia oferece coisas que não podem ser experimentadas diretamente, e priva o público de outras, das quais este poderia ter contato. Assim, o processo de formação de opinião seria prejudicado pela falta de conhecimento (fator importante para concepção de um pré-julgamento). Baseado na tese da caverna de Platão, Lippmann (1922) escreveu a obra Opinião Pública, onde faz um relato de como a opinião toma forma. Segundo ele, a imaginação faz parte de um processo extenso. Ele declara que: O mundo que temos de lidar politicamente está fora do alcance, fora da vista, longe das nossas mentes. Tem que ser explorado, relatado e imaginado. O homem não é um deus aristotélico contemplando toda a existência num relance. Ele é a criatura resultante de uma evolução que pode apenas abranger uma porção suficiente da realidade para gerir a sua sobrevivência [...]. No entanto, essa mesma criatura inventou maneiras de ver o que nenhum olho nu poderia ver, de ouvir o que nenhum ouvido pode ouvir, de pesar massas imensas e os infinitesimais, de contar e separar mais itens do que ele pode individualmente lembrar. [...] Aos poucos, ele faz para si mesmo uma imagem confiável, dentro de sua cabeça, do mundo além do seu alcance. (LIPPMANN, 1922, p. 18, tradução nossa)

Lippmann (1922) defende que as pessoas vivem em uma pequena parte da superfície da terra e se relacionam com poucos conhecidos. Dos eventos públicos mais amplos, as pessoas absorveriam apenas alguns aspectos. Arbex Júnior (2001) também se vale desse ponto de vista. Para ele, o telespectador grava somente flashes da programação televisiva. Portanto, mesmo que se possa ter uma opinião sobre tudo, esse tudo se resume àquilo que se tem acesso e fica registrado nas mentes das massas. A espetacularização de alguns eventos ou pessoas interfere na formação da opinião. A mídia procura dar tom ao biográfico. Centrar-se em heróis traz audiência. 5

FLUSSER, Vilém. Linha e superfície. In: CARDOSO, Rafael (Org.). O mundo codificado: Por uma filosofia do design e da comunicação – Vilém Flusser. Porto Alegre: Cosac Naify, 2007. p. 101-125.


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Pena (2005) acredita que o público é ao mesmo tempo espectador e personagem e que a imprensa seria um espaço de participação. Para o autor: A mídia produz celebridades para poder realimentar-se delas a cada instante em um movimento cíclico e ininterrupto. Até os telejornais são pautados pelo biográfico e acabam competindo com os filmes, novelas e outras formas de entretenimento. É uma Dysneilândia de notícias, como se os redatores-chefes fossem Mickey Mouse e Pateta. (PENA, 2005, p. 88)

Há diversos meios de interferência, formação, concepção e estudo da opinião pública. Entretanto, também é importante verificar que a opinião pública pode ser afetada por teorias conspiratórias. Boatos causam pânico generalizado e mudam rumos de fatos ainda em andamento. Para Sustein (2009), a falta de conhecimento pessoal é um motivo para a introdução de rumores na sociedade. O autor justifica que “[...] tendemos a pensar que onde há fumaça, há fogo – ou que um boato não se propagaria a menos que fosse pelo menos parcialmente verdadeiro. Talvez a verdade seja ainda pior do que o boato” (SUSTEIN, 2009, p. 5, tradução nossa). 3.1.1 Teorias da conspiração e ceticismo As teorias da conspiração, boatos e rumores são frequentemente mencionados como mecanismos de defesa na psicologia (SUSTEIN, 2009). Na comunicação, eles são mais do que isso: disseminam ideias sem fundamentos ou até mesmo questionam velhos tabus. Muitos rumores derrubaram verdades consideradas absolutas. Outros foram derrubados por suas incoerências. Falsos ou não, eles fazem parte do sistema de comunicação humana e são relevantes para o convívio em sociedade. O 11 de setembro suscitou diversas teorias. Muitas vivas até hoje ganharam grupos de seguidores. Entre eles destacam-se: Pilots for 9/11 truth6, International Center for 9/11 Studies7 e 9/11 Truth Moviment8. Em setembro deste ano, será realizado, no Canadá, um evento em busca de respostas sobre os atentados daquele dia fatídico. O International Hearings on the Events of September 119 tem como objetivo averiguar porque a descrença cresceu densamente em diversos países. Na página eletrônica do encontro está escrito que: “Esse ceticismo, ao 6

Pilotos em busca da verdade sobre o 11 de setembro. Centro Internacional de Estudos sobre o 11 de setembro. 8 Movimento da verdade sobre o 11 de setembro. 9 Seminário Internacional Sobre os Eventos de 11 de Setembro. 7


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contrário do que é afirmado regularmente na mídia, tem uma base factual e não é meramente o resultado do pensamento delirante ou conspiratório.”10 Sustein (2009, p. 9, tradução nossa) esclarece que “as pessoas não processam informações de forma neutra. Seus conceitos prévios afetam as suas reações”. No ponto de vista do autor, rumores são resultantes de “cascatas de informações”. Essa dinâmica funciona da seguinte maneira: um pequeno grupo passa a acreditar em um boato, assim outras pessoas crerão também. As crenças que as pessoas carregam consigo são interferências que estas fazem acerca do mundo (LITTLEJOHN, 1978). Dentro dessas crenças, existem os valores, que Littlejohn (1978, p. 171) define como [...] tipos especiais de crenças que estão ‘centralmente’ localizadas no sistema total de crenças da pessoa, e a guiam em função de ‘como uma pessoa deve ou não comportar-se, ou sobre algum estado final de existência que vale ou não a pena atingir’.

Littlejohn (1978) considera as atitudes como expressões de avaliação ou julgamento, portanto diferenciando-as das crenças – expressões probabilísticas de existência. “As crenças residem na mente, espaço impreciso no qual se processa a informação, se sente a emoção e se produz sentido e significado das ocorrências. Por isso mesmo as crenças são objeto de intensa manipulação.” (WAINBERG, 2007, p. 45) Sustein (2009) articula que a maioria dos rumores envolve assuntos dos quais não se têm conhecimento direto ou pessoal, “quanto mais pessoas se submetem, engrossando a multidão, maior o risco real de grandes grupos de pessoas acreditarem em boatos, embora estes sejam inteiramente falsos” (SUSTEIN, 2009, p. 21, tradução nossa). Outro fator que o psicólogo considera relevante é a assimilação tendenciosa, processo que se dá pelo desejo de reduzir a dissonância cognitiva. Na linha de pensamento do autor, busca-se e acredita-se em informações agradáveis, enquanto repudia-se aquilo que é considerado perturbador. Sustein (2009, p. 41, tradução nossa) oferece o seguinte exemplo para essa situação: Em algumas nações, a grande maioria acredita que os terroristas árabes não foram responsáveis pelos ataques de 11 de setembro de 2001. De acordo com o Pew Research Institute, 93% dos americanos acreditam que terroristas árabes destruíram o World Trade Center,

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Disponível em: <http://torontohearings.org/>. Acesso em: 16 mai. 2011. Tradução nossa.


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enquanto apenas 11% dos kuwaitianos acreditam que os terroristas árabes destruíram o World Trade Center.

3.2 O QUE DIZEM AS PESQUISAS A credibilidade dos Estados Unidos sofreu uma queda após os atentados de 11 de setembro com relação aos países de terceiro mundo ou pertencentes ao Oriente Médio. Conforme apontam diversos levantamentos, a degradação do país se dá por causa de suas atitudes frente ao ocorrido. Pesquisas 11 realizadas em 2002 sintetizaram o acréscimo do sentimento antiamericano. As nações britânicas e francesas apresentaram maior perda da credibilidade nos EUA na época. Na Itália, apenas 34% da população se disse favorável às ações americanas. Na Espanha, 14% e na Turquia somente 12%. Atualmente, os EUA vêm subindo nas pesquisas. Os aumentos mais significativos, segundo a World Public Opinion12, foram na Alemanha (de 18% em 2009, para 39% em 2010), na Rússia (de 7% a 25%), em Portugal (de 43% para 57%) e no Chile (de 42% para 55%). Na Figura 1, pode-se ver que os únicos dois países a terem maiorias com visões negativas sobre os EUA foram o Irã (56%) e o Paquistão (52%). A Rússia tem sua percepção sobre os americanos dividida (50%). O Brasil vê os EUA positivamente, com apenas 23% do público discordando desse aspecto. Outra enquete conduzida pela GlobeScan/PIPA revelou que Estados Unidos são vistos de modo positivo em 20 dos 28 países pesquisados. Uma média de 46% dos entrevistados afirmou ver o país como uma influência positiva no mundo, contra 34% dos que o veem os EUA de forma negativa. Os próprios americanos demonstram ser verdadeiros patriotas. Um questionário feito pelo Pew Research Center for the People & the Press13 nos EUA apontou que mais de oito em cada dez pessoas (83%) dizem estar extremamente (52%) ou muito orgulhos (31%) de serem americanos. Apenas 14% dizem que são moderadamente orgulhosos (8%) ou têm pouco ou nenhum orgulho (6%) de seu país. 11

Disponível em: <http://people-press.org/files/legacy-pdf/175.pdf>. Acesso em: 22 mai. 2011. Tradução nossa. 12 Disponível em: <http://www.worldpublicopinion.org/pipa/articles/views_on_countriesregions_bt/660.php>. Acesso em: 29 abr. 2011. Tradução nossa. 13 Disponível em: <http://pewresearch.org/pubs/1649/proudest-patriots-most-critical-of-governmentand-obama>. Acesso em: 13 abr. 2011. Tradução nossa.


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O quadro é praticamente o mesmo quando se trata de uma forma essencial pela qual os americanos expressam seu patriotismo: o hasteamento da bandeira americana. Quase seis em cada dez americanos (59%) dizem exibir a bandeira em suas casas, escritórios ou automóveis. Os republicanos (72%) são mais propensos do que os democratas (51%) a hastear a bandeira. E muito mais brancos (65%) do que afro-americanos (37%) dizem ostentar seu patriotismo. Exibir a bandeira tornou-se especialmente popular na sequência dos atentados terroristas de 2001. Em agosto de 2002, 75% do total disseram ainda hastear a bandeira. Figura 1 – Visões positivas e negativas dos EUA por outros países

Fonte: WORLD PUBLIC OPINION.


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Outro estudo 14 do Pew Research Center, objetivando verificar a baixa prioridade à promoção da democracia no exterior pelo público, mostrou que 38% das pessoas achavam importantes as ações destinadas a conter o terrorismo. O Egito e a Arábia Saudita foram os países mais mencionados pelos entrevistados como locais onde a intervenção deveria ser feita com adiantamento. Outros 68% acreditavam que a democratização desses países diminuiria a dependência americana do petróleo oriental. E 52% dos participantes achavam necessário aumentar os gastos com a segurança e a defesa dos EUA em relação ao Oriente Médio. 3.2.1 Como os árabes são vistos Uma pesquisa realizada pelo Pew Research Center for the People & the Press (conforme a Tabela 1) revelou que jovens rejeitam a ideia de que o Islã promova mais violência que outras religiões. Com 1.504 participantes, o estudo concluiu que 6 em cada 10 americanos com menos de 30 anos de idade afirmam que o Islã não é uma religião agressiva. Porém, dentre as pessoas com mais de 50 anos, 45% acredita que a religião muçulmana seja responsável pelo incentivo à violência. Tabela 1 – Público que continua divido quanto ao fato de o Islã ser uma religião com maior possibilidade de encorajar a violência15 Março 2002 %

Julho 2003 %

Agosto 2007 %

Agosto 2009 %

Agosto 2010 %

Março 2011 %

Maior probabilidade que as outras religiões para encorajar a violência

25

44

45

38

35

40

Não encoraja violência mais do que as outras religiões

51

41

39

45

42

42

Outro/não sabe

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15

16

16

24

18

Religião islâmica

Fonte: PEW RESEARCH CENTER FOR THE PEOPLE & THE PRESS.

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Disponível em: <http://pewresearch.org/pubs/1883/historically-public-has-given-low-priority-topromoting-democracy-overseas>. Acesso em: 18 mai. 2011. Tradução nossa. 15 Disponível em: <http://pewresearch.org/pubs/1921/poll-islam-violence-more-likely-other-religionspeter-king-congressional-hearings>. Acesso em: 13 abr. 2011. Tradução nossa.


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Wainberg (2005, p. 50) esclarece que “o ataque às torres gêmeas de Nova York, em 11 de setembro de 2001, por terroristas muçulmanos, por isso mesmo, encontrou campo fértil num imaginário ocidental que estereotipou um Islã militante e agressivo”. Ainda nessa análise, descobriu-se que divisões políticas e ideológicas interferem na opinião sobre o tema. Dois terços dos republicanos conservadores americanos creem que o Islã incita a brutalidade. Moderados e liberais republicanos estariam divididos quanto à questão. Mais de dois terços dos democratas liberais são contrários a proposição de que a religião seja um catalisador do terrorismo. Cerca de 50% dos democratas conservadores concordam com os liberais. Dentro de grupos religiosos, 60% dos protestantes evangélicos caucasianos acredita que os muçulmanos estão mais propensos a cometerem atos violentos. Outros protestantes (42%) e católicos brancos (39%) expressam a mesma opinião. Porém, 56% daqueles que se consideravam desapegados de convicções religiosas defenderam o culto islâmico como um culto de paz. Na pesquisa acima, pode-se perceber que os grupos considerados conservadores são os que mais creem no Islã como um propagador da violência. Wainberg (2007, p. 44) explica que “o que autoriza o assassinato do outro é a imagem decaída que temos de sua cultura, história, religião, hábitos e costumes. É um álibi útil aos fins do martírio político e da absolvição celeste e humana”. O islamismo, segundo Kamel (2007) não é uma religião dedicada à disseminação da violência. Para o autor, essa atribuição é feita porque o império islâmico tinha como fundamento expandir-se a qualquer custo. Kamel (2007) defende que as interpretações dadas ao livro sagrado islâmico é que podem ser consideradas perigosas. Ele afirma que: O que os chamados fundamentalistas islâmicos fazem é dar ao Alcorão uma interpretação radical. É, portanto, justamente o contrário: cientes de que, diante da revelação escrita, interpretações múltiplas são possíveis, depois de interpretá-la de uma maneira radical, o que eles fazem é decretar que a visão deles é a única possível. (KAMEL, 2007, p. 172-173)

Quanto aos fundamentalistas, Wainberg (2007) diz que estes têm medo que a democracia prevaleça. “E que por causa dela, deste novo espírito, ocorra o mesmo o que ocorreu com o cristianismo e o judaísmo no passado: uma reforma capaz de adequar a fé e a tradição à modernidade.” (WAINBERG, 2007, p. 147)


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Sodré (2002) elucida que a violência desordenada é um sintoma do desbordamento do Estado e da sociedade civil. “Na maioria das vezes, a força destrutiva não é fenômeno de pura irracionalidade, mas uma espécie de ultima ratio por parte de quem está irremediavelmente situado na outra margem do sistema” (SODRÉ, 2002, p. 66). 3.2.2 Consequências da imagem: antes e depois Como mostram as pesquisas acima, a imagem americana sofreu altos e baixos nos últimos dez anos que sucederam os atentados. A guerra ao terror prometida pelo presidente Bush foi o início de sua decadência. Muitas contradições vindas da administração dos Estados Unidos levantaram dúvidas da comunidade internacional. Wainberg (2007, p. 94) diz que Em boa medida, tais contradições entre o dito e o feito enfraqueceram a projeção americana no cenário internacional, contribuindo para a hostilidade existente no mundo ao país, em especial após a invasão do Afeganistão e do Iraque.

A dificuldade de Bush em lidar com os ataques em longo prazo, a inserção dos EUA em uma guerra e a falta de políticas internas no país fizeram com que os americanos desprestigiassem o presidente com o passar do tempo. O próprio impacto do evento mostrou-se maior de imediato. Conforme a poeira foi baixando, o público começou a se dar conta das reais dimensões dos atentados. Fisk (2007, p. 1147) chama a atenção para o assunto: O credo enunciado a partir daquele momentos pelos Estados Unidos e acolhido com os braços abertos pelos estadistas e meios de comunicação mundiais – que o 11 de setembro de 2001 ‘havia mudado o mundo para sempre’ – era uma mentira. No Oriente Médio, havia acontecido incontestáveis massacres de dimensões muito maiores nas décadas anteriores, sem que ninguém sugerisse que o mundo não tornaria a ser o mesmo. O milhão e meio de mortos na guerra entre Irã e Iraque – um banho de sangue perpetrado por Saddam com nosso apoio militar ativo – não suscitou nenhuma observação maniqueísta dessas.

No século passado, o país emergiu como potência dominante, econômica e militar, participando em centenas de guerras, invasões e missões de bombardeio em todo o planeta. Os eventos de 2001 oportunizaram uma situação aos EUA de criar mais um conflito mundial desnecessário.


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De acordo com uma lista compilada pelo Congressional Research Service, os Estados Unidos utilizaram as suas forças militares em outros países mais de 70 vezes desde 1945, sem contar os inúmeros casos de operações de contra-insurgência pela CIA. (MACCHESNEY, Robert W.. September 11 and the structural limitations of US journalism. In: ALLAN; ZELIZER, 2002, p. 91, tradução nossa)

Essa variação da imagem abriu espaço para ações vindas do Partido Democrata. A campanha de Barack Obama foi em parte baseada na retirada das tropas americanas dos territórios hostis do Oriente Médio. A popularidade dos EUA voltou a subir fortemente em 2009, quando o atual presidente deu início ao seu plano de tratar o terrorismo através do discurso e não das armas. No mesmo ano, Obama recebeu o prêmio Nobel da Paz pelos esforços diplomáticos. No entanto, a campanha de Obama fez mais sucesso do que sua atuação presidencial. Como demonstra a Figura 2, a imagem dos Estados Unidos melhorou significativamente em muitas partes do mundo, refletindo a confiança global no novo presidente. A opinião de muitos países sobre os Estados Unidos era tão positiva em 2009, quanto no início da década, antes da posse de George W. Bush. Figura 2 – Imagem dos EUA pelas Américas16

Fonte: PEW RESEARCH CENTER FOR THE PEOPLE & THE PRESS.

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Disponível em: <http://pewresearch.org/pubs/1289/global-attitudes-survey-2009-obama-liftsamerica-image>. Acesso em: 13 abr. 2011. Tradução nossa.


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Contudo, a maior parte das promessas de Obama não foram cumpridas. Agora, aproximando-se das eleições presidenciais em 2012 ele tentou reforçar as premissas de caça ao terror implementadas por Bush, com a ação que matou o terrorista Osama bin Laden, em maio deste ano. Como alega Macchesney (In: ALLAN; ZELIZER, 2002, p. 93, tradução nossa), “o registro histórico sugere que devemos esperar uma avalanche de mentiras e meias-verdades a serviço do poder”. 3.3 NEOCONSERVADORISMO, REPUBLICANOS E DEMOCRATAS Fundado em 1836 por Andrew Jackson, o Partido Democrata17 dos Estados Unidos foi um partido de ideologia conservadora mas, que no século XX, sofreu uma mudança transformando-se na esquerda liberal (KARNAL, 2007). Esse segmento político costuma ser apoiado por trabalhadores, sindicatos, assalariados, pela maioria das profissões intelectuais (professores, jornalistas, artistas) e por algumas minorias étnicas (afro-americanos, hispânicos) e religiosas (católicos, judeus). Ao contrário do seu adversário, o Partido Republicano18 que geralmente é associado à população White Anglo-Saxon Protestant19 (WASP). Já o neoconservadorismo (também referido como neocon) americano é uma corrente intelectual, voltada para as relações internacionais com origem creditada a um grupo marginal de artistas, escritores e críticos de arte, judeus em sua maioria, conhecidos como os intelectuais de Nova York. Os neoconservadores não são parte de um bando homogêneo, nem coeso, porém têm uma unidade ideológica concreta sobre como deveria ser regida a sociedade. Em meados de 1930, esses intelectuais se auto-definiam marxistas radicais e antiburgueses. No momento em que se disseminou, nos EUA, a crítica ao governo stalinista da União Soviética, os neoconservadores se convenceram que o totalitarismo era maléfico. Então, esse grupo distanciou-se e passou a ser criticado pela esquerda radical. Ex-trotskistas, como Irving Kristol, ganharam notoriedade nessa transição. Assim, o neoconservadorismo repudiou a disseminação de ideologias, insistindo que essas eram influenciadoras de postura conflituosa e revolucionária, o que fomentaria o totalitarismo. Wainberg (2007, p. 20) sintetiza que “os segmentos 17

Disponível em: <http://www.democrats.org/>. Acesso em: 22 mai. 2011. Disponível em: <http://www.gop.com/>. Acesso em: 22 mai. 2011. 19 Brancos anglo-saxônicos protestantes, na tradução literal. 18


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conservadores de opinião pública geralmente identificam o intelectualismo como ideologias prescritivas e salvacionistas. Ideologias populistas também hostilizam a classe dos intelectuais por ser teórica e arrogante”. A política neoconservadora atual influenciou governos norte-americanos como de Ronald Reagan e George W. Bush. Além disso, está envolvida em uma cruzada civilizatória, objetivando difundir valores democráticos e liberais americanos pelo mundo. Wainberg (2007, p. 98) esclarece que: Entre as principais características do neoconservadorismo estão seus princípios favoráveis às democracias liberais, a uma política externa firme e agressiva, ao livre-comércio, e em oposição ao comunismo e Estados que apóiam o terrorismo. O novo que chama a atenção neste conservadorismo é a migração deste grupo de pensadores que rompeu com o marxismo e o esquerdismo.

Com os ataques de 2001, a política neoconservadora ganhou espaço na estratégia Bush. O investimento no poderio militar, a invasão do Afeganistão, a imposição da democracia através da guerra são alguns fatores que demonstram o uso do neoconservadorismo nas táticas do republicano. “Para estes círculos de opinião, o ataque de 11 de setembro resultou do pouco envolvimento dos Estados Unidos com o destino do mundo e de sua falta de ambição.” (WAINBERG, 2007, p. 99) Autores como Soros (2004), identificam que o presidente Bush se utilizou do evento para afirmar o direito americano a ações militares defensivas. Ele critica ferozmente o uso dessa política neoconservadora: O governo do país mais poderoso do mundo caiu nas mãos de extremistas pautados por uma forma grosseira de darwinismo social: a vida é uma luta pela sobrevivência, e para sobreviver devemos confiar sobretudo no uso da força. (SOROS, 2004, p. 11)

O autor enfatiza também que o neoconservadorismo assume a forma do fundamentalismo de mercado e leva à busca da supremacia americana. Os EUA têm se postulado como uma nação mais forte do que as outras, que sempre tem a razão e o direito ao seu favor. 3.3.1 Chomsky versus Horowitz Como a vertente do neoconservadorismo valorizou-se com os atentados de 11 de setembro, surgiram oposições críticas desse pensamento. Uma vertente importante é a representada pelo filósofo, linguista e ativista político Noam Chomsky.


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O professor defende uma visão de esquerda, apesar de ser adepto de pensamentos anárquicos, e demonstra-se contrário à política neocon americana de guerra ao terror. Para ele “o que vem sendo anunciado é uma virtual declaração de guerra contra todos aqueles que não se unirem incondicionalmente a Washington em sua empreitada de violência” (CHOMSKY, 2001a, p. 72). Contrário a esta visão e principal adversário de Chomsky, encontra-se David Horowitz, ex-trotskista e atual neocon. Horowitz (2002) compara os ataques de 2001 com os sucedidos em Pearl Harbor, em 1941. O autor é também adepto da teoria de que o 11 de setembro poderia ter sido evitado se a política externa dos EUA fosse mais agressiva. Ele alega que: O que aconteceu com a América (em 11 de setembro) é algo natural, um evento esperado para um país que usa terror, política arrogante e repressão contra nações e povos, impondo método, modo de vida e pensamento únicos, como se pessoas do mundo inteiro fossem funcionários de seus gabinetes de governo e empregados por suas empresas e instituições comerciais. (HOROWITZ, 2002, s. p., tradução nossa)

Quanto a questão religiosa envolta no massacre de 11 de setembro, Chomsky (2001a) defende que o islamismo foi marginalizado pelas ações do governo Bush. Em seu ponto de vista, É sempre mais fácil personalizar o inimigo, identificar um símbolo do Grande Mal, do que buscar compreender o que está por trás das atrocidades cometidas. E, é claro, existe sempre a tendência de se ignorar o papel desempenhado por si mesmo nesta questão – o que, no caso, não é difícil de expor e de fato chega a ser familiar a todos que têm algum conhecimento da região e da sua história recente. (CHOMSKY, 2001a, p. 40-41)

Horowitz (2002) é mais radical frente ao tema. Para ele, o próprio islamismo é um fator de violência. O autor esclarece que a religião vê na morte não o desespero, mas a oportunidade de alcançar o paraíso, “[...] de estender o território do Islã e fazer a vontade de Alá” (HOROWITZ, 2002, s. p., tradução nossa). Chomsky (2001b) demonstra-se mais compreensivo quanto ao ocorrido. Ele avalia que é mais importante tentar entender o que levou a comunidade radical islâmica a praticar tais atos. Enquanto isso, Horowitz (2006) crê que os EUA têm direito a invadir o Afeganistão e bombardear aleatoriamente por vingança.


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4 REVISTAS Scalzo (2004, p. 11) define revista como “um veículo de comunicação, um produto, um negócio, uma marca, um objeto, um conjunto de serviços, um mistura de jornalismo e entretenimento”. Segunda a autora, o estilo revista estimula uma relação profunda com o leitor. Para ela, esse contato que se estabelece ajuda a construir identidades, o que leva a sensação de pertencimento de um determinado grupo por parte do público. As revistas ocupam um papel crucial na comunicação. Elas servem para explicar e aprofundar uma história. São uma plataforma de análise e reflexão. Para o público, elas demonstram credibilidade (SCALZO, 2004). Esse tipo de publicação possui menos informação no sentido clássico e mais informação pessoal. Diferem do jornal impresso, pois são pouco heterogêneas: exploram o privado, tratam o leitor com intimidade. Revistas representam épocas. No ponto de vista de Scalzo (2004), pode-se ter conhecimento de uma sociedade através de suas revistas. Vilas Boas (1996) estipula que as revistas são lugares de textos mais criativos. O autor expõe que os profissionais da área podem brincar com elementos textuais para seduzir o leitor. Para ele, a única regra é respeitar os valores ideológicos do veículo. Quanto ao estilo, ele caracteriza como um jornalismo interpretativo documental, porém não tão histórico como o livro-reportagem. A primeira publicação do ramo surgiu em 1663, na Alemanha (SCALZO, 2004). No entanto, era bem diferente do que se entende hoje por revista. Até o século XVIII, a maioria desses periódicos tinha formato de livro e dedicavam-se a assuntos específicos. Somente em 1731, em Londres, nasceu o estilo mais próximo ao atual com o lançamento da The gentleman’s magazine. “O termo magazine, a partir de então, passa a designar revistas em inglês e em francês”, aponta Scalzo (2004, p. 19-20). O crescimento da alfabetização e da urbanização propulsionou as revistas no mercado editorial. Para Scalzo (2004, p. 20) “a revista ocupou assim um espaço entre o livro (objeto sacralizado) e o jornal (que só trazia o noticiário ligeiro)”. Em 1923, a primeira revista semanal chega ao mundo, foi publicada a Time, nos EUA. Imitando o modelo conciso da Time, surge a Veja, no Brasil, em 1968. A Newsweek foi fundada em 1933, por Thomas J.C. Martyn, originalmente seu nome possuía um hífen entre as palavras inglesas News (notícias) e Week


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(semana). Malcolm Muir, ainda nos anos 30, removeu o elemento gramatical e mudou o foco da revista: das fotografias para as histórias. Em 1961, o grupo jornalístico Washington Post comprou o periódico tornando sua linha editorial mais liberal. Já a Carta Capital é uma publicação mais recente. Fundada por Mino Carta20, em 1994, a revista era inicialmente mensal. Só veio a ser semanal em agosto de 2001, com o crescimento da audiência. As duas revistas foram escolhidas para compor essa análise por serem de visões distintas, a Newsweek representa a direita liberal americana; enquanto que a Carta Capital pode ser considerada de extrema esquerda brasileira. Além disso, o modelo brasileiro de revista semanal é fortemente influenciado pelo norte-americano. Outro fator interessante é o grau de importância dado aos eventos de 11 de setembro por ambas publicações. É visível o patriotismo americano e o desinteresse brasileiro com o passar do tempo nas coberturas de aniversário do acontecimento. 4.1 JORNALISMO DE REVISTA SEMANAL Vilas Boas (1996, p. 9) resume o estilo em questão da seguinte forma: A revista semanal preenche os vazios informativos deixados pelas coberturas dos jornais, rádio e televisão. Além de visualmente mais sofisticada, outro fator a diferencia sobremaneira do jornal: o texto. Com mais tempo para extrapolações analíticas do fato, as revistas podem produzir textos mais criativos, utilizando recursos estilísticos geralmente incompatíveis com a velocidade do jornalismo diário. A reportagem interpretativa é o forte.

O autor crê que os semanários rompem com a padronização cotidiana. Em sua concepção, as revistas permitem a narração de reportagens seguindo determinado ponto de vista. Entretanto, ele faz uma ressalva articulando que ponto de vista nesse sentido seria a possibilidade de interpretação do assunto tratado. Na revista, há mais liberdade para o uso de metáforas e dualidades. Vilas Boas (1996, p. 35) afirma: “Se, na TV, o texto completa a imagem, na revista semanal de informações, a imagem completa o texto.” A notícia vem valorizada pela pesquisa e investigação. Nas revistas semanais se investe no elemento surpresa, na curiosidade do leitor, uma vez que se faz necessário sair da factualidade excessiva, da superficialidade do dia-a-dia. 20

O jornalista também participou da criação do semanário Veja, em 1968, quando este era considerado de esquerda e contrario a ditadura militar instaurada no Brasil, na época. Atualmente, a revista sustenta uma posição de direita e de oposição ao governo federal.


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Diferente das outras mídias, as revistas se ocupam da reportagem. Vilas Boas (1996) esclarece que toda reportagem é notícia, mas nem toda a notícia é reportagem. Ele sintetiza que a reportagem é um desdobramento da notícia. A reportagem mostra como e porque uma determinada notícia entrou para a história. As revistas semanais são segmentadas. Cada publicação tem seu próprio público. É importante compreender quem são as audiências da Carta Capital e da Newsweek, e quais são suas concepções editorias, para que se possa entender como foram realizadas suas coberturas e interpretações sobre o 11 de setembro. 4.1.1 Carta Capital O posicionamento editorial da Carta Capital, segundo a própria revista, é baseado no seguinte tripé jornalístico: fidelidade à verdade factual, espírito crítico e fiscalização do poder onde quer que se manifeste. O semanário se considera imparcial frente aos acontecimentos e sua proposta é informar com consistência e profundidade sobre política, economia, sociedade e cultura. Pode-se dizer que Carta Capital é um contraponto em um mercado editorial dominado por grandes títulos, uma vez que sua circulação média é de 80 mil exemplares e sua posição no ranking da Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER)21 é o 23º lugar. Sua distribuição é mais forte no sudeste e no nordeste, conforme Figura 3. Figura 3 – Distribuição dos exemplares de Carta Capital22

Fonte: Site da revista Carta Capital.

21 22

Disponível em: <http://www.aner.org.br/Conteudo/1/artigo42424-1.asp>. Acesso em: 30 mai. 2011. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/anuncie>. Acesso em: 29 mai. 2011.


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Em 2008, a Carta Capital foi convidada pela revista inglesa The Economist para produzir, no Brasil e em português, a edição especial: The World in 2009. Essa primeira experiência firmou uma parceria mais extensa que inclui o direito da Carta Capital de republicar alguns conteúdos da The Economist, traduzidos e na íntegra. Quanto à audiência da revista, pesquisa constatou cerca de 320 mil leitores. Dentre eles, 63% seriam homens, 37% mulheres. E 37% de todos os leitores têm entre 20 e 29 anos. Além disso, ela revela alguns aspectos que o público destaca em relação a Carta Capital: •

Deixa clara a sua posição;

Revela fatos não abordados por outras mídias;

Respeito pelo leitor;

Posição ética: não calar a verdade;

Não se prende as informações impostas por publicações dominantes.

O público da revista é denominado de cosmopolita racional. Para a revista isso inclui: classe social elevada, empreendedorismo, sede de informação, vida cultural agitada, urbanismo, valorização da aparência, consumismo (principalmente de itens de luxo) e influências da mídia. Na Figura 4, da classificação por qualificação dos leitores de revistas semanais no Brasil, pode-se ver que a Carta Capital é o periódico com maior índice de leitores das classes A e B e com nível educacional superior para cima. Figura 4 – Classificação da qualificação dos leitores de revistas no Brasil

Fonte: Site da revista Carta Capital.

4.1.2 Newsweek A Newsweek, conforme informações disponíveis no seu site23, é uma revista que pretende ser provocativa, porém não-partidária, com opinião, iniciativa e 23

Disponível em: <http://www.newsweekmediakit.com/US/us_overview.html>. Acesso em: 30 mai. 2011. Tradução nossa.


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jornalismo original. Seu slogan é: “Uma marca que é o primeiro lugar para a última palavra.” A revista, de distribuição internacional, contém 11 edições diferentes24 em mais de 190 países. Sua tiragem, só nos EUA, supera os 1,5 milhões. São quase 20 milhões de leitores em todo o mundo. A sua audiência foi rotulada como the thinking person25, onde se encaixam pessoas influentes, inteligentes, bem informadas, ocupadas, consumistas e que procuram uma fonte segura para organizar a enchente de notícias que os cerca. Em geral, a Newsweek é voltada para formadores de opinião. Na Figura 5, compreendese melhor quem é o público da revista. Figura 5 – Perfil do público da Newsweek

Fonte: Site da revista Newsweek26.

O foco da revista são os assuntos internacionais. Sua preocupação maior é em manter uma cobertura global do que está acontecendo. Também é relevante para a revista publicar matérias sobre os EUA, negócios, saúde e ciências, fatos gerais e cultura. Essas características do perfil editorial podem ser melhor visualizadas na Figura 6.

24

Possui 6 edições em línguas locais: japonês, coreano, espanhol, polonês, turco e árabe. A pessoa que pensa, na tradução literal. 26 Disponível em: <http://www.newsweekmediakit.com/Research/Research_edit_profile.html>. Acesso em: 27 mai. 2011. Tradução nossa. 25


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Figura 6 – Percentual dos assuntos tratados nos editoriais de 2009

Fonte: Site da revista Newsweek27.

Uma pesquisa feita pela revista mostrou que o leitor desta gasta em média 59 minutos lendo um exemplar. Outro dado importante é que 69% do público assíduo, lê todos as edições. E 76% do total têm uma visão positiva da revista. 4.2 COBERTURA BRASILEIRA VERSUS NORTE-AMERICANA Como se constata no início deste capítulo, as revistas escolhidas são de um mesmo segmento, porém possuem caraterísticas diferenciadas. Isso faz com que suas coberturas e interpretações sobre os fatos sejam divergentes em alguns momentos. Sabe-se também que o jornalismo norte-americano sofreu uma onda de patriotismo naquele momento, o que influenciou a coleta e publicação das informações sobre o evento. O jornalismo brasileiro é fortemente baseado nos modelos americano e europeu. A própria Carta Capital é um periódico com conteúdo estrangeiro, da The Economist. Fator que, combinado com o distanciamento dos fatos, pode culminar em más interpretações. O ocorrido em si foi um fato extraordinário, como visto nos capítulos anteriores. Assim, desencadeou reações da mídia pouco habituais e impôs aos jornalistas um momento de reflexão sobre o que estava acontecendo no mundo. Ao 27

Disponível em: <http://www.newsweekmediakit.com/Research/Research_edit_profile.html>. Acesso em: 27 mai. 2011. Tradução nossa.


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longo do tempo algumas coisas voltaram ao normal, outras foram alteradas para sempre. As coberturas imediatistas tiveram um tom diferente das feitas depois de um ano, ou cinco anos. Os ataques se desdobraram em outros acontecimentos que também influenciaram a imprensa. A imagem dos EUA oscilou e continua oscilando, pois se percebe na análise feita a seguir que muitas questões ficaram em aberto. 4.2.1 Ainda em setembro de 2001 Uma semana depois dos atentados, ambas as revistas lançaram edição especial dedicada aos eventos de 11 de setembro (Anexos A e B). A Newsweek sob o título: “America under attack28.” E a Carta Capital: “Ataque ao império. O mundo mudou.” A primeira vai da capa à contra capa falando só sobre o tema. Já a segunda, abrange também alguns assuntos em voga no Brasil e publicidade. A Carta Capital, em seu especial, exibe um editorial cuidadoso, interrogando como e quais serão as ações pós tragédia dos EUA e afirmando que estas podem ser um problema de amplo espectro. O editorial aproveita para levantar outra questão: a miséria e a desigualdade mundial. Mino Carta finaliza o texto prevendo e prevenindo a guerra que sucedeu os ataques: O que se viu, até o momento, foi a transferência para o plano global da injustiça social outrora reservada aos cenários nacionais. Ricos cada vez mais ricos, pobres cada vez mais pobres. A velha história, brutalmente ampliada, dilatada, elevada ao quadrado, ou ao cubo. Lamentável, condenável, a morte de inocentes, nesta tragédia que espanta o mundo. Mas quais foram as guerras que não chacinaram inocentes, a começar pelos próprios combatentes, buchas de canhão? Esta edição de Carta Capital busca os significados do ataque ao Império, quem sabe começo de um conflito sem precedentes na história da humanidade. Às vezes, o homem não percebe já estar vivendo em guerra. Quente. (CARTA CAPITAL, 2001, n. 157, p. 5, grifo nosso)

Ao virar a página, os cuidados são postos de lado. A perspectiva da revista põe à prova a imagem americana e critica a falta de uma reação imediata. Sob o título de E o mundo mudou, a primeira reportagem do especial começa ironizando que a maior potência mundial passa pelo seu momento de vítima indefesa. Em seguida, uma breve descrição dos fatos descartando as hipóteses de mero acidente. Um trecho interessante que merece atenção destaca que ainda não 28

América sob ataque, na tradução literal.


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se sabia a autoria da emboscada: “[...] os atentados que o mundo acaba de assistir aconteceram sem aviso, sem autor, motivação ou objetivos claramente conhecidos.” (CARTA CAPITAL, 2001, n. 157, p. 7) A Newsweek, transbordando patriotismo, é mais sóbria e focada no pessoal. Sem editorial, a edição abre com uma foto da segunda torre sendo invadida por um avião e a seguinte frase: “America’s day of terror.” 29 Toda a primeira parte do semanário é composta por fotos de duas páginas e pequenas legendas explicativas. As imagens seguem uma sequência dos eventos do dia: primeiro as torres em pé, os aviões se aproximando, logo as torres em chamas, o pentágono, o pó, a sujeira e uma vítima coberta de sangue. É interessante observar que na Carta Capital há duas reportagens escritas por pessoas que presenciaram a cena, mas não são jornalistas nem fazem parte do corpo de expediente da revista. Diferente disso, na Newsweek há muitos personagens e depoimentos, mas quase todos contados através de um repórter. A primeira reportagem da Newsweek se inicia apenas na página 22, sob o título de A new date of infamy30. A história não é narrada através das ocorrências, mas sim de um personagem, Jeremy Glick – um dos mortos no voo 93. O texto é longo e dramático como se pode ver nesse trecho: Com o tipo de precisão tática que um comando treinado só poderia sonhar, uma célula de terroristas transformou quatro aviões em mísseis guiados e destruiu o símbolo mais icônico do capitalismo americano, o World Trade Center, enquanto bombardeava e denegria o centro nevrálgico do poder militar dos EUA, o Pentágono. (NEWSWEEK, 2001, v. 138, n. 11, p. 25, tradução nossa)

As fotografias da matéria não deixaram a desejar se o objetivo era causar impacto. Pessoas ensanguentadas, ruas destruídas e a ferida no Pentágono ilustram o relato que compara o 11 de setembro ao ataque de Pearl Harbor. As críticas ao presidente são moderadas. A matéria parece oferecer apoio para as palavras de Bush: “Ao encarar um profundo teste de liderança, o Presidente George W. Bush falou fortemente.” (NEWSWEEK, 2001, v. 138, n. 11, p. 26, tradução nossa) Até então, esta edição da Newsweek também não aponta culpados. Contudo, faz duras observações sobre as comemorações no mundo árabe diante dos atentados. Na Carta Capital (2001, n. 157, p. 8) consta a seguinte informação: 29 30

O dia de terror da América, na tradução literal. Uma nova data para a infâmia, na tradução literal.


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“Osama bin Laden, o terrorista considerado inimigo número um dos EUA, que sempre esteve no topo do quadro de apostas, declarou na quarta-feira não ter nada a ver com o episódio.” Mais adiante, no mesmo texto, a revista narra comemorações de diversas nações tiranizadas pelos EUA no passado. Não apenas de árabes, como também de japoneses, brasileiros, entre outros. Ainda nessa reportagem, ao analisar as palavras de Bush, o periódico explora o imaginário religioso proposto pelo presidente e se opõe a isso: “Mesmo num cenário facilmente divisível entre o bem e o mal, o que parece condizente com o habitat mental de Bush, ele, que já era alvo de dúvidas quanto à sua capacidade de conduzir um país, se mostrou aquém.” (CARTA CAPITAL, 2001, n. 157, p. 9, grifo nosso) A revista norte-americana dedica um artigo inteiro sobre os percalços que Bush tem pela frente, pós ataques. No início, a reportagem elogia os esforços do presidente: George Walker Bush nunca quis ser um herói, apenas um presidente. Agora ele tem que ser o primeiro a ter sucesso como o último. Bush deve ascender para uma ocasião tão assustadora quanto outras enfrentadas por presidentes antes dele, e fazê-lo com menos experiência do que quase todos os que o precederam. (NEWSWEEK, 2001, v. 138, n. 11, p. 32, tradução nossa, grifo nosso)

Entretanto, no penúltimo parágrafo, é colocada a questão de que o presidente, no momento do atentado, estava mais preocupado com a sua própria segurança do que com a da nação. Depoimentos de senadores censurando a ação deixam isso claro. Enquanto a Carta Capital consome cinco páginas de seu exemplar para questionar as ligações de Osama bin Laden com os EUA, a Newsweek faz uma reportagem justificando porque o terrorista seria o culpado. Ainda nesse assunto, a Carta Capital faz ligações entre a extrema direita americana e a autoria dos atentados. Outra relação feita pela revista é sobre as atuações do EUA nos países terceiro mundistas. No final da edição especial da Newsweek, os assuntos vão ficando cada vez mais humanos. Dos relatos das vítimas aos efeitos psicológicos que atingiriam o povo americano: “Literal e simbolicamente, os terroristas atingiram a alma, e de fato o significado, da América. ‘Liberdade e democracia estão sob ataque’, declarou o


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presidente Bush no dia seguinte.” (NEWSWEEK, 2001, v. 138, n. 11, p. 42, tradução nossa) Fareed Zakaria, um dos repórteres mais importantes do semanário americano, publicou nesta edição um artigo sobre a guerra ao terror. Suas observações apontam que essa não é uma guerra americana, mas sim mundial. Além disso, ele adverte que tudo está muito nebuloso ainda: “Hoje estamos em uma guerra, tudo bem, mas o inimigo é incerto, o terreno é desconhecido e os métodos são terrivelmente não convencionais.” (NEWSWEEK, 2001, v. 138, n. 11, p. 46, tradução nossa) Na Carta Capital, há uma seção especial de opiniões. Nomes como Noam Chomsky, Michael Clarke, Doug Henwood, Norman Solomon, entre outros, consideraram sobre o que aconteceu e qual o futuro do mundo frente aos fatos. Chomsky é apocalíptico, acusando que o pior ainda está por vir (CARTA CAPITAL, 2001, n. 157, p. 36). Na página seguinte, Clarke explica sua teoria de que Osama bin Laden não poderia ser o mandante dos ataques. É interessante que vários destes colunistas classificam como irracional a resposta de Bush sobre o 11 de setembro, todos creem que responder com violência gerará mais violência. Solomon, na página 44 da Carta Capital, ironiza a atenção dada ao atentado pela mídia mundial: Na midialândia dos EUA, atrocidades cometidas pelo governo americano são postas de lado, a não ser que infrinjam o senso nacional do que é certo. Apenas algumas crueldades merecem o holofote. Só algumas vítimas merecem compaixão. Só alguns crimes contra a humanidade merecem nossas lágrimas. (CARTA CAPITAL, 2001, n. 157, p. 44)

No artigo intitulado America, Unchanged 31 da Newsweek, o jornalista Jonathan Alter discursa sobre as atrocidades cometidas pelos EUA contra nações árabes no passado e como evitar que o ódio disseminado pelos terroristas afete a política americana. Ele também questiona porque tragédias no mundo árabe têm menos destaque na mídia do que catástrofes americanas. O jornalista finaliza o artigo ressaltando que: [...] conforme nós aprendemos sobre o Médio Oriente, temos de evitar de nos tornarmos o Oriente Médio. [...] Eles nos atingem. Nós atingimos eles. Eles esperam algum tempo, em seguida nos atingem

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América, inalterada, na tradução literal.


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novamente. Este ciclo pode destruir a América que conhecemos. (NEWSWEEK, 2001, v. 138, n. 11, p. 53, tradução nossa)

Na contracapa da Newsweek, uma foto das equipes de resgate e uma citação de George W. Bush figuram o dia fatídico: “Ataques terroristas podem tremer as bases dos nossos maiores edifícios, mas eles não podem abalar a fundação da América.” A última matéria da Carta Capital sobre o especial de 11 de setembro aborda o cinema americano como cenário e compara os árabes aos alienígenas nos filmes de ficção. A reportagem considera a demonização dos muçulmanos pela sétima arte perigosa e afirma: “Hollywood, afinal, é também a indústria de exploração do medo. E nada aterroriza tanto os americanos quanto o que eles não conhecem.” (CARTA CAPITAL, 2001, n. 157, p. 54-55) 4.2.2. Um ano depois As comemorações de um ano da queda das torres gêmeas trouxeram outras preocupações. Os EUA já estavam definitivamente envoltos em uma guerra que perdura até os dias de hoje. O investimento no conflito começou a gerar dúvidas da comunidade internacional e, até mesmo, da sociedade americana. A Newsweek abre a edição de aniversário com uma pauta sobre os gastos com o combate ao terrorismo, questionando os antigos investimentos na Al-Qaeda na década de 1990. Ainda na seção denominada Periscope 32 , uma charge, representada na Figura 7, mostra diversas nações se opondo aos conflitos gerados por Bush, enquanto esse mesmo ignora a cena. A imagem retrata a discussão sobre uma possível retaliação ao Iraque e a suposta ajuda financeira enviada pela Arábia Saudita aos familiares das vítimas em busca de relações melhores com os EUA. Diferente da Newsweek, que na capa traz quatro rostos daqueles que marcaram os atentados de 11 de setembro de 200133, a Carta Capital não menciona o assunto na capa da publicação. Na época, o Brasil acompanhava os escândalos do jogador de futebol Ronaldo Luís Nazário de Lima, o Fenômeno. Porém, ainda no editorial, a revista brasileira traz uma foto de Nova York sob a poeira e o seguinte comentário: “Um ano depois, o mundo realmente mudou. Para 32

Periscópio, na tradução literal, é o nome dado à luneta dos submarinos. Segundo o periódico, as pessoas mais influentes foram: Pervez Musharraf, presidente do Paquistão; Condoleezza Rice, conselheira de segurança dos EUA; Peter Pace, general do exército; Lisa Beamer, esposa de uma das vítimas do voo 93.

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pior.” (CARTA CAPITAL, 2001, n. 206, p. 5) Apesar do pessimismo, a primeira matéria sobre o assunto vem intitulada de A reação ao trauma e mostra como os americanos seguiram suas vidas depois do ocorrido. A reportagem faz um relato dos fatos do dia funesto e conclui apontando que a tragédia deixou uma ferida aberta no país. Figura 7 – Charge na Newsweek de setembro de 2002

Fonte: NEWSWEEK, 2001, v. 139, n. 31, p. 4.

Christopher Dickey, repórter da Newsweek, na seção World view34, alerta sobre as ameaças de Bush a propósito de Saddam Hussein. Ele fala sobre as reações no mundo árabe de apoio ao Iraque e caracteriza o eixo como maléfico: “Uma guerra preventiva contra Saddam Hussein é perigosa. Mas não nos enganemos sobre o homem ou o seu regime. Eles são maus.” (NEWSWEEK, 2001, v. 139, n. 31, p. 9, tradução nossa) Na seção especial da Carta Capital, a reportagem Infeliz aniversário aborda a reconstrução da metrópole, todavia critica a ordem mundial caracterizando-a como 34

Visão mundial, na tradução literal.


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repressiva e chauvinista. Antonio Luiz M. C. Costa, jornalista que assina o artigo, faz um trocadilho com a estratégia transparente montada por Nova York para reutilizar o sítio do World Trade Center e a falta de andamento das discussões globais e resoluções dos conflitos. A Newsweek, em seu espaço reservado para tratar do tema, inicia uma série de reportagens com a guerra que “ainda há de ser ganha” (NEWSWEEK, 2001, v. 139, n. 31, p. 18, tradução nossa). O texto conta a história dos terroristas por trás do ataque, de suas atividades nos EUA nos anos 1990, da falta de investigação e cuidado do país para com essas pessoas suspeitas e da suspeita de que o mandante fosse Khaled Shaikh Mohammad. Na outra página, um texto curto de Roy Gutman a respeito do presidente americano dialoga sobre o percentual de aprovação de Bush e suas ações em mandato. O título, sugestivo, é: “Como ele sempre foi: Os ataques de 11 de setembro mudaram a América, mas eles só solidificaram as principais qualidades de Bush – agora expostas, ponderando sobre o Iraque.” (NEWSWEEK, 2001, v. 139, n. 31, p. 21, tradução nossa) Fareed Zakaria ganha duas páginas da revista norte-americana para dizer que o poder dos fundamentalistas muçulmanos está se dissipando, mesmo dentro do mundo árabe. Comparando os extremistas aos alemães durante a segunda guerra e citando Churchill, Zakaria prevê que num futuro próximo o radicalismo não terá forças para se sustentar. Enquanto isso, a Carta Capital caminha no sentido oposto antevendo que o fundamentalismo cresce com o alento dos desprezados e humilhados. Ao destacar o recrutamento de crianças palestinas para o front de batalha, a revista recrimina a indiferença de pais norte-americanos quanto aos violentos videogames que seus filhos jogam todos os dias. Avançando na Newsweek, surgem os artigos das quatro pessoas mais influentes do ano em relação aos atentados. Depois há uma matéria sobre como Nova York vai preencher o vazio deixado pela queda das torres. E, finalizando o especial, uma comparação de outras datas famosas com o 11 de setembro e a previsão de quão marcado o dia ficou na memória mundial. O último artigo do semanário reproduz entrevistas com líderes mundiais sobre o antiamericanismo perpetrado pós atentados: “Os europeus estão morrendo de vontade de cooperar. Mas a América quer só a representação, e não a amizade. Seu unilateralismo


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arrogante preocupa o mundo.” (NEWSWEEK, 2001, v. 139, n. 31, p. 56, tradução nossa) 4.2.3 Cinco anos depois Em nenhuma das revistas de setembro de 2006 o assunto alcança as capas. Na Carta Capital, uma talvez coincidência: a capa é representada pelas torres do planalto ilustrando a amnésia eleitoral do povo brasileiro. A preocupação da Newsweek é com os problemas da imigração na América Latina. Não há qualquer especial, nem editorial, nem encarte, nem seção. A Carta Capital traz uma reportagem relembrando aquilo que denomina de “o maior dos atentados”, na divisão internacional. Na Newsweek apenas uma página se destaca por mencionar o 11 de setembro: um artigo sobre o islamofacismo. A publicação norte-americana foca na questão da dificuldade de falar sobre a guerra sem mencionar a religião muçulmana e nas buscas dos assistentes de Bush por palavras que não favoreçam o preconceito e a xenofobia. O artigo da Carta Capital é filosófico, ensejando sobre previsões de fim do mundo e a tomada do poder americano pelos neoconservadores: O discurso de Washington imediatamente descreveu o atentado terrorista como um ‘ataque à própria Liberdade’ e manifestação de ódio às ‘nossas liberdades’, tema que continuou a obcecar as manifestações oficiais. A operação que devastou o Afeganistão, após a má reação dos aliados à inacreditável arrogância da expressão ‘Justiça Infinita’, foi rebatizada ‘Liberdade Duradoura’ e a invasão de Bagdá, chamada ‘Liberdade do Iraque’. (CARTA CAPITAL, 2001, n. 410, p. 35)

A coluna de Wálter Fanganiello Maierovitch, na Carta Capital, fala sobre as réplicas de Osama bin Laden. O jornalista argumenta que, com o crescimento de terroristas querendo imitar o mártir, os agentes americanos tiveram de aprender o árabe para poder interceptar possíveis ações violentas nos EUA. A matéria da Newsweek sobre as dificuldades da administração Bush também evocam as eleições que estavam por ocorrer. Melhorar a imagem do país era uma questão interna para o presidente. Com os EUA bem colocados na política mundial, a aprovação dos eleitores sobre o governo garantiria maioria republicana no senado e na câmara. Apesar das estratégias de Bush, descritas pelo semanário, as eleições de 2006 foram vencidas pelos democratas.


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4.3 A GUERRA QUE A MÍDIA ALIMENTA Uma pesquisa35 realizada pela World Public Opinion em 2008 concluiu que ainda existiam divergências sobre os verdadeiros autores dos atentados de 2001, no mundo. Apenas 9 dos 17 países investigados acreditavam que os ataques eram fruto da organização terrorista Al-Qaeda. Algumas nações apontaram os governos americano e israelense como culpados pela tragédia. Os números (conforme Figura 8) indicaram que 46% eram favoráveis a ideia de que a Al-Qaeda era responsável, 7% afirmaram ser o governo dos EUA, 7% acusaram Israel e outros 25% disseram não ter certeza quanto à autoria dos ataques. O estudo não oferecia padrão de respostas, usando como técnica entrevistas padronizadas. Figura 8 – Pesquisa sobre autoria dos ataques de 2001 nos EUA

Fonte: WORLD PUBLIC OPINION.

35

Disponível em: <http://www.worldpublicopinion.org/pipa/articles/international_security_bt/535.php?nid=&id=&pnt=535 &lb=btis&gclid=CIXRie21oqkCFQ4g2godakdmtw>. Acesso em: 7 jun. 2011.


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Somente no Egito, 43% dos entrevistados alegaram ser Israel o mandante do crime, assim como 31% dos jordanianos e 19% dos palestinos. Os únicos países que tiveram a grande maioria citando a Al-Qaeda como mandante foram o Quênia (77%) e a Nigéria (71%). Todos esses dados sustentam que o público parece não ter se conformado com as opções divulgadas pela mídia. Nas revistas acima, pode-se ver que hora elas mencionam Osama bin Laden como o mandante dos ataques, hora elas revelam não saber oficialmente quem o fez. Mas a grande quantidade de matérias sobre a suposta autoria do terrorista saudita pode ter contribuído para a confusão do público. As ações de Bush ao culpar Osama bin Laden e posteriormente Saddam Hussein não favoreceram a mídia no momento de explicar o desenrolar da história para as audiências. Fareed Zakaria, repórter da Newsweek, escreveu no aniversário do atentado de 2010, no site da revista, um artigo opinativo36 afirmando que a mídia e os EUA tiveram uma reação exagerada sobre o caso. Ele articula que: Em todos os conflitos recentes, os Estados Unidos estavam corretos sobre as más intenções dos seus adversários, mas exagerando maciçamente suas forças. Na década de 1980, nós pensamos que a União Soviética estava expandindo seu poder e influência, quando estava à beira da falência econômica e política. Na década de 1990, nós estávamos certos de que Saddam Hussein tinha um arsenal nuclear. Na verdade, suas fábricas mal podiam produzir sabão. (ZAKARIA, 2010, s. p.)

No texto, o jornalista traz alguns dados que comprovam a imensa importância dada aos conflitos de e pós 11 de setembro. Entre eles, destacam-se: a criação e reconfiguração de 263 organizações de combate ao terror; o aumento de 250% nos investimentos em serviços de inteligência dos EUA; 33 novos prédios e complexos para burocracias das agências de segurança; e a criação do Departamento de Segurança Nacional (Department of Homeland Security), um custo de $3,4 bilhões. O cineasta e jornalista Michael Moore, no documentário Fahrenheit 9/11, especula sobre tantos outros gastos investidos pelo governo americano na suposta luta contra o terrorismo. Além disso, fala sobre o patriotismo exagerado e a hipervigilância dos americanos com relação aos estrangeiros.

36

Disponível em: <http://www.newsweek.com/2010/09/04/zakaria-why-america-overreacted-to-911.html>. Acesso em: 7 jun. 2011.


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Huff e Rea (2009) em artigo científico 37 sobre a mitologia por trás dos atentados acreditam que a mídia é uma das maiores culpadas por produzir uma vertente de material demostrando um mundo pós 11 de setembro. Para os autores, a criação e divulgação excessiva da expressão “o mundo mudou” fez com que o mito se tornasse uma realidade. Eles consideram também que a propagação apenas da versão oficial foi uma forma de censura do governo. Outro ponto que eles destacaram como prejudicial foi que o público tende a esquecer rapidamente aquilo que tem menor valor noticioso, guardando somente as grandes reportagens que contém informações fáceis de serem assimiladas.

37

Disponível em: <http://www.911truth.org/article.php?story=20090309170952776>. Acesso em: 7 jun. 2011.


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5 CONCLUSÃO Diante da análise baseada nos preceitos jornalísticos, é possível perceber que nenhuma das revistas foi imparcial frente aos assuntos ligados a 11 de setembro. No caso americano, o patriotismo e o sentimento de vingança são expostos nas entrelinhas de várias reportagens e artigos. No caso brasileiro, principalmente por se tratar de uma revista de esquerda, observam-se duras críticas às ações tomadas pelo governo de George W. Bush. A Carta Capital se considera imparcial e isenta. Porém, ao pesquisar sobre a opinião de seus leitores, os mesmos a definiram como uma revista que deixa clara a sua posição frente aos fatos. A Newsweek se declara não partidária, no entanto quase coloca Bush em um pedestal na edição de 2001, além de mostrar-se favorável a uma possível retaliação. Para muitos autores, o 11 de setembro realmente mudou o mundo. Mas não o fez sozinho. Não foi pela força do atentado e sim pela sua divulgação. Pela primeira vez na história, foi possível acompanhar ao vivo e a cores um evento desse calibre em andamento. Sem falar na guerra que se sucedeu. A aparência de que os EUA eram frágeis, de que a sua segurança não era perfeita, gerou hipervigilância tanto de americanos como do mundo todo. A sensação de que não se está protegido no suposto lugar mais seguro causou imenso desconforto nas políticas globais. A cobertura deixou a desejar. Para começar, o número de mortos: levou quase um mês para que se soubesse que não eram 10 ou 50 mil, e sim cerca de 3 mil. As discussões sobre a autoria, na época, foram curtas. Se falou em Osama bin Laden e a foto do terrorista foi parar nas capas dos jornais e revistas. Depois se falou em Saddam Hussein. Em diversas ocasiões se confundiu a religião muçulmana e a origem geopolítica árabe. O terrorismo passou a ser pauta constante nas seções internacionais essa palavra, em si, tornou-se um sinônimo de islamismo. Embora se alegasse que o terror não tinha rosto, muitas vezes atribuíram a ele traços de etnia e religião peculiares. A imagem dos EUA sofreu alterações, como visto nas pesquisas. O partido republicano ficou marcado com a manifestação dos neoconservadores. Em um primeiro momento, durante o luto, os americanos queriam vingança. Todavia,


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quando a poeira baixou, o público se deu conta de que a reação foi muito maior do que a ação dos atentados. Os democratas tomaram o poder novamente. A campanha de Barack Obama se aproveitou da decadência dos EUA diante da mídia para condenar a guerra ao terror. Publicidade que ganhou outro contorno após as eleições. Agora, Obama usa palavras similares às de Bush para tentar um segundo mandato. Conforme o tempo passa, muitas pessoas exigem uma explicação. A cobertura da mídia focou muito nos personagens, na tragédia em si. Não houve uma densa investigação própria do jornalismo. Não houve interesse, principalmente da imprensa americana, de sair da versão oficial. No Brasil, aos poucos se começou a questionar o evento e seus desdobramentos. As revistas possuem muitos artigos especulativos. Na Carta Capital se cogita até que americanos estavam envolvidos no ataque. Mais um exemplo de como a imagem dos EUA não estava em alta em 2001. O governo Bush enfrentava problemas de administração. O presidente é chamado de inexperiente em diversos veículos, inclusive nos estudados. A Newsweek, apesar disso, tenta melhorar o moral de Bush, ainda no mesmo ano. Há um sentimento de companheirismo muito forte nessa edição. No aniversário de cinco anos, a revista não é mais tão positivista e faz críticas ao presidente. O assunto, então, não ganha mais tanta ênfase. Os árabes não são mais tão hostilizados. Já se fala em islamofacismo, um produto decorrente da xenofobia emanada pós 11 de setembro. O interesse brasileiro também diminui com o tempo. Em 2006, matérias relembram o fato repetindo o que já foi dito. Novas colunas de críticas às ações americanas, novas previsões apocalípticas. Na Newsweek, o fenômeno oposto, o reconhecimento de que algumas reações foram mesmo exageradas, de que não há mais bons motivos para lutar. Em 2008, a crise econômica americana é associada aos números da guerra. Pessoas tomam as ruas em protesto. Com o início do governo Obama, muitos soldados voltam para casa. Entretanto, alguns ficam em nome do petróleo e da democracia. A captura de Osama bin Laden produziu um novo número nas pesquisas. Primeiro a imagem do atual presidente subiu. Depois, a falta de explicações sobre a execução do terrorista fez com que os EUA fossem rechaçados mundialmente. Muito se falou em direitos humanos.


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O sentimento de antiamericanismo difundido no mundo árabe começa a se dissipar, mas ainda é forte. A falta de cobertura, em 2001, das hostilizações aos árabes e dos efeitos da lei Patriótica, fez parecer que as implicações dos atentados só atingiram Nova York. Levou quase 10 anos para que se percebesse o tamanho da mudança gerada, passada a data fatídica. É tempo de o jornalismo olhar para trás e aprender com os erros cometidos. A imparcialidade total não existe. Mas pode-se ser mais sensato com assuntos delicados como esse. Se a cobertura desse evento tivesse tomado outro rumo, talvez

não

estaríamos

ainda

vivendo

uma

guerra

desnecessária.

Muito

provavelmente os árabes não teriam sido tão discriminados. A discussão sobre o estado de Israel não entraria na pauta. Quiçá a democracia teria alcançado o Oriente Médio com pernas próprias, sem botas americanas. O mal estar gerado por essa invasão, perpetrada pelos EUA, poderia ter sido evitado. Se houve uma reação de má fé, a mídia fez parte dessa escolha. Estimulou isso. A imprensa repudiou o fato, usou palavras próprias do vocábulo militar antes mesmo da guerra ser imposta.


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61

ANEXO A – Newsweek edição especial de setembro de 2001


62

ANEXO B – Newsweek edição de 9 de setembro de 2002


63

ANEXO C – Newsweek edição de 11 de setembro de 2006


64

ANEXO D – Carta Capital edição especial de setembro de 2001


65

ANEXO E – Carta Capital edição de 11 de setembro de 2002


66

ANEXO F – Carta Capital edição de 13 de setembro de 2006


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