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Marcelo Augusto Vilaça de Lima SURDOS E MERCADO DE TRABALHO: DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS Maria Cristianne do Carmo Conder; Maria Cristina Santos do Carmo; Ana Telma Monteiro de Sousa

Surdos e mercado de trabalho: desafios contemporâneos

RESUMO

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Maria Cristiane do Carmo Conder 1

Maria Cristina Santos do Carmo

Ana Telma Monteiro de Sousa

O presente artigo tem como objetivo analisar os desafios enfrentados pelos surdos no cotidiano do mercado de trabalho nas empresas em Belém/PA, descrevendo assim as dificuldades e barreiras enfrentadas por eles na comunicação e na execução de suas tarefas. A relevância do tema pesquisado está na importância da contribuição que esta pesquisa poderá trazer, buscando melhorias no setor empresarial para que todos os colaboradores independentes de suas limitações possam ter um espaço mais aberto as diferenças, menos excludente e com menos preconceito. A base teórica do estudo foi pautada por meio de referenciais teóricos como Novaes (2014), Quadros (2007), Mantoan (2003), Sacks (1989), entre outros. No Método optou-se por realizar uma pesquisa do tipo estudo de caso exploratório descritivo sob a ótica da abordagem qualitativa. A metodologia utilizada foi uma pesquisa do tipo estudo de caso exploratório descritivo sob a ótica da abordagem qualitativa. Tendo como lócus de investigação a Escola Estadual Astério de Campos, faculdade FIBRA (Faculdade Integrada Brasil Amazônia) e no (SINE) que fica dentro do CIIC (Centro integrado de inclusão e cidadania), envolvendo pessoas com surdez que estão no campo de trabalho, no período de 18 de setembro a 09 de dezembro de 2019. Os resultados demonstraram que as práticas de contratação dos funcionários surdos ainda ocorrem de forma excludente entendendo que apesar das dificuldades encontradas pelos surdos no mercado de trabalho, eles podem superar barreiras que impedem o exercício de sua cidadania recebendo o apoio da família e escola como elementos estimuladores para seu sucesso profissional. Consideramos É fundamental que se perceba que a questão da inclusão da pessoa surda no mercado de trabalho não é apenas uma luta de quem possui alguma deficiência, mas de todos, o que denota a necessidade de uma mudança na sociedade, visando a beneficiar todo e qualquer cidadão. Palavras-chave: Surdo. Inclusão. Mercado de trabalho.

1 INTRODUÇÃO

O intuito do presente trabalho é analisar a inclusão e os desafios enfrentados pelas pessoas surdas no mercado de trabalho, preocupação esta que vem ganhando espaço na sociedade, hoje um pouco mais atenta à diversidade humana. Sawaia (2007), afirma que a inclusão e exclusão são faces de uma mesma moeda e, nesse sentido, a luta por inclusão somente se justifica em espaços impregnados por exclusão. Apesar da existência do amparo legal que se refere à lei 13.146/2015 que institui a lei brasileira de inclusão da pessoa com deficiência (estatuto da pessoa com deficiência) é percebido na sociedade indícios de preconceitos não garantido o exercício da cidadania.

1 Especialização em Psicologia Educacional; CONDER, Maria Cristianne do Carmo; Universidade do Estado do Pará – UEPA. Email: cristianeconder@gmail.com 2 Especialização em educação especial; CARMO, Maria Cristina Santos; Faculdade Ipiranga. Email: mariscarmo1000@gmail.com 3 Doutorado em Gestão educacional; SOUSA, Ana Telma Monteiro de; Universidade do Estado do Pará – UEPA. Email: anatelmasousa@gmail.com

É fundamental percebermos a questão da inclusão não apenas como uma luta de quem possui alguma deficiência, mas de todos, denotando a necessidade de uma mudança na sociedade, visando a beneficiar todo e qualquer cidadão. Diante deste contexto sentimos motivados a pesquisar e discutir a cerca deste tema ao tentar sensibilizar as empresas sobre a pessoa com deficiência, de modo que entendam a importância de promover uma inclusão social mais justa e desprovida de assistencialismo. A relevância do tema pesquisado está na importância da contribuição que esta pesquisa poderá trazer, buscando melhorias no setor empresarial para que todos os colaboradores independentes de suas limitações possam ter um espaço mais aberto as diferenças, menos excludente e com menos preconceito. Apesar de existir uma legislação, ainda observamos ações excludentes, visto que, muitas vezes, a inserção da pessoa com deficiência em diversas esferas da sociedade, avigoram-se os preconceitos e as medidas segregativas. A inclusão dos sujeitos surdos no mercado de trabalho traz um desafio vivido não somente pelo surdo, mas, também pela família que acompanha seus passos e pode ter papel decisivo nos caminhos percorrido com base nos autores Quadros (2007), Mantoan (2003), Sacks (1989), Novaes (2014), Sawaia (2007), entre outros. Diante do contexto surge a seguinte questão da pesquisa: quais os desafios enfrentados pelos surdos no mercado de trabalho nas empresas em Belém? Pretendemos também buscar respostas para as seguintes questões norteadoras que remetem as reflexões: Como as empresas tratam a inclusão da pessoa surda no meio laboral? Quais formas de assessoramento estão sendo oferecidas as pessoas surdas para superar suas limitações nas empresas? Quais as barreiras que impedem o crescimento do surdo dentro da empresa? Como objetivo geral analisar os desafios enfrentados pelos surdos no cotidiano do mercado de trabalho nas empresas em Belém/PA, além disso, investigar como as empresas tratam a inclusão do surdo no meio laboral; conhecer as dificuldades enfrentadas pelos mesmos; e identificar as barreiras enfrentadas na execução de tarefas na empresa.

2 O SUJEITO SURDO E O MUNDO DO TRABALHO: POSSIBILIDADES E LIMITES DE ATUAÇÃO

Segundo Novaes (2014) os relatos históricos a respeito do tratamento recebido pelos surdos possuíam um caráter de perversidade, os surdos travaram grandes batalhas pela afirmação da sua identidade, da comunidade surda, de sua língua e da sua cultura, demonstrando avanços e recuos na abordagem social, emprestada a questão legal das deficiências, refletindo na seara do mercado de trabalho e no uso de força humana. As investigações históricas demonstram as diferentes formas que os surdos eram vistos ao longo do tempo, na Roma antiga, tanto os nobres como os plebeus tinham permissão para sacrificar os filhos que nasciam com algum tipo de deficiência. Em Esparta, os bebês e as pessoas que adquiriam alguma deficiência eram lançados ao mar ou em precipícios. Conforme O autor (2014), ainda reforça que em Atenas, uma lei determinava a morte das pessoas\ inúteis, quando a cidade estava sitiada, para aumentar a chance de sobrevivência dos perfeitos. A própria Igreja Católica adota comportamentos discriminatórios e de perseguição, substituindo a caridade pela rejeição àqueles que fugiam de um “padrão de normalidade” devido às

incapacidades físicas, os sérios problemas mentais e as malformações congênitas eram considerados, quase sempre, como sinais da ira divina, taxados como castigo de Deus. Para Mazzotta (2005, p.16)

A própria religião, ao colocar o homem como “imagem e semelhança de Deus”, portanto, ser perfeito, acrescia a ideia da condição humana, incluindo-se aí a perfeição física e mental. E, não sendo parecidos com Deus”, os portadores de deficiências (ou imperfeições) eram postos à margem da condição humana, e tidas como culpadas de sua própria deficiência.

Nesse sentido, destacamos o entendimento de que a raiz de quase todas as formas de exclusão e, consequentemente, preconceito, e, discriminação contra as pessoas com deficiência foi construída ao longo da história, e que as mesmas são vistas como inúteis e sem valor para o meio social incluindo o meio produtivo. Batista (2004,) Afirma que:

A inclusão social é geralmente almejada não só pelas pessoas com deficiência, mas por todo indivíduo que se sente excluído, de alguma forma, do convívio social. Os parâmetros para definir o que seja essa inclusão social são vagos ou de difícil quantificação, mas parece evidente que a inclusão social significa mais do que a mera sobrevivência.

Diante do exposto percebemos que desde os primórdios já se tinha uma grande dificuldade quanto o termo inclusão sido em muitos casos compreendido de forma equivocada, pois na maioria das vezes é adotado do ponto de vista social como sendo apenas incluir, colocar junto. Entretanto, a inclusão é antes de tudo um processo de se autoanalisar, de procurar no outro o que ele tem a nos oferecer, de perceber a forma como vê a vida, as coisas e as pessoas. Portanto, fica patente que a inclusão social engloba a aceitação das diferenças individuais e à valorização de cada pessoa na convivência dentro da diversidade humana. Kelma (2010) explica: a família apresenta uma estrutura razoavelmente estável, com regras e valores próprios, interdependência entre os seus membros e que, além disso, é um grupo social pequeno. Diante desse fato, é possível compreender que a família é a principal instituição social que influenciará no desenvolvimento do indivíduo, especialmente por estabelecer as primeiras experiências de convivência e interação com o meio. Ainda com o autor (2010), A família é parte fundamental neste cenário, pois cabe a ela à aceitação de sua criança com deficiência e à construção – ou não – de um ambiente familiar mais preparado para incluir essa criança como membro integrante, participando de suas conquistas, incentivando e abrindo as portas do mundo para que ele tenha acesso á escola e oferecendo condições para que se desenvolva como qual quer indivíduo. A primeira atitude importante dos pais consiste em acreditar nas potencialidades de seus filhos, considerando capaz de estudar, de ser independente, de trabalhar, praticar esportes e outras coisas que uma pessoa sem deficiência faz. O acesso precoce a língua de sinais é fundamental para que o indivíduo surdo se desenvolva linguisticamente e tenha possibilidades para comunicar seus desejos, necessidades e opiniões permitindo assim que o mesmo possa significar o mundo e a si próprio com a ajuda dos familiares. Aliada a família, a escola surge como uma instituição capaz de favorecer a construção de saberes, preparando o surdo para atuar de maneira competitiva no mercado de trabalho, com as mesmas chances que tem os ouvintes. A escola tem um papel significativo, não só para o de-

senvolvimento cognitivo e social das crianças, mas também para sua saúde psíquica, pois ela é o primeiro espaço social promotor de separação entre a criança e a família, estabelecendo um importante elo com a cultura. De acordo com Batista (2004) a escola exerce a função mediata, é a instituição responsável pela passagem da vida particular e familiar para o domínio público, tendo assim a função social reguladora e formativa dos alunos. [...] Ela precisa assumir um compromisso com as mudanças sociais, com o aprimoramento das relações entre os cidadãos, com o cuidado e respeito em relação ao mundo físico e aos bens culturais que nos circundam. Em relação à inclusão do aluno surdo no contexto escolar, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB, nº 9394/1996) estabelece que os sistemas de ensino devam assegurar, principalmente, professores especializados ou devidamente capacitados que possam atuar com qualquer pessoa especial na sala de aula. Neste sentido, entende-se que o aluno surdo tem o direito de frequentar uma sala de aula da rede regular de ensino e de ser atendido pedagogicamente em suas necessidades.

Quando tratamos de inclusão do surdo ao mercado não se pode deixar de enfatizar sobre o trabalho, que proporciona integração social possibilitando o relacionamento entre pessoas, fazendo com que o indivíduo possa formar sua identidade, se incluindo na sociedade com sentimento de pertencimento a um grupo. Neste contexto os deficientes auditivos não poderiam ficar a parte deste processo. A partir deste entendimento, Aranha (2001) aponta que a criação de mecanismos para inserir pessoas com deficiência no mercado de trabalho é parte de um amplo processo de inclusão social. Esse processo se fundamenta no reconhecimento da diversidade em sociedade, garantindo o acesso a todos, independentemente de suas particularidades, como nos é referido na constituição federal de 1988 que garante direitos sociais básicos. Entretanto nem sempre esses direitos assegurados por lei condizem com as possíveis condições. Não se está tratando somente de contratação de pessoas surdas, mas também de oferecer as possibilidades para que possam desenvolver seus talentos e permanecer na empresa, atendendo ao critério de desempenho previamente estabelecido. Segundo Novaes (2014, p.122), “muitas vezes, as pessoas surdas são contratadas, principalmente no âmbito particular, e colocadas em posições subalternas e humilhantes, não valorizando as áreas nas quais possui talentos e melhores aptidões”. Para que o surdo seja inserido de uma forma menos excludente se faz necessário que haja adaptações, pois as pessoas ouvintes se sentem incapacitadas para a comunicação com o mesmo, pelo fato de não saberem a Língua de Sinais e não se sentirem preparadas para o convívio. Desta forma os surdos acabam sendo discriminados por algumas pessoas, isolando-se da sociedade e do trabalho. Segundo Bertolin, (2004, p.168):

A discriminação das pessoas com algum tipo de deficiência, no que diz respeito ao acesso ao trabalho, assume uma dimensão considerável, pois significa excluí-las da sociedade negando-lhes a condição de cidadãs”. Assim, a discriminação no âmbito do trabalho, consiste em se negar ao trabalhador um tratamento igualitário em relação aos demais, tanto para a aquisição, quanto para a manutenção de um emprego.

Para combater a banalização social é preciso defender a dignidade da pessoa com deficiência, entendendo que ela depende de todos os direitos (econômicos, sociais, civis, políticos), devemos trabalhar para uma realidade que supere as diferenças sociais, entre o direito de viver e o direito de dignidade, para que possa ser abandonada a idéia de um sujeito movido de carência e possamos criar possibilidades para nascerem novas potencialidades (SAWAIA, 2004). Para a autora supracitada, deve-se, também, considerar a subjetividade humana como uma experiência ativa de sujeitos livres, que expressa a singularidade de cada um dentro da comunidade, e permitir que possamos compreender que essas singularidades estão em busca do fortalecimento das diferenças e das singularidades diversas e não do bem da igualdade. Contudo, não seria possível iniciarmos uma reflexão sobre qualquer legislação sem antes se resgatar a Constituição Federal, promulgada em 1988, a qual oferece subsídios para garantia dos direitos sociais básicos dos cidadãos e o exercício pleno de liberdade. Tendo como princípio da igualdade e do tratamento idêntico perante a lei. No inciso XXXI do art.7°, a “proibição de qualquer discriminação no tocante a salários de administração do trabalhador com deficiência”, visando a existência de igualdade de direitos trabalhistas entre as pessoas com ou sem deficiências.

A lei 8.213, de 24 de julho de 1991 - dispõe informações sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social. Conhecida como “Lei das Cotas”, em seu art. 93, estabelece também a reserva de vagas para pessoas com deficiências. Novaes (2014) descreve que o número de funcionários e o percentual de vagas destinadas as pessoas com deficiência são: I – de 100 a 200 empregados 2%, II – de 201 a 500 3%, III – de 501 a 1000 4%, IV – de 1001 em diante 5%. Para tanto as empresas que estiverem de acordo com a Lei de Cotas devem garantir, no mínimo, aos seus funcionários com deficiência o direito de ir e vir, bem como adequar o local de trabalho de acordo com a necessidade físicas e psíquicas da pessoa, além de garantir todos os seus direitos conforme legislação. O funcionário com deficiência deve exercer suas funções e consequentemente cumprir suas obrigações sem direito a qualquer forma de paternalismo ou regalias especiais. Outra lei que também ampara os deficientes, incluindo os surdos, é a Lei n°.7.853/89, em seu artigo 8°, inciso III, caracterizando como crime punível com reclusão, de um a quatro anos e multa, negar sem justa causa, a alguém, por motivos derivados de sua deficiência, emprego ou trabalho. Este comando legal visa proteger o direito das pessoas com deficiência ao acesso em residências na qualidade de autônomos, em empresas privadas, etc. (NOVAES, 2014). (NOVAES, 2014, p. 111) afirma que: “Todo trabalhador deve ter o ambiente de trabalho com condições essenciais para desenvolver suas atividades, e não é diferente com o funcionário com deficiência”.

Conforme Batista (2004),

[...] a presença da pessoa com deficiência pode ser benéfica para a empresa até por seus efeitos secundários, ou seja, a presença de um “estranho” na organização pode quebrar a rotina alienante do ambiente de trabalho. O processo de identificação e aceitação da própria limitação, propiciado pela afinidade com a pessoa com deficiência, pode possibilitar relações mais afetivas no ambiente do trabalho e contaminar positivamente outras relações. A afirmação de que a presença dos mesmos no ambiente de trabalho humaniza as relações supõe-se ser um processo dessa natureza.

Apesar de existir um esforço por parte das legislações para a inclusão da pessoa com deficiência, ainda se observam ações excludentes, visto que, muitas vezes, ao se tentar incorporar a pessoa com deficiência em diversas esferas da sociedade, ainda encontramos preconceitos e as medidas segrega tórias.

3. PASSOS METODOLÓGICOS

A pesquisa foi realizada através de estudos bibliográficos para conhecer um pouco mais a respeito do surdo e o trabalho, foram realizadas visitas a alguns locais, para que desta forma pudéssemos entender como se dar o percurso da entrada do surdo no mercado de trabalho. Optamos por realizar uma pesquisa de campo do tipo exploratória descritiva sob a ótica da abordagem qualitativa, tendo em visto que, busca levantar informações sobre um determinado objeto, delimitando assim um campo de trabalho, mapeando as condições de manifestações desse objeto (SEVERINO, 2000, p.132). Tendo como lócus de investigação a Escola Estadual Professor Astério de Campos, faculdade FIBRA e o CIIC (Centro de inclusão e cidadania), envolvendo, 1 assistente social do (SINE), 2 funcionários surdos e 1 coordenadora da (FIBRA), 2 funcionários surdo da escola Astério de Campos no período de 18 de setembro a 09 de dezembro de 2019. Onde investigamos como se desenvolve o processo de introdução do surdo no mercado de trabalho, mantendo a veracidade dos fatos sem que haja distorções ou tendenciosidade na coleta de dados para que não interfira nas conclusões da pesquisa. Como instrumento de coletas de dados foi utilizado a observação tendo como roteiro orientador os objetivos do estudo, com intuito de afirmar com mais segurança que qualquer método investigativo deve valer-se em mais de um momento (GIL, 2008). De acordo com Gil esta técnica consiste em que o pesquisador participe de atividades cotidianas relacionadas a uma área da vida social, a fim de estudar um aspecto de vida por meio da observação de eventos em seus contextos naturais.

Outro tipo de técnica utilizada nesse trabalho foi a entrevista semiestruturada na qual consiste em uma conversa entre o investigador e o investigado e que possibilita conhecer o contexto de cada indivíduo. Baseado neste contexto “o entrevistador tem uma maior liberdade para desenvolver e direcionar perguntas que considere adequada a situação” (LAKATOS, MARCONI, 2003). Diante do exposto, entrevistamos colaboradores surdos e ouvintes através de um roteiro de questões abertas e fechadas que serviram como suporte de análise para coleta de dados. Essa é uma vantagem desse tipo de entrevista, pois o entrevistador não se prende ou segue à risca um determinado roteiro, dependendo do desenrolar da conversa, ele poderá construir ou levantar novos questionamentos, Os sujeitos da pesquisa foram Colaboradores surdos e ouvintes, nas quais foram entrevistados a assistente social do (CIIC) coordenadora da (FIBRA) e surdos da (FIBRA) e da escola Astério de campos que foram nomeado logo abaixo como S1,S2,S3,S4.em que se buscou destacar os aspectos mais importantes relatados pelos participantes quanto à comunicação, relacionamentos e trabalho, com o objetivo de saber como vivenciam o processo de comunicação e a introdução deste surdo no meio laboral.

4 RESULTADOS 4.1 A importância da comunicação no ambiente de trabalho para o surdo

Os seres humanos são altamente relacionáveis, e com isso a comunicação se torna a base de todas as atividades. O homem sempre esteve em busca e maneiras de relacionar que fossem eficientes, e hoje não é diferente. Temos diversas formas de estabelecer relações pessoais e profissionais a fim de gerar compreensão e engajamento. O surdo, por conta da dificuldade de comunicação decorrente de sua perda auditiva, encontra barreiras por não compartilhar a mesma língua de uma pessoa ouvinte fazendo com que a comunicação se torne um obstáculo para desenvolver seu trabalho com presteza. De acordo com Brito Junior et al. (2019), dentro do processo interpretativo da língua de sinais para a língua oral algumas modalidades, competências e habilidades deve ser envolvido nas práticas pedagógicas, pois é de fundamental importância a presença do interprete para que ocorra de fato o processo de inclusão. A própria lei nos mostra o quanto é importante a comunicação pois a inclusão social do surdo alcançou respaldo a partir da Lei Federal nº 10.436 onde se destacam o Art. 1º-onde é reconhecida como meio legal de comunicação a expressão a Língua Brasileira de Sinais- Libras e outros recurso de expressão a ela associados” O decreto Nº 5.6266 regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, considerando a pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras no entanto ainda se precisa algumas melhorias para que de fato o surdo possa ter uma comunicação mais inclusiva e menos excludentes.

Foi perguntado como ocorria a comunicação no meio laboral, se sabia Libras (língua de sinais). A grande parte dos entrevistados ouvintes afirmaram que não conseguiam se comunicar em libras, quanto aos surdos disseram que só conseguem a comunicação com os ouvintes através de gestos ou através da escrita em um caderninho de anotação pois a grande maioria não consegue se comunicar através da língua de sinais.

Coordenadora“Sei o básico, mais nossa comunicação com eles é falar pausadamente para que façam a leitura labial e a escrita em cadernetas ”. Assistente social “Aqui temos uma equipe que auxilia como interprete, pois, sabemos minimamente comunicar em libras” Coordenadora –“Os surdos têm dificuldade de entendimento mais a partir do momento que compreendem desenvolvem suas funções normalmente”. S1- “ Não consigo fazer que entendam o que desejo repassar, muitos não sabem libras e muitas vezes não tem paciência”. S2 –“Tem uma variável, pois, nem todos são fáceis de oralizar depende de como a pessoa fala, mexendo a boca, fala muito fechado, baixo, desvia o olhar tem todos os fatores que atrapalham a oralização”. S3 –“Prefiro logo oferecer um caderno de anotação para que possa me comunicar com o ouvinte, no entanto muitos não têm paciência e prefere procurar outro colaborador que seja ouvinte neste momento me sinto ignorado isso me deixa triste”. S4 –“Devido estar trabalhando em escola de surdo não tenho tanta dificuldade no meu ambiente de trabalho”.

A trajetória na comunicação de surdos tem provocado permanentes questionamentos acerca das marcas que são deixadas nos mesmos nos espaços onde elas trabalham e convivem, pois ‘durante a pesquisa foi percebido que nos lugares que foram visitados não havia uma preocupação dos ouvintes em rever a comunicação entre eles e o surdo, nos parece que da maneira que estar sendo posta estar contribuindo positivamente para o desempenho do surdo no

meio laboral. Quanto ao depoimento do surdo notamos que os mesmos sofrem com a maneira que estar sendo conduzida a comunicação no ambiente de trabalho. Foi perguntado se havia um assessoramento para que a comunicação se tornasse mais eficaz, obtivemos como resposta:

Coordenadora“não temos nenhum tipo de assessoramento, tentamos nos comunicar e nos adaptar para que possamos nos relacionar sem maiores dificuldades”. Assistente social – “ O assessoramento que temos é a presença de uma equipe de tradutores que nos auxilia em oferecer alguns cursos de libras”.

As maiorias das organizações se preocupam apenas em cumprir as cotas, sem focar na qualificação dessa mão de obra ou em intervenções que poderiam melhorar seu desempenho no trabalho.

Para Novaes (2014, p.122), “muitas vezes, as pessoas surdas são contratadas, principalmente no âmbito particular, e colocadas em posições subalternas e humilhantes, não valorizando as áreas nas quais possui talentos e melhores aptidões”. Para que o surdo seja inserido de uma forma menos excludente se faz necessário que haja um assessoramento por parte das empresas, pois as pessoas ouvintes se sentem incapacitadas para a comunicação com o mesmo, pelo fato de não saberem a Língua de Sinais e não se sentirem preparadas para este convívio.

4.2 Preconceitos e inclusão no ambiente de trabalho

A inclusão social é importante desde o âmbito familiar, e em seguida na fase da escolarização, para que a pessoa com deficiência se sinta integrado para quando iniciar sua vida adulta no mercado de trabalho não se sinta excluído dentro da sociedade. Sawaia (2007), afirma que a inclusão e exclusão são faces de uma mesma moeda e, nesse sentido, a luta por inclusão somente se justifica em espaços impregnados por exclusão. Observamos que, apesar das pessoas com deficiência chegarem a diferentes espaços, com direitos garantidos por lei, não significa que houve mudança no imaginário ou na consciência da sociedade como um todo, sobre sua capacidade ou direito de ocuparem este espaço. Novaes (2014) destacamos o entendimento de que a raiz de quase todas as formas de exclusão e, consequentemente, preconceito, e, discriminação contra as pessoas com deficiência foi construída ao longo da história, e que as mesmas são vistas como inúteis e sem valor para o meio social incluindo o meio produtivo. Discorrermos sobre surdez e preconceito é descrevermos uma das interfaces do ser surdo, quando se trata de inclusão do surdo ao mercado não podemos deixar de enfatizar sobre o trabalho, que proporciona integração social possibilitando o relacionamento entre pessoas, fazendo com que o indivíduo possa formar sua identidade, se incluindo na sociedade com sentimento de pertencimento a um grupo. Neste contexto os surdos não poderiam ficar a parte deste processo. Desta forma os surdos acabam sendo discriminados por algumas pessoas, isolandose da sociedade e do trabalho. Segundo Bertolin, (2004, p.168): “A discriminação das pessoas com algum tipo de deficiência, no que diz respeito ao acesso ao trabalho, assume uma dimensão considerável, pois significa excluí-las da sociedade negando-lhes a condição de cidadãs”. Assim, a discriminação no âmbito do trabalho, consiste em se negar ao trabalhador um tratamento igualitário em relação aos demais, tanto para a aquisi-

ção, quanto para a manutenção de um emprego. Foi perguntado como o surdo se sente no ambiente de trabalho, foi obtido como resposta:

S1 –“apesar de muitos nos compreender, ainda sinto muito preconceito das pessoas ouvintes e isso me deixa triste”. S2 –“me sinto acolhido em relação aos colegas de trabalho, já em relação alguns alunos tem umas parcelas que despreza o surdo”. S3 –“gosto das pessoas que trabalham comigo por que já conseguem compreender minha dificuldade então é mais fácil, mais tem aqueles que ignoram o surdo achando que não somos capazes de exercer a nossa função” S4 –“me sinto muito bem não tenho problema, até porque já estudava aqui antes de me tornar colaboradora”.

Para combater a banalização social é preciso defender a dignidade da pessoa com deficiência, entendendo que ela depende de todos os direitos (econômicos, sociais, civis, políticos), devemos trabalhar para uma realidade que supere as diferenças sociais, entre o direito de viver e o direito de dignidade, para que possa ser abandonada a ideia de um sujeito movido de carência e possamos criar possibilidades para nascerem novas potencialidades (SAWAIA, 2004). Ainda com a autora (2004), devemos também, considerar a subjetividade humana como uma experiência ativa de sujeitos livres, que expressa a singularidade de cada um dentro da comunidade, e permitir que possamos compreender que essas singularidades estão em busca do fortalecimento das diferenças e das singularidades diversas e não do bem da igualdade. A inclusão tratamos como um reconhecimento e um olhar com mais profundidade a pessoas que possuem algum tipo de deficiência, uma luta incansável de uma minoria que pretende requerer seus direitos. Se há inclusão é porque houve exclusão, seja ela social educacional em todas as esferas abrangendo a totalidade do desenvolvimento do ser humano. Quando nos referimos a pergunta se a empresa tem preferência por algum tipo de deficiência, verificou-se as seguintes respostas:

Coordenadora- “ não sei se tem preferência, mais aqui só temos esses surdos porque foram trazidos por um professor que conhecia eles de uma outra escola e a empresa aceitou a fazer um teste com eles e deu tudo certo”

Assistente social – “ Não digo que preferência tácita, expressa, mais uma preferência silenciosa”.

É percebido durante a pesquisa, o quanto é importante o saber olhar o outro sem preconceito pois as limitações que temos não nos impedem de fazer algo que nos dedicamos a fazer precisamos respeitar que todos são iguais mesmo que aparentemente apresente diferenças, de cor, raça, deficiência entre outras aprendendo a olhar para o próximo com o respeito que gostaria para si. O termo “inclusão” é utilizado neste artigo em detrimento do termo “inserção”, pois o primeiro é mais do que estar no meio, é compartilhar, é sentir-se parte integrante de um todo. Segundo (MANTOAN 2003, p. 34) “É preciso que tenhamos o direito de sermos diferentes quando a igualdade nos descaracteriza e o direito de sermos iguais quando a diferença nos inferioriza”. As empresas precisam reinventar-se tornando o local de trabalho igual para todos, o qual seja aceito por todos e a convivência venha a ser amigável entre eles, procurando oferecer

cursos de Libras e outros métodos facilitando a comunicação entre os funcionários surdos e os funcionários ouvintes a sociedade tem que compreender que as pessoas que tem uma limitação são seres humanos e tem habilidades. E são capazes de vencer, produzir e trabalhar do mesmo modo que todos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer da pesquisa, percebemos que a prática da inclusão social das pessoas com surdez é ainda muito recente no Brasil. Embora existam vários estudos sobre essas pessoas nos diversos âmbitos, especificamente, a inclusão da pessoa surda no mercado de trabalho é processo que ainda está em construção. Ficou evidente neste estudo que a lei de cotas é necessária e que se a mesma não existisse certamente grande parte das pessoas que apresentam algum tipo de deficiência estariam fora do mercado de trabalho, visto que, se vive em uma sociedade que não concebeu a ideia de inclusão, inclusive no campo de trabalho percebe-se esta resistência. O maior problema enfrentado pelo surdo não é a ausência de leis, pois, já se alcançou um nível razoável de proteção. O grande entrave é o da aplicação e eficácia das leis existentes e a valorização do uso das línguas de sinais, necessitando que as empresas possibilitem que seus funcionários tenham acesso a LIBRAS melhorando assim a comunicação entre ouvintes e surdo. Sabe-se que não será fácil efetivar a inclusão somente através de determinações legais, mas o valor da política pública é tornar evidente algo que muitas vezes é ignorado. É preciso que a sociedade reveja sua postura sobre essa parcela da população e aplique o que a Constituição Brasileira dita para que efetivamente a inclusão aconteça, ou seja, que todos os direitos sejam garantidos aos surdo no mercado de trabalho. Constatamos que houve alguns avanços culturais e sociais no trato de questões que envolvem as pessoas surdas, contudo, a vontade política para a execução de programas estabelecidos e de transformação das ideias em realidade continua sendo o grande desafio. Acreditamos que estudos desta natureza possam fazer parte do bojo de pesquisas auxiliem as empresas a participar da construção de uma sociedade mais justa, valorizando os indivíduos em sua singularidade, com seus limites e potencialidades, contribuindo, assim, como instrumento de apoio ao surdo, através da difusão de referenciais que defendam essa perspectiva. No decorrer deste estudo foi possível entendermos que apesar das dificuldades encontradas pelos surdos no mercado de trabalho, eles podem superar barreiras que impedem o exercício de sua cidadania recebendo o apoio da família e escola como elementos estimuladores para seu sucesso profissional. É fundamental que se perceba que a questão da inclusão da pessoa surda no mercado de trabalho não é apenas uma luta de quem possui alguma deficiência, mas de todos, o que denota a necessidade de uma mudança na sociedade, visando a beneficiar todo e qualquer cidadão.

ARANHA, Maria Salete Fabio. Paradigmas da relação da sociedade com as pessoas com deficiência. In: Revista do Ministério Público do Trabalho, Ano XI, n. 21, mar. 2001. BATISTA, Cristina Abranches Mota. Inclusão: construção na diversidade. Belo Horizonte: Armazém de Idéias, 2004.

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