Biografia de Gustave Eiffel

Page 1

BIOGRAFIA DE GUSTAVE EIFFEL (artigo de Bertrand LEMOINE, in L´Art de l’ Ingénieur Constructeur, Entrepreneur, Inventeur, Paris, Centre Georges Pompidou, 1997, pp. 161-163; traduzido por Helena Lisboa)

Nascido em Dijon, Cote-d’Or, França, em 1832 Falecido em Paris, em 1923. Gustave Eiffel não foi só um grande engenheiro e um inventor de formas que, na torre que levou o seu nome, se consubstanciariam na sua mais brilhante obraprima. O seu percurso é também o de um empresário, que alia o sucesso técnico e o comercial, graças à sua capacidade de inovação e a um sentido evidente do negócio, sustentado por um contexto económico particularmente favorável, marcado pelo desenvolvimento dos caminhos de ferro e pelo surto das construções metálicas. Fundador da sua própria empresa, aos 32 anos de idade, Eiffel desenvolveu-a rapidamente, elevando-a ao 6º ou 8º lugar das empresas francesas de construção metálica, se se abstrair a sua participação na aventura do canal do Panamá. Formado na École Central de Paris em 1855, Eiffel optou por se especializar em Química, porque esperava suceder a um seu tio materno na gestão de uma fábrica de pintura. A família desentendeu-se com o tio, e Eiffel entra ao serviço de Charles Nepveu, um inventivo engenheiro construtor, que dispunha de uma oficina de mecânica em Clichy. Tornou-se rapidamente no seu homem de confiança, e, assim que, em 1856, Nepveu cede o seu negócio à Companhia belga de materiais de caminhos-de-ferro, dirigida por Pauwels, Eiffel ficou como “chefe de estudos dos


trabalhos da fábrica” da nova sucursal francesa da Companhia. Em 1858, foi encarregado do finalização dos planos de execução e das encomendas de equipamentos para a ponte de Bordéus, antes de partir para a direcção dos trabalhos no terreno. Com 500 metros de extensão, esta construção foi uma das mais importantes então realizadas em França. Nesta difícil obra, Eiffel revelou as suas capacidades de técnico, de organizador, e de orientador de homens. Depois de alguns trabalhos no sudoeste do país para a Companhia dos caminhos-de-ferro do Sul, foi-lhe entregue a construção de várias pontes sobre a Linha do Périgueux, nomeadamente em Capdenac e em Floirac. Torna-se director da fábrica de Clichy em 1862, mas após a falência da Empresa Pauwels, Eiffel estabelece-se, em 1864, como engenheiro-consultor. Dois anos depois, obtém um primeiro contrato importante, o da construção da parte central da grande galeria da Exposição Universal de 1867. Para assumir esta encomenda, ele retoma as oficinas de caldeiraria existentes em La Villette, e, em seguida, instala-se em Levallois-Perret, com uma nova firma de “construtor”. Após a realização de diversas estruturas metálicas em Paris – na sinagoga na Rue des Tournelles, nas igrejas de Notre-Damedes-Champs e de Saint-Joseph, em várias fábricas de gás --, e uma série de 42 pequenas pontes para a Companhia de Caminho-de-Ferro do Grand Central, foi a adjudicação, em 1867, de dois viadutos ferroviários de grandes dimensões em Rouzat e Neuvial sobre o Sioule, que lançou verdadeiramente a empresa. Desde então, evidencia a sua competência, associando-se, em 1868, com Téophile Seyrig, desenvolvendo-a nos mercados franceses graças ao Viaduto Thouars, e à exportação – para a Roménia, Espanha e Portugal, e, durante algum tempo, para o Peru e para a Bolívia. Eiffel marcou um novo ponto na expansão e diversificação das suas actividades construindo, em 1875-77, a Gare do Oeste em Peste, na Hungria. Em Maio de 1875, vence o concurso internacional para a construção de um importante viaduto de caminho-de-ferro no Porto (ponte D. Maria, sobre o Douro*). Concebida por Seyrig, a ponte tomou a forma de um arco de 160 metros de abertura, articulado nos encontros, suportando um tabuleiro recto prolongado até às margens por um viaduto sobre pilares metálicos. O sucesso assegurou definitivamente a notoriedade da empresa. Eiffel pôde implantar-se permanentemente na Península Ibérica onde construiu numerosas pontes nos finais dos anos 1870, entre as quais a de Viana do Castelo em que o tabuleiro de 563 metros foi lançado a partir das margens -- uma inovação técnica. Depois da realização do grande vestíbulo de acolhimento da Exposição Universal de 1878, os anos 1880 foram para a empresa um período de actividade intensa, marcada por espectaculares realizações como: os viadutos de la Tardes, a


ponte rodoviária de Cuzbac sobre o rio Dordogne, a expansão dos Magazins Bon Marché, a sede do Crédit Lyonnais em Paris, a cúpula do Observatório de Nice, a estrutura da Estátua da Liberdade. O Viaduto Gabarit, acabado em 1884, confirma a capacidade de construção de grandes obras de arte. Irmão gémeo da Ponte sobre o Douro, ele permanece hoje uma das mais belas realizações em território francês. Seyrig nesta ocasião foi substituído por Maurice Koechlin, um jovem engenheiro recém-formado pela École Polithecnique de Zurique. A empresa promoveu também grandes melhoramentos com o lançamento de um sistema de “pontes portáteis”, isto é, vendidas em peças para exportação. Retomando por sua conta a ideia dos seus dois principais engenheiros, Koechlin e Émile Nouguier, Eiffel coroa a sua carreira de construtor com a torre que assumiu o seu nome, ousada extrapolação da tecnologia dos pilares das pontes, e atracção da Exposição Universal de 1889. Ao mesmo tempo que nesse ano recebia os dividendos da glória, empenhou-se também na aventura do canal do Panamá, que resultou no maior escândalo financeiro do século. Solicitado a preço de ouro como empreiteiro, porque propôs a substituição do canal de nível, inicialmente projectado, por um canal com eclusas, aceitou, em 10 de Dezembro de 1887, assinar o contracto de construção dessas eclusas, enfim reconhecidas como necessárias para o canal. O montante total foi fabuloso: 125 milhões de francos, isto é, quinze vezes o preço da torre. Eiffel empenhou-se na entrega das 10 eclusas num prazo de 30 meses. Mas no seguimento do fracasso de um último empréstimo, a enorme falência da Companhia de Panamá levou-o ao banco dos réus na companhia de Lesseps pai e filho. Demitiu-se da presidência da Companhia no próprio dia da abertura do seu processo, 19 de Janeiro de 1893. Esta tinha então o nome de Société de Construction de Levallois-Perret. Ainda que a sua injusta condenação a uma pena de prisão tenha sido anulada, Eiffel, desde então, afastou-se do mundo dos negócios, para se dedicar a uma nova carreira virada para as experiências científicas. Apaixonou-se, nos últimos vinte e oito anos da sua vida, por três domínios de vanguarda (todos eles ligados ao uso da torre, sua “obra-prima”, para a qual lhe era necessário demonstrar a utilidade, pois a duração prevista reduzira-se a vinte anos): a meteorologia, a aerodinâmica e a radiotelegrafia. A Torre foi, por isso mesmo, o suporte para as primeiras emissões de rádio em França. Para levar mais longe as suas experiências de aerodinâmica, ele construiu, em 1911, em Auteuil, uma ventoinha por onde iriam passar todos os pioneiros da aviação nascente, e que está ainda hoje em funcionamento. Eiffel morre no dia 27 de Dezembro de 1923, onze anos demasiado cedo para que tivesse podido assistir à primeira emissão de televisão, lançada do alto da torre que o imortalizou.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.