Revista PRÉMIO | Edição Março 2023

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FRANCK MULLER CURVEX CX

TEMPO DE RENOVAÇÃO.

ESG, o desafio para o futuro

As práticas de ESG (Environmental, Social and Corporate Governance) têm vindo a ganhar uma importância crescente no mundo empresarial. Estas boas práticas são cada vez mais importantes num mundo em que assistimos a uma crescente degradação do ambiente em que vivemos, mas também nas relações entre as pessoas, onde é notória a perda de valores que sempre demos por adquiridos.

Assim, não é aceitável que as empresas apenas se concentrem em medir os seus indicadores de desempenho financeiro e no retorno aos seus accionistas. É cada vez mais urgente cuidar do planeta que vamos deixar para os nossos filhos e netos. Em termos ambientais é demasiado evidente o que se está a passar à nossa volta, que passa desde o degelo dos polos, aumento dos níveis de água, poluição dos mares e utilização massiva de bens que aceleram a degradação do nosso meio ambiente, entre inúmeras situações. O forte crescimento económico das últimas décadas também trouxe uma degradação ambiental exponencial. Assim, torna-se cada vez mais necessário cada um de nós e cada uma das nossas empresas ter um

papel neste processo e contribuir para a melhoria da situação do nosso ambiente. De facto não é possível voltar as costas e fingir que nada se passa! Por outro lado, no que diz respeito à componente social e ‘governance’, é necessário recuperar os valores que há muito se vêm perdendo, adaptando-os a novas necessidades que surgem com o evoluir dos tempos. Longe vão os dias em que grandes empresas portuguesas como a CUF, CP e até mesmo os jornais, tinham uma forte política de responsabilidade social com os seus colaboradores. São disso expoentes o Barreiro (CUF), mas também inúmeras iniciativas promovidas pelas mais variadas empresas. Lembro-me sempre da colónia balnear “O Século”, promovida pelo jornal do mesmo nome para os filhos dos colaboradores. No que diz respeito ao ‘corporate governance’, por exemplo no caso da banca, são conhecidos casos de paquetes que chegaram a administradores. Situação que hoje em dia seria muito improvável. Assim, se por um lado temos valores que devemos introduzir, principalmente no que diz respeito à defesa da natureza, por outro lado, temos valores que se perderam e importam recuperar do passado, adaptando-os aos dias de hoje.

Dessa forma, a CV&A pretende também cumprir com o seu papel, enquanto

agente no meio económico. Por essa razão, aderimos recentemente ao United Nations Global Compact Network Portugal, ao Business Council for Sustainable Development e ao Compromisso Lisboa Acção Climática 2030 e ao Pacto do Porto para o Clima, cidades onde temos escritórios. Esta preocupação global, com soluções e compromissos que resolvemos trilhar, tem muitas implicações na vida das empresas, cada vez mais. Em muitas situações temos limitações a nível de fornecedores, mas também de financiamento das empresas. Já são muitas as empresas que recorrem a financiamento verde, os ‘green bonds’, que são dívida emitida para beneficiar projectos com fins ambientais.

Neste caso, o cumprimentos dos compromissos assumidos com a emissão da dívida permite melhores condições de financiamento para as empresas.

Na CV&A, ao longo deste processo que implicou olhar para dentro e melhorar todos os nossos processos, surgiu a possibilidade de ajudarmos os nossos clientes, assessorando a sua mudança para este novo paradigma. Para esse efeito criámos uma área de ESG, tendo como responsável nesta área como Chief Sustainability Officer a nossa colega Sofia Duff Burnay.

Nesta edição da Revista PRÉMIO decidimos espelhar esta preocupação urgente para todos nós. Por isso falámos com vários dos nossos clientes e especialistas para conhecer o que de melhor é feito em Portugal nesta área. Temos um dossiê completo com algumas empresas como a Corticeira Amorim, Delta Cafés, Fidelidade, Luságua, REN, STCP e Valorpneu, mas também opinião de várias individualidades especialistas nesta área, tais como Assunção Cristas (VdA), Fernanda Ferreira (Directora-Geral das Actividades Económicas), Isabel Ucha (CEO da Euronext Lisbon), Beatriz Imperatori (Directora Executiva da Unicef Portugal), entre outros. Convido-os a ler a PRÉMIO e a imergir neste tema tão importante para o nosso futuro.

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FRANCISCO DE MENDIA, VICE-PRESIDENTE DA CV&A
EDITORIAL

DIRECTOR

António Cunha Vaz

DIRECTOR ADJUNTO

Diogo Belford

D IRECTORA EXECUTIVA

Sofia Arnaud

D IRECTOR DE ARTE

Miguel Mascarenhas

REDACÇÃO

Ana Valado, Bruno Rosa, Belén

Rodrigo, Domingos Amaro, Larissa Göldner e Ricardo David Lopes

COLABORAM NESTA

EDIÇÃO

André Themudo, Assunção Cristas, Beatriz Imperatori, Carlos Eduardo

Martins, Carmo Diniz, Christopher

Sainty, Fernando Ferreira Dias, Filipe

Araújo, Filipe Seed Fonseca, Helder

Pedro, Isabel Ucha, João Miguel

Braz Frade, Luísa Soares da Silva, Manuel de Lemos, Padre Tony Neves e Susana Viseu

P UBLICIDADE

Telf.: 210 120 600

I MPRESSÃO

Soartes Artes Gráficas, Lda.

Rua A. Cavaco - Carregado Park, Fracção J

Lugar da Torre, 2580-512 Carregado

PROPRIETÁRIO E EDITOR

Cunha Vaz & Associados – Consultores em Comunicação, SA

NIF 506 567 559

D ETENTORES DE 5%

OU MAIS DO CAPITAL DA EMPRESA

António Cunha Vaz

SEDE DO EDITOR

E DE REDACÇÃO

Av. da Liberdade, 144, 6º Dto

1250-146 Lisboa

C RC LISBOA

13538-01

R EGISTO ERC

124 353

D EPÓSITO LEGAL

320943/10

P ERIODICIDADE

Trimestral

T IRAGEM

3500 Exemplares

ESTATUTO EDITORIAL

3 EDITORIAL ESG

6 ENTREVISTA | Sofia Duff Burnay, Chief Sustainability Officer da CV&A

“É preciso saltar do muro, assumir compromissos e ‘gritá-los’”

10 João Miguel Braz Frade, Partner na Twinpikes

“Para um futuro sustentável”

12 Assunção Cristas, responsável pela área de prática de Ambiente e da Plataforma de Serviços Integrados ESG da VdA

“ESG: um quadro em crescimento”

DOSSIÊ

14 Corticeira Amorim

16 Delta Cafés

18 FIdelidade

www.revistapremio.pt/estatuto

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30 Filipe Araújo, Vice-Presidente da Câmara Municipal do Porto

“Pacto do Porto para o Clima: Rumo à neutralidade carbónica até 2030”

DIPLOMACIA

32 Christopher Sainty, Embaixador do Reino Unido em Portugal

“O futuro será sustentável (e neutro em carbono), mas temos de agir agora”

ECONOMIA

34 Floene

175 anos a transformar energia em Portugal

36 Fernanda Ferreira Dias, Directora-Geral das Actividades Económicas

“Economia Circular, responsabilidade social das empresas e apoios”

38 Carlos Eduardo Martins, Sustainable Finance Expert

“Sustainability reporting: the point of no return”

40 Luísa Soares da Silva, Chief Legal Compliance Officer do Novo Banco

“A sustentabilodade representa não só grandes desafios como também importantes oportunidades”

42 André Themudo, Responsável de Negócios em Portugal da BlackRock

“Os motores da transição para investimentos sustentáveis”

44 Isabel Ucha, CEO da Euronext Lisbon

“Os mercados de capitais podem contribuir para colocar os temas de sustentabilidade na agenda dos investidores”

46 ENTREVISTA | Jorge Costa, Vice-Presidente do Conselho de

Administração da Visabeira Turismo

“Tornar o turismo sustentável é essencial para a viabilidade desta indústria”

52 Helder Pedro, Secretário-Geral da ACAP “A mobilidade urbana”

54 Roupas Sustentáveis que estão na moda SOCIEDADE

58 World Economic Forum

“4 ways to improve economic opportunities for women around the world”

60 ENTREVISTA | Duarte Fonseca, Director Executive da Reshape

“Seria muito fácil resolver-se o problema da reinserção em Portugal”

66 SEMEAR

Semear oportunidades para quem mais precisa

70 Carmo Diniz, Directora do Gabinete de Diálogo e Proximidade do COL | Padre Tony Neves, Assistente do Gabinete de Diálogo e Proximidade do Comité do COL

“A sustentabilidade da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023”

72 Beatriz Imperatori, Directora Executiva da Unicef Portugal

“Pobreza: Progressos para as crianças”

74 Manuel de Lemos, Presidente da União das Misericórdias Portuguesas

“Sustentabilidade no sector social solidário”

76 Susana Viseu, Presidente da Direcção da Business As Nature

“Os 4 Is da Ação Climática no Feminino” INTERNACIONAL

EUROPA

Espanha

78 Belén Rodrigo, PRÉMIO

“Un cambio cultural hacia la sostenibilidad”

ÁFRICA

Angola

80 Sol já gera electricidade para mais de um milhão de angolanos

86 Angola (cada vez) mais sustentável

89 ENTREVISTA | Miguel Artacho, Director de Conferências Internacionais Energy Capital&Power (EC&P)

“Angola tem planos muito ambiciosos para fazer das energias renováveis um sector cada vez mais competitivo”

Moçambique

94 Girl Move

Um movimento para conquistar o Mundo AMÉRICAS

Brasil

96 ENTREVISTA | Marta Suplicy, Secretária de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo

“Os ares são outros! Podemos olhar para a frente!”

100 Bruno Rosa, PRÉMIO

“O avanço da sustentabilidade nas empresas e no (novo) Governo

20 Luságua
22 REN
24 SCC 26 STCP
Valorpneu POLÍTICA
R EV I ST A C O R P O R AT IV A D A CV & A
SUMÁRIO

Ocontexto social e económico que estamos a viver, com o período pós pandemia e a guerra na Ucrânia, fez despertar em nós a consciência de quanto somos vulneráveis. Não só em relação ao ambiente, mas também no que diz respeito a questões sociais e económicas, se nada fizermos poderemos colocar em risco a própria humanidade. Estamos mais bem preparados para um recomeço mais sustentável passando o modelo de economia circular de ser não só uma necessidade, mas uma obrigação.

A definição da Agenda 2030, já em 2015, constituída por 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) é agora mais importante que nunca. É uma agenda alargada e ambiciosa que aborda várias dimensões do desenvolvimento sustentável (social, económico, ambiental) e que promove a paz, a justiça e instituições eficazes.

Os ODS constituem uma oportunidade única e necessária para apoiar um crescimento sustentável, regenerativo e inclusivo, sem o qual será impossível fazer face à emergência climática, à degradação da biosfera e às desigualdades sociais.

O desafio dos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável e do Acordo de Paris, cujo cumprimento das regras foram debatidas recentemente na 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27), no Egipto, constituem um enorme desafio para o qual todas as organizações têm de se empenhar.

Dada a importância deste tema nos nossos dias, esta edição da PRÉMIO é dedicada à Sustentabilidade e aos seus vários ramos (ambiental, económico e social). Ao longo das nossas páginas destacamos uma lista de ‘To Do’ que a humanidade tem de cumprir em nome dos povos e do planeta.

A nível da Sustentabilidade no mundo empresarial, falamos da importância das políticas de ESG (Environmental, Social e Governance) e da necessidade do desenvolvimento de empresas mais inclusivas e sustentáveis, promotoras da diversidade e focadas no respeito pelos direitos humanos e preservação ambiental.

Classificamos cada artigo da nossa revista com um ou mais dos 17 ODS definidos pelas Nações Unidas, através das cores e ícones de cada um, dependendo do tema a que diz respeito e dos objectivos que pretende impactar.

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ENTREVISTA SOFIA DUFF BURNAY, CHIEF SUSTAINABILITY OFFICER DA CV&A
ESG FOTOS DR
“É preciso saltar do muro, assumir compromissos e ‘gritá-los”

Dada a

do ESG (Environmental, Social and Corporate

Sustainability

da

e da recente adesão da consultora ao United Nations Global Compact Network Portugal e ao Business Council for Sustainable Development (BCSD-Portugal).

ANA VALADO

As práticas de ESG estão na agenda de praticamente todas as organizações, influenciando a tomada de decisões e comprometendo-as com questões ambientais, sociais e de governança. Na sua opinião qual a importância do ESG e como poderá contribuir para a longevidade das organizações e da sociedade?

As prioridades das empresas mudaram. Combater a crise climática tornou-se uma urgência e a forma como se relacionam com a comunidade e os mais variados ‘stakeholders’, sejam eles, colaboradores, clientes ou fornecedores, diz muito sobre essas mesmas empresas, sendo crucial para

a sua reputação, captação de talento e de investimento. Se antes, as empresas se concentravam em medir indicadores de desempenho financeiro, hoje devem estar focadas em adoptar medidas que evidenciem o seu impacto no ambiente, nas comunidades, e em tópicos como a diversidade, igualdade e bem-estar dos colaboradores, pois são esses factores que pesam agora nas decisões dos investidores e consumidores. Uma estratégia sólida de ESG passou a ser a senha de acesso das empresas ao universo dos financiamentos. Apesar de o ESG não ser propriamente uma novidade, a verdade é que houve um despertar colectivo para este tema nos últimos 4/5 anos, que o tornam crítico para o sucesso das empresas no médio/longo prazo. Num mundo ideal as empresas devem conseguir fazer o ‘shift’ de

‘profit driven’, para ‘purpose driven’, e ainda assim terem ganhos.

Qual a importância dos pilares de ESG para a CV&A e como estão a ser aplicados?

A CV&A tem apoiado muitos dos seus clientes na adaptação a este contexto de mudança, aconselhando-os e orientando-os no seu próprio processo de transformação organizacional. Neste compromisso para com os nossos clientes, temos trabalhado para compreender as mudanças, analisar as expectativas dos ‘stakeholders’, antecipar desafios, criar oportunidades, e isso tem-nos permitido adquirir conhecimentos técnicos e práticos na área, que nos valorizam enquanto consultores. Mas, como os bons

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importância
Governance) nas organizações e atenta às mudanças no perfil dos consumidores e clientes, a CV&A está a adoptar boas práticas como parte do dia-a-dia. Sofia Duff Burnay, Chief
Officer
CV&A, fala-nos da importância da sustentabilidade no mundo corporativo
ESG

exemplos devem começar em casa, sentimos a necessidade de ‘walk the talk’, e também nós iniciarmos a nossa jornada ESG, trabalhando para promover um mundo melhor para os nossos colaboradores, clientes, parceiros e comunidade.

Como tem sido a jornada ESG da CV&A?

Antes demais é importante referir que esta é uma jornada contínua, sem um fim específico. Em vez de tentarmos fazer ‘all-in’ em todos os items relacionados com ESG, começámos por olhar para dentro, analisar o que já fazíamos, estruturar as nossas práticas e começar a nossa jornada a partir daí. Foi curioso que ao fazer este exercício, apercebemo-nos que já tínhamos começado a escrever a nossa história de ESG. Por exemplo, já encorajávamos os nossos colaboradores a utilizarem os transportes públicos, oferecendo-lhes o passe social; através da nossa política de teletrabalho tínhamos vindo a reduzir o desperdício e consumo de energia no nosso escritório; já promovíamos a separação de resíduos e a sua

NA ERA DA SUSTENTABILIDADE, MAS

TAMBÉM DA VELOCIDADE DA INFORMAÇÃO, É EXTREMAMENTE IMPORTANTE QUE

AS EMPRESAS COMUNIQUEM AS SUAS ESTRATÉGIAS E PRÁTICAS DE ESG, PARA SEREM VALORIZADAS E MAIS

COMPETITIVAS.

reciclagem. Temos também um histórico considerável de medidas de apoio à comunidade, desenvolvemos vários projectos ‘pro-bono’, apostamos na formação dos nossos colaboradores, entre outras práticas. Criámos, então, uma nova estrutura interna, para organizar de forma coerente tudo isto, assegurando que a nossa visão, propósito, valores e estratégia de negócio estão alinhados com a Agenda 2030 das Nações Unidas e com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável. O que antes eram percepcionadas como iniciativas de boa vontade, passaram agora a ser de responsabilidade, de

compromisso sério. De forma a “certificar” o nosso empenho nas pessoas, na comunidade e no planeta, assumimos um conjunto de compromissos nacionais e internacionais, normas e regulamentações que marcam este novo paradigma.

Quer referir-nos alguns desses compromissos?

Somos parte integrante do United Nations Global Compact Network Portugal e do Business Council for Sustainable Development. (BCSDPortugal). Com sede em Lisboa,

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ESG

somos também uma empresa subscritora do “Compromisso Lisboa Acção Climática 2030”, e as nossas preocupações estendem-se aos nossos escritórios no Porto, onde somos igualmente signatários do “Pacto do Porto para o Clima”, assumindo o compromisso de reportar publicamente os nossos avanços ESG em altura própria. Orgulhamo-nos também de integrar a ‘task-force’ de ESG da H/Advisors, a maior rede internacional de agências de comunicação, à qual pertencemos.

Dão mais importância ao E, S ou G?

Do ponto de vista ambiental, tendo em conta a nossa área de actividade, não somos um grande emissor de

emissões de gases com efeito de estufa (GHG) em comparação com outras indústrias. No entanto, não nos distanciamos da crescente necessidade de uma acção colectiva e, no que está ao nosso alcance, temos vindo a implementar medidas que possibilitem minimizar os impactos ambientais em toda a nossa empresa e cadeia de valor, e a promover a sensibilização, inspirando comportamentos responsáveis em resposta à crise climática. Os tópicos inseridos nos pilares Social e Governace, são sem dúvida aqueles que têm maior peso na nossa estratégia de ESG, com a forma como gerimos o relacionamento com os nossos colaboradores a ser determinante

para o nosso sucesso. Na CV&A estamos comprometidos na promoção efectiva de valores como a diversidade, equidade e inclusão, pois acreditamos que só assim seremos capazes de reflectir o mundo em que vivemos. Apostamos também na realização do potencial dos nossos colaboradores e em condições de trabalho de excelência. Temos um forte compromisso com a comunidade, partilhando valor através de iniciativas de cidadania corporativa e regemo-nos por elevados padrões éticos, de integridade e de transparência.

Comunicar ou não ESG?

Na era da sustentabilidade, mas também da velocidade da informação, é extremamente importante que as empresas comuniquem as suas estratégias e práticas de ESG, para serem valorizadas e mais competitivas. Já não chega “ficar no muro”, é preciso saltar, isto é, assumir compromissos, e gritá-los enquanto se salta. Mas fazê-lo exige atrevimento, transparência, planeamento, responsabilidade, para evitar a associação ao ‘greenwashing’. E é aí que o papel da CV&A se assume como fundamental para os seus clientesidentificando pontos sensíveis, gerindo a reputação e transmitindo a mensagem a todos os ‘stakeholders’, sem ruídos. Na CV&A acreditamos que a comunicação deve ser a protagonista da transformação, assumindo uma posição estratégica, e é isso que nos propomos fazer no trabalho que desenvolvemos junto dos nossos clientes procurando, através da comunicação, incutir e influenciar a mudança com vista à criação de valor.

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ESG
CONJUNTO DE COMPROMISSOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS, NORMAS E REGULAMENTAÇÕES QUE
ESTE NOVO PARADIGMA.
“ DE FORMA A “CERTIFICAR” O NOSSO EMPENHO NAS
PESSOAS, NA COMUNIDADE E NO PLANETA, ASSUMIMOS UM
MARCAM

Para um futuro sustentável

ESG é o acrónimo de Environment, Social & Governance. O termo tornou-se comum no jargão dos gestores de empresas, fundos de investimento, banqueiros, académicos, ambientalistas, etc…, espalhou-se e na última década cresceu como “fogo em palha” na generalidade das sociedades mais desenvolvidas.

A pressão social no sentido da adoção de práticas ambientalmente sustentáveis, deu origem a uma pressão política crescente, e consequentemente a uma atividade regulatória cada vez mais exigente.

A exigência de que as empresas e os seus gestores adotassem práticas ambientalmente sustentáveis, somou-se a exigência de adoção de

práticas socialmente responsáveis que contribuíssem não só para o desenvolvimento humano e profissional dos trabalhadores e colaboradores, mas também das regiões e localidades onde desenvolvem as suas atividades e da sociedade em que se integram. Finalmente todas estas mudanças e o próprio desenvolvimento das sociedades, obrigam as organizações e empresas a uma maior exigência ética e a adoção de princípios e práticas de transparência e reporte, que permitam uma avaliação clara da ação das empresas quer na implementação das práticas de ESG quer da forma como conduzem em geral a sua atividade.

No início assistiu-se a uma profusão de Relatórios de Sustentabilidade com adesão limitada a realidade (na generalidade dos países), muitas vezes utilizados como mais um instrumento de comunicação, sem qualquer possibilidade de verificação do nível de adesão a realidade o que levou a práticas menos sérias, logo designadas de ‘greenwashing’, uma “espécie”

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ESG
JOÃO MIGUEL BRAZ FRADE, PARTNER NA TWINPIKES *Texto escrito ao abrigo
do novo acordo ortográfico

equivalente ao ‘window dressing’ nas contas.

Mas nos EUA e nalguns países onde a evolução e a implementação das práticas de ESG evoluíram mais rapidamente, a regulamentação tornou-se mais exigente e práticas como o ‘greenwashing’, que no início foram olhadas com alguma tolerância, são hoje objeto de controlo rigoroso suportado por legislação.

Todas as iniciativas dirigidas à redução dos riscos ambientais, sociais e de governo societário são objeto de escrutínio.

Práticas que anteriormente podiam ser consideradas como motivadas por desconhecimento, esquecimento, ou simplesmente pouco importantes, são agora legalmente reguladas e objeto de muito maior escrutínio.

O reporte enganador ou falso das práticas de ESG, iludindo os riscos ou difundindo informação falsa é agora considerado crime. Mas a penalização é também reputacional e afeta cada vez mais o que pensam da empresa os seus financiadores, os fornecedores, os clientes, os empregados e, naturalmente, os investidores.

Este controle só é possível mediante a adoção de instrumentos de reporte rigorosos e idênticos para todas as empresas (eventualmente de acordo com a sua dimensão, normalmente a exigência é maior nas cotadas) dos quais destaco o SASB (Sustainability Accounting Standards Board), GRI (Global Reporting Initiative) e ainda o PRI (Principles for Responsible Investment), todos eles exigem bastante informação e métricas claras.

Lentamente estes e outros instrumentos vão-se tornando universais.

Ainda assim, muitas empresas de grande dimensão recorreram intencionalmente ou por incúria

em más práticas. O caso mais célebre, e que mais tinta fez correr no mundo dos negócios e não só, foi o da Volkswagen, que em 2015 dotou os seus veículos dum aparelho que falseava a leitura das emissões, que na verdade eram muito superiores do que os valores permitidos. Outras reclamavam para si práticas que não tinham, como por exemplo a Ryan Air que se autointitulava “lowest emissions airline” ou a KLM que usava o ‘slogan’ “Be a hero, fly CO2 zero” e tiveram que arrepiar caminho. Também há muitos exemplos de boas práticas, citados na imprensa internacional e estudados nas universidades, como a UNILEVER e o seu “Sustainable Living Plan” ou a PATAGONIA com a “Common Threads Initiative” entre muitas outras iniciativas. Em Portugal destaco duas grandes empresas, a EDP e a Jerónimo Martins, cada uma com várias iniciativas relevantes em sede de sustentabilidade. Sem qualquer pretensão, aqui ficam alguns exemplos de medidas que contribuem para um futuro mais sustentável, enquadradas nas três dimensões que dão significado ao acrónimo ESG e que, com maior ou menor esforço, as empresas devem adotar. No que respeita a Sustentabilidade Ambiental, monitorizar e reduzir as emissões controlando os consumos de energia e os transportes, utilizar tecnologias mais eficientes e sempre que possível, energias renováveis, reduzir os desperdícios, reciclar, encorajar a utilização de transportes públicos, a partilha de transportes privados e o uso de bicicletas ou alternativas de baixo consumo quando apropriado. Reduzir o consumo de água. Selecionar fornecedores que tenham boas práticas de sustentabilidade.

Responsabilizar-se pelos impactos ambientais das suas atividades e colaborar com as autoridades na reposição dos ecossistemas alterados. No que respeita a Sustentabilidade Social, promover o bem-estar dos colaboradores mediante implementação de medidas de segurança e apoio a saúde, contribuir para um balanço trabalho/família adequado, respeitar os direitos legalmente consagrados. Promover a inclusão e praticas de apoio a igualdade e a diversidade. Promover iniciativas com as comunidades locais e com outros ‘stakeholders’ por forma a divulgar e alinhar as práticas sustentáveis.

No que respeita a Sustentabilidade da Governance, medidas com o reporte transparente, a análise e gestão rigorosa do risco (operacional, financeiro, ambiental, reputacional, etc..), assegurar a conformidade (‘compliance’) com as leis e regulamentos, incluindo os internos. Promover práticas éticas e medidas preventivas de comportamentos corruptos, fraudulentos ou simplesmente pouco éticos. Divulgar atempadamente e com clareza todos os documentos de prestação de contas e de avaliação das práticas de ESG. Manter um controlo independente sobre a Gestão.

Nas três dimensões descritas é necessário manter uma monitorização permanente da evolução em direção aos objetivos definidos para cada período. Termino citando a Professora Rebecca Henderson da HBS, uma autoridade mundial nos temas de Sustentabilidade e uma das pessoas que lidera a produção de conhecimento e a divulgação de experiências relevantes nos EUA: “The transition to a sustainable future will require fundamental changes in the way we think about business, the economy, and our role in society.”

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ESG

ESG: um quadro em crescimento

forma desligada. Emissões zero não combinam com trabalho infantil ou com corrupção.

ASSUNÇÃO CRISTAS, RESPONSÁVEL PELA ÁREA DE PRÁTICA DE AMBIENTE E DA PLATAFORMA DE SERVIÇOS INTEGRADOS ESG DA VDA

Quando em 1972, na Conferência de Estocolmo, se deram os primeiros passos para economia e ambiente andarem de mãos dadas, no quadro de uma agenda de sustentabilidade, talvez não se imaginasse o âmbito que, cinquenta anos depois, o tema iria ganhar, de forma especialmente visível no espaço europeu. De impositivo apenas para as grandes empresas o tema passará rapidamente a ser incontornável para a generalidade do tecido empresarial.

Cinco décadas depois vários marcos centrais, do Relatório Brundtland em 1987 à Conferência do Rio em 1992, de onde saíram as três convenções internacionais no domínio do ambiente – clima, biodiversidade, combate à desertificação -, do Protocolo de Montreal ao Protocolo de Quioto, da Agenda 2030 das Nações Unidas, com os seus 17 objetivos do desenvolvimento sustentável, ao Acordo de Paris de 2015, dos Princípios das Nações Unidas sobre Business e Human Rights aos Guiding Principles da OCDE para as empresas

multinacionais, o quadro regulatório ESG entrou definitivamente na agenda. Resistiu ao COVID-19 e está a subsistir à guerra na Ucrânia, com pequenos ajustes, mais de conjuntura do que de estrutura.

‘Soft law’ ou ‘hard law’ foram pavimentando o caminho para um momento em que o acrónimo ESG (ou, em português ASG), que designa a perspetiva regulatória da sustentabilidade, se impusesse. O desenvolvimento sustentável, para ser digno de usar esse qualificativo, tem de estar alinhado com as melhores práticas nos domínios ambiental, social e de governação. É verdade que o ambiente e o clima assumiram um destaque notável com o Acordo de Paris, mas a exigência subiu e não é possível olhar apenas para um dos lados do desenvolvimento, não é possível ser-se 100% alinhado com preocupações ambientais e zero com as sociais ou vice-versa. A exigência para empresas (e, a prazo, cidadãos) é crescente. E às várias críticas à ineficácia de se querer juntar todas as dimensões, quando a mais urgente e importante seria a climática/ambiental, as respostas não tardaram, sublinhado que não é mais aceitável olhar para os temas de

A Europa assumiu a liderança nesta matéria, e se nos EUA o tema é alvo de litigância, altamente politizada, no espaço europeu somam-se atos legislativos que vão construindo um puzzle complexo e cada vez mais interligado e coerente. Em 2109, no lançamento do Pacto Ecológico Europeu, Ursula von der Leyen foi clara ao afirmar que estávamos perante uma tendência irreversível, não uma moda passageira. Deste documento estruturante fluiu inúmera e variada legislação. Só para referir alguma: 2020 foi o ano da Taxonomia Europeia, uma ferramenta de classificação de atividades sustentáveis, verdadeira coluna vertebral de todo o sistema, 2021 viu nascer a lei europeia do clima e um pacote robusto relativo às finanças sustentáveis, 2022 foi o ano da Corporate Sustainability Reporting Diretive e da apresentação do projeto da Corporate Sustainability Due Diligence Diretive, a aprovar, expetavelmente, este ano. A abordagem europeia é inteligente: começa num registo suave, apenas com obrigações de relato de informação para as grandes empresas, para ir elevando o nível e a abrangência das obrigações, primeiro sem sanções visíveis, depois com penalizações crescentes. Do momento em que é apenas necessário referir se se tem em conta o risco climático na operação empresarial, ao passo em que é necessário explicar como a operação é compatível com o objetivo europeu de conter o aumento da temperatura global em 1,5 graus, distarão escassos anos. Em cinco anos o paradigma estará totalmente transformado e será muito difícil acomodar atividades que, no mínimo, não tenham um plano de alinhamento com as preocupações ambientais, sociais e de boa governação. É exigente, claro, tecnicamente complexo, sim, mas, neste caso, é por muito boas causas.

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ESG
*Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico

A sustentabilidade nas empresas e a aplicação dos conceitos de ESG, que integra as palavras Environmental (Ambiente), Social (Social) e Governance (Governança Corporativa), é cada vez mais uma tendência e, mais do que isso, uma obrigação para se “saber estar” no mundo dos negócios e não perder o comboio rumo ao futuro.

Nos dias de hoje, o objectivo das empresas passa, obviamente, pelo retorno financeiro dos seus negócios, mas cada vez mais pelo impacto da sua actividade no meio ambiente e na sociedade, pois está cada vez mais claro que não existe progresso económico sem inclusão social e respeito pela natureza. No dossiê que se segue ficam exemplos do que algumas empresas, em diferentes sectores de actividade, estão a fazer ao nível da sustentabilidade empresarial e como estão a cumprir os seus critérios de ESG.

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DOSSIÊ
A orientação que todas a empresas querem seguir
ADOBE STOCK

CORTICEIRA AMORIM

Aqui, nada se desperdiça, tudo é valorizado

toda a cortiça é reaproveitada no processo de produção. A empresa desenvolve a sua actividade com impacto positivo na regulação do clima e ambiciona atingir 100 por cento da taxa de valorização de todos os resíduos.

Avelha Lei de Lavoisier, que já no século XVIII postulava que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, podia ser um dos lemas da Corticeira Amorim, a empresa líder mundial no sector da cortiça, onde a economia circular é uma “velha” realidade.

CORTICEIRA SUSTENTÁVEL

100% aproveitamento de cortiça;

88% materiais sustentáveis;

82% materiais renováveis;

801 toneladas cortiça reciclada;

93% de taxa de valorização de resíduos (não cortiça).

A companhia, que em 2023 assinala 153 anos desde a fundação, tem na expressão “nada se perde, tudo é valorizado” um dos seus principais motes, ou não fosse 100% da cortiça aproveitada no processo de produção, incluindo até os mais pequenos grânulos da matéria-prima, que são usados como fonte de energia. Desde 1963 que a Corticeira Amorim tem vindo a implementar um processo de produção integrado, que permite, promove e alavanca a reutilização de todos os subprodutos associados ao processamento de cortiça.

As práticas de economia circular, que então nasceram na empresa, são hoje uma das bandeiras da Corticeira

Amorim, que tem mais de 29 mil clientes, exporta para mais de 100 países e tem unidades de negócio nos cinco continentes, empregando mais de 4.600 pessoas.

A Corticeira Amorim assenta a sua actuação em 10 grandes objetivos ESG (Environmental, Social e Governance), nomeadamente o da Economia Circular, e desenvolve uma actividade com impacto positivo na regulação do clima, disponibilizando um conjunto de produtos, aplicações e soluções para algumas das actividades mais tecnológicas, disruptivas e exigentes, de que são exemplos as indústrias aeroespacial (a empresa de Mozelos forneceu a NASA, a ESA e a Space X, por exemplo), automóvel, construção, desporto, energia, design de interiores, e vinhos, espumantes e espirituosas.

A adopção da circularidade na Corticeira Amorim traduz-se não apenas na aplicação de um processo de produção integrado que aproveita todos os subprodutos de cortiça, mas ainda na redução da geração de

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O conceito de circularidade já era uma realidade na Corticeira Amorim, ainda antes da expressão entrar no léxico das empresas sustentáveis.
Na companhia, líder mundial na transformação de cortiça, que se aplica em rolhas, pavimentos e revestimentos, entre outros produtos, aplicações e soluções,
DOSSIÊ

resíduos de todo o tipo, promovendo a sua valorização, no prolongar da vida útil dos materiais através de simbioses industriais e na reciclagem de produtos de cortiça no fim do ciclo de vida.

As rolhas não incorporam materiais da economia circular, mas toda a cortiça que não tem caracteristicas para a produção de rolhas é 100 por cento utilizada para outras aplicações (destinadas às mais diversas actividades industriais), além de que a empresa tem vindo a criar e actualizar novas gamas de produtos, por via da incorporação de excedentes de outras indústrias – calçado, automóvel ou embalagem, que assim não são depositadas em aterros.

A Corticeira Amorim promove programas de reciclagem de rolhas nos cinco continentes onde opera, e o material, após ser transformado em granulados, regressa ao processo produtivo e, mesmo não sendo utilizado na produção de rolhas, é incorporado em produtos das unidades de negócio Aglomerados

Compósitos e Revestimentos.

A título de exemplo, em 2021, foram recicladas 801 toneladas de cortiça (mais 9% face a 2020). A cortiça reciclada nesse ano equivale a 178 milhões de rolhas, um material que ganhou um novo propósito, prolongando o ciclo de vida de um recurso natural, aumentando o campo de possíveis aplicações e estendendo a retenção de carbono inerente à cortiça. Desde 2019, a incorporação de produtos reciclados na produção teve um aumento de 30%.

A companhia – que pode orgulhar-se de já ter lançado, com sucesso, títulos de dívida “verde” na ordem das dezenas de milhões de euros, tem recebido várias distinções internacionais pelo seu foco na sustentabilidade. No ano passado, pela quarta vez consecutiva, a Corticeira Amorim foi galardoada nos Prémios de Sustentabilidade da revista World Finance, na categoria Wine products industry, graças ao “contributo relevante para a descarbonização da indústria vinícola” do balanço negativo de CO2 das rolhas

de cortiça.

O júri valorizou e reconheceu a empresa portuguesa pela promoção do montado, da biodiversidade e dos serviços dos ecossistemas, pelo fomento, suporte e investimento em Investigação & Desenvolvimento + Inovação, e pela implementação dos melhores princípios, modelos e práticas da economia circular. O júri sublinhou ainda o compromisso da empresa com a sustentabilidade alinhado com as directrizes da Global Reporting Initiative, a associação à acção 50 Sustainability & Climate Leaders, e a certificação FSC (Forest Stewardship Council) de grande parte das suas unidades de transformação. A eficiência energética, a gestão responsável de fornecimentos e o impacto ambiental positivo do produto foram outras mais valias determinantes para a distinção, a par da promoção da formação, segurança e bem-estar, bem como o desenvolvimento social, pessoal e profissional, de todos os colaboradores.

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DOSSIÊ

DELTA CAFÉS

Um planeta sustentável chamado Delta Cafés

A sustentabilidade faz parte do ADN da Delta Cafés já lá vão 60 anos.

Ocompromisso com a sustentabilidade abrange, aliás, todas as áreas da empresa e estende-se pela cadeia de valor da actividade da companhia, desde a frota eléctrica a painéis solares, passando por acções de economia circular ou de poupança de recursos hídricos, entre outros.

A parceria com a ‘start up’ Nãm, que em meados do ano passado cresceu para Cascais, é talvez a face mais visível de acções de economia circular. Nascido em 2018, em Marvila, Lisboa, é um projecto apoiado pela Delta, de uma quinta urbana que recorre desde 2020 a borras de café para o processo de cultivo orgânico de cogumelos de ostra frescos. É feita uma recolha controlada da borra de café nos clientes Delta em Lisboa, sendo os cogumelos posteriormente vendidos a esses mesmos clientes, completando um círculo perfeito.

A NÃM - Urban Mushroom Farm, em Marvila, e a unidade de produção de Famões, em Odivelas, têm uma capacidade de produção de 30 toneladas de cogumelos anuais, o equivalente a 100 toneladas de borra de café reutilizada. Em termos ambientais, estes números traduzem-se ao equivalente a 480 árvores plantadas e menos 1200 carros em circulação, que permite uma redução anual de consumo de 48 toneladas de CO2.

Em Junho de 2022, a Nãm Urban Farm abriu uma nova quinta urbana em Cascais, respondendo à crescente procura de cogumelos Nãm e criando uma ligação com a comunidade de agricultores urbanos de economia circular da autarquia, sendo, ao mesmo tempo, um espaço de aprendizagens educativas, fomentando a visita de escolas, partilhando a paixão pela sustentabilidade, pela agricultura urbana, e inspirando jovens

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DOSSIÊ
A empresa com sede em Campo Maior tem apostado em acções de sustentabilidade, consciente e empenhada em contribuir de forma activa para um equilíbrio entre os três pilares – económico, ambiental e social - de uma sociedade sustentável.

empreendedores a criar novas ideias em prol de um mundo melhor.

Poupar o ambiente

Também a Delta Q eQo, a primeira cápsula biodegradável com tripla certificação (Biológica, UTZ e Rainforest Alliance), lançada em 2020, é um exemplo de circularidade da Delta, que, incentiva o cultivo de café de forma sustentável. A companhia utiliza na produção dos seus lotes, café proveniente de 60 origens, adquirindo o café com o objectivo de melhorar as condições de vida dos produtores, junto de quem desenvolve programas de apoio. Em Angola por exemplo, a empresa desenvolve várias acções para promover a capacitação dos produtores.

No transporte, a Delta substitui os camiões pelo comboio no transporte do café entre o porto de Lisboa e Campo Maior reduzindo a energia gasta e os níveis de poluição e, na transformação, mantêm uma

preocupação constante em optimizar o consumo de recursos. Para tal, realiza o adequado tratamento dos resíduos gerados pela sua actividade, monotoriza a sua pegada carbónica ao longo do ciclo de vida do produto e procede à respectiva compensação.

Acresce a existência de um sistema de gestão integrado que incorpora a Qualidade, a Segurança Alimentar, o Ambiente, a Responsabilidade Social, e a Saúde e Segurança dos Colaboradores – todos têm direito a um seguro de saúde. A Delta Cafés tem contribuído para a criação de emprego e promoção do desenvolvimento sócio-económico na região do Norte alentejano.

Próxima das comunidades

A Delta, que foi pioneira em comercializar produtos neutros em carbono, assume o seu papel junto das comunidades. Promove o Voluntariado Empresarial, através da Associação Coração Delta, e tem

apoiado actividades promotoras do bem-estar de crianças e idosos. Criou o Centro Educativo Alice Nabeiro, aberto à comunidade e com capacidade para 115 crianças, e o Centro Internacional de Pós-graduação Comendador Rui Nabeiro para a formação dos seus colaboradores e comunidade, entre outros apoios a instituições de ensino tendo por base este mesmo objectivo. Outro bom exemplo de foco nas pessoas e nas comunidades é o projecto que resultou de um protoloco com o Estabelecimento Prisional de Lisboa, para a implementação de uma oficina de reparação de máquinas de café, moinhos e máquina de louça para restauração. O objectivo foi, após ser ministrada formação aos reclusos, contribuir para promover a sua reinserção social no mercado de trabalho. Os serviços prestados são remunerados pela Delta Cafés, que assim contribui para elevar também a sua auto-estima, criando competências para o futuro.

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DOSSIÊ

FIDELIDADE

Dada a importância que a Sustentabilidade tem para a Fidelidade, foi criada o ano passado uma equipa totalmente dedicada ao caminho de sustentabilidade da seguradora.

Apesar de nem sempre ser visível, o negócio das seguradoras está intimamente ligado à sustentabilidade, e é um óptimo exemplo de dupla materialidade porque quanto maior o risco de eventos e quanto mais extremos estes forem (em todas as suas vertentes social, ambiental ou mesmo económica) maior dificuldade existe em segurar as pessoas e os patrimónios. Neste sector destacamos a Fidelidade, que assume a sua responsabilidade no caminho para um mundo mais sustentável, tendo como propósito “para que a vida não pare”, pelo que se pode dizer que a sustentabilidade está no ‘core’ do seu negócio. Há muito que a Fidelidade olha para a sustentabilidade no processo de decisão. Por ser uma temática basilar, e apesar de não ter obrigatoriedade, desde 2009 que realiza o seu Relatório de Sustentabilidade, sendo que este ano lançou o seu primeiro Relatório Integrado de todo o grupo e no ano passado surgiu a necessidade de constituírem uma equipa totalmente dedicada ao caminho de sustentabilidade da Fidelidade, criando-se uma Direcção de topo focada na Sustentabilidade para fomentar e orquestrar a implementação das acções que respondam às diversas preocupações da seguradora, colocando assim a sustentabilidade ainda mais no ADN da Fidelidade.

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“Para que a vida não pare”
Os critérios ESG e o foco em causar impacto positivo com as sua acções, está presente nas tomadas de decisão e no modo como se relaciona com os seus ‘stakeholders’.
DOSSIÊ

“Somos um agente económico activo na contribuição para uma sociedade mais próspera, sustentável, saudável e inclusiva e queremos sê-lo cada vez mais e com mais consistência”, sublinham os responsáveis pela nova área. Acrescentando que: “As seguradoras devem olhar os riscos ESG que podem estar a causar ou que podem existir por factores externos, e actuar sobre os mesmos, ou seja, devem ter um papel activo na prevenção e mitigação de riscos no modo como operam, na gestão dos seus activos e, também, junto de todos os seus ‘stakeholders’. Assim, vemo-nos e posicionamo-nos como um promotor de mudança de comportamentos na sociedade, consciencializando para o papel e impacto de cada um de nós.”

A estratégia da Fidelidade traduz-se numa visão clara assente em três vertentes de actuação - dimensão social, transição ecológica e agente económico responsável e exemplar, que se materializam em acções concretas com impacto relevante na sociedade e onde a inovação assume um papel fulcral, no sentido de criar soluções de negócio como resposta aos principais

desafios sociais e que fomentem a jornada de sustentabilidade da Sociedade.

“A dimensão social sempre esteve e continua a estar no nosso foco, sendo a dimensão da sustentabilidade que elegemos como a mais prioritária. Quase que podemos dizer que tudo o que nós fazemos é social, porque o seguro é social, promove a resiliência e coesão da sociedade, os riscos climáticos têm também impacto social e a boa governança é a que tem em conta questões sociais internas e externas. Nesta dimensão identificámos 4 eixos de actuação: longevidade, prevenção em saúde, literacia financeira e inclusão social”, explicam.

No âmbito da dimensão ambiental, a Fidelidade pretende actuar não só como agente económico individual, reduzindo as suas emissões, mas também como agente de mudança positiva, influenciando a mudança na sociedade para a transição ecológica através de uma actuação junto dos seus diferentes ‘stakeholders’. Na dimensão económica e de governança, quer assumir a sua responsabilidade como entidade

exemplar na relação com as pessoas interna e externamente - colaboradores, parceiros, fornecedores, clientes e sociedade em geral.

Os critérios ESG e o foco em causar impacto positivo com as sua acções, está presente nas tomadas de decisão e no modo como se relaciona com os seus ‘stakeholders’.

Segundo a Fidelidade, este é um caminho que se faz em Grupo. A Fidelidade está presente em 12 países, em 4 continentes, e a estratégia, as acções e o caminho de sustentabilidade é realizado em conjunto com todas as operações. “Queremos percorrer este caminho com todos os países, tendo em atenção a realidade concreta de cada operação, garantindo a capacidade de as acompanhar, mas também aprendendo com cada uma delas e fomentando oportunidades regulares de partilha de boas práticas e use cases. Mais uma vez, a sustentabilidade é um caminho em que cada um de nós tem um papel a desempenhar, estando certo de que todos estamos comprometidos com o mesmo”, concluem.

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DOSSIÊ

LUSÁGUA

ETAR de Parada: uma referência em termos de Economia circular

Para além do tratamento das águas residuais, a ETAR de Parada é a única do país que procede à transformação e valorização das lamas produzidas ao longo do processo de tratamento. Esta instalação assegura também o aproveitamento do biogás produzido para gerar electricidade.

AETAR de Parada, no concelho da Maia, é um caso único no país em termos de economia circular. A infra-estrutura, gerida pela Luságua desde 1991, destaca-se por incorporar três valências em simultâneo: reutilização da água residual tratada, produção de energia através do aproveitamento do biogás gerado e a transformação e valorização das lamas na produção de materiais fertilizantes para aplicação nos solos. Trata-se de um exemplo a nível nacional, integrando uma gestão onde a filosofia de “recuperação, redução, remoção e reutilização” está bem patente. O processo inicia-se com a recepção das águas residuais que, depois de tratadas, podem ser reutilizadas na própria instalação. O biogás

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DOSSIÊ

produzido e acumulado é utilizado como combustível no queimador das caldeiras, permitindo assegurar o aquecimento de água que, por permuta térmica, assegura o aquecimento de lamas, aumentando a eficiência da etapa de digestão. Em alternativa, o biogás produzido alimenta, como combustível, um cogerador, de potência nominal de 500KW, que produz energia eléctrica. Desta energia, 95% é aproveitada para abastecer praticamente todas as necessidades da infra-estrutura proporcionando uma auto-suficiência energética de 40% (12horas/dia) - o excedente é vendido à rede. Já as lamas, resultantes do processo de tratamento das águas residuais, são desidratadas e enviadas para a Estação de Compostagem de Lamas contígua à ETAR. Nesta instalação são produzidos dois correctivos orgânicos 100%

naturais, higienizados, inodoros, com elevado conteúdo de substâncias húmicas. A Estação de Compostagem de Lamas de Parada produz cerca de 3.000 toneladas por ano, vendidas ao público em geral. O composto orgânico pode ser armazenado e manipulado sem problemas e tem funções altamente benéficas para a formação e fertilidade dos solos, aumentando a capacidade de retenção de água e minimizando a quantidade de adubos químicos a fornecer às culturas. A longo prazo, o composto oferece um rendimento económico médio-alto, pois ao melhorar as condições do solo, aumenta também a sua rentabilidade económica.

Esta circularidade no funcionamento da ETAR está totalmente alinhada com o lema “Missão Água”, compromisso assumido

recentemente pela SAUR e pela Aquapor, grupo que detém a Luságua, visando “devolver à água o valor que ela merece”. A gestão da ETAR de Parada, baseada no conceito de economia circular, permite outros ganhos: a redução das emissões enviadas para a atmosfera, a redução do consumo energético e a redução da quantidade de lamas enviadas a destino final, já que este subproduto é transformado em matéria-prima, com benefícios comprovados para a agricultura. Em operação desde 1991, a ETAR serve uma parte significativa da bacia hidrográfica do rio Leça, tratando os efluentes de cerca de 75% do Concelho da Maia, e de uma grande parte da freguesia de S. Mamede Infesta, do Concelho de Matosinhos. Abrange uma população total de mais de 160.000 habitantes, tratando um caudal médio de 28.000 m3/dia.

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REDES ENERGÉTICAS NACIONAIS (REN)

O futuro é verde

A REN - Redes Energéticas Nacionais é a empresa responsável por garantir o fornecimento ininterrupto de eletricidade e gás natural a Portugal Continental. São mais de 700 pessoas que trabalham diariamente para cumprir essa missão, de forma transparente, objectiva, eficiente economicamente e com um forte compromisso com o desenvolvimento sustentável.

No sector da energia, é impossível não destacar o que a REN – Redes Energéticas Nacionais, está a fazer no campo da sustentabilidade. A empresa, responsável pelo fornecimento ininterrupto de electricidade e gás natural a Portugal Continental, assumiu publicamente o compromisso de reduzir as emissões em 50% até 2030 (em comparação com 2019) e de atingir a neutralidade carbónica até 2040, dez anos antes do definido por Bruxelas. Adicionalmente, a REN comprometeu-se em ter um terço das posições de gestão de primeira linha ocupadas por mulheres até 2030 e a aumentar o peso dos critérios ESG nas métricas de desempenho de gestores (o que acontece desde 2022).

“A actuação da REN na busca de sustentabilidade passa também pela progressiva integração do Capital Natural nas actividades empresariais, de forma a sustentar os processos de tomada de decisão, para além do desenvolvimento das infraestruturas com rigorosos critérios de biodiversidade, implementando acções para o restauro de áreas e ecossistemas e a implementação de soluções baseadas na natureza, nomeadamente nas florestas, através do reflorestamento com árvores nativas e flora local”, afirma Rodrigo Costa, presidente da REN, à PRÉMIO. O envolvimento dos seus colaboradores e colaboradoras nas decisões de Responsabilidade Social é também um dos princípios fundamentais da Estratégia de Sustentabilidade da REN.

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Desde 2019, todos os trimestres, os colaboradores e colaboradoras são chamados a votar nos projectos que vão ser apoiados pelo Orçamento Participativo REN. Esses projectos, directamente ligados ao apoio e proximidade às comunidades locais e/ou à protecção ambiental, são apoiados financeiramente. Mas a REN não está a fazer este caminho sozinha, e conta com a sua cadeia de fornecimento neste esforço de descarbonização. Foi recentemente publicado o novo Código de Conduta de Fornecedores, obrigatório para todos os que querem ser fornecedores da REN, e onde se densificaram os temas de ESG, e os cadernos de encargos progressivamente passaram a incorporar obrigações de relato no âmbito das emissões e requisitos de ESG.

O agravar da situação climática no planeta colocou a descarbonização da economia no centro das atenções. Alinhada com as

políticas de União Europeia, a descarbonização das infraestruturas de gás é um dos objectivos estratégicos da política energética portuguesa. A Estratégia Nacional para Hidrogénio determinou uma meta de incorporação de hidrogénio nas redes de gás de 5% até 2025 e de 10 a 15% até 2030.

Novo paradigma

A REN tem participado activamente nesse esforço de transição energética e na descarbonização da economia, dando importantes contributos nas áreas do planeamento e gestão do Sistema Energético Nacional, assim como na procura de respostas a estes desafios através da sua área de Investigação, Desenvolvimento e Inovação.

Enquanto responsável pela rede de transporte de gás, a REN é um dos principais intervenientes na descarbonização das infraestruturas de gás. As

infraestruturas nacionais relevantes de gás terão de estar aptas para receber hidrogénio, de acordo com a lei Portuguesa, para permitir misturas de H2 e gás natural até 5%, em 2025 e entre 10-15% em 2030. Para o efeito, a REN criou uma ‘task force’ para identificar e executar as actividades e os investimentos necessários para se certificar que a transmissão de gás, armazenamento e instalações de distribuição, serão compatíveis com misturas de hidrogénio com gás natural de até 10%.

A REN está a apostar também na criação de polos locais, como a Agenda H2 Green Valley. O consórcio, que conta ainda com a REN Gasodutos, Dianagás (Floene), Bosch Termotecnologia, Hylab, Instituto Superior Técnico e Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia, reúne um conjunto de projectos complementares que visam desenvolver infraestruturas para transporte, armazenamento e distribuição, com o objectivo de criar o primeiro ‘hub’ de hidrogénio verde, em Sines, até 31 de Dezembro de 2025. O futuro verde está cada vez mais perto.

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SOCIEDADE CENTRAL DE CERVEJAS E BEBIDAS (SCC)

Tudo por um mundo melhor

Brew a Better World – Produzir um Mundo Melhor é o lema da Heineken desde 2009, mas, em 2021, a multinacional que detém a Sociedade Central de Cervejas e Bebidas deu mais energia ao plano, com metas mais ambiciosas para 2030, rumo à descarbonização de toda a cadeia de valor, 10 anos depois.

BBW À LUPA

Alcançar a neutralidade carbónica na produção até 2030 e ao longo de toda a cadeia de valor até 2040;

Zero desperdício lançado em aterro a nível global até 2025; Impacto positivo no consumo de água em todas as zonas com escassez deste recurso até 2030;

30% de mulheres em cargos de gestão de topo até 2025 e 40% até 2030;

Implementação total do programa de igualdade salarial e salários justos até 2023;

Iniciativa de impacto social em 100% dos mercados, todos os anos;

Duas opções de bebidas com zero teor alcoólico na maioria dos mercados até 2023;

Promover parcerias em todos os mercados para combate aos efeitos nocivos de um consumo abusivo de bebidas alcoólicas;

Alcançar um bilião de consumidores anualmente com mensagens relacionadas com o consumo responsável; 10% do orçamento de marketing da marca Heineken dedicado à promoção de um consumo responsável.

Odesejo de contribuir para um mundo melhor, mais sustentável e justo não é de hoje, na Sociedade Central de Cervejas e Bebidas. Integrada no Grupo Heineken, a “dona” da Sagres e da Água de Luso tem em curso, desde 2009, o Brew a Better World (BBW), que reflecte o compromisso da multinacional em promover o respeito pelas Pessoas e pelo Planeta, estimulando ao mesmo tempo a Prosperidade. Criado em 2009, o BBW tem vindo a contribuir para os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Em 2021, animada pelos progressos alcançados desde o lançamento original do programa, e de forma a atingir um progresso mais rápido, a multinacional deu uma nova ambição ao BBW para 2030, com olhos postos em atingir a neutralidade carbónica ao longo de toda a cadeia de valor até 2040.

Na prática, a actuação da companhia desenvolve-se em três pilares: Ambiental –um caminho para zero impacto, reduzindo as emissões de carbono provenientes da actividade, promovendo a circularidade e protegendo recursos hídricos; Social – um caminho para uma empresa e um mundo mais inclusivos, justos e equitativos, procurando gerar impacto positivo nas comunidades, bem como promover uma cultura de inclusão e diversidade, e um ambiente de trabalho justo e

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seguro; e do Consumo Responsável – um caminho para um consumo moderado e responsável de bebidas alcoólicas, ao mesmo tempo que proporciona alternativas de bebidas mais saudáveis e sem álcool. Em termos ambientais, a ambição é trabalhar para que todas as instalações de produção se tornem neutras em carbono, reduzindo as suas emissões globais em 30% até 2030, de forma a atingir a meta de 1.5°C definida pelo Acordo de Paris, por via do investimento e maximização da utilização de energias renováveis, procurando mais eficiência energética.

Cada vez menos carbono

A companhia tem vindo a reduzir as emissões de CO2 por várias vias. Foram implantados, na Cervejeira de Vialonga e na Sociedade da Água de Luso, 6.300 paineis fotovoltaicos para gerar energia para autoconsumo, com uma potência instalada de 1 MWp em cada unidade. Com o investimento de 1,4 milhões de euros, esta instalação permitirá, no total, uma produção de energia solar de 2.845 MWh/ano e uma redução de consumo previsto de 5% na Cervejeira de Vialonga e de 20% na unidade de engarrafamento da Água de Luso.

Este projecto permitirá ainda uma redução de cerca de 1.200 toneladas/ano em emissões CO2, o equivalente à captação anual de CO2 por 53.000 árvores.

O esforço para respeitar o ambiente estende-se à área da mobilidade, apostando na transição para processos de logística que reduzam

as emissões de carbono. No caso da frota de distribuição primária, procedeu-se à optimização de rotas e de cargas e à utilização de veículos mais eficientes, movidos a gás natural. Com a empresa de distribuição Novadis, apostouse em testes-piloto com veículos eléctricos para entrega aos clientes. A empresa recorre a materiais que minimizem o impacto

produzidos em papel FSC - Forest Stewardship Council, a indicação do ecoponto correcto onde devem ser colocadas para uma recolha selectiva.

Globalmente, a companhia recorre, sempre que possível, a fornecedores locais, promovendo o consumo responsável, proporcionando locais de trabalho onde a saúde e segurança dos colaboradores é prioritária, e investindo nas comunidades envolventes.

Gestão mais feminina

Em relação à igualdade de género, a percentagem de mulheres hoje representadas em cargos de gestão de topo do Grupo Heineken duplicou em relação à última década, mas os compromissos são mais ambiciosos: em 2025, pretende-se ter 30% de mulheres em cargos de administração e, em 2030, 40%.

ambiental, integrando a preocupação de ecodesign, por via do desenvolvimento de ajustamentos nas embalagens primárias e secundárias, como por exemplo na redução de PET, na aposta em maiores formatos ou na incorporação de materiais reciclados nas embalagens, e promovendo o reutilizável, em linha com uma economia circular.

As embalagens hoje são todas recicláveis e possuem, nos rótulos

A empresa protege os recursos hídricos, nomeadamente através da defesa e manutenção do Sistema Aquífero da Água Mineral Natural de Luso, um recurso de excepção com origem na Serra do Buçaco, e cuja utilização consciente e sustentável deste recurso está na génese da marca, procurando garantir que esta água pura e intocável chega não só às gerações actuais como às gerações futuras. Face a 2008, a companhia reduziu o consumo de água nos processos produtivos em cerca de 20%.

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DOSSIÊ

SOCIEDADE DE TRANSPORTES COLECTIVOS DO PORTO (STCP)

Aposta em frota (cada vez) mais amiga do ambiente

O sector da mobilidade e transportes é dos que mais sofre pressão para adoptar práticas sustentáveis, em especial no que diz respeito à redução das emissões poluentes. A STCP caminha a passos largos para reduzir cada vez mais a sua pegada carbónica, renovando parte da frota de cerca de 400 veículos. Mas dentro de “casa” também se pensa no ambiente.

Apreocupação com a sustentabilidade é uma constante, há vários anos, na Sociedade de Transportes Colectivos do Porto (STCP). A transição para uma frota mais amiga do ambiente, com a substituição progressiva de veículos a gasóleo por gás natural e, mais recentemente, o lançamento de um concurso para a aquisição de 48 autocarros eléctricos, são as faces mais visíveis deste esforço, por parte de uma empresa que opera num sector onde a descarbonização é, hoje, a grande meta.

DENTRO DE “CASA” TAMBÉM SE PENSA NO AMBIENTE

Apostada em promover as melhores práticas sustentáveis junto dos Colaboradores, a STCP lançou, em Novembro de 2022, a campanha interna “Poupar o Futuro - o meu, o teu, o nosso”, que serviu de mote à urgente necessidade de actuação no combate às alterações climáticas e promoção da sustentabilidade.

Inspirada na crise energética, no âmbito deste programa, a STCP tem vindo a implementar uma série de acções internas que visam sensibilizar colaboradores a, de forma totalmente voluntária, agirem em conformidade com a poupança de água, energética, redução da utilização de consumíveis e adopção de práticas de mobilidade.

A empresa de transportes públicos do Porto foi a primeira em Portugal, em 2008, a possuir um Sistema Integrado de Gestão certificado em termos de Gestão da Qualidade, Gestão Ambiental e Gestão da Segurança e Saúde do Trabalho. Dois anos mais tarde, a companhia aderiu à Carta de Desenvolvimento Sustentável da UITP (União Internacional dos Transporte Públicos), assumindo um maior nível de responsabilidade e de exigência. Entretanto, desde 2016 que a STCP tem vindo a consolidar a sua comunicação com as entidades reguladoras, de acordo com o normativo legal que regula a sua actividade em termos de impacto ambiental, nomeadamente através da monitorização das fontes de emissão, do controlo da utilização de gases fluorados com efeito de estufa e empobrecedores da camada de ozono, da análise e controlo dos efluentes e da gestão dos resíduos produzidos.

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Rumo a Paris Focada no cumprimento das metas do Acordo de Paris, num dos sectores onde é maior a pressão para reduzir as emissões poluentes (a mobilidade e transportes são responsáveis por cerca de 30% das emissões em Portugal), a STCP tem investido numa frota mais amiga do ambiente.

Entre 2018 e 2021, fruto de um investimento global de cerca de 70 milhões de euros, a frota da STCP passou a contar com 274 viaturas mais limpas, mais eficientes energética e economicamente (254 movidas a gás natural e 20 autocarros 100% eléctricos).

Contas feitas, neste período, 65% da frota da STCP foi alvo de substituição, permitindo prestar às populações dos seis concelhos onde opera um serviço de maior eficiência, em termos económicos e ambientais, e, sobretudo, reduzir significativamente as emissões de carbono.

Este projecto de renovação da frota da STCP foi cofinanciado pelos Aviso I e Aviso II do PO SEUR Portugal 2020Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos, que permitiu a substituição de veículos em

fim de vida.

No ano passado um novo passo foi dado pela STCP, com o lançamento de um concurso público internacional para a aquisição de 48 viaturas de transporte de passageiros 100% eléctricas e uma estação de carregamento eléctrica, constituída por 24 carregadores duplos.

2023 é um ano chave

A empresa estima que a introdução na frota destes 48 autocarros eléctricos - com autonomia de cerca de 320 kmvenha a ocorrer no último quadrimestre de 2023, altura em que, desta forma, a STCP verá a sua frota 100% livre de emissões aumentar dos actuais 20 veículos para 68.

Este passo, que foi pensado antes do início da guerra na Ucrânia, contribuirá para uma redução de emissões de CO2 de cerca de 4.000 ton/ano, permitindo substituir 24 viaturas ‘standard’ em fim de vida e reforçar a frota da empresa com mais 24 novas viaturas energeticamente limpas.

“A STCP tem a oportunidade de avançar, a modo rápido, em direcção à descarbonização da operação e de desagravar, assim, as alterações climáticas”, defendeu a PCA da

empresa, Cristina Pimentel, no anúncio do concurso público.

Também no ano passado, em Abril, a STCP subscreveu o Pacto do Porto para o Clima, uma iniciativa da Câmara Municipal do Porto que visa atingir a neutralidade carbónica da cidade em 2030, através do envolvimento activo dos diferentes actores da sociedade. E, em Novembro, a companhia aderiu ao Insure Hub, uma iniciativa que resulta da mobilização da Universidade Católica Portuguesa, no Porto, através das suas Faculdades, Católica Porto Business School e Escola Superior de Biotecnologia, em conjunto com a Planetiers New Generation, e que tem como áreas prioritárias contribuir para a Sustentabilidade e para a Regeneração, de acordo com o European Green Deal.

Em causa está o compromisso de contribuir para o desenvolvimento de actividades conjuntas para a promoção do Conhecimento, da Inovação e de Empreendedorismo Sustentável, na persecução dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável 2030 das Nações Unidas (ONU), da Estratégia do Pacto Ecológico Europeu e as metas definidas para a Europa 2030 e 2050.

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DOSSIÊ

VALORPNEU

O contributo da Valorpneu para a economia circular

A Valorpneu nasceu há 20 anos, para dar resposta a um problema ambiental: os pneus em fim de vida. Ao longo deste tempo, a entidade gestora portuguesa tem dado passos significativos no caminho para a economia circular e para a sustentabilidade do planeta.

No sector automóvel e dos pneus usados, não podemos falar em economia circular e sustentabilidade sem destacarmos a actividade da Valorpneu. O propósito da Valorpneu é organizar e gerir o sistema de recolha e encaminhamento dos pneus usados em Portugal, sendo hoje responsável pela recolha e valorização de 100% dos pneus anualmente gerados. Desde o início da sua actividade, esta entidade já tratou cerca de 157 milhões de pneus, o que em termos de responsabilidade ambiental representa uma poupança de mais de 2 700 000 toneladas de emissões de CO2 e mais de 82 milhões de GJ evitados.

Ao longo dos seus 20 anos de actividade, a Valorpneu tem dado passos importantes no caminho para uma economia circular. Os pneus em fim de vida têm um enquadramento legislativo já desde 2001 que estabelece a responsabilidade alargada do produtor e existe um sistema integrado gerido pela Valorpneu que procede à sua recolha, transporte e encaminhamento para destino final de valorização, sendo que mais de 50% dos pneus são reciclados e incorporados em novos produtos e os restantes recauchutados ou valorizados energeticamente. Portugal foi dos primeiros países da Europa a legislar nesse sentido. É exemplo mais recente o Fim de Estatuto de Resíduo, estabelecido na Directiva Europeia relativa ao Regime Geral de Gestão de Resíduos, mecanismo que permite que certos materiais, em circunstâncias específicas, possam ser utilizados como produtos, sem que os trâmites administrativos associados à gestão

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DOSSIÊ

de resíduos lhes sejam aplicáveis. Poucos países o fizeram, não mais que dois ou três para além de Portugal. O Estado português adoptou este mecanismo para os materiais derivados de pneus em fim de vida através de Portaria publicada no início de 2018 simplificando alguns procedimentos e potenciando uma maior implementação no mercado dos produtos reciclados de pneus.

A reciclagem de pneus usados tem como produtos finais o pó e o granulado de borracha, o aço e o têxtil. O granulado de borracha tem muitas aplicações, tais como relvados sintéticos, pavimentos diversos, nas indústrias de isolamentos e da borracha e nas misturas betuminosas com borracha. O aço é vendido a empresas que reciclam metais e o têxtil é passível de valorização energética. Existem anualmente mais de 30 milhões de toneladas de pneus em fim de vida no mundo que são descartados, sendo que na Europa são gerados cerca de 3,4 milhões de toneladas todos os anos. “Os produtos reciclados de pneus estão fortemente dependentes

do mercado dos relvados sintéticos e dos pavimentos. Importa diversificar e ampliar os mercados alternativos. Os pneus em fim de vida para além de terem potencial para substituir matérias-primas e recursos naturais em inúmeras soluções, preservando o ambiente, voltam a ser por essa via reintroduzidos na economia e a gerar valor”, explica Climénia Silva, directora-geral da Valorpneu. Em termos ambientais por cada tonelada de pneu recolhido em Portugal e valorizado são evitadas 1,5 toneladas de emissões de gases com efeito estufa, o equivalente às emissões produzidas por um veículo de passageiros a percorrer 6.300 km. No âmbito da sua actividade, a Valorpneu promove ainda a sensibilização e comunicação para incentivar as boas práticas e fomentar a utilização dos materiais reciclados de pneu, bem como o financiamento de actividades de I&D que contribuam para atingir os seus objectivos. Neste ponto é possível destacar o NextLap, um programa internacional de inovação no domínio dos produtos derivados

da reciclagem de pneus, promovido pela Valorpneu e pela recicladora multinacional Genan, com o apoio da consultora em inovação Beta-i. Um projecto que procura soluções em larga escala provenientes da reciclagem de pneus, prontas para o mercado, e coloca face a face inovadores, a indústria que se constitui como parceiros de piloto dos projetos e ‘experts’. Contudo, e apesar dos esforços da Valorpneu, “não basta falar em economia circular e em sustentabilidade para que isso só por si se torne uma realidade. É imperativo uma mudança de atitude e os líderes políticos têm um papel determinante nessa matéria: é necessário consciencializar, desenvolver enquadramento legal e criar políticas de financiamento, aposta na inovação, reestruturar sectores de actividade e incentivar o desenvolvimento da reciclagem e o consumo de materiais reciclados, através de uma discriminação positiva destes produtos e de novos modelos de negócio”, conclui Climénia Silva.

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DOSSIÊ

Pacto do Porto para o Clima

Rumo à neutralidade carbónica até 2030

100% da energia utilizada pelo Município do Porto é proveniente de fontes renováveis; a gratuitidade dos transportes públicos na cidade para crianças e jovens até aos 18 anos, criando hábitos nesta faixa etária e com poupança para as famílias portuenses; a substituição da iluminação pública para LED que segue a bom ritmo ou a expansão da recolha de resíduos orgânicos às casas dos portuenses e a sua valorização.

Aespécie humana no Planeta enfrenta enormes desafios, sendo necessários múltiplos investimentos, em diversas frentes e concertados, tendo em vista garantir o equilíbrio climático mundial e com isso assegurar uma melhor qualidade de vida para nós e para as próximas gerações.

A redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) no Porto já atingiu 52,2% em 2020 (face ao ano base de 2004), resultado de uma aposta continuada de descarbonização em vários sectores. Compreendendo que os ativos municipais são apenas responsáveis por 6% das emissões de GEE, percebemos que tínhamos de ir mais longe. A maioria das emissões da cidade provém dos sectores dos edifícios, residencial e serviços (~50%) e dos transportes (~40%) pelo que se torna imprescindível envolver os diferentes atores da

cidade num esforço concertado e ambicioso capaz de diminuir de forma significativa as emissões. E isso motivou-nos a lançar o Pacto do Porto para o Clima: um compromisso aberto à cidade, às organizações públicas e privadas, e que apela à mobilização massiva dos portuenses, com um grande objetivo comum: alcançar a neutralidade carbónica até 2030.

Ainda que trilhemos um caminho em conjunto, no Porto, procuramos liderar pelo exemplo, atuando de forma assertiva e coerente nos esforços de descarbonização. O reforço dos espaços verdes, a aposta na partilha de energia, o incremento da mobilidade sustentável, o aumento da eficiência do edificado, a promoção da poupança energética, o investimento em iluminação LED inteligente e maior circularidade são alguns dos eixos estratégicos da ação do Município.

Concretizando, há medidas paradigmáticas e disruptivas que podemos, desde já, evidenciar:

Estamos a afirmar o Porto como produtor de energia limpa de base solar e a contribuir para uma maior independência energética da cidade. Temos em pleno funcionamento o Porto Energy Hub, um gabinete de aconselhamento que está a apoiar cidadãos e empresas em projetos de eficiência energética e produção de energia. Neste campo, está em marcha um plano de incentivos à instalação de painéis fotovoltaicos em edifícios particulares que ronda os 8 milhões de euros, bem como vamos investir na produção de energia nos edifícios de habitação social, num investimento de 6 milhões de euros que contribui para a redução da fatura e mitigação da pobreza energética das cerca de 30 mil pessoas que neles vive. A primeira Comunidade de Energia Renovável (CER) do país envolvendo habitação social está pronta a produzir energia, faltando apenas a autorização da DGEG. Estamos a trabalhar no sentido de promover sinergias para a criação de mais CER que envolvam os parceiros do Pacto.

O Pacto do Porto para o Clima conta com mais de 200 subscritores, entre os quais a Cunha Vaz & Associados, e tem mobilizado algumas das mais reputadas instituições e organizações empresariais do Porto e da região. Este Pacto vai ao encontro dos objetivos da Missão Cidades da União Europeia, sendo o Porto uma das 100 cidades selecionadas para atingir a neutralidade carbónica até 2030.

Podem subscrever ou acompanhar a atividade em:

pactoparaoclima.porto.pt

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POLÍTICA
do novo
ortográfico
FILIPE ARAÚJO, VICE-PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DO PORTO
*Texto escrito ao abrigo
acordo
Media Nove é o primeiro grupo de comunicação de e para a lusofonia Navegue connosco em: medianove.com

futuro será sustentável (e neutro em carbono), mas temos de agir agora”

Oinício de um novo ano é uma boa oportunidade para refletir sobre o futuro e os possíveis cenários que se avizinham. Infelizmente, em alguns destes cenários, o futuro parece sombrio. Durante o Fórum Económico Mundial em Davos, em janeiro, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, advertiu para o perigo de não atingirmos o compromisso coletivo de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C, e que, sem medidas urgentes, o mundo caminha para um aumento médio de temperatura de 2,8°C. Assim, se queremos garantir um futuro menos devastador, temos de assegurar a implementação de uma estratégia que cumpra com os compromissos acordados e agir com determinação para a implementar.

No Reino Unido, já estamos a tomar medidas decisivas para atingir estes objetivos, e a liderar uma maior ambição global no caminho para a descarbonização. Já alcançamos as muitas metas no caminho para a neutralidade carbónica, tendo reduzido as suas emissões de gases com efeito de estufa superior a 44% (comparados a níveis de 1990), enquanto a sua economia cresceu 76% no mesmo período. Neste espírito, em outubro de 2021, o governo divulgou a Estratégia para a Neutralidade Carbónica (Net Zero Strategy), que define a forma como o Reino Unido atingirá o objetivo de neutralidade líquida até 2050, focando-se em medidas que fomentem o crescimento económico e empresarial, ao mesmo tempo que demonstre suficiente flexibilidade para se adaptar a cenários económicos em constante mudança. Em setembro de 2022, o governo britânico pediu uma revisão independente da estratégia (Mission Zero Review), publicada em janeiro, onde se definem as oportunidades e benefícios da neutralidade carbónica para as pessoas e para

a economia, e onde se especifica as medidas a tomar por cada sector. As 129 recomendações pretendem maximizar o investimento económico, as oportunidades de negócio e o emprego. Entre elas, encontram-se medidas que visam apoiar diretamente empresas, através da revisão dos incentivos ao investimento na descarbonização e do lançamento da campanha Help to Grow Green; reestruturar a ação local, colocando a neutralidade no centro da estratégia nacional e local e apoiar projetos pioneiros de cidades verdes; e utilizar infraestruturas para desbloquear objetivos de neutralidade, desenvolvendo uma estratégia de infraestruturas intersectoriais até 2025 que apoie a construção e adaptação de novas fontes de energia verde, como o hidrogénio. A abordagem integrada (whole of economy) do Reino Unido pretende tirar pleno proveito desta oportunidade histórica, abrangendo todos os sectores da economia, promovendo várias parcerias e colaborações, de forma a impulsionar uma mudança efetiva. Esta mudança requer também uma lógica de colaborações internacionais. A Declaração Conjunta sobre Cooperação Bilateral entre Portugal e o Reino Unido, assinada pelos nossos dois Primeiros-Ministros em junho de 2022, celebra os 650 anos de aliança diplomática ininterrupta e projeta essa aliança para o futuro, identificando formas de aprofundar a nossa parceria, incluindo a ambição comum de atingir a neutralidade carbónica.

Juntos, os nossos dois países alcançaram feitos extraordinários no passado. Hoje, continuamos determinados a trabalhar em conjunto para enfrentar os grandes desafios globais do presente e do futuro.

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“O
DIPLOMACIA *Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico
CHRISTOPHER SAINTY, EMBAIXADOR DO REINO UNIDO EM PORTUGAL

Floene: 175 anos a transformar

energia em Portugal

A crise energética gerada pela invasão da Ucrânia pela Rússia, em especial o seu impacto sobre a segurança de abastecimento e sobre os preços do gás natural, tornou mais óbvia e premente a necessidade de a Europa acelerar a sua transição energética, apostando em fontes renováveis e competitivas de energia. Portugal tem liderado na procura de soluções alternativas, com vários projectos ligados ao hidrogénio verde. A Floene, que opera a maior rede de distribuição de gás natural em Portugal, também abraçou o desafio da descarbonização através dos gases renováveis e já desenvolveu um piloto, no Seixal, de hidrogénio verde. Mas o biometano, defende o CEO da companhia, Gabriel Sousa, pode, no muito curto prazo, trazer ganhos importantes ao sistema energético e aos portugueses.

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ECONOMIA
RICARDO DAVID LOPES
ADOBE STOCK

Aintrodução de gases renováveis na rede de gás natural é hoje o principal desafio da Floene, que há mais de 175 transforma energias em Portugal, desde a introdução, em 1847, dos primeiros candeeiros a gás para iluminação pública em Lisboa, pela Companhia Lisbonense de Iluminação a Gás. A companhia, que em Outubro do ano passado assumiu novo nome e nova marca, substituindo a GGND, tem hoje a mais moderna rede de polietileno da Europa, com cerca de 12 mil km, chegando a mais de 1,1 milhões de clientes através das suas nove distribuidoras regionais (ver caixa). Em breve, o biometano e o hidrogénio deverão protagonizar a nova transformação energética que a empresa está a operar. A modernidade da rede de gás natural, que foi das últimas a ser construída na Europa, explica o CEO, Gabriel Sousa, “permite acelerar” o processo de introdução de biometano (e de hidrogénio), gases renováveis com os quais a Floene quer contribuir para descarbonizar consumos e a economia em geral, tornando-a menos dependente de recursos que o país não controla,

HISTÓRIA LONGA, FOCO NO FUTURO

e aportando assim mais segurança de abastecimento ao próprio país. Países como França, Alemanha ou Dinamarca estão já mais avançados na injecção de biometano nas suas redes de gás, através de acordos com vários produtores, reduzindo significativamente as emissões e descarbonizando as suas infra-estruturas.

Em Portugal, lembra Gabriel Sousa, há vários ‘players’ a produzir biogás, nomeadamente a partir de resíduos urbanos ou agro-pecuários, e o ‘upgrade’ destes gases para biometano é um processo simples, pelo que a sua captura e posterior injecção na rede podem ser feitos rapidamente.

Biometano à vista

Os gases renováveis – em especial, o biometano -, reforça Gabriel Sousa, podem ser um recurso para acelerar o cumprimento das metas ambientais e energéticas, tornando o país mais competitivo e menos dependente de fontes de energia cujos preços estão sujeitos a fortes flutuações – e que são finitas.

Gabriel Sousa vê com bons olhos o facto de estar em preparação, pelo Governo, de uma Estratégia Nacional do Biometano – para o hidrogénio verde, já existe -, que deverá permitir acelerar a introdução deste gás

A Floene apresentou-se ao mercado em Outubro de 2022, mas a empresa, até então conhecida por GGND, faz, há muito, parte da dia-a-dia de milhões de portugueses. Em 1847, a então Companhia Lisbonense de Iluminação e Gás, por concessão da Câmara de Lisboa, introduziu os primeiros candeeiros a gás na cidade. Mas esta foi a primeira das revoluções energéticas da companhia, que, mudou de nome e imagem na sequência da compra, em 2021, pela Allianz Capital Partners, de 75,01% dos 77,5% que a Galp Energia detinha. Em 1997, deu início à distribuição generalizada de gás natural, em 1999-2002, conduziu a mudança de gás de cidade para gás natural na região de Lisboa (Lisboa, Oeiras, Amadora e Loures), levou a rede de gás a Chaves e Faro e opera actualmente nove distribuidoras regionais de gás natural em mais de 100 concelhos (Lisboagás, Lusitaniagás, Setgás, Tagusgás, Beiragás, Duriensegás, Medigás, Dianagás e Paxgás).

(quimicamente igual ao gás natural) na rede, sem que seja necessário proceder a alterações na sua estrutura ou nos equipamentos dos clientes, e cumprindo a chamada economia circular.

Promover a introdução de gases renováveis é “um vector estratégico da Floene”, para a criação de um sistema energético mais equilibrado, afirma Gabriel Sousa.

Em Julho de 2022, a Floene, com um parceiro produtor e outros tecnológicos, deu início a um projecto-piloto de hidrogénio verde no Seixal – o Green Pippeline Project. Em recente entrevista ao programa “Tudo é Economia”, da RTP, Gabriel Sousa deu nota do “sucesso” dos testes, que passaram pela mistura de 2 a 5% de hidrogénio no gás, sendo a meta 20%, a dois anos.

Há um troço da rede com 100% de hidrogénio, até à mistura com gás natural, e os equipamentos, como esquentadores, entre outros, mostraram estar preparados para a mistura de até 5% já feita, garante. A Floene prevê que no segundo semestre deste ano haja novos projectos de hidrogénio noutras zonas do país, mas o CEO reforça a importância de Portugal abraçar o biometano como fonte mais imediata.

Na apresentação da nova marca, o CEO, Gabriel Sousa, destacou que a mudança vinha reforçar “o compromisso, partilhado pelo novo accionista, da empresa na transição energética, contribuindo para a descarbonização das redes de gás, maioritariamente através da aposta nos gases renováveis, como o biometano e o hidrogénio”.

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ECONOMIA

Onovo Plano de Ação da UE para a Economia Circular, adotado em 2020, constitui um dos principais alicerces do Pacto Ecológico Europeu e consolida a liderança da UE na luta mundial contra as alterações climáticas e no compromisso político de transformar a UE numa sociedade mais justa, socialmente equitativa, e garantindo uma economia competitiva e eficiente na utilização dos recursos, tendo em vista a neutralidade climática no horizonte de 2050 (em Portugal, é atribuída à Direção-Geral das Atividades Económicas (DGAE), do Ministério da Economia e do Mar, em conjunto com a Agência Portuguesa

do Ambiente, I. P., a coordenação do Plano de Ação para a Economia Circular em Portugal, encontrando-se em estudo uma proposta para o 2.º ciclo deste Plano).

Para este objetivo da UE contribui um conjunto de propostas de atos legislativos em negociação ao nível da UE, em que a DGAE participa. Destaca-se desde logo a proposta de Regulamento que estabelece um quadro para definir os requisitos de conceção ecológica dos produtos sustentáveis (Regulamento Ecodesign), cujo objetivo é o de assegurar um mercado interno europeu harmonizado, que inclui requisitos de sustentabilidade e de economia circular aplicáveis à maioria dos bens físicos no mercado da UE, bem como a obrigação de serem fornecidas informações fiáveis às empresas ao longo da cadeia de valor e aos consumidores através do “passaporte digital do produto”.

A definição de requisitos de conceção ecológica aplicáveis a grupos específicos de produtos será baseada numa abordagem de ciclo de vida dos produtos, desde a extração das matérias-primas, passando pelo processo de fabrico e utilização até à sua eliminação e prevê-se que crie, não só condições de concorrência equitativas para os operadores económicos do mercado interno, mas também que assegure que os produtos provenientes de países terceiros que entram no mercado da União cumprem as mesmas regras de colocação no mercado da UE, quer sejam importados como produtos, componentes ou produtos intermédios. De notar que, sob reserva das regras aplicáveis em matéria de auxílios estatais, a proposta de Regulamento Ecodesign prevê o acesso a linhas de financiamento da UE, através das quais a Comissão Europeia pretende apoiar os operadores económicos a transformar os seus negócios, para assim garantir um incremento real

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Economia Circular, responsabilidade social das empresas e apoios
ECONOMIA
FERNANDA FERREIRA DIAS, DIRETORA-GERAL DAS ACTIVIDADES ECONÓMICAS
*Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico

da sustentabilidade dos produtos colocados no mercado da UE. No âmbito do tema da Conduta Empresarial Responsável, encontram-se também em negociação propostas legislativas que têm por objetivo a realização de processos de devida diligência, i.e., processos de melhoria contínua que permitem às empresas antecipar, prevenir ou mitigar os respetivos impactos na sociedade e no ambiente. Desde 2020 que a UE está empenhada em assegurar que as empresas que operam no mercado da UE realizam as suas obrigações de devida diligência em matéria do respeito pelos Direitos Humanos e do Ambiente, encontrando-se em negociação desde fevereiro de 2022 a proposta de Diretiva relativa ao dever de diligência das empresas em matéria de sustentabilidade (CSDDD).

O âmbito da CSDDD não contempla as PME, mas antecipa que estas possam ser impactadas, pelo que, sem prejuízo das regras aplicáveis em matéria de auxílios estatais, a CSDDD prevê que os Estados Membros possam apoiar financeiramente as PME, sendo que a Comissão Europeia complementa essas medidas de apoio.

Outra proposta em negociação – a proposta de Regulamento relativo à proibição de produtos fabricados com recurso ao trabalho forçado no mercado da União – foi adotada em 2022 e visa proibir efetivamente a colocação e a disponibilização no mercado da UE e a exportação para fora da UE de produtos fabricados com recurso ao trabalho forçado, incluindo o trabalho infantil forçado. A proposta terá em conta o impacto nas empresas, e em especial nas PME, mas não as isenta do seu âmbito de aplicação.

No âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), importa chamar a atenção para os apoios que existem no âmbito de medidas estruturantes, como as Agendas

Mobilizadoras para a Inovação Empresarial e as Agendas Verdes para a Inovação Empresarial, contribuindo para (1) a alteração do perfil de especialização da economia portuguesa; (2) o aumento das exportações e da soberania tecnológica europeia, ambicionando-se atingir um volume equivalente a 50% do PIB até 2027 e a 53% do PIB até 2030; (3) o incremento do investimento em I&D, garantindo atingir 3% do PIB até 2030; (4) a redução das emissões de CO2 em 55% até 2030. Com uma dotação de 930 MEuros (558 MEuros para as Agendas Mobilizadoras para a Inovação Empresarial e 372 MEuros para as Agendas Verdes), foram selecionadas 70 Agendas, com um registo de 64 candidaturas de propostas finais a financiamento. Adicionalmente, a Componente 11 do PRR prevê apoios ao investimento direcionados à descarbonização da indústria:

- Apoio à Elaboração de Roteiros de Descarbonização da Indústria e Capacitação de Empresas, com 39 candidaturas e um total de cerca de 16,9 MEuros, para apoiar projetos que ajudem na mitigação das alterações climáticas, promovidos por associações empresariais e centros tecnológicos dos diferentes setores industriais com competências técnicas orientadas para a valorização da atividade industrial;

- Apoio à Descarbonização da Indústria, de 250 MEuros, cujo Aviso está aberto até 17 de fevereiro de 2023, visando promover a transição energética por via da eficiência energética, do apoio às energias renováveis, com enfoque na adoção de processos e tecnologias de baixo carbono na indústria, adoção de medidas de eficiência energética na indústria e na incorporação de energia de fonte renovável e armazenamento de energia.

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ECONOMIA
ADOBE STOCK

Sustainability reporting: the point of no return

The sustainability topic has emerged as front and centre for any business model nowadays, with an increasingly demanding regulatory framework, calling both for transparency and action from leaders and managers.

The European legislation on sustainability has moved at an incredible fast pace in recent years, as the topic became a key policy priority in Europe. Following the adoption of the EU Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD) by the end of 2022 and the subsequent creation of the European Financial Reporting Advisory Group (EFRAG), the path for detailed non-financial reporting has reached a point of no return. This will

represent a quintessential pilar for the public and the private sectors in upcoming decades, with the EU Taxonomy taking centre stage. It is therefore of the utmost importance to keep track of all those impending regulatory changes.

Technically, the CSRD will replace the existing Non-Financial Reporting Directive (NFRD), widening its scope regarding requirements, details, and targeted size companies. While under the current NFRD framework only listed companies with over 500 employees (a universe of about 11,000 European companies) are required to report non-financial information, the CSDR broadens the scope to organizations that meet two of the following three criteria:

i) balance sheet above EUR 20 million;

ii) net revenue above EUR 40 million;

iii) over 250 employees on average throughout the reporting year (representing an estimated universe of 50,000 European companies when fully deployed). The plan envisages that eventually even SMEs will be subject to CSDR reporting.

The tight defined timeline therefore urges companies to prepare for CSRD

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ECONOMIA
CARLOS EDUARDO MARTINS, SUSTAINABLE FINANCE EXPERT

sooner rather than later. More precisely, by 2025 listed companies with over 500 employees will have to publish a report according to CSRD in respect to its 2024 activities. It is widely expected that by 2027 listed SMEs will be required to report according to a simplified CSRD version, in respect to their 2026 activities. Broad CSRD reporting items will include: i) alignment of business model and strategy to achieve climate neutrality by 2050; ii) science-based targets and progress; iii) most significant negative impacts; and iv) identification of main climate-related risks and mitigation actions.

The challenge is a hidden opportunity

Reporting is undoubtedly a significant upcoming challenge for economic agents, albeit the impact will differ depending on each activity sector. In particular, the EU Taxonomy brings important changes as each entity must report on the alignment of each economic activity (in terms of Capital Expenditure, Operation Expenditure and Turnover) to its contribution to one of the six EU environmental objectives 1 Notably, non-financial institutions will be required to correctly quantify and report on a vast array of sustainability items, including their Taxonomy eligibility and alignment. For those companies, this also represents an opportunity to revisit their business model and acknowledge sustainability-related risks they may be facing in the future and adjust accordingly. With sustainability becoming a key competitiveness factor in financial markets, businesses perceived as more sustainable will be capable to attract more capital and possibly secure funding at lower costs. Credit institutions will face slightly different challenges. With ESMA, ECB, EBA and other supervisory authorities soon finalizing their recommendations, credit institutions must adjust to the new

sustainability framework in different areas, including reporting asset-side Taxonomy alignment (which may include compute alignment for loans to SMEs and mortgages) and reporting sustainability-related risks (with a focus on climate-change risks). Additionally, financial products must be classified according to their Taxonomy alignment, thus enhancing comparability and transparency for investors. Credit institutions may eventually also benefit from this challenge, as cheaper funding may be available and even some positive discrimination for “green” assets may be envisaged in a near future.

Data and more data

Reporting will require organizations to efficiently collect data, both internally and externally. While this will consume additional resources and imply stepping-up quality datacollection, it will equally enable businesses to make more grounded decisions. In fact, the reporting exercise can become a very powerful management tool and an opportunity for businesses to become less vulnerable to sustainability-related risks. Even though the ESG theme is still essentially regarded as a reputational issue by some, it already has a real impact on any business’ profitability presently.

The concept of double materiality

Sustainability can be seen through two lenses: “outside-in” and “inside-out”. The outside world (i.e., climate change) may negatively impact any company, thus representing a risk for its profitability. Conversely, the company may have an external (positive or negative) impact on the outside world. The two dimensions are equally important and equally monitored, especially when different ESG rating agencies apply different methodologies to score an individual entity under each perspective. The harmonization of ESG rating agencies’ methodologies

will surely be an important discussion topic during 2023. Yet this concept of double materiality may soon gain additional importance in the context of the Greenhouse Gas (GHG) Protocol. Under the socalled Scope 1, companies report on direct emissions, such as emissions from fuel combustion in their own factories. Under Scope 2, the computation includes also emissions related to the purchased energy. As regulation evolves, Scope 3 will eventually require companies to also report greenhouse gas emissions produced through indirect emissions along the value chain, including in purchased goods, business travel, and up- and downstream distribution. This will also imply that companies will increasingly have to consider implementing both CO2 offsetting technologies and nature-based CO2 sequestration projects.

A great opportunity for the Portuguese economy

The new regulatory framework will greatly favour investments, capital-raising, and funding in green and social projects. The Portuguese economy has a tremendous untapped potential to embrace the sustainability-led transformation, with its outstanding natural conditions to collect clean energy and its vibrant innovation cluster. The economic agents can (and should) therefore reap the benefits of a rapid adjustment to the green and circular economy. SMEs can play a particularly important role in this regard, given their flexibility to adapt and reinvent their business models rapidly. Ultimately, sustainability is the key to unlock further growth potential.

1 The EU Taxonomy establishes six environmental objectives:

1. Climate change mitigation; 2. Climate change adaptation; 3. Sustainable use and protection of water and marine Resources;

4. Transition to a circular economy; 5. Pollution prevention and control; and 6. Protection and restoration of biodiversity and ecosystems.

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ECONOMIA

Asustentabilidade está incorporada na estratégica do novobanco, na nossa missão de gerarmos impacto positivo para a sociedade, e em contribuirmos para a promoção de práticas de investimento sustentável, com o propósito de acelerar o processo de transição para uma economia neutra em carbono. O ESG (Environmental, Social, Governance) enquanto “expressão financeira” da sustentabilidade, está presente no modelo de negócio do novobanco, nas nossas métricas, e é uma das nossas prioridades. Para além do enquadramento regulatório, que cada vez mais exige a consideração de

fatores ESG, temos a responsabilidade social de reorientar os fluxos de capital para investimentos sustentáveis e de ativamente contribuir para uma sociedade que promova a sustentabilidade e contribua para um futuro mais verde e inclusivo. E este objetivo está presente quer nas nossas práticas internas, valores e políticas, mas também, e cada vez mais, na relação com os nossos clientes ao nível dos produtos e serviços, bem como na avaliação de risco. Ao nível do financiamento estamos muito comprometidos em ajudarmos os nossos clientes na sua jornada de transição e transformação dos seus modelos de negócio e processos produtivos. Este apoio consubstancia-se através da disponibilização de linhas de crédito e de produtos específicos que já temos para o financiamento de investimentos nas áreas de eficiência energética, energias renováveis, economia circular ou processos produtivos mais eficientes, e também através de parcerias que estabelecemos com terceiras partes que podem apoiar os nossos clientes na análise técnica e ajudar a encontrar as melhores soluções para a adaptação do seu negócio e implementação dos seus programas de transição.

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“A sustentabilidade representa não só grandes desafios como também importantes oportunidades”
ECONOMIA
LUÍSA SOARES DA SILVA, CHIEF LEGAL COMPLIANCE OFFICER DO NOVO BANCO
*Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico

O nosso posicionamento perante o ESG é estrutural, tem objetivos ambiciosos e materializados, acompanhados mensalmente num modelo de governo interno estabelecido para o efeito e impacta a nossa cadeia de valor, os nossos colaboradores, os nossos fornecedores, os nossos clientes e as comunidades que servimos. Temos o firme propósito de pautarmos as nossas práticas de negócio pela urgência de contribuirmos para uma economia mais sustentável, porque acreditamos que este posicionamento também cria mais valor para a organização no longo prazo e a prepara melhor para futuros possíveis riscos climáticos, ambientais e sociais. Esta materialidade consubstancia-se também no nosso “Modelo de Dividendo Social” que reflete a forma como abordamos as nossas prioridades de sustentabilidade e ESG, os nossos compromissos e o nosso impacto positivo. O “Dividendo social 2022 – 2024” integra as três dimensões da sustentabilidade: ambiental, social e de governo corporativo, quer no modelo de negócio, quer na cultura do banco. Definimos três programas –Ambiente, Bem-estar social e financeiro e Banca Responsável – e estabelecemos iniciativas, indicadores a acompanhar e 15 objetivos muito concretos para cada um destes programas, que refletem os nossos compromissos com a sustentabilidade e são acompanhados e comunicados publicamente todos os trimestres. Por exemplo, temos o compromisso de financiamento a empresas cuja atividade económica principal ou projeto esteja alinhado com os objetivos da Taxonomia Europeia (linguagem criada pela CE para definir os critérios para classificação das atividades que contribuem para dar resposta aos desafios climáticos

e ambientais, disponibilizando a empresas e investidores, um conjunto de critérios de classificação objetivos, que permitem identificar). Os desafios são enormes e exigem uma cultura empresarial de maior responsabilidade social e corporativa. Já no curto prazo, temos objetivos bastante ambiciosos para o ano de 2023, em particular, na incorporação de fatores de sustentabilidade na nossa aferição de riscos e na avaliação dos nossos clientes e carteira de crédito. Queremos corresponder às expetativas dos nossos clientes e restantes stakeholders, e ao papel catalisador que se espera dos bancos na transição para economia sustentável, neutra em carbono, contribuindo para o cumprimento dos desígnios económicos e planos de ação para o clima nacionais e europeus, e acreditamos que podemos ser o fio condutor entre estes diversos participantes na prossecução desses objetivos.

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ECONOMIA
Movimento Mulheres pelo Clima dos países de língua portuguesa para o Mundo Image by pch.vector on Freepik

Os motores da transição para investimentos sustentáveis

dos painéis solares durante a última década.

Se houver procura, é vital que haja oferta e os gestores, tais como a BlackRock, têm estratégias para permitir essa oferta. Das várias que existem, destacaria algumas das mais populares, nomeadamente as estratégias otimizadas, com alguns filtros, bem como as classificações de ESG e descarbonização ou métricas. Existe também a solução de investimento temático, onde uma carteira pode agregar áreas como as alterações climáticas, transporte elétrico, inclusão ou diversidade. Finalmente, há também a oferta Impact, onde o foco é investir em empresas cujo impacto é material, adicional e mensurável.

ANDRÉ THEMUDO, RESPONSÁVEL DE NEGÓCIOS EM PORTUGAL, BLACKROCK

Atualmente, em qualquer carteira de investimentos, a sustentabilidade não pode ser deixada de lado.

O investimento da ESG é cada vez mais procurado e a oferta para este tipo de produto tem acompanhado o ritmo da sua crescente procura.

Com o agravamento da situação macroeconómica em 2022, um ano de transição em contraste com a estabilidade económica dos últimos anos, e com as várias mudanças económicas, geopolíticas e de saúde pública, muitos investidores continuam a acreditar na sustentabilidade como um dos seus principais catalisadores para os seus investimentos. Acima de tudo, querem saber como se podem preparar para o risco climático e como podem captar oportunidades numa economia em transição.

Na BlackRock a nossa abordagem ao investimento baseia-se em três princípios, e aplicamos essa mesma

abordagem à forma como avaliamos os fatores de risco e retorno relacionados com a sustentabilidade, incluindo os relacionados com o clima. Quando falamos da procura deste tipo de soluções de investimento, existem 3 forças que podem explicar a sua elevada procura. Em primeiro lugar, a política governamental, uma vez que foi estimado que, por exemplo, os EUA estão a gastar 520 mil milhões de dólares na transição para 2022-2027 . Em seguida, há as preferências dos consumidores, uma vez que os comportamentos individuais mudaram em relação ao passado e novas gerações estão a emergir muito mais identificadas com estes valores, seja na forma como se vestem, como se movem e, com o passar do tempo, como investem. Por exemplo, as vendas anuais globais de veículos elétricos duplicaram em 2021. Finalmente, não podemos esquecer a inovação tecnológica. De acordo com a Agência Internacional de Energia, houve uma redução de 85% nos custos

A abordagem global de investimento da BlackRock está enraizada no nosso dever fiduciário e informada por três princípios: começamos por compreender os objetivos de investimento do cliente no âmbito do mandato que nos dão; procuramos os melhores retornos ajustados ao risco; e sustentamos o nosso trabalho com investigação, dados e análises. Aplicamos essa mesma abordagem à sustentabilidade e à forma como avaliamos os fatores de risco e retorno relacionados com a sustentabilidade, incluindo o clima e a transição com baixo teor de carbono.

Ao procurar incorporar as diferentes visões dos nossos clientes sobre sustentabilidade nos nossos processos de investimento, podemos permitirlhes fazer as escolhas certas para alcançar os seus objetivos.

Não temos dúvidas de que o mundo mudou, mas também sabemos que estamos apenas no início desta mudança e que a importância da sustentabilidade neste caminho é inquestionável. Uma carteira de investimentos sem qualquer preocupação com a sustentabilidade poderia deixar qualquer investidor mais distante dos níveis de rentabilidade que certamente desejará atingir.

42
ECONOMIA *Texto escrito ao abrigo do novo
ortográfico
acordo

Uma marginal sem carros mesmo à frente de casa.

Só vivido.

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No coração de Marvila, vive o Prata Riverside Village, um bairro cosmopolita e vibrante, onde a tradição casa com a modernidade e a sustentabilidade. Um bairro com lojas de arte, galerias e exposições, cafés e restaurantes, mas também com jardins interiores, espaços verdes e de lazer. Um bairro com uma luz única e uma ligação ímpar ao Tejo, onde pode disfrutar da nova marginal ribeirinha, sem carros. Um bairro com a arquitetura de Renzo Piano, que aposta em casas sustentáveis e modernas, utilizando sistemas de domótica que garantem uma eficiência energética de Classe A ou A+, assim como carregadores elétricos nos estacionamentos.

Tudo isto e muito mais tem que ser visto. Esperamos pela sua visita.

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“Os mercados de capitais podem contribuir para colocar os temas de sustentabilidade na agenda dos investidores”

uma oferta crescente, que procura captar, mas também atrair, empresas e investidores para um investimento sustentável. A Euronext produz, por exemplo, um leque muito alargado de índices com critérios ESG, que facilitam aos investidores a escolha de empresas com maior aposta nestas temáticas. Muitos destes índices constituem subjacentes de fundos e ETFs ESG, diversificando também a oferta deste tipo de produto de investimento cotados, e facilmente negociáveis em Bolsa. A Euronext tem um segmento dedicado às emissões de obrigações ESG, sejam obrigações verdes e outras, líder de mercado na Europa, que oferece às empresas uma visibilidade aumentada para o financiamento dos seus investimentos em sustentabilidade.

Odesafio dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e do Acordo Paris constituem um enorme desafio, uma longa maratona, para a qual todas as organizações têm que se empenhar. Os mercados de capitais têm um papel crítico, e as Bolsas em particular, porque podem contribuir para colocar os temas de sustentabilidade na agenda das empresas e dos investidores, e apoiar a alocação de capital que vai financiar esta enorme transformação. O plano estratégico da Euronext, designado “Growth for Impact 2024”, tem um forte enfoque no ESG, materializando a nossa visão “Build Capital Markets for Future Generations”. Este plano foi desenhado a partir de uma análise de materialidade junto dos principais ‘stakeholders’. Dessa análise resultaram 11 temas de intervenção, que foram organizados em 5 áreas de impacto – “Our Markets, Our Environment, Our People, Our Partners, Our Society”.

A Euronext integra de uma forma transversal os temas da sustentabilidade no seu processo de

tomada de decisão. Desde logo, porque ela está inserida na sua estratégia, que é definida e debatida nos órgãos de gestão da organização. “Empower Sustainable Finance” é um dos 4 pilares do Plano Estratégico. Mas também porque está integrada nos objetivos, coletivos e individuais, de todos os colaboradores da empresa, sem exceção (e consequentemente nos processos de avaliação de desempenho). Os riscos relacionados com a sustentabilidade fazem parte da matriz de riscos da empresa, e que são monitorizados em permanência.

A sustentabilidade começa “dentro de casa”, e no que respeita aos objetivos climáticos, a Euronext assumiu em 2021 o compromisso de ajustar a sua atividade para cumprir a meta de Paris de 1.5º. E decidiu fazê-lo de acordo com as regras do Science Based Target Initiative (SBTI). Este compromisso resultou na revisão de alguns processos internos, designadamente na concentração em ‘data centers’ que são carbono zero, ou numa política de viagens e frota com forte redução do impacto nas emissões de carbono.

No âmbito dos mercados que a Euronext gere e dos produtos e serviços que oferece, tem-se vindo a desenvolver

A Euronext apoia as empresas emitentes nos seus desafios da sustentabilidade. Desde logo, disponibiliza um Guia para o Reporte da Sustentabilidade, que foi recentemente ampliado para incluir objetivos e métricas climáticas compatíveis com o Acordo de Paris. A transparência das empresas nestas temáticas é importante, mas ainda há um desafio a ultrapassar relacionado com a estandardização das métricas e dos modelos de avaliação de desempenho ESG.

O ESG Bond Barometer, publicado semestralmente, procura partilhar boas práticas e desenvolvimentos regulatórios que podem ser úteis para acelerar esta temática. O serviço ESG Advisory, por exemplo, ajuda as empresas a perceberem melhor as necessidades e preferências dos investidores, e dos ‘stakeholders’ em geral, e a criar um ‘roadmap’ assente em bases de dados e analítica muito desenvolvida.

Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU têm um enorme mérito, de proporcionar uma “linguagem comum”, que procura colocar o mundo na rota certa. Mas o sucesso desta rota exige uma combinação de esforços, de entidades públicas e privadas, cada uma na sua função, para que todos tenham o incentivo certo para seguir o bom caminho.

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ECONOMIA *Texto escrito ao abrigo do novo
ortográfico
ISABEL UCHA, CEO DA EURONEXT LISBON E MEMBRO DO MANAGING BOARD DA EURONEXT NV
acordo

Grupo EDP, Galp e Jerónimo Martins nos índices

ESG da Euronext

São quatro as empresas portuguesas presentes nos grandes índices de sustentabilidade da Euronext: EDP, EDP Renováveis, Galp Energia e Jerónimo Martins. São mais de 350 os índices com o cunho ESG no grupo Euronext, e estas quatro cotadas conseguem entrar em alguns deles, estando no radar de investidores e gestores de fundos que procuram

cada vez mais empresas cujo negócio respeite as melhores práticas de ESG. As duas eléctricas do Grupo EDP são as que conseguem entrar em mais índices ESG europeus, estando a EDP em 11 e a sua subsidiária Renováveis em 10. A retalhista Jerónimo Martins está listada em seis índices e a Galp Energia aparece em cinco desses índices pan-europeus de sustentabilidade. Nos últimos anos, mais de 80% dos índices lançados pela Euronext

Isin Code

PTJMT0AE0001

ES0127797019

PTEDP0AM0009

PTJMT0AE0001

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PTEDP0AM0009

ES0127797019

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PTEDP0AM0009

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PTEDP0AM0009

PTJMT0AE0001

PTGAL0AM0009

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ES0127797019

ES0127797019

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PTEDP0AM0009

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ES0127797019

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ES0127797019

ES0127797019

Fonte: Euronext

consideram critérios ESG. De acordo com a Euronext, em 2021 foram lançados vinte novos índices ESG, que englobam critérios mais generalistas, como por exemplo o PAB (Acordo de Paris), Biodiversidade, Água Social. No ano passado, destacam-se as versões ESG dos índices nacionais dos Países Baixos (AEX ESG) e da Noruega (OBX ESG) e o Euronext Equileap Gender Equality Eurozone 100 (igualdade de género).

LISTA DE EMPRESAS PORTUGUESAS COM PRESENÇA EM ÍNDICES EURONEXT ESG

Euronext Vigeo Euro 120 Index

Euronext Vigeo Euro 120 Index

Euronext Vigeo Euro 120 Index

Euronext Vigeo Europe 120 Index

Euronext Vigeo Europe 120 Index

Euronext Vigeo Europe 120 Index

Low Carbon 100 Europe PAB Index

EN CDP Environment ESG Eurozone EW

EN CDP Environment ESG Eurozone EW

Euronext Water and Ocean Europe 40 EW

Euronext CDP Environment Eurozone EW

Euronext CDP Environment Eurozone EW

Euronext Eurozone 100 ESG

EN Climate Objective 50 Euro EW

EN Europe Sustainable 100 EW

EN Europe Sustainable 100 EW

EN Europe Sustainable 100 EW

Euronext Climate Europe

Euronext Low Carbon 100 Eurozone PAB

Euronext Eurozone ESG Large 80

Euronext Eurozone ESG Large 80

Euronext Equileap Gender Equality Eurozone 100

Euronext Positive Impact Water Eurozone

Euronext Positive Impact Water Eurozone

EN Vigeo World 120

Euronext Transatlantic Environment 50

Euronext Transatlantic Environment 50

Euronext Low Carbon 300 World PAB

Euronext Positive Impact Water World

Euronext Positive Impact Water World

Euronext ESG Biodiversity Screened World USD

Euronext ESG Biodiversity Screened World

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Country PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT Mnemo JMT EDPR EDP JMT EDPR EDP EDPR JMT EDP EDP JMT EDP EDP EDP JMT GALP EDP EDPR EDPR GALP EDPR GALP GALP EDP EDP JMT EDPR EDPR GALP EDP EDPR EDPR Name J.MARTINS,SGPS EDP RENOVAVEIS EDP J.MARTINS,SGPS EDP RENOVAVEIS EDP EDP RENOVAVEIS J.MARTINS,SGPS EDP EDP J.MARTINS,SGPS EDP EDP EDP J.MARTINS,SGPS GALP ENERGIA-NOM EDP EDP RENOVAVEIS EDP RENOVAVEIS GALP ENERGIA-NOM EDP RENOVAVEIS GALP ENERGIA-NOM GALP ENERGIA-NOM EDP EDP J.MARTINS,SGPS EDP RENOVAVEIS EDP RENOVAVEIS GALP ENERGIA-NOM EDP EDP RENOVAVEIS EDP RENOVAVEIS MIC XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS XLIS Index ENVEO ENVEO ENVEO ENVEU ENVEU ENVEU LC100 EESGP EESGP WATPR EZENP EZENP ESG1P ECO5P ES1EP ES1EP ES1EP ENCLE LC1EP ENESG ENESG EQGEP PIWEP PIWEP ENVW ETE5P ETE5P LC3WP PIWWP PIWWP EBSPW EBSWP
Name
Index
ECONOMIA

Acrescentando que: “A gestão da sustentabilidade é a solução mais adequada para enfrentar os desafios actuais, tornando-os ambientalmente responsáveis, socialmente justos e economicamente

ANA VALADO

Como define o conceito de turismo sustentável?

Turismo sustentável é um turismo responsável que pretende minimizar os impactos ambientais da sua actividade, que mantém uma relação activa com a comunidade e que visa maior transparência e equidade com ‘stakeholders’, com o objectivo de um negócio competitivo e de longo prazo. O turismo sustentável impõe que os

impactos ambientais, sociais e económicos do turismo sejam levados em consideração e sejam feitos ajustes relevantes para minimizar as consequências negativas da sua actividade. Consideram-se as necessidades dos viajantes, mas também as necessidades das comunidades, empresas locais e o mundo natural. Esta forma de fazer turismo pode traduzir-se em adoptar métodos de transporte mais sustentáveis, ficar em acomodações mais ecológicas, comer alimentos de origem local, ética e evitar actividades nocivas à comunidade.

A sustentabilidade é uma preocupação para a Visabeira Turismo?

Embora o turismo possa gerar benefícios económicos para uma região e gerar empregos, também pode ter consequências negativas, incluindo o uso excessivo de recursos, impacto na natureza e danos na cultura local e, ao mesmo tempo, contribuir para as emissões de gases com efeito de estufa. Para que o turismo continue a crescer é importante alterar os hábitos turísticos para evitar danos no meio ambiente, às comunidades locais e aos recursos naturais.

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Em entrevista à PRÉMIO, Jorge Costa fala-nos do desafio de aumentar a sustentabilidade no sector e, em particular, na Visabeira Turismo. Para este responsável, tornar o turismo sustentável é essencial para a viabilidade a longo prazo desta indústria.
viáveis”.
“Tornar o turismo sustentável é essencial para a viabilidade desta indústria”
ECONOMIA
ENTREVISTA
FOTOS GENTILMENTE CEDIDAS PELA VISABEIRA TURISMO
JORGE COSTA, VICE-PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA VISABEIRA TURISMO, IMOBILIÁRIA E SERVIÇOS SGPS, SA

Tornar o turismo sustentável é essencial para a viabilidade a longo prazo desta indústria como um todo.

A Visabeira Turismo tem vindo a implementar medidas de âmbito social, ambiental e de governação, com vista a ter uma oferta cada vez mais sustentável. Para além disso, os hábitos claramente estão a mudar e, de modo geral, as cadeias hoteleiras mais antigas estão a adaptar-se e as novas unidades hoteleiras já iniciam a sua actividade com práticas actualizadas em linha com as preocupações de sustentabilidade. Tanto por preocupação ambiental, para atrair um público cada vez mais atento e sensível a estes temas, ou para poupar recursos, toda a indústria está a tomar medidas que vão ao encontro da sustentabilidade ambiental e social.

Como a Visabeira Turismo integra conceitos de sustentabilidade nos seus processos de tomada de decisão?

Os conceitos de sustentabilidade são já parte integrante dos critérios decisores não só da Visabeira Turismo, mas do próprio Grupo Visabeira, quer nos processos de compras, selecção de equipamentos e produtos, escolha de fornecedores, optimização de processos, entre outros. O facto de estarmos a sistematizar todos os indicadores neste âmbito vai igualmente ajudar a estas questões terem um papel cada vez mais relevante na tomada de decisões.

Quer destacar-nos algumas das principais iniciativas de sustentabilidade que a Visabeira Turismo implementou nos últimos tempos?

Aumentar a sustentabilidade na Visabeira Turismo, e em geral na hotelaria, é um dos grandes desafios do sector. Existem

quatro eixos que consideramos nas decisões para tornar a nossa cadeia de hotéis mais sustentável: o impacto ambiental, económico, social e cultural. Das várias medidas que tomámos, destaco a utilização de equipamentos eficientes com vista à diminuição de consumos em especial de água e energia, consumo e valorização de produtos e produtores locais, implementação de medidas com vista à redução do uso de plástico, nomeadamente garrafas de plástico e ‘amenities’ em embalagens individuais em plástico. Também o nosso destaque para o Farm to the table, ou seja, produção agrícola própria para abastecimento dos restaurantes da marca. Apostamos igualmente na sensibilização, formação e qualificação de colaboradores nesta área. Por fim, destaco ainda o papel que temos tido em termos de sustentabilidade cultural, pelo património classificado que temos recuperado e preservado no âmbito da nossa atividade hoteleira. Deste último ponto destaco a “Casa da Ínsua”, a conversão de um palácio barroco do séc. XVIII numa unidade hoteleira de charme, em Penalva do Castelo, a 20 minutos de Viseu, e o recém inaugurado Montebelo Mosteiro de Alcobaça, um projecto do arquitecto Eduardo Souto Moura que de forma exemplar converteu o Claustro do Rachadouro numa unidade de cinco estrelas perfeitamente integrada no Mosteiro de Alcobaça, que além de uma das Sete Maravilhas de Portugal é Monumento Nacional e classificado Património da Humanidade pela UNESCO. O conceito do arquitecto Eduardo Souto Moura para ressuscitar o vetusto edifício foi inspirado no minimalismo e desapego da vida conventual, limpando o mesmo das inúmeras intervenções mais recentes e recuperando o espírito que marcou o imóvel ao longo dos

séculos.

Esta visão de arquitectura conseguiu destacar o virtuosismo e qualidade de materiais nobres como a pedra, a madeira, as peles, o aço, o betão e o vidro, em perfeita união com as seculares raízes do edifício e o irrepreensível respeito pelas pré-existências e pela história do Mosteiro.

Para além do projecto, o Arquiteto Eduardo Souto Moura é, também, o responsável pelo ‘design’ do mobiliário, especialmente desenvolvido para o hotel e pela decoração do espaço.

Este projecto é um exemplo de como a articulação entre a actividade privada e o património público dá respostas à recuperação e manutenção de espaços, tendo a intervenção constituído uma responsabilidade incomensurável, dadas as condições de degradação em que se encontrava aquela ala do monumento.

Ao mesmo tempo, foi um enorme desafio à capacidade de engenharia e de adaptação do espaço ao conforto e segurança que contemplam a experiência hoteleira contemporânea, numa intervenção que valorizasse a existência social e cultural do património, integrando-o harmonicamente nas necessidades funcionais da unidade hoteleira, sem perder o espírito do edificado.

Como a Visabeira Turismo garante que as suas unidades turísticas atendem aos padrões de sustentabilidade adequados?

As unidades hoteleiras precisam de soluções claras e objectivas para as questões da sustentabilidade e, assim, adquirirem vantagem competitiva. Este tema representa um enorme desafio e uma forte necessidade de planeamento. A Visabeira Turismo já procedia a formas de controle e registo de alguns processos neste âmbito, mas, recentemente, integrou o projeto Empresas Turismo

48
ECONOMIA

EXISTEM QUATRO EIXOS QUE CONSIDERAMOS NAS DECISÕES

PARA TORNAR A NOSSA CADEIA DE HOTÉIS MAIS SUSTENTÁVEL: O IMPACTO AMBIENTAL, ECONÓMICO, SOCIAL E CULTURAL.

360º em conjunto com o Turismo de Portugal, o que vai permitir avaliar o nosso posicionamento na área ambiental, social e de governação. Integrar este projecto está a ajudar-nos a definir uma estratégia de sustentabilidade, gestão e monotorização do desempenho e conseguir fazer um reporte regular dos resultados. A gestão da sustentabilidade é a solução mais adequada para enfrentar os desafios actuais, tornando-os ambientalmente responsáveis, socialmente justos e economicamente viáveis!

As novas unidades inauguradas este ano, nomeadamente em Moçambique e em Lisboa, atendem a requisitos mais exigentes ao nível do ESG do que a unidades hoteleiras e turísticas

já existentes? Quais as principais apostas?

Como já referi, a nossa aposta nesta área passa nomeadamente pela utilização de equipamentos com vista a consumos mais eficientes de água e energia, valorização de produtos e produtores locais, implementação de medidas com vista à redução ao mínimo do uso de plástico, aposta na formação e qualificação de colaboradores nestes temas e também, nestes projetos, no investimento na recuperação e preservação de Património Classificado e Natural.

Quais os desafios enfrentados pela Visabeira Turismo na implementação de práticas de turismo sustentável e como estão

a ser superadas essas dificuldades?

No decorrer do processo deparamo-nos com dificuldades internas e externas, associadas muitas vezes à organização e sistematização da informação, reduzida formação nestas matérias, inconsciência da importância das pequenas acções, objectivos com retornos de longo prazo, inércia inata à alteração de alguns processos, entre outros.

O que está previsto nesta área para o futuro?

Para o futuro pretendemos consolidar algumas das medidas já previstas, nomeadamente, plástico 0, optimização de consumos, aumento de parcerias locais e aposta na formação e informação de colaboradores, clientes, fornecedores

49
ECONOMIA

e partes interessadas.

Para 2023 pretendemos analisar uma maior aposta na produção energética sustentável, aproveitando o saber interno e localização privilegiada de alguns espaços.

Também de forma mais rigorosa, seguindo padrões nacionais e internacionais, elaborar os relatórios de sustentabilidade permitindo saber exactamente onde estamos e desenvolver de forma mais eficiente planos de melhoria.

Portugal está no bom caminho para um turismo sustentável? Na sua opinião este conceito já é importante para atrair estrangeiros ao nosso país?

DOS GRANDES

Penso que sim, claramente os clientes valorizam cada vez mais as cadeias hoteleiras que têm um verdadeiro compromisso com a sustentabilidade e estão dispostos a reconhecê-las com a sua preferência. Existe uma tendência cada vez maior dos consumidores a preferir hotéis com sentido de responsabilidade social, pelo que a própria imagem de marca é beneficiada.

Programas como Empresas Turismo 360º colocam o Turismo de Portugal como pioneiro no caminho da sustentabilidade, colocando o sector no rumo certo para o futuro.

Em 2022, o Grupo inaugurou o Montebelo Milibangalala Bay Resort, perto de Maputo, em

Moçambique e o hotel Montebelo Mosteiro de Alcobaça, da autoria do arquitecto Souto Moura. Que novas unidades estão previstas para este ano e em que geografias?

Além destas duas unidades em Portugal e Moçambique inauguradas em 2022, que já se estão a revelar como referências do sector em 2023, temos uma inauguração prevista para o início de 2023. A cadeia Montebelo Hotels & Resorts vai inaugurar no coração de Lisboa, no Chiado, o Montebelo Vista Alegre Chiado Hotel, uma unidade associada a uma das marcas portuguesas com maior prestígio, a Vista Alegre.

Esta unidade, localizada no Largo Barão de Quintela em pleno Chiado,

50
“ A SUSTENTABILIDADE NA HOTELARIA É
ECONOMIA
UM
DESAFIOS DO SECTOR.

será um cinco estrelas com cerca de 58 quartos e suites com um excelente bar e restaurante.

Neste momento quantas unidades hoteleiras e turísticas possui o grupo Visabeira?

Com 15 unidades em Portugal e Moçambique, a Montebelo Hotels & Resorts conta com uma história de mais de 25 anos na hotelaria portuguesa, sendo a maior cadeia hoteleira da região Centro de Portugal.

Uma vasta tradição gastronómica e a ligação rápida a outras cidades nos seus destinos tornam os seus hotéis e ‘resorts’ o ponto de partida

os parques naturais da Serra da Estrela e do Caramulo. A nova piscina exterior, as amplas salas de reunião e as esplanadas oferecem uma estadia ainda mais completa. A terceira unidade está localizada no centro histórico de Viseu, junto aos principais monumentos da cidade, o Montebelo Palácio dos Melos tem uma envolvência palaciana nas muralhas da cidade, sendo o local ideal para uma confortável estadia a um passo do melhor que a cidade oferece: gastronomia, história e tradição. Percorrendo a zona centro e antes de chegar a Coimbra, junto à Barragem da Aguieira, o Montebelo Aguieira Lake Resort & Spa está

Montebelo Lisbon Downtown Apartments tem apartamentos totalmente equipados, pensados para férias em lazer, visita de negócios ou estadias prolongadas. Em 2023 reforçará a sua presença na capital com a abertura de mais um hotel em parceria com a marca Vista Alegre. O Montebelo Vista Alegre Lisboa Chiado Hotel será um hotel de charme, com a chancela da marca centenária de porcelana portuguesa Vista Alegre, localizado no coração de Lisboa, numa das principais ruas do Chiado, a Rua do Alecrim. No final do ano passado, a cadeia protagonizou uma das aberturas mais esperadas em Portugal. Com a mais privilegiada localização,

EXISTE UMA TENDÊNCIA CADA VEZ MAIOR DOS CONSUMIDORES A PREFERIR HOTÉIS COM SENTIDO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL, PELO QUE A PRÓPRIA IMAGEM DE MARCA É BENEFICIADA.

ideal para partir à descoberta da tradição, cultura e experiências que a Montebelo proporciona aos seus hóspedes e convidados, quer se trate de uma viagem de negócios, uma estadia em família ou um evento corporativo.

Com origem em Viseu, a cadeia Montebelo dispõe de três unidades na cidade. A primeira unidade do grupo, o Montebelo Viseu Congress Hotel é um incontornável marco na hotelaria do centro de Portugal. O recentemente remodelado hotel oferece o melhor da hospitalidade e gastronomia, quer para estadias em trabalho, quer para quem viaja em lazer.

O segundo, e também ele alvo de uma remodelação total em 2020, o Montebelo Príncipe Perfeito Viseu Garden Hotel tem vista para

perfeitamente enquadrado na natureza envolvente, tornando-se um destino de referência para férias em família, retiros de desporto, reuniões e eventos. Chegando à costa oeste, encontramos um dos maiores marcos da marca, o Montebelo Vista Alegre Ílhavo Hotel é um símbolo da história, arte e cultura da região Centro de Portugal, aliado ao valor universal do património e história de uma das mais prestigiadas marcas portuguesas: a Vista Alegre. Com rápida expansão territorial, a cadeia Montebelo chegou há dois anos a Lisboa com localização privilegiada na Baixa Pombalina, a 5 minutos a pé do Rio Tejo e da Praça do Comércio, onde se encontram dois restaurantes do grupo, no número 156 da Rua da Prata, o

num dos claustros do monumental Mosteiro de Alcobaça, o Montebelo Mosteiro de Alcobaça Historic Hotel é um projecto do prestigiado arquitecto Souto Moura, vencedor do prémio Pritzker 2011 e representa a aposta da marca Montebelo na hotelaria 5 estrelas.

A encerrar a oferta hoteleira, a Visabeira Turismo dispõe de mais uma marca no seu portefólio, que é a única unidade da rede Paradores fora de Espanha, a Casa da Ínsua. Localizada em Penalva do Castelo é um palacete barroco do séc. XVIII que conjuga passado e presente em detalhes requintados inserido na Quinta da Ínsua, uma quinta de produção vinícola da região demarcada do Dão e da região demarcada do Queijo Serra de Estrela e Maçã de Bravo Esmolfe.

51
“ ECONOMIA

A mobilidade urbana

Amobilidade urbana é um desafio crítico para as cidades de todo o mundo. Com o crescimento das populações, e as áreas urbanas a serem cada vez mais afectadas pelo congestionamento, é crucial encontrar formas mais sustentáveis e eficientes de transportar as pessoas e os bens. Neste contexto, o sector automóvel desempenha um papel vital.

O sector automóvel tem contribuído significativamente para melhorar a mobilidade urbana, através do desenvolvimento de novas tecnologias e soluções, como os veículos eléctricos, que oferecem uma alternativa mais sustentável. Adicionalmente, a indústria tem investido intensamente em investigação e desenvolvimento, para criar veículos mais eficientes e sustentáveis, seguros e melhores

para o ambiente.

O “veículo conectado” é outra contribuição importante do sector automóvel. Ao aproveitar o poder da tecnologia, tem-se tornado possível melhorar a segurança e o fluxo de trânsito nas estradas, contribuindo para torná-las mais seguras e fluídas.

O sector automóvel apresenta-se assim como um parceiro chave na obtenção de soluções de transporte sustentáveis e eficientes.

É importante reconhecer estas contribuições e apreciar o esforço do sector automóvel para melhorar a mobilidade urbana e a sustentabilidade.

Apesar desta evolução da indústria, a média de idade dos veículos ligeiros de passageiros, é de 13,8 anos em Portugal e encontram-se a circular um milhão e meio de veículos com mais de 20 anos.

Actualmente, a média de idade dos veículos em fim de vida abatidos em Portugal é de 24 anos, comparado

com a média de 19 anos há uma década. Este parque automóvel envelhecido é mais poluente e menos seguro, o que justifica a necessidade de renová-lo. Neste sentido, é fundamental que o Governo crie medidas para a renovação do parque automóvel, através da reposição dos incentivos ao abate na compra de um veículo novo, garantindo assim acesso a veículos mais seguros e menos poluentes para as pessoas. A mobilidade é fundamental nas nossas sociedades, sendo assim importante que os Governos apostem numa mobilidade sustentável, segura, inteligente e inclusiva. A indústria automóvel tem definido os seus 4 pilares para esta década: electrificação, veículos autónomos, conectividade e mobilidade partilhada. Estes pilares vão mudar a forma como a sociedade se move no futuro, mas é necessário ter uma abordagem inclusiva, tendo em consideração todo o ambiente rodoviário, como o controlo do tráfego, a transmissão de dados e a circulação de veículos de mercadorias.

Adicionalmente, estamos a viver num momento crucial, com a necessidade de proteger o ambiente através da redução das emissões e da poluição, devido aos compromissos ambientais e regulamentação aprovada. A União Europeia estabeleceu uma meta ambiciosa de redução das suas emissões líquidas de gases com efeito de estufa em pelo menos 55% até 2030, em comparação com 1990, e com o objectivo de se tornar o primeiro continente com um impacto neutro em termos climáticos até 2050. Este conjunto de medidas é conhecido como “FIT FOR 55” e faz parte do Green Deal Europeu, que introduz novas medidas políticas necessárias para implementar mudanças transformadoras na economia, na sociedade e na indústria.

Abraçar a inovação na mobilidade é crucial para a sustentabilidade, eficiência e um futuro inclusivo.

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ECONOMIA
HELDER PEDRO, SECRETÁRIO-GERAL DA ACAP
M O D E R N M E C HA N I C A L O P E N G E A R R E S E C C H - 6 9 2 6 - B L G O E D I Ç Ã O L I M I T A D A ( 5 0 ) • • • C a ix a e m a ç o d e 4 4 mm c o m re v e s t i m e n t o d e C V D a z u l r e si s t e n t e a r i s c o s

Roupas Sustentáveis que estão na moda

Omercado da moda tem sido caracterizado ao longo dos tempos pelo curto ciclo de vida dos seus produtos, pois na mudança de cada estação novas peças são apresentadas, fazendo com que os produtos das colecções anteriores, estando ou não bem conservados, sejam descartados por não estarem mais “na moda”.

Segundo dados recentes da Organização Mundial das Nações Unidas, a indústria têxtil é a segunda mais poluente do mundo, responsável por 20% das águas residuais e 10% das emissões de gases de efeito de estufa a nível mundial.

O consumo excessivo na indústria da moda é efectivamente um problema, afinal todos temos mais peças de roupa do que aquilo que realmente precisamos, incentivados pelos preços baixos e pelo lançamento de novas colecções várias vezes no ano, levando a um consumo desenfreado, descartando mais facilmente aquilo que temos e, consequentemente, levando

as marcas a produzir muito mais do que o nosso planeta consegue suportar. No entanto, esta tendência tem vindo a mudar nos últimos tempos e promete uma verdadeira revolução nos próximos anos. Muitas marcas estão a redefinir as suas estratégias e a adoptar alguns princípios para um desenvolvimento mais sustentável. Novos materiais, terminologias e conceitos estão a surgir todos os dias. A palavra “Reciclar” está a assumir primordial importância também no mundo da moda e a trilogia comprar “menos”, “melhor” e “mais duradouro” é premissa fundamental.

Não existe uma forma única de definir uma marca como “sustentável”. Antes de mais, a sustentabilidade pode ter várias vertentes: ambiental, social, económica e, claro, financeira.

Por definição todas as empresas procuram ser sustentáveis financeiramente. Já em relação aos aspectos ambientais, a história é bastante diferente. Isto apesar das preocupações ambientais e sociais das empresas estarem, cada vez mais, na ordem do dia.

A moda sustentável baseia-se na

preservação do meio ambiente em todas as suas etapas de produção, procurando reduzir a quantidade de poluentes usados na fabricação dos produtos e minimizando a utilização de matérias-primas da natureza. Mas não só. Algumas marcas aliam as preocupações ambientais, a preocupações sociais e económicas na sua actividade. Nestas vertentes são desenvolvidas estratégias que potenciem a economia local, as condições e remuneração das pessoas envolvidas nas várias fases do ciclo produtivo e é dada atenção não só à faturação da empresa, mas também ao valor e riqueza que essa faturação cria naqueles que estão fora da empresa, mas que acabam por ter uma ligação, directa ou indirectamente, à sua actividade.

Para que possa fazer escolhas informadas quando fizer as suas compras, existem alguns conceitos e palavras que fazem parte de uma terminologia ecológica utilizada pelas marcas e que deve sempre ter presente.

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ECONOMIA
O capitalismo trouxe-nos hábitos de consumo e produção que agora precisamos de contrariar e repensar, por isso cada vez mais marcas estão a adaptar-se ou já nascem com um propósito consciente. Fique a conhecer alguns exemplos a nível nacional e internacional.
LARISSA GOLDNËR

CONCEITOS A RETER PARA UMA COMPRA INFORMADA

> Compensação de Carbono: É necessário reduzir as emissões dos gases com efeito de estufa (GEE) e, por essa razão, muitas marcas estão a repensar as suas cadeias de valor e a investir em projectos que não emitem CO2, como forma de compensar as emissões que produzem, por exemplo, investindo na reflorestação.

> Greenwashing: Define-se pela utilização de ‘marketing’ verde de forma enganosa, com o intuito de promover uma percepção errada de que as políticas ou produtos das empresas são mais sustentáveis do que aquilo que efectivamente são. É importante ir mais além do que aquilo que nos é dito nos rótulos das embalagens, porque termos como “natural”, “orgânico”, entre outros, são abrangentes, o que significa que a regulamentação, nestes casos, nem sempre é específica ou pode ser facilmente contornada. Uma forma de combater o Greenwashing é a atenção dada pelos consumidores, reguladores e outras partes interessadas à forma como as marcas comunicam as suas credenciais de sustentabilidade. Se as marcas quiserem evitar o Greenwashing devem mostrar que estão a fazer mudanças significativas e confiáveis, respeitando os requisitos regulatórios emergentes.

> Upcycling : As marcas que estão a ficar mais conscientes valorizam cada vez mais as matérias-primas dos seus

produtos. O Upcycling é uma tendência crescente que consiste em transformar e reutilizar matérias-primas que seriam consideradas desperdício.

> Transparência: Um dos factores cada vez mais exigido às marcas é que sejam capazes de rastrear os seus produtos e comunicarem com transparência. Isto significa que as empresas devem ser capazes de divulgar informações sobre toda a cadeia de valor e ao nível de políticas de sustentabilidade.

> Materiais Biodegradáveis: Esta tipologia de materiais são os que se decompõem naturalmente através de microorganismos sob condições adequadas de temperatura, humidade, luz, oxigênio e nutrientes.

> Microplásticos: Tal como o nome indica é plástico em pequenas partículas, podem nem sempre ser visíveis, sendo que os materiais sintéticos são os principais responsáveis. Este é um problema crescente que contribui muito para a poluição do mar. No entanto, há coisas simples que cada um de nós pode usar para diminuir esta poluição, começando pelos filtros de microplásticos para lavagem da roupa.

55 ECONOMIA
ADOBE STOCK

MARCAS QUE APOSTAM NA SUSTENTABILIDADE

O capitalismo trouxe-nos hábitos de consumo e produção que agora precisamos de contrariar e repensar, por isso cada vez mais marcas estão a adaptar-se ou já nascem com um propósito consciente. Fique a conhecer alguns exemplos a nível nacional e internacional.

Jacarandá

A Jacarandá produz peças femininas originais de edição limitada, com grande atenção aos pormenores. O catálogo da marca inclui vestidos, ‘tops’, casacos ou camisolas. As peças têm muita cor e primam pela diferença. O processo de produção é sustentável e transparente. Os tecidos são na sua grande maioria portugueses (em ‘dead stock’ ou reciclados) e toda a produção é feita em Portugal.

ISTO

A marca ISTO é sinónimo de transparência e compromisso com a sustentabilidade. As peças são produzidas em Portugal, sendo que a grande maioria utiliza materiais orgânicos certificados. O que distingue realmente esta marca de outras é a sua transparência na comunicação da cadeia de valor, pois é possível ver para cada peça quais os gastos de produção, desde os botões à mão de obra, e também pormenores como o cálculo real gasto na produção, o valor de venda ao público e o preço a que normalmente uma peça idêntica é vendida.

Sienna Inspo

Esta marca com um carácter próprio encontrou uma solução nas sobras de tecidos que se foram acumulando ao longo dos tempos. Nesta acumulação, Marisa Matos, fundadora da marca, viu a oportunidade de criar uma linha ‘Zero Waste’ que não só a ajudava a combater os excedentes, mas

também a criar peças únicas e exclusivas.

Captain Tom

A Captain Tom foca-se nos biquínis e fatos de banho, feitos à mão pela sua fundadora Raquel Tomaz. O tecido primordial das suas peças é o ECONYL®, produzido a partir de lixo sintético recolhido nos oceanos. O desperdício das peças dá origem a novas peças, para que nada fique por aproveitar e o planeta não seja prejudicado.

Light Years Away

Sustentabilidade, Autenticidade e Empoderamento. Seja com o planeta, consigo ou com a comunidade global. Assim nasceu a Light Years Away, utilizando ECONYL®, um tecido feito de nylon regenerado. Através do tratamento e regeneração de fontes como resíduos plásticos industriais, redes de pesca e restos de tecidos, o nylon volta à sua forma natural e pode, assim, ser trabalhado para diversos fins - nesse caso, ‘super slick & strong activewear’. As suas embalagens são compostáveis e os rótulos são feitos de papel semente, para os plantar e ver a sua contribuição para o meu ambiente florescer.

Stella McCartney

Nasceu em Londres e é vegetariana. Nunca usou couro, penas, pele ou pêlo em nenhuma das suas criações. A marca tem vindo a aumentar a sua liderança em pensamento de sustentabilidade por meio da inovação de materiais e

da cadeia de suprimentos, parcerias e muito mais.

Manui

A marca criada pela ‘designer’ brasileira Juliana Bastos surgiu em Novembro de 2016 para semear uma moda brasileira, consciente e sustentável. Com o objectivo de criar uma alternativa de moda mais responsável que impacte positivamente o planeta, tendo como base os três pilares da sustentabilidade: social, económico e ambiental. A produzir roupas com modelos intemporais, segundo o conceito ‘slow fashion’ de produção em pequena escala, procura enaltecer a cultura e a diversidade brasileira, utilizando fontes renováveis nas suas criações. Aposta na qualidade das peças e acabamentos, conferindo-lhes o máximo de durabilidade. Todas as peças são de tecidos naturais como linho e algodão. As cores e estampagens são feitas de forma artesanal, com técnicas de tingimento natural, extraindo cores de cascas, sementes, folhas e flores.

Lush

Também a cosmética pode ser sustentável e cada marca tem a sua própria abordagem, seja nas embalagens feitas de material reciclado, matérias-primas consideradas sustentáveis ou fórmulas mais amigas do ambiente. A Lush, por exemplo, desde a sua fundação definiu como princípio ter produtos sem embalagens e apostar na venda a granel.

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ECONOMIA

Haute Parfumerie

Desperte os seus sentidos para Pouvoir, Innocence e Mystère da nova linha Home Cosmetics Vista Alegre. Três fragrâncias exclusivas nascidas da união harmoniosa entre alta perfumaria e decoração para criar ambientes únicos e personalizados em sua casa.

vistaalegre.com

4 ways to improve economic opportunities for women around the world

Too many women are locked out of economic opportunities, which is not only unfair but also harms growth and resilience for all. We know that in countries with greater gender inequality just closing the gap in women’s labor force participation could increase economic output by an average of 35 percent. Progress, however, is slow to come and shocks, such as health and climate disasters, social unrest, and war continue to worsen gender inequality by

directly affecting women’s lives and livelihoods or keeping them out of school and work.

Appropriate economic and financial policies can help change these negative outcomes, improving economies by supporting the recovery and building resilience against future shocks. A dividend for women, in other words, is a dividend for all. For instance, while the pandemic set women further back everywhere, it also drove policy innovation s. Several extraordinary pandemic assistance programs targeted women and brought more

people into social safety nets. The latter makes it easier to provide targeted assistance to cope with the current food and fuel price spikes. For policymakers, there are wellproven solutions to adopt gendersensitive macroeconomic actions. First, step up investment in women’s human capital. The gains from providing women equal access to food, healthcare, and education are especially large in emerging and developing economies. Think of cash transfers that help families afford the basics in countries with less developed social safety nets.

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SOCIEDADE | WORLD ECONOMIC FORUM

“ Capturing the dividends from women’s economic equity.

Women have equal legal standing with men in just 12 out of 190 countries surveyed by the World Bank

women to work and also creates jobs directly.

Brazil introduced the Emergency Aid cash transfer program early in the pandemic, which provided double the benefits to women-led households.

IMF staff estimates show that the poverty rate among such households would have increased from 11 percent to more than 30 percent without Emergency Aid; instead, it fell to about 8 percent. And Egypt recently expanded cash assistance to lowincome single mothers helping them keep their children healthy and in school. In Togo, mobile technology helped expedite emergency financial support during the pandemic, especially benefitting women. The second confirmed solution is enabling women to work outside the home or start their businesses. Reforms to taxation, public spending, financial infrastructure and regulations, as well as labor markets can help. Providing access to quality and affordable childcare frees up more

In Norway, the expansion of universal childcare increased the likelihood of mothers’ employment by 32 percentage points. In emerging and developing economies, access to mobile phones and the internet opens the door to economic opportunity. For instance, IMF research shows that traditional and digital finance is helping close the gender gap in access to financial services, including microlending—resulting in lower income inequality and higher growth. A third area to tackle is biases . Out of 190 countries surveyed, the World Bank found that women were on equal legal standing with men in just 12 countries. Gender-based discrimination in social institutions costs the world economy $6 trillion according to the Organisation for Economic Co-operation and Development. But in recent years, countries have reduced these costs through social and legal actions such as curbing underage marriage, criminalizing domestic violence, and increasing the number of female elected officials. Fourth, increasing the representation of women in leadership positions is also critical . IMF analysis shows that a greater presence of women in financial institutions and financial policymaking goes hand in hand with greater financial resilience. And in fintech firms and the corporate sector, more women in leadership is associated with better performance and profitability, respectively.

The IMF’s Gender Strategy

The IMF has supported members in deploying and improving gender policies for a number of years. And recently, our Executive Board approved the first comprehensive IMF Strategy for Mainstreaming Gender to

help our members adapt pro-gender equality policies to their unique circumstances.

The strategy recognizes that macroeconomic and financial policies affect women and men differently, often unintentionally. We are helping policymakers identify and remedy these biases by applying a gender lens to our main activities—from our regular country policy surveillance to how we design and implement programs to our capacity development support. We have supported increased spending on women in our program countries. For example, Egypt expanded pre-school availability and improved the safety of public transport under an IMF-supported program, helping women get to jobs. And São Tomé and Príncipe, with the support of an IMF program, launched an initiative on gender budgeting—the use of fiscal policies and institutions to promote women’s equality across government programs. We also quantified the productivity benefits of getting more girls into high school in Senegal and other countries.

Under the new strategy, the Fund will work in the years ahead with our 190 members and external partners to expand both the breadth of our policy recommendations and bring greater rigor in our analysis to help more countries tailor and deploy policies that support gender equality. Over time, gender-sensitive macroeconomic and financial policies will result in higher growth, greater economic stability and resilience, and lower income inequality—a dividend not just for women, but for everyone.

Este texto foi publicado no website do World Economic Forum Link para artigo: https://www. weforum.org/agenda/2022/09/genderequality-gap-and-grow-the-globaleconomy/

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FOTO: AMY HIRSCHI/UNSPLASH
WORLD ECONOMIC FORUM | SOCIEDADE
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ENTREVISTA
SOCIEDADE
DUARTE FONSECA, DIRECTOR EXECUTIVO DA RESHAPE FOTOS: FERNANDO PIÇARRA
“Seria muito fácil resolver-se o problema da reinserção em Portugal”

Mudar a legislação prisional em Portugal e lutar por um mundo onde a reinserção é a regra e não a excepção são os “mantras” de Duarte Fonseca, director executivo da RESHAPE, associação que co-fundou em 2015, mas que começou a desenhar assim que acabou o curso de terapia ocupacional. Antes de se dedicar inteiramente a esta causa, estagiou numa prisão, passou pela empresa Beta-i, onde revela ter tirado o seu curso de gestão e inovação e foi coordenador de estratégia da associação Just a Change. Desde 2019 que se dedica a tempo inteiro à RESHAPE com o objectivo de “fazer evoluir as leis de um ponto de vista mais humano e progressista para que a reinserção seja possível”.

uando se fala na RESHAPE há uma associação, quase imediata, com a marca Reshape Ceramics (a vossa “face” comercial), mas a marca RESHAPE é muito mais do que um negócio social, pode explicar o trabalho que desenvolvem no seio da comunidade prisional em Portugal?

Sim, a RESHAPE é uma associação, uma IPSS que tem uma área de apoio social, na qual temos programas de desenvolvimento de competências sociais, um gabinete de apoio individualizado, mentorias, apoio à empregabilidade e apoio jurídico. Depois temos, ainda, a Reshape Ceramics e a área de Advocacy, porque a reinserção não é possível se a sociedade não estiver sensibilizada e se também não criar oportunidades para estas pessoas que saem das prisões. Nesse sentido, trabalhamos muito com a Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, com a Secretaria de Estado e com o Ministério da Justiça, para fazer evoluir as leis do ponto de vista mais humano e progressista para que a reinserção seja possível. Fazemos também campanhas de comunicação para aumentar a consciencialização das pessoas e realizamos um grande evento anual, o Prision Insights para tornar esta área um bocadinho mais ´sexy´. O ano passado o evento aconteceu na Fundação Calouste Gulbenkian e tivemos 350 pessoas de 11 países.

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SOCIEDADE
ANA VALADO Q

Sente que já houve algum tipo de evolução no sistema prisional português desde 2015, ano em que fundaram a Associação, até à data?

Em termos de sistema no seu todo, acho que a grande evolução foi o “chamar a atenção” para o problema. A sociedade está um pouco mais desperta para este tema, mas não quer dizer que esteja no caminho certo. Vimos isso nas últimas eleições, nunca se falou tanto em pena de morte e prisão perpétua. Portanto, pelo menos o tema está na “boca do mundo”. O sistema em si, é o único que desde o 25 de Abril piorou. Se olharmos ao sistema de habitação, ao sistema de ensino, ao sistema nacional de saúde num espectro de 50 anos, o sistema prisional é o que está pior. Há uma falta de recursos crónica e uma falta de investimento que é transversal a qualquer governo porque é um tema difícil. É um tema que ninguém quer “pegar” porque custa muito dinheiro e porque estamos a falar de pessoas que cometeram crimes, portanto, ninguém quer apoiar. Diria que não houve evolução nestes 10 anos e em algumas coisas até se andou para trás.

Actualmente desenvolvem a vossa actividade em quantos estabelecimentos prisionais?

Em quatro: Alcoentre, Vale de Judeus, Caxias e Izeda (Bragança), neste último o acompanhamento é digital. Depois temos outras prisões com quem trabalhamos à distância como Leiria Jovens e Torres Novas, que nos reencaminham pessoas que vão sair e que são da zona da grande Lisboa, e nós a partir daí começamos a trabalhar com elas antes de saírem, para quando saírem em liberdade, podermos encaminhar para o mercado de trabalho. Portanto, na verdade trabalhamos com seis estabelecimentos prisionais. O nosso objectivo não é ir para

AS PRISÕES DEVEM SER

SUBSTITUÍDAS, TENDENCIALMENTE, POR CASAS DE DETENÇÃO E ESTAS CASAS

SIM, JÁ PODEM ESTAR NOS GRANDES

CENTROS DAS CIDADES E INSERIDAS NA COMUNIDADE.

as 50 prisões, mas sim mudar o sistema prisional e, portanto, não pretendemos escalar muito mais do que aquilo que já temos.

Conseguem ter a noção do número de pessoas que já impactaram?

Sim, já apoiamos mais de 300 pessoas. Por ano, passam pelos nossos programas mais de 100 pessoas. Algumas são repetidas. O que acontece é que o nível de apoio é muito diferente. O Filipe [nome fictício da pessoa que estava no ´atelier´

a trabalhar no momento da entrevista] conhecemos em 2019 e acabou por passar por todos os programas que nós temos e isso é o ideal e, portanto, o impacto é muito mais visível. Outras pessoas acabamos por perder o rasto, porque, entretanto, são libertadas, são transferidas de prisão, etc. Também já temos casos de insucesso, de pessoas que voltaram a ser presas. No final de contas, isto depende deles, nós podemos tentar facilitar o caminho, mas o caminho depende deles. Não consigo dar um número exacto. Aquilo que

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“ SOCIEDADE

consigo dizer é que pessoas que passaram pela Academia Reshape, que são acompanhadas, de forma comprometida do lado deles, pelo Gabinete Reshape, regra geral em meia dúzia de semanas estão a trabalhar seja aqui [no ‘atelier’ da Reshape Ceramics] ou noutro lado.

A RESHAPE assegura esses postos de trabalho?

Sim, trabalhamos com uma série de empresas, fazemos parte da RedEmprega em Lisboa, que é gerido pela fundação Aga Khan, pela Câmara Municipal de Lisboa e pela APEA, a Associação Portuguesa de Emprego Apoiado e depois também trabalhamos directamente com algumas empresas.

São empresas directa ou indirectamente relacionadas com a área da cerâmica?

Por acaso, acho que nunca empregámos ninguém da área da cerâmica. O projecto da Reshape Ceramics, mais do que ensinar um ofício serve para dar uma oportunidade de trabalho, rotinas de trabalho, e a seguir a isto essas competências são transversais a qualquer trabalho, desde que se saiba trabalhar em equipa.

Porque escolheram a cerâmica?

Podia ter sido outro ofício, outra área de negócio...

Sim, se soubéssemos o que sabemos hoje, se calhar não teríamos começado pela área da cerâmica (risos). Basicamente, a Reshape Ceramics nasce de um projecto falhado da Associação, inspirado na Delta que já tem uma série de oficinas em meio prisional, acho que são onze, onde fazem o arranjo das máquinas de café e dos moinhos de café e pagam o mesmo às pessoas que estão presas que pagam às pessoas que estão na sua fábrica de Campo Maior. Não fazem distinção. O nosso pressuposto para ajudar à reinserção no trabalho foi inspirado neste projecto da Delta e, então, fomos propor a várias empresas criar oficinas connosco dentro das prisões e começámos a tentar vender esta ideia a muitas empresas e ao mesmo tempo a visitar as prisões e os seus espaços vazios onde potencialmente as empresas pudessem montar as suas oficinas. Não conseguimos convencer nenhuma empresa a vir connosco lá para dentro, mas encontrámos uma série de oficinas com imenso potencial. Deparámo-nos com esta antiga olaria em Caxias, totalmente equipada, tinha forno, tinha ferramentas, tinha prateleiras, até matéria-prima lá tinha. E então pensámos: “será que com meia dúzia de euros não se consegue fazer qualquer coisa? A cerâmica está na moda..”, mal sabíamos que “isto” tem muito mais que se lhe diga, do ponto de vista químico, do ponto de vista técnico e do ponto de vista do ´know-how´, do que aquilo que sabíamos. E começámos assim, não nos arrependemos, mas diria que a curva de aprendizagem tem sido difícil nos últimos dois anos, lançámos a Reshape Ceramics em 2020.

Como medem o impacto dos vossos programas?

É uma ‘never ending story’ de tentar melhorar os indicadores. Mas, essencialmente, medimos de duas formas: em vez de perdermos muito tempo com burocracias, o que

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“ O NOSSO OBJECTIVO NÃO É IR
SOCIEDADE
PARA AS 50 PRISÕES, É MUDAR O SISTEMA PRISIONAL E, PORTANTO, NÃO
PRETENDEMOS
ESCALAR MUITO MAIS DO
QUE AQUILO QUE JÁ TEMOS.

analisamos é se a pessoa após dois anos de ter estado connosco está empregada e se não voltou a ser presa. Aí temos a certeza que foi impactada. Só que isto é uma medição a longo prazo e não conseguimos fazer com todos porque muitos perdemos o contacto. Então, o que fazemos pelo caminho é definir cinco dimensões que avaliamos: o processo jurídico; o apoio social; a empregabilidade; a formação e a saúde. Nas cinco tentamos intervir, apesar de algumas ainda conseguirmos pouco. Por exemplo, estamos a tentar fechar uma parceria com um grupo de saúde que nos permita, pelo menos, apoiar a questão dentária e a questão de apoio psicológico, que são duas das coisas que nos pedem muito cá fora, porque a autoestima

e a autoimagem são 70% do caminho de reinserção. Uma pessoa que esteja bem consigo própria vai conseguir, vai mais confiante para uma entrevista, vai fazer as coisas, vai acordar com energia e a probabilidade de reinserção é muito maior. Já temos o apoio jurídico com a Morais Leitão, que é óptimo e na área da saúde estamos a tentar fechar uma parceria. O impacto também se mede nestas pequenas coisas. Há uma sexta dimensão que gostávamos de estar a trabalhar, mas que é das coisas mais difíceis em Portugal, a habitação. Há uma grande falta de habitação para quem sai e não tem ninguém, nenhum suporte social, e nós ainda não temos essa reposta, estamos a tentar abrir uma casa de saída para colmatar esta situação.

Qual considera ser o sistema prisional mais inovador?

Eu acho que todos os países ainda estão na mesma lógica de sistema prisional. Para termos uma ideia, a prisão enquanto pena é algo muito recente na história da humanidade, nasce há 250 anos, pelo Cesare Beccaria, um italiano que escreve um livro e é considerado o pai da Penal Moderna Contemporânea e, na altura, foi altamente humano porque o que havia era a detenção, que existia só para as pessoas esperarem pelo castigo, que seria corporal, o desterro ou a morte, portanto, a prisão na altura foi altamente humana. Mas a partir dai nós continuamos a usar os mesmos princípios de

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SOCIEDADE
A RESHAPE Ceramics, mais do que ensinar um ofício, serve para dar uma oportunidade de trabalho

tratamento penitenciário que há 250 anos. Depois podemos dizer: “mas nessa altura as condições de infra-estruturas não eram tão boas”. Certo. Mas hoje em dia a evolução não foi assim tanta. Em 2008, em Portugal, ainda havia prisões com o chamado “balde higiénico”, ou seja, prisões que não tinham casas de banho para todos. Nós acreditamos, e se olharmos para todos os problemas sociais, todos fizeram este movimento desde os anos 80, no movimento da comunidade. As prisões devem ser substituídas, tendencialmente, por casas de detenção e estas casas sim, já podem estar nos grandes centros das cidades e inseridas na comunidade. Teríamos uma casa de alta segurança, uma casa para alfabetização, uma casa para mães e uma casa para idosos com falta de mobilidade.

E já se assiste a esse movimento noutros países?

Sim, este movimento começa a aparecer em vários países como a Bélgica, Holanda, Malta, Itália e

França. Nós fomos co-fundadores de uma associação internacional, sediada em Bruxelas, que se chama ‘Rescaled’, que segue exactamente este princípio. Mas se tivesse de eleger um, diria o modelo francês, que apesar de ter um sistema prisional péssimo, tem umas casas que se chamam “Le placement à l’extérieur” com quintas, onde eles cumprem os dois últimos anos de pena para reinserção. O sistema holandês também tem este modelo. Um dia, a Reshape Ceramics não será aqui [no ‘atelier’], será dentro de uma dessas casas. O mesmo se passará com todos os nossos programas, onde se juntarão pessoas que estão presas, que já estiveram e outras pessoas da comunidade e aí é que a integração acontece.

Quando acha que tudo isto será uma realidade em Portugal?

Uma das coisas que aprendemos é que não podemos perder a visão futura e final, mas não podemos vender a totalidade da visão porque os decisores pensam a dois/quatro

anos e estas mudanças não vão acontecer em quatro anos, por isso, temos de vender visões mais pequenas, passos intermédios. Neste momento, estamos a propor uma alteração legislativa, baseada na lei francesa, que é muito próxima da nossa, para que os dois últimos anos de pena possam ser cumpridos numa espécie de comunidades terapêuticas, como já existe para a questão das toxicodependências. Ainda por cima, tivemos a COVID-19 que para nós foi positivo no sentido em que houve uma libertação de quem faltava só dois anos e houve muito pouca reincidência, não houve mais crime por causa disso. Portanto foi a prova que estamos a prender demais. Quando mais cedo soltarmos, maior a probabilidade de sucesso a seguir. Portanto, juntando estes dois argumentos, acho que vai ser uma realidade em Portugal.

Qual é o vosso próximo sonho “intermédio”?

O próximo sonho é abrir uma casa de saída. É conseguir ter esta sexta dimensão da habitação.

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“ HÁ UMA FALTA DE RECURSOS CRÓNICA E UMA FALTA DE INVESTIMENTO QUE É TRANSVERSAL A
SOCIEDADE
QUALQUER GOVERNO PORQUE É UM TEMA DIFÍCIL.

Semear oportunidades para quem mais precisa

Um projecto de inclusão social onde o sucesso do negócio está mais no impacto social que provoca do que na maximização dos lucros. O SEMEAR pretende a plena inclusão de todas as pessoas com deficiência na sociedade portuguesa.

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SOCIEDADE
FOTOS GENTILMENTE CEDIDAS PELA SEMEAR

ANA VALADO

Potenciar a empregabilidade e integração socioprofissional de jovens e adultos com Dificuldade Intelectual e do Desenvolvimento (DID) através da formação certificada é a missão do SEMEAR, um programa integrado de inclusão social, promovido pela Associação BIPP - Inclusão para a Deficiência, que teve início em 2014, que tem como objectivo promover a plena inclusão

e a melhoria da qualidade de vida em todas as dimensões do ser humano, contribuindo para uma sociedade mais inclusiva, mais forte e mais

coesa.

O SEMEAR trabalha com pessoas com deficiência e com as suas famílias no sentido de estabelecer pontes entre estas, o Estado e as empresas, que conduzam à sua inclusão no mercado de trabalho. Desta forma, o SEMEAR desenvolveu três negócios sociais satélite para alavancar a sua missão: a Terra, com produção de cabazes frescos de produtos biológicos, que produzem numa vasta extensão de terra em Oeiras e comercializam para particulares, restaurantes e algumas empresas. É nestes hectares de terra, onde também se realizam um conjunto de serviços

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SOCIEDADE

para empresas e particulares que vão desde o voluntariado corporativo, passando pelas actividades de campo solidárias e ‘teambluidings’ solidários, até a ‘workshops’ temáticos, ao projeto M2 (permite às empresas “apadrinharem” alguns metros quadrados), ao voluntariado individual, entre outros. Os outros dois negócios sociais são os produtos de mercearia ‘gourmet’ e a cerâmica. Para além disso, com o restaurante “Este Oeste” criaram o restaurante “ÚNICO” no CCB, que não só vende os produtos SEMEAR, como utiliza os hortícolas nas suas ementas, tendo mesmo pratos SEMEAR e emprega pessoas com DID formadas pela Academia SEMEAR.

Para além de proporcionaram oportunidades de formação e emprego a jovens e adultos com Dificuldade Intelectual e do Desenvolvimento (a taxa de emprego em Portugal de pessoas com deficiência, situa-se nos 35,6%, contra 73,2% de pessoas sem deficiência), os produtos SEMEAR, que de outra forma não entrariam no circuito comercial pela sua aparência e/ou por excessos de produção, ajudam a combater o desperdício alimentar e a defender a sustentabilidade dos recursos do planeta.

Cada produto tem na etiqueta um indicador que dá conta do número de etapas do processo (Colheita, Preparação, Rotulagem e Armazenamento) em que os colaboradores e formandos do SEMEAR participaram: Nível 1 - Participação numa das 4 etapas do processo; Nível 2 - Participação em 2 das 4 etapas do processo; Nível 3 - Participação em 3 das 4 etapas do processo e Nível 4 - Participação em todas as 4 etapas do processo.

Desta forma, o SEMEAR não só garante a igualdade de oportunidades ao trabalho e ao emprego, como coloca no mercado produtos sustentáveis de qualidade, carregados de valor social e ambiental.

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SOCIEDADE
para
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quem gere pessoas

A sustentabilidade da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023

São João Paulo II não pode ficar indiferente a este apelo. “Louvado sejas”, uma citação do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis que abre esta encíclica, remete-nos para uma ecologia integral onde todos estamos ligados, em que fazemos parte da mesma criação e temos responsabilidade sobre a forma como a cuidamos.

CARMO DINIZ, DIRECTORA DO GABINETE DE DIÁLOGO E PROXIMIDADE DO COMITÉ DE ORGANIZAÇÃO LOCAL (COL)

O Papa conseguiu trazer ao mundo um novo conceito: ecologia integral. Não se fala mais só de plantas, animais e minerais, de terra, água e ar, pois tudo está interligado. As pessoas não são excluídas do âmbito ecológico, mas, pelo contrário, são o seu motor, a parte mais responsável. Por isso, a ecologia integral diz que é preciso proteger a natureza e amar os pobres.

PADRE TONY NEVES, ASSISTENTE DO GABINETE DE DIÁLOGO E PROXIMIDADE DO COMITÉ DE ORGANIZAÇÃO LOCAL (COL)

Omundo mudou a 24 de Maio de 2015. É uma das nossas convicções mais profundas. O Papa Francisco publicou, nesse dia, a encíclica social “Laudato Si”. É, até ao momento, dos textos papais mais citado, comentado e divulgado. Gerou amigos e inimigos, foi alvo de reacções de todo o género, o que se explica pela novidade e actualidade do tema e pelos interesses económicos que põe em risco.

A Jornada Mundial da Juventude, evento criado em 1986 pelo Papa

Amar e proteger a criação em tudo o que fazemos tanto no nosso dia-adia como na organização de grandes eventos. Desde o início da preparação deste encontro o Comité de Organização Local (COL) da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023 entendeu ser necessário beber das palavras desta encíclica, a par com outra encíclica do Papa Francisco “Fratelli Tutti”. A exortação apostólica “Christus Vivit” é outro documento essencial na preparação e realização da JMJ Lisboa 2023. Garantir que a JMJ Lisboa 2023 é para todos e que cuidamos de todos os aspectos, desde o início da organização deste grande evento até podermos deixar tudo melhor do que encontrámos: é o desafio de cada um de nós. Por isso é necessário afirmar a vontade de colocar a preocupação com a sustentabilidade ambiental no centro da organização; é necessário promover acções de compensação do impacte ambiental como por exemplo o desafio a uma plantação mundial de árvores em que cada pessoa, no local onde se encontra,

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SOCIEDADE

plante e dedique árvores à JMJ Lisboa 2023. É necessário sensibilizar todas as pessoas que se relacionam com a Jornada acerca do cuidado com a nossa casa comum; é essencial formar os voluntários que estarão em contacto directo com os peregrinos para que estes tomem consciência da necessidade de poupar água e energia. Consideramos igualmente importante que saibam como se separam resíduos em Portugal. Estas acções fazem parte da estratégia de sustentabilidade na Jornada Mundial da Juventude

Lisboa 2023. A estratégia que foi desenhada com a colaboração com entidades públicas e privadas, por vezes concorrentes, mas unidas pela vontade de que esta seja uma jornada o mais sustentável possível. As novas gerações estão mais sensíveis a este desafio e são mais criativas e ágeis na hora de intervir. Sempre com a convicção de que tudo está interligado, estamos todos na mesma barca: ou nos salvamos juntos ou nos afogaremos todos. O futuro está nas nossas mãos! O cuidado com a casa comum anda em conjunto com uma fraternidade universal a que o Papa Francisco nos desafia na sua encíclica “Fratelli Tutti”, isto é, “Todos irmãos”. Este apelo do Papa não pode ser ignorado na organização da JMJ Lisboa 2023. O Papa fala-nos na urgência de cicatrizar um mundo ferido. O mundo está cheio de feridas e nota-se que muitas conquistas humanas estão a fazer marcha atrás. O racismo continua em força, embora mais disfarçado e nascem novas pobrezas. A COVID -19 recordou-nos que estamos no mesmo barco a enfrentar a mesma tempestade e ninguém se salva sozinho. O Papa Francisco propõe: ser Bom Samaritano, tornar o mundo mais fraterno, praticar a Política com

amor, apostar num diálogo plural, condenar a fome, a guerra e a pena de morte, praticar a Fraternidade entre todos os Crentes. Precisamos todos uns dos outros! Tendo presentes todas estas realidades o COL está empenhado em garantir que as pessoas que estão em situação de exclusão da sociedade estejam de alguma forma presentes neste encontro com o Papa Francisco em Lisboa. Através da colaboração na construção de alguns elementos dos principais eventos; do acesso ao fundo de solidariedade; da visita de voluntários aos locais onde os que não podem participar presencialmente nos eventos confiam os seus nomes para que os

voluntários os levem no coração numa iniciativa chamada “Gesto Missionário”; à criação de condições de acesso para uma efectiva participação de pessoas com deficiência quer como voluntários, quer como peregrinos. A mensagem final do Papa Francisco na sua encíclica “Fratelli Tutti” é clara: “Em nome de Deus e de tudo isto, declaramos adoptar a cultura do diálogo como caminho; a colaboração comum como conduta; o conhecimento mútuo como método e critério”. São estas palavras do Papa Francisco que inspiram o Comité de Organização Local (COL), que se quer encontrar com todos os jovens, de todo o mundo. Em Lisboa, de 1 a 6 de Agosto de 2023.

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SOCIEDADE
Movimento Mulheres pelo Clima dos países de língua portuguesa para o Mundo

POBREZA:

Progressos para as crianças

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável não são mais que uma agenda de concretização de Direitos Humanos. Quando pensamos nas crianças eles apontam o caminho para a realização dos Direitos Inscritos na Convenção sobre os Direitos da Criança, o tratado internacional mais amplamente ratificado. Um mundo em que nenhuma criança cresce na pobreza e cada criança pode realizar o seu potencial seria um mundo realmente diferente. É por isso que vemos o fim da pobreza infantil como um desafio definidor do progresso humano. Embora tenham existido muitas mudanças positivas nas

últimas décadas, os desafios para as crianças persistem: as crianças têm uma probabilidade significativamente maior de viver na pobreza do que os adultos, e o impacto da pobreza nas crianças pode durar toda uma vida, com implicações para as gerações futuras e para a sociedade como um todo. Além disso, as crianças enfrentam estes desafios globalmente, tanto nos países mais pobres quanto nos mais ricos. Existem soluções específicas para lidar com a pobreza infantil. Estas vão desde transferências e benefícios diretos que chegam a famílias com crianças que vivem na pobreza, até à garantia de acesso a serviços de qualidade de saúde, educação ou habitação, ou a abordagens sobre estigma e discriminação que podem (des) bloquear o potencial de desenvolvimento e não menos importante o seu potencial intelectual e equilíbrio psicológico.

1 A pandemia da COVID-19 fez retroceder progressos alcançados nos últimos 25 anos, nomeadamente em matéria de

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SOCIEDADE
*Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico
BEATRIZ IMPERATORI, DIRECTORA EXECUTIVA DA UNICEF PORTUGAL

redução da pobreza, com o número de pessoas em pobreza extrema a aumentar pela primeira vez numa geração. Agora, o aumento da inflação e os impactos da guerra na Ucrânia podem fazer subir estes números de forma considerável. Os vários tipos de impacto combinados poderão ter levado a mais 75 a 95 milhões de pessoas a viver em pobreza extrema em 2022, em comparação com as projecções pré-pandémicas.

Embora quase todos os países tenham introduzido novas medidas de proteção social em resposta à crise, muitas foram de curto prazo, e grande número de pessoas vulneráveis ainda não beneficiaram delas. Na situação atual, o mundo não está no bom caminho para acabar com a pobreza até 2030, com os países mais pobres a precisarem agora de níveis sem precedentes de investimento a favor dos mais vulneráveis para atingir este objetivo.

2 Mas também há noticias positivas: os dados disponíveis mostram que menos pessoas em todo o mundo vivem em pobreza extrema. Nos últimos anos, o mundo tem feito progressos notáveis para o desenvolvimento. Ainda assim, mais de 767 milhões de pessoas continuam a viver em pobreza extrema, destes 356 milhões são crianças.

As consequências são graves: a nível mundial, as crianças mais pobres têm o dobro da probabilidade de morrer na infância do que os seus pares mais ricos. Para aqueles que crescem em crises humanitárias, os riscos de privação e exclusão aumentam. Mesmo nos países mais ricos do mundo, uma em cada sete crianças continua a viver na pobreza.

A tualmente, uma em cada quatro crianças na União Europeia está em risco de cair na pobreza.

Em Portugal, 18,4% das pessoas estavam em risco de pobreza em 2020, mais 2,2 p.p. do que em 2019 e menos 0,6 p.p. do que em 2015. De entre os vários grupos

populacionais, em Portugal são as crianças e os idosos que com maior frequência são afetadas pelo risco de pobreza: em 2020, 20,4% da população com menos de 18 anos e 20,1% da população idosa vivia em condições de pobreza. Em 2020, a taxa de risco de pobreza das crianças registou um aumento de 1,3 p.p. em relação a 2019. O aumento do risco de pobreza para os idosos e para a população em idade ativa foi mais acentuado, com respetivamente um acréscimo de 2,6 p.p. e de 2,3 p.p. em relação a 2019. Não importa onde se encontrem, as crianças que crescem empobrecidas têm baixos padrões de vida, desenvolvem menos competências, têm menor empregabilidade e ganham salários mais baixos enquanto adultos. Contudo, apenas um número limitado de governos estabeleceu a eliminação da pobreza infantil como prioridade nacional. Dos que o fizeram alguns definiram estratégias e meios para a operacionalizarem, outros não têm dotação orçamental, nem recursos para a sua operacionalização de forma multidimensional e integrada, a única forma para ter uma resposta completa e eficaz para a pobreza.

1 https://unstats.un.org/sdgs/report/2022/TheSustainable-Development-Goals-Report-2022.pdf

2 https://www.unicef-irc.org/publications/pdf/ Families%20family%20policy%20and%20the%20 SDGs.pdf

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SOCIEDADE
FOTO: UNICEF

Sustentabilidade no setor social solidário

das famílias, a verdade é que a maioria destas, na prática, não existe, ou, o que é pior, ignora completamente o seu familiar acolhido.

Acresce que já este ano as instituições estão a ser confrontadas com enormes aumentos das taxas de juro, correspondentes a prestações de investimentos anteriores, como as que concorreram a financiamentos públicos de remodelação e/ou construção de equipamentos. Muitas estão a ser confrontadas com aumento do preço do metro quadrado da construção, que varia entre 20% a 28% dos valores financiados.

Uma primeira palavra para deixar claro o que entendo por sustentabilidade no sector social solidário. Entendo, por sustentabilidade, a capacidade do sector para ser capaz de reunir os meios que lhe permitam, em primeiro lugar, cumprir a sua missão de proteção social, junto dos mais frágeis, mais desfavorecidos ou, simplesmente, dos que necessitam da prestação de cuidados e, ao mesmo tempo, assegurar os recursos humanos, materiais e financeiros que permitam uma estabilidade e previsibilidade da gestão. Nisto se distingue, a meu ver, a sustentabilidade das instituições do sector social da sustentabilidade nas empresas privadas, visto que estas, naturalmente, têm de remunerar o capital investido.

A questão da sustentabilidade coloca-se porque, sobretudo a partir do momento em que o Estado começou a solicitar ao sector a sua cooperação para lhe prestar apoio na implementação e execução das políticas sociais (como é o caso do acolhimento em lares de idosos ou do acolhimento em lares

para deficientes profundos), fez confrontar essas mesmas instituições com a necessidade de se rodearem de recursos humanos capazes, logo, com salários dignos e equipamentos que permitam que esse acolhimento se coloque em patamares de qualidade. Ora, o Estado, embora reconhecendo essa obrigação, nunca a cumpriu, motivo pelo qual a questão da sustentabilidade foi sempre um fator de perturbação dessa cooperação. E tudo se agravou, primeiro com a COVID-19 e, agora, mais recentemente, com a guerra na Ucrânia.

Todos temos assistido ao disparar dos preços da eletricidade, do gás e dos combustíveis, acompanhados de uma espiral de preços nos pacotes alimentares que, na prática, são os principais ponderadores da nossa inflação específica, que assim se situa numa percentagem muito acima da inflação média em Portugal (7,8%).

A verdade é que nos lares de idosos a comparticipação pública se fixa algures entre os 36% e os 38% do custo médio real da resposta e, nos lares para deficientes, um pouco acima dos 80%, o que se explica porque, nestes equipamentos, embora a legislação preveja também a comparticipação

Estamos, pois, perante uma situação gravíssima que vai obrigar o Estado a tomar opções. Na verdade, embora se constate, por exemplo em 2022, o maior aumento de sempre de financiamento por parte do Estado, esse aumento foi completamente “engolido” pela inflação.

A União das Misericórdias Portuguesas (UMP), há vários anos, que vem chamando a atenção do Estado e dos portugueses para a necessidade de comparticipações justas sobre o preço médio real de cada uma das respostas sociais. E a solução passa pelo apuramento anual de cada um desses valores, com a certeza de que, seja ele qual for, será sempre muito mais baixo do que a mesma resposta social se esta for da responsabilidade do Estado, ao mesmo tempo que permitirá detetar eventuais excessos/desperdícios de gestão.

Quando a UMP afirma que é imperioso que se façam escolhas sobre o destino dos recursos que o Estado angaria junto dos contribuintes, o que está a dizer é que é necessário cuidar das pessoas, desde a mais simples creche à mais sofisticada unidade de cuidados continuados. Esse é (ou deve ser) o percurso dos portugueses, independentemente da sua condição. E esse é um desafio coletivo que vai muito para além das instituições do sector social.

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SOCIEDADE *Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico
MANUEL DE LEMOS, PRESIDENTE DA UNIÃO DAS MISERICÓRDIAS PORTUGUESAS

Dar o devido valor à água

A aquapor trabalha diariamente para fornecer água a 1,9 milhões de pessoas. Preservar este recurso valioso, criar novas soluções e desenvolver tecnologias inovadoras são apenas algumas das formas como a aquapor está a contribuir para devolver à água o valor que ela merece.

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Os 4 Is da Ação Climática

no Feminino

seis tempestades severas, provocando a morte de 890 pessoas. As temperaturas chegaram a 48°C na Tunísia em julho, conduzindo a incêndios florestais extremos, quase dois milhões de pessoas no Chade foram afetadas por inundações, e as cheias no Paquistão fizeram mais de 1700 mortos e afetaram um total de 33 milhões de pessoas, um terço das quais foram obrigadas a abandonar as suas casas.

Cerca de 64 milhões de pessoas no mundo foram obrigadas a deslocarse em resultado das alterações climáticas e este número pode chegar a 1000 milhões nos próximos 50 anos.

Destes milhões de pessoas afetadas pelas alterações climáticas, maioritariamente são mulheres e meninas que ao serem desalojadas das suas casas ou obrigadas a percorrer largas distâncias para encontrar água e alimentos se submetem a situações que põem em causa a sua segurança e a sua sobrevivência.

Inegável - É inegável hoje que as alterações climáticas estão a acelerar mais do que os cientistas previam, com o aumento da intensidade, da duração e do estreitamento da periodicidade dos fenómenos climáticos extremos. No ano de 2022, que recentemente terminou, os eventos climáticos extremos em África, mataram pelo menos 4.000 pessoas e afetaram mais 19 milhões 1 .

A seca e a fome associada fizeram 2.500 vítimas mortais no Uganda e afetaram oito milhões na Etiópia. Na Nigéria mais de 600 pessoas morreram nas piores inundações em uma década e os países da África Austral, incluindo Madagáscar e Moçambique, foram atingidos por

Indissociável - São estas mulheres e meninas que em grande parte do planeta asseguram o acesso à água e alimentos, que educam as crianças e cuidam dos mais velhos e que apesar de estarem na linha da frente dos impactos das alterações climáticas, são as que, com a sua resiliência, respondem e reagem, encontrando soluções, cuidando dos seus e da comunidade e gerindo os recursos naturais.

A crise climática, embora tendo como efeito mais direto, a afetação do sistema climático da Terra, que resulta da combinação e equilíbrio das suas componentes: atmosfera, biosfera e criosfera, é uma crise global, indissociável da afetação dos direitos humanos, com efeitos económicos e sociais, transectorial e sem fronteiras. Efeitos que atingem distintamente os grupos já de si mais vulneráveis, como sejam

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SOCIEDADE
SUSANA VISEU, PRESIDENTE DA DIRECÇÃO DA BUSINESS AS NATURE *Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico

as mulheres e as meninas, agravando desigualdades e fenómenos de exclusão, promovendo o aumento de situações de discriminação e violência, o aumento do desemprego e a redução do acesso à educação e a continuidade da sua dependência económica e social.

Insuficiente – Apesar dos compromissos estabelecidos nas COPs, dos avanços tecnológicos, do crescente investimento em energias renováveis e tecnologias verdes, do esforço de países, cidades, empresas na mitigação de emissões, os resultados são objetivamente insuficientes. Continuamos a aumentar os níveis de carbono na atmosfera, tendo-se atingido em 2022 o máximo já registado. Entre 1880 (período pré-industrial) e 1981 o aumento da Tmédia da Terra por década foi de +0,08°C. De 1981 a 2021 o valor por década subiu para +0,18°C, atingindo em 2022 um aumento de 1,2°C face ao período pré-industrial. Todas as projeções apontam para que este aumento nas próximas décadas escalará para +0,34°C/década, atingindo +2,2°C já em 2050, com um cenário de 2,8ºC em 2100, muito longe dos 1,5ºC do Acordo de Paris.

A Amazónia e as florestas tropicais do Congo e da Indonésia, fundamentais para o equilíbrio climático, grandes sumidouros de carbono, continuam a perder extensas áreas de floresta. Apenas no ano de 2022 a Amazónia perdeu uma área equivalente a cinco cidades de Nova Iorque, 40 cidades de Lisboa, mais 10,6% em relação ao período homólogo.

Indispensável – Nesta urgência na transição climática não podemos descartar e dispensar o papel ativo das mulheres nos processos de decisão, na construção de soluções e na sua implementação. Não há ação climática e desenvolvimento de

uma economia regenerativa, sem o envolvimento das mulheres. Sem o aumento significativo da sua participação e intervenção, invertendo a sua representação residual na diplomacia climática, na liderança política e empresarial. Recordo que na última COP 27, no Egito, de 104 países que constituíram a “List of Speakers for the first part of the high-level segment for Heads of State and Government”, apenas oito eram mulheres.

Este envolvimento é indispensável, não só porque representamos 50% da população, desempenhando um papel fundamental na educação das gerações futuras e no cuidado à família e às comunidades, como somos responsáveis por cerca de 85% das decisões de compra e estamos na linha da frente da afetação e da resposta às alterações climáticas.

P(ossivel) - Poderia ser um último “I” mas acredito que este último seja um “P”. De Possível. De Parcerias, de conjugação de esforços na mobilização das Mulheres e das

Meninas da Ação Climática. Esta é a missão da Business as Nature, através da promoção do “Movimento Mulheres pelo Clima dos países de língua portuguesa para o Mundo”, lançado em setembro de 2022, com o apoio institucional da CPLP e do apoio do Ministério do Ambiente e Ação Climática, e que conta já com numerosos apoios de diversas personalidades, organizações, autarquias, empresas etc. Tem de ser possível. Temos de manter e acelerar o rumo. Sem hesitações. Concretizar, responder enquanto humanidade, enquanto democracias a este desafio da crise climática, garantindo simultaneamente a justiça e inclusão social, não deixando os mais vulneráveis para trás. Com as Mulheres de língua portuguesa, e delas para o Mundo, sejamos Todos, na ação determinada pelo equilíbrio do sistema terrestre.

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SOCIEDADE
[1] Carbon Brief - “Africa’s unreported extreme weather in 2022 and climate change” ADOBE STOCK

Un cambio cultural hacia la sostenibilidad

n 2022 España lograba escalar al puesto 16 en el ‘ranking’ global en objetivos de desarrollo sostenible de la SDSN escalando cuatro puestos respecto a la clasificación del año anterior, entre un total de 193 países de todo el mundo. Esta buena posición española en la lista es reflejo de que muchas cosas han cambiado en España en materia de sostenibilidad, palabra que hoy en día está presente no solo en la opinión pública sino también a nivel institucional y empresarial. Hay todavía un camino largo por recorrer, pero ya se encuentran iniciativas que están dando mucho que hablar y que sirven de ejemplo en sus distintas áreas.

En 2009, cuando en España poco se hablaba de sostenibilidad, surgió en el mercado Ecoalf, una marca de moda que apostó por la elaboración de una nueva generación de productos reciclados con la misma calidad y diseño que los

mejores productos no reciclados. Por detrás de este proyecto está Javier Goyeneche, presidente y fundador de la firma, quien se propuso entonces dejar de utilizar los recursos naturales de forma indiscriminada. Ecoalf es hoy una marca reconocida, que crea tendencia, y que ha ido consiguiendo hitos importantes tanto en el mundo de la moda, como en el de la sostenibilidad e incluso en el área de los negocios. Ha sido capaz de demostrar que el reciclaje puede ser una solución y ha abierto el camino para muchas otras marcas que intentan seguir sus pasos. Hacer las cosas de manera sostenible implica no tomar decisiones a corto plazo ni pensar en los resultados económicos. Carol Blázquez, directora de Sostenibilidad e Innovación de Ecoalf, reconoce que “ser sostenibles implica renunciar a mejores márgenes, invertir en I+D y tomar decisiones difíciles como dejar de trabajar con determinados proveedores. Y es difícil, tienes que estar muy seguro del propósito”. Tardaron tres años en lanzar su primera colección de ropa y abrir su primera tienda en Madrid. A pesar de tener la idea, su fundador no encontraba tejidos atractivos para las prendas que quería fabricar o el porcentaje de reciclaje era muy pequeño y con texturas complicadas. Por eso Goyeneche se pasó esos tres primeros años viajando por el mundo para encontrar la forma de hacer esos tejidos. Y cuando salió al mercado sorprendió, logrando el apoyo de un consumidor dispuesto a pagar un poco más por el bien del planeta. Además, demostró que la ropa reciclada también puede ser bonita. Tal y como el fundador ha contado, para hacer realidad su idea empezó a colaborar con una señora en Taiwán que reciclaba botellas de plástico para hacer alfombras. Luego en Corea recicló redes de pesca, después vino el café, el algodón, la lana, los neumáticos... Salieron con una colección pequeña y sólo

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E
EUROPA | ESPANHA * Texto escrito na língua de origem do autor
BELÉN RODRIGO*, PRÉMIO

seis tejidos y hoy ya cuentan con más de 500. En 2014 sacaron una colección de chanclas realizadas con neumáticos 100% reciclados que no necesitan ningún tipo de pegamento gracias a su tecnología innovadora. A lo largo de todos estos años han ido entrando en diversos mercados y han creado la Fundación Ecoalf para apoyar el proyecto Upcycling the Oceans. Se trata de una aventura global para apoyar a la industria pesquera en la eliminación y recuperación de la basura marina que está destrozando los océanos y cerrar el círculo transformándolos en un tejido de alta calidad. Auara es otro de los proyectos españoles que destaca en el mundo de la sostenibilidad, demostrando la viabilidad de su modelo empresarial con impacto social. Tiene como razón de ser llevar agua potable allí donde más se necesite. Con un minucioso plan de negocio y una cuidada estrategia de crecimiento ha conseguido ser una empresa rentable en el plazo de tres años. Su modelo de negocio está poco extendido en mercados como el español, pero encaja cada vez mejor en un mundo más comprometido con la sociedad y el medio ambiente. Antonio Espinosa de los Monteros, un joven arquitecto, se juntó en 2016 con otros dos socios, para poner en marcha Auara, empresa que destina el 100% de sus dividendos a proveer de agua potable a poblaciones que carecen de ella. En un viaje a Etiopía dos años antes entendió que la falta de agua es la pobreza más dura que existe. Con este proyecto ha conseguido elaborar la primera botella en Europa 100% reciclada, 100% reciclable. Desde sus inicios han conseguido dar una segunda vida a más de 19 millones de botellas desechadas ahorrando más de 800.000 litros de petróleo. Y lo que es más importante para ellos, han desarrollado 130 infraestructuras en 19 países que han permitido aportar casi 170.000 litros de agua a países

en vías de desarrollo, logrando que 92.340 personas tengan acceso a agua potable y saneamiento. En su tercer año operativo alcanzaron el break even, cerrando 2018 con más de un millón de euros en ventas. De esta forma demostraron la viabilidad de su innovador modelo empresarial, en el que la rentabilidad es el camino para generar impacto social. El año pasado vendieron el 51% del capital a la empresa española de comercialización y distribución Corporación Hijos de Rivera, pero mantiene su condición de empresa 100% social. Con Auara se ha conseguido una evolución cultural en España, aunque siguen existiendo muchas trabas legislativas para poner en marcha una empresa social.

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ESPANHA | EUROPA

Sol já gera electricidade para mais de um milhão de angolanos

Angola tem dezenas de projectos de energias renováveis que visam descarbonizar a economia e levar electricidade verde a milhões de pessoas, evitando o consumo de energias fósseis e a emissão de muitos milhões de toneladas de gases poluentes para a atmosfera. O Executivo de João Lourenço aposta forte neste sector, que contribui para a autonomia e segurança energética do país, atraindo investimento privado nacional e estrangeiro e permitindo a formação profissional e técnica de milhares de angolanos.

ADOBE STOCK ÁFRICA | ANGOLA

Angola caminha a passos largos rumo às metas do Executivo de João Lourenço para a geração de electricidade a partir de fontes renováveis, com dezenas de projectos no terreno e muitos outros em curso, um pouco por todo o país.

O Presidente da República comprometeu-se, na 26ª conferência do clima das Nações Unidas (COP26), em Glasgow, em Novembro de 2021, a aumentar para 70% o uso de fontes renováveis de energia até 2025, face aos actuais 62%.

E, já no ano passado, em Dezembro, voltou a evidenciar a importância que atribui ao tema do clima e à influência das fontes energéticas na preservação do planeta, ao destacar, em Washington, num debate no congresso norte-americano promovido pelo Exim Bank (banco norte-americano para as importações e exportações), à margem da cimeira EUA-África, o potencial não só de Angola, mas de todo o continente africano, para ser parte da solução do problema energético mundial, agudizado pelo conflito da Rússia com a Ucrânia.

“Em África temos muito sol a desperdiçar-se, que se aproveita muito pouco, para a praia, mas é preciso fazer mais, usar essa vantagem natural para se produzir energia abundante”, sublinhou João Lourenço, reiterando que o continente conta “para a economia mundial”.

“Acreditamos que África possa ser também parte da solução para os grandes problemas actuais, como os ligados à geração de energia”, declarou o Presidente angolano,

enfatizando a importância da atracção de investimento para que este papel seja assumido em pleno. Em Angola, a energia solar é uma das fontes com mais potencial – e uma das que está mais avançada em termos de implementação. Segundo um relatório da Associação Lusófona de Energias Renováveis (ALER), datado de Julho de 2022, cerca de dezena e meia de parques fotovoltaicos estão em operação, ou em construção, para levar energia limpa a milhões de angolanos, sobretudo em zonas recônditas onde a rede eléctrica ainda não chegou. O documento – intitulado “Energias Renováveis em Angola – Relatório Nacional do Ponto da SituaçãoJulho de 2022” – revela os projectos no terreno ( Ver tabela PROJECTOS DE ENERGIAS RENOVÁVEIS ) e destaca o contributo do sector privado nestes empreendimentos, que permitem poupar milhões de dólares em gasóleo para geração eléctrica, e evitam a emissão milhares de toneladas de CO2 e outros poluentes ambientais.

Solar, o bom exemplo

O exemplo mais recente de aproveitamento fotovoltaico encontra-se no Namibe. No início

de Janeiro, foi dada como concluída a primeira fase das obras de construção da Central Fotovoltaica de 25 megawatts (MW), construída em Caraculo, município da Bibala, tendo os ensaios, entretanto, sido iniciados.

No final, o projecto, a cargo da Solenova – uma ‘joint venture’ entre a italiana Eni e a estatal Sonangol -, terá 50 megawatts e deu emprego a 230 funcionários residentes na província do Namibe.

O projecto está em linha com o Objectivo de Desenvolvimento Sustentável número 7 das Nações Unidas (acesso a energia limpa e acessível) e enquadra-se nos objectivos do Angola Energy 2025, o plano a longo prazo do Governo para o sector energético, cujo principal objectivo é proporcionar à população

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RICARDO DAVID LOPES
ANGOLA | ÁFRICA

ENERGIAS RENOVÁVEIS EM ANGOLA

1. Segurança Energética

• Crescimento do parque de geração;

• Potenciação do papel das energias renováveis;

• Expansão da electrificação;

• Revisão tarifária e sustentabilidade económico-financeira;

• Reestruturação e reforço dos operadores;

• Promoção da entrada de capital e ‘know-how’ privado.

2. Principais metas

• Peso das renováveis na produção de electricidade: 7,5%* (800 MW)

*excluindo grandes barragens

• Energia solar – atingir os 100 MW de potência instalada, 10 MW dos quais fora da rede, juntamente com a criação de uma unidade de produção de painéis PV e cluster associado.

• Centrais hidroeléctricas de pequena dimensão (até 10 MW) – alcançar os 100 MW com pelo menos 60 MW orientados para a electrificação do capital municipal com base em sistemas isolados.

• Biomassa - alcançar os 500 MW de capacidade instalada, apoiando a criação e desenvolvimento de novos projectos agrícolas e pecuários, nomeadamente de cana-de-açúcar, de novas explorações florestais nas regiões centro e leste do país e a criação de unidades de incineração para resíduos urbanos.

• Energia Eólica – alcançar os 100 MW de capacidade instalada, com uma maior diversificação regional e uma melhor utilização das infra-estruturas existentes.

• Outros tipos de fontes de energia renováveis - apoiar a criação de um centro de Investigação & Desenvolvimento para energias renováveis em Angola.

Capacidade total instalada (2021) - 5,9GW

Produção - 14 GWh

Centrais: 66 (incluindo uma PPP e duas privadas)

Taxa de electrificação 42% (Meta 60% em 2025)

4. Potencial de energias renováveis em Angola (Atlas de Energias Renováveis em Angola - 2015)

82 Híbrida Térmica / outras 22% 78%
3. Sistema electroprodutor angolano (2021)
0 100 200 300 400 500 600 700 500 800 100 100 100 Potência instalada (MW) Metas Renováveis 2025 800 Mini-Hídricas Biomassa Solar Eólica TOTAL Fonte Solar Hídrica Eólica Biomassa Total Capacidade (GW) 55 18 3,9 3,7 73
Situação, Julho 2022 – Associação Lusófona de Energia Renováveis (ALER)
Novas Renováveis – Angola Energia 2025 –
de Angola
eléctrica ÁFRICA | ANGOLA
Fontes: Energias Renováveis em Angola
Relatório Nacional do Ponto de
Estratégia
Governo
Produção

INCENTIVOS RELATIVOS AO AMBIENTE

A legislação angolana prevê benefícios fiscais para investimentos “amigos” do ambiente, no que diz respeito à utilização de carros eléctricos, e produção e utilização de energia renovável. Estes benefícios têm a duração máxima de 10 anos e são cumulativos com os que estão previstos na Lei do Investimento Privado.

Utilização de veículo eléctrico (até 2032)

Produção e utilização de energia renovável (disponível por período de quatro anos)

Prédios afectos à produção de energia a partir de factores renováveis

Sujeitos Passivos que se dediquem à produção e comercialização de energia renovável

(1) A requerer pelo sujeito passivo no prazo de 30 dias da afectação do prédio à produção de energia.

Redução de 50% dos direitos aduaneiros na importação Redução de 50% do Imposto sobre os Veículos Motorizados

Conceito de energia renovável: a energia produzida utilizando recursos ou eventos naturalmente reabastecidos, sol, vento, chuva, mares ou a energia geotérmica

Redução de 75% do Imposto Predial na aquisição e de 50% pela detenção da propriedade (1)

Redução de 35% da taxa de liquidação final de Imposto Industrial; Redução de 60% do Imposto sobre a Aplicação de Capitais; Nos rendimentos provenientes da actividade de produção e comercialização de energia renovável

PROJECTOS DE ENERGIAS RENOVÁVES

PROJECTO

TECNOLOGIA

LOCALIZAÇÃO

Biópio

Baía Farta

Saurimo

Luena

Cuito

Bailundo

Lucapa

Caraculo

Quilemba

61 Comunas

65 mini-redes

Laúca

Catete

Vuka 3

Kiwaba Nzoji I

Kiwaba Nzoji II

Mulenvos

Solar FV

Solar FV

Solar FV

Solar FV

Solar FV

Híbrida (Solar FV+diesel)

Híbrida (Solar FV+diesel)

Solar FV

Solar FV

Solar FV

Solar FV com armazenam.

Solar FV

Solar FV

Sun Africa LLC + Grupo MCA

Solenova

Total Eren + Greentech + Sonangol

Grupo MCA

Sun Africa LLC + Omatapalo

Berkeley Energy + Elektra

V&V Rending

Griner Engenharia

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Eólica Biomassa CAPACIDADE INSTALADA (MW) 188,80 96,70 26,90 26,90 14,65 7,99 7,20 25+25 40 220 (287 MWh de armazenam.) 400 104 100 62 42 nd EMPRESAS ENVOLVIDAS
Hidroeléctrica Eólica
Benguela Benguela Lunda Sul Moxico Bié Huambo Lunda Norte Namibe Huíla Malanje, Bié, Moxico, Lunda Norte e Lunda Sul Cunene, Huíla, Cuando Cubango, Namibe Malanje Luanda Lunda Norte Malanje Malanje Luanda
ANGOLA | ÁFRICA

o acesso aos serviços energéticos básicos.

Os parques da Solenova contribuem igualmente para o país alcançar os objectivos do Plano de Acção do Sector de Energia e Água 20182022, que estabelece, a médio prazo, uma meta de 500 MW adicionais de energia renovável (Solar, Eólica, Biomassa e Mini-Hídrica) com um enfoque específico em projectos solares à escala de utilidade pública.

Em Julho do ano passado, João Lourenço foi a Benguela inaugurar, na Baía Farta e no Biópio, dois dos mais relevantes projectos fotovoltaicos em Angola (e no Continente), a cargo de um consórcio que integra a norte-americana Sun Africa e portuguesa MCA, entre outros parceiros nacionais e internacionais, composto por um total de sete parques distribuídos por Benguela, Huambo, Moxico, Lunda Norte, Lunda Sul, Bié e Huambo, num investimento global que ronda os 500 milhões USD.

Os parques fotovoltaicos inaugurados por JLo em Benguela contam com uma potência instalada de 285 MW, sendo que a central do Biópio, com 189 MW, leva energia a mais de um milhão de pessoas.

No seu conjunto, trata-se do maior projecto de energia fotovoltaica na África subsariana. E, no terreno, a

construção e manutenção contam com mão-de-obra nacional, a quem foi e é ministrada formação técnica, para além do apoio prestado em acções de responsabilidade social junto de escolas, hospitais e outras instituições.

Com estes projectos, no que diz respeito ao solar, Angola vai aliás mais longe do que o previsto nos planos do Angola Energia 2025 e Novas Energias Renováveis, dando um sinal ao continente e ao mundo – e gerando importantes mais-valias para a população.

Metas ambiciosas

O Governo de Angola estabeleceu na sua estratégia como meta para 2025 que pelo menos 7,5% da electricidade gerada no país provenha de fontes de energias renováveis que não as grandes hídricas, com uma potência total de 800 MW prevista (ver tabelas).

Até lá, apesar do ritmo acelerado que João Lourenço imprimiu a este sector, há ainda muito a fazer. João Baptista Borges, ministro da Energia e Águas, apela por isso aos privados, para que tragam novos projectos.

“As energias renováveis nacionais encontram-se numa fase embrionária, e a participação do sector privado numa fase ainda incipiente. Apesar da legislação nacional, das estratégias e planos referirem a importância e a intenção de envolverem o sector privado no

acesso à energia, o contexto operacional e comercial não é ainda convidativo”, admite no Prefácio do documento da ALER, que conta com a colaboração do MINEA para a elaboração do relatório.

Contas feitas, diz o ministro, “de modo a concretizar a visão de longo prazo para o sector eléctrico será necessário mobilizar recursos, quer investimentos públicos, quer privados, na ordem dos 23 mil milhões USD”.

A ideia, explica, é que o investimento público seja “progressivamente substituído por um financiamento privado de longo prazo”, ficando as verbas do Estado reservadas “para projectos da esfera pública, como as grandes barragens, investimentos na rede nacional de transporte e expansão da rede de distribuição da energia eléctrica”.

Para além do sol e das grandes barragens – a par de mini-hídricas – o potencial de Angola no que diz respeito às energias renováveis é vasto, em especial no que diz respeito à biomassa, refere o relatório da ALER, que dá conta da meta de 500 MW de capacidade instalada, apoiando “a criação e desenvolvimento de novos projectos agrícolas e pecuários, nomeadamente de cana-de-açúcar, de novas explorações florestais nas regiões centro e leste do país e a criação de unidades de incineração para resíduos urbanos”.

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ÁFRICA | ANGOLA
João Lourenço inaugura parques fotovoltaicos que vão dar electricidade a 1,5 milhões de pessoas

Angola (cada vez) mais sustentável

Garantir a sustentabilidade dos resíduos sólidos é uma das metas de Angola nos próximos anos. Em causa está a necessidade de redução da produção de resíduos e a regulação da utilização de determinados produtos que prejudicam o ambiente. Em simultâneo, são criadas novas oportunidades de investimento e de criação de emprego. Ganha o ambiente, ganhamos todos.

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ADOBE STOCK

Agestão de resíduos é um indicador do nível de desenvolvimento das sociedades modernas, sendo um dos problemas mais complexos das comunidades, com impacto político, social e económico.

No entanto, o lixo não é “lixo” quando é bem aproveitado. Ao longo dos últimos dez anos foi produzido, em Angola, um conjunto de legislação significativa na área do Ambiente, mais concretamente para o sector dos resíduos, que tem contribuído para a ‘task force’ da sua gestão. Nas pequenas cidades angolanas, a produção de resíduos é ainda muito reduzida, não havendo muitos focos de acumulação. Já nas maiores áreas urbanas, a sua produção é considerável. Nas províncias com mais população como Luanda, a produção de resíduos tem crescido de forma rápida, tornando-se a sua gestão um desafio, mas, ao mesmo tempo, representando um grande potencial de negócio através do seu reaproveitamento.

Com a criação da Agência Nacional de Resíduos (ANR), em 2014, a resolução dos problemas do sector começou a ganhar nova forma. As principais funções eram a regulamentação da actividade e a

DOMINGOS AMARO

concessão de serviços públicos no sector de resíduos sólidos, a execução de políticas públicas, a gestão de resíduos e a criação de programas para a prevenção na geração de resíduos, obedecendo a critérios de protecção ambiental. No entanto, em Junho de 2020, foi feita uma reforma de Estado e um redimensionamento de institutos públicos ao nível do Governo para aumentar a eficiência na prestação de serviços públicos, o que resultou na fusão da ANR com outros órgãos (a Unidade de Apoio à Monitoria Ambiental, a Auditoria Industrial e Gestão de Derrames e o Instituto Nacional de Gestão Ambiental), dando lugar ao novo Instituto Nacional de Sustentabilidade Ambiental.

Angola sem plástico

Várias iniciativas têm sido tomadas para a concretização dos objectivos sociais através de programas de curto prazo, como é o caso do “Angola Sem Plástico”, um projecto financiado pela União Europeia e implementado em colaboração com a EcoAngola, uma organização da sociedade civil para a educação e a conservação ambiental no país. O projecto, realizado entre Janeiro e Setembro de 2021, visou sensibilizar sobre o consumo responsável de sacos de plástico descartáveis,

promovendo, para isso, o diálogo entre as partes envolvidas no comércio e consumo (autoridades, sector privado, organizações não governamentais e o sector académico). Partilhou ainda boas práticas de consumo responsável e consciente.

Já o projecto “Ya Tchi Yetu”, criado também pela EcoAngola, financiado pela embaixada do Reino Unido em Angola e pela Refriango – uma das maiores empresas angolanas especializada na produção e distribuição de refrigerantes sumos, águas, bebidas energéticas e bebidas alcoólicas –, destina-se a promover a educação ambiental através de práticas de permacultura assentes na agricultura sustentável e no empreendedorismo.

Planos de sustentabilidade em acção

O combate à poluição marinha, gestão, protecção, conservação e restauro de ecossistemas marinhos e costeiros também são aspectos fundamentais para o Executivo que, em Junho do ano passado, participou da Conferência sobre os Oceanos, em Lisboa. Nesta altura, o Executivo anunciou as estratégias de combate aos plásticos na costa angolana, entre as quais constam a divulgação de informações sobre gestão e educação ambiental.

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ANGOLA | ÁFRICA

Para maior divulgação das informações sobre o meio ambiente, o Ministério realizou, ao longo de 2022, várias acções de formação, com realce para a de Julho, mês em que decorreu o seminário sobre “Procedimentos de gestão adequada de resíduos sólidos”, que contou com a participação de 65 jornalistas de diversos órgãos de comunicação. O encontro visou dotar os profissionais da comunicação com linguagens que facilitem a abordagem de matérias sobre resíduos.

Ainda o ano passado, em Setembro, foram também formados 203 brigadistas ambientais para as zonas urbanas, com o intuito de aumentar a capacidade das comunidades de proteger o ambiente, criar iniciativas geradoras de rendimento por meio do associativismo e disseminar informações sobre a protecção e conservação do ambiente.

Das parcerias firmadas, realce para a que foi assinada, no ano passado, entre o Ministério do Ambiente e

o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), no âmbito de um projecto-piloto de saneamento simplificado, orçado em um milhão USD, a ser realizado este ano, em quatro fases. O projecto visa a provisão de serviços básicos e a inclusão do pensamento de reciclagem integrada para uma economia sustentável e circular.

A empresa petrolífera BP Angola e a ONG Otchiva também contribuíram para a melhoria do ambiente, com a assinatura de um acordo para a implementação do projecto “Mundo Azul”. A iniciativa permitirá compensar as emissões de dióxido de carbono através de um investimento de 300 mil USD, a serem disponibilizados pela petrolífera. O investimento contempla a conservação e restauração dos mangais na costa angolana, bem como a sua protecção perante os efeitos de fenómenos naturais como tempestades, calemas e erosões. A

conservação de espécies marinhas e seus ecossistemas está também contemplada.

Para o presente ano, com o objectivo de continuar a cumprir os compromissos internacionais assumidos, que incidem sobre a protecção e sustentabilidade ambiental, consolidados nos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, o Executivo criou um grupo de trabalho que terá, entre outras atribuições, de realizar um diagnóstico nacional para aferir o estado de poluição ambiental em que o país se encontra, fazer um levantamento das unidades de produção, circuito de importações e níveis de consumo de plástico, sensibilizar a sociedade e elaborar o plano de eliminação dos plásticos. O esforço do Governo angolano em traçar políticas e em investir em ações de sustentabilidade revelam o caminho certo que está a ser trilhado para a prosperidade do país.

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O projecto “Ya Tchi Yetu” destina-se a promover a educação ambiental através de práticas de permacultura assentes na agricultura sustentável e no empreendedorismo

Luanda acolheu, de 29 de Novembro a 1 de Dezembro passado, a 3.ª edição do Angola

Oil&Gas (AOG2022), que juntou mais de 1000 delegados nacionais e internacionais e colocou Angola no mapa energético mundial durante três dias. Miguel Artacho, International Conference Director of Angola Oil and Gas 2022, faz um balanço muito positivo do evento, que tem a tutela do ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Câmara Africana de Energia e AIDAC, e foi aberto pelo Presidente da República, João Lourenço. O sector do oil&gas angolano tem vindo a assumir-se cada vez mais como inovador no continente, garante o gestor, que não poupa elogios aos esforços que têm sido feitos para o desenvolvimento de fontes de energia renovável, com um relevante contributo da própria Sonangol.

Como tem evoluído a sustentabilidade ambiental no sector do petróleo e gás em Angola?

O Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás (MIREMPET), a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG), a Sonangol e as petrolíferas internacionais que operam no país estão activamente envolvidos numa série de projectos para preservar o ambiente, de

que é exemplo a plantação de mangais em zonas pantanosas e de florestas ao longo da costa, para capturar emissões de CO2 e proteger a linha costeira da subida do nível das águas do mar. As autoridades estão totalmente empenhadas em reduzir ainda mais as emissões até 2030 e em diversificar o cabaz energético, para incorporar uma maior percentagem de fontes de energia renováveis.

Quais os desafios para o desenvolvimento destas fontes renováveis?

Antes de mais o financiamento, mas o potencial é imenso. A estratégia nacional para o sector visa mobilizar recursos para a exploração e produção contínua de petróleo e gás, respeitando o ambiente e promovendo uma transição energética responsável, através da introdução de fontes de produção de energia verdes na matriz energética. Angola tem planos muito ambiciosos para fazer das energias renováveis um sector cada vez mais competitivo para o investimento. A Sonangol está focada em alargar e consolidar

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“Angola tem planos muito ambiciosos para fazer das energias renováveis um sector cada vez mais competitivo”
ANGOLA | ÁFRICA ENTREVISTA
RICARDO DAVID LOPES

O GOVERNO DO PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO TEM VINDO A TRABALHAR PARA MELHORAR O AMBIENTE DE INVESTIMENTO E DE NEGÓCIOS.

a sua carteira de projectos de hidrogénio verde e outras fontes de energia renováveis, incluindo centrais fotovoltaicas.

O que há a destacar desta 3.ª edição da AOG, face às anteriores?

Foi ainda mais bem-sucedida! A evolução globalmente favorável da pandemia em Angola permitiunos retomar o evento em formato presencial – recebemos mais de 1.100 delegados nos três dias. Com um mercado energético estável e a servir de base para a industrialização, criação de emprego e estabilidade económica, as recentes reformas regulamentares e estruturais implementadas em Angola tornaram o país num destino de escolha tanto para os promotores de projectos como para os investidores, e a AOG 2022 trouxe um forte argumento a favor do investimento, quer em 2022, quer nos anos seguintes.

O evento excedeu as expectativas?

Sim. Arrancou com uma intervenção do Presidente João Lourenço e contou com outras, como a de Diamantino Azevedo, ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, ou do secretário-geral da OPEP, Haitham Al Ghais. Recebemos delegados de mais de 44 países e 92 oradores dos sectores público e privado envolvidos em vários painéis

cobrindo todos os sectores da cadeia de valor energético de Angola. Como nasceu a ideia da AOG?

Angola é, desde há décadas, um dos maiores produtores de petróleo e gás da África subsariana. Apesar de o país possuir elevadas reservas, a produção em vários campos está madura ou em declínio, e a única forma de inverter esta tendência e de manter a produção acima da meta de um milhão de barris por dia (bpd) é atrair novos investimentos e impulsionar a exploração. A AOG é uma “montra” desta indústria altamente estratégica e uma plataforma de atracção de novos investimentos.

Estas conferências contribuem para o desenvolvimento do sector em Angola?

A Energy Capital & Power (EC&P) organiza conferências em toda a África subsariana, e no decorrer de 2021-2022 foram assinados contratos para a realização de negócios superiores a 2,5 mil milhões USD. As nossas conferências constituem o fórum ideal para que todos os interessados no sector do petróleo e gás de Angola se reúnam e trabalhem em rede com parceiros internacionais, líderes da indústria e investidores globais. A AOG ajuda os agentes do mercado angolano a criar maior

valor no âmbito da transição energética, promovendo conteúdos locais e o desenvolvimento de competências. Além disso, e porque há muitas indústrias em Angola indirectamente ligadas ao sector energético, da banca aos seguros, telecoms, serviços, entre outras, as principais empresas do país também participam na conferência, criando assim oportunidades para novos negócios e sinergias para além da indústria petrolífera e do gás.

Como avalia a evolução do sector petrolífero em Angola?

Está a evoluir bem, graças aos grandes investimentos feitos nos últimos anos pelas ‘majors’ internacionais, como a TotalEnergies, Chevron, ExxonMobil, BP, Eni, Equinor, e pela Sonangol. Estes investimentos são uma clara indicação de que os operadores estão fortemente empenhados em Angola a longo prazo. Ao investir em ambiciosas campanhas de exploração, o país e os seus parceiros estão a trabalhar para inverter o declínio da produção, a fim de localizar novas descobertas. Apesar deste declínio verificado ao longo da última década, novos investimentos e descobertas, juntamente com o leilão de mais de 50 blocos na plataforma continental, deverão impulsionar a produção até 2025. Em termos de gás natural associado, Angola produz

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MIGUEL ARTACHO , INTERNATIONAL CONFERENCE DIRECTOR OF ANGOLA OIL AND GAS 2022

actualmente 2,99 milhões de pés cúbicos por dia e tem reservas recuperáveis estimadas em mais de 27 triliões de pés cúbicos.

O lema desta edição foi “Promover uma Indústria de Petróleo e Gás Inclusiva, Atractiva e Inovadora em Angola”. O sector angolano é inovador?

Angola tem um dos maiores e mais bem estabelecidos sectores de petróleo e gás do continente, e a inovação tecnológica está presente em todo o sector, particularmente quando se trata do ‘offshore’ e do ‘offshore’ ultra-profundo, uma vez que estes projectos requerem tecnologia de ponta e despesas de capital significativas para perfuração e plataformas.

Angola está também a investir fortemente na diversificação do seu cabaz energético, para incorporar uma maior quota de renováveis. Por exemplo, a Sonangol, recordo, está envolvida numa série de parcerias para projectos fotovoltaicos, produção de hidrogénio verde e tecnologia de captura de carbono para reduzir as emissões de CO2. Angola tem mantido elevados investimentos no sector energético, apesar dos anos difíceis da pandemia de COVID -19, e esta é uma das razões pelas quais a produção petrolífera no país não foi tão afectada como na Nigéria,

que entre 2020 e 2022 não investiu o suficiente na manutenção e em infra-estruturas, para ser capaz de aumentar significativamente a produção no pós- COVID -19, com a subida da procura global de hidrocarbonetos.

Por fim, Angola beneficia de uma inegável estabilidade política, paz e segurança, ao contrário de outros produtores subsaarianos, que assistiram à saída ou retracção de investidores por motivos de segurança ou invocando força maior.

O conteúdo local é um tema muito importante. Em que ponto está Angola?

A promoção de conteúdos locais tem vindo a produzir resultados positivos no apoio à diversificação económica e industrialização mais rápida de Angola, catalisando o crescimento de outros sectores directa e indirectamente ligados à indústria do petróleo e gás, incluindo a construção, transportes, tecnologia, agricultura, logística, navegação e serviços marítimos.

Quais são os motores da inovação da indústria em Angola?

Um dos motores cruciais da inovação deriva da contínua promoção da transferência de tecnologia e conteúdos locais no sector da energia. Angola tem

ANGOLA BENEFICIA DE INEGÁVEL ESTABILIDADE POLÍTICA, PAZ E SEGURANÇA, AO CONTRÁRIO DE OUTROS PRODUTORES SUBSARIANOS.

feito isto com particular sucesso, havendo algumas empresas que já têm mais de 85-90% de conteúdo local. Proporcionar oportunidades aos cidadãos angolanos de prosseguirem carreiras no sector energético é essencial, porque promove o dinamismo global da indústria e apoia uma maior inovação. Além disso, há um número crescente de empresas privadas angolanas com planos ambiciosos de crescimento a longo prazo. A Sonangol está também a seguir os passos dos líderes mundiais do sector, transformando-se progressivamente numa empresa de energia totalmente integrada, mais do que uma petrolífera. Por fim, no ‘offshore’, ‘offshore’ profundo e ultra-profundo, a tecnologia utilizada por empresas como a TotalEnergies, ExxonMobil, BP ou Azule Energy é essencial – e tem sido utilizada para perfurar em Angola alguns dos poços mais profundos do mundo.

A inovação e a atractividade são os maiores desafios do sector em Angola?

A indústria do petróleo e do gás de Angola é simultaneamente inovadora e atractiva para os investidores. O maior desafio é continuar a atrair elevados níveis de investimento, para que se mantenha um programa de exploração intensivo, que possa contrariar

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ou compensar o declínio natural de alguns campos mais maduros. A questão do financiamento não afecta apenas Angola, mas toda a África subsaariana, sendo crucial que os países possam desenvolver todos os seus recursos energéticos - hidrocarbonetos, energia hídrica, eólica, fotovoltaica e hidrogénio. É necessário reforçar as ligações de investimento entre a Europa, os EUA, os países do Médio Oriente e investidores internacionais de origem asiática, para ajudar a financiar projectos energéticos em Angola e no resto do continente.

Em 2023 estará a AOG de volta?

Estará, certamente, e o objectivo é que a conferência cresça ainda mais em número de delegados e expositores. É provável que o debate

gire em torno da consolidação dos recentes ganhos e do papel crucial de Angola como fonte fiável de fornecimento de energia aos mercados globais – algo particularmente importante, devido ao contexto geopolítico (invasão da Ucrânia pela Rússia). Esta crise energética traz uma excelente oportunidade aos maiores produtores de petróleo e gás da África subsariana, como Angola, de continuarem a expandir as suas exportações de GNL e de petróleo bruto.

Quais as tendências da indústria do petróleo e do gás em Angola?

A tendência é que as companhias internacionais e a Sonangol continuem a explorar novas reservas de petróleo e gás. Há muitos

AS RECENTES REFORMAS REGULAMENTARES E ESTRUTURAIS TORNARAM

ANGOLA

NUM DESTINO DE PROMOTORES E INVESTIDORES.

O Presidente João Lourenço fez o discurso de arranque da 3.ª edição do AOG2022, onde revelou estar em preparação um Plano Director para o gás natural, com um horizonte de longo prazo. Mas o tema da transição energética não foi esquecido pelo Chefe de Estado, que deu nota dos passos que têm sido dados para o desenvolvimento de uma economia cada vez mais sustentável, onde as petrolíferas, incluindo a Sonangol, têm uma palavra a dizer. No seu discurso, JLo defendeu que o sector petrolífero deve promover uma gestão sustentável dos combustíveis fósseis e lembrou que o Executivo tem também estado engajado na construção de centrais fotovoltaicas, através da Sonangol, com base em parcerias com empresas internacionais como a Eni e a Total, e empresas alemãs, para desenvolver projetos de produção de hidrogénio verde “que vão contribuir para sustentabilidade do seu portefólio de negócios”. “Angola está aberta ao investimento privado”, reiterou o Presidente, que anunciou que Angola está a ultimar um Plano Director para o gás natural, com um horizonte a 30 anos, de modo a garantir a criação de empregos e geração de receitas para o Estado”.

O Chefe de Estado apelou aos investidores que olhem para as oportunidades de negócio e garantiu que o Governo tem trabalhado “incansavelmente” para estabelecer um ambiente regulatório propício, tendo redefinido o modelo de governação do sector e os papéis das diferentes entidades, apostando em maior transparência e competitividade no sector, tornando-o mais atractivo para a captação de investimentos nacionais e estrangeiros.

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João Lourenço garante foco na descarbonização
“ ÁFRICA | ANGOLA

Ministro dos Petróleos destaca parcerias para transição energética

No encerramento dos trabalhos, o ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás reiterou a aposta do Estado angolano em acelerar a transição energética, com a expansão de projectos de energia solar, bioquímica, eólica, de biocombustíveis e hidrogénio verde, que ao mesmo tempo podem contribuir para o crescimento e desenvolvimento económico do país.

Diamantino Azevedo avançou que o Executivo está também a trabalhar na procura de minerais importantes para a transição energética, como terras raras e lítio, sendo que, neste caso, já se está em fase de prospecção, e o país possui uma série de projectos de cobre e outros minerais primários que são fundamentais para a transição energética.

“Estamos empenhados na construção de refinarias de petroquímica, fábricas de fertilizantes, exploração de recursos minerais como fosfato e sua transformação. Se o Executivo conseguir concretizar estes projectos, faremos a diferença no que diz respeito à diversificação económica, para o melhoramento da qualidade de vida e do bem-estar social do povo angolano”, disse, lembrando que o Executivo está disposto a trabalhar com todos os parceiros que decidiram investir em Angola e os que pretendem desenvolver as acções no sector petrolífero, para que os projectos ligados à transição energética sejam concretizados.

projectos interessantes em curso. Por exemplo, em Julho passado, a TotalEnergies anunciou a decisão final de investimento de 3 mil milhões USD no campo Begonia, em projectos de exploração petrolífera. Composto por cinco poços ligados ao FPSO Pazflor, este campo deverá acrescentar 30.000 bpd à produção actual.

Que oportunidades estão disponíveis para o investimento estrangeiro?

As oportunidades são tão grandes quanto o país é vasto. Angola tem um bom historial de utilização de receitas provenientes de projectos de petróleo e gás natural no financiamento de sectores estratégicos da economia, desenvolvendo infra-estruturas, a agricultura, educação e cuidados de saúde. Mas os investidores não vêm a Angola por altruísmo: fazem-no porque os retornos são elevados em todos os sectores e não apenas no do petróleo e gás. O país deverá ter um crescimento real do PIB acima de

5% entre 2023-2025, à medida que a recuperação económica pós-COVID se robustecer. E o Governo do Presidente João Lourenço tem vindo a trabalhar para melhorar o ambiente de investimento e de negócios.

Que papel pode a tecnologia desempenhar para reduzir custos neste sector?

A tecnologia é essencial em todos os aspectos da cadeia de valor energético, e quer a Sonangol, quer as companhias internacionais que operam em Angola utilizam tecnologia de ponta em todas as suas operações para reduzir custos, racionalizar a eficiência operacional e maximizar os benefícios para os accionistas. Há empresas locais, como a Integrated Solutions, que emergiram como fornecedores de soluções e serviços de TI, fornecendo manutenção e apoio a sistemas tecnológicos complexos. Outras empresas 100% angolanas, como a Anglobal e a SOAPRO, têm-se destacado na prestação de serviços de engenharia, construção civil e apoio técnico ao

sector do petróleo e gás, estando também a expandir-se para novas áreas de negócio, como as infra-estruturas e as energias renováveis.

Como é que Angola está a abordar a necessidade de formação e desenvolvimento de mão-de-obra qualificada neste sector?

Angola fez da formação e desenvolvimento da mão-de-obra local uma pedra angular do seu programa de desenvolvimento económico a longo prazo. As empresas que operam no sector da energia devem celebrar acordos-quadro com o Ministério, estabelecendo procedimentos relativos ao recrutamento, integração, formação e desenvolvimento da mão-de-obra, bem como um Plano de Desenvolvimento de Recursos

Humanos. Estes planos também contêm obrigações no que diz respeito à integração e promoção do pessoal angolano e à substituição de expatriados, no quadro de um processo de “angolanização” calendarizado.

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Um movimento para conquistar o mundo

022 foi um ponto de viragem na história da Girl MOVE Academy e o ano zero de um novo capítulo para a organização. A pergunta que está por trás da visão com que tudo começou mantém-se e, tendo evoluído para uma segunda, vai ainda mais além: “E se conseguíssemos quebrar o ciclo de pobreza através da educação das raparigas? E se pudéssemos transformar o mundo através da liderança feminina? Conseguimos e podemos, se fizermos parte de um movimento de mudança sistémica que activa o talento para o bem comum”, refere Alexandra Machado, Presidente e fundadora da Girl MOVE.

A Girl MOVE é uma Academia de Liderança Grassroots, que promove uma nova geração de jovens líderes femininas em África, através de uma metodologia única de mentoria intergeracional, recentemente reconhecida pela UNESCO. Nos últimos dez anos, reduziu a taxa de abandono escolar no norte de Moçambique de 90% para 20% e

os níveis de maternidade infantil de 45% para 2%. A Girl MOVE também elevou a carreira de impacto de mais de 250 jovens mulheres, em áreas estratégicas para o desenvolvimento do país.

Ao longo da sua primeira década, a Academia conseguiu posicionar-se como referência e ‘case study’ internacional, dentro do ecossistema das organizações de inovação social. A eficácia do seu trabalho levou a Girl MOVE para um lugar onde o ‘scale-up’ da sua metodologia e actuação já é uma realidade: primeiro em Moçambique e Portugal e, mais tarde, no mundo. Neste contexto e como estratégia para o futuro, a Girl MOVE vai focar-se em dois objectivos principais: scale-up da metodologia e reforço do envolvimento comunitário.

O scale-up da metodologia desenvolver-se-á de duas formas, quer através da activação dos Sisterhood Circles of Impact em Moçambique, recorrendo a meios digitais e novas tecnologias, através dos quais raparigas e jovens mulheres podem conhecer em profundidade o seu propósito e partilhar as suas

histórias, quer fazendo parcerias com organizações internacionais reconhecidas, também focadas em raparigas e mulheres, e que têm desafiado a Girl MOVE a incorporar e a disseminar os seus conteúdos. Outro dos focos será o reforço do envolvimento comunitário que torna real o impacto que as raparigas e jovens mulheres da Girl MOVE têm nas comunidades em que vivem. O ano de 2023 começa com esta nova ambição que eleva a Girl MOVE Academy a um novo nível. Evoluiu, expandiu-se e hoje é mais que uma academia, é um Movimento que está a conquistar o mundo e que, organicamente, já existe em todas as raparigas que passaram pela academia, que aprenderam a metodologia e que estão a replicar os círculos nas suas vidas e com as suas “manas”. O Movimento está vivo nas comunidades que a Girl MOVE já impactou e em todos os parceiros, moçambicanos e portugueses, que se uniram para fazer a diferença no mundo através do impacto e da transformação social.

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ÁFRICA | MOÇAMBIQUE
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TESTEMUNHOS

Fazer parte de um projecto que tem como objectivo resolver problemas reais da minha comunidade, mudou completamente a visão que tenho do mundo. Saber que posso ser parte da solução fezme sentir grata pelas ‘skills’ que adquiri ao longo da vida. Tornou-se muito claro que grande parte dos problemas serão resolvidos quando as pessoas perceberem que podem ser agentes de mudança social e, hoje, a primeira pergunta que faço é: “o que posso fazer para ajudar a mudar o que não está bem?”.

É com esta motivação que encontro propósito em tudo o que faço, todos os dias.

O programa de intercâmbio internacional em Portugal acontece num período em que já passámos por uma enorme transformação. Já tínhamos terminado a nossa caminhada de auto-conhecimento em que compreendemos as nossas motivações e alinhámo-nos com o nosso propósito.

Fui acompanhada por profissionais extremamente qualificados e dispostos a partilharem o seu conhecimento. Compreendi a cultura, conheci inovações que estão a ser implementadas e absorvi informações que me ajudarão a ter mais impacto no meu país.

As minhas capacidades de liderança e comunicação foram melhoradas, tornando-me assim numa mulher e profissional, mais confiante e capaz de mudar o mundo!

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Biut Chilaúle , Girl MOVER 2022, licenciada em Medicina Geral

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Após a realização de um dos maiores eventos do mundo para promoção dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em conjunto com a ONU em Julho do ano passado, Marta Suplicy referiu que a sua secretaria tem as alterações climáticas no topo das prioridades e em entrevista à PRÉMIO explicou algumas das iniciativas inovadoras que estão a ser levadas a cabo no âmbito da “Virada ODS”. Marta Suplicy adiantou ainda que nesta fase em que “os desvarios do governo que finalizou estão a ser resolvidos” é altura de vender a capital de São Paulo como sendo atractiva para investimentos ligados à sustentabilidade e ao meio ambiente.

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“Os ares são outros! Podemos olhar para a frente!”
AMÉRICAS | BRASIL
ENTREVISTA

MARTA SUPLICY , SECRETÁRIA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA PREFEITURA DE SÃO PAULO

Como a cidade de São Paulo tem lidado com questões como o meio ambiente e a sustentabilidade? Quais as grandes bandeiras desta área para a cidade e o que pode mostrar ao mundo?

Temos lidado com extrema diligência, a partir de um planeamento em consonância com a Agenda 2030, plano coordenado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e que repensa o planeta preocupando-se com as pessoas e com o combate às adversidades, superação da miséria e combate às alterações climáticas. Cada vez mais, estamos conectados e já ficou claro que é nas cidades, em maior escala, que o mundo todo concentra o seu modo de produzir.

A Prefeitura de São Paulo aderiu à Agenda 2030 por meio da Lei Municipal nº 16.817, o que a tornou directriz obrigatória de todas as políticas públicas do município. Também, onde sentimos os impactos sobre a nossa vida de maneira mais drástica. Entre os principais problemas, temos a poluição. Nesse contexto, São Paulo, cidade mais populosa da América Latina, com 12,2 milhões de habitantes – e quarta maior do mundo – tem muito a mostrar na conservação e na preservação do meio ambiente. A nossa cobertura vegetal é de 48,14% em todo o território municipal, muito acima do que as entidades ambientais internacionais preconizam como meta. Lembrando que temos duas Áreas de Protecção Ambiental, Bororé-Colônia e Capivari-Monos, no sul do município, e um terço do nosso território é coberto por remanescentes de Mata Atlântica. A nossa meta, que consideramos ousada, é ainda ampliar e, até 2024, chegar a 50%

de cobertura vegetal. Outro destaque é o nosso Plano de Acção Climática de São Paulo (PlanClima SP), estruturado com o financiamento e apoio da Rede C40, e que estrutura a ambição da cidade de se tornar neutra em carbono até 2050. Este ano de 2023, com esta acção, mais de 1 mil autocarros eléctricos devem ser colocados em circulação na cidade e a meta é, em 2024, contar com 20% da frota electrificada, o que corresponde a quase 2600 veículos.

No primeiro trimestre de 2022, a Prefeitura de São Paulo anunciou o lançamento da Agenda 2030, liderada pela senhora secretária, um plano com 655 acções desenvolvidas pela Prefeitura com o objectivo de transformar a capital numa cidade mais sustentável. De que medidas estamos a falar e qual o valor de investimento envolvido?

Exactamente. Falamos de 655 acções prioritárias para o quadriénio 2021-2024, com um investimento global estimado em mais de R$ 13 bilhões. Isso vem na sequência do que citei de propostas com vista a atenuar a pobreza e a desigualdade, melhorar a saúde e educação, tornar a cidade mais sustentável em termos ambientais, inovar em infraestrutura ou melhorar as condições de trabalho e de segurança. Destaco alguns exemplos práticos, tais como: a implantação de 40 novos Ecopontos; a substituição de 270 mil lâmpadas de vapor de sódio por lâmpadas LED; a implementação de programa de busca activa para combater a exclusão escolar; a oferta de cursos de formação a servidores dentro da temática étnico-racial; a criação de um cartão alimentação destinado a famílias em situação de vulnerabilidade social; o investimento no

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programa de reintegração social Transcidadania e a inserção de 2.000 novos beneficiários no Programa Bolsa Trabalho. Por último, é importante destacar que a Prefeitura de São Paulo e a ONU Brasil renovaram o seu Memorando de Entendimentos, em 2022, para continuarmos a trabalhar em conjunto na localização da Agenda 2030 e dos ODS no município.

Recentemente, a cidade de São Paulo ganhou o título de Capital Verde Ibero-americana do ano de 2022, concedido pela União das Cidades Capitais Ibero-americanas (UCCI). O que esteve na base para a atribuição deste título?

A UCCI estabeleceu o título de Capital Verde Ibero-americana em 2005, visando reconhecer as políticas de governos locais que procurassem fortalecer e conciliar as áreas verdes e a biodiversidade urbana como bases para avançar na direcção de uma cidade sustentável. O nosso Plano de Acção Climática foi desenvolvido pela Prefeitura, com colaboração e aprovação da rede de cidades C40. Tem mais de 40 acções definidas e o foco é reduzir as emissões de gases do efeito estufa até 2030. Para 2050, a pretensão é chegar às emissões zero. Esse foi o grande destaque na nossa apresentação, quando recebemos o título. Entre as acções, cito novamente a

Marta Suplicy é psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com pós graduação em Stanford e mestrado na Universidade Estadual de Michigan. É psicanalista e autora de vários livros.

É desde Janeiro de 2021 Secretária Municipal de Relações Internacionais da Cidade de São Paulo e anteriormente foi Prefeita da Cidade de São Paulo, Ministra do Turismo e Ministra da Cultura do Governo Federal do Brasil.

renovação de 20% da frota de autocarros, por veículos menos poluentes. Do ponto de vista político, São Paulo apresentava-se como um contraponto ao negacionismo científico que enfrentávamos no Brasil. Muito significativo esse reconhecimento no âmbito da diplomacia das cidades.

Em Julho de 2022 decorreu o maior evento do mundo em promoção dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), juntamente com a ONU, em 10 polos na cidade. Quer destacar-nos algumas das iniciativas que vão decorrer nos próximos tempos?

Fizemos uma inédita “Virada ODS” em 2022, evento sem precedentes no mundo, para popularizar informações sobre os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODS. Reunimos, em três dias de programação, cerca de 25 mil pessoas em todos os espaços do evento. Entre os locais, o principal palco foi a Bienal do Ibirapuera. Tivemos, também, uma maratona de Hackathon, no Hub Green Sampa, com quatro equipas vencedoras, promovendo a inovação. O Green Sampa é instalado num prédio histórico onde, antigamente, era realizada queima de lixo na Capital paulista. Foi modernizado e agora passa a ser um símbolo de espaço para promover a sustentabilidade.

É notável e surpreendente o que á fizemos.

Actividades culturais e educativas aconteceram em 10 Centros Educacionais Unificados (CEUs). Considero que o ponto alto dessa edição foi o Congresso Internacional, trazendo a palestra inaugural do 8º secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, cuja gestão foi marcada pelo estabelecimento das ODS, entre outros importantes convidados. Superou as nossas expectativas! E para este ano, em Junho, no centro da cidade na Praça das Artes e no Theatro Municipal, queremos ter uma exposição, um congresso e um Hackathon ainda maiores. Durante a semana, teremos actividades em 50 CEUS. Adianto que um dos temas será o da migração climática. Estamos à procura, principalmente, de parcerias com empresas de tecnologia. A meta é superarmos-nos em relação ao que fizemos na primeira edição para inspirar mais cidades a criarem as suas “Viradas ODS”.

Sabemos que foi promotora da adesão da Prefeitura à Declaração de Barcelona sobre Políticas do Tempo, assinada em Outubro de 2021 por mais de 70 instituições internacionais, defendendo a não alteração da hora durante o ano. Quais as vantagens desta medida?

Essa oportunidade de debater e aderir à Declaração de Barcelona

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PERFIL AMÉRICAS | BRASIL

foi-nos apresentada no âmbito da rede Metropolis. O documento visa o comprometimento com o desenvolvimento de políticas públicas para assegurar mais qualidade de vida às pessoas. Estamos a falar de respeito ao direito dos cidadãos quanto ao equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, tempo de cultura e lazer, mobilidade urbana eficiente, entre outros pontos. Uma declaração que foi preparada pelo grupo do Laboratório de Especialistas da Iniciativa sobre o Uso do Tempo, Prefeitura e Área Metropolitana de Barcelona, entre outros actores que procuram apoio para que o movimento cresça. Considero válida e urgente essa iniciativa, principalmente pelo cuidado com a saúde de todos.

São Paulo tem vínculos com algumas “cidades irmãs”. O primeiro acordo foi firmado em 1962 com Milão, em Itália, e o mais recente no ano de 2020 com Belmonte, em Portugal. Qual a importância destes vínculos e como está a correr o entendimento com Portugal?

São Paulo tem actualmente 36 cidades-irmãs. Em Novembro de 2022 foi assinado durante o “Web Summit”, um acordo de cooperação e irmanamento com Lisboa também. A importância

desses acordos entre as cidades dá-se, sobretudo, pela troca de experiências, pelo estreitamento dos laços políticos e culturais e pela procura de novos projectos e parcerias.

Em Novembro de 2022, a SMRI participou do evento anual de Cooperação Internacional em Desenvolvimento Sustentável promovido pelo programa International Urban and Regional Cooperation (IURC), financiado pela União Europeia que promoveu os principais objectivos e metas do programa.

Algumas duplas de cidades foram seleccionadas pela organização do evento para apresentar com maior profundidade o trabalho que tem sido desenvolvido. Foi possível apresentar a parceria desenvolvida com as cidades de São Paulo e Milão, os objectivos, desafios e resultados. Os resultados da missão foram positivos para a intensificação das relações bilaterais entre ambas as cidades, sendo que o evento anual de IURC, um grande encontro de cidades e regiões do mundo que cooperam em desenvolvimento sustentável foi, por si só, uma oportunidade de prospecção e fortalecimento de vínculos e parcerias internacionais. A missão teve como resultado a atracção de parceiros de diversas cidades globais que se

interessaram pela cooperação desenvolvida entre São Paulo e Milão. Foram realizadas mais de 10 apresentações durante todo o evento, apresentando algumas das principais características da metrópole e os seus projectos relacionados com o desenvolvimento urbano sustentável, o que mostra que práticas como esta são eficazes para demonstrar o potencial cultural, tecnológico e económico da capital para que seja possível atrair parceiros para futuras cooperações.

Qual o futuro político do Brasil?

Sob a experiência e a habilidade do Presidente Lula, creio que já podemos dizer que o Brasil voltou à cena internacional como um país novamente confiável e comprometido com a diplomacia e o multilateralismo, pois conta com dirigentes que cumprem acordos, prezam pela estabilidade institucional, jurídica e económica. Vamos reascender, deixando para trás o negacionismo científico, o desmate e a queimada da Amazónia, entre os piores momentos que atravessamos no governo Bolsonaro. É um momento em que as turbulências vão ficando para trás porque os últimos desvarios do governo que finalizou estão a ser resolvidos. Os ares são outros! Podemos olhar para a frente!

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“ ENTRE AS ACÇÕES, CITO NOVAMENTE A RENOVAÇÃO DE 20% DA FROTA DE AUTOCARROS, POR VEÍCULOS MENOS POLUENTES.
BRASIL | AMÉRICAS

O avanço da sustentabilidade nas empresas e no (novo) Governo

Um sinal expressivo dessa nova mudança foi dada por Marina Silva durante sua posse, que já tratou de acrescentar o termo “Mudança do Clima” ao nome do Ministério de Meio Ambiente. Sinal positivo que tende a impulsionar o movimento entre as corporações. É um recomeço, mas não é do zero, apesar do abismo da política ambiental construído nos últimos quatro anos do governo de Jair Bolsonaro.

Se no governo o desafio é transformar as boas ideias em política pública de forma a evitar desastres naturais como queimadas e alagamentos, entre as empresas a dificuldade é acelerar iniciativas sustentáveis de forma a atrair investidores internacionais ao Brasil.

oi-se o tempo em que sustentabilidade se resumia a economizar água e a usar papel reciclado. Não mais. O conceito ganha cada vez mais definições. Nas empresas, deixou de ser concentrado em uma diretoria para ganhar espaço em todas as áreas. No novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou ao poder democraticamente em janeiro de 2023, a promessa é que o tema será tratado, assim como nas corporações, de forma transversal reunindo quase duas dezenas de ministérios.

Parece algo óbvio. Mas não é. Ainda há uma dificuldade por parte da população em entender que a sustentabilidade está intrinsecamente ligada a mudanças climáticas, preservação, combate ao desmatamento, preservação de florestas, redução de emissão de gases causadores do efeito estufa e, no caso do Brasil, respeito aos povos indígenas. Tudo é uma coisa só.

Entre as grandes companhias, as iniciativas sustentáveis ajudam a guiar os planos de investimento a partir de 2023, sinalizando que a transição energética é fundamental. Na Petrobras, a maior empresa do Brasil, os novos planos já estão sendo geridos pela futura gestão, que será liderada por Jean Paul Prates, com larga experiência no setor e no Congresso como Senador. A ideia é colocar a transição energética não em uma diretoria isolada, mas expandir o conceito para todo seu organograma, de forma transversal. Na prática vai permitir que as equipes de áreas como refino e fertilizantes, por exemplo, passem a pensar em desenvolvimentos futuros que se sustentem nas próximas décadas além do petróleo e gás.

E, claro, a petroleira quer ir além do petróleo do pré-sal e se transformar em uma empresa de energia, acelerando investimentos em projetos de hidrogênio e energia eólica ‘offshore’. Mas leva tempo. São de seis a oito nos, segundo as previsões. Mas a Petrobras chegará atrasada, já que as rivais Equinor, BP e Shell já iniciaram essa transição. Mas não é só o setor de energia que novas iniciativas ganham forma.

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* Texto escrito na língua de origem do autor
F
AMÉRICAS | BRASIL
BRUNO ROSA*, PRÉMIO

As Havaianas, marca de sandálias vendidas em todo o mundo, preparam para 2023 o lançamento de linhas específicas de chinelos e acessórios usando matérias-primas como café e açaí dentro do composto durante a produção do produto. Alguns podem classificar a mudança como simples, mas envolve um trabalho conjunto entre a área de pesquisa, logística, fabril e desenvolvimento de produtos. A complexidade envolve ainda a escolha de fornecedores, em sua maior parte formada por cooperativas familiares. Mudanças que envolvem tempo e dinheiro até sair do papel. Quem também aposta em mudanças é a Goodyear Tire & Rubber Company, fabricante de pneus, no Brasil. Para 2023, a companhia decidiu ampliar de 70% para 90% a presença de materiais sustentáveis, como o óleo de soja, em seus produtos. Para as empresas, a visão é simples: esses investimentos são os instrumentos para se ter acesso a recursos financeiros, compensando o baixo crescimento econômico do Brasil. Em paralelo às empresas, estão as iniciativas de preservação de áreas sensíveis. A principal delas é, sem dúvida, a Amazônia, maior floresta tropical do mundo. Basta notar a intenção do BNDES, banco de fomento do Brasil e um dos maiores do mundo, de se tornar uma instituição verde. O primeiro passo foi nomear a ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, como diretora do banco.

O novo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, exemplificou bem o tema do ponto de vista dos investidores internacionais: “O que acende a luz ou apaga é a Amazônia”. Uma das ideias de Mercadante é propor um bloco com Indonésia e Congo, que reúnem as maiores florestas tropicais do mundo, para liderar a regulamentação do mercado de carbono. Está de olho em um fundo de 55 trilhões de euros da União Europeia destinado para

outros países. Mas o ano de 2023 está apenas começando. Internamente, as empresas e o novo governo aceleram os trabalhos para recuperar o tempo perdido nos últimos quatro anos. Externamente, o Brasil quer voltar ao jogo. Lula anunciou no último dia 11 de janeiro que Belém, capital do Pará, é a cidade brasileira escolhida como candidata oficial do país para sediar uma edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30) em 2025. Quer discutir a sustentabilidade dentro da Floresta Amazônica. Os movimentos devem ajudar na atração de fundos internacionais de investimentos verdes ao Brasil. Que venha o futuro verde!

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AMÉRICAS | BRASIL
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Articles inside

O avanço da sustentabilidade nas empresas e no (novo) Governo

3min
pages 100-102

Um movimento para conquistar o mundo

10min
pages 94-99

Ministro dos Petróleos destaca parcerias para transição energética

2min
page 93

ANGOLA BENEFICIA DE INEGÁVEL ESTABILIDADE POLÍTICA, PAZ E SEGURANÇA, AO CONTRÁRIO DE OUTROS PRODUTORES SUBSARIANOS.

2min
pages 91-92

INCENTIVOS RELATIVOS AO AMBIENTE

12min
pages 83-84, 86-91

Sol já gera electricidade para mais de um milhão de angolanos

3min
pages 80-82

Un cambio cultural hacia la sostenibilidad

3min
pages 78-79

Os 4 Is da Ação Climática

3min
pages 76-77

Sustentabilidade no setor social solidário

2min
page 74

Progressos para as crianças

3min
pages 72-73

Semear oportunidades para quem mais precisa

5min
pages 66-72

“ Capturing the dividends from women’s economic equity.

11min
pages 59-65

4 ways to improve economic opportunities for women around the world

1min
page 58

Roupas Sustentáveis que estão na moda

6min
pages 54-57

A mobilidade urbana

2min
page 52

LISTA DE EMPRESAS PORTUGUESAS COM PRESENÇA EM ÍNDICES EURONEXT ESG

9min
pages 45-51

“Os mercados de capitais podem contribuir para colocar os temas de sustentabilidade na agenda dos investidores”

2min
page 44

Uma marginal sem carros mesmo à frente de casa.

1min
page 43

Os motores da transição para investimentos sustentáveis

2min
page 42

Sustainability reporting: the point of no return

6min
pages 38-41

futuro será sustentável (e neutro em carbono), mas temos de agir agora”

9min
pages 32, 34-37

Pacto do Porto para o Clima Rumo à neutralidade carbónica até 2030

2min
page 30

Aposta em frota (cada vez) mais amiga do ambiente

6min
pages 26-29

Tudo por um mundo melhor

3min
pages 24-26

Um planeta sustentável chamado Delta Cafés

10min
pages 16-24

Aqui, nada se desperdiça, tudo é valorizado

3min
pages 14-16

ESG: um quadro em crescimento

3min
pages 12-14

Para um futuro sustentável

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pages 10-11

O avanço da sustentabilidade nas empresas e no (novo) Governo

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pages 100-102

Um movimento para conquistar o mundo

10min
pages 94-99

Ministro dos Petróleos destaca parcerias para transição energética

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page 93

ANGOLA BENEFICIA DE INEGÁVEL ESTABILIDADE POLÍTICA, PAZ E SEGURANÇA, AO CONTRÁRIO DE OUTROS PRODUTORES SUBSARIANOS.

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Sol já gera electricidade para mais de um milhão de angolanos

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Un cambio cultural hacia la sostenibilidad

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pages 78-79

Os 4 Is da Ação Climática

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Sustentabilidade no setor social solidário

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“ Capturing the dividends from women’s economic equity.

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A mobilidade urbana

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LISTA DE EMPRESAS PORTUGUESAS COM PRESENÇA EM ÍNDICES EURONEXT ESG

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pages 45-51

“Os mercados de capitais podem contribuir para colocar os temas de sustentabilidade na agenda dos investidores”

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futuro será sustentável (e neutro em carbono), mas temos de agir agora”

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Pacto do Porto para o Clima Rumo à neutralidade carbónica até 2030

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Um planeta sustentável chamado Delta Cafés

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Aqui, nada se desperdiça, tudo é valorizado

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