A pintura e a escultura em Portugal

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O Fado , 1910 – José Malhoa


A PINTURA E A ESCULTURA EM PORTUGAL NOS FINAIS DO SÉCULO XIX

 A crise económica do fim do século, a instabilidade política

provocada pela ditadura de João Franco, o Ultimato Inglês e a crescente contestação republicana que culminou no Regicídio e na implantação da República, não foram favoráveis ao desenvolvimento artístico.  O atraso económico , social e cultural do país também se reflectiu na

arte.  Apesar da ida de alguns artistas para o estrangeiro, principalmente

para Paris, através da atribuição de bolsas, a maior parte deles mostraram-se mais receptivos ao Naturalismo e às propostas dos artistas de Barbizon, do que aos outros movimentos artísticos.


 Os pintores portugueses deste período , desenvolveram de um modo

geral um Naturalismo sentimental e romântico, que sobreviveu nas artes plásticas portuguesas até cerca de 1940.

 A principal razão desta tendência deveu-se ao descomprometimento

político da pintura de paisagem e dos retratos, além de que estes motivos eram muito requisitados pela burguesia da época.


PRINCIPAIS REPRESENTANTES: Marques de Oliveira e Silva Porto  Marques de Oliveira nasceu no Porto em 1853 e morreu em 1927  Silva Porto nasceu no Porto e morreu em Lisboa em 1893.  Frequentaram ambos a Academia Portuense de Belas Artes:  Foram como Bolseiros para Paris; tiveram como professores Cabanel

e Yvon.  Foram particularmente sensíveis às propostas naturalistas da Escola

de Barbizon assim como ao Impressionismo.  Silva Porto conviveu bastante com Daubigny e o seu filho Karl e

posteriormente foi influenciado por Corot, Millet e Courbet.


 Marques de Oliveira deixou-se influenciar principalmente por Corot,

sendo especialmente sensível ao modo como este concebia as atmosferas luminosas.  Ambos foram influenciados pela pintura de paisagem.  Viajam até à Belgica, Holanda, Inglaterra e vão até Itália, visitando

Nápoles, Capri , Veneza.  As obras que mandavam para Portugal, enquanto bolsistas, eram muito

importantes para os novos pintores que frequentavam a academia e assim tomavam contacto com as inovações.


OBRAS DE SILVA PORTO: Colheita, Ceifeiras


Praia da P贸voa do Varzim


Guardando o rebanho, 1893 – Silva Porto


MARQUES DE OLIVEIRA, Retrato de Silva Porto e a Napolitana


Marques de Oliveira, “ Esperando o Barco”


 Quando regressaram definitivamente,

a sua acção como docentes, respectivamente em Lisboa e no Porto, marcaram as futuras gerações de pintores portugueses no sentido do naturalismo.

 Marques de Oliveira, ao radicar-se no Porto, constituiu

com outros artistas o “ Centro Artístico Portuense” que teve um papel dinâmico na divulgação da nova estética.

 Logo após o regresso de Silva Porto a Lisboa, formou-se em torno de si

um grupo de jovens artistas e homens de letras, que constituíram o “ Grupo do Leão”, graças ao qual o Naturalismo se divulgou e penetrou profundamente na pintura portuguesa.


Silva Porto e o Grupo do Leão

 Este grupo foi imortalizado pelo retrato de grupo executado por

Columbano Bordalo Pinheiro, realizado em 1885, ano da renovação da cervejaria O Leão de Ouro, e para a decoração do qual o quadro foi executado.  Os artistas representados, tinham em comum o desejo de renovar os

conceitos estéticos dominantes no panorama artístico português e propunham-se promover anualmente uma “ Exposição de quadros Modernos”.  Realizaram 8 exposições à margem da SPBA, e contribuíram para:

- a divulgação dos trabalhos dos artistas; - criaram um novo mercado de arte;


 Despertaram a opinião pública adormecida pela rotina da vida artística

da época.


Destinava-se a decorar a cervejaria onde se reuniam os pintores que pretendiam renovar a pintura nos finais do século XIX. O grupo encontrase estruturado à volta de Silva Porto que se encontra no centro fitando o observador. Columbano auto retratou-se em pé à direita com chapéu.

O Grupo do Leão, 1885 - Columbano


COLUMBANO BORDALO PINHEIRO

 Filho do pintor e gravador Manuel Maria Bordalo Pinheiro e do

caricaturista Rafael Bordalo Pinheiro.  É considerado o mais independente dos pintores portugueses do século

XIX.  Inspirado na obra de Vélasquez e nos pintores holandeses do século

XVII, aliará a estas referências a modernidade da mancha solta e da pincelada expressiva.  Entre 1872-76 frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa.  Em 1891 foi para Paris, destacando-se deste período: “ A Luva

Cinzenta” e “ O Concerto”.


O Concerto, tela bem recebida no Salon de 1882.


 De volta a Lisboa em 1883, mantém inalterável a sua descrença pela

pintura ao ar livre, e na qualidade de independente integra o Grupo do Leão.  Como retratista cria uma série interminável de retratos para os quais

posam amigos, familiares, poetas, escritores e artistas .


Retratos de Te贸filo Braga e Auto-Retrato


A Chรกvena de Chรก


OUTROS PINTORES NATURALISTAS


Neste quadro o tema ĂŠ retirado do quotidiano campesino, o realismo da cena apresenta influĂŞncias de Millet.

A macieira partida – Sousa Pinto 1883


Aluno de Silva Porto e de Marques de Oliveira, viajou por França e Itália. A sua obra , marcadamente naturalista, reflecte também influências impressionistas.

Cecilia, 1882 – Henrique Pousão


José Malhoa

 Fundador do Grupo do Leão;  Inicialmente influenciado pelo romantismo, só a partir de 1880 se abre

à luz devido à influência das obras de Silva Porto;  Pintor de paisagens, cenas de género e de costumes, retratos, nus,

saltando de uns para os outros sem preocupações ideológicas ou de estilo.  Tem obras emblemáticas dentro do tema das festas populares, dos

costumes e tradições portuguesas, como: “ A Volta da Romaria”; “ Os Bêbados”; “ O Fado”; “ Promessas”.  Também pintou retratos como o de Laura Sauvignet.


Malhoa pintou cenas de devoção, cenas da vida dos camponeses, festas e romarias.

As promessas, 1933 – José Malhoa


Retrato da boémia popular portuguesa, composição cenográfica onde não faltam elementos definidores da mentalidade e do tipicismo alfacinha ( santos nas paredes, vaso de mangericos, toucador de espelho partido, beata atrás da orelha.

O Fado , 1910 – José Malhoa


Dentro do esp铆rito naturalista exaltou a cor e a luz de Portugal, dentro de uma linguagem muito pr贸pria.


•A escultura teve como principais representantes : SOARES DOS REIS E TEIXEIRA LOPES


Soares dos Reis  Nasceu em 1847 perto de Vila Nova de Gaia e morreu em 1889.  1861- Foi admitido na Escola de Belas Artes no Porto, concluiu o curso

em 1866. Executa como prova uma estátua - Viriato -.  Foi para Paris como Bolseiro, num período em que havia alguma

agitação social e política. Frequentou os ateliers de Yvon e Jouffroy. Quando da guerra Franco-Prussiana volta ao Porto.  Em 1871 recebe uma bolsa e foi para Roma. Aí estuda os clássicos e

executa o Desterrado, que será enviado para Portugal.


 Depois de passar por França e Inglaterra, radica-se no Porto. Arranja

um atelier e faz algumas obras religiosas.  O Porto nesta altura era uma cidade em desenvolvimento, povoada por

uma burguesia próspera, ligada ao comércio.  Em 1879 organiza o Centro Artístico Portuense , com um conjunto de

artistas, cujo objectivo é a divulgação das Belas Artes através de criação de uma Biblioteca; aulas de pintura e escultura; exposições e até de uma revista - A Arte Portuguesa -.  Aí o ensino é mais livre e introduzem-se inovações consideradas

ousadas para e época.


 Soares dos Reis neste período expõe a obra “ Flor Agreste”, que foi

vendida por 200 mil réis.


Em 1881, O Desterrado foi enviado para uma exposição em Madrid. O sucesso foi enorme , no entanto em Portugal constou num jornal que o Desterrado não tinha sido executada pelo artista. A verdade foi reposta, no entanto Soares dos Reis ficou magoado com a suspeição.

Esta obra é considerada a obra maior do escultor. Representa um jovem nu, modelado na tradição clássica, sentado sobre uma rocha, abandonado e intensamente nostálgico. É uma obra de referências simbólicas e constitui um auto-retrato do artista que não se sente reconhecido no seu país. Desterrado – Soares dos Reis


 Em 1880 Soares dos Reis é admitido como professor na Academia de

Belas Artes.  Executa em mármore a estátua da filhe dos Condes de Almedina.


 Sucedem-se as encomendas, nas nem sempre o Naturalismo agrada aos

modelos como é o caso do busto de Mrs. Elisa Lech, cuja obra apesar de ser paga não é reclamada.


ď‚— Soares dos Reis sente-se desalentado e incompreendido apesar da sua

obra sobre D. Afonso Henriques ter sido apreciada. ď‚— Acaba por se suicidar.


Teixeira Lopes foi outro escultor importantes deste período.

 Considerado o melhor discípulo de Soares dos Reis, o escultor português

António Teixeira Lopes nasceu em 1866, em Vila Nova de Gaia, e veio a falecer em 1942.  Estudou em Paris e foi durante muitos anos professor na Escola de Belas-Artes

do Porto. 

Foi atraído por temas históricos e religiosos, retratando igualmente velhos e crianças. Dono de um virtuosismo ímpar, trabalhou o barro, o mármore e o bronze.


 Realizou as estátuas de vários homens públicos, entre as quais a de Eça

de Queirós (patente em Lisboa) e a de Bento Gonçalves (no estado brasileiro de Rio Grande do Sul), e os bustos de Teófilo Braga, Ramalho Ortigão, Viana da Mota e da rainha D. Amélia. 

A estátua do mestre Soares dos Reis, retratado em pleno desencanto, no último período da sua existência, é sem dúvida a obra-prima de Teixeira Lopes.  O gosto pelo conteúdo dramático e pelo sentimentalismo emocional

encontra ainda expressão em A Infância de Caim (Museu Nacional Soares dos Reis), A Viúva (Museu do Chiado) e A História (túmulo de Oliveira Martins).


A Viúva – Teixeira Lopes


Estรกtua de Eรงa de Queirรณz


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