Adriana Sales

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Lei Tu Ras

ADRIANA SALES [presidente da Jane Austen Sociedade do Brasil]


O universo feminino nas obras de Jane Austen

Adriana Sales Zardini / UFMG / JASBRA - Jane Austen Sociedade do Brasil

RESUMO Na sociedade inglesa do século 19, o papel da mulher era relegado ao plano da família e à possibilidade de um casamento vantajoso, com a possibilidade de se alcançar a segurança e a estabilidade financeira. Entretanto, Austen focaliza a importância da mulher no seio familiar, do casamento, das relações sociais e do papel da mulher na sociedade. Também será discutida a questão do feminismo na obra de Austen. PALAVRAS-CHAVE Sociedade inglesa do século 19, mulher na literatura, Jane Austen

INTRODUÇÃO Entre as escritoras inglesas do século 19, Jane Austen pode ser considerada uma portavoz do universo feminino dessa época. Talvez pelo fato de que a própria Jane e sua irmã Cassandra não terem se casado, é compreensível que a autora acreditasse que as jovens moças precisassem de uma voz feminina na literatura. Entre os seus seis livros principais, podemos perceber como Austen retratou a vulnerabilidade de jovens tendo que viver sob as regras e responsabilidades em nome do bom nome de suas famílias e suas próprias reputações. Através das situações vividas por suas heroínas – algumas ridículas, engraçadas, desafiadoras e outras dignas de pena –, o universo feminino do século 19 é apresentado de maneira clara e, de modo geral, representa a universalidade da experiência humana.1 Motivo pelo qual suas obras são apreciadas até hoje, 200 anos após a publicação de seu primeiro livro: Razão e sensibilidade (1811).

1 JANE AUSTEN’S HOUSE MUSEUM. The manners and customs of life in Jane Austen’s time – or how to win the mating game.


O objetivo deste artigo é mostrar como Jane Austen representa as mulheres de sua época através de suas personagens, das situações do dia a dia, das experiências familiares e em sociedade, abrangendo também a questão da posição social, da situação financeira e do casamento. Por fim, serão discutidas as tendências feministas na obra de Austen.

A MULHER E A FAMÍLIA Na época de Austen havia uma concepção generalizada de que homens e mulheres possuíam capacidades naturais bastante diferenciadas e por esse motivo não havia igualdade entre os sexos, principalmente em relação à educação, negócios e postura perante a sociedade. A família da escritora pertencia à classe denominada gentry (classe média ou baixa aristocracia), com uma renda anual de cerca de 300 libras.2 Além desses rendimentos, a família Austen precisava de outros recursos provenientes da escola que o patriarca Rev. George Austen (1731-1805) mantinha em sua casa. Apesar disso, o pai de Austen teve certas dificuldades financeiras que o impossibilitou de deixar recursos para suas filhas sobreviverem no futuro, deixando-as à mercê da ajuda dos irmãos. Se uma moça perdesse o pai ou o apoio financeiro de seus familiares, a saída mais digna seria ganhar dinheiro como governanta, professora de escola, companhia de damas, criada ou escritora. Um exemplo disso pode ser observado em Emma (1815), na qual a personagem Jane Fairfax, que precisa se sustentar, diz: “há agências de anúncios e que, recorrendo a elas, não teria dúvidas de encontrar em breve algo que me conviesse.”3 No seio familiar as moças tinham a função de serem submissas, modestas, puras e educadas, e as qualidades exigidas concentravam-se nos estudos e talentos. Com a expansão das escolas públicas, no século 18, os meninos podiam receber a educação, de acordo com a disponibilidade financeira da família. Frequentar uma universidade era impossível para as moças, já que o acesso à faculdade não lhes era permitido e não era comum meninas e moças frequentarem escolas regulares. Somente no final da década de 1840 as faculdades Queen’s e Bedford, ligadas à Universidade de Londres, ofereceram vagas para moças, e, entre as décadas de 1860 e 1870, Oxford e Cambridge ofereceram vagas para o sexo feminino. Antes disso, as próprias famílias se encarregavam do ensino, quando possuíam uma vasta biblioteca e uma governanta. Jane e sua irmã chegaram a frenquentar a escola em dois períodos diferentes – em 1783 elas foram educadas por Mrs. Cawley, mas permaneceram lá pouco 2 MCMASTER. Class. 3

AUSTEN. Emma, p. 227.


tempo, pois tiveram problemas de saúde; depois foram para um internato em Reading, entre 1785 e 1787. Nas obras de Austen, é possível citar alguns exemplos de crianças educadas em casa, como as crianças da família Morland (A Abadia de Northanger, 1818) e Emma, que foi educada pela governanta Miss Taylor (Emma). A família era a base de sustentação de todas as moças pertencentes à classe média e à aristocracia daquela época; por isso, era de se esperar que os pais as deixassem certa quantia após sua morte ou que os irmãos ficassem com a responsabilidade de ajudá-las, caso não se casassem. A herança e bem materiais eram transmitidos sempre ao filho primogênito ou parente mais próximo do sexo masculino, impedindo assim que as filhas recebessem a herança. Na verdade, esse era o sistema legal da época, criado para que a fortuna ficasse sempre em nome da família por várias gerações, e para que não fosse partilhada, caso o pai decidisse dividir as terras e bens entre todos os filhos, incluindo filhas. É possível perceber a questão da primogenitura4 masculina em todos os livros de Austen, com exceção de Miss Emma Woodhouse (Emma), que recebeu direitos de herança do pai. Em Razão e sensibilidade, observamos as dificuldades que passaram as irmãs Dahswood após a morte do pai, já que o irmão (por parte de pai) se recusa a ajudá-las e mantê-las no mesmo nível de vida enquanto o pai era vivo. Um exemplo é o caso de Mr. Collins, em Orgulho e preconceito (1813), que não tem filhos para receberem herança, sendo o herdeiro o parente do sexo masculino mais próximo. Nesse caso, após a morte do patriarca era uma consequênica natural as irmãs Bennet (Orgulho e preconceito) saírem da casa dos pais para que o primo a ocupasse, e é também por esse motivo que a mãe das moças se preocupa tanto em arranjar-lhes um casamento, para que não fiquem na miséria. Outro exemplo de herança para o primogênito é o caso de Tom Bertram, que fica com toda a herança, e assim o irmão caçula se vê obrigado a seguir a carreira de religiosa. Entre as habilidades desejáveis para um moça da época é possível destacar: línguas, conhecimentos básicos de geografia e história, música, pintura ou desenho, bordado e dança.5 As principais línguas que as moças aprendiam eram o francês e o italiano, principalmente para que pudessem traduzir as músicas. Os conhecimentos relativos à geografia e à história forneciam um embasamento para futuras discussões a respeito de outros países. Por outro lado, ser uma boa pianista (pianoforte) atraia muita atenção, principalmente dos futuros pretendentes; assim, a moça seria capaz de entreter as visitas em sua futura casa. As 4 Moody, em Marriage and the alternatives: the status of women, explica o direito de primogenitura e sucessão de bens de forma mais detalhada. 5

SULLIVAN. The Jane Austen handbook – a sensible yet elegant guide to her world.


habilidades relativas às artes em geral, como o desenho e pintura em aquarela, eram aspirações de todas as moças de família. Ser uma boa bordadeira era motivo de orgulho para a família da moça ou para o marido, já que seus trabalhos com a agulha poderiam ser expostos nas salas de visitas e apreciados por todos. Por fim, a dança era um elemento importantíssimo na vida de qualquer moça daquela época, visto que os bailes ofereciam a oportunidade de conhecer e conversar com outros rapazes. A maioria das moças praticava as danças6 com suas irmãs, até que fossem apresentadas à sociedade.7 Na obra de Austen temos diversos exemplos de moças “prendadas”: em Razão e sensibilidade, Elinor faz desenhos, enquanto Marianne é uma excelente pianista; as irmãs Dashwood também tiveram acesso a uma vasta biblioteca do pai. Por outro lado, as irmãs Bennet, de Orgulho e preconceito, são moças que possuem diversas habilidades, entre elas, a dança. Fanny Price, de Mansfield Park (1814), é uma personagem que sabe bordar, ler, e subentende-se que saiba dançar bem, pois é apresentada à sociedade, dançando com muitos convidados de sua festa. Esses são apenas alguns exemplos, visto que em todos esses livros analisados é possível observar as habilidades das personagens, que estão sempre fazendo uso das mesmas para ocupar o tempo ou agradar às visitas. Rapazes e moças possuíam diferentes formas de passatempos. Os jovens que não trabalhavam e pertenciam à classe média alta ou nobreza tinham como principais atividades de lazer e obrigações: caça, tiro, pesca; jogar cartas8 com os amigos; idas a jantares extravagantes, portando-se com discrição.9 Para citar alguns exemplos, em Orgulho e preconceito, Mr. Bingley e Mr. Darcy saem para caçar, e em outra ocasião, Mr. Darcy oferece ao tio de Elizabeth Bennet os prazeres de uma boa pesca. Por outro lado, as moças podiam jogar cartas (incluindo apostas de pequenos valores), dançar, leituras, costurar, bordar,10 desenhar, fazer pinturas, exercitar a escrita, ter aulas de canto, tocar algum instrumento, fazer caminhadas ou passear em carruagens, visitar amigos, além de fazer compras buscando itens

6 SULLIVAN. The Jane Austen handbook – a sensible yet elegant guide to her World, p. 163, destaca quatro danças típicas desse período: minuet, cotillion, quadrille, country dance e reel (dança escocesa). 7

SULLIVAN. The Jane Austen handbook – a sensible yet elegant guide to her world.

8

Os jogos de cartas mais comuns da época eram: Whist (versão moderna do bridge), Wingt-et-un (Vinte um ou black jack), speculation e piquet (similar ao pocker).

9

JANE AUSTEN’S HOUSE MUSEUM. The World that Jane Austen.

10

Para uma lista de bordados e como realizá-los veja SULLIVAN. The Jane Austen handbook – a sensible yet elegant guide to her world, p. 80-85.


da moda para usarem.11 Podemos citar como exemplo as seguintes heroínas de Austen que se ocupam dessas atividades: Anne Elliot, de Persuasão (1817), que faz visitas à amiga e aos vizinhos; Catherine Morland, de A Abadia de Northanger (1817), que quando visita a cidade de Bath faz compras de diversos itens de moda, como: chapéus, vestidos e outros adereços, A presença das irmãs e mães das personagens é também um ponto significativo na obra de Austen. Irmãs que se amam profundamente e se dão bem, são retratadas em dois livros: Elizabeth e Jane Bennet (Orgulho e preconceito) estão sempre juntas, enquanto Marianne e Elinor Dashwood (Razão e sensibilidade) se tornam mais próximas ao longo da narrativa. Em contrapartida, algumas irmãs são raramente citadas e não possuem nenhum tipo de amizade com as suas respectivas irmãs, como é o caso de Anne Elliot (A Abadia de Northanger) e Emma Woodhouse (Emma). Por outro lado, algumas personagens sofrem a influência de determinadas amizades, que podem ser consideradas como “irmãs simbólicas”. As personagens Elinor Dashwood, Catherine Morland e Fanny Price sofrem diversas consequências ao se envolverem com pessoas que não são suas amigas. Em contrapartida, Elizabeth Bennet, Emma Woodhouse, Anne Elliot e Catherine Morland são recompensadas por amigas que são como irmãs. Em relação às mães das heroínas, apesar de elas terem influências sobre a vida de suas filhas, não representam papel fundamental no desenvolvimento da história de alguns livros como Emma e A Abadia de Northanger, pois estão distantes ou mortas. Porém, é a presença ineficaz ou imprópria de determinadas mães é que conduz o desenrolar das histórias, como Mrs. Bennet (Orgulho e preconceito), Mrs. Morland (A Abadia de Northanger), entre outros.

A MULHER NA SOCIEDADE Para se viver em sociedade, as moças do século 19 tinham que seguir muitas regras de conduta, de etiqueta e padrões de moral. A maior parte da população inglesa vivia na zona rural, onde havia pouquíssimas oportunidades de as regras serem quebradas. Mesmo em Londres era praticamente impossível para qualquer pessoa não participar de eventos sociais, já que a maioria das famílias tinha hábitos parecidos quando iam às grandes cidades em determinadas épocas do ano. No início do século 19, tanto as moças quanto os rapazes deviam obedecer às regras impostas, principalmente se o objetivo era o casamento. A primeira observação que deve ser feita é em relação aos pares: inicialmente o rapaz deveria procurar saber se havia na família 11 JANE AUSTEN’S HOUSE MUSEUM. The World that Jane Austen.


uma irmã mais velha que a moça à qual desejava fazer a corte. Caso isso fosse verdade, ele não poderia direcionar suas atenções à mais nova, já que a outra, a mais velha, ainda estava solteira. Sendo assim, muitas caçulas nem eram apresentadas à sociedade, isto é, não frequentavam os bailes e nem podiam se casar, até que as mais velhas não estivessem comprometidas. Como não havia telefone naquela época, era muito comum deixar cartões de visita, sempre que as pessoas quisessem retornar alguma visita ou avisar que estão em uma determinada vila ou cidade. Em relação ao comportamento em público, era proibido para uma moça conversar com um rapaz nas ruas, praças e parques, sem que houvesse um acompanhante. Os jovens que não se conheciam deveriam ser apresentados uns aos outros pelo mestre de cerimônias do baile ou por outro conhecido. Ou seja, ninguém se apresentava diretamente à outra pessoa. Um bom exemplo dessa situação é a cena em A Abadia de Northanger, na qual Catherine se encontra com Henry Tilney: “O mestre de cerimônias lhe apresentou, como par, um rapaz muito distinto (...).”12 Até mesmo entre os homens esse costume era seguido. Mr. Darcy se espanta muito com o comportamento de Mr. Collins, que foi conversar com ele sem ao menos ter sido apresentado, demonstrando, assim, um falta de cavalheirismo. Quanto ao vestuário,13 era importante saber se vestir, mesmo com uma renda familiar pequena. Para as moças do século 19 era preciso uma atenção especial ao modo de se vestirem. Por exemplo, elas tinham que considerar a roupa que vestiam pela manhã, feitas, em geral, de tecidos mais simples e jamais deveriam usar pérolas ou diamantes para não chamar a atenção. À noite, os vestidos eram mais elegantes e feitos com tecidos mais caros, usados principalmente em bailes e jantares. Os acessórios14 (colares, brincos, lenços, xales, chapéus, turbantes) e penteados também eram importantes e deviam ser usados com moderação.15 A posição social era delimitada pelos títulos nobiliárquicos e pela situação financeira da família da moça. As classes sociais eram divididas entre: 1) nobres (lords e ladies, duques e duquesas, marqueses, condes e condessas, viscondes e viscondessas, barões e baronesas), que recebiam os títulos por herança ou intervenção do Rei; 2) Cavalheiros e baronetes, que tinham o poder, assim como os bispos e arcebispos, de votarem na câmara dos lordes; 3) 12 AUSTEN. A Abadia de Northanger, p. 18. 13

Há um capítulo inteiro dedicado ao vestuário, acessórios e penteados, tanto masculino quanto feminino Um guia interessante sobre o vestuário da época de Austen pode ser encontrado em: DOWNING. Fashion in the time of Jane Austen.

14

Em SULLIVAN. The Jane Austen handbook – a sensible yet elegant guide to her world, p. 91-105.

15

Em 1811 foi lançado um livro sobre regras de vestuário, reeditado por R. L. Shepv em 1997.


classe média, também chamada de aristocracia ou gentry; nesse nível encontram-se os proprietários de terras; 4) famílias pertencentes às profissões relacionadas ao Exército, Marinha, Direito, Medicina e Comércio (também considerados os “novos ricos”, dinheiro proveniente das transações comerciais, principalmente no exterior, como plantações de tabaco ou tráfico negreiro); 5) shabby-genteel ou “pessoas refinadas”, pessoas que receberam uma boa educação, porém não possuíam uma renda (governantas, filhas que não herdaram o dinheiro dos pais; 6) os empregados (vendedores de lojas e empregados das propriedades16); e 7) os pobres, que dependem das doações das classes mais abastadas. A própria família Austen é um exemplo dessa variedade de classes sociais: o pai de Austen era Reverendo da Igreja da Inglaterra, e seus irmãos, James e Henry, também seguiram a carreira religiosa; Edward foi proprietário de terras; Francis e Charles exerceram funções na Academia Real Naval. As mulheres da família Austen tiveram destinos marcados, devido à situação financeira do pai, já que não tinham direito à parte da herança, ficando sob os cuidados dos irmãos, após a morte do patriarca. Jane Austen utiliza uma vasta gama de exemplos da sociedade inglesa de sua época em todos os seus livros. Em graus diferentes, é possível perceber todas as classes sociais mencionadas anteriormente. Apesar de ter sido convidada a dedicar o livro Emma ao príncipe regente da Inglaterra, a autora nunca mencionou a realeza em suas obras, ou seja, a nobreza é representada pelos personagens Sir Thomas Bertram (Mansfield Park), Sir Walter Elliot (Persuasão) e Sir John Middleton (Razão e sensibilidade). Entretanto, esses personagens, com títulos de nobreza, não são muito admirados; por serem esnobes, ostentam um luxo demasiado ou tratam as pessoas de maneiras distintas. As mulheres herdavam o título apenas no nome, porém não ficavam com as heranças, como os casos de Lady Catherine de Bourgh (Orgulho e preconceito), Lady Bertram (Mansfield Park), Lady Middleton (Razão e sensibilidade) e Lady Russel (Persuasão). Entre os proprietários de terras estão: Mr. Darcy (Orgulho e preconceito) e Mr. Knightley e Mr. Woodhouse (Emma). O Exército é representado pelos personagens Coronel Brandon (Razão e sensibilidade), Wickham (Orgulho e preconceito), William Price (Mansfield Park) e Mr. Weston (Emma). Por sua vez, a Marinha é representada pelo Capitão Wentworth e pelo Almirante Croft (Persuasão). As profissões relacionadas à Igreja são representadas por diversos personagens; alguns adoráveis, como Henry Tilney (A Abadia de Northanger), Edward Ferrars (Razão e Sensibilidade) e 16 SULLIVAN. The Jane Austen handbook – a sensible yet elegant guide to her world, p. 62-63 oferece uma lista com as posições dos empregados, suas respectivas funções e posições dentro do funcionamento da casa/propriedade.


Edmund Bertram (Mansfield Park); outros enfadonhos e desestimulantes, como Mr. Collins (Orgulho e preconceito) e Mr. Elton (Emma), ou insignificantes, como Mr. Norris (Mansfield Park). Em Emma é possível observar o microcosmo social que Austen criou com diversos exemplos das classes sociais vigentes na época. Além dos proprietários de terra e oficial do Exército, mencionados anteriormente, há o advogado John Knightley (irmão de Mr. Knightley); a solteirona Miss Bates; a aspirante a governanta Jane Fairfax; a moça que frequentou escola, mas não é filha de alguém importante, como Harriet Smith; e os pobres que Emma visita e oferece ajuda. Ainda em relação à posição social e aos assuntos financeiros é interesse pontuar o levantamento que Copeland17 faz a respeito dos diferentes níveis de rendimentos anuais e as respectivas condições financeiras das pessoas e dos personagens de Austen. Para um estudo detalhado a sobre os empregados nessa época, o artigo de Terry18 oferece muitas informações importantes. Outro texto interessante para se conhecer um pouco mais sobre as carruagens, como eram valorizadas naquela época, e o que cada uma representava na sociedade inglesa, sugiro o texto da Jane Austen’s House Museum.19

A MULHER E O CASAMENTO De acordo com Sullivan,20 quando a mulher se casava, suas obrigações se limitavam a desenvolver uma boa relação com a empregada da casa, planejar os cardápios das refeições diárias e dos jantares, conduzir os empregados, ajudar aos mais pobres e doentes, decorar a casa, alfabetizar os filhos (se estes forem muito pequenos para terem uma governanta), entre outras responsabilidades. Sob o ponto de vista financeiro, o casamento era visto como uma tábua de salvação para as mulheres que não possuíam renda familiar e que não queriam viver na pobreza. Eram raros os casos de casamento por amor, apesar de todas as heroínas de Austen terem um final feliz com seus escolhidos, não por causa da renda do marido, mas por estarem apaixonadas.

17 COPELAND. Money. 18

TERRY. Seen but not heard: servants in Jane Austen’s England.

19

JANE AUSTEN’S HOUSE MUSEUM. The manners and customs of life in Jane Austen’s time – or how to win the mating game.

20

SULLIVAN. The Jane Austen handbook – a sensible yet elegant guide to her world.


O casamento era um “acordo” entre as famílias. As mais abastadas tinham o interesse em aumentar ainda mais suas rendas e propriedades; já os mais pobres vislumbravam a ascensão social. Era possível para um rapaz de origem nobre se casar com a filha de um comerciante, se este possuísse uma grande fortuna e a reputação da moça fosse inquestionável. Por outro lado, se uma moça de origem nobre se interessasse por um rapaz de origem humilde, nada poderia ser feito, pois todo o dinheiro proveniente de antigas gerações poderia ficar nas mãos de comerciantes e o nome da família (nobre) se perderia. Por isso, em muitos casos, os ricos de origem nobre (old money) se consideravam melhores que as pessoas ricas, graças ao dinheiro do comércio (new money). As leis inglesas da época colocavam a mulher em uma situação muito delicada. O direito de propriedade e o controle do dinheiro eram exclusivos dos maridos. Somente após a o The Married Woman’s Property Act,21 de 1870, é que as mulheres conquistam o direito de herdarem rendimentos e propriedades após o casamento; em 1882, conseguem manter o que conquistaram durante o casamento. Antes dessas leis, as mulheres eram tratadas como criminosas e até insanas. Por exemplo, se elas fossem vítimas de injúrias e difamações, os maridos poderiam fazer uma apelação no Tribunal exigindo ressarcimento por danos, já que eles se consideravam a única parte prejudicada da história. Se uma mulher trabalhasse após o casamento, todos os seus rendimentos pertenciam ao marido, e se desejassem o divórcio, não lhes era permitido. O Matrimonial Causes Act, de 1857, dava ao homem o direito de se divorciar, caso a mulher lhe fosse infiel. Porém, se uma mulher pedisse o divórcio por infidelidade do marido, esta perderia a guarda dos filhos e ficava proibida de vê-los. Em Mansfield Park, Austen mostra como um casamento fracassado e a possibilidade de divórcio era algo inaceitável, principalmente para a filha de um baronete. Maria Bertram acaba fugindo com o amante e, após a descoberta da fuga, vê-se obrigada a sair da “sociedade” e viver isolada, sem contato com os familiares e sem nenhum crédito perante a sociedade. Somente em 1891 é que as mulheres conquistaram o direito do divórcio, sem restrições aos filhos. O corpo da mulher também pertencia aos maridos, que foram proibidos, nesse mesmo ano, de aprisionarem suas esposas para obterem seus direitos conjugais relativos ao sexo. Absurdamente, somente em 1991 é que as leis proibiram os maridos de estuprarem suas esposas.22 21 Uma cópia deste ato está <http://www.austlii.edu.au/au/legis/vic/hist_act/mwpa1870290/>. 22

disponível

em:

SAINT ANDREW’S UNIVERSITY. Self and Society in the Victorian Novel – women and the law in Victorian England.


Jane Austen retrata uma variedade de casamentos em suas obras. De acordo com Moody,23 há aqueles em que a união é pouco compatível, porém bem-sucedida (Charlotte Lucas e Mr. Collins, de Orgulho e preconceito); casamentos inadequados, nos quais a mulher foi infeliz (General Tilney e sua esposa); casamentos bem-sucedidos (todas as heroínas dos seis livros principais). O fato de que todas as suas heroínas todas se casaram por amor e, no final das contas, casaram-se com bons partidos, não necessariamente reproduz a época em que Austen vivia. A própria escritora vivenciou o fato de não ter se casado, sabendo o que a esperava no futuro, já que não herdaria posses do pai: “mulheres solteiras tem uma tendência terrível para a pobreza, o que já é um forte argumento em favor do casamento.”24 Preocupadas com a velhice, algumas mulheres estavam dispostas a se casar, já que este era o único caminho para a estabilidade financeira ou até mesmo para escapar de uma família incompatível.25 Esse dilema é discutido entre as duas irmãs, Emma Watson e Elizabeth, no livro The Watsons: Emma: – Ser tão inclinada ao casamento – perseguir um homem por causa de uma situação – é algo que me choca; não consigo entender. A probreza é um grande mal, mas para uma mulher educada e de sentimento, não pode ser dos males o pior. Eu preferiria ser professora em uma escola – e penso que nada poderia ser pior – do que me casar com um homem de quem não gosto. Elizabeth: – Eu já freqüentei a escola, Emma, eu conheço a vida que elas levam; (...) Eu não gostaria de me casar com um homem desagradável, assim como você, mas não creio que existam tantos homens desagradáveis; acredito que eu poderia gostar de qualquer homem bem humorado e com uma renda confortável.26

JANE AUSTEN E O FEMINISMO A obra de Austen tem sido alvo de muitas críticas feministas; alguns críticos afirmam que a escritora escreveu apenas sobre jovens cujo único interesse na vida era o casamento. Entretanto, Jane foi além dessas perspectivas, escrevendo sobre as relações humanas, os problemas das mulheres de sua época, e fez até algumas críticas à sociedade inglesa. Obviamente não se pode classificá-la sob a ótica da crítica feminista, que teve suas origens no

23 Moody faz uma lista mais completa de casais nas obras de Austen em MOODY. Classifications of the marriages in Jane Austen’s Writings. 24

“A single woman, with a very narrow income, must be a ridiculous, disagreeable, old maid! the proper sport of boys and girls.” (AUSTEN. Emma, p. 69, tradução nossa.)

25

MOODY. Marriage and the alternatives: the status of women.

26

AUSTEN. Sandition and The Watsons – Austen’s unfinished novels, p. 60.


feminismo da década de 1960, mas sim sob a ótica dos estudos sobre o feminismo27e da ginocrítica.28 Existem alguns estudos mais aprofundados sobre essa temática na obra de escritores como Kirkham,29 Bomarito e Hunter30 e Looser.31 32

Moody

33

salienta não ser difícil encontrar tendências feministas na obra de Austen.

Em Orgulho e preconceito, Austen descreve uma fria e objetiva visão das limitadas opções das mulheres em relação ao casamento, centradas na personagem Charlotte Lucas. Além disso, a escritora demonstra sua opinião clara de que as mulheres devem ser levadas a sério, não somente por serem bonitas e elegantes, como protesta Elizabeth Bennet: “(...) não me considere uma mulher eleganteque tem a intenção de atormentá-lo, mas uma criatura 34

racional, falando a verdade do coração.”

Mesmo Fanny Price (Mansfield Park), que vive na

casa dos tios, se recusa a casar-se com Henry Crawford apenas porque ele tem uma boa 35

fortuna. Segundo Kirkham,

a descrição da personagem é realizada de forma irônica,

justamente para excitar a paixão sexual dos homens: A aparente inocência e religiosidade de Fanny é um aspecto de sua sexualidade, um verniz angelical que faz com que ela seja sexualmente interesse para homens como Crawford, que desejam encontrar em suas esposas tais “virtudes”vulneráveis, bem como excitar tanto a paixão carnal quanto a proteção masculina.

É interessante destacar que os protestos feministas mais explícitos, nos seis livros principais analisados, estão relacionados à literatura.36 Alguns exemplos podem ser citados em Persuasão, quando Anne Elliot discute com o Capitão Harville a respeito de quem ama por mais tempo, o homem ou a mulher. Harville afirma: “não creio ter aberto um único livro em minha vida que não falasse da inconstância feminina. Canções e provérbios sempre falam 27 Estudos de gênero sob a perspectiva feminina. ABBOTT. Jane Austen – a beginner’s guide, p. 65. 28

(gynocriticism) – Esta teoria está focada nos estudos relatives às mulheres escritoras que tentaram mudar o cânone tradicionalmente definido pelos homens. O objetivo é buscar a definição e a distinção entre a escrita feminina e a masculina (ABBOTT. Jane Austen – A Beginner’s Guide, p. 65.)

29

KIRKHAM. Jane Austen, feminism and fiction.

30

BOMARITO; HUNTER. Feminism in literature – a gale critical companion.

31

LOOSER. Jane Austen and discourses of feminism.

32

MOODY. Marriage and the alternatives: the status of women.

33

Alguns estudiosos chamam de “protofeminismo”.

34

AUSTEN. Orgulho e preconceito, p. 133. (grifos nossos)

35

KIRKHAM. Jane Austen, feminism and fiction, p. 102.

36

MOODY. Feminism in Jane Austen. The Republic of Pemberley,


da volubilidade feminina. Mas talvez me dirá que foram escritos por homens.”37 Por sua vez, Anne Elliot defende as mulheres e responde: “(...) por favor, não faça referência a exemplos de livros. Os homens levaram todas as vantagens sobre nós ao contar sua própria história. (...) A pena esteve em suas mãos. Não posso admitir que os livros provem alguma coisa.”38 Finalmente, em um outro exemplo, em Persuasão, é possível observar outro protesto na conversa entre Anne e o Capitão Harville: “(...) vivemos em casa, tranqüilas, confinadas, e nossos sentimentos nos atormentam (...) (vocês) sempre têm uma profissão, atividades, alguma espécie de negócio para fazê-los voltar imediatamente ao mundo (...).”39

CONCLUSÃO Através do rico universo feminino presente nas obras de Jane Austen, é possível vislumbrar o contexto da sociedade do século 19 sob a ótica dos personagens em suas rotinas diárias. Por se tratar de um material vasto, rico em detalhes e informações, este artigo buscou fazer um levantamento das principais características, hábitos e costumes da época retratados na obra da escritora. O conhecimento das regras, leis e normas de etiqueta foi fundamental para o entendimento das atitudes de determinados personagens, além de oferecer uma contextualização dos fatos ocorridos em cada uma das histórias. É importante salientar que, mesmo escrevendo sobre um contexto limitado, (pequenas propriedades rurais ou vilarejos), a escritora pôde descrever um universo de personagens, lugares e situações; tornando seu texto um rico exemplar da sociedade daquele século. Mesmo não fazendo parte do movimento feminista da década de 1960, Jane Austen criticava, de maneira sutil, a situação na qual a mulher de seu tempo se encontrava e era obrigada a viver. Embora não promulgasse mudanças, Austen deixa a critério do leitor o entendimento e a reflexão acerca de temas polêmicos, principalmente para sua época.

37 AUSTEN. Persuasão, p. 278. 38

AUSTEN. Persuasão, p. 277-278.

39

AUSTEN. Persuasão, p. 277.


ABSTRACT th

In 19 British society of 19h Century, the roles of women were confined to the dedication to their houses or to the search for an advantageous marriage in order to achieve financial security and stability. Jane Austen, however, focuses on the importance of women within the family, on marriage, on social relations and on the role of women in society. This article discusses feminism in Austen’s works. KEYWORDS British Society in the 19th century, women in literature, Jane Austen

REFERÊNCIAS ABBOTT, Rob. Jane Austen – a beginner’s guide. London: Hodder & Stoughton, 2001. AUSTEN, Jane. A Abadia de Northanger. Trad. Lêdo Ivo. Rio de Janeiro: Francisco Alves: 1982. AUSTEN, Jane. Emma. Trad. Ivo Barroso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996a. AUSTEN, Jane. Persuasão. Trad. Luiza Lobo. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1996b. AUSTEN, Jane. Emma. New York: Oxford University Press, 2003. AUSTEN, Jane. Letters of Jane Austen – Letters to her niece Fanny Knight (1814-1816). The Republic of Pemberley, 2004. Disponível em: <http://www.pemberley.com/janeinfo/brablt15.html#letter83>. Acesso em: 20 abr. 2011. AUSTEN, Jane. Sandition and The Watsons – Austen’s Unfinished Novels. New York: Dover Publications, 2007. AUSTEN, Jane. Orgulho e preconceito. Trad. Lúcio Cardoso. São Paulo: Clássicos Abril Coleções, 2010. BOMARITO, Jessica. HUNTER, Jeffrey W. (Ed.). Feminism in Literature – A Gale Critical Companion. Volume 2 – 19th Century, Topics and authors (A-B). Thomson Gale: Farmington Hills, 2005. COPELAND, Edward. Money. In: MCMASTER, J.; COPELAND, Edward. The Cambridge Companion to Jane Austen. Cambridge: Cambridge University Press, 1997. p. 131-148. DOWNING, Sarah J. Fashion in the time of Jane Austen. Oxford: Shire Library, 2010. JANE AUSTEN’S HOUSE MUSEUM. The Manners and Customs of life in Jane Austen’s time – or how to win the mating game. 2010a. Disponível em: <http://www.jane-austenshouse-museum.org.uk/educ_schools/pdfs/Manners_and_Customs.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2011. JANE AUSTEN’S HOUSE MUSEUM. The World that Jane Austen Presents. 2010b. Disponível em: <http://www.jane-austens-housemuseum.org.uk/educ_schools/pdfs/Manners_and_Customs.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2011.


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A IDENTIDADE FEMININA NA OBRA ‘ORGULHO E PRECONCEITO’ DE JANE AUSTEN ZARDINI, Adriana Sales CEFET-MG e JASBRA1 aszardini@gmail.com Resumo: Ao observar o livro ‘Orgulho e Preconceito’ sob a perspectiva de classificação da obra como uma visão conformista do universo feminino, nos deparamos com significantes achados de uma escritora de alma feminista. Entretanto, a autora não é tão simples de ser caracterizada como tradicional ou proto-feminista. Nos últimos trinta anos, estudiosos tentaram traçar um paralelo entre os livros de Austen e o feminismo. Enquanto Marily Butler (1975), sustenta que os livros de Austen restringiam a mulher apenas ao matrimônio e à esfera doméstica; Sandra Gilbert e Susan Gulbar (1979), afirmam o contrário: os personagens de Austen contradizem essas convenções, defendendo a educação racional para a mulher, com personagens femininas obstinadas, de mentes independentes e ousadas. Estudos mais recentes apontam para um possível equilíbrio entre o conservadorismo e o feminismo. Desse modo, a obra pode ser caracterizada como uma narrativa da ‘identidade feminina’, com utilização de ironias para criticar a sociedade de sua época, denotando assim, um lado não conformista da escritora. Jane Austen certamente sofreu influência dos escritos proto-feministas de Mary Wollstonescraft, porém, foi tolida por outras publicações conservadoras, que refrearam o progresso do feminismo. O propósito deste trabalho é apresentar um paralelo entre as personagens femininas de ‘Orgulho e Preconceito’ e as representações da mulher na sociedade inglesa do século XIX, levando em consideração ambos a visão sobre o casamento destas personagens. Palavras-chave: Feminismo, Jane Austen, Orgulho e Preconceito, Identidade Feminina.

1 – Introdução Os conceitos do masculino e do feminino são construções históricas, fruto das relações sociais. A maioria das sociedades, apregoa a existência de papéis diferentes para homens e mulheres, onde cada um representa um papel social, desempenhado em iteração com o outro. Pode-se ter a ideia de que homens e mulheres vivem em universos distintos, entretanto, as relações entre ambos são interligadas, tanta na esfera pública quanto privada. Segundo Caixeta e Barbato (2004:211) as informações a respeito das mulheres, até o começo do século XX, “eram obtidas, sobretudo, no espaço doméstico, através de cartas e diários, inclusive, sabe-se que muitos foram destruídos pelas próprias mulheres, geralmente casadas, para se adequarem aos padrões sócio-culturais do silêncio e quietude femininos”. As autoras afirmam que com a recuperação da história oral e autobiográfica, as mulheres, também passaram a ter sua história valorizada e contada não apenas no espaço doméstico, mas no 1

Presidente da Jane Austen Sociedade do Brasil.


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público também. Entretanto, não podemos nos esquecer de que a literatura universal nos conta histórias de homens e mulheres e justamente por isso, podemos ter uma visão de como se baseavam as relações entre ambos através do olhar do escritor. A visão do universo feminino, era basicamente um olhar sob o ponto de vista masculino, já que a função de escritor era essecialmente do homem. Esse contexto começa a mudar, com escritoras como Cristina de Pisano (1364 – 1430) que recusou-se a aceitar a exclusão das mulheres nas universidades da França, no século XIV (Wikipédia: 2013). A autora publicou em 1405 o livro “A Cidade das Mulheres” (Cité des Dames) onde utiliza “figuras alegóricas da Razão, Justiça e Retidão para construirem uma cidade de mulheres famosas do passado e mulheres virtuosas do todos os tempos em um mundo feito para homens (Biblioteca Mundial: 2011). Na Inglaterra, no final do século XVIII Mary Wollstonecraft já discutia os direitos das mullheres com a publicação de “A Vindication of the Rights of Woman” (1792) – sendo considerada como uma das primeiras filósofas feministas. A publicação de Wollstonecraft foi uma espécie de resposta aos teóricos políticos e educacionais do século XVIII que não acreditavam que as mulheres deveriam receber uma educação formal. Na opinião de Wollstonecraft, as mulheres tinham o direito à educação que visasse a formação do pensamento crítico, além de serem importantes para a sociedade pois educavam seus filhos e poderiam travar debates úteis com seus esposos, e não um serem apenas ‘donas do lar’. Na visão da autora, ao invés de meros ornamentos da sociedade ou ‘objetos’ para trocas vantajosas no valioso mercado dos casamentos, as mulheres eram seres humanos que possuíam os mesmo direitos dos homens. Outras contemporâneas de Jane Austen também se dedicaram à escrita de feministas como Priscila Wakefield (1751–1832), Elizabeth Hamilton (1756?–1816), Jane West (1758-1852), Clara Reeve (1729–1807) e Maria Edgeworth (1768 – 1849), e de uma certa maneira, foram importantes para a ficção de Austen. As feministas moderadas acreditavam que as mulheres estava aprisionadas em sistemas patriarcais incapazes de realizar qualquer mudança positiva, e que, portanto, só esforços heroicos e fragmentados em nome das mulheres poderiam ajudálas a mudar esta sociedade (Sulloway, 1989: 69). Todavia, as publicações de Jane Austen em nada se pareciam com os escritos e reinvindicaçãoes das autoras anteriormente citadas. Talvez pelo contexto de vida de Jane Austen, filha de um pároco no interior da Inglaterra, a autora não tivesse condições ou interesse de levantar uma bandeira de prol das mulheres oprimidas pela mundo através de artigos que poderiam escandalizar a sociedade de sua época. Por outro lado, através de um olhar mais aguçado em suas obras, podemos analisar seus livros sob o ponto de vista de uma escritora de alma feminista, que não se prendia à padrões de uma visão de heroinas frágeis e conformistas. Enquanto estudiosas como Marilyn Butler (1975) sustenta que os livros de Austen restringiam a mulher apenas ao matrimônio e à esfera doméstica; Gibert e Gulbar (1979), afrimam o contrário: os personagens de Austen contradizem essas convenções, defendendo a educação racional para a mulher, com personagens femininas obstinadas, de mentes independentes e ousadas. Assim, as obras de Austen, podem ser classificadas como uma narrativa da identidade feminina, com utilização de ironias para criticar a sociedade de sua época, denotando, um lado não conformista da escritora. O foco deste artigo é analisar a identidade feminina na obra ‘Orgulho e Preconceito’ de Jane Austen, publicada em 1813, atualmente o livro de maior sucesso da escritora. Procurou-se traçar um paralelo entre algumas personagens centrais da obra e as representações da mulher na sociedade inglesa do século XIX, levando em consideração ambos os aspectos: conservadorismo e feminismo inerentes na escrita de Austen.


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2 – A mulher na sociedade Inglesa do século XIX Como a família era a base de sustento de todas as moças pertencentes à classe média e à aristocracia daquela época, era de se esperar que o pai deixassem uma certa quantia após sua morte ou que os irmãos ficassem com a responsabilidade de ajudar as irmãs solteiras. A lei apoiava o direito de primogenitura, apenas se o filho fosse do sexo masculino, caso a família não tivesse varões, a herança seria transmitida ao parente masculino mais próximo, facilitando assim, que todas as propriedades e fontes de renda da família ficassem sempre em nome da mesma, por várias gerações2. Sendo assim, não restavam muitas opções para as moças garantirem um sustento na velhice, a opção era se casar, até mesmo para garantir a sobrevivência básica, já que não lhes era permitido trabalhar. Qualquer tipo de ocupação, até mesmo exercer a função de uma tutora, era considerado algo degradante, até mesmo na classe média ou gentry, como era classificada na época de Jane Austen. Entre os séculos XVIII e XIX não esperava-se que as moças tivessem qualquer tipo de iniciativa de avançarem seus estudos além dos conhecimentos básicos. As próprias famílias se encarregavam do ensino, quando possuíam uma vasta biblioteca e uma governanta. Jane e sua irmã chegaram a frenquentar a escola em dois períodos diferentes – em 1783 elas foram educadas por Mrs. Cawley, mas permaneceram lá pouco tempo, pois tiveram problemas de saúde; depois foram para um internato em Reading, entre 1785 e 1787. As habilidade desejáveis para um moça da época estavam relacionadas basicamente aos conhecimentos que poderiam ser empregados na esfera familiar memos, como: línguas, conhecimentos básicos de geografia e história, música, pintura ou desenho, bordado e dança. As principais línguas que as moças aprendiam eram o francês e o italiano, principalmente para que pudessem traduzir as músicas, apreciá-las e poder cantá-las. Os conhecimentos relativos à geografia e à história forneciam um embasamento para futuras discussões a respeito de outros países. Por outro lado, ser uma boa pianista (pianoforte) atraia muita atenção, principalmente dos futuros pretendentes; assim, a moça seria capaz de entreter as visitas em sua futura casa. Moças de família, mesmo com poder aquisitivo alto almejavam possuir habilidades relativas ao desenho e pintura em aquarela. Ser uma boa bordadeira era motivo de orgulho para a família da moça ou para o marido, já que seus trabalhos com a agulha poderiam ser expostos nas salas de visitas e apreciados por todos. Por fim, a dança era um elemento importantíssimo na vida de qualquer moça daquela época, visto que os bailes ofereciam a oportunidade de conhecer e conversar com outros rapazes. A maioria das moças praticava as danças com suas irmãs, até que fossem apresentadas à sociedade. A vida em sociedade era conduzida por regras de conduta, de etiqueta e padrões de moral. A maior parte da população inglesa vivia na zona rural, onde havia pouquíssimas oportunidades de as regras serem quebradas. Mesmo em Londres era praticamente impossível para qualquer pessoa não participar de eventos sociais, já que a maioria das famílias tinha hábitos parecidos quando iam às grandes cidades em determinadas épocas do ano. Tanto as moças quanto os rapazes deviam obedecer às regras impostas, principalmente se o objetivo era o casamento. A primeira observação que deve ser feita é em relação aos pares: inicialmente o rapaz deveria procurar saber se havia na família moça à qual desejava fazer a corte. Ao socializar em público, era proibido para uma moça conversar com um rapaz nas ruas, praças e parques, sem que houvesse um acompanhante. Os jovens que não se conheciam deveriam ser apresentados uns aos outros pelo mestre de cerimônias do baile ou por outro

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MOODY, em Marriage and the alternatives: the status of women, explica o direito de primogenitura e sucessão de bens de forma mais detalhada.


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conhecido. Ou seja, ninguém se apresentava diretamente à outra pessoa. Quanto ao vestuário3, era importante saber se vestir, mesmo com uma renda familiar pequena. As moças deveriam seguir um padrão ao se vestirem, por exemplo, elas tinham que considerar a roupa que vestiam pela manhã, feitas, em geral, de tecidos mais simples e jamais deveriam usar pérolas ou diamantes para não chamar a atenção. À noite, os vestidos eram mais elegantes e feitos com tecidos mais caros, usados principalmente em bailes e jantares. Segundo Sullivan (2007) quando a mulher se casava, suas obrigações se restringiam a desenvolver uma boa relação com a empregada da casa, planejar os cardápios das refeições diárias e dos jantares, conduzir os empregados, ajudar aos mais pobres e doentes, decorar a casa, alfabetizar os filhos (se estes forem muito pequenos para terem uma governanta), entre outras responsabilidades. Sob o ponto de vista financeiro, sob o ponto de vista feminino o casamento era visto como uma tábua de salvação para as mulheres que não possuíam renda familiar e que não queriam viver na pobreza. Eram raros os casos de casamento por amor, prevalecendo assim, o casamento por interesses essencialmente masculinos e econômicos. O casamento era um “acordo” entre as famílias. As mais abastadas tinham o interesse em aumentar ainda mais suas rendas e propriedades; já os mais pobres vislumbravam a ascensão social. Jane Austen, que acabou não se casando, vivenciou muito bem a situação de ser dependente financeiramente do irmão mais abastado. Em Emma a autora retrata uma opinião a espeito da necessidade de um casamento por segurança financeira, Emma Woodhouse argumenta com a amiga Harriet Smith: “...é a pobreza que torna o celibato desprezível! Uma mulher solteira, sem renda, seria uma velha criada, ridícula e desagradável! Seria motivo de piadas!”(AUSTEN, 2012: 114) Preocupadas com a velhice, algumas mulheres estavam dispostas a se casar, já que este era o único caminho para a estabilidade financeira ou até mesmo para escapar de uma família incompatível. Esse dilema é discutido entre as duas irmãs, Emma Watson e Elizabeth: Emma: – Ser tão inclinada ao casamento – perseguir um homem por causa de uma situação – é algo que me choca; não consigo entender. A probreza é um grande mal, mas para uma mulher educada e de sentimento, não pode ser dos males o pior. Eu preferiria ser professora em uma escola – e penso que nada poderia ser pior – do que me casar com um homem de quem não gosto. Elizabeth: – Eu já freqüentei a escola, Emma, eu conheço a vida que elas levam; (...) Eu não gostaria de me casar com um homem desagradável, assim como você, mas não creio que existam tantos homens desagradáveis; acredito que eu poderia gostar de qualquer homem bem humorado e com uma renda confortável. (AUSTEN, 2007: 60)4

Em relações as leis, os diretos das mulheres eram bastante limitados. O direito de propriedade e o controle do dinheiro eram exclusivos dos maridos e as leis inglesas da época colocavam a mulher em uma situação muito delicada. Somente após a o The Married Woman’s Property Act, de 1870, é que as mulheres conquistam o direito de herdarem rendimentos e propriedades após o casamento; em 1882, conseguem manter o que conquistaram durante o casamento. Antes dessas leis, as mulheres eram tratadas como criminosas e até insanas. O Matrimonial Causes Act, de 1857, dava ao homem o direito de se divorciar, caso a mulher lhe fosse infiel. Os corpos das mulheres também pertencia aos maridos, que foram proibidos, nesse mesmo ano, de aprisionarem suas esposas para obterem seus direitos conjugais relativos ao sexo. 3

Há um capítulo inteiro dedicado ao vestuário, acessórios e penteados, tanto masculino quanto feminino Um guia interessante sobre o vestuário da época de Austen pode ser encontrado em: DOWNING (2010). 4 Tradução livre da autora deste artigo.


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3 - Identidade Feminina Ao escrever seus romances, Jane Austen traz uma nova faceta à literatura: seus livros possuem uma sagacidade e ironia incomuns em sua época.A escritora foi pioneira ao expor o que antes era frívolo e considerado ‘sub-intelectual’ com muito humor e inteligência. Além disso, pode ser considerada aquela que modernizou o romance, pois seus livros envolvem histórias sobre como ser uma mulher no século XIX, mas ao fazer isso, ela elevou o trivial a uma forma de arte, sendo que, como a própria autora menciona, bastava apenas umas três ou quatro famílias do interior da Inglaterra para construir suas histórias. Enquanto viveu e inclusive após sua morte, muitos de seus contemporâneos a consideravam uma escritora conservadora, que escrevia sobre coisas simples e se alegrou com a sociedade que descreveu em seus livros. Chapman, editor dos livros de Austen, afirma que ela não está no cânone literário por causa de sua visão social ou até mesmo por seu formidável talento, mas sim porque foi capaz de registrar as maneiras elegantes de sua época. Como pode ser visto em sua obra, a autora não apregoa mudanças radicais, pois sabia que seus personagens femininos iam contra a corrente e que estavam fora de sintonia com seu tempo, talvez suas heroinas serem emancipadas e de pensamento livre. Tal perspectiva pode ser observada em uma carta de Jane para sua irmã Cassandra, onde ela menciona estar planejando uma heroina que ninguém, além dela própria, iria gostar. Por outro lado, é possível pensar em Austen como uma escritora liberal, à frente de seu tempo, se recusando a escrever história nas quais suas personagens simplesmente defendem suas virtudes contras as investidas masculinas, como nos livros ‘Clarissa’ e ‘Pamela’ de Richardson. Suas personagens apresentam, em graus diferentes, independência suficiente para desejarem um casamento por afeição e não apenas por comodidade financiera. Obviamente o casamento é crucial nas história de Austen, mas é visto como uma a única forma acessível de auto-definição para as mocinhas de sua época (Gilbert e Gubar, 1979). Jane Austen não pode ser considerada uma feminista como a palavra é usada na atualidade, porém, assim como tem consciência da mulher na sociedade inglesa do século XIX, ela faz uma espécie de crítica velada à sociedade na qual viveu. A consciência da posição da mulher em segundo plano na sociedade é demonstrada através de questões que podem ser observadas em seus livros como a falta de estudos, falta de liberade, a família e o casamento que podem ser vistos como instituições que aprisionam as mulheres. Entretanto, suas personagens são construidas como seres racionais, apesar do preconceito e limitações daquela época. Embora ‘Orgulho e Preconceito’ apresenta algumas ideas conservadoras, como mulheres submissas aos homens, famílias estruturas pelo patriarcado, a obra de Austen é pautada basicamente pela voz feminina, quer seja como uma maneira de identificar o lugar da mulher na sociedade ou mostrar sua situação através ponto de vista narrativo. A identidade feminina nos livros da escritora é estabelecida através da construção dos personagens, principalmente através da consciência própria de cada personagem contra o sistema patriarcal. Obviamente, não se pode levar em conta todos as personagens femininas dos livros de Austen, pois muitos possuem apenas papel figurativo ou secundário. Não há muito detalhamento do que se passa em suas cabeças. Entretanto, é a personagem principal, Elizabeth Bennet, que na maioria dos casos representa a ‘voz feminina’. O ponto de vista narrativo é usado para identificar o lugar das mulheres na sociedade ou mostrar a situação de vida de grande parte delas. Ao desenvolver suas personangens, Austen faz com que estas passem por situações que podem levá-las ao crescimento intelectual e racional. Suas personagens desenvolvem, em níveis diferentes, a consciência da situação da mulher em uma sociedade regida por homens. Em um outro livro de Austen, ‘Persuasão’, há um diálogo muito interesseante entre Anne Elliot e o Capitão Harville, destacando a opinião forte a


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personagem principal. Harville afirma: “não creio ter aberto um único livro em minha vida que não falasse da inconstância feminina. Canções e provérbios sempre falamda volubilidade feminina. Mas talvez me dirá que foram escritos por homens”. (Austen, 1996: 278). Por sua vez, Anne Elliot defende as mulheres e responde: “(...) por favor, não faça referência a exemplos de livros. Os homens levaram todas as vantagens sobre nós ao contar sua própria história. (...) A pena esteve em suas mãos. Não posso admitir que os livros provem alguma coisa” (Austen, 1996: 277-278). A discussão a respeito da suposta inconstância das mulheres, sugerida por Harville, e a resposta ‘afiada’ de Anne Elliot nos faz imaginar que Austen estava nos dando indiretas a respeito de sua opinião. Ora, em um mundo onde as histórias das pessoas, inclusive as histórias das mulheres, eram essencialmente contadas por homens, o que era de se esperar senão a visão masculina dos fatos? Ao trazer o foco para suas heroinas, Austen tentou dar uma ‘voz feminina’ a cada uma delas, retratando situações cotidianas diferentes, mas sem perder a noção de retratar a sociedade de sua época, e criticá-la de maneira sutil através de ironia e humor, e personagens criados com a intenção de representar as esferas sociais. Até mesmo as personagens que acabam seguindo um padrão mais convencional de atitudes e pensamentos, são exemplos de comportamentos esperados naquela sociedade. Sem contar, que há um certo ‘toque’ de denúncia ao criar personagens como a senhora Bennet, a amiga Charlotte Lucas, Mary Bennet, entre outras. Austen constrói suas personagens a fim de expressar sua voz feminina, como afirmam André Brink (1998), Claudia Johnson (1990), and Gilbert and Gubar (1979) Austen criou uma consciência feminista em suas obras. Como sugerem Pacheco e Souza (2011: 02): “Austen atinge um nível de conceitualização de heroína em diferentes perspectivas morais dentro do quadro das relações sociais”. Alguns críticos não percebem uma posição feminista nos escritos de Austen. Armstrong (1987) apud Kollmann (2003) afirma que o objetivo de Austen não é criticar a sociedade mas apenas fazer uma redefinição de riqueza e status. Há ainda críticas como Seeber (1999) que consideram a obra de Austen como dialógica, citando como exemplo o processo de crescimentod e Marianne Dashwood em Razão e Sensibilidade. Seeber ainda argumenta que as duas personagens principais de Razão e Sensibilidade vivem situações paralelas e justapostas, onde as heroinas vivenciam o mundo de maneiras diferentes. Ainda sobre a questão de indefinição quanto a uma postura feminista na obra de Austen, Seeber (1999: 231) destaque que: “... Austen nos torna conscientes de lacunas, omissões e contradições... Ao incorporar contradições, Austen incorpora discursos contrários, oferecendo-nos um vislumbre de mundo polifônico que a ideologia dominante... precisa reprimir”. Elizabeth Kollmann (2003) considera Austen em relação ao círculo social em que ela viveu e a herança patriarcal da sociedade da época. Segundo Kollman, Austen precisou fazer uma crítica secreta, possivelmente porque em seu tempo, para sobreviver enquanto mulher e escritora ela não poderia se rebelar contra o sistema. Sob a ótima feminista a obra de Austen pode ser considerada como foco principal a situação da mulher do século XVIII, questões como (falta de) educação das mulheres, falta de conhecimento, o casamento como instituição patriarcal de aprisionamento e de identidade das mulheres. Há muitos indícios como a mulher deveria ser criada apenas para uma vida doméstica e como a educação daquela época era tendenciosa, deixando as mulheres sem possibilidades de desenvolvimento do intelecto, subjulgando-as à tarefas corriqueiras e sem grandes responsabilidades. Austen faz questão de mostrar, em sua grande maioria, mulheres como seres racionais, apesar do preconceito e limitações da sociedade. Obviamente, Austen mescla mulheres em diferentes estágios de pensamento crítico, não se atendo apenas às vulgaridades de mentes osciosas ou racionalismo exagerado. A autora busca o equilíbrio ao desenvolver suas personagens femininas, mesmo


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que algumas tenham que passar por situações que as levaram ao crescimento intelectual e racional. Não é possível estabelecer quais escritoras que influenciaram Jane Austen, entretanto, é possível observar que a autora possuía uma biblioteca de tamanho razóavel em sua casa e, portanto, tinha acesso aos livros escritos por suas contemporâneas. Tomalin (1997) afirma que há evidências de que Austen conheceu ou pelo ouviu falar das publicações de Wollstonecraft, já que um dos alunos do pai da escritora era o principal patrocionador de Wollstonecraft. As duas autoras ainda possuem algumas características em comum. Ambas tiveram seus trabalhos rejeitados: Mary (1792 - A Vindication of the Rights of Woman) e Jane (1798 – Orgulho e Preconceito), na época não consideravam que os escritos de uma mulher estivessem no mesmo nível dos homens. Ao tentarmos traçar uma paralelo entre Austen e Wollstonecraf, é possível identificar algumas peculiaridades comuns entre as duas autoras. Ambas consideravam as mulheres, assim como os homens, criaturas racionais. Um bom exemplo de mulher racional, na obra de Austen, é Elizabeth Bennet (Orgulho e Preconceito). O casamento ainda era visto como uma instituição econômica, apesar dos finais felizes, as mulheres de Austen ainda se casavam para manter um status quo. Apesar de o casamento ser importante nos romances, o foco principal de Austen é a situação da mulher na sociedade inglesa de sua época. Em todos os livros, Austen retrata as mulheres vivendo em uma sociedade onde a educação não libertava as mulheres, apenas restringia ainda mais a situação feminina. O casamento é crucial porque é a única forma acessível de auto-definição para mocinhas de sua época (Gilbert and Gubar, 1979), porém, suas heroinas apresentam-se, em graus diferentes, independência suficiente para desejarem um casamento por afeição e não apenas por comodidade financeira. Por sua vez, Wollstonecraft acreditava que o sistema educacional era falho, pois impedia as mulheres de seguirem carreiras e fazerem escolhas para si mesmas e suas famílias.

4 – As Personagens Femininas de ‘Orgulho e Preconceito’ O livro nos conta a história das cinco irmãs Bennet (Jane, Elizabeth, Mary e Lydia e Kitty), filhos de Mr. e Mrs. Bennet. A mãe das meninas é um tanto desesperado para que elas arranjam logo pretendentes e se casem. O pai é um pouco mais reservado, e por não ter filhos homens, terá que transmitir sua herança para o parente masculino mais próximo, o primo Mr. Collins. A história começa com a chegada de dois jovens afortunados Mr. Darcy e Mr. Bingley ao vilarejo onde os Bennets moram. O romance é considerado uma comédia de costumes. Austen toma como base suas impressões da época em que viveu e a questão da posição da mulher na sociedade, conduz o leitor a uma análise de seu tempo através de finas ironias e humor até mesmo sarcástico. Vivien Jones (1997: 50), caracteriza os romances de Austen como: “...comédias românticas.Ou seja, elas são estórias de amor com finais felizes. ‘Comédia’ aqui não é usada apenas para sugerir algo que nos faça rir, embora os romances de Austen façam isso muito bem, mas como o oposto de ‘tragédia’. Em outras palavras, uma positiva e celebrativa visão da vida, representando felicidade e ideais como possibilidades. Os romances de Jane Austen são frequentemente comparados às comédias de Shakespeare, e se você está familiarizado com elas percebe que terminam de maneira semelhante, com casamentos simbolizando reconciliação e harmonia.”


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De acordo com Lima (2009: 02) “Austen nos mostra como o amor entre os protagonistas foram capazes de superar as barreiras de orgulho e preconceito da diferença social entre eles e do escasso poder de decissão concedido à mulher na sociedade da época”. A personagem central da obra, Elizabeth Bennet, tem uma personalidade forte e possui independência suficiente para desejar um casamento por afeição e não apenas por comodidade financeira. Há duas concepções a respeito do casamento que podem ser identificadas na obra: a visão tradiconal ou aristocrática, que via o casamento como uma aliança entre as famílias e uma segurança financeiras para as mulheres; já a visão moderna e burguesa, vê o casamento como um direito de escolha do indivíduo. Levando em consideração tais aspectos, podemos analisar a obra sob a perspectiva da construção da identidade feminina através do casamento e é por meio deste viés que será feita a análise das principais personagens do livro. Sob este ponto de vista da sua visão de casamento ideal, Elizabeth é uma heroina à frente de seu tempo pois recusa o pedido de Mr. Collins, por se tratar apenas de um arranjo familiar para que a herança de seu pai não saísse das mãos da família. Porém, seria um casamento arranjado, sem amor. E isso vai totalmente contra a visão de felicidade que as personanges principais dos livros de Austen aumejam. O romance é visto, basicamente, sob o olhar de Elizabeth e a personagem tem “o poder de entrar na cabçea no narrador, induzindo-o a narrar seus sentimentos e opiniões, além de conseguir penetrar na consciência do personagem” (Andrade, 2013). A mãe de Elizabeth Bennet, não vê a hora de suas cincos filhas se casarem, para garantirem, principalmente uma situação financeira razoável no futuro. Esta personagem, muitas vezes interpretada como uma senhora obestinada pelo casamento de suas filhas, onde a segurança financeira através do casamento é uma espécie de tábua de salvação. Entretanto, não se pode deixar de levar em consideração, que a matriaca da família Bennet, não é essencialmente uma mulher interesseira, ela realmente está preocupada com o futuro de suas filhas e obviamente conhece muito bem a situação das moças que não se casam e acabam sendo estorvos para a família. Como naquela época as mulheres não podiam trabalhar, a garantia de sustento dependia única e exclusivamente de um bom casamento. Caso isso não ocorresse, família deveria prover a mulher solteiro até o final de sua vida. Tal fato ocorreu dentro da própria família de Austen, onde, após a morte do pai, Jane, sua irmã e mãe tiveram que sair da cidade de Bath e se mudarem para um vilarejo próximo a Alton, onde um irmão mais abastado de Austen lhes ofereceu um chalé como moradia. A influência do pensamento de Mrs. Bennet influencia tanto as filhas, que a mais jovem acaba se envolvendo em um escandâ-lo que mancharia o bom nome da família. Lydia Bennet foge com Wickham e, no contexto onde a obra está inserida, dá origem a uma série de vexames famíliares e possível seria alvo de escárnio da sociedade se não fosse ‘salva’ pelo dote que Mr. Darcy paga a Wickham para que ele se case com a moça. Apesar de ser motivada pela atração que sente por Wickham, Lydia se aventura e acaba selando seu futuro ao achar que aquele seria um casamento feliz. A filha mais velha da família Bennet, Jane, acaba passando se casando por amor e com o marido muito bem financeiramente. É um exemplo de casamento muito parecido com contos de fada. Em relação às mães das heroínas, apesar de elas terem influências sobre a vida de suas filhas, não representam papel fundamental no desenvolvimento da história de alguns livros como Emma e A Abadia de Northanger, pois estão distantes ou mortas. Porém, é a presença ineficaz ou imprópria de determinadas mães é que conduz o desenrolar das histórias, como Mrs. Bennet (Orgulho e preconceito), Mrs. Morland (A Abadia de Northanger), entre outros. No livro há também uma jovem que para os padrões da época, já era considerada um caso perdido por estar ‘velha’ demais para se casar. Charlotte Lucas, a melhor amiga de Elizabeth Bennet, acaba se beneficiando da recusa de Elizabeth ao pedido de casamento de Mr. Collins.


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Charlotte posteriormente acaba aceitando um pedido de casamento de Mr. Collins, puramente por convenções sociais estabelecidas para lhe assegurar uma segurança financeira. O casamento dos dois é uma espécie de ‘acordo’, onde ele, um jovem pároco, vê a necessidade de se casar para manter a reputação perante os fiéis da igreja onde trabalha. Ela, por sua vez, se casa para não ser um estorvo para sua família. Apesar de ter se casado, o marido de Charlotte “não era enm inteligente nem agradável; sua companhia era maçante, e seu amor por ela, provavelmente imaginário” (Austen, 2012: 165). A personagem conseguira a proteção financeira por meio do casamento sem amor, ainda que “aos vinte e sete anos de idade, sem nunca ter sido bonita, percebia quanta sorte tivera” (Austen, 2012: 165) Charlotte sabe muito bem a opinião que a amiga Elizabeth tem a respeito deste tipo de casamento por interesse, sabia o quanto a amiga ficaria surpresa com a notícia do pedido do casamento. Mesmo que sua decisão fosse inabalável, Charlotte ficaria extremamente magoada com a desaprovação da amiga, então decidiu contar a notícia a ela pessoalmente. Entretanto, o espanto de Elizabeth não poderia ter sido maior: “- Noiva do Sr. Collins” Minha querida Charlotte... é impossível” (Austen, 2012: 168). Elizabeth, ao perceber o quanto a magoaria, decidiu contornar a situação desejando felicidades à amiga, apesar de não conseguir entender como Charlotte seria capaz de “sacrificar todos os melhores sentimentos em favor de vantagens mundanas” e sentia imensa dor ao vê-la “rebaixar-se e cair em sua estima” somando-se a “dolorosa convicção de que era impossível a amiga ser razoavelmente feliz com o destino escolhido” (Austen, 2012: 168). Charlotte, por sua vez, sabe muito bem que seu comportamento é algo inexplicável para Elizabeth, e tem uma certa dificuldade em mostrar para a amiga que sua escolha foi racional: “você sabe que não sou romântica; nunca fui. Quero apenas um lar decente; e, considerando o caráter, as relações e situação financeira do Sr. Collin, estou certa de que as minhas possibilidades de ser feliz com ele são tão razoáveis quanto as da maioria das pessoas que chegam à condição matriomonial” (Austen, 2012: 168)

As visões de casamento representadas por Charllote e Elizabeth são versões do que foi estabelecido logo no início da história, com muitas palavras das duas a respeito de suas opiniões. Enquanto Charlotte se interessa por um ‘lar confortável’ e observa como uma postura oposta a da amiga, Elizabeth deseja uma união onde o casal tem igualdade e intelectualidade respeitada. De acordo com Jones (1997), o que Elizabeth chama de casamento feliz, onde há afeição e compatibilidade entre o casal, Charllote presume que seja apenas romantismo. A própria visão que Elizabeth tem de Mr. Darcy vai se transformando ao longo do livro e está relacionado com o ideal de felicidade. Ao visitar a propriedade de Pemberley, pertencente a Dary, Elizabeth se espanta não somente pela grandiosidade do local, mas também pelo fato de ele ser um senhoria amado por seus empregados a ponto de uma criada enfatizar que “(...) ele é o melhor senhorio e o melhor patrão” (Austen, 2012: 316) e a tia de Elizabeth concluir que Mr. Darcy enquanto irmão, como senhorio, como patrão, ela considerava o quanto dependia dele a felicidade de tantas pessoas. Apesar de o romance nos apresentar inúmeras personagens femininas, é Elizabeth Bennet o destaque de todo o livro. No enredo de ‘Orgulho e Preconceito’, Elizabeth Bennet é a mais sensada das irmãs, tendo opinião própria e se expressa mesmo não agradando a classe hierárquica de sua época, além de ter uma facilidade de responder e indagar o companheiro(a) de conversa com perguntas que seriam consideradas desconcertantes para a época. Através da ironia, Elizabeth questiona Mr. Darcy, quando o mesmo afirma conhecer cerca de meia dúzia de moças prendadas. Segundo Mr. Darcy, para ser considerada uma moça prendada, a mulher deveria ter conhecimento profundo sobre música, canto, desenho, dança e


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dos idiomas modernas para merecer tal qualificação. E além de todas estas qualidades, a moça deveria possuir algo no modo de ser e na maneira de caminhar, no tom de voz, no trato e nas expressões, para que cada palavra não seja merecida senão em parte. E por fim, o personagem acrescenta que a mulher deveria cultivar a inteligência através de amplas leituras. Porém, como uma forma de questionar a opinião de Mr. Darcy, Elizabeth afirma: “já não estou surpresa por você conhecer só seis mulheres prendadas. Meu espanto agora é por você conhecer tantas” (Austen, 2012: 55). Mesmo antes deste diálogo ocorrer, Elizabeth e Darcy já possuíam opiniões formadas a respeito do outro. Ela por achá-lo arrogante e orgulhoso, por não se entrosar com os demais participantes do baile, logo no início da história. O que torna Mr. Darcy irritante e inaceitável é o fato de ele se recusar a dançar com as moças do baile, como pode ser observado no trecho: “Recusou-se a ser apresentado a qualquer outra moça e passou o resto daa noite andando pelo salão, conversando ocasionalmente com uma ou outra pessoa do seu próprio grupo”(Austen, 2012: 18). Já quase no final da narrativa, como se não bastasse a diferença entre ambos, uma dia de Mr. Darcy, Lady Catherine de Bourgh passa a falar mal da família de Elizabeth, além de ser extremamente preconceituosa ao afirmar que a moça não pertencia a uma família condizente com a situação de seu sobrinho. Mas Elizabeth não se deixa abater pelas afirmações de Lady Catherine, como se pode observar no trecho abaixo: “-Está então decidida a casar-se com ele? - Não disse isso. Só estou decidida a agir da maneira que mais me pareça convir à minha felicidade, sem ter que prestar contas a vossa senhoria ou a qualquer pessoa que também tenha tão pouco a ver comigo.” (Austen, 2012: 443)

Como Gilbert e Gubar (1979) destacam, Elizabeth e Lady Catherine são as duas mulheres no romance capazes de sentir e expressar uma raiva genuína, embora seja Lady Catherine que articula a raiva sentida por Elizabeth. Mas, a resposta de Elizabeth “deixava a pessoa causadora do infortúnio sem uam resposta a altura” (Andrade, 2013), ou seja, ela é uma personagem que quebra barreiras, que dá um grito de liberdade e poder à mulher.

5 – Conclusões Apesar de que alguns críticos sugerirem que Austen não estabelece nenhuma relação dos fatós históricos de seu tempo com a história dos personagens, a escritora fica em silêncio apenas em questões políticas de sua época, entretanto “desmantelou mitos propostos por muitos escritores (conservadores) sem necessariamente propor uma sociedade radicalmente reconstituida (reformista)” (Cláudia Johnson: 1990). Vasconcelos (2002: 40-41) ressalta o que podemos observar em ‘Orgulho e Preconceito’ como características de escritores como Austen, pois os romancistas do século XVIII “(…) são os fundadores do romance moderno e não desapontam o leitor moderno”. E não é a superfície “realista de seus romances que valorizamos, mas a organização de experiências, tanto introspectiva, quanto social, reflexiva e prática, pessoal e geral”. Os livros de Austen nos proporcionam interpretações que podem oscilar entre liberalismo e/ou conservadorismo. Austen oferece um panorama para que seus leitores examinam e possam questionar as instituições (família, religião, trabalho) e não destruí-las. Ela encontrou um ponto de equilíbrio entre liberalismo e conservadorismo, pois confirma a importância da


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família tradicional em mundo em mudança, entretanto, em sua visão, a família sempre incorpora algo novo (suas personangens sofrem mudanças importantes ao longo da narrativa). Além disso, a escritora demonstra sua opinião clara de que as mulheres devem ser levadas a sério, não somente por serem bonitas e elegantes, como protesta Elizabeth Bennet: “(...) não pense que eu seja uma mulher elegante com intenções de atiçá-lo, mas uma criatura racional que fala do fundo do coração” (Austen: 2012: 147) A autora tem que ser vista inicialmente como uma mulher, depois como uma escritora, e por consequência, considerando os textos de Austen pelo fato de ela ser uma mulher é que seus textos podem ser lidos (Kirkham, 1986).

Referências Bibliográficas: ANDRADE, G. As Características De Elizabeth Bennet E Darcy Na Obra “Orgulho E Preconceito. 2013. Disponível em: http://www.webartigos.com/artigos/as-caracteristicas-deelizabeth-bennet-e-darcy-na-obra-orgulho-e-preconceito/108053/#ixzz2mGVX3wBZ. Acesso em 17 de novembro de 2013. AUSTEN, Jane. Persuasão. São Paulo: Francisco Alves, 1996. AUSTEN, Jane. Sandition and The Watsons – Austen’s Unfinished Novels. New York: Dover Publications, 2007. AUSTEN, Jane. Orgulho e preconceito. Trad. Lúcio Cardoso. São Paulo: Clássicos Abril Coleções, 2010. AUSTEN, Jane. Orgulho e Preconceito. Trad. Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martin Claret, 2012. AUSTEN, J. Emma. Tradução: Adriana Sales Zardini. São Paulo: Martin Claret, 2012. BIBLIOTECA MUNDIAL. O Livro a Cidade das Mulheres. Disponível on-line: http://www.wdl.org/pt/item/4391/. Acesso em: 17 de novembro de 2013. BRINK, A. The Novel: Language and Narrative from Cervantes to Calvino. Cape Town: University of Cape Town Press, 1998 BUTLER, M. Jane Austen And The War of Ideas. Oxford: Claredon Press Oxford, 1975, Re-impresssão: 2002. CAIXETA, J. E.; BARBATO, S. Identidade Feminina – Um conceito Complexo. Paidéia: Ribeirão Preto, 2004. V. 14, N. 28, Páginas: 211-220. Disponível on-line: http://www.revistas.usp.br/paideia/article/view/6188. Acesso em: 17 de novembro de 2013. GILBERT, S.M. and GUBAR, S. The Madwoman in the Attic: The Woman Writer and the 19th Century Literary Imagination. New Haven: Yale UP, 1979.


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