Alves

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Lei Tu Ras

ALVES [quadrinista, ilustrador e cartunista]


ARQUIVO PESSOAL




PRÊMIO CHARGE SALÃO MEDPLAN DE HUMOR


PRÊMIO INTERNET SALÃO MEDPLAN DE HUMOR


Primeiro Lugar na Categoria Cartum do Festival Internacional de Quadrinhos de Pernambuco


SEGUNDO LUGAR CATEGORIA CARTUM SALÃO DE HUMOR DE CARATINGA

PRIMEIRO LUGAR CATEGORIA CARTUM PRÊMIO MEDPLAN DE HUMOR


PRÊMIO QUADRINHOS SALÃO DE HUMOR DE VOLTA REDONDA


PRÊMIO MENÇÃO HONROSA SALÃO INTERNACIONAL DE HUMOR DE PIRACICABA


Revista Continente


Revista Mad



Cerrado em Quadrinhos






Material Poético




PITER GAST




Alves e o Cerrado

Minha relação com o Cerrado vem de muito cedo, desde que comecei a me entender por gente, lá no comecinho dos anos oitenta do século passado. Lembro-me da primeira casa que minha família morou em Lagoa Santa fazia fronteira com uma grota e do outro se abria um belo campo cerrado com um bem bom pequizeiro no centro. Não sei se sobrou ali por relíquia de outros tempos ou se resolveu de teimoso morar no meio do campo aberto – irmão mais velho das outras arvorezinhas rasteiras do “de redor”. Toda manhã eu atravessava a grota para tentar chegar perto dos urubus que costumavam pousar na tortuosa árvore. Era quase religião, só faltava pai-nosso e amém. Atravessar aquele espaço com o capim orvalhado das manhãs molhando a roupa para chegar nos urubus era uma aventurazinha diária minha. Jabuticaba dos olhos brilhava. Mas nunca que cheguei nem perto das aves; urubus naqueles tempos eram um tanto quanto ariscos e ao menor sinal de aproximação alçavam voo pra longe. Hoje os reizinhos pretos do céu se acostumaram com os homens… Descobriram que a gente é lixo ou pelo menos comandantes das coisas que apodrecem o mundo, será? Será? Não sei… Mas deixemos isso de lado. Esse é um pensamento bom pra navegar em outras horas. Pois bem, mas foi naquela época lá que fui tomando gosto pelo cerrado e vontade de mostrar ele pro mundo. Aquele gostar que vem do cheiro, dos sons, do que os olhos apreceiam. O gostar da tortuosidade das árvores, das frutinhas do mato, tagarelice dos passarinhos, do zumbir dos besouros, da gritaria das cigarras, dos grilos escondidos no capim e do céu de um todo azul no alto da seca se formou ali – como um riachinho em seu nascedouro no alto da serra. Calmo. Hoje com o andar da idade aquele fiapo de sentimento engrossou e transborda em ribeirão que hora descamba pra mansas veredas e hora precipita em aflitas corredeiras que serpenteiam em caminhos tortos de pedra cortante. Confusão de sentimentos. Porque vendo o Cerrado sumir o gostar se torna preocupação, medo , tristeza… Confusão de sentimentos porque dele nasce minha obra, parte grande do que sou. Meus traços, meus abraços, minha escola, minha luta, meu quintal, minha inspiração. Vontade minha é não deixar esse pedaço meu ir embora, como um bicho que voou pra longe, para o nunca mais da vida.


Alves é quadrinista, ilustrador, cartunista e mestre em Geografia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Autor dos livros “A Rua de Lá” (Ed.Grafitti, 2012) e “Cerrado em Quadrinhos” (Ed. Nemo, 2015), também curte fazer letras para canções e poesia. Publicou quadrinhos, charges, cartuns e ilustrações nas revistas “ZUM ZUM ZUM” (RJ), “Grafitti” (MG), “MAD” (SP), “Pasquim 21” (RJ), “Courrier International” (França), “Stripolis”(Sérvia) e no periódico “Le Monde Diplomatique Brasil”(SP). Também fez roteiros para a Maurício de Sousa Produções (MSP) e foi um dos convidados da coletânea MSP Novos 50. Passou pelos jornais O Estado de Minas, Diário da tarde, Hoje em Dia, O Tempo e Super-Notícias - tendo seus trabalhos publicados em toda a grande imprensa mineira. Também publicou charges, ilustrações e quadrinhos no jornal “A Folha de São Paulo”(SP). É um dos cartunistas mais premiados do país conquistando os principais salões de humor do Brasil (Salão Internacional de Humor de Piracicaba, Salão Nacional de Humor de Volta Redonda, Salão de Humor Carioca, FIHQ-Pernambuco, Salão Internacional de Humor de Caratinga, Salão Internacional de Humor Medplan e outros). No FIQ 2015 foi responsável pela exposição “Cerrado em Quadrinhos”, que alertava o público sobre a ocupação predatória do Cerrado Brasileiro e seu impacto na flora, fauna, populações tradicionais do Bioma assim como na sociedade em geral. Em 2016, na Aliança Francesa Belo Horizonte, fez sua segunda exposição individual – Sertrangênicos & Cerrado em Quadrinhos - tratando novamente das questões socioambientais do Cerrado. Atualmente trabalha como cartunista/ilustrador freelancer e toca, simultaneamente, as páginas “Cerrado em Quadrinhos”, “Material Poético” e “Piter Gast” no Facebook e Instagram.



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