o naturalismo e o realismo

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O NATURALISMO E O REALISMO NA PINTURA

O NATURALISMO E O REALISMO NA PINTURA


O NATURALISMO E OS PINTORES DE BARBIZON • O Naturalismo pretendeu imitar a Natureza com exactidão opondose ao idealismo e ao simbolismo. •

Este movimento foi protagonizado por um grupo de pintores que se instalou na aldeia de Barbizon ,situada a 30 Km de Paris, na Floresta de Fontainbleau .

• Pretendiam fugir à agitação política e social que existia em Paris e afastarem-se do rigoroso academismo da época que fechara as portas a muitos deles. • Em Barbizon, desenvolveram uma pintura executada no local, observando directamente o motivo a representar, bem como a luz e a cor local.


• Como temas utilizaram a representação da paisagem (em primeiro lugar),cenas da vida e do trabalho no campo e o retrato. • Abandonaram as temáticas religiosas , fantasistas ou de inspiração histórica e literária , que tinham agradado aos românticos; • Libertaram a arte do subjectivismo e do sentimentalismo ; • Executaram uma pintura de grande fidelidade ao real observado, marcada pelo interesse na representação objectiva da realidade.


• Os primeiros pintores do grupo foram Theódore Rousseau, Constant Troyon e Charles Daubigny, aos quais se juntaram posteriormente, Camile Corot, Gustave Courbet , e muitos outros. • O grupo conheceu o apogeu em 1848. • A “ Escola de Barbizon ” , converteu-se num ponto de referência para a pintura do século XIX e por ela foram influenciados os pintores portugueses que estiveram em França como bolseiros. • A atitude dos pintores de Barbizon representou uma primeira marginalização voluntária dos artistas, em relação às normas estabelecidas oficialmente pelo Salon.


Corot Daubigny

Rousseau


ThĂŠodore Rousseau


Théodore Rousseau, Oak, floresta de Fontainbleau (1885)

“Rousseau harmoniza um desenho vigoroso, e uma técnica minuciosa que lhe permite precisar até ao mais ínfimo pormenor da natureza, criando uma atmosfera poética não isenta de dramatismo melancólico. “ História da Arte, O Realismo, O Impressionismo, Editorial Salvat


Camile Corot, A Danรงa das Ninfas


Camille Corot, A Ponte de Nantes ( 1868-70)


“A Ponte de Nantes realizada entre 1868 e 1870, foi uma das últimas obras realizadas por Camille Corot. Neste quadro o pintor acentua os motivos arquitectónicos da paisagem. O contraste da matéria com a qual são constituídos cada um dos elementos do quadro desperta no espectador uma sensação de serenidade e harmonia que o pintor soube transmitir na maioria das suas obras. A fragilidade , a fluidez, os jogos de sombras difusas, de reflexos e sombras(…) podem estabelecer neste caso, uma relação directa entre Corot e o movimento impressionista.” História da Arte, O Realismo, O Impressionismo, Ed.Salvat


Camile Corot, A Catedral de Chartres

Este quadro representa a Catedral de Chartres tal como se apresentava em 1830. Em 1872, Corot acrescentou as duas figuras que se vĂŞem em primeiro plano.


Charles Franรงois Daubigny


Charles –François Daubingy, Margens do Sena

“Um dos temas favoritos de Daubigny é o carácter variável das paisagens com água. O seu propósito era capturar a momentânea atmosfera por um estado de tempo específico ou por uma situação de luz. As formas dos objectos e a sua materialidade ficam subordinadas a este propósito. A tinta é aplicada apressadamente, por isso as formas parecem ser dissolvidas pela luz.” Obras – Primas da Pintura Ocidental, Taschen


O REALISMO: a pintura da vida real


Millet, Daumier e Courbet fotografados por Nadar


CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA/ SOCIAL DO REALISMO • O Realismo surge em França entre 1848/1870. • Esteve ligado aos acontecimentos políticos e sociais que marcaram a cena política francesa entre 1848/52 e que se caracterizam por: - crise económica; - revoltas operárias; - revolução de 1848; - emergência do 2º Império; - surgimento de movimentos operários de ideologia socialista. • Todos estes acontecimentos vinham demonstrar que a ideia de progresso associado à revolução industrial, trazia também consigo graves problemas sociais que era urgente denunciar.


O papel do artista “ politizou-se” , passando a ser um dos agentes a quem cabe denunciar as injustiças e desigualdades sociais do século; - e a quem compete através da arte representar a realidade, com a mesma objectividade com que o cientista estudava os fenómenos da natureza.

É neste contexto que surge a pintura realista, que pretende retratar a realidade imediata e não imaginada.

• Estes propósitos são suportados por um conjunto de teorias sociais e políticas , desenvolvidas nesta altura, e que vão desde o Positivismo de Auguste Comte, ao Materialismo Histórico de Engels e de Karl Marx(que em 1848 publicam o Manifesto do Partido Comunista) assim como ao activismo utópico de Pierre Proudhon.


• Estas teorias conduziram a um novo entendimento do papel da arte e a um interesse renovado pela realidade. • Os artistas tomaram consciência do seu tempo e acreditaram que através da arte tinham uma missão a cumprir. • O seu papel era despertar o público para a realidade social e política que o cerca, e ser verdadeiro com o que reproduz.

• Desta forma o interesse artístico é deslocado para os acontecimentos vulgares, para o quotidiano e para o homem comum . • A imitação objectiva da natureza fez com que muitos pintores realistas utilizassem a fotografia como meio auxiliar para os enquadramentos e composições.


• As técnicas utilizadas são fiéis à realidade e a representação da figura humana é feita respeitando a anatomia nas proporções e nas volumetrias, e a cor ambiente.


GUSTAVE COURBET, Os Britadores de Pedra


Courbet, As Peneiradoras de Trigo, 1855


Coubet, Enterro em Ornans,1849/50 (贸leo sobre tela, 315x668cm) P谩gina 137 manual


Courbet, Interior do meu atelier, 1854-1855


Courbet escreveu sobre este quadro:” Eu estou no centro, a pintar, à direita estão todos os participantes, isto é os meus amigos artistas e boémios. À esquerda está o outro mundo da vida quotidiana, o povo, a miséria, a riqueza, os explorados, os exploradores(…)” Courbet exibiu este quadro numa exposição privada, o Pavilhão do Realismo, organizada após lhe ter sido vedada a admissão das suas obras à Exposição Universal de Paris de 1855.

Courbet foi o principal mentor do movimento realista. Muito influenciado ideologicamente por Baudelaire e Proudhon, de quem recebeu os ideais revolucionários e socialistas. Não participou activamente na revolução de 1848, mas aderiu totalmente à Comuna de Paris de 1871. Quando esta é derrotada, é acusado de ser um dos principais responsáveis pelo derrube da coluna Vendôme , e é preso durante seis meses (…)


Honoré Daumier, A Lavadeira, 1860

“ Contra o esboçado pano de fundo de uma fila de casas banhadas pela luz crepuscular, a escura silhueta da lavadeira no final de um dia de trabalho, com o folho pela mão subindo as escadas nas margens do Sena, parece monumental. (…) Ela tem o corpo pesado, bem proporcionado de uma mulher forte: aqui encontramos o Socialismo Romântico que, na era das novas ideias sociais , vê a mulher trabalhadora como uma heroína, como um “ monumento de sólida respeitabilidade”.


Daumier, Vag達o de Terceira Classe


Daumier, A Insurreição, 1860


CARICATURAS DE HONORÉ DAUMIER




Honoré Daumier, Gargântua


Sobre Honoré Daumier Honoré Daumier , além de pintor e escultor foi ilustrador e caricaturista político. Nesta última actividade adquire uma notoriedade impar pela sua atitude intervencionista, coragem e técnica, sempre pronto a atacar a política de Luís Filipe, tal como o sistema legislativo, judiciário e burocrático do estado dominado por uma aristocracia decrépita que, lentamente, cede o seu ceptro à burguesia industrial e financeira. Amigo de Balzac (1799; 1850), melhor do que este soube ver no povo vitimado, o herói da luta pela liberdade contra o poder. Assim, é este povo (que em Daumier é representado pelo operariado urbano, despojado de história e de presente, mas unido pelo desejo de mudança) que se torna o motivo central de toda a sua temática


Como consequência, não há um Daumier político e um Daumier artista, tal como claramente sucede com Courbet. Daumier é o primeiro a fundar a arte sobre um interesse político (vendo na política a forma moderna da moral), tal como é o primeiro a recorrer a um meio de comunicação de massas, a imprensa, para com a arte influir sobre o comportamento social. Mestre da litografia " existem cerca de 4000 trabalhos litográficos catalogados como suas produções “. Daumier orienta toda a sua produção plástica no sentido desta técnica, até então considerada menor, dada a sua característica de múltipla reprodução que a afasta do objecto único, exclusivo do seu detentor.


Jean Franรงois Millet, Angelus, 1858/59


Jean Franรงois Millet, A Pastora, 1864


Jean Franรงois Millet, As Respigadoras,


Sobre Jean - François Millet Contrariamente a Daumier, a fonte de observação de Millet, fixa-se nos trabalhadores rurais e na sua actividade. As suas obras mais paradigmáticas são : "As Respigadoras" (1857), "Angelus" (1859), "A Pastora" (1864), etc. Com Millet assistimos à incorporação do elemento humano na paisagem, não como um mero figurante circunstancial, mas como protagonista de um todo a que está profundamente ligado. Pela primeira vez apresenta-se um trabalhador rural como protagonista da representação, como herói moral . O olhar de Millet é paradoxal, retrata a fadiga e a humildade, atribuindo-lhes uma condição, não de revolta, mas de aceitação quase mística de que o quadro "Angelus" é o exemplo mais imediato.



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